MAP 2310 - An´alise Num´erica e Equa¸c˜oes Diferenciais I Continua¸c˜ao - 25/05/2006 1o Semestre de 2006
3.3 Retrato de fase de sistemas lineares de 1a ordem
O espa¸co de fase de um sistema da forma
˙
y=Ay,
onde A ∈ Mn×n ´e o Rn, ou seja, ´e o conjunto de estados (ou condi¸c˜oes iniciais) desse sistema.
Seφ:R →Rn ´e uma solu¸c˜ao desse sistema, o conjunto Im(φ) = {φ(t)∈Rn | t∈R}
´
e dito uma trajet´oria do sistema.
O retrato de fase de um sistema ´e seu espa¸co de fase juntamente com suas trajet´orias, que devem estar orientadas no sentido de percurso quando a var´avel independente cresce.
Exerc´ıcio 52 Esboce o retrato de fase dos seguintes sistemas:
(a) y˙ =
2 0 0 3
y (e) y˙ =
2 0 0 2
y (b) y˙ =
−2 0
0 −3
y (f) y˙ =
2 1 0 2
y (c) y˙ =
2 0 0 −3
y (g) y˙ =
3 1
−1 3
y (d) y˙ =
0 1
−1 0
y (h) y˙ =
−3 1
−1 −3
y
Exerc´ıcio 53 Esboce o retrato de fase dos seguintes sistemas:
(a) y˙ =
2 −1
0 3
y (d) y˙ =
0 2
−1 0
y (b) y˙ =
−2 1
0 −3
y (e) y˙ =
4 2
−1 2
y (c) y˙ =
2 5 0 −3
y (f) y˙ =
−2 2
−1 −4
y
4 Mais sobre estudo qualitativo
4.1 Estabilidade de Liapunov
Seja F : Ω = Ω◦ ⊂Rn→Rn, de classe C1 e considere
˙
y=F(y). (26)
Como F n˜ao depende da vari´avel independente t, essa equa¸c˜ao ´e dita autˆonoma.
Defini¸c˜ao 11 Um pontoy0 ∈Ω´e um ponto de equil´ıbrio de (26) se a fun¸c˜ao constante φ(t) =y0, t∈R, ´e solu¸c˜ao dessa equa¸c˜ao.
Proposi¸c˜ao 11 y0 ∈ Ω ´e um ponto de equil´ıbrio de (26) se e somente se F(y0) =O.
Exerc´ıcio 54 Prove a proposi¸c˜ao anterior.
Exerc´ıcio 55 Ache os pontos de equil´ıbrio de
˙
y=F(y), onde F :R2 →R2 ´e dada por
(a) F(y) = F(y1, y2) = (2y1+y2, y1−y2).
(b) F(y) = F(y1, y2) = (2y1+y2, y1−y2 −2).
(c) F(y) = F(y1, y2) = (y12+y22−1, y1−y2).
(d) F(y) = F(y1, y2) = (y12+y22−1,0).
(e) F(y) = F(y1, y2) = (ey1cosy2, ey1siny2).
Nota¸c˜ao: Dadoy ∈Ω, denotaremos por φ(t, y), t ∈Iy, a solu¸c˜ao maximal de (26) que em t0 = 0 passa pelo ponto y. Assim, Iy denota o intervalo maximal dessa solu¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 12 Um ponto de equil´ıbrioy0 ∈Ω de (26) ´e est´avel segundo Lia- punov se
(i) existe δ0 >0 tal que se y ∈Ωe ky−y0k< δ0 ent˜ao [0,∞[⊂Iy,
(ii) para cada ε > 0, existe δ >0 (δ ≤δ0) tal que se y∈ Ω e ky−y0k < δ ent˜ao kφ(t, y)−φ(t, y0)k< ε, ∀t ∈[0,∞[.
Caso contr´ario, dizemos que y0 ´e inst´avel segundo Liapunov.
Defini¸c˜ao 13 Um ponto de equil´ıbrioy0 ∈Ωde (26) ´e dito atrator se existe δ1 >0 tal que se y∈Ω e ky−y0k< δ1 ent˜ao
(i) [0,∞[⊂Iy,
(ii) limt→∞φ(t, y) = y0.
Defini¸c˜ao 14 Um ponto de equil´ıbrio y0 ∈ Ω de (26) ´e assintoticamente est´avel segundo Liapunov se for est´avel segundo Liapunov e atrator.
Teorema 9 Se φ(., y) : Iy → Rn ´e solu¸c˜ao de (26) e sua imagem para t ∈Iy ∩[0,∞[ est´a contida num compacto de Ω, ent˜ao [0,∞[⊂Iy.
Exerc´ıcio 56 Mostre que, em consequˆencia do teorema anterior, podemos dispensar a exigˆencia (i) da defini¸c˜ao 12 e a exigˆencia (i) da defini¸c˜ao 13.
Exerc´ıcio 57 Reveja os retratos de fase dos sistemas lineares dados no ex- erc´ıcio 52.
Em cada caso, decida se o ponto de equil´ıbrio (0,0) ´e ou n˜ao est´avel segundo Liapunov.
Em quais casos temos estabilidade assint´otica?
4.2 Duas t´ ecnicas para estudar estabilidade de Lia- punov
Duas t´ecnicas s˜ao bastante usadas para o estudo da estabilidade de Liapunov de pontos de equil´ıbrio e para estudar o comportamento de solu¸c˜oes perto de pontos de equil´ıbrio. Uma delas faz uso de fun¸c˜oes auxiliares convenientes, outra faz uso da lineariza¸c˜ao da equa¸c˜ao perto do ponto de equil´ıbrio em quest˜ao.
A seguir apresentaremos alguns resultados para ilustrar esses m´etodos.
4.2.1 Uso de fun¸c˜oes auxiliares
Proposi¸c˜ao 12 (fun¸c˜ao de Liapunov p/ estabilidade) Seja y0 um ponto de equil´ıbrio de (26).
Sejam U ⊂Ω aberto tal que y0 ∈U e V :U →R de classe C1. Suponha que V satisfaz:
(i) V(y)> V(y0), ∀y∈U, y 6=y0, (ii) V˙(y) :=J V(y)F(y)≤0, ∀y∈U. Ent˜ao y0 ´e est´avel segundo Liapunov.
Exerc´ıcio 58 Considere o sistema
˙
y=F(y) onde F(y) = (−2y1,−4y2).
(a) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio desse sistema.
(b) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio est´avel segundo Liapunov.
Sugest˜ao: V(y) = y12+ 2y22. Exerc´ıcio 59 Considere o sistema
˙
y =F(y) onde F(y) = (−2y1 +y1y2,−4y2+ 3y1, y2).
(a) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio desse sistema.
(b) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio est´avel segundo Liapunov.
Sugest˜ao: V(y) = y12+ 2y22. Exerc´ıcio 60 Considere o sistema
˙
y =F(y) onde F(y) = (y2,−y1).
(a) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio desse sistema.
(b) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio est´avel segundo Liapunov.
Sugest˜ao: V(y) = 12(y12+y22).
Proposi¸c˜ao 13 (fun¸c˜ao de Liapunov p/ estabilidade assint´otica) Seja y0 um ponto de equil´ıbrio de (26).
Sejam U ⊂Ω aberto tal que y0 ∈U e V :U →R de classe C1. Suponha que V satisfaz:
(i) V(y)> V(y0), ∀y∈U, y 6=y0,
(ii) V˙(y) :=J V(y)F(y)<0, ∀y ∈U, y 6=y0.
Ent˜ao y0 ´e assintoticamente est´avel segundo Liapunov.
Exerc´ıcio 61 Considere o sistema dado no exerc´ıcio 58. Mostre que a origem ´e um ponto de equil´ıbrio assintoticamente est´avel .
Exerc´ıcio 62 Considere o sistema dado no exerc´ıcio 59. Mostre que a origem ´e um ponto de equil´ıbrio assintoticamente est´avel .
Proposi¸c˜ao 14 (fun¸c˜ao de Liapunov p/ instabilidade) Seja y0 um ponto de equil´ıbrio de (26).
Sejam U ⊂Ω aberto tal que y0 ∈U e V :U →R de classe C1. Suponha que V satisfaz:
(i) V(y)> V(y0), ∀y∈U, y 6=y0,
(ii) V˙(y) :=J V(y)F(y)>0, ∀y ∈U, y 6=y0. Ent˜ao y0 ´e inst´avel segundo Liapunov.
Exerc´ıcio 63 Considere o sistema
˙
y=F(y) onde F(y) = (2y1,4y2).
(a) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio desse sistema.
(b) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio inst´avel segundo Liapunov.
Sugest˜ao: V(y) = y12+ 2y22. Exerc´ıcio 64 Considere o sistema
˙
y=F(y) onde F(y) = (2y1 +y1y2,4y2+ 3y1, y2).
(a) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio desse sistema.
(b) Mostre que a origem (0,0) ´e um ponto de equil´ıbrio inst´avel segundo Liapunov.
Sugest˜ao: V(y) = y12+ 2y22.
4.2.2 Uso da lineariza¸c˜ao
Se y0 ´e um ponto de equil´ıbrio de (26) ent˜ao podemos desenvolver F(y) ao redor de y0 usando seu polinˆomio de Taylor de 1a ordem:
F(y) =F(y0) +J F(y0)(y−y0) +R(y) = J F(y0)(y−y0) +R(y), onde y−yR(y)
0 →0 quandoy →y0,
Portanto podemos aproximar F(y) ao redor de y0 pelo seu polinˆomio de Taylor de 1a ordem:
F(y) e F(y0) +J F(y0)(y−y0) =J F(y0)(y−y0).
Uma pergunta natural ´e se o sistema linear
˙
y=J F(y0)(y−y0) (27)
aproxima bem o sistema (26) perto de y0.
Mais explicitamente, gostar´ıamos de saber se o comportamento das solu¸c˜oes de (27) que come¸cam perto de y0 representam bem o comportamento das solu¸c˜oes de (26) que come¸cam perto de y0.
E claro que podemos chamar´ z =y−y0, reescrever (27) como
˙
z =J F(y0)z (28)
e passar a perguntar se o comportamento das solu¸c˜oes de (28) que come¸cam perto dez0 =O representam bem o comportamento das solu¸c˜oes de (26) que come¸cam perto de y0.
Os resultados a seguir respondem parcialmente essas perguntas.
Proposi¸c˜ao 15 (lineariza¸c˜ao) Seja y0 um ponto de equil´ıbrio de (26).
(a) Se todos os autovalores de J F(y0) tˆem parte real <0 ent˜ao y0 ´e assin- toticamente est´avel segundo Liapunov.
(b) Se J F(y0) tem um autovalor com parte real > 0 ent˜ao y0 ´e inst´avel segundo Liapunov.
3,4,8,9
Exerc´ıcio 65 Use a proposi¸c˜ao anterior para estudar a estabilidade da origem dos sistemas dos exerc´ıcios 58, 59, 63 e 64.
Exerc´ıcio 66 Use a proposi¸c˜ao anterior para estudar a estabilidade da origem do sistema
˙
y=F(y) onde F(y) = (−2y1 +y1y2,4y2+ 3y1, y2).
Proposi¸c˜ao 16 (parte do teorema de Hartman) Seja y0 um ponto de equil´ıbrio de (26).
Se todos os autovalores de J F(y0) tˆem parte real 6= 0 ent˜ao o retrato de fase de (26) perto de y0 ´e essencialmente igual ao retrato de fase de (28) perto de z0 =O no seguinte sentido:
(a) o conjunto das condi¸c˜oes iniciais y cujas solu¸c˜oes de (26) tendem para o ponto de equil´ıbrio y0 no futuro tem como espa¸co tangente em y0 o espa¸co das condi¸c˜oes iniciaisz cujas solu¸c˜oes de (28) tendem a z0 = 0 no futuro, e
(b) o conjunto das condi¸c˜oes iniciais y cujas solu¸c˜oes de (26) tendem para o ponto de equil´ıbrio y0 no passado tem como espa¸co tangente em y0 o espa¸co das condi¸c˜oes iniciaisz cujas solu¸c˜oes de (28) tendem a z0 = 0 no passado.
Complemento: Pontos de m´ aximo, de m´ınimo, de sela
Em muitas situa¸c˜oes, teremos candidatas a fun¸c˜ao auxiliarV a serem usadas como nas proposi¸c˜oes 12, 13 e 14, e precisaremos descobrir se V satisfaz a propriedade (i), e se ˙V satisfaz a propriedade (ii) de uma dessas proposi¸c˜oes.
Em qualquer dos casos, o problema pode ser resumido em: como descobrir se um certo ponto y0 ´e ponto cr´ıtico de uma fun¸c˜aoG(G=V ouG= ˙V) e, em caso afirmativo, como descobrir se ele ´e um ponto de m´aximo, de m´ınimo ou de sela (i.´e, nem m´aximo nem m´ınimo) de G.
Ser um ponto cr´ıtico de G significa anular o gradiente de G, ou seja, y0 ´e ponto cr´ıtico deG ⇐⇒ ∇G(y0) = O ⇐⇒ J G(y0) = [0 0 · · · 0].
Para descobrir se um determinado ponto cr´ıtico ´e ponto de m´aximo, de m´ınimo ou de sela de G podemos usar algumas ferramentas apresentadas a seguir.
Formas Quadr´aticas
SejaA uma matriz real n×n, sim´etrica.
A fun¸c˜ao Q(y) = QA(y) := h Ay | y i = ytAy, y ∈ Rn, ´e uma forma quadr´atica.
Ela satisfaz: Q(ty) = t2Q(y), ∀t∈R, ∀y ∈Rn.
SeQ(y) >0, ∀y∈ Rn, Q ´e dita umaforma quadr´atica definida positiva (neste caso, Q tem m´ınimo estrito global em O).
SeQ(y)<0, ∀y∈Rn, Q´e dita uma forma quadr´atica definida negativa (neste caso, Q tem m´aximo estrito global em O).
Se existem y+ e y− tais queQ(y+)>0 e Q(y−)<0,Q´e dita umaforma quadr´atica indefinida (neste caso, Q tem sela em O).
Proposi¸c˜ao 17 Seja S(y) uma fun¸c˜ao definida numa vizinhan¸ca Ω0 de O, satisfazendo
y→Olim S(y) kyk2 = 0.
Ent˜ao
(a) se Q = QA ´e uma forma quadr´atica definida positiva, existe δ > 0 tal que Bδ(O) ⊂ Ω0 e a fun¸c˜ao G = Q+S satisfaz G(y) > 0, ∀y ∈ Bδ(O), y 6=O (isto ´e, O ´e ponto de m´ınimo estrito de G em Bδ(O).
(b) se Q = QA ´e uma forma quadr´atica definida negativa, existe δ > 0 tal que Bδ(O) ⊂ Ω0 e a fun¸c˜ao G = Q+S satisfaz G(y) < 0, ∀y ∈ Bδ(O), y 6=O (isto ´e, O ´e ponto de m´aximo estrito de G em Bδ(O).
(c) se Q = QA ´e uma forma quadr´atica indefinida, ent˜ao para cada δ >
0 existem yδ+, yδ− ∈ Bδ(O) tais que a fun¸c˜ao G = Q +S satisfaz G(yδ+)>0 e G(yδ−)<0 (isto ´e, O ´e ponto de sela de G.
Proposi¸c˜ao 18 Seja A uma matriz real n × n, sim´etrica, e considere as submatrizes
A1 = [a11], A2 =
a11 a12 a21 a22
, . . . , Ak =
a11 a12 · · · a1k a21 a22 · · · a2k ... ... . .. ... ak1 ak2 · · · akk
, . . . , An =A.
(a) Se detAk >0, k = 1,2, . . . , n, ent˜ao QA ´e definida positiva.
(b) Se detA1 < 0,detA2 > 0, . . . , sgndetAk = (−1)k, . . ., ent˜ao QA ´e definida negativa.
(c) Se detAk>0, k= 1,2, . . . , se detAs+1 <0, ent˜ao QA ´e indefinida.
Seja Ω0 ⊂Rn aberto.
SeG: Ω0 →R´e de classeC2e tem um ponto cr´ıticoy0 (isto ´e,∇G(y0) = O, ou seja,J G(y0) = [0 0 · · · 0]), ent˜ao podemos desenvolverG ao redor de y0 usando seu polinˆomio de Taylor de 2a ordem, obtendo
G(y) = G(y0) +J G(y0)(y−y0) + 1
2!(y−y0)tHess G(y0)(y−y0) +R(y)
= G(y0) + 1
2!(y−y0)tHess G(y0)(y−y0) +R(y) onde Hess G(y0) ´e a matriz hessiana deG no ponto y0 e
y→ylim0
R(y)
ky−y0k2 = 0.
Corol´ario 10 Nas condi¸c˜oes acima:
(a) se Hess G(y0) ´e definida positiva ent˜ao y0 ´e um ponto de m´ınimo local estrito de G, isto ´e, existe δ >0 com Bδ(y0)⊂Ω0 tal que
G(y)> G(y0), ∀y ∈Bδ(y0), y 6=y0.
(b) se Hess G(y0)´e definida negativa ent˜ao y0 ´e um ponto de m´aximo local estrito de G, isto ´e, existe δ >0 com Bδ(y0)⊂Ω0 tal que
G(y)< G(y0), ∀y ∈Bδ(y0), y 6=y0.
Este corol´ario pode ser usado para mostrar, sob certas circunstˆancias, que uma candidata V serve como fun¸c˜ao auxiliar para mostrar estabilidade assint´otica de um ponto de equil´ıbrio de (26), ou para mostrar instabilidade.