Rodrigo Carlos Silva de Lima
‡rodrigo.uff.math@gmail.com
‡
1 Ideais 3
1.0.1 Dom´ınio principal . . . 7
1.1 Dom´ınios principais e fatora¸c˜ao ´unica . . . 14
1.1.1 Fatora¸c˜ao ´unica em dom´ınios principais . . . 18
1.2 Propriedades do dom´ınio principal Z.. . . 20
2
Ideais
Iremos considerar aqui A um anel comutativo com unidade.
m
Defini ¸c ˜ao 1 (Ideal). Um subconjunto I de A ´e um ideal de A ⇔1. 0A ∈I
2. Se a, b∈I ent˜ao a+b∈I, isto ´e a adi¸c˜ao ´e fechada em I.
3. Se a∈A e b∈I ent˜ao a.b ∈I. Chamaremos essa propriedade de absor ¸c ˜ao. Onde 0A ´e o elemento neutro da adi¸c˜ao do anel A.
b
Propriedade 1. {0} ´e um ideal de A.ê Demonstra ¸c ˜ao. Seja B = {0}, ent˜ao 0 ∈ B, Se a, b ∈ B, ent˜ao a = b = 0 e 0+0 = 0 ∈ B. Sendo a ∈ A e b ∈ B temos a.b ∈ B pois for¸cosamente b = 0 e a.0 =0∈B. Logo satisfaz as trˆes propriedades, ent˜ao ´e um ideal de A.
$
Corol ´ario 1. A ´e um ideal de A. Pois 0 ∈ A, a adi¸c˜ao no anel ´e fechada e para todos elementos a, b ∈ A tem-se a.b ∈ A, o produto ´e fechado, logo vale a propriedade de absor¸c˜ao.3
m
Defini ¸c ˜ao 2 (Ideal gerado por a). Fixe a∈A. O conjunto I(a) ={a.x |x ∈A}´e chamado de ideal gerado por a.
b
Propriedade 2. O ideal gerado por um elemento a∈A ´e um ideal de A. ê Demonstra ¸c ˜ao. 0 ∈I(a) pois 0∈A e a.0 =0∈I(a). Sejam c e d elementos de I(a) ent˜ao existem x1 e x2 em A, tais que c=ax1 e d=ax2, sua soma ´ec+d=ax1+ax2 =a(x| {z }1+x2
=x3∈A
) =ax3∈I(a).
Logo sece ds˜ao elementos de I(a)ent˜aoc+d∈I(a). Por fim temos que mostrar que se c∈A e b∈I(a) ent˜ao c.b∈I(a), temos b=ax1 para algum x1∈A, multiplicando por c segue cb = cax1 = acx1 pois o produto ´e comutativo, mas como c e x1 s˜ao elementos de A, segue que cx1 =x2 ∈ A logo cb = ax2 ∈ I(a) assim cb pertence ao ideal I(a).
m
Defini ¸c ˜ao 3 (Ideal gerado por (ak)s1). Sejam os elementos (ak)s1 ∈A fixos e s natural. O conjuntoI(ak)s1 ={ Xs
k=1
ak.xk | (xk)s1 ∈A}
´e um ideal de A chamado de ideal gerado por (ak)s1. ê Demonstra ¸c ˜ao. Se s= 0 a soma
X0 k=1
ak.xk =0 ´e vazia, logo o conjunto cont´em apenas o elemento 0 e vimos que {0} ´e um ideal de A. Seja ent˜ao s > 0 natural.
Podemos tomar cada xk=0 e teremos Xs
k=1
ak.0=0
logo o zero pertence ao ideal. Suponha que a e b sejam elementos de I, vamos mostrar que (a+b)∈I. Se a∈I existem elementos (xk)s1 tal que
a= Xs
k=1
ak.xk
se b∈I existem elementos (yk)s1 tal que b=
Xs k=1
ak.yk
, somando ambos, segue a+b=
Xs k=1
ak.xk+ Xs
k=1
ak.yk= Xs
k=1
(ak.xk+ak.yk) = Xs
k=1
ak(xk+yk)
| {z }
=zk
= Xs
k=1
ak.zk
pois cada yk ∈A e xk ∈A implica (xk+yk)∈A pois a adi¸c˜ao ´e fechada emA, ent˜ao tomamos xk+yk=zk. Seja c∈A e a∈I, vamos mostrar que c.a∈I, temos que a ´e da forma
a= Xs
k=1
ak.yk
com os elementos yk∈A, multiplicando por c, segue ca=c
Xs
k=1
ak.yk= Xs
k=1
cak.yk = Xs
k=1
ak. cy|{z}k
=zk∈A
= Xs
k=1
ak.zk
como o produto ´e fechado em A e temos c∈A e yk∈A logo c.yk∈A, assim ca∈I e mostramos que I ´e um ideal.
m
Defini ¸c ˜ao 4 (Ideal principal). Seja I ideal de um anel comutativo com unidade. Dizemos que I ´e principal sse existe a∈A tal que I=I(a).$
Corol ´ario 2. O ideal I gerado por um elemento a ´e um ideal principal, pois pela defini¸c˜ao existe a tal que I =I(a).b
Propriedade 3. Seja I um ideal. Se a∈I ent˜ao −a∈I.ê Demonstra ¸c ˜ao. Se a∈I por propriedade de absor¸c˜ao temos que ca∈I para todo c∈A, tomamos ent˜ao c= −1, onde 1 ´e a unidade do anel. logo −a∈I.
$
Corol ´ario 3. Se (a, b) ∈ I ent˜ao a−b ∈ I pois b ∈ I implica −b ∈ I pela propriedade anterior e pela propriedade de de fechamento pela adi¸c˜ao segue que (a−b)∈I$
Corol ´ario 4. I=0 ´e um ideal principal. Pois I=I(0), no caso I(0) ={0.x=0 |x ∈A}={0}.b
Propriedade 4. Sejam I um ideal de A e (ck)|nk=1 elementos de I ent˜ao Xnk=1
ck∈I.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Por indu¸c˜ao sobre n, se n = 0 a soma ´e vazia e 0 ∈ I, se n=1 temos c1∈I. Suponha a validade para n
Xn k=1
ck =d∈I ent˜ao vamos provar que
Xn+1 k=1
ck ∈I temos que
Xn+1 k=1
ck= Xn
k=1
ck+cn+1=d+cn+1
como ambos elementos s˜ao de I pela propriedade de fechamento pela adi¸c˜ao segue que
n+1
X
k=1
ck∈I, logo por indu¸c˜ao Xn
k=1
ck ∈I para todo n natural.
b
Propriedade 5. Seja I um ideal de A e d um elemento desse ideal ent˜ao I(d)⊂I.ê Demonstra ¸c ˜ao. I(d) = {dx | x ∈ A}, pela propriedade absor¸c˜ao do ideal I, como d∈I temos que dx∈I, logo todo elemento de I(d) que ´e da forma dx tamb´em
´e elemento de I, logo I(d)⊂I.
Generalizamos o resultado anterior
b
Propriedade 6. Seja I um ideal de A e os elementos (dk)|nk=1 pertencentes ao ideal, ent˜aoI(dk)|nk=1 ⊂I.
ê Demonstra ¸c ˜ao.
I(dk)|nk=1={ Xn
k=1
dkxk | xk∈A∀k∈In}
como cada dk ∈ I e xk ∈ A, por absor¸c˜ao vale dkxk = ck ∈ I e por adi¸c˜ao Xn
k=1
ck ∈ I. Logo vale a propriedade. Obsersamos que se a soma ´e vazia tamb´em vale a propriedade.
F Teorema 1 (Todo ideal I de Z ´e principal. ).
ê Demonstra ¸c ˜ao. Se I = {0} ent˜ao I ´e principal. Suponha ent˜ao que I 6= {0}, ent˜ao existe a6=0∈I e −a∈I , com a ou −a positivo, ent˜ao o conjunto
S={x∈I | x >0}
´e n˜ao vazio.
Pelo principio da boa ordena¸c˜aoS tem m´ınimo, tomaremos d=minS. Temos que I(d) ⊂ I pela propriedade que j´a provamos, agora vamos provar que I ⊂ I(d). Seja ent˜ao a∈I, pela divis˜ao euclidiana por d tem-se que a=qd+r com 0≤ r≤d−1, como a∈I e qd∈I segue que a−qd=r∈I , r n˜ao pode ser nenhum valor positivo menor que d pois d ´e o menor positivo de I ent˜ao segue que r = 0 implicando que a = qd, isto ´e a ∈ I(a) logo todo elemento de I tamb´em ´e elemento de I(d), mostrando a inclus˜ao I⊂I(d). Como I⊂I(d) e I(d)⊂I segue que I=I(d).
1.0.1 Dom´ınio principal
m
Defini ¸c ˜ao 5 (Dom´ınio principal). Seja A um dom´ınio, A ´e um dom´ınio principal sse todo ideal de A ´e um ideal principal.$
Corol ´ario 5. Z ´e um Dom´ınio principal.b
Propriedade 7. Sejam a∈A e I(a) um ideal de A, ent˜ao a∈I(a).ê Demonstra ¸c ˜ao. Temos que 1.a=a∈I por propriedade de absor¸c˜ao.
b
Propriedade 8. Sejam a e b n˜ao nulos de A ent˜ao I(a) =I(b)sse a|b e b|a.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Com a e b n˜ao nulos e I(a) =I(b) temos que a∈ I(a) logo a∈I(b), como I(b) ´e conjunto com elementos do tipo b.x com x∈ A, ent˜ao existir´a s ∈ A tal que bs = a logo b|a, da mesma maneira como b ∈ I(b) segue b ∈ I(a) como os elementos de I(a) s˜ao da forma a.x com x ∈ A segue que existe t ∈ A tal que at=b da´ı a|b.
Agora supondo quea|be b|a. Como a|btemos queb=as para algum s6=0 em A e como b|a tem-se que a=bt para algum t 6=0 ∈A. Tomemos ent˜ao I(a) e I(b), os elementos de I(a) s˜ao da forma ax com x∈ A e os elementos de I(b) s˜ao da forma by com y ∈ A. Como a = bt segue que os elementos de I(a) s˜ao ax = btx = by logo pertencem a I(b) e como b=as segue que os elementos de I(b) s˜ao da forma by= a(sy) = ax logo pertencem a I(a). Tem-se ent˜ao que I(a)⊂ I(b) e I(b)⊂ I(a) logo I(a) =I(B).
$
Corol ´ario 6. Com a e b n˜ao nulos, temos que I(a) = I(b) sse a e b s˜ao associados.$
Corol ´ario 7. Em Z temos que I(a) =I(b) sse a=±b.b
Propriedade 9. Sejam (ak)|sk=1 ∈ A e o ideal I(ak)|sk=1 ent˜ao cada ak ∈ I(ak)|sk=1.ê Demonstra ¸c ˜ao. Um elemento x do ideal I(ak)|sk=1 ´e da forma x =
Xs k=1
xkak
para xk ∈A. Seja t um indice arbitr´ario em Is ent˜ao abrimos o somat´orio z=
Xt−1 k=1
xkak+xtat+ Xs k=t+1
xkak
tomamos todos valores 0 apra xk no primeiro somat´orio e o mesmo para o ´ultimo so- mat´orio, tomamos tamb´em xt=1 logo z=xt∈I(ak)|sk=1 provando que esse elemento arbitr´ario pertence ao ideal.
b
Propriedade 10. Sejam A um dom´ınio principal e (ak)|sk=1 ∈ A com pelo menos um elemento n˜ao nulo. Existed∈Aum m´aximo divisor comum de (ak)|sk=1 e vale d∈I(ak)|sk=1, isto ´e , existem xk∈A tal qued= Xs
k=1
xkak.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Como o dom´ınio ´e principal tomando o ideal I(ak)|sk=1 segue que existe d ∈ A tal que I(ak)|sk=1 =I(d). Al´em disso d6= 0, pois temos um gerador do ideal n˜ao nulo e ele est´a no ideal, assim d tem que ser diferente de zero, pois caso contr´ario o ideal seria o ideal {0} e n˜ao o ´e.
Como cada ak ∈ I(ak)|sk=1 = I(d) seque que existe yk ∈ A tal que ak =ykd, logo d|ak com k∈In. Seja agorac∈A tal quec|ak para todo k∈In ent˜ao existem (uk)|sk=1 tal que ak=uk.c, como d pertence ao ideal I(ak)|sk=1, existem (xk)|sk=1 ∈A tal que
d= Xs
k=1
xkak= Xs
k=1
xkuk.c=c( Xs
k=1
xkuk)
| {z }
=p∈A.
logo c|d implicando que c|d, assim d ´e um mdc de (ak)|sk=1.
$
Corol ´ario 8 (Existˆencia de MDC). Dados (ak)|sk=1 ∈Z com pelo menos um n˜ao nulo, existe o MDC(ak)|sk=1.b
Propriedade 11. Sejam I e J ideais de A. Ent˜ao I∩J ´e um ideal de A. ê Demonstra ¸c ˜ao. 0∈I∩J pois 0∈I e 0∈J logo pertence a intersec¸c˜ao. Sejam a e b∈I∩J ent˜ao a e b∈I e a e b ∈J, da´ı a+b∈I e a+b∈J de onde segue que a+b∈I∩J.Seja agora a ∈ I∩J e c ∈ A, ent˜ao vamos mostrar que c.a ∈ I∩J, primeiro, se a∈I∩J ent˜ao a∈I e a∈J da´ı ca∈I e ca∈J por absor¸c˜ao que implica ca∈I∩J.
b
Propriedade 12. Sejam (Ik)|nk=1 ideais de A ent˜ao B=n
\
k=1
Ik
´e um ideal de A.
ê Demonstra ¸c ˜ao. 0 ∈ B pois (0 ∈Ik)|nk=1 . Seja a ∈ B ent˜ao (a∈ Ik)|nk=1 e seja b ∈ B ent˜ao (b ∈ Ik)|nk=1, logo (a+b ∈ Ik)|nk=1 por propriedade de fechamento, logo a+b∈B.
Seja a ∈B ent˜ao (a ∈Ik)|nk=1 , temos tamb´em que (ca ∈Ik)|nk=1 por absor¸c˜ao logo c∈B.
b
Propriedade 13. Sendo I e J ideais de A e definido I+J={x+y|x∈I, y∈J}ent˜ao I+J ´e um ideal.
ê Demonstra ¸c ˜ao. 0 ∈ I e 0 ∈ J da´ı fazendo x = y = 0 segue 0 ∈ I+J. Seja a ∈ I+J = e b ∈ I+J, temos que mostrar que a+b∈ I+J. Se a ∈ I+J = ent˜ao a=x1+y1 com x1 ∈I e x2 ∈J e com b∈I+J temos b=x2+y2 com x2 ∈I e y2 ∈J, somando tem-se
a+b= (x1+y1) + (x2+y2) = (x1+x2)
| {z }
=x3∈I
+(y1+y2)
| {z }
=y3∈J
=x3+y3∈I+J.
Seja a ∈ I+J e c ∈ A vamos mostrar que ca ∈ I+J, a = x1+y1 para x1 ∈ I e y1 ∈J, logo
ca=cx1+cy1 onde por absor¸c˜ao cx1∈I e cy1∈J logo ca∈I+J.
b
Propriedade 14. Sejam Ik ideias de A para k∈[1, n]N e o conjunto Xnk=1
Ik ={ Xn
k=1
xk|xk∈Ik} ent˜ao
Xn k=1
Ik ´e um ideal de A.
ê Demonstra ¸c ˜ao. 0∈ Xn
k=1
Ik pois 0∈Ik para cada k da´ı podemos tomar xk=0 e temos
Xn k=1
0 =0. Seja a∈ Xn
k=1
Ik e b∈ Xn
k=1
Ik, vamos mostrar que a+b∈ Xn
k=1
Ik. Se a∈
Xn k=1
Ik existe uma sequˆencia (xk∈Ik)|nk=1 tal que
a= Xn
k=1
xk
e b∈ Xn
k=1
Ik implica que existem (yk∈Ik)|nk=1 tal que
b= Xn
k=1
yk
, somando ambas segue
a+b= Xn
k=1
(yk+xk)
| {z }
=zk∈Ik
= Xn
k=1
zk
|{z}
∈Ik
∈ Xn
k=1
Ik
logo vale a propriedade.
Seja agora a ∈ Xn
k=1
Ik e c ∈ A, vamos mostrar que ca ∈ Xn
k=1
Ik. Como a ∈ Xn
k=1
Ik existe (xk ∈Ik)|nk=1, tal que
a= Xn
k=1
xk
multiplicando por c
ca= Xn
k=1
cxk
|{z}
=yk∈Ik
= Xn
k=1
yk∈ Xn
k=1
Ik
logo Xn
k=1
Ik ´e ideal de A.
m
Defini ¸c ˜ao 6 (Ideal primo). Seja A um anel comutativo com unidade. Um ideal P de A, P 6=A, ´e um ideal primo sse, se a, b ∈A e a.b ∈P, ent˜ao a∈P ou b∈P.m
Defini ¸c ˜ao 7 (Ideal maximal). Um idealMde A, M6=A, ´e um ideal maximal, sse para qualquer ideal I de A, tal que M⊂I⊂A e M6=I tem-se I=A.F Teorema 2. Seja k um corpo. K[x] ´e um dom´ınio principal.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Se I ={0}, temos que I ´e principal. Vamos considerar ent˜ao
que I 6= {0}. Vamos tomar o conjunto S = {δf(x), f(x) 6= 0 | f(x) ∈ I}, pelo principio
da boa ordena¸c˜ao S tem menor elemento que vamos chamar de n, seja p(x)∈S com δp(x) = n, note que p(x) ∈ I e p(x) 6= 0. Proposi¸c˜ao I{p(x)} = I, para demonstrar isso, vamos demonstrar duas inclus˜oes, I{(p(x)}⊂I e I⊂I{(p(x)}.
I{(p(x)} ⊂ I , I{(p(x)} ´e o ideal gerado por P(x), logo I(p(x)) = p(x).g(x) com g(x)∈K[x], como p(x)∈k[x]pela propriedade de absor¸c˜ao do ideal, temosp(x).g(x)∈ I, pois p(x)∈I.
Vamos mostrar agora que I ⊂ I{(p(x)}. Tome f(x) ∈ I e a divis˜ao euclidiana de f(x) porp(x), existindo assim g(x) e r(x) com δp(x)> r(x) tal que f(x) =p(x).g(x) + r(x), assim r(x) = f(x) −p(x).g(x)∈ I, pois p(x).g(x) ∈I por propriedade do ideal e como f(x) ∈ I a soma f(x) −p(x).g(x) ∈ I, assim r(x) ∈ I e r(x) = 0, pois se fosse diferente de zero comprometeria a minimalidade do grau de p(x) que foi tomada a principio, com isso temos f(x) −p(x).g(x) =0 , f(x) =p(x).g(x), logo todo f(x)∈I ´e gerado pelo ideal I[p(x)], assim I⊂I{(p(x)} e I=I[p(x)].
m
Defini ¸c ˜ao 8 (Elemento primo). Seja A um dom´ınio. Um elemento p ∈ A n˜ao-invert´ıvel ´e dito primo sse a, b∈A e p|a.b ent˜ao p|a ou p|b.b
Propriedade 15. p ´e primo, sse o ideal I(p) ´e primo.b
Propriedade 16. No dom´ınio principal dos inteiros o ideal {0} ´e primo e n˜ao ´e maximal.$
Corol ´ario 9. No dom´ınio principal R[x] os ideais maximais s˜ao I(x−a) onde a∈R ou I(x2+bx+c), tais que b, c ∈R e b2−4ac <0.$
Corol ´ario 10. No dom´ınio principal C[x] os ideais maximais s˜aoI(x−a) onde a∈C.$
Corol ´ario 11. Em K[x], onde K ´e corpo, os ideais I(x−a), com a ∈ K s˜ao sempre maximais.b
Propriedade 17. Seja A um anel comutativo com unidade 1A. Se M ´e um ideal maximal, ent˜ao M ´e um ideal primo.ê Demonstra ¸c ˜ao. Seja M um ideal maximal de A. Sejam a, b ∈ A, tais que a.b ∈M e a /∈ M. Vamos mostrar que b∈ M. Consideremos o ideal I =M+I(a).
Temos que M ⊂ M+I(a) propriamente, como M ´e maximal ent˜ao A = M+I(a).
Assim existem m∈M e x∈A, tais que
1=m+x.a , multiplicando por b tem-se
b=bm+xa.b∈M
pois ambas parcelas na segunda igualdade s˜ao elementos de M.
1.1 Dom´ınios principais e fatora ¸c ˜ao ´unica
Vamos considerar sempre A como um anel comutativo com unidade.
m
Defini ¸c ˜ao 9 (Elemento irredut´ıvel). a ´e irredut´ıvel ⇔ b|a ent˜ao b∈ A∗ ou b=ua onde u∈A∗. Isto ´e, a ´e irredut´ıvel ⇔ os ´unicos elementos que dividema s˜ao os elementos invert´ıveis ou associados.$
Corol ´ario 12. Em um corpo todos elementos n˜ao nulos s˜ao irredut´ıveis, pois dado a n˜ao nulo ent˜ao, todo elemento b6=0 divide a, por´em b ´e invert´ıvel.m
Defini ¸c ˜ao 10 (Elemento redut´ıvel). a ´e redut´ıvel ⇔ existem b e c n˜ao invert´ıveis tais que a=b.c.m
Defini ¸c ˜ao 11 (Cadeia crescente). Uma cadeia crescente de conjunto ´e uma sequˆencia de conjunto (An), tal que Ak⊂Ak+1.m
Defini ¸c ˜ao 12 (Sequˆencia estacion´aria). Uma sequˆencia de conjunto (Ak) ´e dita estacion´aria, se existe m∈N, tal que n > m, vale An =Am.b
Propriedade 18. Dada uma cadeia crescente de ideais (In) ent˜ao I =∞
[
k=1
Ik
´e um ideal.
ê Demonstra ¸c ˜ao.
• 0 pertence a cada ideal, ent˜ao pertence a uni˜ao.
• Sejam a, b ∈ I, ent˜ao existem n, m ∈ N tal que a ∈ In e b ∈ Im, tomando s > n+m tem-se In e Im como subconjuntos de Is e da´ı a+b∈Is implicando que a+b∈I.
• Sendo a ∈I e c∈ A ent˜ao existe n tal que a∈ In e da´ı ca∈ In o que implica c.a∈I.
m
Defini ¸c ˜ao 13 (Anel noetheriano). Um anel A ´e dito notheriano, se toda cadeia crescente de ideais em A ´e estacion´aria.b
Propriedade 19. Em um dom´ınio principal, toda cadeia crescente de ideais´e estacion´aria.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Seja I =
∞
[
k=1
Ik a cadeia crescente de ideais (que ´e um ideal pelo que j´a demonstramos). Como A ´e um dom´ınio principal tem-se que I = I(d) para algum d∈I, logo existe n∈N tal que d∈In, tem-se tamb´em que In=I(d), da´ı segue que I(d) = In ⊂ Im∀ m > n como nessas mesmas condi¸c˜oes tem-se Im ⊂ I(d) ent˜ao Im =I(d) para todo m > n.
b
Propriedade 20. Todo elemento n˜ao nulo e n˜ao invert´ıvel de um dom´ınio principal possui um divisor irredut´ıvel.ê Demonstra ¸c ˜ao. Seja a 6= 0 ∈ A n˜ao invert´ıvel, se a ´e irredut´ıvel, ok! pois a|a. Se n˜ao a ´e redut´ıvel logo tem um divisor a1 tal que a1 ´e n˜ao invert´ıvel e n˜ao associado de a, assim a=a1.b1, onde b1 n˜ao ´e invert´ıvel, logo
I(a)(I(a1)⊂A
se a1 ´e irredut´ıvel terminamos, pois a1|a, se n˜ao ent˜ao a1 tem divisor a2 em A da´ı I(a)(I(a1)(I(a2)⊂A
podemos continuar o processo at´e que para algum n, temos an irredut´ıvel e portanto an ´e divisor irredut´ıvel de a, pois se n˜ao obter´ıamos uma cadeia infinita crescente de ideais n˜ao estacion´arios o que contradiz a propriedade j´a demonstrada .
m
Defini ¸c ˜ao 14 (Dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica). Um dom´ınio A ´e dito dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica ⇔ todo elemento n˜ao nulo e e n˜ao invert´ıvel se fatora como produto finito de elementos irredut´ıveis.m
Defini ¸c ˜ao 15 (Elemento primo). Seja A um anel comutativo com unidade , a∈A n˜ao nulo e n˜ao invert´ıvel ´e dito primo ⇔ se a|(b.c) ent˜ao a|b ou a|c.$
Corol ´ario 13. Corpos n˜ao possuem elementos primos , pois todo elemento ´e invert´ıvel ou nulo.b
Propriedade 21. Seja Aum dom´ınio. Sep∈A ´e primo ent˜aop ´e irredut´ıvel.ê Demonstra ¸c ˜ao. Suponha que a|p, ent˜ao p=a.c, como p|a.c por p ser primo ent˜ao p|a ou p|c, supondo ser perda de generalidade que p|a ent˜ao a = p.t e da´ı p = p.t.c por lei do corte segue t.c = 1 ent˜ao c ´e invert´ıvel, o que prova que p ´e irredut´ıvel.
b
Propriedade 22. Sejam A um dom´ınio principal, p∈ A um elemento irre- dut´ıvel, ent˜ao p ´e primo.ê Demonstra ¸c ˜ao. Suponha que p|b.c e p6|b vamos mostrar que p|c.
Considere o ideal I(b, p) = I p e b pertencem ao ideal, ent˜ao ele ´e n˜ao vazio e possui elemento n˜ao nulo . Como A ´e principal, existe d 6= 0 tal que I = I(d).
Tem-se que d|b e d|p, como p ´e irredut´ıvel os divisores dele s˜ao invert´ıveis ou associados. Supondo que d seja associado, ent˜ao existe u invert´ıvel tal que p=d.u, da´ı b ∈ I = I(d) = I(u.p) logo existe t tal que b = tup, implicando que p|b o que contraria nossa hip´otese, ent˜ao d tem que ser invert´ıvel em A, da´ı I(d) = I(b, p) e 1∈I(b, p) logo existem x e y em A tais que
1=xb+yp
multiplicando porc tem-sec=xcb+cyp, como p|pe p|cb ent˜ao p|ccomo quer´ıamos demonstrar .
$
Corol ´ario 14. Ent˜ao em qualquer dom´ınio elementos primos s˜ao irredut´ıveis e em dom´ınios principais um elemento ´e primo ⇔ ´e irredut´ıvel, isto ´e, em dom´ınios principais ser primo e ser irredut´ıvel ´e equivalente.b
Propriedade 23.Nos dom´ınios principais, todo ideal gerado por um elemento irredut´ıvel ´e um ideal maximal.ê Demonstra ¸c ˜ao. Seja M =pA onde p ´e irredut´ıvel, consideramos I ideal de A tal que M=pA I , vamos mostrar que I =A. Como M=pA I, existe a∈ I tal que a6M=pA, logo a n˜ao ´e m´ultiplo de p, como p ´e primo temosmdc(p, a) =1, da´ı existem x, y ∈A tais que
1=xp+ya, xp∈M⊂I, ya∈I da´ı 1∈I e portanto I=A.
Seja A um anel comutativo com unidade
b
Propriedade 24. P ´e um ideal primo de A ⇔ A/P ´e um dom´ınio.ê Demonstra ¸c ˜ao.
⇒). Seja P ideal primo de A, tem-se P 6= A, ent˜ao A/P ´e anel comutativo com unidade. Sejam a, b ∈A tais que a.b=0 ent˜ao
a.b=a.b=0
⇔ a.b≡0mod P ⇔ a.b ∈P. Como P ´e um ideal primo vale a∈P ou b∈P de onde segue a=0 ou b=0 logo A/P ´e dom´ınio.
⇐). Seja A/P dom´ınio. ent˜ao A/P ´e anel comutativo com unidade, logo P ⊂ A propriamente. Sejam a, b ∈ A tais que a.b ∈ P ent˜ao 0 = ab = ab como A/P ´e dom´ınio tem-se a=0 ou b=0 implicando a∈P ou b∈P logo P ´e ideal primo.
b
Propriedade 25. M ´e um ideal maximal de A ⇔ A/M ´e um corpo.ê Demonstra ¸c ˜ao. ⇒). Seja M um ideal maximal de A assim M ´e ideal primo e A/M ´e um dom´ınio. Precisamos mostrar apenas que todo a 6= 0 em A/M tem
inverso. Como a6=0 segue a /∈M e M⊂M+I(a) propriamente, logoA=M+I(a), assim existe m∈M e x∈A tais que 1=m+xa, em classe m´odulo M segue
1=m+xa=xa implicando que a e invert´ıvel em A/M com inverso x.
⇐). Seja A/Mcorpo, ent˜ao A/M ´e dom´ınio e M ´e ideal primo, logoM6=A. Seja I ideal de A tal que M ⊂ I ⊂ A ,m propriamente, tome x ∈ I tal que x /∈ M ent˜ao x6=0 e existe y∈A/M tal que
1=xy
logo existe m ∈M tal que 1−xy=m, 1 =m+xy∈I implicando I=A, assim M ´e ideal maximal.
b
Propriedade 26. Se M = {0A} ´e um ideal maximal de A, ent˜ao A ´e um corpo.ê Demonstra ¸c ˜ao. Esse resultado sai como corol´ario do resultado anterior pois, no caso mostramos que A/M ´e corpo, mas
A/M={x+M={x+0A}={x}, x ∈A}={{x}∀x ∈A} se identifica com o pr´oprio anel, que ´e portanto um corpo.
b
Propriedade 27. Sejam p, (pk)n1 elementos primos do dom´ınio A. Se p|(Yn k=1
pk) ent˜ao p ´e associado de pt para algum t.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Por indu¸c˜ao sobre n. Para n=1, p|p1 ent˜ao existe t tal que p1 =t.p, como p1 ´e irredut´ıvel e p ´e n˜ao invert´ıvel ent˜ao t ´e invert´ıvel. Supondo a validade paran, vamos provar para n+1. Se p|(
Yn+1 k=1
pk) ent˜ao p|( Yn
k=1
pk) ou p|pn+1, no primeiro caso algum pt com t∈In ´e associado de p, no segundo pn+1 ´e associado de
p .
1.1.1 Fatora ¸c ˜ ao ´unica em dom´ınios principais
FTeorema 3 (Fatora¸c˜ao ´unica em dom´ınios principais). Todo dom´ınio principal
´e um dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica.
ê Demonstra ¸c ˜ao. Sejam A um dom´ınio principal e a ∈ A um elemento n˜ao nulo e n˜ao invert´ıvel. Pelo que j´a demonstramos a possui pelo menos um divisor irredut´ıvel p1 ∈A, logo existe a1∈A tal que
a=a1p1
vale que a1 6=0, se a1 ´e n˜ao invert´ıvel tem-se novamente que a1=a2p2
e da´ı
a=a2p2p1.
Vamos mostrar que tal processo tem que parar ap´os um n´umero finito de passos, isto
´e, existe n tal que an ´e invert´ıvel. Se (an) fossem n˜ao invert´ıveis como an+1|an ent˜ao an e an+1 n˜ao seriam associados, ter´ıamos ent˜ao uma cadeia crescente de ideais I(ak) I(ak+1) n˜ao estacion´aria o que contradiz o que j´a provamos. Portanto para algum n, an =u ´e irredut´ıvel e
a=u Yn
k=1
pk
com cada fator irredut´ıvel, logo primos.
Vamos demonstrar a unicidade da fatora¸c˜ao por indu¸c˜ao sobre n. Para n = 1, p1 =
Ym k=1
qk com p1, (qk)m1 irredut´ıveis logo primos. Como p1| Ym
k=1
qk, ent˜ao (sem perda de generalidade), p1 ´e associado de q1, logo p1 =wq1 com w invert´ıvel, ent˜ao wq1 =
Ym k=1
qk e por cancelamento ter´ıamos w= Ym
k=2
qk que ´e imposs´ıvel para m ≥ 2, portanto m=1 e p1=wq1. Supondo n≥2 e a unicidade da fatora¸c˜ao v´alida para n , vamos mostrar para n+1. Suponha
Yn+1 k=1
pk = Ym
k=1
qk
com (pk)n1 e (qk)m1 irredut´ıveis, da´ı segue que pn+1|
k=1
qk e (sem perda de generali- dade) pn+1|qm, isto ´e, pn+1=wqm, como w ´e invert´ıvel, ent˜ao
( Yn
k=1
pk)wqm = Ym
k=1
qk⇔
( Yn
k=1
pk)w=
m−1Y
k=1
qk
por hip´otese de indu¸c˜ao n=m−1 e da´ı n+1=m. Repetindo procedimento podemos concluir que cada pk ´e associado de qk .
$
Corol ´ario 15. Todo n ´umero inteiro ´e produto de uma quantidade finita de irredut´ıveis, agrupamos os irredut´ıveis, que s˜ao primos sobre o mesmo produt´orio e chegamos quez =u Yn
k=1
pαkk onde u=1 ou −1.
1.2 Propriedades do dom´ınio principal Z.
b
Propriedade 28. Dados a = u Yrk=1
pαkk e b = w Ym
k=1
pβkk onde u e w s˜ao invert´ıveis podemos tomar n=max{r, m} e escrever a=u
Yn k=1
pαkk e b=w Yn
k=1
pβkk , possivelmente completando os produt´orios com expoentes zero. Vale ent˜ao que
mdc(a, b) = Yn
k=1
pckk
onde ck =min{αk, βk} e
mmc(a, b) = Yn
k=1
pvkk
onde vk=max{αk, βk}. ê Demonstra ¸c ˜ao.