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Teoria de corpos de classe e aplicações

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Academic year: 2017

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Teoria de corpos de classe e aplicações

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Teoria de corpos de classe e aplicações

*

Luan Alberto Ferreira

Orientador: Prof. Dr. Oziride Manzoli Neto

Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação - ICMC-USP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências - Matemática . VERSÃO REVISADA

USP – São Carlos Setembro de 2012

*O autor teve suporte financeiro da FAPESP.

SERVIÇO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO ICMC-USP

(3)

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

F383t

Ferreira, Luan Alberto

Teoria de corpos de classe e aplicações / Luan Alberto Ferreira; orientador Oziride Manzoli Neto. São Carlos, 2012.

96 p.

Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Matemática) -- Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, 2012.

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(6)

Agradecimentos

´

E sempre dif´ıcil escrever uma se¸c˜ao de agradecimentos. Pe¸co desculpas aque-les que julguei mal, seja por excesso, seja por falta - n˜ao quero cometer injusti¸cas.

Agrade¸co inicialmente `a FAPESP pelo apoio financeiro e ao professor Edu-ardo Tengan, que foi quem propˆos este belo tema de estudo.

Agrade¸co aos meus amigos e colegas do ICMC, em especial `a Camila Ma-riana Ruiz, Danilo Franchini de Souza, Felipe Alves da Louza, Fernando de Mello

Trevisani, Henrique Barbosa da Costa, Jo˜ao Paulo Poli, Jos´e Augusto Fioruci, J´ulia

Silva Silveira Borges, Juliana Rodrigues Dion´ısio Pereira, Leandro Mattiolli, Lucas Esperancini Moreira e Moreira, Marcelo Silveira Querino, Markus Diego Sampaio da Silva Dias, Matheus Dorival Leonardo Bombonato Menes, Raquel Filippi de Souza e Rodolfo Collegari. Obrigado pelas horas de estudo em grupo, pelas risadas, pelas conversas, pelos conselhos e por sempre acreditarem em mim.

Agrade¸co a todos os professores que, de uma forma ou de outra, contribu´ıram em minha forma¸c˜ao, seja profissional ou pessoal. Cabe aqui um agradecimento ao Instituto Embraer de Educa¸c˜ao e Pesquisa, a sua iniciativa social e ao seu excelente corpo docente. Devo muito de minha forma¸c˜ao a eles. Quanto aos professores do ICMC, gostaria de agradecer em especial a Carlos Biasi, Eduardo Alex Hern´andez Morales, Janete Crema, S´ergio Henrique Monari Soares, Valdir Antonio Menegatto e Wagner Vieira Leite Nunes por todos terem contribu´ıdo de forma significativa na minha forma¸c˜ao.

Agrade¸co aos funcion´arios do ICMC, que sempre me trataram com muita cordialidade e respeito.

Agrade¸co `a minha fam´ılia que me apoiou. Em especial, agrade¸co muit´ıssimo `as quatro mulheres que, sem as quais, eu n˜ao seria nada do que sou hoje: `as minhas mam˜aes Maria Isabel Ferreira Claudio e Valda Maria Ferreira e `as minhas irm˜as Bianca Ferreira de Jesus e Tha´ıs Fernanda Ferreira Claudio. Muito obrigado por vocˆes sempre acreditarem em mim, no meu potecial e no meu futuro!

Agrade¸co especialmente a trˆes professores do ICMC: ao professor Luiz Au-gusto da Costa Ladeira, n˜ao sei como posso expressar o reconhecimento e o respeito que tenho pelo senhor, professor, por todos os conselhos que me deu e por sempre acreditar no meu potencial! Ao meu orientador e professor Oziride Manzoli Neto, sou eternamente grato pelo voto de confian¸ca que recebi e por ter me acolhido de bra¸cos abertos! Agrade¸co pelas conversas que tivemos, pelos momentos de des-contra¸c˜ao e trabalho ´arduo juntos, por compartilhar comigo seus problemas com o

(7)

grupo P72 e por me ouvir falando sobre o que os n´umeros primos tˆem a ver com os espa¸cos m´etricos! Sou muito grato e fico muito feliz de ter conhecido e poder ter trabalhado com o senhor, professor! Quanto `a professora Ires Dias, bem, n˜ao tenho palavras para descrever tudo o que ela fez por mim durante meus anos em S˜ao Carlos. Possivelmente tudo seria diferente se eu n˜ao a tivesse conhecido, professora. S´o saiba que a senhora foi como uma m˜ae para mim aqui em S˜ao Carlos.

Agrade¸co especialmente tamb´em aos meus amigos do Vale do Para´ıba: Brau-lio Augusto Freire, Denise Clarice Caputo de Souza, Fanny Sene Fidelis de Oliveira,

Fernando Luiz Bustamante Bueno Oliveira, GabrielO. Godoy, Luana Menezes

Nu-nes, Lucas Renan Coelho Teixeira, Luis Fernando da Costa Oliveira, Luiz Rafael dos Santos Leite, Miriam Silva Freitas Dias, Nilson Henrique Chagas Oliveira, Orlando Pasqual Filho (sim, Landinho, vocˆe ´e do Vale tamb´em!), Paula Salles G´oria, Priscila Aparecida Gon¸calves e Thiago Augusto dos Santos Silva. N˜ao sei o que seria de mim sem vocˆes, pessoal. Se fosse listar tudo o que vocˆes j´a fizeram por mim gastaria mais tempo nisso do que escrevendo esta disserta¸c˜ao! Vocˆes s˜ao como irm˜aos e irm˜as para mim. Muito obrigado por tudo!

(8)

Resumo

Neste projeto, propomos estudar a chamada “Teoria de Corpos de Classe,” que oferece uma descri¸c˜ao simples das extens˜oes abelianas de corpos locais e globais, bem como algumas de suas aplica¸c˜oes, como os teoremas de Kronecker-Weber e Scholz-Reichardt.

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(10)

Abstract

In this work, we study the so called “Class Field Theory”, which give us a simple description of the abelian extension of local and global fields. We also study some applications, like the Kronecker-Weber and Scholz-Reichardt theorems.

(11)
(12)

Sum´

ario

1 Corpos de n´umeros 15

1.1 An´eis noetherianos . . . 15

1.2 Elementos integrais . . . 17

1.3 Dom´ınios integralmente fechados . . . 20

1.4 Dom´ınios de Dedekind . . . 22

1.5 O anel de n´umeros de um corpo de n´umeros . . . 27

1.6 Norma, tra¸co e discriminante . . . 30

1.7 Bases integrais . . . 36

1.8 O anel de n´umeros de Q(ζm) . . . 39

1.9 Apˆendice . . . 42

2 O teorema de Scholz-Reichardt 45 2.1 O problema inverso de Galois . . . 45

2.2 O problema inverso de Galois para grupos abelianos . . . 45

2.3 Ramifica¸c˜ao . . . 47

2.4 Homologia e cohomologia de grupos . . . 50

2.5 O problema de extens˜ao de grupos . . . 55

2.6 O teorema de Scholz-Reichardt . . . 56

2.6.1 O caso GeG× Z lZ . . . 57

2.6.2 O caso Ge6≃G× Z lZ . . . 58

(13)

3 Lei de reciprocidade local de Artin 61

3.1 Algumas propriedades do anel A[[X]] . . . 61

3.2 Leis de grupo formais . . . 63

3.3 Leis de grupo de Lubin-Tate . . . 66

3.4 A lei de reciprocidade local . . . 70

3.5 Os teoremas de Kronecker-Weber . . . 74

4 Lei de reciprocidade global de Artin 77 4.1 Cohomologia de grupos c´ıclicos . . . 77

4.2 O quociente de Herbrand de um m´odulo de permuta¸c˜ao . . . 80

4.3 M´odulus e grupo ideal de um corpo de n´umeros . . . 81

4.4 S-unidades . . . 83

4.5 O quociente de Herbrand q(UL) . . . 85

4.6 A norma de um m´odulus . . . 87

(14)

Introdu¸c˜

ao

O objetivo desta disserta¸c˜ao ´e estudar os fundamentos da teoria alg´ebrica dos

n´umeros. Como parte deste estudo, objetivamos enunciar e demonstrar os teoremas

de Kronecker-Weber, Scholz-Reichardt e a lei de reciprocidade de Artin. Assumimos ainda que o leitor possui um conhecimento em ´algebra a n´ıvel de gradua¸c˜ao, o que inclui um pouco de ´algebra linear, teoria de grupos, an´eis e corpos, e teoria b´asica de Galois.

O cap´ıtulo 1 apresenta os pr´e-requisitos b´asicos da teoria alg´ebrica dos n´

ume-ros, como alguns de seus teoremas e exemplos sobre os corpos quadr´aticos e ci-clotˆomicos.

O cap´ıtulo 2 apresenta, al´em de mais alguns t´opicos acerca dos corpos de

n´umeros, um esbo¸co da demonstra¸c˜ao do teorema de Scholz-Reichardt.

O cap´ıtulo 3 cont´em o enunciado e a demonstra¸c˜ao da lei de reciprocidade local de Artin, bem como o enunciado e a demonstra¸c˜ao do teorema de Kronecker-Weber.

O cap´ıtulo 4, ´ultimo desta disserta¸c˜ao, versa sobre alguns pr´e-requisitos

ne-cess´arios para provar a lei de reciprocidade global de Artin, bem como seu enunciado e demonstra¸c˜ao.

(15)
(16)

Cap´ıtulo 1

Corpos de n´

umeros

Neste cap´ıtulo veremos alguns conceitos b´asicos da teoria alg´ebrica dos n´

ume-ros, alguns dos quais ser˜ao utilizados por toda esta disserta¸c˜ao. A ´ultima se¸c˜ao

deste cap´ıtulo (o apˆendice) cont´em alguns pequenos resultados usados neste cap´ıtulo inicial. Nesta disserta¸c˜ao, a menos de men¸c˜ao contr´aria, o termo anel ser´a usado

para designar anel comutativo com unidade. SeAfor um anel, denotaremos por A×

o conjunto dos elementos invers´ıveis deA.

1.1

An´

eis noetherianos

Proposi¸c˜ao 1.1.1. Seja A um anel. As seguintes condi¸c˜oes s˜ao equivalentes:

1. Todo ideal de A´e finitamente gerado.

2. Toda cadeia ascendente de ideais de A estabiliza, i.e., se i0 ⊆ i1 ⊆i2 ⊆ · · · ´e uma cadeia ascendente de ideais de A, ent˜ao existe n0 ∈N tal que se n≥n0, ent˜ao in =in0.

3. Se S 6=´e um conjunto de ideais de A, ent˜ao S possui um elemento maximal imax, isto ´e, se i∈S e imax ⊆i, ent˜ao i=imax.

Demonstra¸c˜ao: 1) 2) Seja i0 ⊆i1 ⊆i2 ⊆. . . uma cadeia ascendente de ideais de

A. Ent˜ao i = S∞

i=0

ii ´e um ideal que, por hip´otese, ´e finitamente gerado. Escreva i =

(a1, . . . , ar). Ent˜ao∃n0 ∈Ntal que{a1, . . . , ar} ⊆in0 ⇒i=in0 ⇒i=in, ∀n≥n0.

2) 3) Pela contra-rec´ıproca. Seja S 6= um conjunto de ideais de A que

n˜ao possui elemento maximal. Como S 6= , ent˜ao existe i0 S. Como S n˜ao

possui elemento maximal, existe i1 ∈ S tal que i0 ( i1. Repetindo este processo

indefinidamente, encontramos uma cadeia ascendente de ideais i0 (i1 (i2 (. . .de

A que n˜ao estabiliza.

(17)

3) ⇒ 1) Seja i um ideal de A e seja S o conjunto de todos os ideais de A

finitamente gerados contidos em i. Ent˜ao S 6= , pois (0) S. Por hip´otese, S

possui um elemento maximalimax. Ent˜ao imax ∈S ⇒ imax ⊆i e imax ´e finitamente

gerado, digamos imax = (a1, . . . , ar). Se i =6 imax, ent˜ao existe a ∈ i−imax. Assim

(a1, . . . , ar, a) ∈ S e (a1, . . . , ar, a) ) imax, contradizendo a maximalidade de imax.

Logo i=imax = (a1, . . . , ar).

Defini¸c˜ao 1.1.2. Um anel A que cumpre uma e, portanto, todas as condi¸c˜oes equi-valentes acima ´e chamado anel noetheriano.

Exemplo 1.1.3. Todo dom´ınio de ideais principais (DIP) ´e noetheriano, enquanto que Z[x1, x2, . . .] n˜ao o ´e, pois a cadeia ascendente de ideais (x1) ( (x1, x2) (

(x1, x2, x3)(. . . n˜ao estabiliza.

Uma propriedade muito conhecida dos an´eis noetherianos ´e dada pelo

Teorema 1.1.4 (Teorema da base de Hilbert). Se A´e um anel noetheriano, assim o ´eA[x].

Demonstra¸c˜ao: Vamos mostrar que todo ideal ide A[x] ´e finitamente gerado. Para

isto, seja i ideal de A[x]. Seja j o conjunto de todos os coeficientes l´ıderes dos

elementos de i. Ent˜ao j ´e um ideal A. Como A ´e noetheriano, j ´e finitamente

gerado, isto ´e, j = (a1, . . . an). Para cada i ∈ {1, . . . , n}, seja fi ∈ i um polinˆomio

com coeficiente l´ıderai. Sejam di =∂(fi) e D= max

i∈{1,...,n}{di}.

Agora, para cadak∈ {0, . . . , D1}, sejajko conjunto de todos os coeficientes

l´ıderes dos elementos de i com grau no m´aximo k. De novo, jk ´e um ideal de

A e portanto ´e finitamente gerado, isto ´e, jk = (ak1, . . . , akmk). Como antes, seja

fk

j ∈ i tendo coeficiente l´ıder akj, j ∈ {1, . . . mk}. Seja h o ideal gerado pelos fi,

i∈ {1, . . . , n} e pelos fk

j, k ∈ {0, . . . , D−1}, j ∈ {1, . . . , mk}.

´

E claro que h ⊆ i. J´a se h ( i, ent˜ao existe f ∈ i−h, de grau m´ınimo d

e coeficiente l´ıder a. Como f i, ent˜ao a j a = r1a1 +. . .+rnan, ri ∈ A,

i ∈ {1, .., n}. Agora, suponha d ≥ D. Se g = r1xd−d1f1 +..+rnxd−dnfn, ent˜ao

∂(g) =d e o coeficiente l´ıder de g ´er1a1+. . .+rnan =a, pois cada parcelaxd−difi

tem graud. Como g h, ent˜ao fg 6∈h. Mas ∂(fg)< d, pois ∂(f) = ∂(g) =d,

contradizendo a minimalidade do grau de f. J´a se d < D, ent˜ao a jd e uma

constru¸c˜ao an´aloga nos levar´a `a mesma contradi¸c˜ao. Logo h = i e, portanto, i ´e

finitamente gerado.

Corol´ario 1.1.5. Se A ´e um anel noetheriano, assim o ´e A[x1, . . . , xn].

Uma outra propriedade satisfeita pelos an´eis noetherianos ´e dada pela pro-posi¸c˜ao abaixo:

Proposi¸c˜ao 1.1.6. Seja A um anel noetheriano. Ent˜ao todo ideal pr´oprio de A

(18)

1.2. ELEMENTOS INTEGRAIS 17

Demonstra¸c˜ao: Vamos provar a primeira afirma¸c˜ao; a demonstra¸c˜ao da segunda ´e

an´aloga. Suponha por absurdo que o resultado seja falso. Ent˜ao existe i um ideal

pr´oprio deAtal quein˜ao cont´em um produto de primos. SeS´e o conjunto de todos

os ideais pr´oprios de A que n˜ao contˆem um produto de primos, ent˜ao S 6= ∅, pois

i S. Como A ´e noetheriano, ent˜ao S possui um elemento maximal imax. Como

imax ∈S, ent˜ao, imax n˜ao ´e um ideal primo. Como imax 6=A (pois imax (A), ent˜ao

existem a, b∈A tais que ab∈imax e a, b6∈imax.

Assimimax (imax+ (a) eimax (imax+ (b). Pela maximalidade deimax, ent˜ao

imax+ (a) e imax+ (b) contˆem um produto de ideais primos, digamosP1·. . .·Pn⊆

imax+ (a) e Q1·. . .·Qm ⊆imax+ (b). Dessa forma,

P1·. . .·Pn·Q1·. . .·Qm ⊆(imax+ (a))·(imax+ (b))⊆imax.

Logo imax cont´em um produto de ideais primos, absurdo.

1.2

Elementos integrais

Defini¸c˜ao 1.2.1. Seja B/A uma extens˜ao de an´eis. Dizemos que b B ´e integral sobre A se existe f(x)A[x] mˆonico tal que f(b) = 0.

Exemplo 1.2.2. Seja m um inteiro livre de quadrados e considere Z ⊆ Q(√m). Ent˜ao√m ´e integral sobre Z: basta tomar f(x) =x2m.

Exemplo 1.2.3. Sejam m ∈ N∗, ζ

m =e2πi/m e considere Z ⊆Q(ζm). Ent˜ao ζm ´e

integral sobre Z: basta tomar f(x) = xm1.

Defini¸c˜ao 1.2.4. Seja B/A uma extens˜ao de an´eis. Definimos o fecho integral de

A em B por OB/A ={b∈B :b ´e integral sobre A}.

´

E claro que seC/B/A s˜ao extens˜oes de an´eis, ent˜aoOC/A∩B =OB/A. Para

demonstrar queOB/A ´e um anel, precisamos antes do seguinte lema t´ecnico:

Lema 1.2.5. Sejam A um anel, M ∈ Mn(A) e x = (x1, . . . , xn) um vetor em An.

Se M ·xt= (0), ent˜ao det(M)·x

i = 0, ∀ i∈ {1, . . . , n}.

Demonstra¸c˜ao: SeM∗ ´e a matriz adjunta de M, ent˜ao MM = det(M)I

n, onde In

´e a matriz identidade de ordem n sobre A. Assim, se M ·xt = 0, multiplicamos `a

esquerda porM∗ e obtemosMM·xt= (0)det(M)I

n·xt= (0)⇒det(M)·xi =

0, ∀ i∈ {1, . . . , n}.

Proposi¸c˜ao 1.2.6. Sejam B/A uma extens˜ao de an´eis e b1, . . . , bn ∈B. S˜ao

equi-valentes:

1. b1, . . . , bn s˜ao integrais sobre A;

(19)

Demonstra¸c˜ao: (1) ⇒(2) : Por indu¸c˜ao sobre n. Suponha ent˜aon = 1. Como b1 ´e

integral sobre A, ent˜ao existe um polinˆomio mˆonico f1(x)∈ A[x] de graud ≥1 tal

quef1(b1) = 0. Ent˜ao A[b1] ´e gerado por 1, b1, . . . , b1 d−1.

Suponha ent˜ao que b1, . . . , bn, bn+1 s˜ao integrais sobre Ae que A[b1, . . . , bn] ´e

umA-m´odulo fiintamente gerado. Comobn+1´e integral sobreA, ent˜aobn+1´e integral

sobre A[b1, . . . , bn]. Logo A[b1, . . . , bn, bn+1] ´e um A[b1, . . . , bn]-m´odulo finitamente

gerado. Como, por hip´otese de indu¸c˜ao, A[b1, . . . , bn] ´e um A-m´odulo finitamente

gerado, ent˜aoA[b1, . . . , bn, bn+1] ´e um A-m´odulo finitamente gerado.

(2) (1) : Suponha que A[b1, . . . , bn] seja um A-m´odulo finitamente gerado

por, digamos, ω1, . . . , ωm ∈ A[b1, . . . , bn]. Seja b ∈ A[b1, . . . , bn]. Expressando cada

b·ωi como uma combina¸c˜ao A-linear, existe uma matriz quadrada M ∈ Mm(A)

tal que 

b·ω1

· · ·

b·ωm 

 = M

  ω1 · · · ωm 

. Se Im ´e a matriz identidade de ordem m em

Mm(A) e ω = (ω1, . . . , ωm), ent˜ao (M −b·Im)·ωt= (0).

Pelo lema 1.2.5, det(M b ·Im)· ωi = 0, ∀ i ∈ {1, . . . , m}. Como 1 ∈

A[b1, . . . , bn], ent˜ao existem c1, . . . , cm ∈ A tais que 1 = c1ω1 +· · ·+cmωm.

Mul-tiplicando cada equa¸c˜ao det(M b ·Im)· ωi = 0 por ci e somando-as, obtemos

det(M b·Im) = 0, ou seja, obtemos um polinˆomio mˆonico com coeficientes emA

tendob como raiz. Logo b´e integral sobre A.

Note que a demonstra¸c˜ao acima mostra quequalquer elementob∈A[b1, . . . , bn]

´e integral sobreA. Em particular, dados b1, b2 ∈B integrais sobreA, ent˜aob1−b2

eb1b2 tamb´em s˜ao integrais sobre A. Assim, provamos o seguinte

Corol´ario 1.2.7. Seja B/A uma extens˜ao de an´eis. Ent˜ao OB/A ´e um anel que

satisfaz A ⊆ OB/A ⊆ B. Em particular, se A ´e um dom´ınio de integridade e L ´e

um corpo contendo Frac(A), ent˜ao OL/A ´e um dom´ınio de integridade que satisfaz

A⊆ OL/A⊆L.

A propriedade a seguir, conhecida comotruque do determinante, ser´a usada

mais `a frente.

Lema 1.2.8. Sejam A um dom´ınio noetheriano e γ K =F rac(A). Se existe um ideal i6= (0) em A tal que γi⊆i, ent˜ao, γ ∈ OK/A.

Demonstra¸c˜ao: Como A ´e noetheriano, ent˜ao i = (a1, . . . , an) 6= (0). Da rela¸c˜ao

γi⊆i, segue que existe uma matriz M ∈ Mn(A) tal que

γ   a1 . . . an  =M

  a1 . . . an 

(γIn−M)   a1 . . . an  =   0 . . . 0  .

Pelo lema 1.2.5, det(γIn −M)·ai = 0, ∀ i ∈ {1, . . . , n}. Como A ´e um

dom´ınio de integridade e i6= (0), ent˜ao det(γIn−M) = 0⇒γ ´e raiz do polinˆomio

(20)

1.2. ELEMENTOS INTEGRAIS 19

Defini¸c˜ao 1.2.9. SejaB/A uma extens˜ao de an´eis. Dizemos que B ´e integral sobre

A (ou que B/A ´e uma extens˜ao integral de an´eis) se OB/A =B.

Exemplo 1.2.10. Se m ´e um inteiro positivo livre de quadrados, ent˜ao Z[√m] ´e integral sobreZ. De fato, se a+b√m∈Z[√m], ent˜ao a+b√m ´e raiz do polinˆomio mˆonico p(x) = x22ax+a2mb2 Z[x].

Exemplo 1.2.11. Se m ´e um inteiro positivo livre de quadrados, ent˜ao Z[i√m] ´e integral sobreZ. De fato, sea+ib√m ∈Z[i√m], ent˜aoa+ib√m´e raiz do polinˆomio mˆonico p(x) = x22ax+a2+mb2 Z[x].

Vale ressaltar que ser integral ´e uma propriedade transitiva:

Proposi¸c˜ao 1.2.12. Sejam C/B/A extens˜oes de an´eis. Se C ´e integral sobre B e

B ´e integral sobre A, ent˜ao C ´e integral sobre A.

Demonstra¸c˜ao: Sejac∈C. ComoC ´e integral sobre B, ent˜ao ∃ b1, . . . , bn ∈B tais

quecn+b

1cn−1+· · ·+bn = 0. Segue queA[b1, . . . , bn, c] ´e umA[b1, . . . , bn]-m´odulo

finitamente gerado. Agora, como B e integral sobre A, ent˜ao A[b1, . . . , bn] ´e um

A-m´odulo finitamente gerado⇒A[b1, . . . , bn, c] ´e um A-m´odulo finitamente gerado.

Pela proposi¸c˜ao 1.2.6, c´e integral sobre A.

Proposi¸c˜ao 1.2.13. SejaA um subanel de um dom´ınio de integridade B e suponha queB ´e integral sobre A. Dessa forma, A ´e um corpo se, e somente se, B o ´e.

Demonstra¸c˜ao: () Suponha que A ´e um corpo e seja bB− {0}. ComoA ´e um

corpo, a proposi¸c˜ao 1.2.6 nos d´a queA[b] ´e umA-espa¸co vetorial de dimens˜ao finita.

Seja f : A[b] A[b] dada por f(z) = bz. Note que f ´e uma transforma¸c˜ao

A-linear que ´e injetora, pois B ´e um dom´ınio de integridade. Pelo Teorema do

N´ucleo e da Imagem, f ´e sobrejetora ⇒ ∃ z0 ∈A[b]⊆ B tal quef(z0) = bz0 = 1.

Logo z0 =b−1 ∈B ⇒B ´e um corpo.

() Suponha agora que B seja um corpo e seja a A− {0}. Como A

B, ∃ a−1 B. Agora, B ´e integral sobre A, logo existem c

1, . . . , cn ∈ A tais que

(a−1)n +c

1(a−1)n−1 +· · ·+cn = 0. Multiplicando esta equa¸c˜ao por an, obtemos

1 +c1a+· · ·+cnan = 0⇒1 =a(−c1− · · · −cnan−1)

| {z }

=a−1A

⇒A ´e um corpo.

Corol´ario 1.2.14. SejaB/Auma extens˜ao integral de an´eis. Seja qum ideal primo de B e seja p=qA. Ent˜ao:

1. p ´e um ideal primo de A e A

p ´e isomorfo a um subanel de

B

q.

2. B

q ´e integral sobre

A

p.

(21)

Demonstra¸c˜ao: 1. Se p = A, ent˜ao q∩A = A ⇒ A ⊆ q. Como 1 ∈ A, ent˜ao

1qq=B, absurdo, poisq´e um ideal primo de B.

Agora, sejam x, y ∈ A tais que xy ∈ p. Ent˜ao xy ∈ q. Como q ´e um ideal

primo de B, podemos supor sem perda de generalidade que xq. Logo xpp

´e um ideal primo de A.

Por fim, sejaf : A

p →

B

q dada por f(x) =x, onde a barra denota a classe de

equivalˆencia dexem Am´odulop e as duas barras denotam a classe de equivalˆencia

dex em B m´odulo q. Ent˜ao f est´a bem definida: de fato, se x= y, ent˜aoxy

p ⇒ x −y ∈ q ⇒ x = y ⇒ f(x) = f(y). f ´e um homomorfismo injetor. ´E

claro que f ´e um homomorfismo. Para ver sua injetividade, se f(x) = 0, ent˜ao

x= 0xqxpx= 0.

2. Sejax∈ B

q. Como B ´e integral sobreA, ent˜ao existema1, . . . , an ∈Atais

quexn+a

1xn−1+· · ·+an = 0⇒x n

+a1 x

n−1

+· · ·+an = 0⇒x´e integral sobre

A

p.

3. ´E consequˆencia direta da proposi¸c˜ao 1.2.13 e do item anterior.

1.3

Dom´ınios integralmente fechados

Defini¸c˜ao 1.3.1. Seja A um dom´ınio de integridade e K =Frac(A). Dizemos que

A ´e um dom´ınio integralmente fechado (DIF) se OK/A ⊆A.

Proposi¸c˜ao 1.3.2. Todo dom´ınio dom´ınio de fatora¸c˜ao ´unica (DFU) ´e um DIF.

Demonstra¸c˜ao: Sejam Aum DFU e a

b ∈ OK/A. Como A´e um DFU, podemos supor

que a e b n˜ao tˆem fatores em comum. Como a

b ∈ OK/A, ent˜ao existem a1, . . . ,

an ∈ A tais que

a

b

n

+a1

a

b

n−1

+. . .+an = 0. Multiplicando tal equa¸c˜ao por

bn, obtemos

an+a1ban−1+. . .+bnan= 0⇒an=−b(a1an−1+. . .+bn−1an)⇒b | an.

Como a e b n˜ao tˆem fatores em comum, ent˜ao b a

b ∈ A ⇒ A ´e integralmete fechado.

Note ent˜ao que todo corpo ´e um dom´ınio euclidiano (DE), todo DE ´e um DIP, todo DIP ´e um DFU e todo DFU ´e um DIF.

(22)

1.3. DOM´INIOS INTEGRALMENTE FECHADOS 21

Exemplo 1.3.4. Seja K um corpo e considere o subanel A = K[x2, x3] K[x]. Ent˜ao A ´e um dom´ınio de integridade que n˜ao ´e integralmente fechado. De fato,

seja L = Frac(A) = K(x). Ent˜ao x = x

3

x2 ∈ OL/A −A. De fato, x ´e raiz do polinˆomio mˆonico T2x2 L[T].

´

E interessante notar que vale o an´alogo do teorema da base de Hilbert para dom´ınios integralmente fechados. Para demonstrarmos esse resultado, precisamos antes do seguinte

Lema 1.3.5. Sejam A um DIF, K = Frac(A), b ∈ K e g(x) ∈A[x]. Seja f(x) = bxm+g(x), onde mN. Se existem polinˆomios p

1(x), . . . , pr(x)∈A[x] tais que

f(x)r+p1(x)f(x)r−1+· · ·+pr(x) = 0,

ent˜ao bA. Em particular, f(x)A[x].

Demonstra¸c˜ao: Da equa¸c˜ao

f(x)r+p1(x)f(x)r−1+· · ·+pr(x) = 0

obtemos

[bxm+g(x)]r+p1(x)[bxm+g(x)]r−1 +· · ·+pr(x) = 0

donde

brxmr+

r X

i=1

r i

br−ixm(r−i)g(x)i+p1(x)[bxm+g(x)]r−1+· · ·+pr(x) = 0.

Note que qualquer parcela da soma acima diferente debrxmr tem como

coefi-ciente do monˆomio de graumr potˆencias de b com expoentes estritamente menores

que r. Como g(x), p1(x), . . . , pr(x) ∈ A[x] e a igualdade acima ocorre em K[x]

(que ´e um dom´ınio de integridade), segue que b satisfaz um polinˆomio mˆonico com

coeficientes em A. Assim, b ´e integral sobre A. ComoA ´e um DIF, bA.

Proposi¸c˜ao 1.3.6. Se A ´e um DIF, assim o ´e A[x].

Demonstra¸c˜ao: Seja K = Frac(A) e seja f(x) ∈ Frac(A[x]) = A(x) um elemento

integral sobre A[x]. Como A[x] K[x] A(x), ent˜ao f(x) ´e integral sobre K[x].

ComoK[x] ´e um DIF (pois ´e um DIP), ent˜ao f(x)K[x]. Escreva

f(x) =anxn+· · ·+a0, onde a0, . . . , an∈K.

Como f(x) ´e integral sobre A[x], existem polinˆomios p1(x), . . . , pr(x)∈A[x]

tais que

f(x)r+p1(x)f(x)r−1+· · ·+pr(x) = 0.

Vamos mostrar por indu¸c˜ao em n =∂(f) que f(x) A[x]. Se n = 0, ent˜ao

o resultado segue do lema anterior aplicado a b = a0, m= 0 e g(x) = 0. Suponha

ent˜ao o resultado v´alido para todo polinˆomio de grau no m´aximo n−1. Assim, se

∂(f) = n, seja g(x) = f(x)anxn ∈ A[x], por hip´otese de indu¸c˜ao. De novo, o

(23)

Corol´ario 1.3.7. SeA´e um dom´ınio integralmente fechado, assim o ´eA[x1, . . . , xn].

Antes de finalizarmos essa se¸c˜ao, vejamos uma propriedade satisfeita pelos DIFs. Para isso, precisamos antes da seguinte:

Proposi¸c˜ao 1.3.8. Seja A um dom´ınio de integridade, K =F rac(A) e L/K uma extens˜ao de corpos. Seα ∈L´e alg´ebrico sobre K, ent˜ao existe d ∈A− {0} tal que

´e integral sobre A.

Demonstra¸c˜ao: Por hip´otese, α satisfaz uma equa¸c˜ao

αm+a1αm−1+· · ·+am = 0, ai ∈K, i∈ {1, . . . , m}.

Se d A ´e um denominador comum dos ai, ent˜ao d = 0 e6 d·ai ∈ A, ∀ i∈

{1, . . . , m}. Multiplicando a igualdade acima pordm, obtemos

dmαm+a1dmαm−1+. . .+dmam = 0,

ou seja,

(dα)m+a1d(dα)m−1+..+amdm = 0.

Comoa1d, . . . , amdm ∈A, ent˜ao dα ´e integral sobre A.

Corol´ario 1.3.9. Seja A um dom´ınio de integridade, K = Frac(A) e L/K uma extens˜ao de corpos. Se L´e alg´ebrico sobre K, ent˜ao Frac(OL/A) = L.

Demonstra¸c˜ao: Seja α ∈ L. Como L/K ´e uma extens˜ao alg´ebrica, ent˜ao α ´e

alg´ebrico sobreK. Pela proposi¸c˜ao anterior, existedA− {0}tal que dα ∈ OL/A.

Assimα = dα

d , onde dα ∈ OL/A e d ∈ A− {0} ⊆ OL/A ⇒ L⊆ Frac(OL/A). Como

a outra inclus˜ao ´e trivial, o corol´ario est´a demonstrado.

1.4

Dom´ınios de Dedekind

Defini¸c˜ao 1.4.1. SejaA um dom´ınio de integridade. Dizemos queA´e um dom´ınio de Dedekind se:

1. A ´e noetheriano;

2. A ´e integralmente fechado;

3. Todo ideal primo n˜ao nulo de A ´e maximal.

(24)

1.4. DOM´INIOS DE DEDEKIND 23

Exemplo 1.4.3. SeA ´e um dom´ınio de Dedekind, ent˜ao n˜ao necessariamenteA[x]

o ´e. De fato, Z ´e um dom´ınio de Dedekind, enquanto que Z[x] n˜ao o ´e, pois o ideal

i= (x) ´e primo mas n˜ao ´e maximal, dado que Z[x]

(x) ≈Z.

Proposi¸c˜ao 1.4.4. Seja K um corpo tal que Q⊆ K ⊆ C. Ent˜ao OK/Z ´e um DIF

e todo ideal primo n˜ao nulo p de OK/Z ´e maximal.

Demonstra¸c˜ao: Primeiramente, devemos mostrar queOFrac(OK/Z)/OK/Z ⊆ OK/Z. Para

isto, sejax∈ OFrac(OK/Z)/OK/Z ={x∈Frac(OK/Z) : x´e integral sobre OK/Z}. Como

x∈Frac(OK/Z)⊆ K, ent˜ao x ∈K. Agora, como x ´e integral sobre OK/Z eOK/Z ´e

integral sobreZ, segue da proposi¸c˜ao 1.2.12 que x ´e integral sobre Z⇒x∈ OK/Z.

Agora, mostremos que todo ideal primo n˜ao nulopdeOK/Z´e maximal. Ora,

comop´e n˜ao nulo, existeyp−{0}. Comoy∈ OK/Z, ent˜ao existema1, . . . , an∈Z

tais que

yn+a1yn−1+· · ·+an= 0.

Como podemos tomarno menor poss´ıvel, ent˜aoan6= 0. Pelo corol´ario 1.2.14,

pZ´e um ideal primo deZque ´e n˜ao nulo, pois,an∈p∩Z. ComoZ´e um dom´ınio

de Dedekind, ent˜ao p∩Z ´e um ideal maximal de Z. De novo pelo corol´ario 1.2.14,

p´e um ideal maximal deOK/Z, e a proposi¸c˜ao est´a demonstrada.

´

E interessante notar que para cada uma das trˆes condi¸c˜oes que definem um

dom´ınio de Dedekind, existe um dom´ınioA n˜ao satisfazendo tal condi¸c˜ao e

satisfa-zendo as outras duas. Veja:

• Z[x] satisfaz1 e2, mas n˜ao3. Mais geralmente, seA´e um dom´ınio noetheriano

integralmente fechado, ent˜ao A[x, y] satisfaz 1 e 2, mas n˜ao 3. De fato, (y) ´e

um ideal primo n˜ao-nulo de A[x, y] que n˜ao ´e maximal, pois, A[x, y]

(y) ≈A[x].

• Se K ´e um corpo, o dom´ınio A =K[x2, x3] K[x] do exemplo 1.3.4 satisfaz

1 e3 (pois ´e um DIP - veja lema 1.9.1), mas n˜ao 2.

• Mais `a frente daremos um exemplo cl´assico de um dom´ınio que satisfaz 2, 3,

mas n˜ao 1.

Dois ser˜ao os principais resultados acerca dos dom´ınios de Dedekind que demonstraremos nesta se¸c˜ao. Para isso, precisamos antes de alguns lemas.

Lema 1.4.5. Seja i um ideal pr´oprio n˜ao nulo de um dom´ınio de Dedekind A com corpo de fra¸c˜oes K. Ent˜ao existe γ ∈K −A tal que γi⊆A.

Demonstra¸c˜ao: Como i 6= (0), seja a ∈ i− {0}. Note que a 6∈ A×, pois i 6= A.

Pela proposi¸c˜ao 1.1.6, o ideal (a) cont´em um produto de ideais primos n˜ao nulos

(25)

Comoi´e um ideal pr´oprio deA, o lema 1.9.2 implica a existˆencia de um ideal

maximal (o qual ´e necessariamente primo)ptal queip. Ent˜aop1·. . .·pr ⊆(a)⊆

ip. Como p´e ideal primo, ent˜ao existei∈ {1, . . . r}tal quepi ⊆p. Suponha sem

perda de generalidade quep1 ⊆p. Como A´e um dom´ınio de Dedekind, p=p1.

Se r = 1, ent˜ao (a) = i = p. Como p ´e um ideal primo, existe b A(a).

Assim, γ = b

a ∈ K−A. Com efeito, se

b

a ∈A, ent˜ao ∃ c∈A tal que

b

a =c⇒b =

ac(a), absurdo. Dessa forma, γi=γ(a) = (b)A.

Suponha ent˜ao r 2. Como r ´e m´ınimo, (a) n˜ao pode conter um produto

de ideais primos que tem menos do quer fatores. Logo existe b∈p2·. . .·pr−(a).

Procedendo como antes, γ = b

a ∈ K − A. Ademais, γi ⊆ A. De fato, bp1 ⊆

p1·. . .·pr ⊆(a)⇒bp1 ⊆(a)⇒

b a

p1 Aγiγp=γp1 A.

Lema 1.4.6. Seja i um ideal n˜ao nulo de um dom´ınio de DedekindA. Ent˜ao existe um ideal n˜ao nulo j de A tal que ij ´e principal e n˜ao nulo.

Demonstra¸c˜ao: Como i6= (0), sejam α i− {0}e j ={β A:βi (α)}. Ent˜aoj

´e um ideal n˜ao nulo deA (poisαj) tal que ij(α). Vamos mostrar que (α)ij.

Considere o conjunto h = 1

αij ⊆ A, que ´e tamb´em um ideal n˜ao nulo de A.

Seh=A, ent˜ao ij= (α). De fato, sex∈(α), ent˜ao ∃ y∈A tal que x=αy. Como

y A = 1

αij, ent˜ao ∃ z ∈ ij tal que y =

1

αz. Logo x = αy = α·

1

αz = z ∈ ij ⇒

(α)⊆ij.

Caso contr´ario, h ´e um ideal pr´oprio, no qual n´os podemos aplicar o lema

1.4.5. Ent˜aoγh A, para algumγ KA, comK = Frac(A). Vamos mostrar que

γ ∈ OK/A. ComoA ´e Dedekind, A´e integralmente fechado ⇒ OK/A ⊆A⇒γ ∈A,

absurdo.

Como j h (pois α i), ent˜ao γj γh A. Afirmo que γj j. De

fato, seja j ∈ j. Precisamos mostrar que γji ⊆ (α). Para isso, seja i ∈ i. Ent˜ao

γ1

αij ∈γh ⊆ A ⇒γ 1

αij ∈ A ⇒ ∃ a ∈ A tal que γ

1

αij = a ⇒ γij =αa ∈ (α)⇒

γji∈(α)⇒γji⊆(α). Logo, γj⊆j. Pelo lema 1.2.8, γ ∈ OK/A.

O lema anterior mostra a existˆencia de um ideal principalizador para um

ideal n˜ao nulo de um dom´ınio de Dedekind. Em particular, ele implica a lei do

cancelamento de ideais n˜ao nulos em um dom´ınio de Dedekind:

Corol´ario 1.4.7. Se i1, i2 e i3 s˜ao ideais n˜ao nulos em um dom´ınio de Dedekind tais que i1i2 =i1i3, ent˜ao i2 =i3.

Demonstra¸c˜ao: Sabemos que existej6= (0) um ideal tal quei1j´e principal e n˜ao nulo.

Sejai1j= (α)6= (0). Ent˜ao (α)i2 =i1ji2 =ji1i2 =ji1i3 =i1ji3 = (α)i3 i2 =i3.

(26)

1.4. DOM´INIOS DE DEDEKIND 25

Demonstra¸c˜ao: Pelo lema 1.4.6, existe um ideal n˜ao nulo h de A tal que i2h ´e

principal e n˜ao nulo; digamosi2h = (α), α∈A− {0}. Seja j=

1 αi1h.

Afirmo que j ´e um ideal n˜ao nulo de A. De fato, para ver que j A, note

quei1 i2 i1h i2h= (α)i1h (α)j= 1

αi1h⊆A. Ademais,j6= (0), pois

i1, h 6= (0). Por fim, i2j=i2

1

αi1h =i1 1

αi2h =i1 1

α(α) = i1.

O coror´alario 1.4.7 funciona como uma lei do cancelamento para ideais n˜ao

nulos de um dom´ınio de Dedekind. Com ele, obtemos oteorema da fatora¸c˜ao ´unica

de ideais em dom´ınios de Dedekind. Mais precisamente,

Teorema 1.4.9. Todo ideal pr´oprio n˜ao nulo i de um dom´ınio de Dedekind A ´e unicamente represent´avel como um produto de ideais primos.

Demonstra¸c˜ao: Existˆencia: Seja S o conjunto de todos os ideais pr´oprios n˜ao nulos

i deA tais que i n˜ao ´e represent´avel como um produto de ideais primos. Se S 6=,

ent˜ao S admite um elemento maximal imax, pois A´e noetheriano. Pelo lema 1.9.2,

imax ⊆ p, para algum ideal primo p de A (pois todo ideal maximal ´e primo). Pelo

corol´ario 1.4.8, imax = pj, para algum ideal n˜ao nulo j de A. Logo imax ⊆ j, e a

inclus˜ao ´e estrita. De fato, se imax =j, ent˜ao Aimax = Apj =pj = pimax ⇒ A = p,

absurdo. Assim imax ( j. Pela maximalidade de imax, j ´e um produto de ideais

primosimax =pj´e um produto de ideais primos, contradi¸c˜ao.

Unicidade: Suponha que i=p1·. . .·pr =q1·. . .·qs s˜ao duas representa¸c˜oes

de i como um produto de ideais primos. Ent˜ao q1 · . . .·qs ⊆ p1. Assim existe

i ∈ {1, . . . , s} tal que qi ⊆ p1. Suponha sem perda de generalidade que q1 ⊆ p1.

ComoA ´e Dedekind, q1 ´e um ideal maximal de A. Ent˜ao p1 =q1, e, pelo corol´ario

1.4.7,p2·. . .·pr =q2·. . .·qs. Continando assim, iremos obter r=s eqi =pi, para

todoi∈ {1, . . . , r=s}.

Corol´ario 1.4.10. Seja A um dom´ınio de Dedekind. Ent˜ao A ´e um DIP se, e somente se, ´e um DFU.

Demonstra¸c˜ao: Precisamos apenas provar a rec´ıproca. Mostrarems inicialmente que

todo ideal primo n˜ao nulo de A ´e principal. Assim, seja p6= (0) um ideal primo de

A e seja a p− {0}. Como A ´e um DFU, ent˜ao a se fatora como um produto de

elementos irredut´ıveis de A, i.e., a = p1·. . .·pn. Como p ´e um ideal primo de A,

ent˜ao p cont´em um desses elementos irredut´ıveis pi. Ent˜ao (pi) ⊆ p. Agora, como

pi ´e um elemento irredut´ıvel de A, que ´e um DFU, ent˜ao (pi) ´e um ideal primo de

A. ComoA ´e Dedekind, ent˜ao (pi) ´e um ideal maximal. Como (pi)⊆p(A, ent˜ao

(pi) = p.

Finalizando, como todo ideal pr´oprio de um dom´ınio de Dedekind pode ser escrito como um produto de ideais primos, ent˜ao todo ideal pr´oprio de um dom´ınio de Dedekind pode ser escrito como um produto de ideais principais. Agora, como o produto de ideais principais ´e principal, o corol´ario est´a demonstrado.

(27)

Proposi¸c˜ao 1.4.11. Sejaium ideal n˜ao nulo de um dom´ınio de DedekindA. Ent˜ao existe um ideal n˜ao nulo j de A tal que ij ´e principal e n˜ao nulo. Se h ´e qualquer ideal n˜ao nulo de A, ent˜ao j pode ser escolhido coprimo com h.

Demonstra¸c˜ao: Como todo ideal ´e coprimo com o anel todo, o lema 1.4.6 ´e o caso

particular h = A. Portanto podemos supor h um ideal n˜ao nulo e pr´oprio de A.

Pelo teorema 1.4.9,h =pα1

1 ·. . .·pαnn, ondep1, . . . ,pn s˜ao ideais primos n˜ao nulos de

A epi 6=pj se i6=j.

1o

caso: n= 1.

Ent˜ao h= pα1

1 , onde α1 ∈ N∗. Afirmo que ip1 (i. De fato, se ip1 =i =iA,

ent˜ao pela lei do cancelamento p1 =A, absurdo. Logo aiip1. Em particular,

a 6= 0. Como (a) ⊆ i, pelo corol´ario 1.4.8 existe um ideal n˜ao nulo j de A tal que

(a) =ij. Afirmo que j´e coprimo com p1. De fato, suponha por absurdo que jp1.

Ent˜ao (a) = ij ip1 a ip1, absurdo. Logo j * p1. Como A ´e um dom´ınio de

Dedekind, p1 ´e maximal, e logo j´e coprimo com p1, em virtude do lema 1.9.5. Pelo

lema 1.9.4,j+pα1

1 =j+h =A.

2o

caso: n2.

Sejam h0 =p1·. . .·pn e qi =

n Y

j=1

j6=i

pj, ∀ i∈ {1, . . . , n}. Note que h0 =qipi ⊆

qi ⇒ih0 ⊆iqi, ∀ i∈ {1, . . . , n}. Afirmo queih0 (iqi, ∀i∈ {1, . . . , n}. Com efeito,

se ih0 = iqi, para algum i ∈ {1, . . . , n}, ent˜ao, pela lei do cancelamento, h0 = qi,

absurdo pelo teorema da fatora¸c˜ao ´unica. Assim, ih0 ( iqi, ∀ i ∈ {1, . . . , n}. Para

cada i ∈ {1, . . . , n}, seja ai ∈ iqi−ih0 e seja a =

n X

i=1

ai. Como ai ∈ iqi ⊆ i, ent˜ao

ai ∈i, ∀ i∈ {1, . . . , n} ⇒a∈i.

Afirmo que a 6∈ ipi, ∀ i ∈ {1, . . . , n}. De fato, suponha que a ∈ ipi0, para

algumi0 ∈ {1, . . . , n}. Escrevaa =ai0+

n X

i=1

i6=i0

ai. Sei6=i0, ent˜aoqi ⊆pi0 ⇒iqi ⊆ipi0.

Como ai ∈ iqi, ent˜ao ai ∈ ipi0. Logo

n X

i=1

i6=i0

ai ∈ ipi0. Como estamos supondo que

a ∈ipi0, ent˜ao ai0 ∈ ipi0. Mas ai0 tamb´em pertence a iqi0. Logo ai0 ∈ ipi0 ∩iqi0 ⊆

ipi0 ∩i∩qi0 = i∩pi0∩qi0

| {z }

=h0

= ih0, absurdo. Logo a 6∈ ipi, ∀ i ∈ {1, . . . , n}. Em

particular,a 6= 0.

Como a ∈ i, ent˜ao (a) ⊆ i. Pelo corol´ario 1.4.8, existe um ideal n˜ao nulo j

de A tal que (a) = ij. Se j pi, para algum i ∈ {1, . . . , n}, ent˜ao de novo pelo

corol´ario 1.4.8 existe um ideal n˜ao nulo j0 de A tal que j = pij0 ⇒ (a) = ij =

ipij0 ⊆ ipi ⇒ a ∈ ipi, absurdo. Ent˜ao j * pi, ∀ i ∈ {1, . . . , n}. Pelo lema 1.9.5,

j+pi = A, ∀ i ∈ {1, . . . , n}. Pelo lema 1.9.3, j+pαii = A, ∀ i ∈ {1, . . . , n}. Pelo

lema 1.9.4,j+pα1

(28)

1.5. O ANEL DE N ´UMEROS DE UM CORPO DE N ´UMEROS 27

Corol´ario 1.4.12. Seja i um ideal n˜ao nulo de um dominio de Dedekind A, e seja

αi− {0}. Ent˜ao β i tal que i= (α, β).

Demonstra¸c˜ao: Como α∈i, ent˜ao (α)⊆i. Comoα 6= 0, pelo corol´ario 1.4.8 existe

um ideal h n˜ao nulo de A tal que (α) = ih. Como i 6= (0), a proposi¸c˜ao 1.4.11

garante a existˆencia de um ideal j n˜ao nulo de A tal que j ´e coprimo com h e ij ´e

principal e n˜ao nulo. Escrevaij= (β), β ∈A− {0}.

Ent˜ao (α, β) = (α) + (β) =ih+ij=i(h+j) =iA=i.

Corol´ario 1.4.13. Um dom´ınio de Dedekind A com um n´umero finito de ideais primos ´e um DIP.

Demonstra¸c˜ao: Sejam p1, . . . ,pn todos os ideais primos n˜ao nulos de A e seja h =

p1·. . .·pn. Seja ium ideal pr´oprio n˜ao nulo deA. Pela proposi¸c˜ao 1.4.11, existe um

ideal jn˜ao nulo de A tal que j´e coprimo com h e ij´e principal e n˜ao nulo. Escreva

ij= (a), aA− {0}.

Comoj´e coprimo com h, ent˜ao j=A. De fato, se j(A, ent˜ao pelo teorema

1.4.9,j´e um produto de ideais primos n˜ao nulos deA. Logoh⊆j⇒h+j=j. Mas

como h ´e coprimo com j, ent˜ao h+j =A j = A, absurdo. Ent˜ao i = iA = ij =

(a).

´

E interessante notar que o teorema 1.4.9 ´e, na verdade, uma caracteriza¸c˜ao dos dom´ınios de Dedekind:

Proposi¸c˜ao 1.4.14. Seja A um dom´ınio de integridade tal que todo ideal pr´oprio n˜ao nulo admite uma fatora¸c˜ao ´unica em ideais primos. Ent˜ao A´e um dom´ınio de Dedekind.

A demonstra¸c˜ao desta proposi¸c˜ao foge um pouco do escopo desta disserta¸c˜ao e por isso ser´a omitida. Entretanto, uma prova dela pode ser encontrada em [2], p. 494 - 495.

1.5

O anel de n´

umeros de um corpo de n´

umeros

Defini¸c˜ao 1.5.1. Um corpo de n´umeros ´e um corpo K ⊆C tal que [K :Q]<∞.

Claramente, os corpos da forma Q(√m), m ∈ Z, m livre de quadrados, s˜ao

corpos de n´umeros, denominados corpos quadr´aticos. Se m > 0, ent˜ao Q(√m) ´e

chamado de corpo quadr´atico real. Caso m < 0, ent˜ao Q(√m) ´e chamado de corpo

quadr´atico imagin´ario.

Outro exemplo de corpo de n´umeros ´e Q(ζm), onde ζm = e2πi/m, m ∈ N∗,

chamado dem-´esimo corpo ciclotˆomico. Registramos no teorema abaixo as

(29)

Teorema 1.5.2. Seja ϕ a fun¸c˜ao de Euler. Se m∈N∗, ent˜ao a extens˜ao Q(ζ

m)/Q

´e galoisiana, [Q(ζm) :Q] =ϕ(m) e Gal(Q(ζm) :Q)∼=

Z

mZ

, onde o isomorfismo

pode ser dado por:

σ:

Z

mZ

→ Gal(Q(ζm) :Q)

k 7→ σk

, onde σk: Q(ζm) → Q(ζm)

ζm 7→ ζmk

.

Se m=pα1

1 · · ·pαnn ´e a fatora¸c˜ao de m em fatores primos, ent˜ao n \

i=1 Q(ζpαi

i ) = Q (se

n2) e Q(ζpα1

1 , . . . , ζpαnn ) =Q(ζm). Al´em disso,

Gal(Q(ζm)/Q)≃Gal(Q(ζpα1

1 )/Q)× · · ·Gal(Q(ζp

αn n )/Q).

Em particular, Z mZ × ≃ Z

pα1 1 Z

×

× · · · ×

Z

pαn

n Z ×

.

Tanto os corpos quadr´aticos quanto os corpos ciclotˆomicos receber˜ao aten¸c˜ao especial at´e o final deste cap´ıtulo.

Defini¸c˜ao 1.5.3. Seja K um corpo de n´umeros. Definimos o anel de n´umeros OK

de K como sendo o fecho integral de Z em K, ou seja, OK =OK/Z.

Tamb´em podemos chamarOK deanel de inteiros deK. Toda a teoria

desen-volvida at´e agora sobre dom´ınios de Dedekind ser´a agora utilizada para obtermos

importantes resultados acerca da estrutura aritm´etica dos corpos de n´umeros.

Va-mos calcular o anel de n´umeros de alguns corpos de n´umeros de modo concreto.

Proposi¸c˜ao 1.5.4. Seja m um inteiro livre de quadrados.

1. Se m≡2 ou 3 (mod 4), ent˜ao OQ(√m)=Z[

m].

2. Se m1 (mod 4), ent˜ao OQ(√m) =

a+b√m

2 :a, b∈Z, a≡b (mod 2)

.

Demonstra¸c˜ao: 1. A inclus˜ao Z[√m] ⊆ OQ(√m) segue diretamente do exemplo

1.2.10. J´a sea+b√m∈ OQ(√m), com b6= 0, ent˜ao o polinˆomio minimal de a+b

m

sobreQ´e o polinˆomiop(x) =x22ax+a2mb2descrito acima. Pelo teorema 1.9.7,

2a Z e a2 mb2 Z. Logo 4a2 Z e 4a24mb2 Z 4mb2 = m(2b)2 Z.

Comom´e livre de quadrados, ent˜ao 2b∈Z. Dessa forma existemu, v ∈Z tais que

2a =u e 2b =v. Comoa2mb2 Z, ent˜ao 4a24mb2 0 (mod 4)u2mv2

0 (mod 4)u2 mv2 (mod 4).

Se u ´e ´ımpar, ent˜ao u2 1 (mod 4) mv2 1 (mod 4). Por hip´otese,

m≡3 (mod 4)⇒3v2 1 (mod 4)v2 3 (mod 4), absurdo. Logo u´e par. Isto

implica quea Z e que u2 0 (mod 4) mv2 0 (mod 4). Se v ´e ´ımpar, ent˜ao

(30)

1.5. O ANEL DE N ´UMEROS DE UM CORPO DE N ´UMEROS 29

2. Seja a+b

m

2 ∈

a+b√m

2 :a, b ∈Z, a≡b (mod 2)

. Como m

1(mod 4), ent˜ao m = 4n + 1, para algum n Z. Como a b (mod 2), ent˜ao

a−b= 2k, para algumk∈Z. Assim a+b

m

2 anula p(x) = x

2ax+k2+kbnb2,

que ´e um polinˆomio mˆonico emZ[x]. Logo a+b

m

2 ∈ OQ(√m).

Para a outra inclus˜ao, sejaa+b√m ∈ OQ(√m), comb 6= 0. Procedendo como

antes, existem u, v ∈ Z tais que 2a = u, 2b = v e u2 mv2 (mod 4). Assim

a+b√m= u+v

m

2 . ´E necess´ario ent˜ao mostrar apenas que u≡v (mod 2). Mas

comom 1 (mod 4), ent˜aou2 v2 (mod 4)uv (mod 2).

O objetivo agora ´e provar que o anel de n´umeros de um corpo de n´umerosK

´e um dom´ınio de Dedekind. Para isso precisamos dos seguintes resultados:

Lema 1.5.5. Seja m um ideal n˜ao nulo de OK. Ent˜ao m∩Z6={0}.

Demonstra¸c˜ao: Comom6={0}, sejaα ∈m−{0}satisfazendo seu polinˆomio minimal xr+a

r−1xr−1 +· · ·+a0 = 0, onde a0, . . . , ar−1 ∈ Z e a0 6= 0. Ent˜ao a0 =−(αr +

· · ·+a1α). O lado esquerdo desta equa¸c˜ao est´a em Z, enquanto que o lado direito

desta equa¸c˜ao est´a em m. Logo 06=a0 ∈m∩Z.

Corol´ario 1.5.6. Seja m um ideal n˜ao nulo de OK. Ent˜ao #

OK

m

<.

Demonstra¸c˜ao: Pelo lema anterior, existe m ∈ m∩Z− {0}. Ent˜ao mOK ⊆ m.

Como #

OK

mOK

=m[K:Q], segue que #

OK

m

≤m[K:Q]<.

Defini¸c˜ao 1.5.7. Sejam K um corpo de n´umeros e m um ideal n˜ao nulo em OK.

Definimos a norma do ideal m como sendo N(m) = #

OK

m

.

Lema 1.5.8. Se (0)(i(j s˜ao ideais de OK, ent˜ao N(i)> N(j).

Demonstra¸c˜ao: Seja f : OK

i →

OK

j dada por f(x+i) =x+j. Como i (j, ent˜ao

f est´a bem definida e ´e sobrejetora.

Agora, comoi(j, existeyji. Ent˜ao y+i6= 0 masf(y+i) = 0f n˜ao

´e injetora. Como tanto o dom´ınio quanto o contra-dom´ınio de f s˜ao finitos, temos

o desejado.

Teorema 1.5.9. Se K ´e um corpo de n´umeros, ent˜ao OK ´e um dom´ınio de

Dede-kind.

Demonstra¸c˜ao: Basta provarmos que OK ´e noetheriano, pois o restante segue da

proposi¸c˜ao 1.4.4. Para isto, suponha por absurdo que exista uma sequˆencia

ascen-dente de ideais de OK

(31)

que nunca estabiliza. Pelo lema anterior,N(i1)> N(i2) > N(i3)>· · ·. Mas N(i1)

sendo finito, isto ´e imposs´ıvel. Logo OK ´e noetheriano.

Defini¸c˜ao 1.5.10. Dizemos que α∈C ´e um inteiro alg´ebrico se α ∈ OC.

O dom´ınio OC/Z ´e o contra-exemplo que faltava na se¸c˜ao anterior:

Proposi¸c˜ao 1.5.11. O dom´ınio OC/Z n˜ao ´e noetheriano, mas ´e integralmente

fe-chado e todo ideal primo n˜ao nulo seu ´e maximal.

Demonstra¸c˜ao: Para ver que OC/Z n˜ao ´e noetheriano, basta considerar a seguinte

cadeia ascendente de ideais que nunca estabiliza: (√2) ( (√4

2) ( (√8

2) ( · · ·. De

fato, se existen ∈N∗ tal que (2√n

2) = (2n+1√

2), ent˜ao 2n+1√

2∈(2√n

2)⇒ ∃a∈ OC/Z

tal que 2n+1√

2 = 2√n

2a. Elevando tal equa¸c˜ao a 2n+1, obtemos 2 = 4a2n+1

⇒a2n+1

= 1

2. Mas como a ∈ OC/Z, ent˜ao a

2n+1

∈ OC/Z ⇒

1

2 ∈ OC/Z, absurdo. O restante do

resultado segue da proposi¸c˜ao 1.4.4.

O restante deste cap´ıtulo ser´a dedicado a estudar algumas ferramentas b´asicas

para a demonstrarmos queOQ(ζm)=Z[ζm].

1.6

Norma, tra¸co e discriminante

Defini¸c˜ao 1.6.1. Seja L/K uma extens˜ao de corpos de n´umeros de grau n. Sejam

σ1, . . . , σn os n mergulhos de L em C que fixam K ponto a ponto. Se α ∈ L,

definimos o tra¸co e a norma de α por

TL/K(α) = n X

i=1

σi(α) NL/K(α) = n Y

i=1

σi(α),

respectivamente.

O tra¸co e a norma tˆem as seguintes propriedades:

Proposi¸c˜ao 1.6.2. Se L/K uma extens˜ao de corpos de n´umeros de grau n, ent˜ao

1. TL/K(α+β) =TL/K(α) +TL/K(β), ∀ α, β ∈L;

2. NL/K(αβ) =NL/K(α)NL/K(β), ∀ α, β ∈L;

3. TL/K(δ) = nδ, ∀ δ ∈K;

4. NL/K(δ) = δn, ∀ δ∈K;

5. TL/K(δα) =δTL/K(α), ∀ δ ∈K, ∀ α ∈L; e,

(32)

1.6. NORMA, TRAC¸ O E DISCRIMINANTE 31

Tais propriedades decorrem diretamente da defini¸c˜ao e s˜ao de f´acil verifica¸c˜ao. Entretanto, h´a ainda uma outra f´ormula que tamb´em permite o c´alculo do tra¸co e

da norma de um elementoα L que ser´a ´util mais tarde. Para isto, precisamos da

seguinte defini¸c˜ao:

Defini¸c˜ao 1.6.3. Sejam α um inteiro alg´ebrico e K um corpo de n´umeros. De-finimos os conjugados de α sobre K como sendo as ra´ızes do polinˆomio minimal de α sobre K. Definimos tamb´em o grau de α sobre K como sendo o grau de seu polinˆomio minimal sobreK.

Teorema 1.6.4. SejaL/K uma extens˜ao do corpos de n´umeros de graun e suponha que α L tenha grau d sobre K. Denote por t(α) e n(α) a soma e o produto, respectivamente, dos d conjugados de α sobre K. Ent˜ao

TL/K(α) =

n

d t(α) e NL/K(α) = n(α)

n/d.

Demonstra¸c˜ao: Note inicialmente que n

d ∈ Z, pois

n

d = [L : K(α)]. Al´em disso,

t(α) = TK(α)/K(α) e n(α) = NK(α)/K(α). Agora, como cada mergulho de K(α) em

C se extende de n

d = [L : K(α)] maneiras a um mergulho de L em C, segue que

TL/K(α) =

n

d t(α) e NL/K(α) = n(α)

n/d.

Corol´ario 1.6.5. Com as nota¸c˜oes do teorema anterior, TL/K(α), NL/K(α) ∈ K.

Se α∈ OL, ent˜ao TL/K(α), NL/K(α)∈ OK.

Demonstra¸c˜ao: Para a primieira afirma¸c˜ao, ´e suficiente mostrar que t(α), n(α)K.

Para isto, seja pα|K(x) = xd+a1xd−1 +· · ·+ad ∈ K[x] o polinˆomio minimal de α

sobre K. Como t(α) = −a1 e±n(α) = ad, temos provado a primeira afirma¸c˜ao.

J´a a segunda afirma¸c˜ao ´e simples: como α ∈ OL, ent˜ao todos os seus d

conjugados tamb´em pertencem a OL. Isto implica t(α), n(α) ∈ OL∩K = OK.

Como n

d ∈Z, segue que TL/K(α), NL/K(α)∈ OK.

Se temos uma torre de corpos de n´umerosM/L/Ko tra¸co e a norma

relacionam-se da relacionam-seguinte forma:

Teorema 1.6.6. Se M/L/K ´e uma torre de corpos de n´umeros, ent˜ao

1. TL/K(TM/L(α)) =TM/K(α), ∀ α∈M;

2. NL/K(NM/L(α)) = NM/K(α), ∀ α ∈M.

Demonstra¸c˜ao: Sejam inicialmente σ1, . . . , σn os n = [L : K] mergulhos de L em

C que fixam K ponto a ponto e sejam τ1, . . . , τm os m = [M : L] mergulhos de

M em C que fixam L ponto a ponto. O que faremos ser´a compor os σi com os τj,

mas n´os n˜ao podemos fazer isto de in´ıcio, pois precisamos primeiro estender cada

um destes mergulhos a automorfismos de algum corpo. Para isto, seja N C uma

(33)

agora ser estendidos a automorfismos deN. Fixe uma extens˜ao para cada um destes

mergulhos e denote-as tamb´em por σi e τj (n˜ao h´a risco de confus˜ao). Agora, como

podemos compor tais automorfismos, obtemos

TL/K TM/L(α) = n X i=1 σi m X j=1

τj(α) !

= X

1≤i≤n

1≤j≤m

σi(τj(α))

NL/K NM/L(α) = n Y i=1 σi m Y j=1

τj(α) !

= Y

1≤i≤n

1≤j≤m

σi(τj(α)).

Assim, precisamos mostrar que os mn mergulhos σi◦τj, quando restritos a

M, nos d˜ao todos os mn = [M :L]·[L :K] = [M : K] mergulhos de M em C que

fixamK ponto a ponto. Como todos os mergulhosσi◦τj claramente fixamK ponto

a ponto, ´e suficiente mostrar que eles s˜ao dois a dois distintos quando restritos aM.

Com efeito, suponha que (σi◦τj)|M = (σi′ ◦τj′)|M. Ent˜ao

(σi◦τj)|L = (σi′ ◦τj′)|L

⇒σi◦(τj|L) = σi′ ◦(τj′|L)

⇒σi ◦(id|L) = σi′ ◦(id|L)

⇒(σi◦id|N)|L = (σi′ ◦id|N)|L

⇒σi|L = σi′|L

⇒σi = σi′

⇒(σi◦τj)|M = (σi ◦τj′)|M

⇒σi◦(τj|M) = σi◦(τj′|M)

⇒τj|M = τj′|M

⇒τj = τj′

⇒σi◦τj = σi′ ◦τj′,

como desej´avamos.

Defini¸c˜ao 1.6.7. Seja L/K uma extens˜ao de corpos de n´umeros de grau n sejam

σ1, . . . , σn osn mergulhos deLem Cque fixamK ponto a ponto. Seα1, . . . , αn∈L,

definimos o discriminante da n-upla (α1, . . . , αn)∈Ln por

discL/K(α1, . . . , αn) = |σi(αj)|2.

Denotamos aqui por [aij] a matriz tendo o elementoaij nai-´esima linha e na

j-´esima coluna, e por|aij|o seu determinante. Note que o quadrado na defini¸c˜ao do

discriminante faz com que o mesmo independa da ordem dosσi e dos αj.

O seguinte teorema ´e uma f´ormula muito ´util para o discriminante de uma

n-upla:

Teorema 1.6.8. Seja L/K uma extens˜ao de corpos de n´umeros. Se (α1, . . . , αn)∈

Ln, ent˜ao disc

(34)

1.6. NORMA, TRAC¸ O E DISCRIMINANTE 33

Demonstra¸c˜ao: Como det(A) = det(AT), ent˜ao|σ

i(αj)|=|σj(αi)|. Assim,

|TL/K(αiαj)| = |σ1(αiαj) +· · ·+σn(αiαj)|=|σj(αi)||σi(αj)|=

= |σi(αj)| · |σi(αj)|=|σi(αj)|2 = discL/K(α1, . . . , αn).

Segue diretamente do corol´ario 1.6.5 que se L/K ´e uma extens˜ao de corpos

de n´umeros e (α1, . . . , αn)∈ Ln, ent˜ao discL/K(α1, . . . , αn)∈ K. Al´em disso, se os

αi s˜ao todos inteiros alg´ebricos, ent˜ao discL/K(α1, . . . , αn)∈ OK.

O discriminante de uma n-upla de um corpo de n´umeros ainda satisfaz a

seguinte propriedade:

Teorema 1.6.9. Seja L/K uma extens˜ao de corpos de n´umeros. Se (α1, . . . , αn)∈

Ln, ent˜ao disc(α

1, . . . , αn) = 0⇔α1, . . . , αn s˜ao linearmente dependentes sobre K.

Demonstra¸c˜ao: () Suponha que α1, . . . , αn s˜ao linearmente dependentes sobreK.

Ent˜ao existema1, . . . , an ∈K n˜ao todos nulos tais que a1α1+· · ·+anαn= 0. Logo

as colunas da matriz

[σi(αj)] =

 

σ1(α1) · · · σ1(αn)

· · · ·

σn(α1) · · · σn(αn)  

s˜ao linearmente dependentes. Assim, seu determinante ´e zero.

Portanto discL/K(α1, . . . , αn) =|σi(αj)|2 = 0.

() Suponha agora que disc(α1, . . . , αn) = 0. Ent˜ao as colunasR1, . . . , Rnda matriz

[TL/K(αiαj)] =

 TL/K· · ·(α1α1) · · ·· · · TL/K· · ·(α1αn)

TL/K(αnα1) · · · TL/K(αnαn)  

s˜ao linearmente dependentes sobreK. Logo existema1, . . . , an∈K n˜ao todos nulos

tais que a1R1+· · ·+anRn =−→0 , ou seja,

  · · ·0

0  =

 a1TL/K(α1α1) +· · ·· · ·+anTL/K(α1αn)

a1TL/K(αnα1) +· · ·+anTL/K(αnαn)  .

Seja α = a1α1 +· · ·+anαn. Se supormos por absurdo que α1, . . . , αn s˜ao

linearmente independentes sobre K, ent˜ao α 6= 0. Al´em disso, se j ∈ {1, . . . , n},

ent˜ao

TL/K(ααj) =TL/K(a1α1αj+· · ·+anαnαj) =a1TL/K(α1αj)+· · ·+anTL/K(αnαj) = 0.

Como estamos supondo queα1, . . . , αn s˜ao linearmente independentes sobre

(35)

tamb´em ´e base de L sobre K. Mas isto implica que TL/K(β) = 0, ∀ β ∈ L, j´a que

β ser´a uma combina¸c˜ao linear dos ααj. Em particular, TL/K(1) = 0, absurdo.

Assim, o teorema 1.6.9 nos diz que o discriminante de uma base de uma

extens˜ao de corpos de n´umeros L/K ´e n˜ao nulo. Vamos registrar abaixo o caso no

qual a base consiste de potˆencias de um ´unico elemento. Para isto, precisamos antes

de um pequeno lema:

Lema 1.6.10. Seja f(x) um polinˆomio mˆonico e irredut´ıvel sobre um corpo de n´umeros K e seja α C uma de suas ra´ızes. Ent˜ao f′(α) = Y

β6=α

β), onde o

produto ´e calculado sobre todas as ra´ızes β 6=α de f(x).

Demonstra¸c˜ao: Como f(x) ´e irredut´ıvel, ent˜aof(x) n˜ao tem ra´ızes repetidas. Pelo

Teorema Fundamental da ´Algebra, f(x) = (x −α)Y

β6=α

(x − β), onde o produto

´e calculado sobre todas as ra´ızes β 6= α de f(x). Se g(x) = Y

β6=α

(x β), ent˜ao

f(x) = (xα)g(x). Diferenciando, obtemos f′(x) = g(x) + (xα)g(x). Assim,

f′(α) = g(α) = Y

β6=α

β).

Teorema 1.6.11. Sejam K um corpo de n´umeros eα um inteiro alg´ebrico de grau

n sobre L=K[α]. Se α1, . . . , αn denotam os n conjugados de α sobre K, ent˜ao

discL/K(1, α, . . . , αn−1) = Y

1≤r<s≤n

(αr−αs)2 =±NL/K(f′(α)),

onde f(x) ´e o polinˆomio minimal de α sobre K. O sinal de + vale se, e somente se,n ≡0 ou 1 (mod 4).

Demonstra¸c˜ao: Sejam σ1, . . . , σn os n mergulhos de L em C que fixam K ponto a

ponto e suponha sem perda de generalidade que σi(α) =αi, ∀ i∈ {1, . . . , n}.

´

E conhecido o fato de que se M ´e uma matriz de Vandermonde sobre um

anel comutativo A (isto ´e, [ai,j] = [aji−1]), ent˜ao seu determinante ´e dado por

|ai,j|= Y

1≤r<s≤n

(as−ar).

Assim,

discL/K(1, α, . . . , αn−1) = |σi(αj−1)|2 =|σi(α)j−1|2 =|αji−1|2 =

= Y

1≤r<s≤n

(αs−αr)

!2

= Y

1≤r<s≤n

(αr−αs)2.

Vamos agora mostrar a segunda igualdade. Sabemos que Y

1≤r<s≤n

(αr−αs)2 =±

Y

r6=s

(36)

1.6. NORMA, TRAC¸ O E DISCRIMINANTE 35

onde o segundo produto ´e calculado sobre todos os n(n −1) pares ordenados de

´ındices distintos. Como temos n(n−1)

2 trocas de sinal, o sinal de + vale se, e

somente se, n(n−1)

2 ´e par. Mas isto acontece se, e somente se,n ≡0 ou 1 (mod 4).

Dessa forma, precisamos apenas mostrar que Y

r6=s

(αr−αs) = NL/K(f′(α)).

Comof(x)∈K[x], ent˜ao

NL/K(f′(α)) = n Y

r=1

σr(f′(α)) = n Y

r=1

f′(σr(α)) = n Y

r=1

f′(αr).

Pelo lema anterior, f′(α

r) = Y

s6=r

(αr −αs) ⇒ NL/K(f′(α)) =

n Y

r=1

f′(α) =

n Y

r=1

Y

s6=r

(αr−αs) =

Y

r6=s

(αr−αs).

Corol´ario 1.6.12. Sep´e um n´umero primo ´ımpar, ent˜aodiscQ(ζp)/Q(1, ζp, . . . , ζ

p−2

p ) =

±pp−2.

Demonstra¸c˜ao: Seja L=Q(ζp). Pelo teorema anterior, precisamos apenas mostrar

queNL/K(f′(ζp)) =pp−2, ondef(x) = 1 +x+x2+· · ·+xp−1 ´e o polinˆomio minimal

deζp sobre Q.

Escrevendo xp1 = (x1)f(x) e diferenciando, obtemos

pxp−1 =f(x) + (x−1)f′(x).

Calculando em x =ζp, obtemos pζpp−1 =f(ζp) + (ζp −1)f′(ζp). Como f(ζp) = 0 e

ζp−1

p =

1 ζp

, ent˜ao f′(ζ

p) =

p ζp(ζp−1)

. Tomando a norma,

NL/Q(f′(ζp)) =

NL/Q(p)

NL/Q(ζp)NL/Q(ζp−1)

.

Como NL/Q(p) = pp−1 e NL/Q(ζp) =

p−1

Y

i=1

ζpi = ζ

p(p−1) 2

p = (ζpp)

p−1

2 = 1,

pre-cisamos apenas mostrar que NL/Q(ζp − 1) = p. Com efeito, NL/Q(ζp − 1) =

NL/Q(−1)NL/Q(1− ζp) = (−1)p−1NL/Q(1−ζp) = NL/Q(1−ζp) =

p−1

Y

i=1

(1 ζpi) =

f(1) =p.

A partir de agora, seα´e um inteiro alg´ebrico de graunsobreQ, escreveremos

disc(α) = discQ(α)/Q(1, α, . . . , αn−1). Lembre que, neste caso, disc(α) ∈ Z. Al´em

(37)

Corol´ario 1.6.13. Seja α∈Cum inteiro alg´ebrico. Se β ´e um de seus conjugados, ent˜ao disc(α) = disc(β).

Demonstra¸c˜ao: Comoβ ´e um dos conjugados de α, ent˜ao tanto α quanto β tˆem os

mesmo conjugados α1, . . . , αn. Assim, pelo teorema 1.6.11,

disc(α) = Y

1≤r<s≤n

(αr−αs)2 = disc(β).

Para finalizar esta se¸c˜ao, demonstraremos a seguinte proposi¸c˜ao, que ser´a ´util

mais `a frente:

Proposi¸c˜ao 1.6.14. Se mN− {0}, ent˜ao disc(ζm) divide mϕ(m).

Demonstra¸c˜ao: Seja L = Q(ζm) e seja f(x) o polinˆomio minimal de ζm sobre Q.

Ent˜ao existeg(x)Z[x] tal que xm1 = f(x)g(x). Diferenciando e calculando em

ζm, obtemos mζmm−1 =f′(ζm)g(ζm)⇒ m =ζmf′(ζm)g(ζm). Tomando normas, pelo

teorema 1.6.11 obtemos

NL/Q(m) = NL/Q(f′(ζm))NL/Q(ζmg(ζm))

= ±discL/Q(1, ζm, . . . , ζmϕ(m)−1)NL/Q(ζmg(ζm))

= ±disc(ζm)NL/Q(ζmg(ζm)).

ComoNL/Q(m) =mϕ(m), temos a equa¸c˜aomϕ(m) =±disc(ζm)NL/Q(ζmg(ζm)).

Como disc(ζm) ∈ Z, ent˜ao NL/Q(ζmg(ζm)) ∈ Q. Mas como ζmg(ζm) ∈ OL, ent˜ao

NL/Q(ζmg(ζm))∈ OL∩Q=OQ =Z. Logo temos o desejado.

1.7

Bases integrais

Defini¸c˜ao 1.7.1. Dizemos que um grupo G ´e abeliano livre de posto n se existe

nN∗ tal que GZn.

Claramente, se H ´e um subgrupo de um grupo abeliano livre de posto n,

ent˜aoH tamb´em ´e um grupo abeliano livre com posto no m´aximon. Note tamb´em

que o posto de um grupo abeliano livre est´a bem definido, pois os grupos Zn s˜ao

dois a dois n˜ao isomorfos.

Nesta se¸c˜ao, usaremos o discriminante para mostrar que seK ´e um corpo de

n´umeros sobre Q, ent˜ao seu anel de inteiros OK ´e um grupo abeliano livre de posto

[K :Q]. Come¸camos com um simples lema:

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