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APELANTE – FERNANDO CLAUDINO ELIAS APELADO – MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ RELATOR CONV – NAOR R. DE MACEDO NETO

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APELANTE – FERNANDO CLAUDINO ELIAS APELADO – MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ RELATOR CONV – NAOR R. DE MACEDO NETO

JÚRI – HOMICÍDIO QUALIFICADO E CRIMES CONEXOS.

I – NULIDADE – ALEGADA EXTRAPOLAÇÃO DOS LIMITES DA PRONÚNCIA – ART. 476 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – NÃO CARACTERIZAÇÃO – IMPUTAÇÃO EM PLENÁRIO QUE RESPEITOU EXATAMENTE A DECISÃO DE PRONÚNCIA, QUE RESTOU CONFIRMADA, INCLUSIVE, POR ESTE TRIBUNAL EM SEDE DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO MANEJADO PELA DEFESA. No caso, concedida a palavra ao Ministério Público, este fez a acusação nos estritos lindes da pronúncia e da posterior decisão julgou admissível a acusação – dando o Apelante como executor do crime de homicídio e não apenas partícipe –, do que decorre inexistir a apontada ofensa ao art. 476 do Código de Processo Penal.

II – NEGATIVA DE AUTORIA – TESE REJEITADA – DECISÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA AMPARADA NA PROVA DOS AUTOS. Tratando-se de hipótese em que se impugna justamente o mérito da causa, o error in judicando somente é reconhecido quando a decisão é arbitrária, ou seja, dissociada integralmente da prova dos autos, o que não se visualiza na espécie. Não é qualquer dissonância entre o veredicto e os elementos de convicção colhidos na instrução que autorizam a cassação do julgamento, mas unicamente a decisão dos jurados que nenhum apoio encontrar na prova dos autos. É licito ao júri, portanto, optar por uma das versões verossímeis dos autos, ainda que não seja eventualmente essa a melhor decisão.

RECURSO DESPROVIDO.

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VISTOS, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CRIME Nº 746.894-2, de SERTANÓPOLIS, em que é APELANTE:

FERNANDO CLAUDINO ELIAS (RÉU PRESO) e APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ.

1. Cuida-se de apelação interposta por Fernando Claudino Elias da decisão (f. 1.342/1.346) do Tribunal do Júri da Comarca de Sertanópolis que o condenou à pena de 16 anos de reclusão (em regime fechado) e 20 dias-multa, incurso nos arts. 121-§2º-IV e 180-“caput”, do Código Penal e 16-par.ún.-IV da Lei nº 10.826/2003, pelas práticas delituosas assim descritas na denúncia:

“1° FATO

Em data não precisada nos autos, porém entre o fim de agosto e início de setembro do corrente ano, os denunciados FERNANDO CÉSAR CLAUDINO SOARES, FERNANDO CLAUDINO ELIAS, ANTENOR LOPES DE SOUZA FILHO, DIOGO FORTUNATO e HARLEY BEZERRA DE OLIVEIRA, em conluio com os adolescentes C.A.B.B. e D.E.B., todos previamente combinados e com unidade de desígnios, arquitetaram em conjunto a prática do crime de homicídio contra a vítima LOURIVALDO ALVES DE FRANÇA (vulgo NENO), assim procedendo à divisão de tarefas: o denunciado ANTENOR LOPES DE SOUZA FILHO encarregou-se de fornecer sua residência para os denunciados FERNANDO CÉSAR CLAUDINO SOARES, FERNANDO CLAUDINO ELIAS e DIOGO FORTUNATO esconderem-se após a prática do crime, bem como, ficou com a posse da motocicleta utilizada no homicídio e, posteriormente, repassou-a para um terceiro, o adolescente D.E.B., com o fim de esconder vestígios que pudessem ligar os denunciados à autoria do delito; à HARLEY BEZERRA DE OLIVEIRA coube a atribuição de modificar a motocicleta Honda/CG, de cor preta, sem placa, com chassi suprimido, utilizada no crime, sendo que, inclusive, substituiu peças da referida moto para uma moto Honda/CG, 150/Titan-KS, vermelha, placas ANF-4894, registrada em nome da genitora do denunciado, Aparecida Bezerra de Oliveira (cf. fls. 215/216), como também, após o crime, ficar em posse da aludida moto com o fim de

‘desmanchá-la’ e ocultá-la, tudo com o nítido propósito de dificultar

ou impossibilitar a vinculação da motocicleta utilizada no homicídio

com os demais denunciados; à FERNANDO CLAUDINO ELIAS a

prestação de apoio moral à prática do delito, tanto que, no ato da

prisão em flagrante delito, encontrava-se armado e na companhia

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dos denunciados FERNANDO CÉSAR CLAUDINO SOARES e DIOGO FORTUNATO. A estes dois últimos, por sua vez, coube a execução material do delito.

Assim, previamente ajustados e combinados, no dia 03 de setembro de 2008, por volta das 14h00min., os denunciados FERNANDO CÉSAR CLAUDINO SOARES e DIOGO FORTUNATO, previamente combinados entre si e com os demais codenunciados e em unidade de desígnios para a prática de homicídio, conduziam a motocicleta Titan 150 KS, de cor preta, sem placas (auto de apreensão de fls. 35), atrás da camioneta conduzida pela vítima LOURIVALDO ALVES DE FRANÇA, até o momento em que esta parou o veículo em frente à oficina mecânica de sua propriedade, localizada na Rua Pio XII n.º 520. No momento em que a vítima desceu do referido veículo e dirigiu-se à sua oficina, um dos denunciados a chamou e, no momento em que esta se virou para atender, de inopino, utilizando-se assim de recurso que impossibilitou a sua defesa, foi alvejada com 5 (cinco) disparos de arma de fogo que a atingiram no terço médio da região parietal direita, na região bucinadora direita, na região malar direita, na região supra-clavicular direita, na face posterior do terço distal do antebraço direito, causando-lhe lesões encefálicas por ferida pérfuro-contusa penetrante e transfixante de crânio, que foi a causa eficiente de sua morte (cf. Laudo de necropsia de fls. 141).

Ato contínuo e, dando prosseguimento ao plano criminoso já anteriormente arquitetado com os demais denunciados, FERNANDO CÉSAR CLAUDINO SOARES e DIOGO FORTUNATO evadiram-se do local, entregaram a moto utilizada no crime ao denunciado ANTENOR LOPES DE SOUZA FILHO e esconderam-se na casa deste, onde também se ocultava o denunciado FERNANDO CLAUDINO ELIAS. O denunciado ANTENOR LOPES DE SOUZA FILHO, por sua vez, repassou a moto ao adolescente D.E.B., o qual, por fim, entregou-a ao denunciado HARLEY BEZERRA DE OLIVEIRA.

Conforme apurado nos autos, a motocicleta Honda-150/KS, de cor preta, utilizada no crime, foi objeto de roubo praticado na cidade de Rancho Alegre-PR, no dia 31.08.2008, contra seu proprietário Wagner Luiz Deodoro (cf. fls. 105-110).

2° FATO

Em data não precisada nos autos, porém no período de 31 de

agosto e 03 de setembro de 2008, na Rua das Violetas n.º 51, neste

município de Sertanópolis/PR, o denunciado HARLEY BEZERRA DE

OLIVEIRA, ciente da ilicitude e reprovabilidade de sua conduta,

dolosamente, em proveito próprio e de terceiros, ou seja, dos demais

denunciados, e sabendo tratar-se de produto de crime, recebeu e

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ocultou em sua residência uma (01) motocicleta marca Honda, modelo Titan-150-KS, cor preta, chassi 9C2KC08108R130292 (cf.

auto de apreensão de fl. 35 e laudo de fls. 207), de propriedade de Wagner Luiz Deodoro, avaliada em R$ 7.500,00 (cf. auto de avaliação de fls. 112) e que foi objeto de roubo praticado na cidade de Rancho Alegre-PR, no dia 31 de agosto de 2008, por volta das 21h30min, conforme consta do boletim de ocorrência de fls. 100 e do termo de declarações de fls. 105.

Por ocasião da apreensão, verificou-se que a motocicleta encontrava-se com a numeração do chassi obliturada, conforme consta do laudo de exame de fls. 20, bem como que diversos componentes (rodas completas com pneus e o pára-lamas traseiro) haviam sido incorporados a outra motocicleta, da marca Honda/CG 150-Titan-KS, de cor vermelha, placas ANF-4894, cujo certificado de registro de veículo consta em nome de Eusa Aparecida Bezerra de Oliveira, mãe do denunciado HARLEY BEZERRA DE OLIVEIRA (cf.

fls. 215/216), também apreendida na residência do denunciado. No local, ainda, foram apreendidas diversas peças de motocicletas de origem desconhecida (cf. auto de apreensão de fls. 213).

Diante do que se apurou nos autos, a referida motocicleta foi recebida e ocultada, dolosamente, pelos denunciados, em proveitos próprios, sendo que tinham ciência de se tratar de produto de crime, agindo assim os denunciados FERNANDO CÉSAR CLAUDINO SOARES, FERNANDO CLAUDINO ELIAS, ANTENOR LOPES DE SOUZA FILHO, DIOGO FORTUNATO e HARLEY BEZERRA DE OLIVEIRA em comunhão de esforços e unidade de desígnios para a consecução do crime.

3° FATO

No dia 03 de setembro de 2008, por volta das 23h00min, na

residência situada na Rua Luiz Spanhol Filho, n.º 100, Jardim

Amâncio Secco, neste município, policiais militares realizavam

diligências visando apurar o delito de homicídio perpetrado contra a

vítima Lourivaldo Alves de França, ocasião em que lograram

encontrar em poder do denunciado DIOGO FORTUNATO 01 (um)

revólver da marca 'Taurus', calibre nominal 38 (trinta e oito), número

de série 1704341, municiado com 10 (dez) cartuchos intactos e 01

(um) deflagrado. Consoante o que consta dos autos, trata-se de

arma de fogo e de munição de efetivo potencial lesivo (cf. Auto de

Exame de Arma de Fogo e Munição de fls. 125/126) e que o

denunciado DIOGO FORTUNATO portava consigo, em residência

de terceira pessoa, em condições de pronto uso, sem autorização e

em desacordo com norma legal e regulamentar (...).”

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Argui o Recorrente nulidade do julgamento, uma vez que a Representante do Ministério Público, em plenário, “atribuiu-lhe a execução material do delito e não apenas a prestação de apoio moral à sua consumação”, extrapolando os limites da decisão de pronúncia, a violar, assim, o disposto no art. 476, do Código de Processo Penal. Quanto à questão de fundo, alega ser o veredicto condenatório manifestamente contrário à prova dos autos, pois as testemunhas ouvidas no processo “nada disseram de substancial a comprometê- lo” em relação ao suposto apoio moral à prática do homicídio e aos crimes conexos (receptação e porte ilegal de arma de fogo). Pede, então, a anulação do julgamento, com realização de novo Júri e expedição de alvará de soltura em seu favor; quando não, a sua “absolvição” das imputações atribuídas (f.

1.384/1.397).

Ofertadas as contrarrazões (f. 1.399/1.419), vieram os autos a esta Corte, tendo a Procuradoria de Justiça, em parecer subscrito pelo ilustre Promotor Substituto em Segundo Grau ALFREDO NELSON DA SILVA BAKI, recomendado o desprovimento do recurso (f. 1.442/1.449).

2. Não se visualiza a nulidade invocada no recurso.

Estabelece o art. 476-caput do Código de Processo Penal, que, uma vez “encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação...”.

In casu, a acusação lançada em plenário se deu exatos nos lindes da pronúncia, que, em relação ao crime doloso contra a vida, reputou o Acusado incurso no art. 121-§2º-IV do Código Penal, como executor material e não apenas por aportar contributo moral à empreitada. A esse respeito, confira-se excerto do decisum:

“Quanto aos indícios suficientes de autoria ou participação no

homicídio, o que se tem, diante das provas reunidas no feito, é que

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eles militam exclusivamente em desfavor dos acusados Diogo Fortunato e Fernando Claudino Elias....

Por outro lado, o exame pericial de fls. 276/277, consistente em confronto balístico, aponta que os estojos deflagrados e apreendidos no local do homicídio procederam de cartuchos deflagrados pelo cano da pistola 9 mm, marca Browning, apreendida em poder do acusado Fernando Claudino Elias na residência em que se encontrava juntamente com os demais acusados (fls. 47). Assim, apesar dos acusados negarem a prática do homicídio, é forçoso convir que militam indícios suficientes de que agiram em concurso para a sua execução. Diogo pilotando a motocicleta e Fernando Claudino Elias efetuando os disparos letais.

Foram mencionados, no local do crime, como os agentes que, utilizando uma moto preta sem placa, executaram a vítima. A motocicleta em questão foi localizada e apreendida no armados, sendo que uma dessas armas a perícia indicou como a utilizada para disparar contra a vítima.

Por fim, os acusados Diogo e Fernando Claudino Elias, andavam com frequência juntos, são suspeitos de envolvimento no tráfico de drogas e confessaram, no momento da prisão, terem sido os executores do homicídio.... A hipótese, portanto, é de remessa dos Réus Diogo Fortunato e Fernando Claudino Elias para julgamento perante o Eg. Tribunal do Júri pela prática, em tese, do delito de homicídio doloso, em sua forma consumada, em que figura como vítima Lourivaldo Alves de França.”

No ponto, merecem transcrição as judiciosas ponderações do d. Promotor de Justiça Substituto em Segundo Grau:

“Inviável o reconhecimento da nulidade processual decorrente da inobservância do disposto no artigo 476 do Código de Processo Penal, sob o fundamento de que a doutora Promotora de Justiça teria, atuando no Plenário, extrapolado os limites da denúncia ao requerer a condenação do Apelante como executor material do delito, posto que a denúncia imputa-lhe somente a prática de auxílio moral.

O protesto restou anotado na ata do julgamento (fls. 1348/1357), porém a acusação, na espécie, atuou dentro dos limites da pronúncia.

Nos processos do Júri os limites balizadores da acusação

encontram-se na pronúncia, e não na denúncia, diversamente dos

crimes regulados pelo rito comum.

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Sobre o tema, Guilherme de Souza Nucci preleciona, na obra Código de Processo Penal Comentado, 8.° edição, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2008, que:

‘Correlação entre acusação e pronúncia: anteriormente à Lei n.° 11.689/2008, a acusação deveria cingir-se ao conteúdo do libelo (peça de acusação que trazia a imputação em formato de artigos). (...) Extinto este, resta à pronúncia a responsabilidade de bem fixar os termos da acusação, para que, em plenário, a defesa não seja surpreendida’. (p. 795/796)

Assim, quando da admissibilidade da acusação, o Juiz a quo considerou que o conjunto probatório indicava a participação de FERNANDO CLAUDINO ELIAS e DIOGO FORTUNATO, sustentando a existência de fortes indícios apontando-os como os executores do delito, pronunciando-os de consequência, além de impronunciar os demais acusados (fis. 944/957).

Expressamente consignou que o Apelante seria levado a julgamento como incurso nas sanções do artigo 121, §2.°, inciso IV, do Código Penal, na condição de autor do crime, e não como mero participe.

A pronúncia restou impugnada por recurso em sentido estrito, que acabou desprovido, mantendo-a integralmente (fls. 110711116).

Desta forma, quando buscou a condenação do Apelante como executor material do crime de homicídio qualificado (fls. 1329/1330), a doutora Promotora de Justiça agiu nos estritos limites impostos pela pronúncia, confirmada pelo v. Acórdão, de modo a afastar qualquer violação do dispositivo legal em comento.

Inexistindo, assim, qualquer ofensa ao devido processo legal, deve ser rejeitada a prefacial suscitada.

4. Melhor sorte não socorre o Recorrente quanto à questão de fundo.

Registre-se, desde logo, que, ao contrário do pretendido, eventual acolhimento do apelo não conduziria à sua imediata absolvição, mas tão somente ao exercício da excepcional jurisdição de cassação prevista no art.

593, III, “d”, da Lei Processual Penal.

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Sabe-se, entretanto, que decisão manifestamente contrária à prova dos autos é a que não encontra qualquer suporte no universo probatório, remanescendo, assim, completamente dissociada de tudo quanto se produziu ao longo da instrução.

In casu, essa situação não ocorre, uma vez que o veredicto condenatório está confortado por alguns dos elementos de convicção coligidos, os quais, objetivamente considerados, levaram o Júri a afastar a tese de negativa de autoria sustentada pela Defesa.

Contou o Apelante, em Plenário, que não conhecia a Vítima, tampouco o corréu Diogo Fortunato. Afirmou que a versão dada pelos policiais militares não é verdadeira, pois não concorreu para o crime: “esteve em casa até 14h10m, na companhia dos seus genitores, esposa e filha, dirigindo-se, posteriormente, para a ‘cidade’, onde iria ver uma casa para alugar pertencente ao pai do “Antenor”; mostrou-a a sua esposa apenas externamente, já que não havia ninguém lá no período da tarde; então, de lá se conduziu até a casa de seu irmão, onde ficou “assistindo televisão”; retornou à casa de Antenor por volta das 22h00m, imaginando que o localizaria; ele, contudo, não estava no local, sendo que lá encontrou apenas o “Cezinha” e a namorada dele; enquanto Antenor não chegava, mostrou a casa a sua esposa; nesse intervalo chegaram o Diogo e Fernando Soares; pouco depois (em torno de 23h30m) compareceram os policiais militares, que ingressaram na residência e agrediram os presentes, pois eles afirmavam que “havia um rapaz dispensando uma arma pela janela do banheiro”; não estava armado, porém escutou mais de um dos presentes admitirem a “propriedade” das armas de fogo.

Acrescentando, por fim, possuir uma moto “fun vermelha”, sendo que nunca a emprestou, alegou que “estava no lugar errado e na hora errada” (CD-ROM juntado a f. 1.358).

O policial Hericson Augusto Cruz de Paulo, a seu turno,

relatou que, tão logo sua equipe se deslocou a “Sertanópolis”, receberam

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informações de que os autores do crime seriam “Diogo Fortunato” e o ora Recorrente “Fernando”; eles utilizaram uma motocicleta “Honda, CG, de cor preta, sem placa”, com a qual empreenderam fuga; dirigiram-se à residência de Diogo, onde ele não estava; após novas diligências, descobriram onde estariam os acusados; lá chegando, sua equipe fez um cerco no local onde estariam homiziados; um dos policiais viu o “Fernando Cesar Claudino Soares tentando dispensar uma arma de fogo”; nesse momento, arrombaram e adentraram na residência, localizando, de pronto, um deles “tentando dispensar uma arma de fogo no vaso sanitário”; a outra equipe rumou aos demais cômodos da casa, encontrando em um deles o Réu e mais duas pessoas, sendo que “cada um estava de posse de uma arma de fogo”; Fernando Claudino Elias estava com uma pistola 9mm, com carregador, porém desmuniciada; “outros dois portavam um revólver calibre 38 e uma pistola 765”; deram voz de prisão a quatro pessoas e apreenderam tais armas, as quais, segundo os presos, eram usadas para proteção, pois estavam escondidos na casa de Antenor com medo de represálias do grupo rival a que pertencia a Vítima. Reconheceu, na sequência, Fernando Claudino Elias e Diogo Fortunato, apontados pelas investigações preliminares como sendo os autores do crime: “os dois confessaram a autoria do homicídio”.

Relatou, ainda, que Antenor admitiu ter autorizado a permanência dos quatro acusados na sua casa; a respeito da moto utilizada no delito, eles confessaram que ela teria sido repassada ao adolescente “Douglas”, que, por sua vez, reconheceu tê-la recebido sob a promessa de “guardá-la”; o menor disse que ela não estaria ali, mas sim na casa do primo dele, o adolescente “Harley”;

localizaram, então, a citada moto preta “sem numeração” e “depenada”, além de outras duas motos igualmente “depenadas” e peças avulsas, que seriam decorrentes de furtos ocorridos anteriormente; as cápsulas encontradas no local – de 9mm – eram compatíveis com a arma encontrada com Fernando Claudino Elias; esses dados auxiliaram na obtenção da referida confissão;

confirmou, ainda, que, em reconhecimento em audiência, apontou Fernando

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Claudino Elias como um dos autores, o qual, aliás, portava a pistola e que admitira, na abordagem, a participação no crime; nenhuma outra pessoa, nem o adolescente que estava no local, confessou a autoria (f. 613, 794 e CD- ROM).

Nesse mesmo sentido, os policiais militares João Nilson Tagliari (f. 13/15, 544/547 e CD-ROM), Paulo Sérgio Santana (CD-ROM) e Ademir Laite de Araújo (f. 10/12 e 548) mantiveram – uníssonos – a narrativa dos fatos em todas as oportunidades em que ouvidos. Disseram ter ido ao local do homicídio e lá ouvido de populares que os autores do crime eram Diogo e Fernando, os quais estavam em uma motocicleta preta, sem placas (um homem chamou João Nilson “de lado” e lhe contou estes detalhes, afirmando que se negaria a falar em Juízo, por receio de represálias); na sequência, receberam informações de que tais elementos estavam homiziados em uma determinada residência, para onde se deslocaram, encontrando-os junto com Fernando Claudino Soares e o adolescente C.A.B.B; no momento da abordagem, encontraram vários armamentos, dentre os quais um revólver calibre 38 em posse de Diogo, bem como uma pistola calibre 9mm com Fernando Claudino Elias, tendo este último assumido ser sua a arma;

Fernando Claudino Soares tentou dispensar a arma que portava no banheiro;

sabendo que “as cápsulas encontradas no local do crime conferiam com os

calibres das armas encontradas com os Réus”, indagaram-lhes sobre a autoria

do delito, então assumida por Diogo e por Fernando Claudino Elias; o

adolescente, a seu turno, nada disse a respeito do crime, apenas assumiu

o porte de uma das armas; continuando as diligências, localizaram o

proprietário da casa, Antenor, o qual lhes contou que havia emprestado o

imóvel aos Acusados e, sobre a moto utilizada no crime, afirmou que estaria

com outro adolescente (D.E.B.); este, por sua vez, confirmou ter recebido a

motocicleta para que escondesse, mas revelou tê-la repassado a seu primo

Harley, com quem, de fato, foi encontrada; a moto – produto de um roubo

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cometido na cidade vizinha de Rancho Alegre/PR – estava sem placas e com chassi suprimido.

O denunciado Fernando Cesar Claudino Soares afirmou que

“Fernando Elias, Diogo e Cezinha (o adolescente C.A.B.B.) assumiram que aquelas armas eram deles” (f. 700).

Antenor, ademais, negou a conversa com o Apelante: “apenas depois que fui preso é que soube que Fernando Elias queria alugar a casa”; ... no dia do homicídio Fernando Elias não ligou para mim” (f.

707/708).

E, embora o adolescente D.E.B. tenha posteriormente afirmado que “Cesinha” (já falecido) assumiu a autoria do homicídio que vitimou Lourival (f. 807 – “ele comentou que a cagada que ele tinha feito era de ter matado uma pessoa, sem dizer quem... ele também mandou jogar o crime de homicídio para o Fernando Elias e eu atendi; por isso acabei afirmando que peguei a moto de Fernando Elias”), por ocasião de sua apreensão narrou, diferentemente, que, “no mesmo dia do homicídio, o declarante por volta das 19h encontrou no Conjunto Amâncio Seco, em Sertanópolis, dois rapazes de nome Fernando e Diogo... na rua e, nessa ocasião, o Fernando que estava pilotando uma moto preta, Titan, sem placas, pediu ao declarante para guardar a moto pra ele...’” (f. 775).

Por outro lado, o laudo de exame de munição e confronto balístico de f. 276/277 registra que os cartuchos encontrados na cena do crime procedem da pistola “F.N. Browning 9mm”, sem numeração aparente, apreendida em poder do Recorrente (auto de exibição e apreensão - f. 43).

E a confissão do Apelante sobre a autoria do homicídio foi

ouvida pelo policial Hericson, que, como visto, fez o reconhecimento do

Recorrente e do coautor Diogo em Juízo, enfatizando terem sido eles que

assumiram a prática do delito que ceifou a vida de Lourivaldo (“olhando para os

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réus aqui presentes identifico os dois que admitiram a autoria do homicídio em que teve como vítima o mecânico ‘Neno’ e também o tiroteio que acabou atingindo uma senhora; tratam-se dos acusados Fernando Cesar Elias e Diogo Fortunato” – f. 794).

A versão comprometendo o adolescente C.A.B.B, vale salientar, surgiu apenas após a sua morte, sendo que a sua própria confissão ao Representante do Ministério Público (f. 777/780) não merece credibilidade, pois dissonante da reportada prova oral. Não fosse suficiente, C.A.B.B. disse que efetuou disparos de um revólver calibre 38 e de uma pistola calibre 9mm, mas no local dos fatos foram encontrados apenas vestígios de tiros da pistola.

Depreende-se do caderno processual, por outro lado, que a motocicleta “Titan preta” que teria sido utilizada na ocasião dos fatos fora roubada em Rancho Alegre, conforme consignado no BO nº 2008/648441 de f. 108.

Havendo, portanto, o bastante para comprometer o Apelante, improcede o pleito de cassação do veredicto condenatório.

A propósito, anotam as contrarrazões:

“A prova constante dos autos evidencia que todos os acusados mantinham vínculos entre si. As versões dos réus para o fato de estarem armados na casa de um deles são totalmente contraditórias e não se coadunam com a prova testemunhal e material... Embora o apelante FERNANDO CLAUDINO ELIAS tenha negado a prática criminosa, sua versão é contraditória e infirmada pela prova pericial e testemunhal. No que tange à prova pericial acostada aos autos é taxativa, pois, através do laudo de exame de confronto balístico de fls. 276/277, foi realizado exame de confronto de seis estojos deflagrados e apreendidos no local do homicídio, com a pistola 9mm, marca, F.N. Browning, apreendida em poder do apelante, sendo que os peritos concluíram que: "... os seis estojos motivo pericial PROCEDERAM de cartuchos deflagrados pelo cano da Pistola, marca aparente F.N. Browning, calibre nominal 9mm (nove milímetros), logo, objeto de exame do Laudo Pericial nº 70.653 deste Instituto....

Os policiais militares da Rotam ouvidos por precatória, confirmam

que encontraram o apelante em companhia com outros réus no quarto; que

realizadas buscas no local onde estavam, encontraram quatro armas de fogo, sendo

que cada um dos réus assumiu a posse das armas. Que dois elementos confessaram

o homicídio da vítima Lourival, sendo um o apelante. Disseram que o serviço

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reservado da polícia militar já havia feito diligências no sentido de identificar os autores do homicídio, sendo-lhes indicado o acusado, ora apelante, e seu comparsa. Que cada um dos agentes que estava na casa assumiram a posse da respectiva arma, tendo os policiais identificado o calibre em razão dos projéteis que foram apreendidos no local do crime. E, então, indagando o apelante e seu comparsa ambos confessaram o crime. (v. CD - fls. 616).

Como já acima narrado, os policiais militares que efetuaram a prisão dos acusados confirmaram que o apelante FERNANDO CLAUDINO ELIAS e outro corréu confessaram a autoria do homicídio e, ainda que obtiveram a identificação dos réus através de informações colhidas na ocasião do fato, que por receio de represálias (aliás, o que ressalta de toda a prova) não se identificam, até porque, é voz corrente nesta cidade que o apelante é pessoa de extrema periculosidade e seu envolvimento com o tráfico de entorpecentes e outros delitos nesta cidade.

Quanto à identificação do réu FERNANDO, afirmaram que poderiam ser identificados com certeza qual FERNANDO tentou dispensar a arma pela janela do banheiro e qual FERNANDO estava na posse da outra arma e que confessou o crime (v. CD - fls. 616). Visando esclarecer e identificar com certeza qual dos acusados de nome FERNANDO assumiu a autoria do homicídio e estava na posse da arma que se apurou através de exame de confronto ter sido usada para os disparos contra a vítima, em diligências do juízo foi reinquirida a testemunha HERICSON AUGUSTO CRUZ DE PAULO, desta feita na presença dos réus. E, diante dos réus a testemunha, com absoluta segurança relatou:

... olhando para os réus aqui presentes identifico os dois que admitiram a autoria do homicídio que teve como vítima o mecânico "Nevo" e também a autoria do tiroteio que acabou atingindo uma senhora; tratam-se dos acusados Fernando Claudino Elias e Diogo Fortunato; perguntas pelo Ministério Público: o acusado Fernando Cesar Claudino Soares tentou dispensar uma pistola calibre 765 de dentro do banheiro; já o acusado Fernando Elias, pelo que me lembro, portava uma pistola 9 mm; o réu Diogo estava com um revólver calibre 38; o Harley não tinha nenhuma arma; também tinha um adolescente com 14 anos de idade que estava com uma pistola 765, o acusado Antenor não tinha nenhuma arma; (...) chegamos até o Harley em razão das informações prestadas pelos demais réus no sentido de que os acusados Fernando Claudino Elias e Diogo teriam repassado para o Harley uma moto furtada e que foi utilizada no homicídio.." (cf. fls. 794/795).(f. 1.414/1.418).

Deliberando, pois, o Conselho de Sentença com base na

valoração das provas que se lhe afiguraram mais persuasivas, não se pode

desconstituir a decisão, à conta de ser arbitrária ou injusta: o Júri cumpriu o

papel que lhe é constitucionalmente assegurado e, assim, seu veredicto é

intangível.

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Ademais, mesmo que dos autos pudessem emergir duas versões sobre o fato incriminador, a opção pela que pareça mais verossímil situa-se no âmbito da soberania constitucionalmente concedida aos Jurados, conforme, inclusive, orienta o e. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: “Não se qualifica como manifestamente contrária à prova dos autos a decisão dos Jurados que se filia a uma das versões para o crime, em detrimento de outra, ambas apresentadas em Plenário, desde que a tese privilegiada esteja amparada em provas idôneas”

1

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Ainda nesse sentido: “O acolhimento pelo Conselho de Sentença de uma das teses expostas em plenário, desde que amparada em elementos probantes idôneos, não autoriza que se repute ser esta decisão manifestamente contrária à prova dos autos (Precedentes). Recurso especial desprovido.”

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De rigor, pois, o desprovimento do apelo.

ANTE O EXPOSTO:

ACORDAM os integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO ao recurso.

Presidiu o julgamento o Senhor Desembargador Telmo Cherem (sem voto) e dele participaram, votando com o relator, os Senhores Desembargadores Jesus Sarrão e Campos Marques.

Curitiba, 09 de junho de 2011.

NAOR R. DE MACEDO NETO Relator Convocado

1 HC Nº 146.519/RJ, 5ª Turma, Relator: Min. FELIX FISCHER, DJe 31.05.2010.

2 REsp nº 869.582/R, 5ª Turma, Relator: Min. FELIX FISCHER, DJ 03/09/2007.

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