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Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul

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6 de março de 2013

1ª Câmara Cível

Apelação - Nº 0040259-44.2011.8.12.0001 - Campo Grande Relator – Exmo. Sr. Des. Divoncir Schreiner Maran

Apelante : Mgarzon Eugenio Empreendimentos Imobiliários Ltda Advogado : Rodrigo Vasconcellos Machado

Advogado : Humberto Sávio Abussafi Figueiro Apelante : MB ENGENHARIA SPE 042 SA Advogada : Viviane Vicente Ferreira de Almeida Advogado : Claudemir Liuti Júnior

Apelante : Brookfield MB Empreendimentos Imobiliários S.A Advogado : Claudemir Liuti Júnior

Advogada : Vivane Vicente Ferreira de Almeida Apelantes : Hioanys Rodrigues Machado e outro Advogada : Marina de Oliveira Palo

Apelado : Mgarzon Eugenio Empreendimentos Imobiliários Ltda Advogado : Rodrigo Vasconcellos Machado

Apelado : MB ENGENHARIA SPE 042 SA

Apelado : Brookfield MB Empreendimentos Imobiliários S.A Apelados : Hioanys Rodrigues Machado e outro

E M E N T A – APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO – CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL – CONSTRUTORA, INCORPORADORA E IMOBILIÁRIA – COMISSÃO DE CORRETAGEM –

OBRIGAÇÃO IMPUTADA AO COMPRADOR SEM EXPRESSA

CONTRATAÇÃO – VENDA DO IMÓVEL CONDICIONADA AO PAGAMENTO DA COMISSÃO DE CORRETAGEM – VENDA CASADA – PRÁTICA VEDADA PELO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – ARTIGO 39, I, CDC – CONDUTA ABUSIVA – VIOLAÇÃO A BOA-FÉ OBJETIVA E AO DEVER DE INFORMAÇÃO – RESTITUIÇÃO DEVIDA – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA – RECURSOS NÃO PROVIDOS.

Verificada a relação de consumo, prevalece a aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor sobre as do Código Civil.

O pagamento dos serviços de corretagem só pode ser exigido do comprador do imóvel quando ele contrata o profissional, ou quando há livre negociação entre as partes. Não se aplica o disposto no art. 724 do Código Civil, uma vez que a contratação da imobiliária foi feita pela incorporadora, que impôs ao consumidor o pagamento da comissão.

Nada obsta que as partes convencionem que o pagamento da comissão de corretagem fique a encargo do comprador. Porém, é necessário haver contratação expressa, clara e ostensiva, o que inocorreu na hipótese.

Constatado que os serviços de intermediação imobiliária da MGarzon

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Eugênio foram contratados pela vendedora MB Engenharia e pela gestora Brookfield, a transferência do ônus do pagamento da comissão de corretagem ao consumidor se mostra ilegal e abusiva, por consistir em transferência indevida de custo do empreendimento e, por este motivo, o valor respectivo deverá ser ressarcido aos apelados, de forma solidária por ambas as apelantes.

Recursos improvidos.

RECURSO ADESIVO – DEVOLUÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO – NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DA MÁ-FÉ DOS CREDORES RESTITUIÇÃO NA FORMA SIMPLES – RECURSO NÃO PROVIDO.

A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento no sentido de que a devolução em dobro dos valores pagos pelo consumidor somente é possível quando demonstrada a má-fé do credor. (AgRg no Ag 1140102/SC)

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os juízes da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, por unanimidade, negar provimento aos recursos, nos termos do voto do relator.

Campo Grande, 6 de março de 2013.

Des. Divoncir Schreiner Maran - Relator

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R E L A T Ó R I O

O Sr. Des. Divoncir Schreiner Maran.

MGarzon Eugênio Empreendimentos Imobiliários, MB Engenharia SPR 042 S/A e Brookfield MB Empreendimentos Imobiliários S.A.

apelam da sentença que julgou parcialmente procedente os pedidos formulados nos autos da Ação de Restituição de Restituição de Valores c/c Repetição Indébito proposta por Hioanys Rodrigues Machado e Juliana de Oliveira Palo Machado, para condená-los, solidariamente, a restituírem aos autores, de forma simples, o valor de R$

12.879,97 pago a título de comissão por corretagem, corrigido monetariamente pelo IGPM/FGV, a partir do desembolso e acrescido de juros de mora de 1% ao mês, desde a citação.

Em suas razões recursais, a apelante MGarzon Eugênio Empreendimentos Imobiliários, alega que não pode ser-lhe imputada a responsabilidade solidária pela restituição da comissão de corretagem aos apelados, uma vez que apenas foi contratada pelas requeridas MB Engenharia e Brookfield para intermediação da compra e venda das unidades habitacionais.

Afirma que a cobrança da comissão por corretagem foi informada e aceita pelos apelados no momento em que estes assinaram o "Pedido de Aprovação de Crédito com Reserva de Unidade", motivo pelo qual não há falar em devolução do montante recebido pelo trabalho de aproximação entre os autores compradores e as requeridas vendedoras.

Salienta que "imputar o dever de devolver o montante recebido a título de honorários à ora requerida, geraria uma situação de enriquecimento ilícito ao devedor, pois a prestação do serviço é incontroversa já que a lide reside apenas em relação à aquele quem deveria tê-la pago." (f. 174)

Ao final, requer o provimento recursal para que seja julgada improcedente a ação, reconhecendo o seu direito ao recebimento da comissão de corretagem e, ou, seja excluída sua responsabilidade solidária pela restituição da comissão de corretagem.

Por sua vez, MB Engenharia SPE 042 S/A e Brookfield MB Empreendimentos Imobiliários S/A, sustentam que restou inequivocamente comprovada a efetiva contratação dos serviços de corretagem pelos apelados, bem como a concordância e o pagamento da comissão à empresa MGarzon, razão pela qual não são responsáveis pela restituição dos valores, devendo recair a responsabilidade somente em face da empresa de corretagem que efetivamente recebeu pelos serviços de intermediação.

Aduzem que não houve o descumprimento do Código de Defesa do Consumidor, pois sempre agiram com boa-fé nas fases de negociação pré-contratual, contratual e pós-contratual.

Esclarecem, assim, que "não se reveste de licitude a alegação do consumidor de que entende ser indevida a cobrança pelos serviços de intermediação da venda com o serviço de corretagem". (f. 200)

Por fim, pugnam pelo provimento do recurso para que seja julgada improcedente a ação e, ou, seja excluída sua responsabilidade solidária pela restituição da comissão de corretagem.

Contrarrazões dos apelados às f. 211-219, defendendo o improvimento

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dos recursos.

Em seguida, Hioanys Rodrigues Machado e Juliana de Oliveira Palo Machado recorrem adesivamente, pretendendo, em síntese, a repetição do indébito em dobro, nos termos do artigo 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor.

Terminam, pedindo o provimento do recurso adesivo para que os apelados sejam condenados a ressarcirem em dobro o valor cobrado indevidamente.

Resposta ao adesivo às f. 236-247 e 250-255, pelo improvimento do recurso.

V O T O

O Sr. Des. Divoncir Schreiner Maran. (Relator)

Cuidam os autos acerca de Ação de Restituição de Comissão de Corretagem c/c Repetição Indébito, proposta por Hioanys Rodrigues Machado e Juliana de Oliveira Palo Machado em face de MGarzon Eugênio Empreendimentos Imobiliários, MB Engenharia SPR 042 S/A e Brookfield MB Empreendimentos Imobiliários S.A., pretendendo a condenação dos requeridos a restituição em dobro da taxa de corretagem cobrada por ocasião da compra e venda de uma unidade imobiliária no Residencial Vitalitá, Bloco F, Apartamento nº 906.

Para tanto, alegaram os autores que a negociação ocorreu no próprio estande de vendas do referido residencial e que acreditavam estar comprando o imóvel diretamente das construtoras e não por intermediação de um corretor de imóveis.

Salientaram que, apesar disso, foram surpreendidos com a constatação de que o pagamento efetuado no valor de R$ 12.879,97 ocorreu em favor da terceira requerida (MGarzon Eugênio Empreendimentos Imobiliários), a título de prestação de serviços de corretagem e não a título de sinal pela compra do imóvel como lhes foram informados na avença.

Esclareceram que não contrataram e tampouco foram cientificados acerca de referida comissão de corretagem, argumentando, em contrapartida, que a comissão deve ser paga pelo vendedor e não pelo comprador.

As requeridas foram citadas (f. 54, 56 e 86) e apresentaram resposta (f.

58-67 e 92-99).

Em seguida, sobreveio a sentença de f. 157-163, julgando parcialmente procedentes os pedidos, condenando as requeridas, solidariamente, a restituírem aos autores, de forma simples, o valor de R$ 12.879,97 pago a título de comissão por corretagem, corrigido monetariamente pelo IGPM/FGV, a partir do desembolso e acrescido de juros de mora de 1% ao mês, desde a citação.

Advieram, então, os recursos sub examine.

A empresa MGarzon Eugênio Empreendimentos Imobiliários, sustenta

que deve ser imputado aos autores/apelados o ônus de cumprir com o contrato de

reserva de unidade que assinaram, respondendo pelo pagamento da taxa de comissão

por corretagem. Ressalta, ainda, que não pode ser condenada a devolver valores

recebidos pelo seu trabalho de intermediação que culminou na concretização da venda

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do imóvel.

Por seu turno, as empresas MB Engenharia SPE 042 S/A e Brookfield MB Empreendimentos Imobiliários S/A, alegam que restou comprovada a efetiva contratação dos serviços de corretagem, bem como a concordância dos autores/apelados com o pagamento da comissão, motivo pelo qual devem honrar o compromisso assumido.

Sustentam, ainda, que a boa-fé objetiva foi observada em todas as fases de negociação (pré-contratual, contratual e pós-contratual), pois os consumidores, ora apelados foram previamente informados a respeito da realização dos serviços de intermediação, bem como sobre o custo de tal serviço.

Ao contínuo, Hioanys Rodrigues Machado e Juliana de Oliveira Palo Machado argumentam que, inobstante a sentença tenha reconhecido o direito ao reembolso da taxa de comissão, a restituição deve se dar em dobro e não de forma simples, haja vista a má-fé das apeladas pela ocultação e omissão de informações sobre a cobrança da taxa de corretagem.

Pois bem. As irresignações não prosperam.

Saliento, inicialmente, que apreciarei, simultaneamente, os recursos interpostos por MGarzon Eugênio Empreendimentos Imobiliários, MB Engenharia SPE 042 S/A e Brookfield MB Empreendimentos Imobiliários S/A, eis que o entendimento a ser adotado permite o enfrentamento de todas as teses recursais.

Por outro lado, consigno que analisarei somente ao final o recurso adesivo interposto Hioanys Rodrigues Machado e Juliana de Oliveira Palo Machado, em respeito a ordem de prejudicialidade das matérias.

I Recurso de MGarzon Eugênio Empreendimentos Imobiliários, MB Engenharia SPE 042 S/A e Brookfield MB Empreendimentos Imobiliários S/A,

Como visto, tecem as apelantes inúmeras alegações a respeito da inexistência de responsabilidade ao reembolso da taxa de corretagem aos apelados que, no entanto, não conduzem a modificação da inarredável conclusão do Juízo a quo.

Primeiramente, é importante anotar a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, pois num dos polos da relação está o consumidor e, no outro, o fornecedor, ambos transacionando produtos e serviços

1

.

Dito isso, têm-se que no caso vertente os documentos acostados comprovam que os autores celebraram promessa de compra e venda com as duas primeiras requeridas (MB Engenharia e Brookfield), cujo objeto fora a compra do apartamento nº 906, Bloco F, do Residencial Vitalitá, nesta capital, pelo preço certo e determinado de R$ 273.341,56 (f. 14-34).

Entretanto, contata-se que não há nenhuma previsão, expressa ou implícita no Instrumento Particular de Promessa de Compra e Venda de Imóvel com Opção de Financiamento Imobiliário pelo SFI/SFH (f. 14-34), transferindo o custo do serviço de corretagem aos compradores, ora apelados.

As apelantes alegaram que os apelados detinham conhecimento da

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Nunes, Luiz Antonio Rizatto. Curso de direito do consumidor. 4ª ed. São Paulo : Saraiva. 2009, pg.

71.

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estipulação, pois firmaram um “Pedido de Aprovação de Crédito com Reserva de Unidade”, no qual ficou estabelecido que do valor de R$ 273.341,56 (duzentos e setenta e três reais e trezentos e quarenta e um reais e cinquenta e seis centavos), R$ 12.879,97 (doze mil oitocentos e setenta e nove reais e noventa e sete centavos) referiam-se aos serviços de corretagem prestados pela imobiliária MGarzon Eugênio.

Contudo, nota-se que o tão citado “Pedido de Aprovação de Crédito com Reserva de Unidade” não foi acostado ao processo pelas apelantes, de modo que não se desincumbiram da regra do artigo 333, II, do Código de Processo Civil. E, ao contrário do que alegam, o item 8 da referida promessa de compra e venda diz que o valor de R$ 273,341,56 refere-se ao “preço do imóvel” (f. 19), nada se referindo a taxa de corretagem.

Por outro lado, diversamente do que tentam provar as apelantes, a cláusula décima segunda (disposições finais) estabelece que:

12.2. Até a venda da última unidade objeto da incorporação, fica assegurado à VENDEDORA o direito de manter no local os corretores por ela contratados, que bem desejar, os quais poderão transitar livremente, para mostrar os imóveis ainda não vendidos aos candidatos que porventura estiverem interessados, utilizar os elevadores e apresentar as partes comuns. (f. 32) (grifo nosso)

Como visto, a única alusão contratual acerca do serviço de corretagem, visa apenas garantir às vendedoras, ora apelantes, o direito de manter no local os corretores por ela contratados, para o fim de promover a venda das unidades remanescentes do empreendimento imobiliário na área comum do edifício, o que reforça, de outro norte, o entendimento de que os corretores são contratados e vinculados às empresas recorrentes.

Não há prova, portanto, de que os apelados contrataram os mencionados serviços de corretagem ou de que assumiram a obrigação de custeá-los.

Importa esclarecer que, nada obsta as partes convencionem que o pagamento da comissão de corretagem fique a encargo do comprador, nos termos do artigo 724 do Código Civil. Porém, é necessário haver ajuste nesse sentido e, se o negócio envolver relação de consumo, tal entabulação deve ocorrer nos moldes estabelecidos pelo Código de Defesa do Consumidor.

Isto porque envolvendo relação de consumo, a contratação de serviços deve ser expressa, clara e ostensiva (§§ 3º e 4º, art. 54, CDC), pois decorre do dever de informação, corolário da boa-fé objetiva, que orienta os padrões sociais de lisura, honestidade e correção impostos as cláusulas contratuais.

Consoante exarou o Superior Tribunal de Justiça, em voto lavra da eminente Ministra Nancy Andrighi:

“[...] O direito à informação, considerado absoluto por Rizzato

Nunes (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 5ª ed. São

Paulo: Saraiva, 2010. p. 708), nos termos delineados pelo Código de Defesa

do Consumidor, decorre especialmente do princípio da transparência,

consectário, por sua vez, da adoção da boa-fé objetiva e do dever anexo de

prestar as informações necessárias à formação, desenvolvimento e

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conclusão do negócio jurídico entabulado entre as partes. Assim, a interpretação sistemática dos arts. 4º, 6º, 31, 46 e 54 do CDC leva-nos à conclusão de que, para se desincumbir de seus deveres mútuos de informação, os contratantes devem prestar todos os esclarecimentos, de forma correta, clara, precisa e ostensiva, a respeito dos elementos essenciais ao início da relação contratual. E mais, o cumprimento desse dever, até mesmo em consequência da objetividade da boa-fé, não toma em consideração a intenção do agente em ludibriar, omitir ou lesionar a parte contrária; o que se busca efetivamente é proteção dos contratantes” (REsp 1302738/SC, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 03/05/2012, DJe 10/05/2012).

Portanto, inexistindo cláusula contratual em sentido contrário, quem responde pelo pagamento da comissão é aquele que contratou o corretor, ou seja, o comitente (STJ, REsp. 188.324; BA, Rel. Ministro Barros Monteiro, DJ 24/06/2002).

Em caso análogo, julgado recentemente, a 3ª Câmara Cível desta Corte decidiu o seguinte:

“EMENTA APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES C.C. REPETIÇÃO DE INDÉBITO - PROMESSA DE COMPRA E VENDA - CONTRATO DE CORRETAGEM - CONDUTA ABUSIVA - OBRIGAÇÃO QUE COMPETE AO COMITENTE - REPETIÇÃO DO INDÉBITO - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO - SENTENÇA REFORMADA. Patente a relação de consumo, prevalece a aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor sobre as do Código Civil. O pagamento dos serviços de corretagem só pode ser exigido do comprador do imóvel ou quando ele contrata o profissional, ou quando há livre negociação entre as partes. Não se aplica o disposto no art. 724 do Código Civil, uma vez que a contratação da imobiliária foi feita pela incorporadora, que impôs ao consumidor o pagamento da comissão.”

(TJ/MS. Terceira Câmara Cível. N. 2012.011335-9/0000-00. Rel. Des.

Marco André Nogueira Hanson. DJ. 22.05.2012). (g.n)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES C.C.

REPETIÇÃO DE INDÉBITO. PROMESSA DE COMPRA E VENDA.

COMISSÃO DE CORRETAGEM. OBRIGAÇÃO IMPUTADA AO COMPRADOR SEM EXPRESSA CONTRATAÇÃO. CONDUTA ABUSIVA REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. RECURSO PROVIDO. O pagamento dos serviços de corretagem só pode ser exigido do comprador do imóvel quando ele contrata o profissional ou quando há negociação entre as partes. Ademais, envolvendo relação de consumo, a contratação de serviços deve ser expressa, clara e ostensiva, não podendo ser deduzida a partir de documentos alusivos aos pagamentos efetuados pelo consumidor. [...] (TJ-MS. Quarta Câmara Cível. N. 2012.015463-0/0000- 00. Rel. Des. Ruy Celso Barbosa Florence. DJ 12.06.2012). (g.n.)

Desse modo, agindo a corretora MGarzon Eugênio em nome das

construtoras e sem contrato expresso transferindo ao consumidor a responsabilidade de

arcar com a contraprestação por tal serviço, incumbe às vendedoras, ora apelantes,

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custeá-lo.

Nessa via, inexorável que a cobrança e o pagamento de valor destinado à corretagem, sem a contratação do consumidor, foram indevidos, razão porque devem ser as apeladas condenadas a restituir os valores, nos termos do comando consumerista, ante a ilegalidade cometida.

Saliento que o dever de indenizar exsurge para todas as apelantes, em razão da solidariedade prevista no art. 25, § 1º do Código de de Defesa do Consumidor, porquanto a venda de unidade imobiliária condicionada ao pagamento da comissão de corretagem configura venda casada, prática expressamente vedada pelo art. 39, I, do Código de Defesa do Consumidor.

Assim, tendo a empresa corretora MGarzon Eugênio sido contratada para atuar em parceria e colaboração com a vendedora MB Engenharia e a gestora imobiliária Brookfield para a venda casada da unidade habitacional, a responsabilidade solidária de todas as demandadas está presente, ante o princípio da teoria da aparência, pois estando todas interligadas pela mesma cadeia de serviço prestado, suas atividades confundem-se aos olhos do consumidor.

Nesse sentido, é o entendimento desta Corte:

APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULA CONTRATUAL CARTÃO DE CRÉDITO RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA EMPRESA “BANDEIRA” OU

“ADQUIRENTE” TEORIA DA APARÊNCIA CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE PRESTADORES EM CADEIA DO MESMO SERVIÇO RECENTE PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RECURSO CONHECIDO, PORÉM IMPROVIDO. [...] Impõe- se, ao caso, a aplicação da Teoria da Aparência, pois as empresas estão interligadas pela mesma cadeia de serviço prestado, cujas atividades confundem-se aos olhos do consumidor, que deve ter seus direitos resguardados contra os abusos de quem detém o poderio econômico. O Código de Defesa do Consumidor, visando amparar integralmente os direitos dos consumidores, estabeleceu em favor deles diversos instrumentos de proteção, como, por exemplo, a solidariedade de todos os fornecedores que, de um modo ou de outro, concorrem para a efetivação do dano. Logo, as empresas que tenham contribuído com seus próprios serviços e produtos para a execução do serviço principal configuram responsáveis solidários, em caso de dano ao consumidor. [...] (TJ/MS.

Quarta Turma Cível. N. 2009.021248-2/0000-00. Des. Dorival Renato Pavan. DJ. 13.10.2009) (g.n.)

II Recurso de Hioanys Rodrigues Machado e Juliana de Oliveira Palo Machado

Pretendem os apelante, basicamente, a repetição do indébito em dobro, nos termos do artigo 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, haja vista a má-fé das apeladas pela ocultação e omissão de informações sobre a cobrança da taxa de corretagem.

Não obstante a insurgência dos apelantes, entendo que a restituição

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deve se operar de forma simples, uma vez que a devolução em dobro, prevista no parágrafo único, do art. 42, parágrafo único, da Lei n. 8.078/90, pressupõe engano injustificável, dolo ou má-fé, o que não vejo presente.

O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 42, parágrafo único, dispõe que “o consumidor cobrado em quantia indevida tem o direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro ao que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável".

A intelecção vindicada para o referido dispositivo legal é de que apenas a má-fé autoriza a devolução em dobro dos valores pagos a maior, o que não foi constatado na hipótese em apreço, até porque, como cediço, a má-fé não se presume, devendo ser cabalmente demonstrada. Aplica-se, de outro modo, o disposto no artigo 884, caput

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, do Código Civil.

Nesse sentido, aliás, posiciona-se a jurisprudência reiterada do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE MÚTUO HABITACIONAL - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. INSURGÊNCIA DOS AUTORES. (...) 2. Nos termos da consolidada jurisprudência desta Corte, a devolução em dobro do valor indevidamente recebido depende da constatação da má-fé, dolo ou malícia por parte do credor. 3. Agravo regimental não provido, com aplicação de multa. (STJ, AgRg no REsp 918.590/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 06/09/2012) (g.n.)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. SFH.

JUROS REMUNERATÓRIOS ACIMA DE 10%. POSSIBILIDADE.

REAJUSTE DO SALDO DEVEDOR. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL. INADMISSIBILIDADE. TAXA REFERENCIAL (TR).

POSSIBILIDADE. REPETIÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO.

CONSTATAÇÃO DE MÁ-FÉ. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO.

SÚMULA 7/STJ. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. GRAU DE SUCUMBÊNCIA. 1. "O art. 6º, alínea 'e', da Lei nº 4.380/64, não estabelece limitação dos juros remuneratórios" (REsp 1.070.297/PR, Segunda Seção, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 18/9/2009, submetido ao procedimento previsto no art. 543-C do Código de Processo Civil). 2. É possível a aplicação da Taxa Referencial (TR) para correção do saldo devedor de contrato de mútuo habitacional vinculado ao Sistema Financeiro da Habitação, ainda que firmado antes da vigência da Lei 8.177/1991, desde que pactuado o mesmo índice aplicável à caderneta de poupança. Inviável, pois, a pretensão de utilização do Plano de Equivalência Salarial - PES como critério de reajuste do saldo devedor. 3.

A Segunda Seção desta Corte firmou o entendimento de que a devolução em dobro dos valores pagos pelo consumidor somente é possível quando demonstrada a má-fé do credor. 4. A apreciação, em sede de recurso especial, do quantitativo em que autor e réu saíram vencedores ou vencidos na demanda, bem como da existência de sucumbência mínima ou recíproca,

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Art. 884 do CC: "Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir

o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários."

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esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg no Ag 1140102/SC, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe 27/06/2012) (g.n.)

E também desta Egrégia Corte:

APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO C/C CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO JUROS REMUNERATÓRIOS A SEREM FIXADOS NA FASE DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA OBSERVÂNCIA DO PERCENTUAL CONTRATADO E DO VALOR EFETIVAMENTE FINANCIADO COMISSÃO DE PERMANÊNCIA ADMISSIBILIDADE ORIENTAÇÕES DO STJ E DO STF CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS VEDAÇÃO IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA MULTA DE RESTITUIÇÃO EM DOBRO DA QUANTIA EVENTUALMENTE PAGA A MAIOR AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ CONSIGNAÇÃO DOS VALORES PROCEDENTE ATÉ OS VALORES CONSIGNADOS EM JUÍZO HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DANOS MORAIS COBRANÇA DE VALORES DISTINTOS DOS FIXADOS NO CONTRATO MERO ABORRECIMENTO NÃO INDENIZÁVEL SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA ART. 21, CPC PREQUESTIONAMENTO RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (...) É justo que ocorra eventual repetição do que eventualmente tenha sido pago indevidamente pelo devedor, mas não em dobro, já que a má-fé não se presume. (...) (TJ/MS, Apelação Cível n.

2012.013523-8, Relator - Exmo. Sr. Des. Oswaldo Rodrigues de Melo, Terceira Câmara Cível, Julgamento: 5.6.2012) (g.n.)

Destarte, não comprovada a má-fé ou o dolo das apeladas, a devolução da quantia cobrada em excesso deve ocorrer de forma simples.

III - Dispositivo

Isso posto, nego provimento ao recurso.

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D E C I S Ã O

Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

POR UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AOS

RECURSOS, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Hildebrando Coelho Neto Relator, o Exmo. Sr. Des. Divoncir Schreiner Maran.

Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Des. Divoncir Schreiner Maran, Des. Sérgio Fernandes Martins e Des. Hildebrando Coelho Neto.

Campo Grande, 06 de março de 2013.

gkt

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