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E afinal quem vai levar o F-X?

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E afinal quem vai levar o F-X?

JOSÉ ALVES DANIEL FILHO,

Bacharel em Ciências Econômicas e Pós-Graduado em Auditoria Pública daniell.filho@gmail.com

Após mais de uma década do início da concorrência internacional para a escolha do futuro caça brasileiro para os próximos 30 anos, foi praticamente finalizado em 07 de setembro de 2009 com o anúncio da preferência pelo francês Rafale, mesmo que alguns não concordem esta aeronave tem um ponto a mais nesta disputa que está por findar.

Com o fechamento dos contratos para a compra dos submarinos e dos helicópteros da França, além da promessa de transferência “IRRESTRITA” de tecnologia se for efetivada a compra dos caças Rafale, acabou por chamar a atenção do Presidente Lula que atropelou as fases que vinham sendo cumpridas no processo de compra e gerou um mal estar na reta final da “concorrência”1. Mesmo admitindo em sua viagem para a Suécia, que só conhece efetivamente a proposta francesa!

A escolha de um modelo francês sempre foi vista como certa desde o início da primeira concorrência, onde era representado pelo então Mirage 2000 BR. A proximidade do Brasil com a França é de longa data, mais especificamente da década de 1970, quando o país iniciou as aquisições para a implantação do SISDACTA (Sistema de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo).

Com o reequipamento das Forças Armadas da América Latina durante aquela década, grande parte devido aos governos militares, o Brasil se viu na necessidade de proteger melhor seu território.

O país na época buscou no mercado internacional modelos com características de interceptadores avançados e com velocidade máxima acima de Mach 1. Com a recusa dos americanos na venda do F-4 Phanthom, seu caça de primeira linha na época, ofereceram então o F-5 como alternativa, mas este foi recusado pela FAB por achar que não cumpria bem a função que se destinava, pois era um caça leve e com função de ataque ao solo também.

1 No FX-2 o termo concorrência está entre aspas, por não se caracterizar a concorrência descrita na Lei 8.666/93 pois trata- se de compra direta: “Lei 8.666/93 art. 22 § 1o Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto.”

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Ironicamente esta aeronave é nossa ponta de lança na aviação de combate nacional após sua modernização.

Os suecos ofereceram seus Draken para a função, mas a falta de tradição da nação em exportações deixou o Brasil receoso quanto a aquisição.

Restou entre as opções que se enquadrava no perfil desejado pela Força o famoso Mirage III, que acabava de obter grande sucesso na Guerra dos Seis dias entre Egito e Israel, onde obteve vitórias com este operador, alguns anos antes.

Com a assinatura do contrato para a aquisição de 18 unidades do Mirage o Brasil entrou definitivamente na era supersônica, mudando sua capacidade de combater nos céus.

Em 1972 os F-103 que também são conhecidos como Jaguar, designação da aeronave no Brasil e codinome do esquadrão, respectivamente, começaram a ser operados no Planalto Central em uma base construída exclusivamente para recebê-los, após a escolha do local a ser construída, que ficou entre Planaltina – DF e Anápolis – GO, a FAB investiu grande parte dos esforços necessários para operar a aeronave com todos seus recursos disponíveis.

O Mirage inicialmente operava em missões ar-ar equipado com um míssil R550 Matra em seu cabide central além dos tanques alijáveis, fazia interceptações em grandes altitudes vetorados pelos modernos radares baseados em terra que então equipavam o CINDACTA naquela época. Hoje o sistema SIVAM possui os sensores mais modernos em operação.

Com o passar dos anos e a falta de recursos essas aeronaves não foram modernizadas e se tornaram obsoletas já na década de 1980, onde pequenas modificações foram introduzidas na tentativa de dar sobrevida e serem substituídas no máximo na década de 1990. Foram incluídos canards, manetes com comandos do tipo HOTAS e previsão para operar mísseis Magic 2, em doze aeronaves. Mas, os diversos cortes no orçamento e questões políticos acarretaram atraso na substituição, sendo necessária a compra de caças usados (Mirage 2000) até a entrada em serviço da nova aeronave, agora previsto para 2014.

E como ficará a defesa aérea no país após essa aquisição? O que trará de novo para a Força?

Sem sombras de dúvidas que a aquisição de qualquer uma das aeronaves que estão na competição elevará de sobremaneira a capacidade de dissuasão da Força. Os novos sensores como radar AESA com capacidade SAR, novos aviônicos e armamentos permitirá a capacidade de combate desejada além de aumentar exponencialmente a sobrevivência na arena de combate.

E os Mirage 2000, como ficam? Como foram adquiridos para suprir uma necessidade passageira até a entrada em serviço de outra aeronave, é possível que sejam operados por mais alguns anos até o fim de sua vida útil e a entrada em serviço das 36 aeronaves a serem compradas. Outra possibilidade é que essas aeronaves sejam repassadas para a Argentina ou outro país na América Latina, interessado em um caça tampão em operação, como fez o Brasil, por falta de recursos para efetuarem modernizações de grande vulto.

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Com as postergações do prazo de entrega das propostas finais dos competidores até o dia 02/10/09, vamos acompanhar várias cenas entre os competidores finalistas para levar esse contrato de bilhões de dólares, além de possíveis contratações posteriores para aumentar a frota. Mas qual será a melhor opção para o país?

Essa resposta inicialmente caberia a FAB, pois somente ela sabe o que esperar na guerra aérea do futuro e suas necessidades operacionais atuais que precisam ser preenchidas, pois cada um traz em sua bagagem diversos itens interessantes que seduzem a Força, mas o fator político será decisivo na escolha, pesando muito o argumento da transferência de tecnologia.

Segundo a FAB, os participantes estão sendo avaliados em cinco áreas prioritárias, nesta ordem:

1 - Transferência de tecnologia;

2 - Domínio do sistema de armas pelo Brasil;

3 - Acordos de compensação e participação da indústria nacional (off-set);

4 - Técnico-operacional, e, 5 - Comercial.

Mesmo que a grande parte da sociedade que não acompanha ou não vê a necessidade da modernização de nossas Forças Armadas (FAs), o processo de reequipamento das mesmas é necessário com a substituição/modernização dos meios empregados na defesa de nossas riquezas e do território, mas de forma prudente do ponto de vista econômico, técnico e não somente político.

Com os contingenciamentos na liberação dos recursos por parte do governo nos últimos anos, prejudicou a operacionalidade das FAs em geral, mesmo equipadas com meios obsoletos disponíveis tentavam cumprir suas funções primárias a contento.

Na tentativa de não prejudicar o reequipamento ora iniciado, está em estudo na Câmara dos Deputados projeto de lei que proíbe qualquer corte no orçamento de investimento das FAs nacionais pelos próximos 10 anos. O que ainda não é o ideal, pois deveria ter sido incluído no END uma cláusula definindo um percentual mínimo para investimento e manutenção da operacionalidade das FAs baseado no PIB ou da receita de qualquer fundo específico como os royalites do petróleo que deveria ser repassado para a Marinha e que não é feito.

Mas de toda forma é uma iniciativa importante, tendo em vista ser possível em 2010 ocorrer cortes no orçamento para a construção dos Submarinos, inclusive o de propulsão nuclear, que poderá chegar a R$ 800 milhões, segundo a informações de alguns parlamentares.

A adoção de novas tecnologias exigirá um alto investimento para a formação de pessoal, manutenção e operação desses equipamentos. Como exemplo, no caso dos submarinos, será construído um novo estaleiro para sua operação. Se hoje já estamos por quase cinco anos sem nosso porta-aviões em decorrência do processo de modernização um tanto postergado por falta de recursos, além de que quando estava operacional ficava a maior parte

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do tempo atracado, vamos ter condições suficientes para operar um submarino de propulsão nuclear?

Devemos pensar do mesmo modo a operação do novo caça. Como exemplo, vamos observar o modelo preferido na opinião política – o Rafale, que segundo algumas fontes seu custo de hora de voo pode chegar a US$ 14 mil, ou seja, o mesmo de um Mirage 2000 operado hoje pelo país! O governo francês propôs o verificar para chegar ao valor de US$9,8 mil e o que ultrapassar seria bancado por ele.

Vamos verificar qual seria o custo para a operação das aeronaves finalistas por 30 anos, voando cada uma 7.500 horas no período (250 horas/ano) considerando os valores médios da hora de voo que estão sendo divulgados por diversas fontes:

Aeronave Hora voo Horas voadas Total custo por ano Total geral F-18 E/F US$ 9 mil 7.500 US$ 67.500.000,00 US$ 2.430.000.000,00 Gripen NG US$ 4 mil 7.500 US$ 30.000.000,00 US$ 1.080.000.000,00 Rafale US$ 9,8 mil 7.500 US$ 73.500.000,00 US$ 2.646.000.000,00

Se esses valores forem confirmados, podemos ter a certeza da falta de critério econômico/operacional de longo prazo na escolha. Baseado que o vencedor será aquele que oferecer a melhor autonomia de operação e a transferência de tecnologia, mas do que vai adiantar se provavelmente não vamos ter orçamento disponível para voar com aviões tão caros? Não é melhor adquirir uma aeronave que talvez não atenda totalmente a transferência de tecnologia solicitada, mas que tenha um custo operacional menor para que nossa Força realmente possa arcar?

O que em breve pode acontecer será a canibalização de células para manter as outras em operação, como ocorre ainda hoje, com os A-1 AMX, que até hoje não é um avião completo do ponto de vista operacional, visto a falta de recursos para concluir seu projeto. Será minimizado agora com a modernização ora iniciada.

Não queremos dizer que o Rafale é ruim como plataforma de combate, ao contrario, é um dos modelos mais modernos em operação atualmente, mas sim em relação aos custos de operação. Como plataforma podemos comprovar sua atuação em combate no Afeganistão onde a França opera três Rafale com cinco pilotos e voaram 850 horas em 260 missões, não tendo nenhuma missão sido cancelada em razão de problemas com a aeronave com disponibilidade de 96%

Como a economicidade e eficiência são princípios constitucionais, mesmo que o primeiro seja implícito, a FAB buscou no decorrer dos anos implementar a comunalidade de sistemas e aviônicos em suas aeronaves de combate buscando economia de escala e redução dos custos de operação. A partir da positivação deste princípio dentro da estrutura administrativa da Força é certo que não farão opção por uma aeronave que não terão condições de operar futuramente. Por isso a decisão política, pautada basicamente na transferência de tecnologia, pode prejudicar de sobremaneira o futuro operacional da FAB.

A transferência de tecnologia é importante para um país e sua indústria, mas não primordial. Mesmo que alguns não concordem, temos que observar como funciona a política econômica e industrial de nosso país no decorrer dos anos e as experiências anteriores que

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tivemos, como o caso dos submarinos alemães que adquirimos com esse objetivo e nunca foi plenamente absorvida, pura e simplesmente por falta de recursos!

Hoje esse governo está interessado em investir no reequipamento de nossas Forças, mas será que os próximos vão continuar com esses investimentos? Nossa política de investimento nesta área é de longo prazo? Vamos realmente desenvolver um caça nacional para nós operarmos nos próximos anos, ou vamos participar de um consórcio internacional?

Após a conclusão da modernização das células que possuímos teremos cerca de 120 caças2 em operação. A idéia da FAB e do governo é substituir essas células por 88 novas aeronaves de combate até 2030, padronizando toda a frota com a adoção de uma só aeronave.

Com o último lote sendo entregue por volta de 2030 essas aeronaves vão ficar em operação até 2065 pelo menos, sendo as primeiras desativadas em torno de 2050 (isso se não for adotado algum programa de extensão da vida útil das células) será que até lá vamos ter condições de desenvolver uma aeronave de combate tripulada de alto desempenho? Podemos até ser capazes. Mas como será a guerra nesta época?

Vamos considerar que sim, é possível desenvolver um novo caça a partir dos 29 propostos para ser montados aqui no país e o restante dos 88 previstos seja uma aeronave projetado aqui no Brasil. As 52 células serão capazes de promover uma economia de escala para a produção em série da aeronave? Qual será o custo de operação deste novo caça? Vamos fazer o mesmo em relação ao AMX, em que o custo de aquisição foi o valor de dois F-16?

Temos que analisar melhor o que pretendemos com isso.

Com o rápido desenvolvimento dos veículos aéreos não tripulados, talvez o governo e a FAB devessem começar a pleitear a participação da indústria aeronáutica nacional, além da montagem e nacionalização de alguns itens do caça vencedor desta aquisição, de fazer parte em um consórcio para o projeto e produção dessa nova linha aeronaves de combate.

Mesmo com a proposta da Boeing no desenvolvimento de uma aeronave tripulada de 6º geração (Projeto FA-XX), é pouco provável que vão investir nessa linha a longo prazo.

Boeing X-45 Concepção artística Boeing FA-XX

Foto: Boeing Concepção artística: Boeing

Segue abaixo, algumas propostas dos competidores segundo algumas informações da mídia:

2 68 F-5M, 43 A-1M e 12 Mirage 2000;

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O Gripen em termos de transferência de tecnologia parecer ser o melhor para nossa indústria, pois ainda está sendo desenvolvido, com o fechamento da parte de aviônicos e maiores detalhes estão previstos somente para o ano de 2011/2012, com produção seriada em 2014, inclusive do radar AESA, data prevista para a entrada em serviço da aeronave no Brasil.

Com isso aumentaria a possibilidade de participação e capacitação de nossa indústria na produção em série da aeronave.

Pesa contra o caça o fato de possuir somente um motor, mas por outro lado o caça mais vendido do mundo, o F-16 e seu substituto F-35 que entrará operação em breve, são fabricados com essa configuração. Dentro da própria FAB, o esquadrão ponta de lança (1º GDA) opera uma aeronave monomotor, além do seu principal avião estratégico de ataque (A-1 AMX) também é monomotor.

Outro motivo alegado tentando desmerecer a aeronave é que o radar tem origem italiana que dificultaria a transferência de tecnologia e manutenção, por influência americana.

Os radares utilizados pelos A-1 nacionais modernizados estão sendo desenvolvidos com aquela empresa juntamente com a Mectron e a Galileo Aviônica da Itália (pertencente à SELEX).

E por fim por ele ser um protótipo ainda não estando em produção seriada, que corre o risco de chegar ao ano de 2014 sem a aeronave estar pronta para operar, acarretando prejuízos na defesa aérea. Mas para isto, temos o caça tampão Mirage 2000 operando até 2025.

O presidente mundial da SAAB afirmou ainda que por meio de transferência de tecnologia a Suécia estaria disposta a transferir ao Brasil até 175% do valor do contrato para a compra dos 36 caças. Pela proposta sueca, seriam 28 caças para somente uma pessoa e outras com oito para duas pessoas, além da possibilidade da compra de aeronave KC-390 para substituir/complementar os C-130 e treinadores Super Tucano. Esse é de grande interesse uma vez que seus treinadores básicos (SK 60/SAAB 105) já estão próximos do fim de suas vidas úteis.

Gripen NG EMBRAER KC-390

Foto: SAAB Concepção artística: EMBRAER

A SAAB fabricante da aeronave em sua proposta sinalizou em que partes o Brasil ficaria responsável pela aeronave:

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- Integração de Armamento - Enlace de Dados

- Integração do motor - Guerra Eletrônica

- Integração de sistemas - Seção de Reflexão ao Radar - Integração de sistemas táticos - Integração de Radar

- Integração de sistemas comerciais - Aerodinâmica - Desenvolvimento de Softwares - Avaliações e testes - Sistema de gravação de dados - Funções de navegação

Sistemas do Gripen NG propostos para serem nacionalizados

Fonte: http://www.defesanet.com.br/fx2/tech_transfer.htm#

A aeronave possuiria os seguintes equipamentos/capacidades: radar AESA feito entre a SAAB Microwave Systems e a Selex, capacidade super-cruise (única entre as aeronaves finalistas), pacote de armamentos incluindo os fabricados no Brasil, centro de simulação de combate em rede, entre outros itens.

Segundo o fabricante o raio de ação da aeronave na configuração de combate ar- ar é de até 1.300 km (700 nm), efetuando patrulha de combate aéreo com 30 minutos on station, possuindo 4 mísseis BVRs (Beyound visual range), 2 mísseis de alcance visual e 1 tanque de combustível.

Já o Rafale tem a seu desfavor ser operado somente por um país e as poucas unidades produzidas levam a entender que seu um custo de manutenção será superior à média dos outros concorrentes.

O Brasil pode negociar com a França a possibilidade de ter a prerrogativa de possuir suas aeronaves com capacidade semelhante a aquela desejada pelos Emirados Árabes Unidos (também em negociação), características essas superiores ao modelo francês operado atualmente por aquela Força, como por exemplo, motor com maior potência (10 ton. de empuxo ao invés de 7,5 ton., com esse motor talvez consiga imprimir velocidade super-

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cruise), novo sistema de contramedidas, entre outros itens visando adequar ao que já operamos.

Referente à transferência de tecnologia, é possível que a França cumpra o que tem prometido? Certa fonte do governo Frances já declarou que o Brasil pediu demais e terá que buscar um equilíbrio entre o desejado e o permitido. As tecnologias sensíveis da aeronave, como sensores, armas, códigos-fontes, entre outros são de suma importância para ter total domínio sobre os sistemas que opera. Não só a França, mas nenhum país quer entregar isso de

“graça” para qualquer um que comprar sua aeronave, e é ai que vai valer o “jeitinho brasileiro”

para saber negociar o que realmente precisamos e possamos possuir.

Em sua nova proposta o governo francês sinaliza a compra de até 15 aeronaves KC-390 para sua Força Aérea. Acontece que esse mesmo governo tem preferência pelo modelo C-130J, cuja produção encontra-se sobrecarregada e sua encomenda deve demorar a ser entregue, só com a intervenção do governo americano o pedido poderia ser entregue antes, mas o que não deve acontecer se o caça francês for sobrestado em relação ao americano.

Se for concretizada esta opção, a EMBRAER já conseguiria um contrato de exportação da aeronave, além da inclusão dos franceses no desenvolvimento da aeronave onde a Dassault, em parceria com a Thales, comprometem a equipar o cargueiro com tecnologias para a produção do caixão de asas de sistemas de comando de voo digitais (DFCS), semelhante ao adotado pela Airbus em suas aeronaves, o que torna a célula mais modernas. Só precisamos averiguar se esses sistemas são propícios para uma aeronave que tem por objetivo operar em pistas não preparadas, como na Amazônia por exemplo.

A França também propôs auxiliar no desenvolvimento de capacidades adicionais, na produção nacional, na manutenção e comprometendo também em abrir totalmente o código- fonte do Rafale, além do apoio comercial ao cargueiro da Embraer KC-390 citado anteriormente. Sinalizam também no desenvolvimento conjunto de tecnologia, incluindo aeronaves de combate da próxima geração e aviões não tripulados de combate ou não.

A Dassault já possui um projeto em desenvolvimento de aeronave de combate não-tripulado, o nEUROn, em parceria com a SAAB, Alenia, entre outros.

Concepção artística do Rafale sobrevoando a Amazônia nEUROn

Foto: Dassault Concepção artística: Dassault

Do ponto de vista operacional, só falta à incorporação do radar AESA (já em testes) na versão F3, previsto para ser concluído até 2012, para atingir a plena capacidade de

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operação desta versão, que até o momento é a última para o Rafale. Está também em teste à integração do míssil BVR europeu Meteor, que a França tem a participação nos custos de desenvolvimento na ordem de 13%. Se o Brasil vier adotar essa aeronave ou o Gripen, que também pode operar o míssil, futuramente poderá adotar essa moderna arma de longo alcance contra possíveis ameaças da região.

Em longo prazo a adoção dessa aeronave, juntamente com a incorporação/fabricação de um novo porta-aviões para o Brasil, possibilitaria a comunalidade de plataformas operadas com a Marinha, possibilitando a aquisição de algumas unidades da versão “M” como ocorre na França. Essa particularidade só é possível se a aeronave a ser adquirida for o Rafale ou o americano F-18, uma vez que o Gripen não possui versão naval.

A apresentação feita na Câmara dos Deputados os executivos da empresa francesa informaram que a autorização de transferência é dada pelo Poder Executivo daquele país, não acarretando nenhum risco político e se comprometem compensação Off set de até 160% do valor do contrato.

Já o americano F-18, segue na disputa, mas com pontos negativos pelo histórico do governo americano em transferir tecnologia.

Como os EUA não permitem a transferência de tecnologia da maior parte de seus sistemas de defesa, ficamos receosos em adquirir a aeronave e futuramente ter problemas para operá-la. Como exemplo, podemos citar a Venezuela que possui seus F-16 com capacidade de operação aquém do desejado, a maior parte sem condições de voo, visto sua atual posição política.

Com a visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad no país nos próximos dias, preocupa o governo americano que não vê com bons olhos essa aproximação, mesmo que o Brasil insista em dizer que é somente para fins comerciais. A PETROBRAS, mais 15 empresas multinacionais do setor de petróleo3, está correndo o risco de ter uma sanção aplicada conforme um pedido de 50 legisladores americanos encaminhado por carta para o Presidente Obama, solicitando o bloqueio de empréstimos, compra de serviços ou outros produtos pelos EUA, além da restrição a importações da companhia e a recusa de exportação de tecnologia militar o que afetaria seriamente a negociação do F-18.

Segundo algumas informações obtidas pela mídia, a proposta da Boeing para a venda do F-18 foi a seguinte:

Fornecimento de 28 F/A-18E Super Hornet e 8 F/A-18F Super Hornet, 72 motores F414-GE-400 instalados, peças de reposição e armas;

4 motores F414-GE-400 para reposição;

36 radares AESA AN/APG-79;

36 canhões M61A2 20 mm;

36 RWR AN/ALR-67(V);

3 Além da Petrobras, o documento recomenda sanções à Totalfina Elf (França), ENI (Itália), Bow Valley (Canadá), Royal Dutch Shell (Holanda), Norsk Hydro (Noruega), Lukoil (Russia), GVA Consultants (Suécia), Sheer Energy (Canadá), LG (Coreia do Sul), Statoil (Noruega), Inpex (Japão), China National Offshore Oil Company, Sinopec (China), Daelim (Coreia do Sul) e SKS Ventures (Malásia). “Grupo de congressistas diz que companhia violou lei dos EUA ao investir mais de US$

20 milhões no Irã”. Patrícia Campos Mello, WASHINGTON. Estadão 23/10/09.

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144 lançadores LAU-127 (4 por aeronave);

44 Joint Helmet Mounted Cueing Systems (JHMCS) (visor montado no capacete);

28 mísseis AIM-120C-7 AMRAAM (média de 1 por aeronave mono tripulada);

28 AIM-9M SIDEWINDER (média de 1 por aeronave mono tripulada);

60 GBU-31/32 Joint Direct Attack Munitions (JDAM);

36 AGM-154 Joint Standoff Weapons (JSOW);

10 AGM-88B HARM;

36 Pods AN/ASQ-228 (V2) Advanced Targeting Forward-Looking Infrared (ATFLIR) (tem função similar a encontrada nos pods israelenses Litening);

36 AN/ALQ-214 Radio Frequência e contramedidas;

40 AN/ALE-47 sistema de contramedidas eletrônicas;

112 alvos rebocados AN/ALE-50;

O governo americano também analisa a compra de 100 aeronaves Super Tucanos para a USAF e participação no programa do KC-390. A EMBRAER poderia solicitar a inclusão de retomada do programa ACS, que afinal a mesma já tinha sido a ganhadora da licitação quando da sua conclusão e está suspenso.

Se a proposta acima for confirmada, a relação de armamentos estão aquém do esperado para essa concorrência. Não é culpa do fornecedor e sim principalmente do comprador que tem a possibilidade de exigir mais neste momento. Os 28 AMRAAM e os outros 28 Sidewinder não dão para muita coisa em caso de conflito. Um F-18 tem a capacidade de ser armado com até 14 mísseis ar-ar (12 BVR e 2 WVR), ou seja, os AMRAAM seriam utilizados em duas aeronaves e sobraria outros 24 Sidewinder para armar mais duas aeronaves para combate a curta distância!

Dos armamentos oferecidos ganharíamos capacidade impar em relação ao que operamos hoje na incorporação das bombas JDAM, JSOW e mísseis HARM.

F-18 com o leque de armas que pode operar EA-18G Growler

Arte: Boeing Foto: Boeing

Do ponto de vista operacional o F-18 leva grande vantagem por possuir o radar APG-79 AESA totalmente operacional, considerado o mais avançado hoje no mundo, além de

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um enorme leque de armas que pode utilizar. Tem a seu favor ainda a maior quantidade em operação atualmente o que facilita as linhas de suprimento, com previsão de ser fabricados até 600 aeronaves nas diversas configurações.

Se for efetivada essa compra, o país poderia fazer opção por algumas aeronaves com a possibilidade de receber a configuração de interferência eletrônica EA-18G Growler, como efetuado pela Austrália. Com a aquisição de um lote posterior poderíamos efetuar essa configuração para ser operado na função de interferidor na arena de combate, elevando a capacidade de sobrevivência de outras aeronaves no combate, além de promover o crescimento da guerra eletrônica nas Forças Armadas nacionais.

Conclusão

O governo vai receber nos próximos dias o relatório técnico da FAB para auxiliar na decisão, que já foi anunciada que a parte política vai pesar mais, quanto ao caça a ser adquirido.

Após as audiências realizadas no Congresso o favoritismo da França diminuiu um pouco devido a mudanças na postura do que vinha sendo anunciado, como ser viável a produção do Rafale no país se a encomenda for de 120 aeronaves somente, mas voltou atrás após seus concorrentes informarem que vão montar suas aeronaves aqui após o sétimo exemplar.

Já o executivo da Boeing brincou dizendo “que somente se o governo brasileiro adquirir a Boeing teria o acesso que deseja”, o que comprova que essa transferência não é isso tudo que andam prometendo.

A Suécia tem o problema de sua aeronave ainda estar em desenvolvimento, correndo o risco das primeiras unidades não serem entregues em 2014, além de sua capacidade de combate um pouco menor em relação aos outros caças, que possuem um porte maior e consequentemente um custo maior para operar.

Com isso quem vai levar o contrato? Não tenham dúvidas que mesmo a mudança de discursos da Dassault sobre a quantidade de aeronaves para iniciar a produção no país e que nem tudo poderá ser transferido, a vantagem é deles. Nas compras internacionais de armas o fator político pesa muito neste momento, isso fica bem evidente quando analisamos os contratos anteriores. Mas tudo pode mudar devido ao lobby e demais influências internacionais que podem acontecer.

Ou quem sabe ainda não surja uma luz no fim do túnel e uma idéia levantada por um blog de defesa4 não venha a tona com uma solução alternativa, onde foi sugerido que a FAB compre aeronaves Rafale por compra direta substituindo os Mirage 2000 assumindo a função de caça “pesado” da FAB. Também efetuar a compra do Gripen NG com a transferência de tecnologia para substituir os F-5M e os A-1M, por serem baratos para operar e com isso fazendo parte grande massa a ser movimentada. Do ponto de vista da comunalidade

4 “Solução ‘Hi-Low’ novamente para a FAB? - http://www.aereo.jor.br/2009/09/26/solucao-hi-low-novamente-para-a-fab/;

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seria mais interessante adquirir os F-18 E/F no lugar dos Rafales, visto possuir o mesmo motor dos Gripen, barateando a manutenção e custos de estoques.

Mas somente no próximo mês devemos ficar sabendo quem vai levar esse contrato bilionário, estimado em R$ 12 bilhões e que vai definir de que modo vamos combater nas próximas décadas. Tomara que não adiem a decisão, o Equador está negociando a possibilidade de adquirir alguns Sukhoi para reequipar sua Força Aérea. Um avião não vence uma guerra, mas tem um peso político considerável. Que diga o Cel. Hugo Chávez.

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