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II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial

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Academic year: 2021

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II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial

“Verba Testamentária”: Desafios na realização da edição crítica no projeto Papéis avulsos.

Fabiana da Costa Ferraz Patueli - LABEC/UFF

Resumo:

Pretendemos situar o conto “Verba testamentária” em Papéis avulsos (1882) de Machado de Assis, a fim de divulgarmos os percursos de pesquisa e da realização da edição crítica pela equipe do Laboratório de Ecdótica (LABEC) da Universidade Federal Fluminense (UFF). O estudo do autor, Machado de Assis; das suas obras; e a relação de cada conto com o conjunto, “Papéis avulsos”. Neste sentido, as Biografias e as Bibliografias também estreitam a relação com autor e as suas obras, constituindo o primeiro passo para a preparação do texto. A metodologia adotada pelo grupo é baseada em edições críticas feitas pela Comissão Machado de Assis, pela Equipa Pessoa e pela Equipa Eça de Queirós, exemplares que resgatam a fidedignidade dos textos em Língua Portuguesa. Com este intuito foram realizadas pesquisas nas seguintes instituições: Academia Brasileira de Letras – ABL; Casa de Rui Barbosa; Real Gabinete Português; Instituto Histórico Geográfico Brasileiro – IHGB; e Biblioteca Nacional.

Palavras-chave: Crítica Textual. Edição Crítica. Contos de Machado de Assis. “Papéis avulsos”.

“Verba testamentária”.

O Laboratório de Ecdótica (LABEC-UFF) da Universidade Fluminense tem como um de seus projetos atuais a elaboração de uma edição crítica de Papéis avulsos de Machado de Assis. Tendo em vista uma carta a Joaquim Nabuco de 14 de abril de 1883, referente à publicação de

Papéis avulsos, o conjunto de contos que constituem esta obra, segundo o próprio Machado de Assis: “Não é propriamente uma reunião de escriptos esparsos, porque tudo o que alli está (excepto justamente a Chinella turca) foi escripto com o fim especial de fazer parte de um livro [...]” (ASSIS, 1944: 40). Verifica-se, pois, que Papéis avulsos trata-se de uma composição una. O autor também confirma esta unidade aos seus leitores na parte intitulada ADVERTÊNCIA da própria obra publicada em 1882:

Este título de Papeis avulsos parece negar ao livro uma certa unidade; faz crer que o autor colligiu varios escriptos de ordem diversa para o fim de os não perder. A verdade é essa, sem ser bem essa. Avulsos são elles, mas não vieram para aqui como passageiros, que acertam de entrar na mesma hospedaria. São pessoas de uma só família que a obrigação do pae fez sentar à mesma mesa (ASSIS, 1882: I).

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1875, sob o pseudônimo de Manassés. No decorrer da carta, Machado de Assis deixa claro que o livro que enviou ao seu amigo, Papéis avulsos, é um transmissor de suas memórias. Memórias estas que o autor fixa e disponibiliza ao leitor.

Papéis avulsos têm caráter homogêneo, sobretudo, pelo aprofundamento psicológico do ser humano, de sua condição social e suas necessidades interiores. Por meio de suas páginas assistimos à passagem do individual para o coletivo, em que a sociedade se abre em leque, conforme Francisco Luís da Gama Rosa, em comentário ao referido livro na Gazeta da Tarde (Rio de janeiro), em 02/11/1882, citado por Ubiratan Machado em Machado de Assis: roteiro da consagração:

[...] a sociedade é o que há de mais infame; toda essa gente está contaminada pelo vício e pelo crime […] Por toda parte pululam os medalhões, os pomadistas, os parasitas, os boêmios, os caloteiros, os trampolineiros de eleições, os cacetes autores de dramas, os ambiciosos sórdidos, os invejosos miseráveis... Vícios, infâmia, loucura são coisas que não existem individualmente porque são o apanágio da multidão [...] (2003: 141).

São vários os problemas acerca das publicações de Machado de Assis dentre os quais podemos destacar o descuido das tipografias já observado por José Galante de Sousa:

As edições feitas em vida do autor já se vão tornando raras no mercado, e, apesar de inçadas de erros tipográficos, são ainda preferíveis, porque as que têm sido feitas posteriormente à sua morte (tanto as da antiga casa Garnier, como as de W. M. Jackson Inc.) não merecem fé (SOUSA, 1955: 39).

A falta de credibilidade citada por José Galante de Souza das edições publicadas após a morte de Machado de Assis é devida às modificações estabelecidas conscientemente ou por negligência dos editores e revisores, como por exemplo: a “[...] falta de vocábulos e de frases, intromissões de palavras alheias ao texto de origem, trocas, substituições, truncamento, enfim... colaboração literária dos editores!” (1955: 40).

As modificações ocorridas no processo de editoração, ao longo do tempo de algumas obras sofrem com a metamorfose de estilos editoriais. De acordo com Roger Chartier, que se refere à história das práticas de leitura, um texto pode ser lido de diferentes maneiras conforme as características e gostos pessoais do leitor e que os signos contidos no texto se entrelaçam com os elementos editoriais que vendem um determinado grupo de significação:

[...] trazidas pelas próprias formas tipográficas: a disposição e a divisão do texto, sua tipografia, sua ilustração. Esses procedimentos de produção de livros não pertencem à escrita, mas à impressão, não são decididas pelo autor, mas pelo editor-livreiro e podem sugerir leituras diferentes de um mesmo texto [...] efeitos maiores sobre as próprias significações atribuídas às obras (2001: 97).

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maneira de ler e às suas experiências pessoais, além de à formatação textual ou de sua própria compactação, ou ainda de sua reorganização na página. Concordando com Roger Chartier que:

[...] não considera mais o impresso como um suporte neutro, nem como uma unidade válida para ser colocada em série, mas como um objeto cujos elementos e estruturas remetem, de um lado, a um processo de fabricação cujas dificuldades eram grandes na época da composição manual e da impressão manual e, de outro, a um processo de leitura ajudado ou derrotado pelas próprias formas dos materiais que lhe é dado a ler [...] (2001: 96).

Para o trabalho de edição crítica de Papéis avulsos, desenvolvido no LABEC-UFF, a metodologia adotada pelo grupo é baseada em edições críticas feitas pela Comissão Machado de Assis, pela Equipa Eça de Queirós e pela Equipa Pessoa, exemplares que resgatam a fidedignidade de textos modernos e contemporâneos em Língua Portuguesa.

As pesquisas se iniciaram em 20 de novembro de 2006 e prosseguem com o cotejo ao texto base cuja edição é a do livro de 1882 publicado pela Lombaerts & C. As demais edições cotejadas são as encontradas em folhetim e à publicação em livro do editor-livreiro H. Garnier (1920) e da W. M. Jackson Inc. (1937). Ou sejam, serão cotejados testemunhos autorais e testemunhos não-autorais.

Os alunos e ex-alunos da UFF colaboram com a elaboração da Edição Crítica de Papéis

Avulsos de Machado de Assis na qualidade de executores, sob a orientação da coordenadora Geral do Projeto, Professora Doutora Ceila Ferreira Martins, nas tarefas de preparação de edição dos seguintes contos do livro Pápeis avulsos: “O Alienista”; a “Teoria do Medalhão”; “A Chinela Turca”; “Na Arca”; “D. Benedita”; “O Segredo do Bonzo”; “O Anel do Polycrates”; “O Empréstimo”; “A Sereníssima República”; “O Espelho”; “Uma Visita de Alcibíades” e “Verba testamentária”.

Na qualidade de executora do conto “Verba testamentária” que eu, Fabiana da Costa Ferraz Patueli, mestranda em Letras, área de concentração em Estudos de Literatura, subárea: Literatura Brasileira e Teorias da Literatura do programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense, relato as etapas e as considerações neste trabalho que ora apresento sobre a elaboração de uma edição crítica de grande importância para a preservação do patrimônio cultural em língua portuguesa.1

Dessa maneira, tornou-se fundamental, na primeira fase do trabalho, o estudo sobre o autor Machado de Assis, das suas obras, da relação de cada conto com o conjunto – Papéis avulsos – da leitura de Biografias e de Bibliografias que estreitam a relação com autor e as suas obras, constituindo o primeiro passo para a preparação do texto:

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[...] O texto assim apurado, que resulta na chamada edição crítica, é a reprodução mais correta possível e um original, numa tentativa de alcançar com a maior fidedignidade imaginável a última forma desejada pelo seu autor. [...] (SPINA, 1994: 86).

Para tal, foram feitas pesquisas nas seguintes instituições: Academia Brasileira de Letras – ABL, Fundação Casa de Rui Barbosa, Real Gabinete Português de Leitura; Instituto Histórico Geográfico Brasileiro – IHGB, e Fundação Biblioteca Nacional; resultando na organização dum esquema preliminar das publicações do conto a “Verba testamentária”:

A — ASSIS, Machado de. VERBA TESTAMENTARIA — CA£O PATHOLOGICO DEDICADO Á ESCOLA DE

MEDICINA In: GAZETA DE NOTÍCIAS. Rio de Janeiro, 8 out.1882.

B — ASSIS, Machado de, Papéis avulsos. S.l., Rio de Janeiro; S. Paulo: Lombaerts & C., 1882.

C — ASSIS, Machado de. Rio de janeiro; Paris: H. Garnier, Livreiro-Editor,1920.

D— ASSIS, Machado de. Papéis avulsos. São Paulo: W. M. Jackson Inc., 1937.

A pesquisa realizada se estende à biografia, à bibliografia, aos almanaques, às enciclopédias e aos dicionários das bibliotecas já citadas. Atualmente, estamos elaborando os comentários aos registros históricos, expressões estrangeiras e referências a personalidades da história por meio de pesquisa em dicionários de expressão, literatura e política e na fortuna crítica das obras de Machado de Assis que muito tem nos servido no preenchimento de algumas lacunas.

No cotejo realizado, tendo como texto base a publicação de 1882 de Lombaerts & C., encontramos a seguinte supressão significativa nas publicações da editora Garnier (1920, C) e W. M. Jackson Inc.(1937, D). No texto crítico: adornados, não perdoou aos que se mostravam mais adiantados no estudo; espancava-os,] C (edição Garnier): adornos no estudo; espancava-os; D (edição Jackson): adornados no estudo, espancava-os,

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Se não fora esse fato, se não fora a intenção, ostensivamente manifestada na ironia pungente, no humorismo contínuo, nas reflexões venenosas, teríamos nos Papéis avulsos um belíssimo trabalho realista, porquanto existe ali muita observação, muita análise psicológica, um profundo conhecimento do homem individual e coletivo (MACHADO, 2003: 142).

Portanto, manter a obra como o autor assim desejou que fosse publicada é, sobretudo, conservar um tesouro que descreve uma época e que vai além dela. É resguardar um patrimônio pertencente à cultura de uma sociedade. É restaurar o cânone de uma literatura. É respeitar o trabalho de um escritor, e, no caso de Papéis avulsos, de um dos maiores escritores da língua portuguesa, Machado de Assis. É, enfim, contribuir para a reconstrução de uma história extra-oficial ou determinadora de novas situações históricas apresentadas na escola, concordando então com Jean Marie Goulemot:

[...] essa história mítica participa de nosso ato de ler [...] ela molda toda leitura [...] ela está presente tanto na leitura como na escrita, uma vez que, além de opções, constitui um tecido, um discurso comum (2001: 112).

Referências Bibliográficas:

ALMANAK DA GAZETA DE NOTÍCIAS PARA 1882, 3º ano, 1881. ALMANAK DA GAZETA DE NOTÍCIAS PARA 1883, 3º ano, 1882.

ARANHA, Graça. Machado de Assis e Joaquim Nabuco. Comentários e notas à correspondência

entre esses dos escritores. São Paulo: Monteiro Lobato & Cia., 1923.

ASSIS, Machado de. Exposição Machado de Assis. Centenário do nascimento de Machado de Assis

1839-1939. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde.

ASSIS, Machado de. VERBA TESTAMENTARIA — CA£O PATHOLOGICO DEDICADO Á

ESCOLA DE MEDICINA. In: GAZETA DE NOTÍCIAS. Rio de Janeiro, 8 out.1882. ________________. Correspondencia. São Paulo: W. M. Jackson Inc., 1944.

________________.Papéis avulsos. Rio de Janeiro; S. Paulo: Lombaerts & C., 1882. ________________. Papéis avulsos. Rio de janeiro; Paris: H. Garnier, Livreiro-Editor,1920. ________________. Papéis avulsos. São Paulo: W. M. Jackson Inc., 1937.

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GOULEMOT, Jean Marie. Da leitura como produção de sentidos. In CHARTIER, Roger (Org).

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São Paulo: Estação Liberdade, 2001, p. 107-116.

ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA. Direção Afrânio Coutinho, José Galante de Sousa. 2ª ed. rev. São Paulo: Global Editora; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional/ DNL: Academia Brasileira de Letras, 2001.

MACHADO,Ubiratan. Machado de Assis: roteiro da consagração. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2003. MAGALHÃES JÚNIOR, Raimudo. Vida e obra de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1981. (Coleção Vera Cruz)

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MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

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Referências

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