• Nenhum resultado encontrado

1994 Garrett Trovador H Barbas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "1994 Garrett Trovador H Barbas"

Copied!
230
0
0

Texto

(1)
(2)
(3)
(4)

H E L E N A

B A R B A S

ALMEIDA GARRETT

o

TROV ADOR MODERNO

"

l~

I

EDI<;:6ESd

(5)

-,

XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

© H e l e n a B a r b a s C a p a : M a r t a F i g u e i r e d o C o m p o s i c a o : V . C o s t a , L d a . I m p r e s s a o : R i a g r a f i c a , L d a . , 1 9 9 4

I S B N : 9 7 2 - 6 8 9 - 0 6 1 - 6 D e p o s i t o . l e g a l n . " 7 5 1 5 8 / 9 4

T o d o s o s d i r e i t o s d e s t a e d i c a o r e s e r v a d o s p o r E D I ~ 6 E S S A L A M A N D R A , L D A .

R u a D a m i a o d e G 6 i s , 3 2 - 2 . ° D t . ° 1 4 9 5 L I S B O A

D i s t r i b u i c a o : S o d i l i v r o s , L d a .

(6)
(7)
(8)

o

t r o v a d o r m o d e r n o q u e d e s c a n t a N a d o c e l i r a 0 q u e p e r f a z c o a e s p a d a

Carnoes (IX, i-vv. 16-17)

RQPONMLKJIHGFEDCBA

E s t e s t r e s e s t u d o s s o b r e A l m e i d a G a r r e t t , e s c r i t o s e m m o m e n -t o s d i f e r e n -t e s , a c a b a r a m p o r s e u n i r q u a s e n a t u r a l m e n t e a p a r t i r d e u m a l i n h a d e s e n t i d o n d o i n t e n c i o n a l : a i d e i a d e r e q e n e r a c a o - d a p o e s i a , d o t e a t r o e d o s m i t o s p o r t u g u e s e s - c o m q u e G a r r e t t n a c i o n o l i z a 0 m a i s v a s t o a n s e i o r o m a n i i c o d e r e c u p e r a c a o d a s t r a d i c o e s m e d i e v a i s .

o

p t i m e i r o e n s a i o

e

s o b r e 0R o m a n c e i r o e n q u a n t o e s f o r c o d e r e a b i l i i a c a o d e u m a p o e s i a e n t e n d i d a p o r G a r r e t t c o m o s e n d o a v e r d a d e i r a m e n t e t i a c i o n a l . A s e m e l h a n c a . d o s s e u s c o n q e t i e r e s d e l i n g u a i n g l e s a , T h o m a s P e r c y , W a l t e r S c o t t e J . G . L o c k h a r t , v a i e m d e m a n d a d o m o m e n t o o r t q i n a r i o e m q u e s e m a n i f e s t a , d e m o d o i n e q u i v o c o , a c o t i s c i e r i c i a d e u m a n a c i o n a l i d a d e , 0e c l o d i r d e u m a r a < ; ; a .N o e n t a n t o , m a i s d o q u e 0r e s u l t a d o f i n a l , i n t e r e s s a a q u i 0

t o r t u o s o c a m i n h o p e r c o r t i d o . P r o p o e - s e a t i i p o t e s e d e q u e t o d o s e s t e s a u t o r e s sdo c o n j r o n t a d o s c o m a l g u n s d o s p r o b l e m a s q u e ja h a v i a m p r e o c u p a d o o s s e u s p a r e s d o r e n a s c i m e n t o : a o a l o t i z a c a o d o o e r n a c u l o , a e x i q e t i c i a d e u m t e r m o d e c o m p a r a c a o p a r a a a r t e .

Eq u e t e r a . s i d o a n e c e s s i d a d e d e r e s o l v e r e s t a q u e s i a o m a i s v a s t a - a r r a s t a d a a t e a o s n o s s o s d i a s - d e e n c o n t r a r u m r e f e r e n i e p a r a o v a z i o d e i x a d o p e l o d e s a p a r e c i m e n t o d a i d e i a d e u m m o d e l e s u p r a n a i u r a l , q u e o b r i g a o s c r i a d o r e s a b a i x a r 0 s e u o l h a r p a r a 0

(9)

8 Helena Barbas

o s

RQPONMLKJIHGFEDCBA

r o m a n c e s , s e m 0 a p o i o d o a p a r e l h o t e o r i c o q u e alicerca a

i n u e s t i q a c a o d o s a u t o r e s a n q l o - s a x o n i c o s , c o n s e g u e u l t r a p a s s a

--los metodoloqica e c o n c e p t u a l m e n t e .

E m " U m A u t o d e G i l V i c e n t e e a R e q e n e r a c a o d o D r a m a

Nactonal" pretende-se, n u m a a n a l i s e d o d r a m a q u e G a r r e t t

apre-s e n t a c o m o r e j u n d a d o r d o t e a t r o , d e t e c t a r o s p r o c e s s o s e estraie-g i a s v i c e n t i n a s a q u e r e c o r r e p a r a , a i r a o e s d o q u e p o d e s e r c h a m a d o d e u m p r o c e s s o d e e x o r c i s m o e i n u o c a c a o , a l c a n c a r e s s e s e u o u t r o o b j e c t i v o .

E m " M i t o I m p e r i a l e S e b a s t i a n i s m o e m A s P r o f e c i a s d o B a n -d a r r a d e A l m e i d a G a r r e t t " refere-se u m a o u t r a recuperacao, a d e u m m i t o u n i v e r s a l , 0 d o r e t o r n o d a I d a d e d e O u r o e d o R e i d o M u n d o , r e j o r m u l a d o n a s u a j a c e t a n a c i o n a l : 0 r e g r e s s o d e D . S e b a s t i i i o . P t o c u r a - s e d e m o n s t r a r c o m o e s s e s d o i s m i t o s e s t i i o l i g a d o s e n t r e si, e c o m o G a r r e t t , pelo s e u e n t e n d i m e n t o L u c i d o e p a r t i c u l a r , t r a n s j o r m a e r e g e n e r a 0 s e b a s t i a n i s m o . E s t e e n s a i o ,

n u m a u e r s i i o r e d u z i d a , j o i j a p u b l i c a d o p e l a e d i t o r a S a l a m a n d r a n u m v o l u m e c o l e c t i v o i n i i i u l a d o P o r t u g a l : M i t o s R e v i s i t a d o s , c o o r

-d e n a -d o p e l a P r o j e s s o r a D o u t o r a Y v e t t e K. C e n t e n o .

D e s c o b r e - s e q u e a i n o o a c a o t e o r i c a d e c o r r e n t e d o t r a b a l h o s o b r e o s r o m a n c e s s e p r o l o n g a e a p l i c a n a t u r a l m e n t e a o d r a m a e

a

renonacdo d o t e a t r o , e q u e aliada a o s o n h o d e d e m o c r a i i z a c a o e n a c i o n a l i z a c a o d a c u l t u r a p o r t u g u e s a e m g e r a l s e e s t e n d e a o s m i t o s .

C o m o o s a n t i g o s menestreis, G a r r e t t s e l e c c i o n a o s e v e n t o s q u e m a r c a m o s t e m p o s j o r t e s d a h i s t o t i a . o s h e r o i s d e u m a l i i e r a i u r a .

e d e u m a n a c d o - a p o r t u g u e s a - , e t r a n s j o r m a - o s e m o b j e c t o s a r t i s t i c o s . 0 f a c t o h i s t o r i c o , e l e v a d o a c i m a d a s u a c o n d i c a o d e j r a g m e n t o , t o r n a - s e u m a t o t a l i d a d e , p a s s a a o m u n d o d a s I d e i a s ;

a s s u a s p e r s o n a g e n s m u d a m - s e e m e x e m p l a . P o e t a e h i s t o r i a d o r , e m u l a i i o s e u Cambes, G a r r e t t a s s u m e - s e c o m o u m t r o v a d o r t n o d e r n o .

A p r o v e i t o p a r a a g r a d e c e r a t o d o s o s m e u s a n t i g o s p r o j e s s o r e s , m e s m o a q u e l e s a q u e m d e s i l u d i . Eq u e r o r e g i s t a r a m i n h a p a r t i -c u l a r q r a i i d a o

a

P r o f .g Y v e t t e C e n t e n o p e l a s u a i n i e i i q e n c t a e

(10)
(11)
(12)

1.

A

o

R O M A N C E I R O :

,,'-

-"

*

D A P R A T I C A A I N O V A \ = A O T E O R I C A

gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(13)
(14)

1 . 1 I N T R O D U C ; A o

gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o

in teresse p ela trad icao o ral, q u e a to rn a o b jecto d e u rn estu d o m ais serto e p ro fu n d o , d ata d e m ead o s d o secu lo X V III,

ten d o sid o d esen cad ead o em In g laterra p ela p o lem ica em to rn o

d e

PONMLKJIHGFEDCBA

O s s i a n F r a g m e n t s o f A n c i e n t P o e t r y c o l l e c t e d i n t h e H i g h l a n d s

o f S c o t l a n d , a n d t r a n s l a t e d f r o m t h e G a e l i c o r E r s e L a n g u a g e .

P u b licad o s p o r Jam es M acP h erso n em 1 7 6 0 , estes frag m en to s

- ap resen tad o s co m o o s m ais an tig o s p o em as d a trad icao o ral

esco cesa, escrito s em

gaeltco

p elo B ard o O ssian (co n fu n d id o co m O isin , 0 h er6 i len d ario filh o d e F in n o u F in g al, q u e Y eats Ira

recu p erar) - su scitam a in cred u lid ad e q u ase g eral, m as m o

ti-y am o s tn v estig ad o res e in au g u ram u m a serte d e esfo rco s n o

sen tid o d a recu p eracao d o s p rim itiv o s p o em as em v ern acu lo .

:It

n a lin h a m ais m o d erad a d estas ten tativ as q u e se in serem as

co lectan eas R e l i q u e s o f A n c i e n t P o e t r y l ed itad a em 1 7 6 5 p o r T h o m as P ercy (1 7 2 9 -1 8 1 1 ),0 b isp o d e D ro m o re (1 7 8 2 ); M i n s t r e l -s y o f t h e S c o t t i s h B o r d e , 2 co m p ilad a p elo esco ces W alter S co tt (1 7 7 1 -1 8 3 1 ) em 1 8 0 1 -2 , e A n c i e n t S p a n i s h B a l l a d s3 d e 1 8 2 3 , o n d e Jo h n G ib b so n L o ck h art (1 7 9 4 -1 8 5 4 ), 0 jo rn alista esco ces e

g en ro d e S co tt, ap resen ta u m a trad u cao d o s p o em as esp an h 6 is

o rg an izad o s p elo alem ao D tep p in g . S erao estes o s n o m es d o s

au to res q u e, d e alg u m m o d o , in sp iram e in flu en ciam A lm eid a

(15)

1 4 H e l e n a

gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

B arbas

PONMLKJIHGFEDCBA

1 . 2 .

EDCBA

R O M A N C E D ER I T M O A F O R M A , G E N E R O E E S C O L A

as tex to s co leccio n ad o s p o r P ercy . S co tt. L o ck h art e G arrett

ap arecem su cessiv am en te d en o m in ad o s p o r v ario s term o s: p o

e-stas, b alad as

e ro m an ces

n o caso d o s p rim eiro s. ro m an ces.

x acaras e so lau s p o r p arte d o u ltim o . q u e ch eg a m esm o a av en tar

u m a tip o lo g ia.

E m to d o s o s au to res se en co n tra

0

u so d a p alav ra ro m an ce.

m as n en h u m d eles a d efin e d e m o d o claro o u ex acto . S co tt. em

n o ta. faz u rn b rev e h isto rial d a ev o lu cao d o term o q u e. em p arte.

sera recu p erad o p o r G arrett: p rim eiro co n sid era q u e

0

v o cab u lo

d esig n a to d o s o s d ialecto s d eriv ad o s d o Iatim . referin d o , p o rtan to ,

u m a esp ecie Im g u istica": d ep o is, in v o ca o s "L ay s" d e M arie d e

F ran ce p araju stificar q u e seja atrib u id o a u rn tex to literario escrito

em v ern acu lo . E sta asso ciacao en tre u rn tip o d e Iin g u ag em e u m a

fo rm a d e escrita to rn ar-se-a m ais esp ecifica p o r in terferen cia d o s

tro v ad o res -

sejam p ro v en cais, castelh an o s o u p o rtu g u eses

-q u an d o ap licad o as n arrativ as d e av en tu ras cav aleirescas.

V erifica-se u rn alarg am en to sem an tico d o term o -

sem p re

d irectam en te relacio n ad o co m a lin g u ag ern e a literatu ra -

e sera

co m este sen tid o b asico q u e v ai ser u sad o p elo s d iv erso s au to res

d as v arias co lectan eas, o s q u ais. n o en tan to , n ao d eix am d e ter

co n scien cia d e o u tras p o ssib ilid ad es d e in terp retacao

m ais

(16)

o R o ma n c e i r o : d a

gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

pratica

a

inovacao teorica 1 5 F o i n a p assag em d o secu lo X V I p ara 0X V II, n u m p erio d o q u e

se co n sid ero u "classico ". q u e 0 term o se tran sfo rm a em ad jectiv o

co m 0 sen tid o d e "tm p ro v av el", e e a p artir d esta n o v a

m orfologta

q u e se d esen v o lv e a su a h g acao ao o b scu ro e m isterio so , ao n ao

n atu ral, tal co m o esp ecificad o p o r Jo sep h A d d iso n (1 6 7 2 -1 7 1 9 ):

PONMLKJIHGFEDCBA

E x i s t e u m t i p o d e e s c r i t a n a q u a l 0p o e t a q u a s e p e r d e d e

v i s t a a n a t u r e z a , e a l i m e n t a a i m a q i n a c a o d o s e u l e i i o r co m o s

c a r a c t e r e s e acco es d ea l g u m a s p e r s o n a g e n s , m u i t a s d a s q u a i s

s e m m a i s

EDCBA

e x i s t e n c i a .d oq u e a q u e l a q u e e l e l h e s a t r i b u i ; t a i s sdo a s J a d a s , b r u x a s , t n a q i c o s , d e m o n i o s e e s p i r i t o s d e d e J u n t o s .

A i s t o 0 S r. D r y d e n [1 6 3 1 -1 7 0 0 ] c h a m o u " e s c r e v e r

a

m a n e i r a d a s f a d a s " , 0 q u e , d ef a c t o , e m a i s d i f i c i l d o q u e e s c r e v e r d e

q u a l q u e r o u t r o m o d o q u e d e p e n d a d a J a n t a s i a d op o e t a , p o r q u e e s t e f i c a s e m u m m o d e l o q u e p o s s a s e g u i r , ed e o e r a t r a b a l h a r c o m p l e t a m e n t e a p a r t i r d a s u a p r o p r i a c a p a c i d a d e d e i n v e n 9 a o . E s t a e s c r i t a e x i g e u m m o d o d ep e n s a m e n t o m u i t o p e c u l i a r ;

e e i m p o s s i v e l a o p o e t a o l c a n c a r e x i i o n o e m p r e e n d i m e n t o a

ndos e r q u e a s u a s e j a u m a J o r m a m u i t o p a r t i c u l a r d e J a n t a s i a ,

e p o s s u a u m a i m a q i n a c a o n a t u r a l m e n t e r i c a e s u p e r s t i c i o s a . P a r a a l e m . d i s s o , d e o e r a p o s s u i r v a s t o c o n h e c i m e n t o s o b r e l e n d a s e f a b u l a s , r o m a n c e s a n t i g o s , ea s t r a d i c o e s d e c r i a d a s

e m u l h e r e s v e l h a s , p a r a q u e e n t r e em e m p a t i a c o m o s n o s s o s p r e c o n c e i t o s n a i u r a i s , ee s t e j a d ea c o r d o c o m a s i d e i a s q u e n o s J o r a m i n s t i l a d a s n a i n j a n c i a .5

E stao ja aq u i p resen tes to d o s o s elem en to s q u e, p o sterio

r-m en te, irao ser co n sig n ad o s p elo m o v im en to literario a q u e se

ch am o u ro m an tico . T am b ern , e d e m o d o in cip ien te, en co n tra-se

m ais u rn en riq u ecim en to d o term o q u e, v in d o a cu lm in ar n o

secu lo X IX co m o d en o m in acao d e u m a co rren te literaria esp

eci-fica, rap id am en te u ltrap asso u 0 cam p o d a literatu ra p ara se alarg ar a to d o u rn tip o d e arte, e se tran sfo rm ar n u m g en ero

p ro p rio - 0R o m an tico -, p o n to d e co n fro n to co m 0ch am ad o C lasstco e, m ais recen tem en te, co m 0 R ealista.

M as, em p rim eiro lu g ar, as p alav ras d e A d d iso n rev elam -se

co m o u m a ten tativ a d e d efin ir u m a n o v a fo rm a d e escrita p ara a

q u al n ao se p o ssu i ain d a u m a term in o lo g ia o p eracio n al. A su a

(17)

16

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

H e l e n a B a r b a s

p r e o c u p a f l l o s o f o s , a u t o r e s e c r i t i c o s : a q u e s t a o d a n e c e s s i d a d e

e p r o c u r a d e u r n m o d e l o , d e s p o l e t a d a p e l a m u d a n c a d e c o s m o

-v i s a o - o u d e p a r a d t g m a , n a t e r m i n o l o g t a d e T h o m a s K h u n6

-q u e s e o p e r a n a p a s s a g e m d o s e c u l o X V I p a r a 0X V I I .

T h o m a s P e r c y , W a l t e r S c o t t , L o c k h a r t e A l m e i d a G a r r e t t t e r n

e m c o n t a , d e m o d o m a i s o u m e n o s c l a r o , a e v o l u c a o d a p a l a v r a

r o m a n c e e a s u a i n s t a b i l i d a d e s i g n i f i c a t i v a .

It

e s t a I n c o n s t a n c i a

q u e p e r m i t e a s o s c i l a c o e s , a s d i f e r e n c a s d e p e n s a m e n t o e p e r s

-p e c t i v a q u e s e d e t e c t a m n o o l h a r l a n c a d o p o r a q u e l e s a u t o r e s

s o b r e a l i t e r a t u r a o r a l e t r a d i c i o n a l . A s s i m , t o d o s b u s c a m o s

p r i m o r d i o s d e u m a t r a d i c a o p a t r i a , d e o r i g e m p o p u l a r , c u j a s

m a n t f e s t a c o e s s u b j a z e m a i n f l u e n c i a i t a l i a n a d o R e n a s c i m e n t o ,

l i g a d a a u m a l i n g u a t a m b e m n a c i o n a l , a u r n v e r n a c u l o . D e s t e

m o d o ,0s e c u l o X V Ie a p r e s e n t a d o c o m o u r n m o m e n t o d e f r o n t e i

-r a , p o s i t i v o o u n e g a t t v o , m a s s e m p r e c o m o 0 p r i n c i p i o d e a l g o

q u e s e r v e d e t e r m o d e c o m p a r a c a o a o s d i v e r s o s p r e s e n t e s .

N o p r e f a c i o a Reliques, T h o m a s P e r c y d e m o n s t r a c o n h e c e r a

e x i s t e n c i a d e o u t r a s c o l e c t a n e a s f e i t a s p o r p e r s o n a l i d a d e s a n t e

-r i o -r e s , c o m o S a m u e l P e p y s ( 1 6 3 2 - 1 7 0 4 ) e A n t h o n y W o o d ( 1 6 7 6 )

p o r e x e m p l o , e a i n d a d e m i s c e l a n e a s , t a n t o m a n u s c r i t a s q u a n t a

i m p r e s s a s , q u e a t e s t a m a p e r m a n e n c i a d e u m a t r a d i c a o p o u c o

d i v u l g a d a , h e r d e i r a d o s c a n c i o n e i r o s - garlands e miscellanies

- e l a b o r a d o s d u r a n t e 0 p e r i o d o r e n a s c e n t i s t a . C o n s u l t a n d o 0

i n d i c e d e Reliques e n c o n t r a m - s e r e f e r i d o s o s n o m e s d e S k e l t o n

( 1 4 6 0 ? - 1 5 2 9 ) t u t o r d o f u t u r o H e n r i q u e V I I I ; C h i s t o p h e r M a r l o w e

( 1 5 6 4 - 1 5 9 3 ) 0a u t o r d o Fausto; S i r W a l t e r R a l e i g h ( 1 5 5 2 - 1 6 1 8 ) 0

p o e t a - c o r s a r t o , a m i g o d e S p e n s e r e S i d n e y ; S h a k e s p e a r e ( 1 5 6 4

-- 1 6 1 6 ) ; D r a y t o n ( 1 5 6 3 -- 1 6 3 1 ) ; S a m u e l D a n i e l ( 1 5 6 2 -- 1 6 1 9 ) ; o u o s

p o e t a s e d r a m a t u r g o s B e a u m o n t ( 1 5 8 4 - 1 6 1 6 ) e F l e t c h e r ( 1 5 7 9

-- 1 6 2 5 ) ; o u s e j a , t o d a a g e r a c a o d e f i n a l d e q u i n h e n t o s q u e t e r n

c o m o d e s i g n i o p r i m e i r o a f u n d a c a o d e u m a l i n g u a v e r d a d e i r a

-m e n t e n a c i o n a l p e l a r e a b i l i t a c a o d o v e r n a c u l o , a d e f e s a d a s

q u a l i d a d e s p r o s 6 d i c a s d o I n g l e s f a c e a s m e t r i c a s c l a s s t c a s , e n f i m ,

(18)

o

R om anceiro: da pratica itInovacao teorica

17

m atu rid ad e

d a su a lin g u a, p elo q u e eles p r6 p rio s reco rrem

a

p ro m o cao d e tex to s alh eio s m ais an tig o s, P ercy d en o m in a esses

au to res d e o s

PONMLKJIHGFEDCBA

n o s s o s p o e t a s

EDCBA

c l a s s i c o s

p o r o p o sicao ao s "classtco s"

p ro p riam en te d ito s d a A n tig u id ad e G reco -L atin a, m as m o stra

tam b em q u e estes p o etas reco rreram , e fo ram in sp irar-se,

a

trad icao o ral.

P o r su a v ez, W alter S co tt cita

0

ex em p lo d e S h ak esp eare e

tran screv e lo n g o s p asso s d e S p en ser. E m b o ra p ara si

0

secu lo

X V I seja

0

m arco d o p rin cip io d a d estru icao d e u m a cu ltu ra,

afirm a-o co m o u rn m o m en to d e co m p o stcao , reg tsto e in teresse

g en u in o p elas m ais an tig as p ro d u co es em v ern acu lo : N o

s e c u l o

X V I,

e s t e s c o n t o s

do

n o r t e p a r e c e m t e r s i d o p o p u l a r e s m e s m o

em

L o n d r e s 7 .

L o ck h art, em b o ra d esco n fie q u e a an tig u id ad e p reten d id a

p elo s can cio n eiro s e in ferio r

a

q u e d e facto p o ssu em , so co rre-se

ab ertam en te d estes e d e ro m an ceiro s -

p o r in term ed io d e D iep

-p in g -

e, n o seu co n fro n to d e trad ico es, atrib u i

a

p rim eira

co lectan ea a d ata d e 1 5 1 0 .

T am b em G arrett

~a

m u ita aten cao ao s au to res d o R en

asci-m en to , easci-m b o ra, d e u rn asci-m o d o p ecu liar, o s en care asci-m ais co asci-m o o s

rep resen tan tes

d e u rn fin ald a

Id ad e M ed ia, p o r n ao terem

ap o iad o a in v asao d as fo rm as italian as n em ad o p tad o as estru

-tu ras estran g eiras q u e g rassam n o p erio d o . E sco lh e B ern ard im

R ib eiro e G il V icen te co m o ex em p lo s d e u m a v erd ad eira trad icao

p o rtu g u esa n ao "co rro m p id a" p elo s m o d elo s im p o rtad o s, ten d o

m esm o u sad o rim an ces d esses au to res n u m a terceira p arte d o

seu

R o m a n c e i r o .

S erv e-se ain d a d e can cio n eiro s -

0

d o C o leg io

d o s N o b res, m as p rin cip alm en te

0

d e G arcia d e R esen d e (seu

e v a n g e l h o

em d ad o p asso ) co m o p o n to d e referen cia.

D esco b re-se, p o is, u rn in teresse

co m u m p o r u rn p erio d o

fu n d am en tal p ara

0

d esen cad ear d a reflex ao d estes ro rn an tico s.

H a u m a

sem elh an ca

d e tn q u ietaco es

e u m a

reco rren cia

d e

o b jectiv o s q u e se rep ete co m tres secu lo s d e in terv alo . E , ap esar

(19)

1 8 H e l e n a

gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

B arbas

so b re 0 esfo rco d o s h o m en s d o p assad o , e a m esm a m o tiv acao

p ro fu n d a q u e o s o rien ta: en co n trar u rn m o d elo q u e se su b stitu a

ao s d a A n tig u id ad e G reco - L atin a. E sta d em an d a fo i teo ricam en te

o rien tad a n o caso In g les, m as, em A lm eid a G arrett, e m ais u rn

d o s v islu rn b res d a su a In tu icao g en ial.

A ssirn , e a p artir d o s d esig n io s in d iv id u ais, d etectam -se p elo

rn en o s tres asp ecto s tam b ern co m u n s q u e, n o en tan to , tern a

p articu larid ad e d e p erm itir m arcar as d iferen tes p ersp ectiv as: 0

in teresse p elo s au to res d o p assad o e a su a fu n cao face ao p u b lico ;

a relacao en tre o s tex to s ro m an cistico s e a h isto rla, literarla o u

n acio n al; as d istin tas fo rm as d e ab o rd ag em d esses p o em as

lev ad a a cab o p o r cad a u rn d o s au to res q u e, em u ltim a tn stan cia.

p erm item d esco rtin ar 0p rin cip io d e u m am eto d o lo g ia n o trata-m en to d a literatu ra o ral e tracio n al.

A p reo cu p acao co m 0 fin al d o secu lo X V I p artilh ad a p o r tao

d iv ers o s au to res o b rig a a u rn b rev e reex am e d as p rin cip ais

q u esto es lev an tad as n aq u ele m o m en to , b em co m o ao v erificar d a

su a co n tin u id ad e ate ao secu lo X V III e, m ais ain d a, ao atestar d a

su a actu alid ad e n o s p refacio s ro rn an tico s.

1.2.1 No

EDCBA

R a s t o

das

P r e o c u p a c o e s R e n a s c e n t i s t a s

C o m o p rim eiro s rep resen tan tes d a g eracao ren ascen tista

in g lesa referem -se o s n o m es d e S ir P h ilip S id n ey (1 5 5 4 -1 5 8 6 ) e

E d m u n d S p en ser (1 5 5 2 -1 5 9 9 ), au to res q u e se relacio n am p ela

sern elh an ca d e id eias, esco las, p ro fesso res e v tag en s p o r E sp

a-n h a e Italia. 0 p rim eiro , m ais p ela su a activ id ad e teo rica, 0

seg u n d o , p ela su a p ratica d e escrita - esp ecialm en te em F a e r i e

Q u e e n e (1 5 9 0 ) -, p reten d em lev ar a cab o a fu sao d e to d as as trad ico es d e v u lto n o seu tem p o - a G reco -L atin a, d o m esm o

m o d o q u e a H eb raica e ain d a as d o s v ern acu lo s seu s co n tem p o

(20)

o

R om anceiro: da pratica itinovacao teorica 19

num a cam panha m ais vasta de prom ocao particular da rainha

com o D iana/ A streia, poe-se ao servico de um a poIitica im perial.

Isabel I, tam bem cham ada de

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

g l o r i a n a : . . . d e v e r i a s e r p a r a 0s e u

p r o p r i o p a i s 0 q u e 0 C i d f o r a p a r a E s p a n h a - 0 t i p o da g l o r i a i n g l e s a .8 Spenser tenta reconstituir a im agem da cavalaria m

e-dieval - de acordo ainda com exem plo da tradicao iberica,

pre-quixotesca, portanto - e transpo-la para a sua epoca,

dan-do-lhe corpo na nobreza viva de Inglaterra. Para isso recorre a

tradicao rom anesca que, segundo M . H . Percival, ultrapassa a

forca m ais evidente da sua alegoria: ...a q e l o da

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

a l e q o t i a q u e p o d e

t e r e n t o t p e c i d o a i t n a q i r i a c a o d o I e i t o r , d e s a p a r e c e i n s i a n t a n e a

-m e n t e p e r a n t e a b r i l h o d o r o m a n c e em T he Fairie Q ueene.9 A inda

de acordo com este estudioso, e detectavel a influencta de varios

tipos de rom ance: os arturianos, os carolingeos, os

pseudoclas-sicos, m as tgualm ente os portugueses e castelhanos. O s rom

an-ces arais e escritos sao aqui definidos com o historias de

aventuras e fugas, inicialm ente contadas pelos guerreiros

prota-gonistas as suas fam ilias em m om entos de lazer. Justifica-se a

passagem do trabalho de recitacao para os m enestrels por urn

aum ento do num ero de com postcoes: assim terao aparecido a s

bardos C eltas de G ales e da B retanha, os trovadores norm andos

e jograis da l a n g u e d 'o i l ; os h e l d e n s t u i q e r do M edio A lto alem ao, os s c a l d s da E scandinavia. os k a v i s da india m edieval, os jograis

da E spanha crista e os s h a ' i r s dos m ouros espanhois, N o que

respeita a Iinguagem , Spenser arcaisa de m odo a concordar com

a cavalaria do passado a que recorreu. E stes anacronism os de

vocabulario, pronuncia e sintaxe levam a que seja condenado por

alguns dos seus contem poraneos. D iz B en Jonson: S p e n s e r , a a

i m i t a r a s a n t i g a s , n a a e s c r e v e u em l i n g u a n e n h u m a .l O E Sam uel D aniel interpela-o num poem a: D e i x a q u e o u i r o s c a n t e m c a v a l e i r a s

ep a l a d i n o s / C a m e x p r e s s o e s a n t i g a s ep a l a v r a s s e m t e m p o . . .11A

pe-sar de um a excessiva elaboracao, Spenser aspira a ser didactico

e cum prir com os preceitos registados pelo seu am igo Sidney em

(21)

20 Helena Barbas

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A P o e s i a , p o r t a n t o ,

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e

u m a a r t e de i m i i a c a o , p o r q u e a s s i m a

d e f i n i u A r i s t o t e l e s com a s u a p a l a v r a m i m e s e , q u e q u e r d i z e r u m a r e p r e s e n i a c a o , u m a c o p i a ; ou u m a j i q u r a c a o - o u , m e t a -f o r i c a m e n t e , u m a i m c p e m f a l a n t e - q u e t e m p o r o b j e c t i v o

e n s i n a r e d a r p r a z e r . 1

Sera a intencao didactica que vai tam bem alim entar 0

inte-resse pelo vernaculo, pois 0 ensino pretende ser m inistrado aos

desconhecedores do

grego

e latim . Sidney defende a m aturidade

da lingua inglesa, e e por este aspecto revolucionario que A n

A p o l o g y se dem arca de outros textos seus contem poraneos com o

T h e A r t e o f E n g l i s h P o e s i e de G eorge Puttenham :

. . . d e m a s i a d a s c o i s a s a b o r r e c e m e sdo e x c e s s i v a s p a r a 0 o u v i d o , a ndos e r q u e s e j a m c a n t a d a s em p e q u e n a s m u s i c a s p o p u l a r e s p o r e s s e s cantabanqui, q u e s o b e m a o s b a n c o s e t o p o s de b a r r i s o n d e ndot e m o u t r a a u d i e n c i a sendo os c a m p o -n e s e s q u e p a s s a m p o r e l e s n a r u a , oue n t a o p o r h a r p i s t a s c e g o s ou o u t r o s c o m o os m e t i e s t r e i s d a s t a b e m a s q u e o f e r e c e m um d e s m a i o ou u m a a l e g r i a p o r p o u c o s t o s t o e s . as seus a s s u n t o s

sdo, n a m a i o r p a r t e , h i s t o t i a s de t e m p o s a n t i g o s c o m o 0c o n t o

de Sir T opas, a s n a r r a t i v a s de B evis de Southam pton, de G uy

de W arw ick, A dam B ell e de C lym m e da R avina e o u t r o s q u e

t a i s . V e l h o s r o m a n c e s o u p o e m a s h i s t o t i c o s . f e i t o s dep r o p o s i i o p a r a a r e c r e a c a o d a g e n t e v u l g a r n a s c e i a s de N a t a l ou de n u p c i a s , n a s t a b e m a s e c e r v e j a r i a s ou o u t r o s l u g a r e s m a l f r e q u e n t a d o s . T a m b e t r i sdo u s a d o s em l o a s e concoes de r o d a , e em p o e m a s l e v e s ou l a s c i v o s , q u e sdo d i t o s com m a i s f a c i l i -d a -d e n a s p e c a s de t e a t r o p o r e s t e s b u f o e s e i m o r a i s doq u e p o r

q u a l q u e r o u t r a p e s s o a .

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

1 3

A poesia oral sai c1aram ente negativizada, e os seus

auto-res /transm issoauto-res sao pejorativam ente cham ados de s a l t i m b a n

-c o s e bufoes, acusados de im oralidade. C hegando ainda ao ponto

de criticar indirectam ente Shakespeare e directam ente a

prose-dia de urn C haucer. Puttenham defende um a (im possivel)

trans-posicao directa das regras de m etrificacao classica para a lingua

inglesa. A taca Sidney, que reconhece ao Ingles um a

especiflcida-de prosodica e poetic a propria, sem elhante

a

de qualquer outra

(22)

o

R om anceiro: da pratica Iiinovacao teorica

21

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

. . . p a r a a d o c e e a p r o p r i a d a e l o c u c a o d o s c o n c e i t o s d a

m e n t e , q u e

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e o o b j e c t i o o d a p a l a v r a , e l a f a l i n g u a i n g l e s a ] e i d e n i i c a a q u a l q u e r o u t r a l i n g u a n o m u n d o ; eep a r t i c u l a r m e n t e

J e l i z em c o t n p o s i c o e s de d u a s ou t r e s p a l a v r a s j u n t a s , p r o x i m a

doG r e g o , m u i t o m e l h o r doq u e 0L a t i m : 0q u e

e

u m a d a s m a i o r e s b e l e z a s d a l i n g u a g e m .

f . . . ] V e r d a d e i r a m e n t e , 0i n q i e s , m a i s do q u e q u a l q u e r o u t r a l i n g u a v u l g a r q u e eu c o n h e c o ( i t a l i a n o , a l e m a o , [ r a n e e s . e s p a -n h o l ) e a p r o p r i a d a p a r a os d o i s t i p o s : f v e r s i f i c a ( : a o a n t i g a e

14

m o d e m a ] . . .

Se 0Ingles

e

colocado a par das outras linguas, sejam antigas

au vulgares, natural

e

que se

nao

condenem nem a literatura em

vernaculo nem as barbarism os:

C e r t a m e n t e , d e v o c o n J e s s a r a m i n h a p r o p r i a b a r b a r i e , p o t

-q u e n u n c a o u v i a v e l h a c a n ( : a o de Percy e D ouglas s e m q u e 0

m e u com edo f i c a s s e m a i s c o m o v i d o do q u e p e l o s o m de u m a t r o m b e t a ; e n o e n t a n t o e c a n t a d a p o r um c e R o q u a l q u e r , c o m u m a v o z t a o r o u c a q u a o r u d e e 0s e u e s t i l o .1

A cancao a que Sidney se refere trata-se de T h e B a l l a d o j

C h e v y C h a s e que aparece em R e l i q u e s sob as suas versoes antiga e m oderna.

E m Sam uel D aniel, na sua D e J e n s e o j R h y m e escrita contra

O b s e r v a t i o n s i n t h e A r t o j E n g l i s h P o e s i e (1602) de T hom as

C am pion, encontra-se a m esm a posicao explicita de m odo bem

claro. Para Sam uel D aniel, a critic a de Spenser, a lingua inglesa

e

tam bem equivalente

Ii

grega, latina e restantes vernaculos:

Ee u m a m e l o d i a t a o n a t u r a l , et a o u n i v e r s a l , q u e p a r e c e t e r g e r a l m e n t e n a s c i d o com t o d a s a s nacoes do m u n d o , c o m o u m a e l o q u e n c i a n a t u r a l a d e q u a d a a t o d a a h u m a n i d a d e .1 6

A doptando um a postcao que poderia ser cham ada de

herde-riana a u a n t - l a - l e t t r e . D aniel vai alargar esta sua ideia

condenan-do abertam ente a diferenca entre nacoes cultas e barbaras,

afirm ando que todos as povos aprenderam par urn livro superior

(23)

22

Helena Barbas

EDCBA

m a i s i n t e r e s s a n t e s e a q u e l e e m q u e 0 a u t o r s e r e f e r e

a

l i t e r a t u r a

o r a l e t r a d i c i o n a l :

MLKJIHGFEDCBA

E n o q u e r e s p e i t a

a

R i m a ( q u e

e

u m a e x c e i e n c i a a c r e s c e n -t a d a a e s t e t r a b a l h o d e m e d i d a e H a r m o n i a , m a i s f e l i z d o q u e q u a l q u e r p r o p o r c a o q u e a A n t i g u i d a d e n o s t e n h a m o s t r a d o ) , d e v e a c r e s c e n t a r m a i s q r a c a e m a i s d e l e i t e d o q u e a q u e l e q u e p o d e s e r o J e r e c i d o p e l a s s i l a b a s p u r a s , q u a l q u e r q u e s e j a 0

m o d o c o m o e l a s p o s s a m s e r f o r c a d a s a c o r r e r n a n o s s a l e n t a l i n g u a . A s q u a i s [nmas], q u e r s e j a m d e r i v a d a s d e R i t m o o u d e

R o m a n c e , q u e e r a m a s c a n c o e s q u e o s B a r d o s e o s D r u i d a s u s a v a m c o m r i m a s , e p o r t a l e r a m c h a m a d a s R i m a n c e , c o m o d e J e n d e m a l g u n s i t a l i a n o s . 18

C o n f u n d e a s s i m , o u f u n d e , a e t i m o l o g t a d a n o c a o c h i s s i c a d e

r i t m o c o m a d e r o m a n c e . E s t e s e g u n d o t e r m o n a o s e r e f e r e a q u i a u r n t e x t o , m a s a u r n t i p o d e m u s i c a l i d a d e e s p e c i f i c a m e n t e a n g l o - s a x o m c a q u e t e r a , i n c l u s i v e , i n f l u e n c i a d o o s p r o p r i o s i t a -l i a n o s . D a n i e l a p r e s e n t a u m a i d e i a e v o l u t i v a d a l i n g u a g e m e d a l i t e r a t u r a q u e , e m b o r a s e j a u s a d a p a r a i n v e r t e r a s p r i o r i d a d e s h i s t o r i c a s e d a r a s u p r e m a c i a a o s e u p o v o , n o g e r a l , p o d e c o n s i d e r a r - s e b a s t a n t e m o d e r n a . E a s u a a c t u a l i d a d e r e v e l a - s e t a n t o m a i o r q u a n t o a f i r m a q u e P e t r a r c a (0 m o d e l o d e s g a s t a d o n e s t e p e r i o d o ) t e r a e l e p r o p r i o i m i t a d o a l g u e r n , e m a i s a i n d a q u a n d o e x a l t a o s p r i m o r d i o s d a l i t e r a t u r a i n g l e s a :

E n o e n t a n t o , a n t e s d e t o d o s e s t e s [ P e t r a r c a , T a s s o , B o c a c -c i o , P i c o d e l l a M i r a n d o l a , R e w c l e n , E r a s m o e M o o r e ] ,e m e s m o

n o t e m p o d e l e s , a n o s s a n a c d o n a o e s t a v a a i r a s n a s u a p o r c a o

d e e s p i r i t o e v a l o r , m a s c o n c o r r i a c o m o s m e l h o r e s d e t o d o e s t e m u n d o I e t r a d o ; v e j a m 0v e n e n i v e l B e d e , cujoj l o r i l e g i o d e c o r r e u h a m a i s d e m i l a n o s ; e A d e l m u s D u r o t e l m u s q u e v i v e u n o a n a

(24)

o

Romanceiro: da

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

pratica itinovacao teorica 23

Sam uel D aniel afirm a a m aturidade do Ingles, a sua

qualida-de face as linguas classicas e vulgares, e prova-o recorrendo as

producoes literarias m ais antigas que conseguiu encontrar

-textos anteriores ainda a invasao norm anda, pertencentes a urn

periodo em que predom ina a civilizacao anglo-saxonica de cuja

linguagem

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( o l d e n g l i s h ) deriva 0 Ingles. Socorre-se da m esm a

estrategia usada pelos autores subsequentes, seus conterraneos

ou nao, quando confrontados com a necessidade de encontrar

urn m odelo nacional (com a vantagem de apresentar um a

idiossin-crasia propria e viva) que substitua 0 oferecido pela A ntiguidade

C lassica.

Sera possivel estabelecer urn paralelism o relativo entre a

posicao destes autores ingleses, especialm ente Spenser e Sidney,

e 0 que se passa em Portugal pela m esm a epoca, se forem tidos

em conta os assuntos que preocupam os cham ados gram aticos.

D estaca-se a figura de .Joao de B arros que, a sem elhanca de

Sidney, procura reabilitar 0 vernaculo, e com o Spenser, usa a

tradicao do rom ance na sua C r o n i c a do I m p e r a d o r

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C l a r i m u n d o ,

proxim a de T h e F a i r i e Q u e e n e na m edida em que, para alem das

m arcas cavaleirescas, em prega urn m aravilhoso discreto, entre 0

sirnbolico e 0m agtco-astrologico, tam bem com urn intuito

pro-pagandistico centrado na figura real- no caso, D . M anuel!.

M as, a partir daqui, a distancia entre 0 pensam ento

portu-gues e Ingles aum enta consideravelm ente, em bora a evolucao

anglo-saxonica tenha tido com o urn dos seus pontos de partida

os D escobrim entos portugueses.

O s autores citados pertencem a urn periodo de transform acao

que vem a ser considerado com o 0m om ento de ruptura cultural

m ais im portante para 0 O cidente: tanto os D escobrim entos

m aritim os quanta a N ova Filosofia da revolucao cientifica

desen-cadeada por B acon (1561-1626) provocam um a m udanca tao

profunda no conceito de real que os seus efeitos se vern a fazer

(25)

24

Helena Barbas

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

1 .2 .2 0

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

N o v o P a r a d i g m a

e

a M i m e s e

d e

U m a N a t u r e z a Q u e

M u d o u

d e

S e n t i d o

Sidney e Spenser sac os representantes

da concepcao

neo-plat6nica cabalista crista -

que tern

0

seu expoente em John

D ee,

0

astrologo e m ago de Isabel I, de quem foram alunos. E sta

form a de pensam ento

fundam enta-se

na ideia de urn m undo

hannoniosam ente

planificado, tendo por base um a hierquizacao

do sistem a aristotelico. tal com o fora reelaborado no circulo dos

M edici em Florenca por M arsilio Ficino (1433-1499) e Pico della

M irandola (1463-1494). E ste cosm os, equilibrado e m esm o de

estrutura

geom etric a -

recordem -se os diversos circulos

concen-tricos

de

A D i v i n a

C o

m e d i a -

perm ite

que se estabelecam

hom ologias e correspondencias,

correlacoes entre

0

m undo do

alto -

0

das Ideias, dos A rquetipos e das E ssencias -

e

0

do

baixo -

0

m undo terrestre, funcionando

0

hom em com o

inter-m edlario,

0

elo de ligacao entre am bos.

C om

0

avanco das descobertas cientificas -

balizavel entre

C opernico (1473-1543) e K epler (1571-1630) -,

com a continua

exploracao do globo, altera-se a cosm ovisao vtgente.

0

constatar

da existencia de outras terras com outras gentes vivendo de m odo

diverso, perturba a posicao do hom em no m undo, m inim iza

0

seu

papel. A m udanca de cosm ovisao vai ter repercussoes

em todos

os cam pos da actividade hum ana, afectando tanto a relacao dos

hom ens entre si quanta a sua posicao face ao divino. T

ransfor-m ad a a nocao de sagrado tornaransfor-m -se flutuantes as suas fronteiras

face ao profano, eo sentido da religiosidade que ate entao presidia

a

ciencia e gradualm ente expulso dessa area. Para tal vai

contri-buir grandem ente

a especulacao

de Francis B acon,

0

fil6sofo

Ingles que usa os D escobrim entos m aritim os com o m etafora nas

suas propostas para urn novo m etodo de aceder ao conhecim ento

-

e cujos ensaios se encontram entre

0

esp6lio bibliograftco de

(26)

o

R om anceiro: da pratica

a

inovacao teorica

25

E

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e s t a c a p a c i d a d e n a n a u e q a c a o e d e s c o b e r t a s p o d e t a m -

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

b e m .g e r a r a e x p e c t a t i v a de u m a m a i o r c a p a c i d a d e e a u m e n t o

de t o d a s a s c i e n c i a s ; (. . .) com o se a a b e r t u r a e p a s s a g e m de

u m l a d o a o o u t r o do m u n d o e 0 a u m e n t o do c o n h e c i m e n t o e s t i v e s s e m m a r c a d o s p a r a a c o n t e c e r e m n a m e s m a e p o c a .2 0

A principal consequencia da sua nova classiftcacao das

cien-cias, e do desenvolvim ento do m etodo a que cham ou de indutivo,

reside na tnversao final dos term os ate entao predom inantes no

processo de aceder ao conhecim ento: subordina

0

conceito

a

corroboracao dos dados dos sentidos, a teoria a ser confirm ada

e garantida pela observacao sensorial. A pos seculos de predom

i-nancia conceptual, e urn pequeno periodo em que

0

equilibrio

entre os m etod os dedutivo e indutivo e alcancado, descam ba-se

para

0

polo que da preferencia

a

relacao com

0

lado sensivel e

m aterial das coisas, a experim entacao do futuro em pirism o.

C om o segunda consequencia, e em resultado da passagem do

verdadeiro para

0

cam po do natural e do sensivel,

0

conceito de

R eal m uda de referente:

0

R eal deixa de, platonica ou

aristoteli-cam ente, pertencer ao m undo

das Ideias ou das E ssencias,

pas sando a ser propriedade do m undo m aterial circundante. A s

hom ologias nao sao m ais possiveis; descentralizada

face ao

universo, a terra rouba ao hom em a sua dignidade

antropocen-trica; desaparecendo as rupturas qualitativas que distinguiam

0

cam po do sagrado do cam po do profano ou infernal,

0

espaco

geograftco torna-se hom ogeneo: a filosofia desliga-se da teologia

e as ciencias naturais ja nao indicam

0

cam inho em direccao ao

divino. C om as descobertas

pendulares

m uda-se

tam bem

a

m edida do tem po, que ultrapassa os ciclos naturais dados pelos

m ovim entos dos astros, e e agora com pass ado por m aquinas

-a brevid-ade de um -a vid-a torn-a-se m ensur-avel pelo interv-alo entre

os pontos que m arcam

0

percurso de urn ponteiro.

A revolucao cientifica (que so

chega

a Portugal pelo m enos

dois seculos m ais tarde), junto com a tendencia m aterializante

da ciencia -

que podem ser entendidas com o a passagem de um a

(27)

destrui-26

Helena Barbas

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

cao da harm onia c6sm ica e a ruptura das correspondencias. A

passagem do real para 0 cam po do sensivel poe fim a um a era: 0

sagrado, essencial, arquetipico e Ideal profaniza-se, torna-se

identico ao fisico e sensorial, sendo destruidas as oposicoes que

os instituiam - 0M odelo m ultiplica-se, torna-se m aterial,

con-creto e plural.

It

especialm ente na prim eira m etade do seculo X V III que os

efeitos desta m udanca de cosm ovisao se com ecam a fazer sentir.

M esm o os grandes nom es que se esforcam por unir a filosofia da

N atureza com a do E spirito - com o urn L ocke (1632-1704) ou

N ew ton (1642-1727) - nao conseguem im pedir a rapida

deca-dencia dos grandes sistem as de tnspiracao cartesiana. T ornam

--se, tam bem eles, testem unhas daquela separacao radical que

vem a dom inar 0pensam ento posterior. N ew ton divide-se entre

as form ulacoes da sua fisica, a que cham a ainda filosofia natural,

e urn m isticism o m uito pr6prio que 0im pede de aplicar as suas

reflexoes m et6dicas as doutrinas sobre as realidades espirituais.

L ocke busca a afinidade entre 0 espirito e 0m undo da m ateria

representado na teoria da atraccao universal, m as a sua filosofia

do espirito surge desligada do desenvolvim ento paralelo e

con-ternporaneo das m atem aticas e fisicas - de B oyle (1627-1691) e

N ew ton, por exem plo. L im ita-se, pois, a usar 0m odelo da

natu-reza revelado por N ew ton com o um a m etafora irnaginada pelo

espirito, com a ilusao de ter obtido, no seu cam po, urn exito tao

redundante quanto 0alcancado pelas ciencias naturais. A pesar

da constatacao da im possibilidade de hom ologlas e

correspon-dencias, a estrutura das m entalidades funciona ainda de acordo

com essa hip6tese - perm anece ligada a ideia de M odelo.

A visao em piric a e sensacionista im poe-se com a sua

preten-sao de que todo 0conhecim ento e adquirido pela expertencia dos

sentidos. D este m odo, todos os individuos terao acesso ao

conheci-m ento que deixa de ser pertenca de uns poucos, inspirados ou

fil6sofos. E sta form a de conhecer im plica a individualidade, esta

(28)

o

Romanceiro: da

edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

pratica itInovacao teorica

27

O scila-se, entao, entre um a pratica que defende a m ultiple e

m ultim odo e um a teoria (au ausencia de teoria) cujos conceitos

estao ainda ligados a urn m om enta epistem ologico anterior, cheio

de certezas e segurancas. N ao ha urn vocabulario adequado para

dizer a novo pensam ento e, porque as term os usados sao as

m esm os, as novas ideias sao definidas par palavras anttgas,

C om a alteracao epistem ologica toda um a serie de conceitos

vacila, as term os m udam de sentido, au hesitam entre dais

significados incom pativeis. Presente a nivel da teorizacao

artis-tica em geral, a desfasam ento entre signiftcante e significado e

m ais claro no cam po da critica literaria e sera consequencia do

usa de um a term tnologia propria ainda da velha retorica quando

as conceitos subjacentes estao ja m inados pela nova filosofia. Par

outras palavras, encontra-se a usa de term os directam ente

liga-dos a um a arte baseada na ideia de M odelo no m om enta em que

esse m odelo deixou de existir.

Sem m odelo - arquetipico au outro -, as artes, em especial

a poesia, terao de procurar urn substituto para as valores m orais,

politicos e religiosos que as suas antigas D efesas e Poetic as

usavam com o base. R eduzida ao cam po do quotidiano, a arte

perde a sua ja degradada relacao com a sagrado e, com ela, a sua

furicao didactica passa a m eram ente ludica, au pelo m enos sem

responsabilidades au obrigacoes. A situacao e paradoxal de

varies m odos. Par urn lado, m antem -se fundam entalm ente as

preconceitos, im utaveis desde a Idade M edia, de que a funcao do

artista e a de instruir a leitor - com m aior au m enor deleite

-sabre a estrutura m oral do cosm os. E sta e a posicao de urn M ilton

(1608-1674) au urn D ryden, par exem plo, e tam bem , em bora de

m odo m enos crucial, a de Sw ift (1667-1745) e de Pope

(1688-1744). Par outro lado,

a

sernelhanca do que Sam uel Jonhson

(1709-1784), unico sobrevivente classico ate m eados do seculo,

disse de Shakespeare, a artista continua a apresentar urn

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e s p e l h o

(29)

28 Helena Barbas

VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

P e r m a n e c e , e n t a o , a i d e i a d e q u e a a r t e e i m i t a c a o , m i m e s e , m a s a m i m e s e d e u m a n a t u r e z a / r e a l q u e m u d o u d e s e n t i d o . . J a n a o e a r e f l e x o d e u r n p l a t o n i c a a r q u e t i p o , n e m d a a r i s t o t e l i c a n a t u r e z a t a l q u a l d e v e r i a s e r , m a s t r a n s f o r m o u - s e n a n a t u r e z a d o p r o p r i o h o m e m , c o m o e x p l i c a J o h n D e n n i s , e m 1 7 0 1 :

Mas

HGFEDCBA

a n t e s q u e a v a n c e m o s , d e i x a i - n o s d e f i n i r 0 q u e

e

a P o e s i a ; e s t a

e

a p r i m e i r a v e z q u e u m a d e f i n i c a o d e s s a n o b r e

a r t e e s t a a s e r d a d a : p o r q u e n e m os c r i t i c o s a n t i g o s n e m os m o d e m o s d e f i n i r a m a P o e s i a emg e r a l .

P o e s i a , entdo.

e

u m a i m i t a { : a o d a N a t u r e z a , p o r umd i s c u r s o p a i e t i c o e a b u n d a n t e . P a s s a m o s a

explicar.

C o m o a P o e s i a

e

u m a A r t e , t e m d e s e r u m a i m i i a c a o d a N a t u r e z a . Q u e 0 i n s t r u m e n t o c o m 0 q u a l f a z a s u a i m i i a c a o e 0

d i s c u r s o , n d o p o d e s e r r e J u t a d o . [ . . .J Q u e a d i s c u r s o , p e l o q u a l a P o e s i a f a z a s u a I m i i a c a o , t e m q u e s e r p a i e t i c o .

e

e v i d e n t e ;

p o r q u e a P a i x a o e - i h e a i n d a m a i s n e c e s s a r i a d o q u e a H a r m o -n i a . P o r q u e a H a r m o -n i a a p e n a s d i s t i n g u e 0 s e u i n s t r u m e n t o d o

d a P r o s a , mas a P a i x a o d i s t i n g u e a s u a v e r d a d e i r a N a t u r e z a e

Caracter.

P o r q u e a s s i m , a P o e s i a e P o e s i a , p o r q u e

e

m a i s A p a i x o n a d a e S e n s u a l d o q u e a P r o s a .2 1

N o e n t a n t o , e s t a m e t a m o r f o s e n e m s e m p r e e s t a c l a r a , h e s i -t a - s e a i n d a e n t r e n a t u r e z a e a r t e q u e a s e n s i b i l i d a d e d e u r n J o s e p h A d d i s o n p r e s s e n t e d i v i d i d a s :

3 . S e osp r o d u t o s d a n a t u r e z a a u m e n t a m d e v a l o r s e g u n d o a s u a m a i o r o u m e n o r

setnelhanca

c o m a s d a a r t e , p o d e m o s e s t a r c e r t o s d e q u e o s t r a b a l h o s a r t i f i c i a i s f i c a m m u i t o m a i s J a v o r e c i d o s

pela.

s u a

semelhanca.

c o m

aqueles

q u e sdo n a t u -r a i s ; p o r q u e a q u i a

semelhanca

e

ndo a p e n a s a q r a d a u e l , mas

o m o d e l o m a i s p e i f e i t o .2 2

(30)

o

R o m a n c e iro : d a p ra tic a itin o v a c ilo te o ric a

29

e q u e v a t in s titu ir 0 c o n c e ito d e o rig in a lid a d e (A d d is o n e Y o u n g ); a s e g u n d a , a irn ita c a o d o q u e ja fo i fe ito , a c o p ia d o s m o d e lo s d o s

a n ttg o s q u e , p o r m e lh o r q u e s e ja , e n q u a n to c o p ia , n a o te rn v a lo r

d e o rig in a l- A d d is o n , A d a m S m ith (1 7 2 3 -1 7 9 0 ). C o m o p rim e ira

c o n s e q u e n c ia , o s a n tig o s p e rd e m 0 s e u e s ta tu to s e m id iv in o d e h a b ita n te s d e u m a id a d e d e o u ro e to rn a m -s e s im p le s h u m a n o s

q u e , d e v id o a s u a s ttu a c a o h is to ric a , tiv e ra m a o p o rtu n id a d e d e

s e r o rtg in a is . G re g o s e la tin o s fic a m e m p e d e tg u a ld a d e fa c e a o s

a u to re s a n tig o s e m v e rn a c u lo n o q u e re s p e ita a o rig in a ltd a d e ,

g a n h a n d o o s s e g u n d o s p o r te re m s id o s u fic ie n te m e n te h a b e is

p a ra tra b a lh a r u m a lin g u a ru d e e p rim itiv a , a q u a l, s e g u n d o

Y o u n g , a p re s e n ta a in d a a v a n ta g e m d e s e r u m a lin g u a v iv a :

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

... E l e s [ o s

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

a n i i q o s ] , e m b o r a ndo s e j a m d ef a c t o o t i q i n a i s , s a o - t i o a c id e n ta lm e n te . O st r a b a l h o s q u e i m i t a v a m . c o ma l g u

-m a se x c e p c o e s , p e r d e r a m - s e . Ee l e s , c o m am o r t e d o s s e u s p a i s , t o m a v a m p o s s e , c o m oh e r d e i r o s I e q a i s , d a s s u a s p r o p r i e d a d e s

d e F a m a ...

A p e s a r d e t u d o , o sp r i m e i r o s a n t i g o s n d ot i n h a m q u a l q u e r m e r i t o p o r s e re m o r i q i n a i s : n d op o d i a m s e r i m i t a d o r e s ? 3

C o m o s e g u n d a c o n s e q u e n c ia , s e m m o d e lo e c o m e x ig e n c ia s

d e o rtg in a ltd a d e , a a rte p a s s a a e x is tir p o r s i. A u to n o m a fa c e a

u rn id e a l, n a o p o s s u i o u tro te rm o d e c o m p a ra c a o p a ra a le m d o

q u e th e

e

o fe re c id o p e lo m u n d o c irc u n d a n te , n e m s u p e rio r n e m e x te rio r a o p ro p rio h o m e m . R e s ta m -lh e d u a s s a id a s : m e d ir-s e

fa c e a s o u tra s a rte s d o p re s e n te o u d o p a s s a d o - c o m o 0m a is

s e m e lh a n te a s i d e n tro d o m u n d o s e n s iv e l; o u m e d ir-s e c o n tra

a s s e n s a c o e s q u e d e s p o le ta : 0 s e u e fe ito n o in te rio r d e c a d a

in d iv id u o , o u a m a n ife s ta c a o e x te rio r (n o p u b lic o ) d a e m o c a o

in te rio r e in d iv id u a l.

S e 0in d iv id u o

e

c o n s titu id o p e la s s u a s e x p e rte n c ia s e p e rc e p

-c o e s , a o b ra d e a rte s e ra u m a o u tra (o u m e s m a ) fo rm a d e

e x p e rie n c ia .A q u e s ta o d o s g e n e ro s tra n s fo rm a -s e n u m a q u e s ta o d e

c o m p o rta m e n to e s te tic o .P o e -s e0p ro b le m a d a c ria tiv id a d ee d o g o s to .

S u rg e e n ta o u rn d ile m a d u p lo : to d o s o s h o m e n s te rn s e n s a c o e s ,

(31)

30 Helena Barbas

dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e s te a p re s e n ta v a ria n te s . D a i q u e , e x is tin d o d ife re n c a s n a s c a

-p a c id a d e s d e c a d a in d iv id u o , s e p ro c u re ju s tific a r e s ta s itu a c a o ,

s e ja p e lo re c o rre r a d is p a rid a d e d o s e le m e n to s fis ic o s d a p ro p ria

c o n s tttu ic a o h u m a n a (m a io r o u m e n o r s e n s ib ilid a d e s e n s o ria l o u

p a s s io n a l), s e ja p e la in flu e n c ia d e e le m e n to s e x te rio re s (d e fic ie n

-c ia s d e e d u -c a -c a o e h a b ito s ). S u g e re -s e a p o s s ib ilid a d e d o g e n to ,

in a to e m Y o u n g , o u e d u c a d o e m S h a fte s b u ry (0

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

v i r t u o s o ) , m a s

s e m p re c o m o a q u e le c u jo fu n c io n a m e n to s e n s o ria l

e

s u p e rio r.

m a is a fin a d o q u e 0 d o h o m e m c o m u m .

S e ra n e s te d ile m a q u e v a n ra d ic a r a s d u a s v ia s , d e fin id a s p o r

C a rly le (1 7 9 5 -1 8 8 1 ), q u e s e rv e m d e m a rc a s a o m o v im e n to ro

-m a n tic o : u m a v ira g e m p a ra 0 in te rio r d o in d iv id u o , a te s ta n d o

u m a m a io r p re o c u p a c a o c o m a s s u a s e m o c o e s p a rtic u la re s (c u jo

e x c e s s o e s in a l d e s u p e rio r s e n s ib ilid a d e ), q u e te ria c o m o re p re

-s e n ta n te -s o s c h a m a d o s s e g u id o re s d a lin h a u i e r t h e r t a n a e c u jo e x e m p lo m a x im o

e

p e rs o n ific a d o e m L o rd B y ro n (1 7 8 8 -1 8 2 4 );

u m a a lte rn a tiv a v ira g e m p a ra 0 e x te rio r, d e m o n s tra n d o u rn

in te re s s e p e lo h o m e m e m g e ra l e p e lo s e u c ic lo d e v id a , s e ja

in d iv id u a l (a e x a lta c a o d a in fa n c ia e m W o rd s w o rth (1 7 7 0 -1 8 5 0 ),

p o r e x e m p lo J , s e ja c o le c tiv a , e x ib id a n o in te re s s e p e la s o rig e n s e

h is to ri a d o s h o m e n s e d a s n a c o e s , a lin h a q o t i c a ; re p re s e n ta d a e m W a lte r S c o tt.

1 .2 .3 A s F o n t e s d o M a r a v i l h o s o e d a P o e s i a P o p u l a r

E m q u a lq u e r d o s c a s o s ,

e

a p lic a d o 0e s q u e m a a s s o c ia c io n is

-ta , -ta n to a o h o m e m q u a n to a s s u a s a c tiv id a d e s , e , a p a rtir d a

id e ia m e c a n ic is ta d a t a b u l a r a s a , p o e -s e 0p ro b le m a d e ju s tific a r o m a ra v ilh o s o , a o rig e m d o s s e re s s u p ra o u in fra n a tu ra is d e s c

ri-to s e im ita d o s n a lite ra tu ra . A re s p o s ta e n s a ia d a p o r D ry d e n (e

p a rc ia lm e n te ro u b a d a a H o ra c io ] to m a -s e re g u la m e n ta r:

(32)

o

Romanceiro: da

dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

p ra tic a

a

in o v a c a o te o ric a 31

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

p o r q u e n e m d a C om e d i a e s t a a u s e n t e u m a p a r t e d e i m i i a c a o ,

e a q u e l e s q u e m e l h o r a j a z e m sdo c e r t a m e n t e o s m e l h o r e s d e n t r o d o s e u q e n e r o . [...J M a s c o m o s e p o d e m i m a g i n a r a s f i c c o e s p o e t i c a s , c o m o s e p o d e m i m a g i n a r o s a n j o s e s u b s t a n

-c i a s i m a t e r i a i s , a l g u n s d o s q u a i s sdo c o i s a s p o u c o n a t u r a i s ,

o u t r a s d a s q u a i s n a o p o d e m o s t e r q u a l q u e r n o r ; a o ? [...

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

J A r e s p o s t a e j a c i l p a r a a p r i m e i r a p a r t e : af i c c a o d e a l g u n s s e r e s

q u e n d o e x i s t e m n a n a t u r e z a ( a s s e g u n d a s n o c o e s, c o m o l h e s c h a m a m o s l o q i c o s ) t e m s i d o j u n d a d a n a j u n c a o d e d u a s n a t u r e z a s q u e , d ej a c t o , t e r t i e x i s t e n c i a . s e p a r a d a . A s s i m , o s

c e n t a u r o s j o r a m i m a g i n a d o s p e l a .j u n c a o d a s n a t u r e z a s d e u m

h o m e m e d e u m c a v a l o ; [...J0m e s m o p o d e s e r a l e g a d o p a r a a s Q u i m e r a s e 0r e s t o .Ea o s p o e t a s e d a d a i g u a l l i b e r d a d e p a r a d e s c r e v e r c o i s a s q u e d e j a c t o ndoe x i s t e m , d e s d e q u e j u n d a d a s n a c r e n r ; a p o p u l a r . D e s t a n a t u r e z a sdo a s j a d a s , o sp i g m e u s ,

e o s e f e i i o s e x t r a o r d i n a r i o s d a m a g i a ; p o r q u e

e

a i n d a u m a i m i i a c a o , e m b o r a d e c o i s a s i m a g i n a d a s p o r o u t r o s h o m e n s : a s s i m s e p o d e m d e j e n d e r T h e T e m p e s t e M id s u m m e r N ig h t's D re a m d e S h a k e s p e a r e ea M a s q u e o f W itc h e s d eB e n J o n s o n .

N o q u e r e s p e i t a

a s

s u b s t a n c i a s i m a t e r i a i s , a s E s c r i t u r a s p e r -m i t e -m - n o s a s u a d e s c tic a o . E a q u i 0 t e x t o c o i n c i d e c o m a s a p r e e n s o e s c o m u n s , a o d a r a o s a n j o s a p a r e c e n r ; a d e b e l o s j o v e n s . A s s i m , s e g u i n d o a s d i v i n d a d e s p a g d s , H o m e r o d e u f a c e s h u m a n a s a o s s e u s d e u s e s : e a s s i m t e m o s n o s a s n o c o e s d ec o i s a s s u p e r i o r e s a n o s , d e s c r e v e n d o - a s d e m o d o i d e n i i c o a o u t r o s s e r e s m a i s d e n t r o d o n o s s o c o n h e c i m e n t o . 2 4

A n e c e s s id a d e d e e n c o n tra r a s n a tu re z a s p rim e ira s d o n d e

d e riv a m e s ta s c o m p o s ic o e s p o e tic a s fa n ta s tic a s c h a m a a a te n c a o

p a ra a s m ito lo g ta s a n tig a s , q u e v a n s e r a b o rd a d a s e s e p ro c u ra m

e s tu d a r a p a rtir d e u m a p e rs p e c tiv a q u e , a o te m p o , s e e n te n d e e

p re te n d e h is t6 ric a .

V a i d e p a r 0in te re s s e p e la s o rig e n s d o s m ito s c o m 0d o s m ito s

d a s o rig e n s , a h is t6 ria p rim e v a e n a o re g ista d a d o s p o v o s . C o m o

c a u s a , o u c o n s e q u e n c ia , e n c o n tra -s e u rn m a io r c o n h e c im e n to

d a s lin g u a s d o p a s s a d o q u e , e m p a ra le lo c o m 0a v a n c o d a s te o ria s

d a im a g in a c a o c ria tiv a , fo m e n ta m u rn c re s c e n d o d a s p rim e ira s

fo rm u la c o e s d a h is t6 ria m o d e rn a , q u e v e rn a c u lm in a r n o p e rio d o

(33)

32

dcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

H e le n a B a rb a s

V o s s iu s (1 5 7 7 -1 6 4 9 ) c o m e c a p o r d e s m o n ta r a g e n e a lo g ta

m itic a d e O rfe u a p a rtir d e b a s e s fls io lo g tc a s . J o s e p h T ra p p

(1 6 7 9 -1 7 4 7 ). u rn d o s p rim e iro s p ro fe s s o re s d a c a d e ira d e p o e s ia

fu n d a d a e m O x fo rd e m 1 7 0 8 . c o n s id e ra q u e a m ito lo g ia c o m e c a

p o r d e riv a r d o s s u p o s to s p rim e iro s a n o s d e fo rm a c a o d o g lo b o

te rre s tre (d a ta d o c o m c e rc a d e 5 .0 0 0 a n o s n a a ltu ra ) e d a p o e s ia

d o s h e b re u s o u d e o u tro s e s c rito re s p rim itiv o s s u fic ie n te m e n te

p ro x im o s d o in ic io d o s te m p o s . A c iv iliz a c a o h e b ra ic a

e

e s tim a d a

c o m o a in d a a n te rio r a g re g a e a la tin a . e a p o e s ia c o m o te n d o

n a s c id o c o m 0m u n d o - a p ro p ria c ria c a o d o u n iv e rs o s e ra u rn

a c to p o e ttc o d e D e u s . A s s trn , d e fe n d e a te s e d e q u e a p o e s ia

c o m e c a c o m J u b a l - 0 in v e n to r b ib lic o d o in s tru m e n to d e

m u s ic a , u rn d e s c e n d e n te d e A d a o q u e s e s u b s titu i a O rfe u . D e s te

m o d o . a p a s to ra l, p o r m a io r a n tig u td a d e , e a fo rm a p ro p ria d a

Id a d e d e O u ro , s e n d o m e s m o a n te rio r a T e o c rtto . p o is J a c o b e

R a q u e l ja a tin h a m u s a d o p rim e iro . M a s a s u a p o s tc a o m a is

c u rio s a e a d e q u e - a s e m e lh a n c a d o q u e s e ra d e fe n d id o p o r

H e rd e r. e d o q u e tin h a s id e a v e n ta d o p o r S c a lig e r - o s h o m e n s

s e m p re s o u b e ra m c a n ta r e . lo g o . a liric a e a fo rm a d e e x p re s s a o

m a is a rc a ic a . E s ta p e rs p e c tiv a d a h is to ria v e m a d e s e n v o lv e r-s e

c o m T h o m a s B la c k w e ll q u e - n a lin h a d e M o n ta ig n e (1 5 3 3 -1 5 9 2 )

e V ic o (1 6 6 8 -1 7 4 4 ) - s u s te n ta q u e id e ia s u n ifo rm e s n a s c e m

s im u lta n e a m e n te d e m o d o d e s c o n h e c id o e m e s p a c o s d is ta n te s

e n tre s i. P re te n d e p ro v a r q u e le is id e n tic a s p o d e m p re s id ir a

fo rm a c a o d a s n a c o e s s e m q u e . p o r ta l. e s ta s le is s e ja m d e v id a s

a ra c io n a lid a d e . P a ra e s ta in d u c a o s o b re a s tra d tc o e s d o p a s s a d o

re m o to V ic o u s a a s m ito lo g ta s p o p u la re s . o s p o e m a s m a is a n

ti-g o s , o n d e c o n s id e ra te r-s e in s c rito , e m b o ra d e m o d o d is fo rm e , a

h is to ria m a is re c u a d a d o s h o m e n s . E m 1 7 3 5 . B la c k w e ll e d ita a

s u a

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

I n q u i r y i n t o d e L i f e a n d W r i t i n g s o f H o m e r o n d e d iz :

See n i a o e x i s t e u m a r e l a c a o n e c e s s a r i a eir u iio u u s e i e n t r e 0

c a r a c t e r d e u m a n n c d o e a s u a l i n g u a g e m . d e v e m o s c r e r q u e

Referências

Documentos relacionados

- Toxicidade para órgãos-alvo específicos (STOT), a exposição repetida: Com base nos dados disponíveis, os critérios de classificação não são preenchidos, não

Tabela 6 - Pontos de acupuntura* utilizados no tratamento da infertilidade: fase lútea – tonificar o Yang do Rim mediante nutrição do Sangue. Objetivo do tratamento

Essencialmente, os conflitos encontram-se estabelecidos pela expansão da agropecuária em terras públicas ocupadas por camponeses posseiros, pela construção de barragens para

O Conselho de Administração é responsável pela preparação e apresentação das demonstrações financeiras anuais da Pan African Federation of Accountants

Interactions between Indometacin and Refocoxib ligands with therapeutic targets COX-2 (organism Homo sapiens). Compounds Aminoacid Distance (Å) Type Binding

No entanto, como a SDPF é uma afecção que se manifesta principalmente durante atividades dinâmicas, é essencial que se faça uma avaliação também do alinhamento

These authors developed the Child Oral Health Quality of Life (COHQoL), a set of questionnaires that aim to measure the impact of oral health abnormalities on the quality

Para esta tarefa escreva os cálculos que você fez para completar a tabela, observando a presença das variáveis e do coeficiente da variável, ou seja, aquele