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Transcrição Projeto de História Oral E: Entrevistador J: José Marcos Passos Valente

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Academic year: 2021

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Transcrição – Projeto de História Oral E: Entrevistador

J: José Marcos Passos Valente

E: Brodowski, 04 de outubro de 2018. Mais um entrevistado do Museu Casa de Portinari, Projeto de História Oral. Pra nós começarmos, eu gostaria que o senhor falasse o nome completo do senhor. J: José Marcos Passos Valente.

E: Perfeito. Sr. José Marcos, a idade do senhor.

J: hoje eu estou com 72 anos, bem vividos, graças a Deus. E: E o senhor mora em que endereço?

J: Eu moro aqui na Rua Walter Barreto da Costa, 55. É importante dizer que aqui tem dois números “55”, e eu moro em um deles. Essa rua tem dois números “55”.

E: Perfeito. Senhor é natural de onde, Sr. José Marcos?

J: Bom, documentalmente, eu sou natural de Ribeirão Preto. Minha mãe foi me dar à luz na Beneficência Portuguesa de Ribeirão Preto, porque aqui teve algumas dificuldades naquele tempo, as crianças nasciam por parto através de parteira, né. Eu tenho impressão que não houve nenhum... nenhuma forma de você poder usar a parteira, então eu nasci em Ribeirão Preto, e naquela época não havia nenhuma possibilidade de você pagar uma taxa de multa e se registrar aqui. Eu sou registrado em Ribeirão Preto, como natural de Ribeirão Preto. Sou filho de Brodowski, a cidade que me deu a luz, que me deu os primeiros ares, mas amo Brodowski de coração, como se tivesse nascido aqui. E passei a vida toda aqui.

E: E nesse tempo que o senhor viveu em Brodowski, nesse tempo de vida do senhor, gostaria que o senhor compartilhasse das memórias que o senhor tem da Brodowski Antiga. Como era Brodowski antigamente?

J: É, com 72 anos, a gente tem uma certa... um certo conhecimento, é... eu me lembro muito da eleição, por exemplo, do Rubens Santana, Prefeito Rubens Santana, e naquele álbum que ele fez, aí eu apareço lá de calça curta, botininha e suspensório! E Brodowski sempre centralizou politicamente, vamos assim dizer, em dois grupos, né. Aqui a gente sempre... Brodowski sempre andou de dois: era o Brodowski e o Bandeirante, era os Aleixos e os Ramos, e... na verdade, eu sou neto de um Aleixo e neto de um Valente, que era dos Ramos, eu não sei dizer ainda até hoje, como meu pai casou com a minha mãe! Porque a política era brava, era política dos coronéis, aquela coisa toda. Mas, o meu pai pediu a mãe da minha mãe e nós nascemos e convivemos mais ou menos bem, nessa luta aí, na vida. Depois eu estudei na Escola da Prata, da Fazenda da Prata, minha tia Anita, Ana Valente, irmã do meu pai, cujo nome é lá do PLIMEC, tem o nome lá do PLIMEC, ela foi professora na Escola Mista da Fazenda Prata e eu fiz lá o primeiro, o segundo e o terceiro ano com ela. E o gozado é que eu ia, viajava com ela de charretinha, e eu era... eu não tinha ainda a idade escolar, mas de repente, ela percebeu de tanto eu frequentar as aulas que eu já tava lendo. Então, ela me pôs com 6 anos e pouquinho, no primeiro ano e eu fiz até o terceiro ano. E depois o quarto ano, eu vim pra Brodowski. E o grupo escolar ainda era ali onde é a prefeitura. Quer dizer, e nesse tempo, já estava sendo construído o grupo escolar que hoje é chamado Tiradentes. E aí no segundo semestre, nós passamos pra lá, no quarto ano. E lá eu tirei o diploma do quarto ano. Quer dizer, na verdade, eu sou da primeira turma, uma das primeiras turmas de formandos do quarto ano do grupo daquela época, do Grupo Escolar de Brodowski, que depois passou a ser chamado de Grupo Escolar

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Tiradentes, porque era na Praça Tiradentes. Era uma praça aberta, né, com figueiras, a gente jogava futebol ali. Tinha um time de futebol ali, que chamava Tiradentes, como tinha aqui na Praça Portinari hoje, que era chamada Praça Humaitá e tinha o time chamado Humaitá, por causa da praça. Então, a gente jogava futebol nas praças, né. Bom, aí, eu... terminado o quarto ano, eu passei a fazer a admissão ao ginásio, com uma professora que era minha tia também, Dona Iracema, que hoje também é nome de escola aqui, Iracema de Oliveira Valente. Fiz o curso de admissão ao ginásio e entrei para a primeira série do ginásio, naquela época, no Colégio São José, de Batatais. Nesse mesmo tempo, estava se construindo aqui, onde é a prefeitura, hoje aquela parte mais escolar da prefeitura, em forma de escola, né, o Ginásio Estadual de Brodowski. Eu, no segundo ano, eu vim pra cá, saí do Colégio São José, na primeira série, e vim pra Brodowski, na segunda série, aqui nós tínhamos... era eu, o Bitinha, Zé Vitor de Mello, o Salomão Faroj Chodraui, que hoje é médico, em Ribeirão Preto e o Dr. Nestor, Nestor Ribas Filho, que também era meu colega de primeira turma de formandos, depois nós fomos até 1960 e somos da primeira turma de formandos de hoje, hoje o JASP, né, que é o meu bisavô, o nome do meu bisavô, José Aleixo da Silva Passos. E ali nós terminamos a nossa luta. Passamos aí depois pra fazer o científico, e do científico, eu fui pra Ribeirão, fiz contabilidade, no Lacerda, na Instituição Universitária Moura Lacerda, fiz três anos de contabilidade, e depois me preparei pra entrar na Faculdade de Direito Laudo de Camargo, e aí, depois de cinco anos, me formei advogado. Nessa luta toda, né, me casei, tive dois filhos maravilhosos, o Renato e a Rita, e entrei no SESI, no Serviço Social da Industrial, em Ribeirão Preto, trabalhei lá trinta anos, e me aposentei como diretor regional, do SESI. E assim então foi minha vida... escolar, né. Mas Brodowski tem algumas peculiaridades entre Brodowski e Bandeirante, é... e as coisas que aqui tinha de futebol era muito arraizado, tanto é que você tinha aqui o Bar do Padeirinho, onde ficava a turma do Bandeirante e o Bar do Honorato, onde é hoje a Ótica Brodowski, ali tinha o Bar do Honorato, onde se reunia o pessoal do Brodowski. Então, ficava, quando jogava o Brodowski e o Bandeirante, ficava aquela coisa toda [gesticulando]... e era uma situação muito interessante, porque, curiosamente, se tinha muito mais forma de divertimento do que hoje. Tá certo que o mundo mudou muito, as coisas mudaram muito, os costumes mudaram muito, né, a televisão influiu muito nessa coisa, né, tirou as pessoas da... não da rua, da praça, da conversa, da banda, que se tocava no coreto, da que a gente andava no jardim, né, os homens de um lado, as mulheres do outro, e ali você... esse footing da praça, é, surgiram dali vários casamentos e várias famílias, inclusive a minha, né, o pular, as crianças pulando em volta, no domingo, em volta da banda. Meu pai era o chefe da estação, meu avô foi chefe da estação, na época da política velha, era chefe da estação, e naquela época, professor, chefe da estação, o padre eram pessoas de autoridade, né, e toda e qualquer solenidade, você tinha na mesa a professora, o professor, o diretor do grupo, o chefe da estação, que eram coisas que sobressaíam, porque a linha do trem era um meio muito importante de comércio, né, as coisas eram transportadas pelo trem. Ainda as estradas eram muito ruins, eram. Você tinha aqui a estrada não asfaltada, que nós chamávamos de “reta”. “Cuidado, você vai pra lá... cuidado com a ‘reta’!”. A reta era porque... era uma reta, a estrada era uma reta. E, tudo era feito pela estação, o café era embarcado pra Santos, as produções aqui do... do Fabbri, dos guaranás, aquilo tudo era embarcado por trem... na estação. Ficava ali onde é a rodoviária hoje, ali era o armazém, o armazém de mercadorias, né, e o café, as mercadorias eram colocadas ali. Os ancorotes aqui do Sr. Geraldo de Oliveira, que vendia pra fora, eram colocadas... enfim, os produtos que eram... vamos assim... exportados da cidade pra outra cidade, era feito pela estação. E também na estação, uma coisa curiosa, é... recebia algumas mercadorias. Por exemplo, tinha um casamento aqui, então o chope, o gelo chegava de trem! E quantas e quantas vezes, a gente via chegar. Chegar o chope e o gelo enrolado nuns sacos de estopa, as pedras de gelo, com... me falha o termo... com... coisas de madeira... oh meu Jesus... bom... pra não desgastar... em pó de madeira e... em coisas... eu esqueci o termo...

E: Serragem?

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chegava o pessoal, o dono da festa, a família já passava a mão naquele gelo, e nos barris de chope que eram de madeira [gesticulando], né, quatro, cinco barris, pra poder levar para o casamento, pra festa. Então, essa é uma coisa interessante que muito chegava na estação. E depois foi se evoluindo, as estradas, né, aqui... foi sediada, na praça... na praça Portinari, que era aberta, tinha a Igreja Santo Antônio e o bocha, onde jogava bocha ali, né. E o resto era tudo praça. E eu morei em uma daquelas casas ali. Quando meu avô saiu da estação, que se aposentou, ele teve que dar lugar ao novo chefe, então ele veio procurar uma casa na cidade, e eu morei muito tempo com meu avô Valente. É... agente morou lá naquela casa onde é o restaurante do... Rocha. E ali, então, naquela praça, montou-se a Companhia de Asfalto que estava asfaltando a estrada, o primeiro asfalto que teve, a Companhia de Asfalto Genésio Gouvea, que também aproveitou, o Rubens Santana era prefeito, e ele aproveitou para que se asfaltasse o miolo da praça e em volta da praça, um pedaço, lá. E ele parou porque alguns munícipes não queriam pagar o asfalto, não quis fazer aquela coordenação, então, ele parou. E, depois veio o Amando Morando, com mais, mais coragem e passou o asfalto e os caras não queriam, as pessoas não queriam fazer o asfalto, ele falou, “Não, eu asfalto e depois mando a conta, senão pagar, eu executo!” [rindo]. E aí o asfalto foi pela rua do meio, que nós falamos, a rua Floriano Peixoto, se estendeu, mais ou menos, até o Brisotti, onde é o Comercial São Jorge, depois fechou ali, tinha a farmácia do Zé da Farmácia, na casa de cá, na esquina de cá, e aquela rua continuava impedida, né [gesticulando], e o asfalto foi até ali, até na virada, aliás, um pouco mais pra frente, passou em frente do Posto de Saúde, e foi na virada do ônibus, o ônibus virava ali, na Barão do Rio Branco. E a turma falava, “Lá no ‘Ganha-pouco’.”. Aí perguntavam, “Por que ‘Ganha-pouco’?”, não é do meu tempo, era mais pra trás... o “Ganha-pouco” porque ali onde é a farmácia do Sidnei, tinha uma casa de negócios ali. E ali tava escrito assim, “Aqui se ganha pouco!” [risos]. Então, ficou o apelido. “Ah, a rua foi até... o asfalto foi até lá o ‘Ganha-pouco’!”... aí viu, “Ganha-pouco”, “Ganha-pouco”, “Ganha-pouco”... porque ele fazia propaganda... um sírio muito... me parece que o Zé... José Sabino... acho que era o Zé Sabino... é... e... se não me falha a memória... ele falava “Aqui se ganha pouco”, então não falava “Aqui se vende mais barato”. “Aqui se ganha pouco.” – “Eu ganho, mas ganho pouco”. Então são essas peculiaridades, tem mais coisas que a gente lembra que... que acontecem, né, a praça, as remodelações da praça... não tinha mureta, era buchinho, um arbusto... era mais bonito, era mais natural, mas os buchinhos morriam, você tinha... dava muito trabalho pra podar... o Sr. Basílio! O Sr. Basílio que era o jardineiro da... da Prefeitura, que podava aquelas árvores, árvores redondinhas, né, ficava muito bonita, e podava os buchinhos que cercavam a praça, sempre podava quadradinho, mas aí como dava muito trabalho, porque morria, você tinha que repor, e aí, então, parece que o Amando Morando entrou e “trec”, cortou e fez a mureta, porque servia também pra todo mundo se sentar, né. Mas a praça sempre foi aquela ali, o coreto é que variou muito de cor, porque começou a vir um prefeito... era de um partido, depois outro partido, depois virava, punha outro... então, não se definiu muita coisa. E hoje, você pinta o coreto nas cores que você acha que deve ser. Mas, o coreto sempre foi... embaixo era... era cinza e em cima, ele era bege. Essa foi a cor que eu conheci, inicialmente. Depois, veio mudando de acordo com os interesses de quem era o inquilino da prefeitura no momento. Farmácias, farmácias... tinha nossa farmácia do Sr. Zé da Farmácia, que era na esquina do Brisotti, ali, na esquina de cá [gesticulando], hoje é uma loja de brinquedos. Tinha a farmácia do Sr. Milton, que era... depois o Sr. Zeferino comprou, onde hoje é ali na esquina, Farmácia Santa Helena.

E: Quem comprou?

J: O senhor Zeferino Orlandini. Ele teve seus filhos aqui, a Zelia é casada com um primo meu, que mora em Bertioga, o Mauro, filho do Zeferino foi prefeito três vezes de Bertioga, e hoje eles moram lá, Sr. Zeferino e a Dona Helia faleceram, e eles venderam a farmácia pra um irmão do Sidnei, pro Sidnei, que hoje tem a Farmácia Santa Helena ali. E só tinha essas duas farmácias. Ahm, tinha a farmácia... a farmácia do Milton e a farmácia do Zé da Farmácia, São José. Cinemas tinham dois: o Santa Amelia e o Cinema do Lopes, do Sr. Lopes que tinha também, uma banca de jogo do bicho. Naquele tempo, jogo do bicho era... era permitido. E, o cinema do Lopes era mais ou menos ali,

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entre... da padaria da Geni, tinha uma porta ali [gesticulando]... se você entrar ali, hoje, você vai ver um salão meio... é o salão do cinema. Era uma oficina... uma portinha com oficina, e agora eu não sei o quê que é ali. Aquilo ali pertence ao... ao Scozzaffave, ao Carlinho Scozzaffave. Mas ali era o cinema do Lopes e o Cinema do Carlos, que é o Santa Amelia. E os... lá no Salão Paroquial, vizinho da casa do Luiz Antonio Izinato, tinha o Cine Santo Antônio, que era da Igreja, que passava filmes religiosos... mas não era com muita frequência. Os dois cinemas de cá, da Rua Floriano Peixoto, é que tinham uma programação mais... mais constante. Domingo... Sábado e domingo. Primeira sessão, no domingo, a primeira sessão e a segunda sessão. E se fazia uma certa concorrência, ficavam na porta, anunciando e tal. Filmes de Mazaroppi, a fila dava volta no quarteirão, no Cine Santa Amelia, né, porque, você não podia fazer... filmes do Mazaroppi no cinema do Sr. Lopes, que depois veio o Sr. Milton Scozzaffave, que era irmão do Carlos, e eles brigaram... eles não conversavam muito, mas você não podia fazer filmes de grande repercussão no Cinema do Lopes, porque o cinema era muito pequeno, e como você pagava um filme caro, a renda do... do espetáculo, a apresentação não dava o valor do que você tinha que alugar o filme. E já se fazia no Cinema do Carlos, porque o Cinema do Carlos, o Santa Amelia, era um... era bem maior, bem mais moderno, bem mais luxuoso, então tinha escrito na... no chão assim, né, [gesticulando] “Cine Santa Amelia, o Luxuoso”, e ali então, os filmes de Mazaroppi tinha muita... muito público, né. Então, dois cinemas, vê como andava tudo de dois, dois times de futebol, duas farmácias, dois partidos políticos, duas... e Brodowski sempre andou de... e hoje, se você verificar, tem a Turma do Fulano e a Turma do Beltrano, viu? Você... não vou dizer nome, pra não, né... mas é... os amigos do Fulano, os amigos do Beltrano. Hoje agora nessa eleição [nacional] que se avizinha aí, deu uma misturada, né, deu uma misturada, mas, quando você faz a eleição municipal, você vê os dois grupos separados nitidamente, né. Brodowski sempre andou de dois. Você quer fazer mais alguma pergunta?

E: E com relação aos Portinari...

J: É, com relação aos Portinaris, eu tive um relacionamento com a família... não digo grande, mas foi... o pintor, eu conheci quando eu ainda era criança, era pequeno. Ele vinha, a minha vó, mãe da minha mãe, casada com o Sr. Aleixo da Silva Passos, minha Vó Adelia, era muito amiga da Dona Domingas, porque eles vieram da Itália, né, a Vó veio da Itália. Eu não sei se vieram no mesmo... no mesmo navio, mas, elas falavam italiano, as duas. E a Dona Domingas fazia um bolo de fubá muito gostoso, cara. E eu gostava muito de bolo de fubá. E a minha Vó Adelia, quando ela vinha visitar a Dona Domingas, ela vinha muito visitar a Dona Domingas, como o Sr. Batista, pai do Candinho, ia na casa do meu avô, e na estação, onde morava o outro meu avô pra conversar, pra bater papo. E eu vinha muito na casa do Portinari, às vezes, e aí... nas férias, vinham os netos da Dona Domingas. E a gente brincava muito com a Mara, com a... a Ana, era tudo da mesma idade. E a gente fazia muito barulho e a Dona Domingas fazia “Shhhh, o Candim tá aí!” [com sotaque italiano], ela falava meio em italiano. E ele tava lá no ateliê dele, então não era pra fazer barulho. E às vezes ele saía, né, e via a gente brincando, e tal, mas sempre sério, sempre... muito reservado. Muito reservado. Eu tive mais relacionamento com a Dona Domingas, com o Sr. Batista e com os netos, os sobrinhos ali, né... com eles. Mas era... o Sr. Batista, pai do Candinho, ia muito lá na estação... ele tinha um irmão, chamado Bepe. O Seu Bepe, que aparece inclusive nos livros que o Zé Portinari escreveu, o Zé Portinari era meu amigo, porque eu fui muito amigo da Nara, depois a Nara veio a ser minha madrinha de casamento. A Nara era filha do Zé Portinari, e sobrinha do pintor. E o Bepe era um tio do pintor, irmão do Seu Batista. Ele não tinha um olho e tinha uma perna de pau. E ele vendia bilhete, bilhete de loteria. E ele ficava muito na estação, quando meu avô era chefe. E ele dizia... contava aquelas histórias da guerra... da guerra na Itália, do Mussolini, aquela coisa... perdeu o olho e perdeu uma perna. E ficava contando as histórias. E tinha o Sr. Felipe, que era um sírio, que era um guarda-noite, guarda-noite do Brisotti, do Marchetti... e o Sr. Felipe era irmão... Felipe Saadi, ele era irmão do Zé Turquim, o Zé Turquim era da coletoria, que depois teve o nome do Brodowski, do... Zé Turquim, ele foi técnico de futebol do Brodowski, e marido da Dona Tita Bueno, né... mas o Sr Felipe... eles sentavam lá, no banco da estação, e ficavam os dois batendo

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papo, falando... e eu ficava escutando ali, as histórias, né, era... eu morria de rir das mentiras que eles contavam... pra mim era mentira! Porque eram coisas, na minha cabecinha de criança, eram coisas extraordinárias, né, e o Seu Felipe contando das coisas da noite, né, gordão, com uma cinta, uma cinta grossa assim [gesticulando], amarrava a calça, gordo, velho já, cabeça branca, careca... ele tinha cabeça de palhaço, aquela cabeça careca, com aquele cabelo branco [fazendo gestos]. E o Seu Bepe era totalmente careca, com um olho... com um olho... ele até então não tinha olho de vidro, mas ele tinha um buraco no olho fundo, ele não tinha o globo ocular. Depois puseram um olho de vidro nele, ele tinha um olho vermelho, né. E ele contava ali aquelas histórias de... como foi os partisans, a briga com o pessoal do Mussolini, né, enfim... e eram história pitorescas, né, e todo mundo sentava em volta e ficavam os dois conversando as histórias ali na estação. Porque nós tínhamos... na época, era uma facilidade das pessoas se relacionarem. Você não tinha muita coisa pra ficar em casa. Era o rádio, poucos tinham o rádio, poucos tinham a televisão, né, no início, só as pessoas que tinham uma... uma posse maior financeira pra comprar uma televisão. O meu avô Valente comprou uma televisão preto e branca, os vizinhos iam todos lá pra assistir a novela, né, “Direito de Nascer”, aquelas coisas... [gesticulando] e a TV, a televisão de mais audiência era a TV Tupi e... que pegava com mais facilidade. Depois vieram as televisões coloridas, e as pessoas mais abastadas ainda tinha condições de comprar a TV a cores, nós demoramos muito, lá na minha casa, na casa do meu avô pra comprar uma televisão colorida, e aí as pessoas punham na... [rindo] as pessoas, é interessante que as pessoas punham um pano... uma... um papel verde e vermelho [gesticulando] e colava na tela, pra ficar mais ou menos colorida a imagem. E você comprava isso... depois o mercado percebeu e fazia, papel celofane transparente, verde e vermelho, porque eram as cores que presumivelmente, presumível não, que eram mais ou menos... as cores da TV colorida. Então você vê, de um lado você vê o cara meio verde, via a pessoa na imagem mais ou menos vermelha, e aí, isso é uma curiosidade, né. “Pô, lá na casa do Fulano tem TV colorida! Porque ele pôs uma tela na frente lá, e...”, mas não era colorida coisa nenhuma. Dava pra fazer uma enganação. Mas os Portinaris eram assim, eu conheci muito Dona Domingas, convivi muito com ela quando criança, com os... os sobrinhos, os netos e eles vinham passar férias aqui e a gente saía junto, muitas vezes eu fui a São Paulo, na casa da Nara e do Peter, que agora eles se separaram, mas foram meus padrinhos de casamento, então era uma amizade muito pequena. O Zé Portinari tem.. tinha... tem ainda, eu acho, naquela casa da esquina, onde ele... aquela casa era do Gil Ramos, pai do Gilito, o Gilito hoje mora pra baixo da casa do Loto, Gilito mora ali. O pai dele era Gil Ramos, Gilão, tio do Nonoca, pai do Bento, do Ricardo, casado com a D. Dalva, que é irmã da Dona Tita Bueno... e ali naquela casa ali, o Zé Portinari, depois que morreu o Sr. Gilão, o João Batista foi pra Ribeirão, o Gilito casou e... bom. Ali dentro tem uma Belair, me parece, que é do... uma Belair, um carro do Zé Portinari, que tá desmanchando ali, eu não sei se a filha dele, que é a do segundo casamento, vendeu ou se... outro dia, eu vi a porta aberta ali, eu vi... uma Belair branca e verde. Era um carro que ele saía aí, fui passear muito com ele, dar volta nas fazendas com ele, né, naquela Belair. É Belair? É Belair, Chevrolet. Chevrolet. E tá lá, e era um carro que poderia ser restaurado, né, mas a menina acho... que vendeu, se não vendeu... mas era muito bonito o carro, na época, era... na época... e tinham muitos poucos carros aqui, assim, de praça. Tinha o Sr. Nestor que era... motorista de praça, o Palmiro, pai do Marquinho Palmiro, porque o Palmiro, pai dele tinha um carro na praça. Sr. Nestor, o Palmiro, tinha o Zequinha Vicentini, depois veio... o Bravo, Migué Bravo, que é parente do bodinho, que trabalha na polícia, né, e depois veio mais tarde, o Gilberto, enfim. Mas, o Nestor, o Palmiro e o Zequinha Vicentini eram os que mais transportavam pessoas aqui de carro, né. Os carros de aluguel. E... sempre, e sempre... e depois foi modernizando a frota, quer dizer, o Nestor... e o Sr. Biggio! O Biggio! Biggio! Esqueci do Sr. Biggio, que era pai da D. Neide, professora Neide, casada com o Nego Carvalho. A turma fala que ela, chama ela de Neide do Biggio! O Sr. Biggio era o mais velho deles, ninguém gostava muito, porque ele não andava. Ele punha um toquinho assim no acelerador e não passava daquilo. Falava “Você vai pra Ribeirão? Você vai com quem?”, “Eu vou com o Biggio.”, “Ih, então você não vai chegar lá, vai chegar só amanhã”. Ele ia devagarzinho, ele não corria, nada. Mas era... pai do Palmiro! Pai do Palmiro. Então era essa a vida no começo, depois foi modernizando, apareceu ponto de táxi, as pessoas começaram a... e hoje... é, os ônibus

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que tinham aqui, companhias que passavam aqui, era a Viação Santa Rita, que era de Batatais e a Viação Santa Cruz. A Viação Santa Rita era uma viação mais... tinha uns ônibus mais moderno na época, né, e depois foi adquirida pela Viação São Bento, e a Viação São Bento que fez, que está aí até hoje, né, a Viação São Bento. E... e as nossas viagens pra estudo, como aqui não tinha muita escola, a gente viajava pra Batatais do ônibus do Nilo Lascala, inclusive a pouco tempo atrás aí, teve uma festa, e até surgiu um livro, né, um livrinho, que até o Zé Marchetti e a Dra. Delza que é uma dentista que está em Ribeirão Preto, fez da... do pessoal que viajava no ônibus do Nilo. Uma festa muito bonita, já todo mundo com filhos, com netos, né, e a gente ia, saía às 4h da manhã, “Mas por quê que vocês saíam às 4h da manhã?”, porque no Ginásio do Estado, lá em Batatais, era obrigatório fazer educação física, e os estudantes que viajavam não eram obrigados, [corrigindo] eram obrigados, não eram dispensados das aulas de educação física. E o pessoal que estudava no Colégio São José, que não tinha necessidade de fazer ginástica, mas tinha que pegar ônibus, 4h30, 5h00 da manhã... e era uma odisseia, descia essa descida do... do Charque ali, aquilo era uma mata linda ali, era frio. Hoje, devastou tudo, né, você vê muito pouco a mata, só do lado esquerdo de quem vai, né. Logo depois do pedágio. E era uma estrada de chão e... e era a viagem, depois a volta também, que ele ia cedo, levava o pessoal e depois ele ia, à tarde, ao meio-dia, pegava o pessoal, e nós, de Brodowski, que éramos semi-internos, e tinha o pessoal da tarde, também, que estudava à tarde, fazia o clássico no Colégio das Irmãs, Colégio Santa Úrsula, lá... Colégio das Irmãs, que fechou, em Batatais, Colégio São José e o Ginásio do Estado. E à tarde, a gente vinha com ele. Era essa a nossa vida. Depois Brodowski começou a melhorar, começou a ter escola, começou a ter coisas mais afixadas aqui, né, o comércio era muito feito em Ribeirão e Batatais, porque o comércio era pequeno aqui, mas aí foi aperfeiçoando, foi melhorando, foi ganhando mais condições, e hoje mais se centraliza aqui. O pedágio realmente segurou um pouco a ida pra Batatais, mas, muita gente ainda vai a Ribeirão, no shopping, né, nas coisas onde você tem mais divertimento. O que a gente acha assim, não triste, mas com dificuldade, é que não temos ainda hoje, muitos lugares pra você, pra você... pra você se divertir, né, o clube já não é mais aquele, antigamente você tinha a sede do Bandeirantes, e a sede do Brodowski, onde se reunia, tinha bailes, né, carnaval era feito nas duas sedes, né, tinha o carnaval dos negros, que a turma falava, dos negros. A Dona Tunica era uma pessoa fantástica, uma mulher espetacular, que vendia pipoca na praça, no carrinho, na... a Dona Tunica e o Sr. Aristides. E ela fazia o Baile dos Pretos, porque havia uma certa... [gesticulando separação], mas era permitido um cordão por noite do pessoal da Dona Tunica vim passar no Baile do Clube, da Sociedade Recreativa, né, que era... e depois um cordão daqui, ia lá, e dava uma volta no baile, onde era feito o baile da comunidade negra. Era bonito, era um relacionamento muito... mas não era permitido você ser sócio porque fazia parte... era um preconceito que era explícito, depois que começaram a aparecer as legislações proibindo esse preconceito, e as coisas foram ficando mais camufladas, né, a gente sabe que ainda existe por baixo, tem muita gente ainda que... exercita no seu coração essa diferença, o que é triste, né, que é muito triste. Mas o Carnaval de Brodowski era um carnaval espetacular, que eu fui vice-presidente da Sociedade Recreativa, nós fizemos... eu... a Cecília, minha esposa, a gente fazia os bailes, a gente organizava os bailes de formatura, tinha os bailes de debutantes, eram a coisa mais linda, né, vinham artistas de... da TV Tupi, né, Tony Ramos esteve aqui, é... o Edwin Luisi esteve aqui, aquele que hoje é diretor de novela, da Rede Globo... famoso... também esteve aqui, era ator da TV Tupi... então eles vinham ser paraninfos das debutantes, né, e tem muitas fotos, tem muitas fotografias... naquele... no Facebook tem um, tem uma página que é página de memória fotográfica, eu acho muito interessante. Mas eram... você tinha bailes, bailes todo mês... era uma orquestra de nome que vinha pra cá, os bailes de formatura, por exemplo, o meu baile de formatura, foi o Biriba Boys que foi o conjunto. Era um conjunto muito bom na época e nós chamamos o Amaral Furlan, que era deputado federal pra ser nosso paraninfo e ajudar a gente pagar a orquestra, e pagou a orquestra, e a orquestra veio. Então, o pessoal fazia movimentos, né, o clube era... hoje o clube só oferece, às vezes, alguma coisa quando Chacrinha faz algum baile, mas tinha toda semana. Tinha uma escala, tinha uma escala de bailes! Todo mês tinha um baile bom, pra você ir, dançar. E aí começou, a população começou a sofrer influência de outras coisas, e os bailes pararam de ser bailes dançantes pra ficar como se fosse show,

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o pessoal parado na frente da orquestra, olhando a orquestra tocar, e muita pouca gente dançando, né, e aí foi acabando, foi acabando, foi acabando... ninguém mais ia pra ver aquilo, porque todo mundo ia pra ver, mas gostava de ver a dança, a dança de casais, né, e a coisa foi modificando, infelizmente isso foi acabando e as tradições foram... [gesticulando] terminando nessa... fase. Hoje nós vemos aí o que nós temos, né, muita depredação, muita coisa, antigamente a gente brincava, a gente fazia serenata, eu fiz muitas serenatas. Eu particularmente tinha uma voz boa, assim, pra cantar. Bem entoado, bem afinado. Então tava todo mundo lá, “Ah vamos fazer serenata?”, “Ah, vamos!”, e levava... dizia “Ah vamos fazer serenata na janela da Fulana”, aí você ia lá, cantava, a moça abria a janela e tal, o pai mandava entrar, às vezes tinha pai chato que xingava, a gente saía correndo [gesticulando], então quer dizer, tinha de tudo, né. Mas era um negócio respeitoso. Um negócio sem bagunça, sem nada. Tinha aqueles também que fazia serenata mas não tinha violão e nem sabia cantar, ele levava um rádio e punha numa estação a música, ou punha... era disco, naquelas eletrolinhas, vitrolinha portátil e punha o disco na janela da moça, então tinha de tudo. Mas era tudo respeitoso, tudo... quantas vezes as pessoas abriam a casa e agente entrava, dava lá uma bebedinha pra cada um, um pouquinho e a gente saía e ia continuar, à noite toda fazendo serenata. Mas enfim, hoje não existe mais isso. Hoje a gente tem que trancar a casa e ficar preso aqui dentro, não sai mais pra rua, e quando você não vai mais pra rua, alguém ocupa o lugar da praça, o seu lugar na praça. Ocuparam o lugar da banda, ocuparam o lugar do footing, são pessoas, realmente são pessoas que não inspiram muita... muita confiança. Infelizmente a gente se afasta, e outras pessoas ocupam seu espaço. É assim a vida, meu caro.

E: Pra gente encerrar: queria que o senhor pensasse e talvez escolhesse um cheiro que o senhor relaciona com o Museu Casa de Portinari, com a praça, com essa realidade de Brodowski.

J: Um cheiro no sentido de odor?

E: Um odor que o senhor se recorda, quando o senhor sente, senhor consegue ter memórias claras sobre o museu em si, sobre a infância do senhor, talvez, na cidade...

J: Olha, ali... no museu, um cheiro que eu sinto e faço alguma... eu não vou te dizer, eu não vou te mentir e falar “Olha quando eu sinto esse cheiro, eu lembro do museu”, não. Mas como você me perguntou, eu lembro de um cheiro que tinha... porque a Dona Domingas sempre teve uns canteiros de rosas, a Dona Domingas... eram uns canteiros maravilhosos. Até hoje se pretende ali, não sei se ainda tem alguma roseira daquela época, acredito que ainda tenha. Mas ela tinha, ela tinha um canteiro de lírio, esse lírio perfumado, de... lírio, lírio... mas que tinha um cheiro delicioso, e umas damas da noite. Umas árvores, damas da noite, ainda tem lá? Eu não sei se tem... que também, chegava à tardezinha, começava a exalar um cheiro delicioso. Mas os lírios que ela tinha no fundo, do lado direito, não do lado... do lado esquerdo de quem tá no museu ali... [gesticulando] naquela porta... naquela porta de vidro que tem, que você sai... ali tinha um canteiro de lírio que era uma delícia. E eu me lembro uma vez, eu não posso deixar de contar essa... do dia da inauguração do museu, a Cecília, minha esposa, foi dama, vestida de branco, com chapéu, aquela coisa toda, e o meu Tio Zé Passos, José da Silva Passos, que tem o nome de escola lá em cima também [rindo], o filho dele, o Joaquim, que casou com a Zélia, que era filha do Zeferino, da Farmácia, que hoje mora em Bertioga... o meu Tio Zé, eu sempre achava que o Tio Zé era um extraterrestre! Ele e o Sr. Almeida! Porque os dois estavam sempre à frente do tempo. Sr. Almeida tinha um jornal, e assim, um jornal antigo, feito com aquelas... punha as letras... naquela impressora “plec, plec” [gesticulando], né, não era nada... fazia um jornal, pegando, pinçando as letrinhas separadas. E o meu Tio Zé era cinema. Meu Tio Zé tinha uma máquina de 16 ou 08 mm? 16 ou... não me lembro... você dava corda e “prrrrrrrr” [fazendo mímicas]... e tinha uma... uma iluminadora, grande, com quatro ou cinco lâmpadas fortes, e no dia... [rindo] e no dia... meu Deus do céu! No dia da inauguração do museu... e tava aquele tumulto, né, o governador Abreu Sodré, a Dona Domingas... tava tudo aquela coisa, né... bé-bé-bé-bé-bé... [gesticulando] gente, muita gente! E o Joaquim pegou

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essa máquina do pai dele... dava corda... “prrrrrrrrr”... ela fazia uma barulho que a corda... e eu peguei o iluminador. E fomos lá... estávamos lá no museu. E uma hora, rapaz, apareceu naquela janela que dá para o lado esquerdo... tem uma janela da sala... e ali naquele canto, da janela, tinha a cadeira da Dona Domingas, a Dona Domingas ficava sentada ali, numa cadeira de palha, de palha porque o Senhor... Domingos [na verdade, Batista], era empalhador de cadeiras, ele fazia as palhinhas das cadeiras. E nós estávamos na janela filmando, e Dona Domingas veio com o Abreu Sodré e saiu na janela, olhando pra nós, e o Joaquim “prrrrrrrrrrr” [fazendo mímicas], filmando... e a máquina não tinha filme, cara! Nós estávamos fazendo gozação! E hoje, ninguém, ninguém tem uma imagem daquela! Do Abreu Sodré e da Dona Domingas na janela! E nós, “prrrrrrrrrrrrrrrrrrr” [fazendo mímicas], com a máquina sem filme, cara! Hoje... naquela época, foi um negócio... “Pô, enganamos...”, intimamente, falava “Nós enganamos todo mundo!” e tal, e hoje eu sento e fico pensando assim, “Meu Jesus amado, por quê que não tinha o filme naquela máquina?”, porque ia valer uma fortuna! Não pra ficar rico, mas como memória, né. O governador do estado abraçado com a Dona Domingas, sorrindo, os dois, só! Porque você tem imagens dele misturado com aquela gentarada, na janela, no quadrado da janela, levantada, né, o vidro, e eles saíram na janela e nós pelo lado de fora, filmando... mas foi uma coisa espetacular, mas infelizmente, a gente estava fazendo aquilo por brincadeira... uma brincadeira estúpida, que hoje eu acho que eu fui... e ele... nós fomos estúpidos! Podíamos ter uma imagem linda daquilo! Mas foi um momento muito lindo pra Brodowski, porque a inauguração do museu, deu a Brodowski uma nova dimensão, né, na... eu quando fui... é... secretário da cultura e do turismo, a gente tentou, né, a gente percebeu que o museu dava a Brodowski uma... ninguém precisava ser diretor pra saber, o museu é que dá uma qualificação especial pra cidade. Tanto é que nós fizemos, na época... criamos o... o Memorial Candido Portinari, desenhado pelo Oscar Niemeyer, o João Candido nos levou ao Rio, e tem até hoje, né, pra fazer na [Fazenda] Santa Rosa, o local onde Portinari nasceu... que era mais um local onde o museu pudesse desenvolver as suas atividades... essa era e é ainda uma intenção, onde o museu pudesse desenvolver suas oficinas, claro, continuar desenvolvendo suas oficinas na praça, nos bairros, mas lá, ia ter oficinas, ia ter um auditório pra quinhentas pessoas, grande, que você podia... o museu, a ACAM, ou sei lá quem, poderia desenvolver música, canto, dança, cinema, um monte de outras atividades culturais, né, que poderia ser desenvolvida ali, além de você ter um espaço, que o Oscar Niemeyer desenhou, que era um espaço de quase... não vou falar bobagem, mas mil metros quadrados... não sei... era uma coisa grande, quinhentos metros quadrados de vão livre, pra você poder fazer exposições. E hoje, você tem a produção de réplicas é quase que originais. E o museu, né, poderia se desenvolver exposições, cobrando um... cobrando ingresso, algumas coisas no meio, originais, das várias fases do pintor, né, a fase cubística, a fase... nacional, assim, do povo, né, o índio, o negro, a criança, Brodowski ou... a fase de retratos dele, que é fabulosa, né, e você podia fazer ao longo do tempo, exposições desse tipo, mostrando os cinco mil... as cinco mil obras que ele tem, e que, com a autorização do Projeto Portinari, você podia ir reproduzindo, e fazer essas exposições, né, uma parte dele, mostrando as diversas facetas do Portinari, cobrando ingresso e enfim, desenvolver... esse era, na verdade é, na verdade... o interesse da cidade em ter o memorial pra fazer isso, e todas as atividades de curso, de escola, e etc. e tal, além de outras... modalidades culturais, como cinema, canto, dança, porque você tem um local pra fazer isso. Então, eu espero que... que Deus nos ajude, colocar a mão, né, que alguém consiga produzir isso pra que o museu tenha a possibilidade... e aí você teria um caminho, né, uma... levando do museu para o memorial, do memorial para o museu, e você ter toda essa estrutura poderia melhorar e muito o turismo aqui na cidade, né. Pra você fazer projetos, pra você fazer cursos, pra você fazer exposições, não só do Portinari, mas também como de outros artistas, enfim... e ia ter ali também o mausoléu, onde você ia... onde ele vinha ter os restos mortais dele, da esposa, se fosse o caso, né, pra que as pessoas pudessem visitar também, como é mais ou menos o Memorial JK, em Brasília, né. O Niemeyer. Esse projeto foi o primeiro projeto a cores que o Niemeyer projetou. Você pode falar, “Ah mas tem lá no... no coiso tem, lá no... no Ibirapuera, tem aquele projeto com a porta vermelha, outro também, tem mais...”, falou, “Não”. Esse foi o primeiro projeto que ele fez, aquele saiu, o nosso não saiu. Mas ele disse, “Esse é o primeiro projeto meu a cores, colorido, que eu não poderia deixar de

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colocar cor, num projeto do meu amigo, um artista plástico. Então, ele fez... inclusive, ele fez o projeto das cores, da onde tinha que ter as cores, e no mausoléu ia ter um azul, que é o famoso azul Portinari, que um dia perguntaram para o Portinari, com quê que ele... como é que ele fazia aquela combinação de cores, com aquele azul, que ninguém conseguia fazer. E ele falava, eu até me emociono, “Esse azul é o azul que eu via nos céus de Brodowski”. E até hoje o azul Portinari é um azul famoso, né. Eu até me emociono quando eu falo isso. E... enfim, é... coisas que a gente poderia ter, espero que a gente tenha, e que o museu possa ter... a quem tome conta do museu, possa ter maiores oportunidades de divulgar a obra, as cinco mi, obras, né, ou com originais e algumas réplicas, né... mas seria interessante isso. Essa era a intenção, e é, acho que deve ser a intenção do museu. Jamais fazer concorrência com um, com outro. Deixar que as mesmas pessoas tomem conta e que as mesmas pessoas usem, harmonicamente, na proclamação do museu e do memorial. E aqui seria o museu da vida dele, da família dele, e lá o memorial das obras dele, de todas as obras dele, da... enfim, fica aí para a posteridade, ter essa oportunidade de desenvolver isso, com a graça de Deus.

E: Tá certo, Sr. José Marcos, a gente agradece muito, suas palavras foram certamente muito valiosas pra gente.

J: Eu que agradeço essa oportunidade de poder fixar minha imagem, minha voz e as coisas que eu passei, né, como vereador, como membro do executivo, como vereador de oposição, e nunca fiz uma oposição ferrenha, sempre fui a favor daquilo que era interessante pra Brodowski. Foi no tempo que o Professor Zé Grandi... a primeira vez que o professor Zé Grandi foi prefeito, eu fui vereador. E nós éramos... é interessante dizer que éramos eu, o Valdomiro Gandolfi, o Olavo Scozzaffave e o Sebastião Furlan como os quatro vereadores de oposição da ARENA, Aliança Reguladora Nacional. E o João Luis de Vicente, o Aildo Furlan, o Vladimir Berlese, o Valentim Adami e o Jaime Morando, do MDB, na época era o MDB. Então éramos cinco a quatro, somos nove vereadores. E não recebíamos nada no começo, depois instituíram um pagamento do vereador e eu fiquei... nós ficamos seis anos, porque houve uma prorrogação dos mandatos, pra coincidência de mandatos, e nós tivemos o mandato prorrogado de seis anos. Foi um momento muito interessante, e muito feliz também da minha vida, né, além de ter sido professor da Escola de Comércio, além de ter sido secretário, além de ter sido procurador do município, secretário de cultura, secretário de turismo, é... assessor jurídico da Secretaria de Educação e... esse foi duro: secretário da saúde [rindo], que foi um momento muito difícil da minha vida, né, o último, né. O Prefeito Alfredo me deu essa... no último ano, e eu saí de lá acabado, porque não foi fácil você tocar uma secretaria sem dinheiro, com os problemas que tem, e tentar levar a coisa como se deveria levar. Até hoje a gente fala... a gente se encontra com funcionário, falam, “Oh, Doutor, volta pra lá pelo amor de Deus”, nego fala, né, aí eu falo, “Não cara, aquilo acabou com a minha vida!” [rindo], duas horas da manhã recebia telefonema que não tinha médico. “Ah foi o médico...”, duas horas da manhã, com chuva, “... vem pra cá, porque o povo tá aqui e quer pegar a única médica que tem!”. E a gente ia pra lá, acalmar... eu ia! Levantava, fazia boletim de ocorrência, e... apoiava a... a nossa estrutura que era deficitária, mas eu apoiava. E o Alfredo também apoiava, porque, eu falava pra ele, “Caboclo, você é médico, você que tem que ir lá substituir!”. “Eh, Marcos, você tá ficando doido, duas horas da manhã, quê que eu vou fazer lá?”, falava... “Eu sou candidato...”, era o último ano, “... eu sou candidato, vou ser candidato”, falei, “Eu já fiz o boletim de ocorrência e vai ser pior se morrer um lá, sabendo que o prefeito é medico e não foi lá atender” [rindo]. Falou, “Então, eu vou. Você garante?”, falei, “Garanto, cara! Pode ir!”. Claro que você tinha que dar valor, primeiro à saúde das pessoas... ele ia lá, ele ficava lá até o plantão virar, e aí ele encontrava comigo, “Você me matou essa noite, fiquei sem dormir e agora tem que trabalhar o dia inteiro!” [rindo]. Mas é assim a vida, né. A vida é assim. Eu acho que o servidor tem que ser... o servidor... eu fala para o pessoal lá, “Gente, quem olhar nos olhos... quem trabalha na saúde e olha nos olhos da pessoa que nos vem... que vem aqui buscar, não ver lá no fundo o desespero, a dor, o sofrimento, não serve pra trabalhar na saúde. Tem que trabalhar na cultura, tem que trabalhar no departamento de esporte, tem que

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trabalhar em todo lugar, menos com a saúde, se você não reconhecer o sofrimento nos olhos daqueles que... porque aqui não vem gente comprar carne, nem churrasco, carne pra churrasco, nem carvão. Quem vem aqui é porque tá com algum problema. Você conhece quem vem aqui com malandragem, mas a maioria que vem aqui é porque tá com o sofrimento exacerbado, porque muitas portas ali foram fechadas. Eles tem que sair daqui com... alguma coisa. Se não sai com o remédio, porque nós não temos, mas sai com esperança, porque nós vamos fazer alguma coisa por ele. Ele não vai sair daqui desesperançado.”. E assim eu acho que tem que ser todo servidor, todo aquele que trabalha em benefício da população, O servidor é um empregado, né, tem que trabalhar e fazer porque... e enfrentar aquilo com carinho, mesmo a agressividade, porque quem chega lá com agressividade é porque já foi fechado todas as portas, o sofrimento, ás vezes, passa por cima da... da razão, não é? E eu agradeço por essa oportunidade da gente explanar isso. E quem sabe no futuro, se isso ficar pro tempo, que as pessoas possam valorizar... e eu quero deixar claro que eu não fiz nada da minha vida por mérito meu, pra mim, pódio. Eu fiz isso como obrigação e fiz isso porque a gente tem que fazer como se estivesse fazendo pra Deus. Se você faz as coisas, pensando em sua promoção pessoal, fica muito ruim. Você tem que trabalhar, como se seu trabalho fosse feito pra Deus, porque Deus é que tá te vendo, e muita gente não tá te vendo. Trabalha pra ele, faça pra ele, atenda o cidadão como se você estivesse atendendo pra ele. Você vai ver que sempre será bem... compensado naquilo que você faz. Foi isso que eu fiz toda a minha vida. Não tenho nada de material, não preciso, não quero, se vier, com a vontade de Deus, será muito bem recebido. Moro em casa de aluguel, continuo trabalhando na minha vida, agora tô meio vagabundo, agora estou me dedicando ás minhas leituras da Bíblia, passando as mensagens que eu tenho que passar no Facebook pra que as pessoas possam também aprender um pouco mais da Palavra de Deus. Eu acho que esse é o remédio pra que o nosso país possa melhorar. Sem isso, nós vamos continuar do mesmo jeito. Aliás, a própria Palavra de Deus fala, o mundo não vai melhorar, o mundo vai cada vez pior. Ele vai modernizando, vai se criando coisas, mas o homem vai continuar se matando, pai matando filho, filho matando pai e é o que tá acontecendo aí, e até que seja a volta de Jesus Cristo pra que nos arrebate dessa coisa aqui. Quem crê, crê, quem não crê, paciência, né. Eu creio [sorrindo]!

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