• Nenhum resultado encontrado

CISTO RENAL, CONGÊNITO, EM CÃO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CISTO RENAL, CONGÊNITO, EM CÃO"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Diretor: Prof. Dr. Sebastião N. Piratininga

DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E CLINICAS CIRÜRGICA E OBSTÉTRICA Diretor: Prof. Dr. Ernesto Antônio Matera

CISTO RENAL, CONGÊNITO, EM CÃO

(CONGENITAL R E N AL CYST, IN A DOG)

Ma x F. Mig l ia n o J. S. Ma r c o n d e s Veiga Livre Docente — Assistente Assistente voluntário

2 estampas (4 íiguras)

O estudo das afecções renais do cão tem sido, ultimamente, objeto

de várias pesquisas, destacando-se, neste particular, as observações de

Pl a t t

(1951),

Sh o o l, La n g h a n

e

Th o r p

(1951),

Mig l ia n o

(1953),

Nie l s e n

e

Me d w a y

(1954),

Nie l s e n

e

Ar c h ib a l d

(1955),

Me d w a y, Ar c h ib a l d

e

Bis h o p

(1955) e

Ph i l i p s

(1955), que procuraram classi­

ficar diversas nefropatias.

Entretanto, não encontramos, na bibliografia a nosso alcance, ci­

tações de cistos renais no cão, muito embora, os tratadistas clássicos

da patologia, façam referências a rins policísticos.

Ru n n e l s

(1948) esclarece que o cisto único

é

comum nos suinos,

e que, nas demais espécies, a ocorrência maior é a de rins policísticos.

Le i n a t t i

(1948), em seu Compêndio de Anatomia Patológica, informa

ser freqüente o aparecimento de cistos renais nos suinos, sendo rara

a observação nos bovinos, eqüinos, ovinos è felinos e, mais rara ainda,

nos cães.

Liégeojs

(1949) admite, igualmente, maior freqüência desta

anomalia no porco e ruminantes do que nos carnivoros e solípedes.

A raridade da observação de cistos renais, particularmente na es­

pécie canina, torna oportuna a descrição do caso que tivemos ocasião

de verificar.

OBSERVAÇÃO

Em 9 de setembro de 1955 trouxeram-nos, para exame, um animal da espécie canina, sem raça definida, do sexo masculino, de 8 anos de idade, de pelagem amarela, o qual recebeu o número de registro 3.160.

Pela anamnese, soubemos de um aumento lento e progressivo, do volume abdominal, com inicio há mais do um ano. Nas últimas semanas o animal per­ dera a vivacidade, apresentando, eoncomitantemente, vômitos precoces, oligúria e gemidos.

(2)

532 Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo — Vol. 5, fase. 3, 1955

Quanto a antecedentes, nada de particular nos foi informado.

Ao exame, observamos constituição forte, estado de nutrição bom, mucosas aparentes de coloração rósea, 38",5C de temperatura. Pulso com a freqüência de 68 por minuto, arrítmico, apresentando pausa prolongada após três ondas conse­ cutivas.

Ao exame do abdome, verificamos, pela inspeção, aumento de volume que abrangia tôda a região xifóidea, umbilical e hipocondríaca e ilíaca direitas (fig. 1). A palpação revelou tratar-se de formação globosa, de consistência firme, de su­ perfície regular, ocupando cêrca de um terço da cavidade abdominal.

Ex a m e s de laboratório:—

Exame de urina

Volume: — 20 ml (extraídos por cateterismo) Côr: — alaranjada

Cheiro: — “sui generis” Aspecto: — turvo Densidade: — 1.020 Reação: — ácida Glicose: — 5 g por litro Albumina: — 1 g por litro Indicão: — forte aumento Urobilina: — forte aumento

Sedimento: — algumas hemácias, numerosas células epiteliais renais, numerosas células epiteliais das vias urinárias e alguns leucócitos isolados. Exame de sangue Eritrócitos: — 6.110.000 por mms Hemoglobina: — 14,5 g por 100 ml Hematócrito: — 48% V.C.M.: — 78,5 p* C.Hb.C.M.: — 30,2% Leucócitos: — 14.600 por mm1

Fórmula leucocitária: — Neutrófilos — segmentados — 54,25% bastonetes — 9,00% jovens — 0,25% Total — 63,50% Eosinófilos — 24,00% Linfócitos — 7,75% Monócitos — 4,75% índice de desvio — 1 :5,8

Velocidade de sedimentação dos eritrócitos: — % hora — 5 mm 1 hora — 10 mm 2 horas — 20 mm

(3)

Exame radiológico (fig. 2)

Rei. 1575 — 76 — 955

“ Presença de massa tumoral junto ao rim esquerdo, com aderência ao mesmo e a partes do cólon transverso” .

Estabelecida a possibilidade de neoplasia perirrenal, indicamos a laparotomia exploradora para confirmação do diagnóstico.

Praticamos laparotomia mediana, pré-retroumbelical, cuja incisão tinha com­ primento aproximado de 20 cm.

Afastadas as bordas da ferida operatória, chamou-nos a atenção uma forma­ ção volumosa (fig. 3), de consistência flutuante, correspondendo ao rim esquerdo e que apresentava algumas aderências com o epiplom.

Efetuada a exposição desta formação, pinçamos, seccionamos e ligamos os vasos renais. Ao procurarmos o ureter foi com surpresa que não o encontramos.

A simples divulsão permitiu-nos liberar êste rim anômalo de suas aderências epiplóicas.

A inspeção dos demais órgãos contidos na cavidade abdominal nada revelou de anormal.

O exame anátomo-patológico da peça em aprêço nos forneceu os seguintes dados:

“Rim esquerdo aumentado de volume, medindo aproximadamente 18 cm de comprimento por 14 cm de largura e 10 cm de altura. Sua superfície externa é lisa, verificando-se na mesma três grandes boceladuras e vasos dilatados e cheios de sangue (fig. 4).

Duas dessas boceladuras apresentam coloração amarelada, enquanto a outra, apresenta coloração amarela-arroxeada.

A palpação, verifica-se flutuação.

Ao corte, nota-se, logo de início, a saída de aproximadamente 800 ml de lí­ quido mais ou menos viscoso, de coloração vermelho-chocolate.

Verifica-se, também, à superfície de corte, que o órgão apresenta cápsula conjuntiva mais ou menos espêssa, dividindo-o em duas lojas, uma com aproxi­ madamente 18 cm de comprimento por 10 cm de largura e 10 cm de altura. A outra, menor, mede 8 cm de comprimento por 4 cm de largura e 8 cm de altura. No interior desta observa-se a presença de ’a massa que se desfaz com faci­ lidade c de coloração avermelhada.

Exame histopatológico — A parede desta formação é formada por uma cáp­

sula de natureza conjuntiva, onde se observam inúmeros fibrocitos, fibras colá- genas, vasos dilatados e cheios de sangue” .

DISCUSSÃO

Pela inexistência de uma estrutura que recordasse o parênquima

ou a pélvis renal e, por outro lado, a ausência de uréter, torna provável

estarmos diante de um cisto de origem congênita.

(4)

534 Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo — Vol. 5, fase. 3, 1955

Corroboram êste ponto de vista os achados histopatológicos, que

vieram demonstrar a inexistência de traços do epitélio renal.

Krogios

(1928), em homem adulto, observou dois casos. Em um

dêles, o cisto, cuja capacidade era de 10 litros, apresentava comunica­

ção com a pélvis renal e cuja parede interna era forrada por tecido de

granulação, sem traços de epitélio. Êste caso, exceção feita à existên­

cia da pélvis renal e de restos de túbulos na parede do cisto, asseme­

lha-se ao por nós observado. N o outro caso, o cisto estava ligado a

um rim mal formado e, portanto, não sendo semelhante ao de nossa

observação.

Do m iz io

(1948), fazendo estudos comparativos da patogênese dos

rins policisticos, no homem e animais (ovinos, eqüinos e bovinos), dis­

cute as três teorias fundamentais que poderiam determinar o seu apa­

recimento.

A primeira, atribui a origem a um fenômeno inflamatório fetal (ne-

frite ), localizado na papila, do qual resultaria compressão dos canalí-

culos urinários.

A segunda, teoria neoplásica, estabelece a produção adenomatosa

do epitélio dos túbulos contortus.

A terceira, teoria embriogenética, a mais acreditada, segundo

aquêle autor, atribui, à formação do rim policístico, uma malformação

ou perturbação do desenvolvimento renal, nos primeiros estádios de sua

formação.

Os autores clássicos, em sua maioria, descrevem as mesmas teorias

citadas por

Do m iz io

e concordam, também, que a última seja a única

provável

(Cadiot

e

Al m y

[1924],

Br u m l e y

[1943],

Me n s a

[1947],

Cin o t t i

[1948],

Ru n n e l l s

[1948],

Liégeois

[1949]).

Nieberle

e

Cohrs

(1931) afastam a hipótese da gênese inflama­

tória do rim cístico, porque há ausência total de infiltração inflama­

tória, e a hipótese tumoral (cistoadenoma) porque não há processo

proliferativo. Admitem, unicamente, como resultado de uma malfor­

mação embrionária dos túbulos uriníferos, fazendo com que a urina fi­

que retida na parte secretora, provocando uma dilatação cística dos

canais.

Kit t

(1927), igualmente, só admite a gênese embrionária para o

cisto renal.

Le in a t t i (1948) inform a que os cistos podem ser únicos ou múl­ tiplos, limitando-se, porém, geralmente, a um

rim, e conseqüentes a uma alteração do desenvolvimento renal, pela falta de fusão ou fusão

(5)

incompleta da porção epitelial com a mesenquimal, do que resulta um

fundo cego na porção terminal dos túbulos contortus.

O líquido secretado, não podendo ser eliminado pelos canais excre-

tores, fica retido, dando origem à formação cística.

O caso por nós observado não se assemelha aos citados na litera­

tura. Como pudemos verificar, a gênese da anomalia, segundo os clás­

sicos, relaciona-se à falta de fusão ou fusão incompleta da porção epi­

telial com a mesenquimal e, em nosso caso, acreditamos prender-se a

agenesia do ureter e formações que dêle derivam resultando a cole­

ção do líquido secretado e conseqüente formação do cisto renal.

RESUMO

Os A.A. descrevem um caso de cisto renal em cão, de origem con­

gênita, em virtude da agenesia do uréter esquerdo e formações que

dêle derivam.

O

cisto apresentava-se com 800 ml de liquido côr vermelho-choco-

!ate. Macroscopicamente, não se individualizava pélvis renal.

Micros­

copicamente, não foi revelada nenhuma estrutura que lembrasse o pa-

rênquima do órgão.

A apresentação do caso se justifica por não ter sido encontrado,

na literatura ao alcance, descrição de caso semelhante.

SUMMARY

Congenital renal cyst, in a dog.

One case of congenital renal cyst with agenesia of the left ureter

and parts from it originated has been described by the authors.

The contents of the cyst was about 800 ml of red-brown fluid. By

macroscopic examination, it was impossible to discern the renal pelvis.

By microscopic examination, it was not found any structure like

the parenchyma of the kidney. A fter referring the cases recorded

in the available literature, they have concluded this case in not so

common.

BIBLIOGRAFIA

Brum l e y, O. V. — 1943 — A text-book of the diseases of the small domestic animals; 4th cd.: 267-8. Philadelphia, Lea & Febiger

(6)

536 Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo — Vol. 5, fase. 3, 1955

Cadiot, P. J. et J. Al m y — 1924 — Traité de thérapeutique chirurgicale des ani­ maux domestiques; 3ème éd.: 2:360-1. Paris, Vigot Frères, Éditeurs

CiNom, F. — 1948 — Patologia e terapia chirurgica veterinaria: 372-4. Milano, Casa Editrice Dottor Francesco Vallardi

Do m izio, G. Di — 1948 — Il rene policistico nell’uomo e negli animali. Studio comparato. A tti Soc. Ital. Sc». Vet., 2:497-518

Kit t, T. — 1927 — Lehrbuch der Pathologischen Anatomie der Haustiere; 5.* Auf. : 274. Stuttgart, Ferdinand Enke

Krog ius, A . — 1928 — Über einige Formem von Solitären Nierenzysten, deren Genese auf Störungen der dualistischen Nierentwicklung zurückgeführt wer­ den kann. Acta Chir. Scandinavia, 64(5) :432-64

Le in a t t i, L. — 1948 — Compêndio di anatomia patologica degli animali domestici; 2* ed.: 451-2. Milano, Casa Editrice Ambrosiana

Liég eo is, F. — 1949 — Traité de pathologie médicale des animaux domestiques; 3ème ed. : 791-9. Gembloux, J. Duculot

Me d w a y, W., J. Archibald and E. J. Bish o p — 1955 — Canine renal disorders.

North Amer. Vet., 86:125-8

Men sa, A. — 1947 — Patologia chirurgica veterinaria; 2* ed., 1:202-17; 2:775-87. Torino, Unione Tipografico-Editrice Torinense

Mig h a n o, M. F. — 1953-54 — Uremia em cães. Rev. Fac. Med. Vet., S. Paulo, 5(1):157-72

Nieberle, K . und P. Cohrs — 1931 — Lehrbuch der speziellen pathologischen Anatomie der Haustiere: 484-6. Jena, Gustav Fischer

Nie l s e n, S. W. and J. Archibald — 1955 — Canine renal disorders. North Amer.

Vet., 36:36-40

Nie l s e n, S. W. and W. Med w ay — 1954 — Canine renal disorders. North Amer.

Vet., 36:849-52; 920-3

Ph il ip s, S. E. — 1945 — Canine nephritis. North Amer. Vet., 26(4) :224-8

Pl a t t, H. — 1951 — Chronice canine nephritis. 2. A study of the parathyroid glands with particular reference to the “ rubber jaw” syndrome. Jour.

Comp. Path., 6I(3):188-96

Pl a t t, H . — 1951 — Chronic canine nephritis. 3. The skeletal system in "rubber jaw” . Jour. Comp. Path., 6 1 (3 ) :197-214

Ru n n e l l s, R . A. — 1948 — Animal pathology; 4th ed.: 405-6. Ames, The Iowa State College Press

Sh o l l, L. B. — R . F. La n g h a m and W . T . S. Thorp — 1941 — Some observations on canine nephritis. J.A.V.M.A., 98(769) :295-301

(7)
(8)

Fig. 4 Kifi. 3

Referências

Documentos relacionados

é também muitas outras coisas: o refúgio do misantropo Nemo; o espaço de um processo de iniciação, que transforma para sempre quem o vivencia; um lugar de culto, quase sagrado,

A data a partir da qual as operações da sociedade a incorporar são consideradas, do ponto de vista contabilístico, como efectuadas por conta da sociedade incorporante é

O(A) candidato(a) que não possuir o comprovante de aprovação de proficiência no idioma inglês e optar pela prova oferecida pela CULTURA INGLESA, deverá realizá-la

Além disso, os contribuintes do ICMS que comprovem a condição de estarem incluídos no Simples Nacional recolherão as taxas de serviços estaduais referentes à

FIGURA 1: Valores médios da porcentagem de germinação de sementes de Hymenaea stigonocarpa submetidas a diferentes tratamentos pré-germinativos.. contrapartida, Souza et

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das

(2019) Pretendemos continuar a estudar esses dados com a coordenação de área de matemática da Secretaria Municipal de Educação e, estender a pesquisa aos estudantes do Ensino Médio

Geralmente, a cultura organizacional de uma empresa especifica o comportamento que seria considerado adequado para que os indivíduos se enquadrem no sistema social