• Nenhum resultado encontrado

PLAUTO E A HELENIZAÇÃO DE ROMA: ALGUNS ASPECTOS. Enzo Del Carratore

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PLAUTO E A HELENIZAÇÃO DE ROMA: ALGUNS ASPECTOS. Enzo Del Carratore"

Copied!
37
0
0

Texto

(1)

E n z o D e l C a r r a t o r e

1 . T e m sido freqüentemente a f i r m a d a a impossibilidade de dissociar r a d i c a l m e n t e a c u l t u r a grega da l a t i n a , e numerosas têm sido as t e n t a t i v a s daqueles que p r o c u r a m estabelecer as relações históricas, sociais, lingüísticas, c u l t u r a i s e n f i m , entre os povos grego e romano. Empreendemos, há a l g u m tempo, u m a pesquisa voltada p a r a o campo das relações e n t r e as l i t e r a t u r a s grega e l a t i n a , e mais p a r t i c u l a r m e n t e , p a r a o estudo das influências helénicas no t e a t r o de P l a u t o , reveladas

pelo vocabulário de suas peças.1

A escolha deste autor decorre f u n d a m e n t a l m e n t e da nossa indisfarçada s i m p a t i a e da preferência m a r c a d a que temos p a r a com ele, a quem reputamos u m dos grandes escritores da latinidade. Além disso, a sua obra é caracterizada p o r f o r t e s influências helénicas, decorrentes quer do gênero literário versado, que injunções de o r d e m social forçavam à imitação e ao decalque das obras gregas, quer das condições históricas da época, que assinalam a intensificação dos contactos diretos entre Roma e o m u n d o grego, com as conseqüências que serão apontadas. P l a u t o situa-se, pois, como que a cavaleiro sobre a ponte lançada entre dois povos, p o r onde se escoa a maciça invasão do helenismo em direção a R o m a : este f a t o é suficiente para dar a medida da sua importância p a r a u m t r a b a l h o da natureza do nosso.

Procedemos então ao levantamento, que acreditamos exaustivo, de todos os vocábulos de o r i g e m grega, e procuramos v e r i f i c a r se o seu uso por p a r t e de P l a u t o corresponderia a alguma exigência de ordem estética ou social, ou, em o u t r o s termos, quais t e r i a m sido os fatores c u l t u r a i s que d e t e r m i n a r a m seu emprego e as finalidades estilísticas que o i n s p i r a r a m .

(1) E s t a p e s q u i s a t e v e c o m o r e s u l t a d o a e l a b o r a ç ã o d e t e s e d e d o u t o r a m e n t o a p r e s e n t a d a n a e n t ã o C a d e i r a d e L í n g u a e L i t e r a t u r a L a t i n a d a F F C L d a U n i v e r s i d a d e de S ã o P a u l o , e m 1 9 6 5 , s o b o t í t u l o Heleniamoz Léxicos na Obra de Plauto.

(2)

2 . A c r e d i t a m o s , entretanto, ainda que à custa de c o r r e r m o s o risco de ser acusado de p r a g m a t i s m o , que, n a a t u a l c o n j u n t u r a do ensino em nossas escolas superiores, e par-t i c u l a r m e n par-t e do ensino das humanidades clássicas, hoje em franco e irrefreável declínio, m a i o r u t i l i d a d e terá u m t r a b a l h o consciente de divulgação do que u m e r u d i t o e ultra-especiali-zado ensaio destinado, na melhor das hipóteses, a ser lido p o r uns poucos e cada vez mais r a r o s cultores das antigüidades greco-latinas. A s s i m , pouparemos ao leitor a extensa l i s t a de palavras de o r i g e m grega, sua provável etimologia, as atesta-ções plautinas, as variaatesta-ções semânticas decorrentes da sua transposição p a r a o l a t i m , fornecendo-lhe em t r o c a algumas informações de o r d e m histórica, literária ou lingüística com que esperamos chamar-lhe a atenção e despertar-lhe o interesse p a r a u m a u t o r que, pela riqueza, pela vivacidade, pelo colorido de sua linguagem, pela variedade e pela comicidade das situações dramáticas de suas peças, merece ser lido, apreciado e admirado.

3 . T i t o Macio Plauto nasceu em Sársina, na Úmbria, por v o l t a de 254 a . C . e m o r r e u em 184 a . C . O que sabemos de sua v i d a t e m m u i t o de lendário: o mistério envolve as poucas notícias que nos restam. Parece, entretanto, seguro que Plauto chegou a Roma m u i t o j o v e m (o domínio absoluto da língua l a t i n a , de uma correção e pureza ímpares, atesta o

f a t o ) . Conta a tradição2 que t r a b a l h o u a l g u m tempo n u m a

companhia t e a t r a l ; depois, seu gosto pela a v e n t u r a o levou a e x p l o r a r o comércio marítimo, atividade que o levou à ruína; viu-se então obrigado a t r a b a l h a r como verdadeiro escravo n u m moinho. Nos intervalos do seu rude ofício teve a força de escrever três comédias, que alcançaram imediato êxito e lhe a b r i r a m as portas da f a m a e da prosperidade. Tão grande f o i seu sucesso que depois da sua m o r t e lhe f o i atribuída a a u t o r i a de dezenas de peças, provavelmente compostas p o r autores desconhecidos e sem escrúpulos que não h e s i t a r a m em u t i l i z a r o nome do famoso comediógrafo pela g a r a n t i a plena de aceita-ção popular e de conseqüente l u c r o que ele representava. F i n a l m e n t e , o gramático e e r u d i t o homem de letras M . Terêncio Varrão, no séc. I a . C , separou das 130 comédias atribuídas a Plauto u m núcleo de 2 1 cuja a u t o r i a não podia ser contestada — e que constituem até hoje o corpus p l a u t i n o d e f i n i t i v o — , e mais 19 de a u t o r i a duvidosa, declarando as demais espúrias. Chegaram até nós completas ou com pequenas lacunas 20

(3)

a Vidularia, cujos títulos são os seguintes, de acordo com a ordem t r a d i c i o n a l : Amphitruo, Asinaria, Aulularia, Captivi,

Curculio, Casina, Cistellaria, Epidicus, Bacchides, Mostellaria, Menaechmi, Miles Gloriosus, Mercator, Pseudolus, Poenulus Persa, Rudens, Stichus, Trinummus, Truculentus.

Assunto bastante c o n t r o v e r t i d o é o da cronologia das peças p l a u t i n a s ; mostraremos oportunamente que o exame dos helenismos nelas encontrados poderá fornecer alguns critérios válidos ou plausíveis p a r a a elucidação do i m p o r t a n t e p r o -blema.

4 . O a r g u m e n t o das peças de P l a u t o é extraído da v i d a diária, de acordo com a inovação i n t r o d u z i d a pela Néa — a "Comédia N o v a " grega. Sabe-se, com efeito, que P l a u t o usou como fontes de inspiração p a r a as suas peças as obras da Co-média Nova, pois não era p e r m i t i d o colocar em cena perso-nagens, usos e costumes romanos, donde a necessidade de os autores dramáticos i r e m buscar os modelos de suas obras n a l i t e r a t u r a grega, que fornecia vasto m a t e r i a l de escolha. Sobre a m a n e i r a pela qual Plauto a p r o v e i t o u esse m a t e r i a l , várias opiniões se têm sucedido, e das mais contraditórias. Há os que vêem e m Plauto u m simples t r a d u t o r , até mesmo u m m a u t r a d u t o r , às vezes, dos modelos gregos; p a r a os mais e x t r e -mados defensores desta t e o r i a , a i n a b i l i d a d e de P l a u t o chegou ao ponto de não t o m a r conhecimento do público, t r a d u z i n d o

coisas que este não poderia sequer e n t e n d e r .3 Com L e o4

inicia-se uma corrente de estudos que coloca o problema das relações entre a obra p l a u t i n a e os seus modelos gregos em bases rigorosamente científicas, focalizando e p r o c u r a n d o ex-p l i c a r à luz de dados concretos e objetivos as técnicas de utilização do m a t e r i a l de que o nosso poeta se s e r y i u ; e este problema se resume, em última análise, no processo da "con-taminação", que é, ela própria, u m t i p o de imitação. Centenas de trabalhos têm sido elaborados p a r a e x p l i c a r a " c o n t a m i n a -ção", que podemos r e s u m i r como sendo u m processo complexo

de aproveitamento de várias fontes que concorrem p a r a a

composição de uma única peça; este processo pode ter-se desen-volvido de várias m a n e i r a s : ou representa a fusão t o t a l de duas ou mais peças n u m a só, ou apenas a inserção de elemen-tos acessórios — cenas, personagens, episódios isolados — no

( 3 ) C f . a a f i r m a ç ã o d e S c h u s t e r , c i t a d o p o r R . P e r n a e m L ' o r i g i n a l i t à di flauto, B a r i , 1 9 5 5 , p . 1 2 : " t r a n s t u l i t ( P l a u t u s ) i n p a l l i a t a m e t i a m q u a e s p e c t a t o r e s m i n i m e p o s s e n t p e r s e n t i s c e r e * ' .

(4)

enredo de u m o r i g i n a l com a f i n a l i d a d e de enriquecê-lo.5 Os

autores que a d m i t e m a "contaminação" p a r t e m geralmente de u m postulado comum, o da "insuficiência técnica" de P l a u t o : os críticos mais severos, como Leo, F r a n k e l , Jachmann, acei-tando o pressuposto da absoluta perfeição da Néa , a f i r m a m que Plauto i m i t o u m a l seus modelos. Outros críticos, como P r e h n , Prescott, Cooper e outros, lançando a dúvida sobre a suposta perfeição da Néa , a f i r m a m que P l a u t o i m i t o u modelos i m p e r f e i t o s . M a i s recentemente ainda, a crítica t e m procurado fazer justiça ao grande comediógrafo l a t i n o : autores como Sedgwick, L i t t l e , H o u g h têm reconhecido em Plauto o verdadeiro criador, o descobridor de novos rumos p a r a a comédia, o a r t i s t a genial que r e t r a t a fielmente u m a época com seus gostos e suas exigências. Ora, se a imitação repre-senta uma espécie de estágio intermediário, a transição entre o plágio p u r o e simples e a criação i n t e g r a l , devemos concordar pelo menos com que o t r a b a l h o de remanejamento p r a t i c a d o por Plauto, o seu esforço de renovação da comédia grega no sentido da m a i o r vivacidade, já são uma p r o v a de o r i g i n a l i

-dade. 6

P o r o u t r o lado, até há pouco tempo, qualquer t e n t a t i v a de elucidação dos processos de "contaminação" era d i f i c u l t a d a , ou mesmo f r u s t r a d a , porque baseada em g r a n d e p a r t e na compa-ração entre u m c o n j u n t o conhecido de obras — as de Plauto e de Terêncio p r i n c i p a l m e n t e — e o u t r o conjunto praticamente desconhecido, a não ser através de f r a g m e n t o s ; atualmente, com a descoberta da até agora única peça íntegra da Comédia N o v a , o h.vakoXos de Menandro, é possível f u n d a m e n t a r os estudos neste sentido sobre bases mais sólidas: e o que de novo s u r g i u ? Quase nada, a não ser aquilo que já se s u p u n h a : entre Plauto e M e n a n d r o m u i t o pouco há em c o m u m ; certa-mente Plauto conheceu e u t i l i z o u a obra de M e n a n d r o , mas o que salta aos olhos é a l i v r e reelaboração do m a t e r i a l utilizado,

ma verdadeira recriação, a absoluta liberdade e indepen-ência, salvo em pormenores sem m a i o r importância, diante do modelo.

P o r t u d o isso, e pela grande desenvoltura que Plauto m o s t r a nos diálogos, cheios de calor e graça, pela e x t r a o r d i -nária variedade de metros líricos empregada nos cantica —

( 6 ) V e j a m - s e a r e s p e i t o a s o b r a s d e B . A . T a l a d o i r e , Essai sur le comique de Plaute, M o n a c o , 1 9 5 6 , p . 57 e s e e s , , e d e G . E . D u c k w o r t h , The nature of roman comedy. P r i n c e t o n , 1 9 5 2 , p . 2 0 2 e s e g s .

( 6 ) C o n s u l t e - s e a r e s p e i t o a j á c i t a d a o b r a d e R . P e r n a , q u e c o n t é m u m c o m p l e t o e s e g u r o a p a n h a d o c r i t i c o d o status qiuiestionis.

(5)

certamente inexistentes nos exemplares gregos — , podemos a f i r m a r que Plauto está longe de t e r sido m e r o t r a d u t o r de peças gregas, devendo antes ser considerado escritor plena-mente o r i g i n a l , de uma o r i g i n a l i d a d e sem dúvida sui generis, mas reveladora de u m estilo e de u m a arte próprios e inimitáveis.

5. O u t r o ponto de controvérsia no qual os críticos se debatem é o da natureza do público a que se destinavam as comédias de Plauto e a a t i t u d e do poeta e m face do seu auditório. A s discussões sobre a matéria se têm sucedido e os resultados atuais dos estudos parecem inclinar-se p a r a uma revisão da communis opinio de que o público p l a u t i n o era totalmente i g n o r a n t e e grosseiro. F o r a m desta opinião, entre outros, Ribbeck, M a r t h a , Fábia, M i c h a u t , especialmente este último, que se compraz em salientar a grosseria, a obtusidade

e o baixo nível m e n t a l do público r o m a n o .7

Cremos que ninguém chegará ao e x t r e m o de a t r i b u i r ao auditório romano da época de Plauto uma inteligência e, principalmente, uma c u l t u r a artística que estava ainda longe de possuir; mas também não parece possível concordar com os autores supracitados quando defendem a idéia de u m a t o t a l incapacidade do público em perceber e apreciar as sutilezas de uma obra de arte que estivesse apenas acima do plano das vulgaridades e das obscenidades.

A q u i , como alhures, o meio t e r m o se impõe. Não se pretende negar a heterogeneidade da população de Roma e, p o r t a n t o , do público que assistia às representações teatrais, constituído de elementos de todas as camadas sociais e de todos os níveis culturais. Mas, desde que é impossível dissociar uma o b r a literária, especialmente de caráter dramático, do auditório a quem se destina e a cujo j u l g a m e n t o se submete, a obra de Plauto, pelo êxito que obteve j u n t o ao público, mostra-nos bem que era compreendida por este na sua t o t a l i d a d e ; e se isto aconteceu, f o i porque não era ele tão i g n o r a n t e e grosseiro como se t e m comumente a d m i t i d o .

Gostaríamos de c i t a r a este respeito, a b r i n d o u m pequeno parêntesis, a atitude de Terêncio perante o seu auditório: os prólogos das suas peças nos apresentam uma v e r d a d e i r a polêmica literária, i n t r o d u z e m os espectadores e os modernos

( 7 ) G . M i c h a u t , Histoire de la Comédie Romaine. Plante; 2 v o l . , P a r i s , 1 9 2 0 , V e j a - s e . p o r e x . , a a f i r m a ç ã o q u e o a u t o r f a z à p . 2 8 8 d o v o l . I I , d e q u e o d e s e q u i l í b r i o q u e se n o t a n a s p e ç a s d e P l a u t o é c o n s c i e n t e , p r o p o s i t a l , e c o n s t i t u i u m p r o c e s s o q u e se d e s t i n a a " a d a p t a r as c o m é d i a s g r ^ K a s a o K o s t o i m p e r f e i t o d o a u d i t ó r i o r o m a n o " .

(6)

leitores n u m ambiente c u l t u r a l m e n t e evoluído, submetendo-lhes questões que envolvem problemas estéticos e critérios de o r i g i n a l i d a d e p a r a serem julgados e resolvidos pela inteligência, pelo gosto artístico, pelas experiências e pelos conhecimentos das técnicas t e a t r a i s que estes espectadores certamente possuíam. E tudo isto somente seria possível se os romanos estivessem há longo tempo f a m i l i a r i z a d o s com u m gênero literário que lhes atingisse d i r e t a m e n t e a sensibilidade e a inteligência. Poder-se-ia o b j e t a r que entre Plauto e Terêncio decorreu uma geração, e que em t r i n t a anos, m a i s ou menos, m u i t a coisa pode ser a l t e r a d a : e também isto é verdade, mas não devemos esquecer que mesmo após a m o r t e de Plauto as suas peças c o n t i n u a r a m sendo representadas nos palcos romanos, e que m u i t o s dos espectadores e dos apreciadores do t e a t r o p l a u t i n o v i v e r a m o suficiente p a r a assistirem às peças de Terêncio; o r a , exatamente esta parte do auditório, composta dos que chamaríamos de "veteranos do espetáculo", é que melhor possuía aquela f a m i l i a r i d a d e e aquela experiência de que falamos.

6. V o l t a n d o ao auditório p l a u t i n o , podemos a v a l i a r facilmente quais t e r i a m sido os fatores que l e v a r a m m u i t o s críticos a julgá-lo grosseiro e obtuso; o p r i n c i p a l deles reside nos prólogos.

A m a i o r i a das comédias de Plauto apresenta u m prólogo, destinado geralmente a antecipar ao público certos pormenores da ação que se irá desenrolar, ou até mesmo o desenvolvimento, em linhas gerais, da própria ação, no caso de esta parecer

demasiadamente c o m p l i c a d a .8 Pode parecer então, à p r i m e i r a

vista, que a necessidade de fornecer explicações, às vezes abundantes e minuciosas, ao público, postula a incapacidade deste de acompanhar e de compreender a i n t r i g a de uma peça; estaria provada, pois, a grosseria do público romano. Cita-se sempre em desabono do auditório o prólogo do Poenulus, em sua p a r t e i n i c i a l , onde P l a u t o nos dá uma visão pitoresca da babélica aglomeração de povo n u m d i a de espetáculos: velhas p r o s t i t u t a s que t e n t a m sentar-se no palco, gente que v a i e vem, escravos que ocupam os lugares dos livres, amas secas que

( 8 ) N ã o e n t r a r e m o s e m c o n s i d e r a ç õ e s s o b r e a a u t e n t i c i d a d e o u n ã o d o s p r ó l o g o s p l a u t i n o s , q u e m u i t o s c r í t i c o s t ê m p o s t o e m d ú v i d a ; é o p i n i ã o c o r r e n t e , m o d e r n a -m e n t e . Q u e se d e v a -m a c e i t a r c o -m o a u t ê n t i c o s , e n ã o f r u t o d e p o s t e r i o r retractatio, t o d o s o s p r ó l o g o s , s a l v o o d a Casina, q u e j á L e o , Plaut. Forsch., p . 1 7 1 , c o n s i d e r o u i n t e r p o l a d o , a o m e n o s p a r c i a l m e n t e , a l é m d e a l g u n s v e r s o s i s o l a d o s e m v á r i o s o u t r o s p r ó l o g o s , e q u e t a m b é m p a r e c e m d u v i d o s o s . E m r e s u m o , c o n c o r d a m o s c o m a p o s i ç ã o m o d e r a d a a s s u m i d a p o r C . M a r c h e s i , Storia delia letteratura latina, 2 v o l s . M i l a n o , 1 9 5 9 , q u e a f i r m a à p . 5 0 d o v o l . I : ' ' O s p r ó l o g o s f o r a m e s c r i t o s p o r P l a u t o | . . . [ m a s n e m t o d o s p e r m a n e c e r a m n a f o r m a g e n u í n a " .

(7)

trazem ao teatro crianças que b e r r a m como cabritos, mulheres que conversam com suas vizinhas — u m a a l g a z a r r a m e d o n h a . . . Seria este o público que pretendemos s u b t r a i r à visão t r a d i c i o n a l que dele se f o r m o u ? N ã o seria esta visão t r a d i c i o n a l a correta, se levarmos em conta alusões como e s t a :

D o r m i e n t i s spectatores metuis ne ex somno excites? ( M e r c . 160)

("Tens medo de acordar os espectadores que estão d o r m i n d o ? " ) que depõem c o n t r a a atenção que os espectadores prestavam à representação? E que dizer dos apelos reiterados do poeta ao público, expressos pelas palavras silete, tacete,

adeste cum silentio, animam advortite, operam date e

seme-lhantes, e que são comuns nos prólogos plautinos?

Se não chega a acontecer exatamente o contrário, pelo menos bem diferente é a interpretação que se faz m i s t e r t e n t a r .

M l l e . G u i l l e m i n percebeu claramente o perigo de t o m a r ao pé da l e t r a certas passagens de Plauto, e especialmente a r e l a t i v a à paisagem h u m a n a t a l como se nos apresenta no

prólogo do Poenulus:9 na realidade, aquele quadro, u m t a n t o

p e r t u r b a d o r , não deve ser levado m u i t o a sério, porque P l a u t o quis evidentemente fazer não o r e t r a t o f i e l , mas a c a r i c a t u r a da realidade, o que é até certo ponto n a t u r a l e até desejável n u m poeta cômico. A mesma cautela se deve usar p a r a com as repetidas advertências que P l a u t o d i r i g e aos espectadores: é u m dos m u i t o s processos que o a u t o r emprega para, de certa f o r m a , a g r a d a r ao público, tornando-o p a r t i c i p a n t e da própria ação. Seria desnecessário t e n t a r t r a n s c r e v e r todos os trechos em que este processo é empregado p o r P l a u t o em função de uma técnica dramática destinada a u m a captatio benevolentiae que l e v a r i a n a t u r a l m e n t e os espectadores a se i n t e g r a r e m na ação e a se i d e n t i f i c a r e m com as personagens; citaremos apenas u m caso típico e que nos pareceu o mais s i g n i f i c a t i v o entre todos: são os versos 715-720 da Aulularia, e m que Euclião, no desespero que lhe v i n h a da perda do seu tesouro, dirige-se ao auditório solicitando-lhe que o a u x i l i e na busca:

" E t u , que me dizes? E m t i e u c o n f i o : t e n s c a r a de h o n e s t o . Q u e é que há? P o r que e s t a i s a r i r ? E u vos conheço u m p o r u m : sei que a q u i há m u i t o s ladrões disfarçados d e b a i x o de r o u p a s b o n i t a s , e que f i c a m s e n t a d i n h o s e m seus l u g a r e s como se f o s s e m g e n t e h o n e s t a . E então? Q u e m está c o m o

(8)

m e u d i n h e i r o ? N i n g u é m . T u m e m a t a s . F a l a , v a m o s , c o m q u e m está? N ã o sabes? A h , p o b r e de m i m . . . "

Podemos i m a g i n a r facilmente o efeito que tais palavras exerciam sobre os espectadores, que não e r a m os receptores passivos dos gracejos do autor, mas t i n h a m a ilusão de p a r t i -c i p a r de alguma m a n e i r a da t r a m a , de serem os depositários de u m segredo a eles confiado pelo poeta e que o a t o r p r o c u r a v a desesperadamente desvendar.

Tais recursos e r a m seguramente apreciados por todos. Cèbe m o s t r o u com m u i t a razão que na Roma do tempo de Plauto não h a v i a u m público p a r a a tragédia e o u t r o p a r a a

comédia: 1 0 o público era o mesmo, os gostos e r a m comuns, e

a habilidade de Plauto consiste em a g r a d a r igualmente à massa e à e l i t e ; mesmo quando p a r o d i a v a as tragédias e i n -t r o d u z i a em suas peças referências mi-tológicas que hoje nos parecem obscuras, certamente o público, que não era tão ignorante, sabia reconhecer personagens e episódios, e apreciar o contraste proveniente do t r a t a m e n t o cômico de m a t e r i a l trágico.

7. Também é oportuno e l i m i n a r o preconceito de que o público, t r a d i c i o n a l m e n t e considerado t u m u l t u o s o , dispersivo e boçal, necessitava de contínuos esclarecimentos p a r a compreender as peças. H o u g h , n u m t r a b a l h o i n t e l i g e n t e e bem

d o c u m e n t a d o ,1 1 m o s t r o u i n i c i a l m e n t e que nem todas as peças

de Plauto apresentam explicações abundantes e até mesmo excessivas; e a p a r t i r da constatação e da análise deste f a t o , tentou elaborar u m esboço de cronologia bastante s i g n i f i c a -t i v o : as peças mais an-tigas são as que con-têm maiores e mais minuciosas explicações prévias e repetidas ao longo da i n t r i g a (ex.: Poenulus, v. 547 e segs.), enquanto as peças mais recentes são pobres em informações, ou carecem t o t a l m e n t e delas. O que ocorreu, na intepretação daquele autor, f o i que, à medida que se i a m sucedendo as representações, o auditório r o m a n o ia-se t o r n a n d o cada vez mais f a m i l i a r i z a d o com aquele gênero dramático, de e s t r u t u r a relativamente simples e constante, a ponto de não mais precisar, no f i n a l da c a r r e i r a de Plauto, de tantas explicações quantas e r a m necessárias no início da mesma.

De t u d o isto que aqui ficou d i t o , podemos e x t r a i r u m a conclusão substancialmante diversa da concepção t r a d i c i o n a l

( 1 0 ) J . P . C è b e , " L e n i v e a u c u l t u r e l d u p u b l i c p l a u t i n i e n " , R.B.L., X X X V I I I , p . 1 0 1 - 1 0 6 . ( 1 1 ) J . N . H o u g h . " T h e u n d e r s t a n d i n g o f i n t r i g u e : a s t u d y i n p l a u t i n e c h r o n o l o g y " ,

(9)

sobre o auditório romano da época de P l a u t o : o público, no fundo, não era absolutamente estúpido, de inteligência l i m i t a d a e de conhecimentos mais l i m i t a d o s a i n d a ; era, isto s i m , exigente, ou, como a f i r m a m u i t o bem o já citado T a l a d o i r e , "difícil de satisfazer, apegado ao seu prazer, e já r i c o em exigências dramáticas".

Tudo isto nos ajuda a compreender m e l h o r a comédia p l a u t i n a : devemos concluir que Plauto p a r t i u de modelos gregos para fazer u m a comédia que não é nem grega nem romana — é i n t e i r a m e n t e " p l a u t i n a " , no sentido em que modifica substancialmente o espírito, mais do que a e s t r u t u r a , da Néa .

8. Escaparia aos nossos propósitos fazer o estudo das numerosas inovações que Plauto i n t r o d u z i u na palliata (a comédia l a t i n a de a r g u m e n t o g r e g o ) , mas não podem f i c a r sem r e g i s t r o algumas conclusões, embora esquemáticas: com o genial sarsinate a palliata deu l a r g a acolhida à herança itálica das atelanas e das farsas fliácicas m e r i d i o n a i s , donde a exa-cerbação do caráter licencioso, grosseiro e farsesco das peças; os diálogos g a n h a r a m em extensão e em vivacidade, e a c o m i c i -dade v e r b a l adquire u m papel e x t r a o r d i n a r i a m e n t e i m p o r t a n t e ; a "contaminação" complicou a i n t r i g a e se t o r n o u f a t o r de comicidade na medida em que s e r v i u p a r a c r i a r situações i n t r i n c a d a s e ridículas; e f i n a l m e n t e , as partes líricas, i n c l u i n d o as duas modalidades — r e c i t a t i v o com acompanhamento musical e partes p r o p r i a m e n t e cantadas — , são ampliadas até a t i n g i r em certas peças os 3 / 4 do t o t a l dos versos, o que

a p r o x i m a a comédia p l a u t i n a da moderna o p e r e t a .1 2

F o r a m exatamente estas inovações que t o r n a r a m P l a u t o o a u t o r p r e f e r i d o do público da época, e a esta posição o ipoeta f o i levado pelo conhecimento p r o f u n d o que t i n h a do seu público: em função dele P l a u t o escreveu as suas peças, nelas inserindo todos os ingredientes cômicos que pudessem a g r a d a r a u m auditório experiente e exigente em matéria de riso. U m dos grandes valores de Plauto reside j u s t a m e n t e no a p r o v e i t a -mento dos recursos existentes e na sua adaptação às circuns-tâncias: esta conduta fez de Plauto, senão o m a i o r , u m dos maiores cômicos de todos os tempos.

( 1 2 ) L e i a m - s e a r e s p e i t o as p á g i n a s d e d i c a d a s a o a s s u n t o p o r D u c k w o r t h , op. cit., p . 3 6 1 - 3 8 0 , q u e t r a z e m u m a a n á l i s e m i n u c i o s a e b e m d o c u m e n t a d a d a c o m p o s i ç ã o m é t r i c o - m u s i c a l d a s p e ç a s p l a u t i n a s , e o n d e v e m c i t a d a a t e o r i a d e S e d g w i c k q u e f a z c o i n c i d i r a p r o g r e s s ã o c r e s c e n t e d a s p a r t e s l í r i c a s c o m a d a c r o n o l o g i a p l a u t i n a . m o s t r a n d o a g r a d a t i v a l i b e r t a ç ã o , e m P l a u t o , d o s e s q u e m a s d a N é a , e o c o n s e q ü e n t e e n r i q u e c i m e n t o Ho c a n t o e m s u a s c o m é d i a s .

(10)

9 . P r a t i c a m e n t e desde a época de sua fundação, que a tradição coloca em meados do séc. V I I I a . C , e d u r a n t e longos séculos, Roma sofreu influências, d i r e t a s ou i n d i r e t a s , da c u l t u r a grega — diretas através das colônias que os gregos f u n d a r a m em profusão nas costas da M a g n a Grécia e da Sicília, e i n d i r e t a s através dos etruscos do n o r t e e do centro da península. Que essas influências e x i s t i r a m e f o r a m da máxima relevância não escapou à totalidade dos h i s t o r i a d o r e s e dos críticos literários que estudaram o assunto. Infelizmente, a escassez de fontes históricas e de documentos epigráficos, aliados à obscuridade e ao halo de lendas que cercam os p r i m e i r o s séculos de Roma, não nos p e r m i t e m a v a l i a r com segurança os l i m i t e s das contribuições estrangeiras — gregas, em p a r t i c u l a r — p a r a a c u l t u r a romana.

P o r o u t r o lado, esta insegurança é pelo menos atenuada pela existência de o u t r a espécie de documentos — documentos arqueológicos — , cuja natureza e quantidade c o n f i r m a m a influência helénica (quer p o r intermédio etrusco, quer i t a l i o t a ) nas artes f i g u r a t i v a s , na religião e na m i t o l o g i a , no d i r e i t o e, presumivelmente, na língua e na i n c i p i e n t e l i t e r a t u r a dos romanos. Vasos, afrescos, utensílios, esculturas, encontrados em abundância em território itálico atestam a penetração da c u l t u r a grega, sob as mais v a r i a d a s facetas, e a sua p r o n t a difusão desde as épocas mais remotas. E x e m p l o disto é o conjunto de estatuetas de cerâmica, datadas do séc. V a . C . e encontradas em Veios, representando Enéias carregando nos ombros o p a i Anquises d u r a n t e a sua fuga de Tróia: indício de que a lenda de Enéias e todo o ciclo épico l i g a d o à sua chegada à Itália estavam bastante a r r a i g a d o s e n t r e as populações indígenas m u i t o tempo antes de serem aproveitados pelos p r i m e i r o s escritores latinos, que assim se t e r i a m

ins-p i r a d o em m i t o s largamente conhecidos em solo itálico. , : i

10. Tentaremos esboçar u m quadro sucinto da penetra-ção da c u l t u r a grega em Roma, penetrapenetra-ção que se processou, lenta mas continuamente, nos vários setores da v i d a da cidade, desde os p r i m e i r o s contactos i n d i r e t o s e n t r e os dois mundos até a invasão maciça que se i n i c i a no séc. I I I a . C , n u m a

( 1 3 ) P a r a u l t e r i o r e s i n f o r m a ç õ e s d e o r d e m h i s t ó r i c a , l i t e r á r i a o u l i n g ü í s t i c a , c o n s u l -t e m - s e , e n -t r e o u -t r a s , a s o b r a s d e R . C o h e n , La Grèce c-t V helléniaa-tion du mondr antique. P a r i s , 1 9 4 8 ; P . G r i m a l , L e siècle dea Scipiona. Rome et Vhelléniame au temp» dea guerrea puniques. P a r i s , 1 9 5 3 ; G . D e v o t o , Storia delia língua di Roma, B o l o g n a , 1 9 4 4 ; A . M e i l l e t , Esquisae oVune hiatoire de la langue latine. P a r i s , 1 9 5 2 : L . P a r e t i , Storia di Roma e dei mondo romano, 5 v o l . , T o r i n o , 1 9 5 2 - 1 9 6 0 ; A. R o s t a g n i , Letteratura latina, 2 v o l . , T o r i n o , 1 9 5 4 .

(11)

progressão crescente que deu o r i g e m , e m última análise, à floração de u m a i m p o r t a n t e l i t e r a t u r a helenizante.

Parece aceitável que o f a t o r decisivo p a r a a penetração da c u l t u r a grega na Itália c e n t r a l e, conseqüentemente, em Roma, f o i a fundação da colônia calcídica de Cumas, no séc. V I I I a . C . Este fato a b r i u o caminho p a r a o intercâmbio, cada vez mais fecundo e intenso, e n t r e as colônias gregas fundadas a p a r t i r daquela d a t a e o m u n d o itálico. É tese universalmente aceita que a penetração comercial no domínio itálico se fez através da Etrúria m e r i d i o n a l . C o m relação a esta afirmação, cabe l e m b r a r que os etruscos h a b i t a v a m u m vasto território, que se estendia desde a planície padana até a Campânia. Às margens do Mediterrâneo ocidental, pois, os territórios latinos constituíam u m v e r d a d e i r o enclave e m território etrusco; e se p o r quaisquer circunstâncias os etruscos t i n h a m deixado de d o m i n a r aquelas t e r r a s , não i r i a m perder a oportunidade de i n f i l t r a r - s e em Roma, importantíssima, pela sua posição estratégica p r i v i l e g i a d a , p a r a as suas relações comerciais com os gregos que d o m i n a v a m o sul da península. E os etruscos p e n e t r a r a m realmente em R o m a : conta a tradição que os últimos reis de Roma f o r a m etruscos, o que não é difícil aceitar p o r várias razões de o r d e m histórica. M a s o que é i m p o r t a n t e ressaltar é que os próprios etruscos f o r a m p r o -fundamente influenciados pelos gregos. T a r q u i n i o o A n t i g o t e r i a sido de o r i g e m grega, sendo seu p a i n a t u r a l de C o r i n t o . Com os gregos do sul da Itália os etruscos m a n t i v e r a m con-tínuos contactos, quer comerciais, trocando com eles suas mercadorias, quer m i l i t a r e s , c o n t r a eles l u t a n d o em busca de uma talassocracia que lhes desse o domínio t o t a l do M e d i t e r -râneo, o que nunca o b t i v e r a m , barrados ao sul pelos gregos e ao ocidente pelos cartagineses.

F o r a m , p o r t a n t o , os etruscos os p r i m e i r o s intermediários e n t r e a M a g n a Grécia e Roma. Quando, a p a r t i r do séc. V a . C , os etruscos p e r d e r a m a sua importância política, m i l i t a r e comercial, em conseqüência das pressões e das d e r r o t a s sofridas ao norte p o r p a r t e dos gauleses invasores, e no c e n t r o às mãos dos romanos, os contactos e n t r e os dois mundos começaram a fazer-se de f o r m a d i r e t a . Tratava-se a i n d a de relações econômicas, e não políticas, como salienta C o h e n : mercadores gregos e t r a f i c a n t e s i t a l i a n o s e r a m "os únicos

agentes de ligação entre os dois mundos". 1 4

(12)

É preciso, no entanto, esclarecer melhor e c o m p l e m e n t a r essa afirmação: não se deve pensar que a a r i s t o c r a c i a r u r a l que d o m i n a v a então em R o m a estava interessada exclusiva-mente e m vender, c o m p r a r e t r o c a r artefatos e p r o d u t o s da t e r r a ; houve, certamente, intercâmbio de o r d e m c u l t u r a l (se por preocupação i n t e n c i o n a l ou se por conseqüência d i r e t a dos contactos, não saberíamos d i z e r ) . Sabe-se, por exemplo, da e x t r e m a f l e x i b i l i d a d e da religião romana, sempre p r o n t a a acolher no seu " P a n t h e o n " as divindades e s t r a n g e i r a s ; assim f o i , sem dúvida por intermédio dos etruscos, que parece t e r e m sido i n t r o d u z i d o s em Roma cultos gregos e, com eles, f a t a l -mente, todo o r i t u a l indispensável, desde o início do séc. V a . C : o dos Dióscuros em 484, os de Demetér, D i o n i s o e Cora em 493, o de Hermes em 495, o de Apolo em 496 ou mesmo antes, o que m o s t r a que os romanos não i m p o r t a v a m da M a g n a Grécia somente óleo ou v i n h o ou t r i g o , ou objetos de l u x o , mas i m p o r t a v a m c u l t u r a t a m b é m .1 5

E n t r e t a n t o , estes p r i m e i r o s contactos, ainda espaçados e restritos, constituem apenas os p r e l i m i n a r e s para a v e r d a d e i r a avalancha grega que se despejou sobre o m u n d o romano a p a r t i r mais ou menos do início do séc. I I I a . C , i s t o é, a p a r t i r do momento em que Roma, no seu afã de expansão e de con-quista, v o l t o u suas vistas p a r a o sul da Itália e p a r a a Sicília, p a r t i c u l a r m e n t e esta, que com suas t e r r a s férteis podia r e p r e -sentar uma excelente fonte de abastecimento de cereais p a r a os romanos.

A s guerras saníticas, que entre outras conseqüências t i v e r a m a de pôr t e r m o às pretensões e ao poderio bélico dos povos itálicos, a d e r r o t a das forças de P i r r o e a conquista de T a r e n t o em 272 a . C , representam p a r a Roma a possibilidade de uma tomada de contacto d i r e t o — e isto é m u i t o i m p o r t a n t e — com os centros de irradiação e de difusão da c u l t u r a grega. O caminho para a invasão, em sentido contrário e de ordem não m i l i t a r mas c u l t u r a l , estava aberto, e l a r g a m e n t e a b e r t o : por ele precipitou-se o helenismo à conquista de Roma.

A p a r t i r desta data, os dados constituídos pelas fontes históricas e literárias de que dispomos são numerosos; a i n -fluência grega, até então l i m i t a d a , diríamos quase imponderá-vel se comparada com o período que ora se i n i c i a , torna-se a q u i imponente, poderosa, tangível.

(13)

1 1 . Dissemos que o processo de helenização da c u l t u r a romana acelerou-se e x t r a o r d i n a r i a m e n t e d u r a n t e os séculos I I I

e I I a . C . — época da conquista da Grécia, quer da M a g n a Grécia e da Sicília, quer da própria Hélade e da Ásia helenizada.

Focalizaremos aqui, de m a n e i r a sucinta, os p r i n c i p a i s acontecimentos históricos que p r o p i c i a r a m o enriquecimento c u l t u r a l dos romanos, f r u t o do conhecimento de u m novo mundo, rico em tesouros de arte, de filosofia, de l i t e r a t u r a , centro e s p i r i t u a l de m u n d o a n t i g o .

Iniciamos nossa breve resenha com a t o m a d a de T a r e n t o , em 272 a . C : e n t r a m em Roma como p r i s i o n e i r o s do exército vencedor os soldados derrotados, de várias nacionalidades, Molossos, Macedônios, Tessálios, italianos do sul, todos profundamente helenizados; obras de a r t e gregas são trazidas a Roma, ornando a parada t r i u n f a l do vencedor, L . Papírio Cursor. Várias e i m p o r t a n t e s f o r a m as conseqüências deste fato*: artistas gregos passaram a executar suas obras de a r t e na própria Itália r o m a n a e a ensinar suas técnicas; escravos gregos helenizados provenientes das t e r r a s conquistadas e r a m encarregados, na qualidade de "pedagogos", da educação — em moldes gregos — dos filhos das famílias aristocráticas de R o m a ; Espúrio Carvílio, u m l i b e r t o , a b r i u em Roma a p r i m e i r a escola pública, na segunda metade do séc. I I I a . C , onde os jovens romanos estudavam as obras dos autores gregos; e finalmente, em 240 a . C , o grego t a r e n t i n o Lívio Andrônico apresenta uma peça t e a t r a l de sua a u t o r i a , t r a d u z i d a livremente de o r i g i n a l grego, sendo por isso considerado o i n i c i a d o r da l i t e r a t u r a l a t i n a helenizada.

Depois da g u e r r a t a r e n t i n a , o f a t o histórico de m a i o r ressonância na p r i m e i r a metade do séc. I I I a . C . f o i a P r i m e i r a Guerra Púnica: o i m p e r i a l i s m o crescente dos romanos teve a oportunidade de e x p e r i m e n t a r suas forças f o r a da península, e após uma g u e r r a prolongada e sangrenta, de 264 a 241 a . C , pôs o pé na Sicília, que a r r a n c o u a Cartago com exceção do território de Siracusa. O resultado f o i que, " t e r m i n a d a a guerra, a população, quer romana, quer aliada, era | . . . consciente de ser m u i t o diversa do que f o r a uma geração antes I . . . I A grande massa dos soldados e dos m a r i n h e i r o s , que por longos anos t i n h a m v i v i d o f o r a da península, em contacto

com as gentes refinadas da Sicília e da M a g n a Grécia, j . . . I

t i n h a regressado à pátria com uma nova bagagem de experiên-cias, de conhecimentos, de t e r m i n o l o g i a , com o espírito refinado

(14)

Apenas umas palavras mais sobre a significação da proclamação de F l a m i n i n o . Deve ela ser encarada menos como a reação humanitária e até certo ponto i m p u l s i v a de u m filo-helênico convicto, do que como a caracterização e a exte-riorização de uma nova mentalidade com relação ao helenismo, que já t o m a r a conta do própria Senado romano.

E diante das premissas apresentadas, parecenos p e r f e i t a -mente lógico o desfecho: Roma v a i helenizando-se paula-tinamente, e os p r i m e r i o s movimentos neste sentido p a r t i r a m da plebe, mais permeável às influências inovadoras de qualquer espécie; com o passar do tempo, e à medida que os novos contactos, comerciais ou m i l i t a r e s , p r o p o r c i o n a v a m a infiltração de u m número cada vez m a i o r de elementos helenizados em Roma, a causa do helenismo começa a exercer pressão sobre os círculos conservadores, a a r i s t o c r a c i a e o Senado, até que estes, vencidos pelo descortínio de u m m u n d o rico em valores estéticos, literários, filosóficos, p r o d u t o de quase u m milênio de fecunda civilização, deixaramse p e n e t r a r p o r u m s e n t i -mento novo de admiração e respeito, a princípio, de f r a n c a e incondicional adesão posteriormente, à causa, já ganha, do helenismo.

A resistência de Catão, o Censor, e as suas investidas contra o helenismo invasor, em f a v o r das legítimas tradições ancestrais, parecem t e r sido exemplo isolado, a " v o x c l a m a n t i s i n deserto", logo sufocada pela gigantesca onda das influências helénicas. E não f o i sem razão que, cerca de 150 anos mais tarde, e p o r t a n t o com suficiente perspectiva histórica p a r a discernir os fatos, o poeta Horácio escreveu:

Graecia capta f e r u m v i c t o r e m c e p i t , . . . (Epíst. I I , 1, 156)

" A Grécia dominada conquistou seu rude e i n c u l t o vencedor".

12. Passaremos agora a algumas ligeiras considerações acerca das influências que a civilização grega t r o u x e p a r a a língua l a t i n a . Já mencionamos a importância do intermediário etrusco na fase i n i c i a l do processo de helenização de R o m a : é n a t u r a l que a mediação etrusca se fizesse presente também no aspecto lingüístico desse processo. L e m b r a r e m o s i n i c i a l m e n t e que o alfabeto l a t i n o , assim como o de todos os demais dialetos itálicos, é o próprio alfabeto grego, i n t r o d u z i d o e m Roma possivelmente através do etrusco, adaptado às exigências da língua e consideravelmente a l t e r a d o ; em caracteres gregos —

(15)

mas em l a t i m , embora r u d i m e n t a r — são as p r i m e i r a s inscrições latinas conhecidas, datadas provavelmente do séc. V I I ou V I a . C , como a da Fíbula de Preneste e a do Vaso de Dueños.

Está f o r a de dúvida o f a t o de o l a t i m t e r recebido do grego numerosos empréstimos, de vocábulos e de expressões idiomá-ticas, que representam mais u m f a t o r de evolução e de enriquecimento da língua. M a i s adiante discursaremos sobre a antigüidade de certos empréstimos encontrados na o b r a de P l a u t o ; com efeito, embora seja difícil precisar a época da introdução de termos gregos na língua, é fácil v e r i f i c a r que muitos deles r e m o n t a m aos primórdios da civilização l a t i n a , estando perfeitamente incorporados ao vocabulário l a t i n o , enquanto outros são de introdução recente, revelada pela sua f o r m a próxima do o r i g i n a l , sem as alterações que atestam assimilação a n t i g a . M e i l l e t inclina-se a aceitar o séc. V I I a . C como ponto i n i c i a l da ação exercida pelo grego sobre o l a t i m , enquanto Devoto a f i r m a que o p r i m e i r o período em que palavras gregas chegaram a Roma pode ser compreendido

entre 550 e 475 a . C .1 7 Qualquer que tenha sido a data, porém,

o que i m p o r t a salientar é a possibilidade, e até mesmo a p r o babilidade, de t e r havido, como resultado dos contatos f r e -qüentes entre mercadores, m a r i n h e i r o s e viajantes latinos e de outros povos, u m a espécie de jargão i n t e r n a c i o n a l , de língua franca, m i s t u r a de diversos elementos, gregos, latinos, etruscos, fenícios, itálicos, celtas, útil à mútua compreensão. A i m p o r -tância deste f a t o é r e l a t i v a , evidentemente, porque r e s t r i t a e c i r c u n s c r i t a a u m a camada da população, a camada, porém, mais receptiva às influências exóticas, que é a plebe: a m a i o r importância do f a t o está, a nosso ver, em que os helenismos introduzidos por v i a popular c o n s t i t u e m u m lastro, u m a t r a d i ção lingüística e c u l t u r a l que p r e p a r a o caminho à r e c e p t i v i -dade concedida aos helenismos eruditos e, por conseqüência, à criação analógica d e n t r o do próprio l a t i m , que se processou posteriormente.

13. Parece lícito supor que, na época em que Plauto v i v e u e compôs suas obras, a língua grega tivesse u m a a m p l a difusão em Roma, a ponto de alguns estudiosos a considerarem uma segunda língua, como G r i m a l , que a f i r m a : "podemos l e g i t i m a m e n t e a d m i t i r que, pelos meados do séc. I I I antes da

( 1 7 ) A l é m d a s o b r a s j á c i t a d a s d e A . M e i l l e t e G . D e v o t o , c o n s u l t e m - s e a r e s p e i t o A . D a i n , " L e s r a p p o r t s g r é c o - l a t i n s " , Memorial des Etudes Latines, P a r i s , 1 9 4 3 , p . 1 4 9 - 1 6 1 ; J . M a r o u z e a u , Quelques aspects de la formation du latin littéraire, P a r i s , 1 9 4 9 .

(16)

nossa era, Roma era b i l í n g u e " .1 8 A c r e d i t a m o s que esta a f i r

-mação deva ser acolhida com a l g u m a r e s e r v a ; não temos dúvida, entretanto, de que o grego devia ser compreendido e falado, mesmo com as n a t u r a i s deformações próprias dos bilíngues, por uma extensa f a i x a da população da cidade.

Mas que modalidade de grego se f a l a v a em Roma, e p o r quem era falado?

É evidente que a resposta à segunda p e r g u n t a condiciona a p r i m e i r a , ou, na m e l h o r das hipóteses, ambas estão em estreita relação: cada camada da população, em qualquer socie-dade, determina a seleção, a escolha de u m t i p o de l i n g u a g e m adequado às suas necesssidades, aos seus gostos, à sua m a n e i r a de ser e às suas atividades.

Desta f o r m a , teremos que estabelecer i n i c i a l m e n t e u m a distinção entre a classe culta de Roma, geralmente coincidindo com a aristocracia, e a grande massa da população, a plebe, em que se podem i n c l u i r os escravos e os l i b e r t o s . Não há, evidentemente, l i m i t e s rígidos entre essas duas classes, a não ser os de ordem sócio-econômica; do ponto de v i s t a c u l t u r a l , os limites f l u t u a m e os extremos se tocam e se d i l u e m . M l l e . G u i l l e m i n distingue ainda uma t e r c e i r a classe, a dos semicultos, que representaria o agente de ligação, o estágio i n t e r -mediário entre as duas categorias extremas — a plebe

ignorante de u m lado e a aristocracia c u l t a do o u t r o .1 9 Difícil

parece caracterizar o gênero de pessoas que pertencem a esta classe intermediária, de a l g u m a importância como elemento componente do público literário de Roma. E m princípio, poderíamos i n c l u i r aqui uma parte dos componentes da plebe, e mais especificamente, aqueles escravos e l i b e r t o s gregos ou helenizados que desempenharam o papel dos p r i m e i r o s educa-dores da j u v e n t u d e romana. Com efeito, não se podem considerar verdadeiramente cultos os numerosos "pedagogos" a serviço das famílias abastadas: seus conhecimentos, a i n d a que indubitavelmente superiores à média dos romanos da época, não lhes c o n f e r i a m o dom da v e r d a d e i r a c u l t u r a , por não serem profundos nem sistemáticos. Aqueles escravos e libertos, oriundos de regiões helenizadas, apenas ensinavam o grego e comentavam as obras dos autores gregos p a r a os jovens romanos com a n a t u r a l i d a d e e a superficialidade de quem conhece sua língua de o r i g e m , mas também sem a segu-rança e a profundidade do verdadeiro mestre.

( 1 8 ) Op. cit., p . 2 7 . ( 1 9 ) Op. cit., p p . 5-6.

(17)

De qualquer f o r m a , é inegável que o contingente de i n d i -víduos englobados no que se conhece por plebe era a parcela da população numericamente mais representativa, e todos os estudiosos da matéria concordam em que a plebe estava, na época de Plauto, fortemente helenizada. Não parece difícil aceitar esta tese, se l e m b r a r m o s que, como conseqüência d i r e t a das guerras externas, a esmagadora m a i o r i a d a população escrava que f o i i n t r o d u z i d a em Roma era constituída de elementos procedentes de territórios sujeitos à influência g r e g a ; e seu número não era certamente desprezível como componente

da plebe r o m a n a .2 0 Considerando, pois, tais escravos que

provavelmente empregavam o grego como língua c o m u m de suas relações diárias, ou que, pelo menos, estavam aptos a compreendê-lo perfeitamente, e acrescentando-se os já numerosos libertos e os m i l h a r e s de veteranos das g u e r r a s e x t e r i o -res que h a v i a m passado m u i t o s anos em contacto com povos helenizados, teremos u m a visão bastante c l a r a de uma plebe que n u m a porcentagem m u i t o s i g n i f i c a t i v a , no mínimo pela metade, estava à a l t u r a de compreender r u d i m e n t o s de grego, senão mesmo a língua na sua totalidade.

Mas que grego era esse? Não certamente a língua evoluída, r i c a e bem e s t r u t u r a d a , em que estavam escritas as grandes obras clássicas, mas u m a língua s i m p l i f i c a d a , de vocabulário r e s t r i t o e l i m i t a d o às necessidades dos contactos diários, às relações comerciais e profissionais, u m a espécie de koinê despojada dos artifícios que c a r a c t e r i z a m a l i n g u a g e m das classes c u l t a s ; o grego era, e n f i m , na expressão de G r i m a l , "a língua das técnicas c o t i d i a n a s " .2 1

Quanto à aristocracia, a classe culta de Roma, sabe-se que representava, em números, a m i n o r i a absoluta da população, apesar de detentora do poder político e econômico; ela v i n h a sendo aos poucos conquistada pelo helenismo, a ponto de ser, na época de Plauto, i n t e i r a m e n t e favorável a tudo o que fosse grego. D i a n t e do esplendor de uma civilização superior e agora plenamente desvendada e conhecida, a reação de u m Catão ergue-se como u m solitário exemplo logo submergido pela onda de admiração e pelos anseios de assimilação e de e n r i -quecimento e s p i r i t u a l de uma elite consciente e ávida de saber. Não f o r a isto, não seria possível e x p l i c a r certos acontecimentos :

( 2 0 ) E n t r e o s a u t o r e s c o n s u l t a d o s . , F . R . C o w e l l , Everyday life in ancient Rome, L o n d o n , 1 9 6 1 ; M . G r a n t , The world of Rome, L o n d o n , 1 9 6 0 ; T h . W o o d y , Life and education in early societies, N e w Y o r k 1 9 4 9 : a p r o p o r ç ã o e n t r e e s c r a v o s e c i d a d ã o s l i v r e s d e v i a v a r i a r e n t r e 1:3 e 1 : 2 .

(18)

como poderia Postúmio, embaixador dos romanos j u n t o aos tarentinos, ter discursado p a r a estes em grego, já e m 282 a . C , e t e r sido compreendido, se bem que suscitando r i s o no a u d i -t o r i o ? É que, p a r a a aris-tocracia r o m a n a , o grego f o i desde o estabelecimento dos p r i m e i r o s contactos diretos, a língua i n t e r

-nacional, das relações diplomáticas;2 2 é que, "no começo do

séc. I I I , estuda-se em Roma a língua g r e g a " ,2 3 e as únicas

pessoas em condições de aprendê-la e r a m os nobres e seus filhos. O u t r a p r o v a i m p o r t a n t e p a r a m o s t r a r até que ponto o filo-helenismo estava espalhado e p r o f u n d a m e n t o a r r a i g a d o na aristocracia, parecenos o f a t o , já citado, da concessão da i n d e -pendência à Grécia por F l a m i n i n o , em 196 a . C . ; se o Senado, o órgão conservador por excelência d e n t r o da sociedade romana, exarou aquele senatus-consultum, f o i porque naquela época era franco simpatizante da c u l t u r a grega.

F i n a l m e n t e , acerca do p r o b l e m a da difusão do grego e m

Roma, citaremos o pensamento de M e i l l e t :2 4 " N a língua do

povo, esta influência ( i . é , do g r e g o ) se m a n i f e s t a sem reservas; e parece que v e m de longa data. N a língua da elite, ela é mais p r o f u n d a , mas menos antiga, e se d i s s i m u l a p o r trás de uma cuidadosa manutenção das aparências exteriores dos usos t r a d i c i o n a i s " , e o de Boyancé, que a f i r m a que o conheci-mento p r o f u n d o da língua grega, pelo estudo e pela aplicação

metódica, é apanágio das classes cultas, da aristocracia. 2 5

E m resumo, a plebe r o m a n a possuía, na época de Plauto, o conhecimento da língua grega necessário a suas relações diárias, de l i m i t a d a s exigências c u l t u r a i s , pobre e s u p e r f i c i a l . A aristocracia, por sua vez, detentora de u m quase monopólio da c u l t u r a , era a classe que realmente compreendia e f a l a v a o grego, não aquele grego que servia de meio de comunicação r o t i n e i r a , mas aquele, mais p e r f e i t o e rico, que era a v e r d a d e i r a

língua da c u l t u r a ocidental.

14. Acabamos de ver que uma p a r t e considerável da população r o m a n a era constituída de escravos, l i b e r t o s e pessoas que t i n h a m passado vários anos de sua v i d a em contacto com os povos refinados da M a g n a Grécia, da Sicília, do Oriente, onde a p r e n d e r a m a gostar j u n t o aos nativos de m u i t a s coisas para eles desconhecidas, estranhas e fascinantes: a religião, com seus complicados mistérios, e o t e a t r o estavam entre elas.

( 2 2 ) H . I . M a r r o u , Histoire de l'éducation dans l'antiquité, P a r i s , 1 9 5 8 , p . 3 3 2 . ( 2 3 ) G . C o l i n , Rome et la Grèce. De 200 à US avant Jésus-Christ, P a r i s , 1 9 0 5 , p . 1 8 .

( 2 4 ) o p . cit., p . 1 1 7 .

( 2 5 ) P . B o y a n c é , " L a c o n n a i s s a n c e d u g r e c à R o m e " , R . E . L . , X X X I V , p . 1 1 - 1 3 1 , e e s p e c i a l m e n t e p . 1 1 6 .

(19)

A m b a s as manifestações constituem autênticas válvulas p o r onde se escoavam as ansiedades, os temores, as preocupações de homens cansados e extenuados por longas g u e r r a s : buscava-se na religião o conforto através da crença, no t e a t r o o esqueci-mento através do d i v e r t i m e n t o catártico.

E m Roma, escravos e veteranos de g u e r r a p r o c u r a r a m logo e v i t a r a solução de continuidade naquilo a que estavam não somente habituados, mas que representava p a r a eles u m a necessidade e s p i r i t u a l : os romanos precisavam d i v e r t i r - s e , d i s t r a i r o seu espírito nos intervalos, curtos demais, entre u m a g u e r r a e o u t r a , com a sombra da m o r t e a p a i r a r sobre eles ameaçadora; os escravos estrangeiros precisavam esquecer as tristezas da sua condição, e u m passado de liberdade destruído.

Talvez resida aí o p r i n c i p a l m o t i v o do extraordinário florescimento, de u m lado, de cultos novos que p r o p o r c i o n a v a m a seus adeptos a libertação dos rígidos grilhões da religião o f i c i a l ; de o u t r o lado, do teatro, onde sobressaem, p o r influên-cia d i r e t a do d r a m a grego, a tragédia e a comédia.

E m b o r a pareça provável que o público da tragédia e o da comédia fosse substancialmente o mesmo, é lícito supor que houvesse uma discriminação na preferência p o r u m ou o u t r o gênero, de acordo com o nível sócio-cultural dos espectadores. Longas têm sido as controvérsias a respeito dessa preferência; de nossa parte, embora não concordando i n t e i r a m e n t e com alguns historiadores da l i t e r a t u r a l a t i n a , segundo os quais a tragédia não se a c l i m a t o u em Roma por não t e r a l i encontrado alimento no substrato c u l t u r a l — m i t o l o g i a e religião — romano, acreditamos que o público desta cidade, constituído em sua grande m a i o r i a de elementos incultos, manifestou sempre nítida preferência pela comédia. Tentaremos a seguir j u s t i f i c a r nosso ponto de v i s t a .

A hipótese de que o ambiente psicológico e a composição social do povo romano t e r i a m favorecido o m a i o r desenvolvi-mento de u m gênero literário destinado precipuamente a d i v e r t i r , enriquecido e j u s t i f i c a d o pelas experiências, no campo cômico-dramático, dos elementos itálicos como os fesceninos, a

satura, a atelana, as farsas fliácicas, parece fortalecer a idéia

de que o italum acetum, em todas as suas manifestações, era inerente ao gênio do povo e mais apreciado do que as sutilezas e a erudição trágicas.

Poder-se-ia ainda aduzir o f a t o de que as personagens da tragédia, envolvidas n u m a auréola quase sublime, não e r a m tão " h u m a n a s " quanto as personagens da palliata, onde os

(20)

romanos se c o m p r a z i a m em descobrir, p a r a usar as palavras de Cícero, "effictos nostros mores i n alienis personis expres-samque i m a g i n e m n o s t r a m vitae q u o t i d i a n a e "2 6 ("os nossos

costumes representados nas personagens e r e f l e t i d o nelas o r e t r a t o da nossa v i d a de cada d i a " ) .

O u t r o a r g u m e n t o de que se poderia lançar mão p a r a realçar a preferência do público romano pela comédia é o de que o número das tragédias de que se conhecem f r a g m e n t o s ou títulos eleva-se a cerca de 150; ora, sabemos que somente a Plauto f o r a m atribuídas por volta de 130 comédias, sem levarmos em conta as de Andrônico, de Névio, de Ênio, de Terêncio, as q u a t r o dezenas de Cecílio e a dos numerosos comediógrafos menores. Mas apesar do f a t o , aparentemente evidente, de que a produção cômica l a t i n a f o i q u a n t i t a t i v a -mente m u i t o superior à produção trágica, este a r g u m e n t o ainda pode ser contestado por não c o n f i g u r a r n i t i d a m e n t e p r o v a de preferência, mas especialmente por não levar em consideração as vicissitudes por que passaram as obras dos antigos ao longo dos séculos; e esta ação do tempo i n f e l i z m e n t e j a m a i s poderá ser avaliada, nem mesmo a p r o x i m a d a m e n t e .

Mas nada se poderia o b j e t a r c o n t r a o testemunho do próprio Plauto, que, pelo p r o f u n d o conhecimento que t i n h a do público, se d i v e r t e em provocar-lhe a reação, através de alguns versos que testemunham clara e inequivocamente quais e r a m os gostos e as reais preferências dos espectadores:

. . . . a r g u m e n t u m h u i u s e l o q u a r t r a g o e d i a e . Q u i d c o n t r a x i s t i s f r o n t e m ? q u i a t r a g o e d i a m d i x i f u t u r a m h a n c ? deus s u m , c o m m u t a v e r o . E a n d e m h a n c , si v u l t i s , f a c i a m ex t r a g o e d i a c o m o e d i a u t s i t o m n i b u s i s d e m v o r s i b u s . ( A m p h . 51-55)

( " . . . vou expor o assunto desta tragédia. P o r que f r a n z i r a m a testa? Só por que falei em tragédia? Sou u m deus, m u d a r e i imediatamente. Já que vocês insistem, t r a n s f o r m a r e i esta mesma peça de tragédia em comédia sem t r o c a r u m único v e r s o " ) .

Por estes argumentos, podemos deduzir sem receio de e r r a r que o público romano apreciava e x t r a o r d i n a r i a m e n t e a comédia, ditava-lhe as leis e d e t e r m i n a v a o êxito ou o m a l o g r o

de uma p e ç a .2 7 Plauto, então, apenas f o i ao encontro das

( 2 6 ) Pro Sexto Roacio Amerino oratio, X V I , 4 7 .

( 2 7 ) L e m b r e - s e o q u e a c o n t e c e u c o m a Hecyra d e T e r ê n c i o , q u e t e v e d u a s r e p r e s e n t a ç õ e s s u c e s s i v a s s u s p e n s a s p o r t e r e m os e s p e c t a d o r e s a b a n d o n a d o o t e a t r o , a t r a í d o s p o r u m a c o m p a n h i a d e s a l t i m b a n c o s e p o r u m e s p e t á c u l o d e g l a d i a d o r e s .

(21)

exigências e das necessidades de u m público, do "seu" público, de quem conhecia os gostos, com quem c o m p a r t i l h a v a os mes-mos ideais, p a r a quem se sentia i r r e s i s t i v e l m e n t e atraído por u m a " s y m p a t h e i a " que lhe v i n h a possivelmente da sua o r i g e m itálica propensa ao farsesco.

15. O levantamento que efetuamos dos termos de o r i g e m grega nas comédias de Plauto revelou que o nosso a u t o r empre-gou cerca de 1100 palavras e expressões gregas, incluídas as repetições, ou pouco menos de 400 sem repetição. A l g u m a s observações, ainda que ligeiras, se impõem.

Desse t o t a l , u m número razoável de vocábulos estava perfeitamente incorporado ao léxico l a t i n o na época de P l a u t o ; mais adiante examinaremos alguns e apontaremos as razões que nos p e r m i t e m postular-lhes a antiguidade. Outros f o r a m usados pela p r i m e i r a vez por Plauto, e desses, assim como dos anteriores, a sorte f o i v a r i a d a : alguns atravessaram a l a t i n i dade e f o r a m acolhidos, ora por v i a popular, ora por v i a e r u -d i t a ou semi-eru-dita, nas línguas n e o l a t i n a s ; é o caso, por exemplo, de termos cujos correspondentes vernáculos são: teatro, comédia, tragédia, cena, atleta, ginásio, hipódromo, palestra, símbolo, talento, tesouro, a r q u i t e t o , escudo, tímpano, t i r a n o , basílica, empório, praça, apólogo, cera, epístola, peda-gogo, filósofo, poema, poeta, sílaba, óleo, ostra, polvo, tóxico, úlcera, resina, baleia, elefante, ânfora, ampola, cesta, lâmpada, púrpura, tapete, o r g i a , bárbaro, parasita, t r i u n f o etc.; outros c o n t i n u a r a m sendo empregados, com m a i o r ou menor freqüên-cia, pelos autores latinos, mas não d e i x a r a m vestígio nas línguas românicas. E f i n a l m e n t e , cerca de 40 são hápax

legómena plautinos, isto é, f o r a m empregados apenas por P l a u t o

uma única vez, sem nenhuma o u t r a atestação nos escritores latinos das várias épocas; são p r i n c i p a l m e n t e estes que m e l h o r atendem às finalidades do poeta que adiante apontaremos.

Especial interesse desperta u m g r u p o de vocábulos de indubitável criação p l a u t i n a , estranhos e irredutíveis a u m modelo g r e g o : são os vocábulos que na boca do cozinheiro do

Pseudolus designam certas variedades de alimentos, que com

toda a probabilidade são imaginários e inventados por ele: e realmente, toda a cena em questão ( v . 790-904) t e m f i n a l i d a d e n i t i d a m e n t e cômica, bem ao gosto do auditório romano, o qual se comprazia com esses trechos acessórios, numerosos em Plauto, que assinalavam verdadeiras pausas d e n t r o da econo-m i a das peças e que, suscitando a h i l a r i d a d e dos espectadores, renovavam-lhes o interesse e despertavam neles a disposição favorável ao acompanhamento da seqüência do enredo.

(22)

É exatamente aqui que se manifesta a habilidade de Plauto, nesta renovação constante, nesta alternância de tons dramáti-cos, na quebra p r o p o s i t a l do r i t m o da ação p a r a nela i n s e r i r novos e variados elementos de v i t a l i d a d e e de interesse, no desejo sempre presente, e de que já falamos, de a g r a d a r a u m público exigente e folgazão.

N o caso em apreço, bem como em outros casos semelhantes, não vemos m o t i v o de dúvidas quanto à " p l a u t i n i d a d e " de certos recursos dramáticos; e a nosso ver, uma das melhores provas reside j u s t a m e n t e neste g r u p o de palavras, que, a r i g o r , não são gregas, e m u i t o menos romanas. Pode-se argüí-las, a q u i

como outras alhures, de "falsas", na medida em que desrespei-t a m normas mais ou menos rígidas de formação de p a l a v r a s no grego. Ora, o verdadeiro c r i a d o r , d e n t r o das circunstâncias, dos l i m i t e s e das finalidades em que Plauto o f o i , pode pres-c i n d i r da absoluta fidelidade a normas e modelos, pois é nessa liberdade que m e l h o r se manifesta o gênio c r i a d o r e a vis

cômica do poeta. Plauto, ao c r i a r certos nomes próprios e

certas palavras, propositadamente "falsos" em nosso entender, quis apenas ser coerente com sua a t i t u d e perante o seu público : quis i n t e g r a r o seu auditório no c l i m a da representação cômica, fazer a sua fantasia t r a b a l h a r , apelar p a r a a sua capacidade de compreensão e de j u l g a m e n t o , fazendo, e n f i m , de a p r o x i -madas e grosseiras imitações de nomes e termos gregos, fonte nova de comicidade e de v i g o r . Não é, pois, por simples acaso ou por desconhecimento dos seus recursos que Plauto coloca na boca do ridículo e orgulhoso cozinheiro do Pseudolus (se a tradição dos manuscritos é f i e l ) as palavras cataractria ( 8 3 6 ) ,

cepolendrum ( 8 3 1 ) , cicilendrum (831) e cicimandrum ( 8 3 5 ) , hapalopsis ( 8 3 6 ) , maceis (832) e secaptis ( 8 3 2 ) , que d e v i a m

parecer, aos olhos do incrédulo Balião e à espicaçada c u r i o s i -dade do auditório, alimentos requintados e divinos, ver-dadeiras armas secretas na bagagem de u m mestre na profissão. É vã e inútil a t e n t a t i v a de p r o c u r a r os possíveis o r i g i n a i s gregos para essas p a l a v r a s : elas apresentam aquele indubitável sabor grego que sozinho bastava p a r a deliciar os ouvidos dos espectadores, e devem ser levadas à conta de criações cômicas p u r a -mente plautinas.

N a mesma l i n h a de criações jocosas destinadas a p r o v o c a r o riso encontram-se dezenas de palavras, calcadas em corres-pondentes gregos, mas sempre empregadas em P l a u t o com nítido v a l o r cômico, proporcionado ora pelo vocábulo em si, como é o caso dos termos pithecium e spinturnicium ( M i l . 9 8 9 ) e de verbos tais como badizare ( A s i n . 7 0 6 ) , drachumissare

(23)

( P s e u d . 8 0 8 ) , moechissare ( C a s . 9 7 6 ) , thermopotare ( T r i n . 1014) ; ora pelo contexto, como no g r u p o composto pelos verbos

graecissare, atticissare e sicilicissitare ( M e n . 11-12), e na cena

onde desfilam, n u m a velada crítica ao l u x o f e m i n i n o , os nomes de 24 ultra-especializados profissionais, dez dos quais de o r i g e m grega ( A u l . 5 0 8 - 5 2 2 ) .

A i n d a nesta o r d e m de considerações, apontamos u m g r u p o de vocábulos híbridos, formações grecolatinas, e hápax p l a u -tinos evidentemente, que parecem atestar, além da perícia e do

talento criador do poeta, a f a m i l i a r i d a d e do auditório romano com a língua g r e g a : se assim não fosse, esses termos, carrega-dos de comicidade, não t e r i a m o menor sentido — nem Plauto os t e r i a c r i a d o ; são eles: ferrüribax ( M o s t . 3 5 6 ) , flagritriba

(Pseud.137), ulmitriba ( P e r . 2 7 8 b ) , plagiger ( P s e u d . 1 5 3 ) ,

plagigerulus ( M o s t . 8 7 5 ) , plagipatida ( C a p t . 4 7 2 ; M o s t . 3 5 6 ) e

o intraduzível sexcentoplago (Capt. 7 2 5 ) , todos epítetos jocosos assacados contra escravos, t r a d i c i o n a l m e n t e considerados "sa-cos de pancadas"; sandaligerula ( T r i n . 2 5 2 ) e scutigerulus

(Cas.262) ; o curioso pultifagus ( M o s t . 8 2 8 ) e o não menos ridículo Pultiphagonides ( P o e n . 5 4 ) ; e os sutis hamiota ( R u d . 310) e inanilogista ( P s e u d . 2 5 5 ) .

H a v e r i a a acrescentar ainda quatro nomes em que se reco-nhece patente o talento criador de P l a u t o ; são substantivos formados a p a r t i r de palavras latinas com o acréscimo do sufixo — íôrjs , sem nenhuma o u t r a finalidade a não ser a de fazer r i r os espectadores pela presença de u m patronímico insólito e exótico; neles, a comicidade ainda está presente na própria formação, que de per si sugeria aos ouvintes a e x t r a -vagância que suscita o riso. Glandionida e pernonida ( M e n . 2 1 0 ) , oculicrepida e cruricrepida ( T r i n . 1021) são as p a l a v r a s ; escusamo-nos de t e n t a r fornecer uma tradução, ainda que apro-x i m a d a — seria d e s t r u i r a graça neles contida.

16. M u i t o expressivos e sempre empregados com f i n a l i -dade cômica são os jogos de palavras ou trocadilhos encontra-dos em P l a u t o : .geralmente intraduzíveis, também sugerem pleno conhecimento, t a n t o do a u t o r quanto do público especta-dor, dos recursos do idioma de que d e r i v a m . Vejamos a l g u n s : — em Pseud.585a encontra-se a frase Ballionem exballistabo

lepide, envolvendo u m t r o c a d i l h o entre o nome próprio Bailio e o verbo exballistare;

— em T r i n . 9 7 7 , novamente u m j o g o de palavras envolvendo o nome próprio Charmides, f o r m a d o sobre o grego xáp¡J.r] " a l e g r i a " :

(24)

itidem ut charmidatus es, rursum recharmida,

que deveria soar aos ouvidos do público mais ou menos a s s i m : "do mesmo modo que ficaste alegre (à menção do d i n h e i r o ) , v o l t a a f i c a r t r i s t e (porque de m i m não terás u m n í q u e l ) " ;

— em B a c . 2 4 0 encontra-se a frase opus est chryso Chrysalo: mais u m t r o c a d i l h o baseado no t e r m o grego que designa "ouro, d i n h e i r o " e o nome da personagem; isto c r i a r i a u m efeito parecido com o de uma expressão como, por exemplo, "Tatá precisa do t u t u " ;

— em M i l . 4 3 8 , o nome próprio Dicaea "a J u s t a " presta-se ao jogo entre o correspondente fonético grego ôikaía e o adjetivo aòikos " i n j u s t o " :

Aôikos es tu, non òikaía

— duas passagens do Pseudolus apresentam trocadilhos i n t r a -duzíveis envolvendo o nome próprio Harpax; o r a d i c a l grego evoca a noção de " r o u b o " , o que sugere certa característica atribuída zombeteiramente à personagem:

Ps. Apage te, H a r p a x , hau places. Huc quidem hercle haud ibis i n t r o , ne q u i d apnaÇ feceris.

(653-654) B a l . T u n es is H a r p a x ?

Sim. Ego s u m : atque ipse apnaÇ quidem. ( 1 0 1 0 ) . A respeito da presença de tais expressões de o r i g e m grega, parece impossível decidir se estamos diante de criações p l a u -tinas ou de reminiscências dos o r i g i n a i s traduzidos ou adaptados. E m f a v o r da p r i m e i r a hipótese poderseia a d u z i r o i n d u -bitável conhecimento que Plauto possuía da língua grega e a sua perícia na tradução ou adaptação dos o r i g i n a i s , revelada na perfeição da sua l i n g u a g e m ; o cunho p l a u t i n o de tais expres-sões, que l e m b r a m muitos outros trocadilhos de que P l a u t o é pródigo com relação ao l a t i m ; e ainda o fato de que em Captivi

(v.880-883) aparece uma série de fórmulas de j u r a m e n t o em que, aproveitando a homonímia entre uma divindade grega e o nome de uma cidade volsca, Plauto i n t r o d u z jocosamente nomes de cidades itálicas, as barbáricas urbes do v. 884, na f o r m a g r e g a ; seria isto possível se o a u t o r fosse grego?

Aceitando-se a segunda hipótese, devemos a d m i t i r que Plauto manteve deliberadamente a f o r m a grega o r i g i n a l em alguns casos, ou adaptou os trocadilhos p a r a o l a t i m em outros, a f i m de dar certa cor exótica às passagens onde eles se

Referências

Documentos relacionados

Somos apaixonados por encontrar formas, seja em produtos, serviços e soluções, para garantir maior segurança no local de trabalho, contribuindo para eliminar acidentes, redução

Mas como eles falam coisas diferentes para cada pessoa, isso quer dizer que eles são coisas diferentes para cada pessoa.. Isso acontece porque toda pergunta que uma pessoa faz

CHADEFAU &

MATERIAL PADRÃO USADO PARA CONFRONTO E ASSINATURA DE DEDICATÓRIA APRESENTAM GRAFIA DAS LETRAS INSERIDAS NA PROLONGAÇÃO DA CAIXA DE RENGLÓN, EXISTINDO, A PRIMEIRA LETRA, PARTE

Através das teclas para cima ou baixo presente no frontal, no menu principal encontrar a Sigla S e pressionar OK, neste menu temos todos os parâmetros de sistema.. 3º Passo

As crianças com proficiência entre 550 e 600 pontos, que se encontram, portanto, no limite para a passagem ao próximo Padrão de Desempenho, consolidaram habilidades relacionadas

Considerou-se que um medicamento apresentava limitações quanto à administração em sonda enteral, quando foi identificada no compilado de dados informações sobre: (1)

São fornecidas linhas completas no Sistema Ranhurado, como acoplamentos, conexões e válvulas, aluguel e venda de máquinas de ranhura, além de sprinklers, detectores, painéis