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BALANÇO HIDRICO CLIMATOLÓGICO NA PREVISÃO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO SEMIÁRIDO DO RIO GRANDE DO NORTE - BRASIL

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BALANÇO HIDRICO CLIMATOLÓGICO NA PREVISÃO DE MUDANÇAS

CLIMÁTICAS NO SEMIÁRIDO DO RIO GRANDE DO NORTE - BRASIL

Anderson Felipe de Medeiros Bezerra1; Arthur Mattos2, Vanessa Becker3, Geórgia Moreira Gurgel4

Resumo – O impacto do clima sobre os recursos hídricos é um fato de grande relevância social e

ambiental, pois, em situação extrema, pode comprometer a sustentabilidade da sociedade e a conservação ambiental. É importante avaliar o comportamento do clima em escala local por meio de algumas variáveis meteorológicas, como precipitação e temperatura do ar, e parâmetros hidrológicos, como deficiência e excedente hídrico por meio do uso de cenários climáticos da precipitação e da temperatura média mensal. O objetivo deste trabalho foi realizar o balanço hídrico climatológico através do método de Thornthwaite e Mather (1955) utilizando médias anuais de precipitação e temperatura dos últimos dez anos (2001 a 2010) para verificar se há tendências de aquecimento na região semiárida do Rio Grande do Norte. Os resultados mostraram tendência de aquecimento na região, com características de Clima Megatérmico Árido com excedente hídrico pequeno ou nulo. Esta tendência de aquecimento corrobora com estudos de outros autores que descrevem uma crescente preocupação com o agravamento do quadro de escassez hídrica da região.

Abstract – The impact of climate on water resources is an important fact social and environmental,

because in the extreme, can impact the sustainability of society and environmental conservation. It is important to assess the behavior of the climate on a local scale through a number of meteorological variables such as precipitation and air temperature, and hydrological parameters, such as surplus and deficiency water, through the use of climate scenarios of precipitation and average monthly temperature. The aim of this study was the climatic water balance using the method of Thornthwaite and Mather (1955) using annual averages of precipitation and temperature over the last ten years (2001 to 2010) to check for warming trends in the semiarid region of Rio Grande do North. The results showed a warming trend in the region, with characteristics of arid climate with little or no water surplus. This warming trend corroborates findings of other authors that describe a growing worry about the worsening of the situation of water scarcity in the region.

Palavras-Chave – Balanço hídrico climatológico, semiárido, mudanças climáticas.

. . .

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INTRODUÇÃO

As mudanças no clima do planeta pelo aquecimento global estão alterando também as características hídricas de algumas regiões em relação à precipitação. As previsões indicam que deve ocorrer um aumento na média anual, nas regiões de latitudes mais elevadas, assim como nas regiões equatoriais, em oposição a uma diminuição nas regiões sub-tropicais. Por outro lado, o fenômeno da seca e períodos de estiagens prolongados deve afetar as regiões áridas e semiáridas com maior freqüência alterando o ciclo hidrológico local e regional (Souza et al., 2006). A maioria dos rios na região semiárida é intermitente por causa das características climáticas, com chuvas irregulares, concentradas em poucos meses do ano e evapotranspiração elevada. Essas características causam uma alta variabilidade no volume dos reservatórios, provocando assim, em períodos de seca, a redução da qualidade da água dos reservatórios à medida que os nutrientes são concentrados com a perda do volume de água pela evaporação.

Segundo Tucci (2003), o impacto do clima sobre os recursos hídricos é um fato de grande relevância social e ambiental, pois, em situação extrema pode comprometer a sustentabilidade da sociedade e a conservação ambiental. É importante avaliar o comportamento do clima em escala local por meio de algumas variáveis meteorológicas, como precipitação pluvial e temperatura do ar, e parâmetros hidrológicos, como deficiência e excedente hídrico, por meio do uso de cenários climáticos futuros da precipitação pluvial e da temperatura média mensal, confrontando dados atuais com dados históricos com a finalidade de averiguar as conseqüências do aquecimento global no balanço hídrico climático.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo e características climáticas

O semiárido do Rio Grande do Norte apresenta taxas elevadas de evaporação e de evapotranspiração em face de coeficientes térmicos muito altos (figura 1).

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Figura 1 – Características climáticas do estado do Rio Grande do Norte (médias anuais), destacando a região do semiárido.

A bacia do Rio Piranhas/Açu é a principal bacia do RN e se insere na região semiárida, onde há extrema irregularidade temporal e espacial das chuvas (figura 2). Nos primeiros meses do ano, em geral entre fevereiro e maio, ocorrem índices pluviométricos elevados com precipitações superiores a 100 mm. A maior parte do ano a região sofre com a escassez de água. Essas características climáticas causam uma alta variabilidade no volume dos mananciais, causando assim, em períodos de seca, a redução da quantidade e qualidade da água dos reservatórios à medida que os nutrientes são concentrados com a perda do volume de água pela evaporação.

Bacia do Rio Seridó (Semiárido

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A região estudada possui pluviosidade média anual de 500 mm, contrapondo-se com a evaporação potencial que é da ordem de 2000 mm/ano (SERHID, 2005), possuindo uma umidade relativa média anual de 64%. A região também está passando pelo processo de “desertificação” por causa das condições climáticas da região, e também pelo modelo econômico tradicional, baseado no extrativismo de lenha e na pecuária. Os rios em sua maioria são intermitentes. Portanto, a água de boa qualidade é escassa e representa um patrimônio natural de grande valor para a população local (Pan-Brasil, 2004).

A vegetação caracteriza-se pela caatinga hiperxerófila arbustiva aberta com predominância de cactáceas e plantas de porte mais baixo e bem espaçadas. Nesses tipos de vegetação as espécies mais encontradas são pereiro, favela, facheiro, macambira, mandacaru, xique-xique e jurema-preta. Segundo o Plano Nacional de Combate a Desertificação – PNCD, que define desertificação como a degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas, resultantes de fatores diversos tais como as variações climáticas e as atividades humanas, os municípios de Cruzeta e Acari estão inseridos em área susceptível à desertificação em categoria muito grave (CPRM/PRODEEM, 2005).

METODOLOGIA

O balanço hídrico climatológico foi realizado através das médias anuais de precipitação e temperatura dos últimos dez anos (2001 a 2010) fornecidos pela EMPARN – Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN. Os dados utilizados são da estação climatológica de Cruzeta (6º24’40”S e 36º47’30”O), a qual fica distante cerca de 220 km de Natal. Foi realizada assim a classificação climática de Thornthwaite e Mather (1955) e determinado os índices de umidade, hídrico e de aridez para verificar se há características de mudanças climáticas na região, ou seja, de semiárido para árido. Foi realizado o balanço hídrico com os dados do ano mais chuvoso da década para comparação da classificação climática e do cenário hídrico da região.

Os dados de temperatura máxima e mínima fornecidos pela EMPARN foram somados e posteriormente divididos para gerar os dados médios de cada mês durante os dez anos analisados, por não haver disponibilidade de dados médios. Para a precipitação foi feita a média aritmética dos meses durante os dez últimos anos.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Realizou-se o balanço hídrico climatológico (tabela 1) para a região semiárida do RN, representado pela precipitação (P), evapotranspiração real (ETR) e evapotranspiração potencial (ETP), demonstrado na figura 3. O índice de aridez, índice hídrico e o índice de umidade foram respectivamente 67,52%, 0,00% e -40,51%, o que resulta como características de clima Megatérmico Árido, com excedente hídrico pequeno ou nulo. Isto indica a possibilidade de mudança da classificação atual da região de clima Semiárido para Árido, conforme dados dos últimos dez anos.

Tabela 1 – Balanço hídrico climatológico com dados de precipitação e temperatura dos últimos dez anos, de acordo com o método de Thornthwaite e Mather (1955), considerando capacidade de armazenamento do solo

(CA) de 100mm. Meses T (oC) i ET0(mm) Fator Corr. ETP P P-ETP Neg. Acum. Arm. Alt.

Arm. ETR Def. Exc. jan 29,3 14,6 202 1,07 216 107,0 -109 - 0 0 107,0 109 0 fev 29,7 14,8 213 0,96 204 98,1 -106 - 0 0 98,1 106 0 mar 28,5 13,9 177 1,05 186 159,4 -27 - 0 0 159,4 27 0 abr 28,3 13,8 171 1,00 171 142,3 -29 - 0 0 142,3 29 0 mai 27,8 13,4 159 1,01 160 85,4 -75 - 0 0 85,4 75 0 jun 26,2 12,3 122 0,97 118 59,6 -59 - 0 0 59,6 59 0 jul 26,4 12,4 126 1,01 128 12,5 -115 - 0 0 12,5 115 0 ago 27,6 13,3 153 1,02 157 11,2 -145 - 0 0 11,2 145 0 set 28,1 13,7 167 1,00 167 2,2 -165 - 0 0 2,2 165 0 out 29,3 14,5 200 1,05 210 9,4 -200 - 0 0 9,4 200 0 nov 29,7 14,9 214 1,04 223 2,0 -221 - 0 0 2,0 221 0 dez 29,9 15,0 218 1,08 236 17,6 -218 - 0 0 17,6 218 0 2176 706,6 -1469 706,6 1469 0

Ao se fazer o balanço hídrico do ano mais chuvoso (2009) classifica-se o clima como Semiárido com excedente hídrico pequeno ou nulo, apresentando índice de aridez de 53,6%, índice hídrico de 5,1% e índice de umidade de -27,1%.

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Figura 3 - Balanço Hídrico Regional dos últimos dez anos (2001-2010) e do ano mais chuvoso (2009) e a partir do método de Thornthwaite e Mather (1955); ETP= evapotranspiração potencial, P= precipitação e

ETR= evapotranspiração real. Dados da estação climatológica de Cruzeta. Fonte: EMPARN.

Há portanto uma tendência ao aquecimento na região semiárida potiguar podendo agravar a escassez hídrica da região. Observou-se que esta tendência foi influenciada pela maior freqüência

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aquecimento de 1 a 4 ºC na região venha a acontecer nos próximos anos, ocorrerá uma situação critica para os recursos hídricos, onde culturas de subsistência (milho e feijão) serão inviáveis nestes municípios, comprometendo de um modo geral a sustentabilidade da população e a conservação do meio ambiente (Souza et al., 2006). O impacto do clima sobre os recursos hídricos é um fato de grande relevância social e ambiental, pois, em situação extrema pode comprometer a sustentabilidade da sociedade e a conservação ambiental (Tucci, 2003).

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

Diante do cenário atual das limitações dos recursos hídricos e das futuras alterações no regime climático em decorrência do aquecimento global, é importante atentar para as consequências que os nordestinos, em especial os sertanejos poderão enfrentar, pois, de acordo com os resultados obtidos neste estudo, para região do semiárido potiguar, e os resultados obtidos por Souza et al.(2006) referente à cidade de Caruaru – PE, pode-se concluir que um aumento de temperatura do ar, seja ele de 1°C ou 4ºC, ocasionará um grande impacto nas reservas hídricas (corpos hídricos superficiais e no lençol freático), visto que aumentará a evaporação, ressecamento nos solos e salinização.

Recomenda-se a realização de projetos de monitoramento contínuo das mudanças climáticas e da evaporação na região semiárida, atentando para as consequências na escassez hídrica, para o meio ambiente e sócio econômico. Recomenda-se também a instalação de mais estações climatológicas na região, para que o monitoramento seja feito de forma contínua e abrangente, e que as informações sejam disponibilizadas para população.

BIBLIOGRAFIA

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