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Rastreamento escolar da escoliose e estado emocional de adolescentes e adultos jovens em fase de escolha profissional

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Rastreamento escolar da escoliose e

estado emocional de adolescentes e

adultos jovens em fase de escolha

profissional

Signs of scoliosis and emotional status of

adolescents and young adults in the

process of career choice

Resumo

Objetivo: Observar a prevalência de sinais de escoliose e de

alterações no estado emocional de adolescentes e adultos jovens, em fase de escolha profissional, e buscar possíveis associações entre as fases pré e pós-realização do exame vestibular. Material e Método: Foram avaliados 34 indivíduos, de ambos os sexos, antes da realização do vestibular. Após a realização da prova, 16 dos quais foram reavaliados. Para a medida da gibosidade (indicativa de escoliose) utilizou-se um instrumento específico e para a avaliação emocional aplicou-se o teste Home, Tree and Person (HTP). Para descrição dos resultados, foram utilizadas distribuições de frequência e o teste de correlação linear de Pearson. Resultado e Discussão: Os resultados demonstraram que dos 34 indivíduos avaliados inicialmente, 31 alunos apresentaram gibosidade. Na segunda fase todos os 16 sujeitos apresentaram gibosidade. As gibosidades torácicas foram as mais frequentes e as tóraco-lombares e lombares com maiores magnitudes. Houve correlação linear excelente entre as medidas antes e após a realização do exame vestibular. Os achados mais frequentes, relacionados ao estado emocional, foram carência afetiva; baixa estima pessoal; dificuldade de autonomia; dificuldade perante a vida real; insegurança; isolamento; sentimentos de inadequação e tendência à perfeição, embora muitos outros tenham sido encontrados. Conclusão: O estudo mostrou uma alta prevalência de gibosidade e de alterações emocionais dentre os avaliados, contudo, deve-se ter cuidado ao afirmar que as medidas das gibosidades e estado emocional estão associados, mesmo porque outras variáveis podem interferir no padrão encontrado.

Palavras-chave: Gibosidade. Coluna vertebral. Adolescência. Critérios de admissão escolar.

Dalva Minonroze Albuquerque

Ferreira1

Gleica Rebeca Machado dos Reis

Gimenez2

Célia Aparecida Stellutti

Pachioni1

Cristina Elena Prado Teles

Fregonesi1

Marcela Regina de Camargo3

1 Professora Doutora do

Departamento de Fisioterapia da Faculdade de Ciências e Tecnologia - Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), campus de Presidente Prudente/SP.

2 Bacharel em Fisioterapia pela

Faculdade de Ciências e Tecnologia - Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), campus de Presidente Prudente/SP.

3 Mestre em Fisioterapia pela

Faculdade de Ciências e Tecnologia - Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), campus de Presidente Prudente/SP.

Autor para correspondência: Dalva M. Albuquerque Ferreira Endereço Postal:

Departamento de Fisioterapia Rua Roberto Simonsen, 305 Presidente Prudente - SP

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Introdução

Classicamente existe uma grande dificuldade em se observar uma coluna vertebral de estrutura perfeita, uma vez que ao longo do tempo, esta estrutura se torna um instrumento compensatório e de depósito de quaisquer desequilíbrios e agressões. Entre eles se pode citar: o centro de gravidade elevado, a disposição assimétrica das vísceras, a dominância lateral e a oscilação permanente do corpo.1

Em resposta, a coluna acaba se adaptando a fim de se proteger de sofrimentos, traumatismos e deformações progressivas. Quando ocorre um desvio lateral da coluna, de caráter permanente, acompanhado de rotação dos corpos vertebrais (com deslocamento da linha mediana anterior das vértebras no sentido da convexidade da curvatura) associado à protuberância posterior das costelas (com a aparência de uma cifose adicional), acarretando uma deformidade tridimensional, fica caracterizada a escoliose.2,3 O teste de

Adams tem se tornado padrão para medida clínica da gibosidade. Essa, por

sua vez, tem se mostrado cada vez mais comum nos programas de rastreamento escolar da escoliose.4-6 Contudo, é válido notar que a mensuração da gibosidade é apenas indicativa de alteração na coluna vertebral e, não se deve descartar medidas radiológicas com as medidas do ângulo de Cobb e da rotação vertebral pelo método de Raimondi e Nash &

Moe para fechar o diagnóstico de escoliose.7-9

Em geral, o surgimento dessa enfermidade se dá contiguamente ao crescimento do tronco, ou seja, no início do período de pubescência. 2,10 Assim sendo, o prognóstico de uma escoliose idiopática depende da idade de aparição (à exceção de algumas escolioses infantis que podem ser resolutivas) e apresenta risco evolutivo, uma vez que quanto mais jovem o paciente, maiores as chances agravamento da deformidade, embora velocidade de crescimento diminua com a idade.1, 11

Justamente durante a adolescência, período de drásticas mudanças biocomportamentais, são incumbidas aos indivíduos decisões acerca de seu futuro profissional. Não são incomuns, neste momento da vida, os achados de pressão social e sentimentos desagradáveis e as influências de história da vida e os critérios financeiros acabam se sobrepujando, muitas vezes mascarando, os reais anseios do adolescente.12

As cobranças pessoais, familiares e sociais podem acarretar um estado de ansiedade prejudicial ao desempenho acadêmico. Entende-se que esses fatores acabem por gerar um ciclo vicioso despertando sentimentos de solidão, insegurança e dúvidas, podendo estes funcionar como agentes agressores, manifestando alterações além da esfera psicológica. Em geral, essa somatização aparece, então, como um sintoma físico proveniente do sofrimento emocional.13,14 Dessa maneira, possivelmente a rotina maçante dos estudantes do ensino médio tenha um impacto negativo no adequado desenvolvimento musculoesquelético do tronco, através dos frequentes estresses e desequilíbrios emocionais aos quais essa população é exposta.15

Objetivo

Diante disso, o presente estudo visa observar a prevalência de sinais de escoliose e de alterações no estado emocional de alunos de um curso pré-vestibular e buscar possíveis associações entre as fases pré e pós-realização

F e rr e ir a e t a l., 2 0 1 2

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Material e Método

Casuística

Inicialmente, foram avaliados 34 alunos, 10 do gênero masculino e 24 do gênero feminino, do curso pré-vestibular da Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), campus de Presidente Prudente. Após a realização do vestibular, foram reavaliados 16 alunos, sete do gênero masculino e nove do gênero feminino.

Como critérios de exclusão, foram adotados: a presença de amputações de qualquer segmento dos membros inferiores ou superiores, alteração tônica muscular devido à doença neurológica; estado de gestação; presença de obesidade e sequelas de cirurgias ortopédicas e/ou utilização de órteses ou gesso na ocasião das avaliações. Contudo, não houve perdas amostrais ligadas a esse motivo.

Material

Para mensuração clínica da gibosidade, foi utilizado um equipamento específico, constituído de madeira e com dois níveis d’água embutidos e com dimensões de 39,5 cm de comprimento, 5,0 cm de largura e 2,0 cm de espessura. Neste encontra-se um orifício que permite o encaixe de uma régua de madeira de 30 cm, posicionado em um ângulo de 90°. Sobre o encaixe estão fixadas duas réguas de 20 cm, para orientações das medições (Figura 1).16,17

Figura 1 - Equipamento de madeira com níveis d’água e réguas

utilizado para medir gibosidade.

Para padronizar o posicionamento dos pés, utilizou-se uma folha quadrada de papel cartão, contendo o desenho das impressões plantares bilaterais, separadas por uma distância de 10 cm e abdução de 16°; o que diminui possibilidades de erro nas mensurações.18

Para a determinação das variantes psicológicas, foi realizado o teste Home

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desenhos (uma casa, uma árvore e uma pessoa) e indagações sobre os mesmos visando à análise da personalidade dos participantes. O desenho capta conteúdos inconscientes sem que haja intervenções e sua realização é estruturada de uma maneira na qual o examinado não consegue manejar intencionalmente o que deve executar, uma vez que pouco sabe sobre o que será analisado.20 Trata-se de uma avaliação qualitativa na qual um profissional devidamente treinado deve pontuar a presença de sinais que possam estar ligados a algum tipo de distúrbio.

Procedimentos

Foi realizada avaliação individualizada através de exame clínico, por meio da mensuração da gibosidade. Para essa utilizou-se o equipamento mostrado na figura 1. O indivíduo ficou com o tronco despido, com os pés sobre as impressões plantares, e realizou o teste de Adams (flexão do tronco)com os membros superiores pendentes ao longo do corpo. A mensuração teve por base orientações descritas em estudos anteriores16, 21-23: o nível d’água foi posicionado sobre a superfície do tronco no ponto mais elevado da gibosidade, para realizar a leitura, em milímetros, do lado côncavo da curva, usando a mesma distância em relação ao lado convexo da gibosidade. Se ocorresse uma gibosidade menor em outro nível da coluna, ela também seria mensurada de maneira semelhante. Os níveis de mensuração foram classificados em torácico (C7 – T11), tóraco-lombar (T11 – L2), ou lombar (L2 – L5); e os lados das gibosidades em direito ou esquerdo.

Em seguida um psicólogo aplicou o teste HTP, para o qual foi solicitada a realização de desenhos (casa, árvore, pessoa e família) à lápis em uma folha de papel branco (sulfito A4) associada a indagações complementares, onde o participante expôs sobre alguns dados desenhados. Os alunos foram orientados a desenhar livremente, variando o tamanho, formato e acréscimo de detalhes. Com esse teste, o psicólogo pôde presumir como o ambiente familiar, a proximidade do vestibular e sua ansiedade, ou insegurança pessoal, poderiam interferir no estado emocional do aluno e pontuar a presença de cada característica psicológica avaliada.

Aspectos éticos

Esta pesquisa foi elaborada de acordo com as orientações do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Presidente Prudente e com as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Todos os participantes foram esclarecidos acerca dos objetivos do estudo e dos procedimentos metodológicos da pesquisa. Portanto, para aqueles que concordaram em participar, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi lido e assinado por eles e pelos pais ou responsáveis.

Análise estatística

Após verificação da normalidade dos dados, foram realizadas distribuição de frequências das variáveis coletadas. Em seguida, para quantificar o quão associados os valores das gibosidades antes e após a realização do exame vestibular se mostraram, utilizou-se o teste de correlação linear de Pearson. Devido à ocorrência de perda amostral, não foram realizados testes de hipóteses.

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Resultado

O estudo teve por objetivo verificar a prevalência de escoliose e de alterações emocionais antes e após a realização do exame vestibular por adolescentes e adultos jovens. Infelizmente, devido à falta de interesse por parte dos alunos, a fase pós-vestibular contou com um tamanho amostral reduzido (n=16). Na tabela 1 podem ser observados os valores médios de idade, massa corporal e estatura de ambos os grupos (antes e após o vestibular).

Tabela 1 - Média e desvio-padrão para idade, massa corporal e estatura dos

alunos na fase pré-vestibular (n=34) e pós-vestibular (n=16).

Pré-vestibular Pós-vestibular

Idade Peso Altura Idade Peso Altura

Média 19,88 59,00 1,65 20,25 63,06 1,66

Desvio-padrão 2,08 11,64 0,08 3,99 13,61 0,09

Dentre os 34 alunos que participaram da fase inicial do estudo, 31 apresentaram algum tipo de gibosidade, sendo que a maioria ocorreu na região torácica (n=21), e do lado direito (n=16) e na fase pós-vestibular as gibosidades torácicas direita também ocorreram em maior número (n=5). A figura 2 ilustra o comportamento das médias, e respectivos desvios-padrão, das alterações encontradas na fase pré-vestibular.

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 D E D E D E

Torácica Tóra co-Lomba r Lombar

M é d ia e d e sv io -p a d r ã o d a a lt u r a d a g ib o si d a d e ( c m ) Gibosidade D = direita E = esquerda

Figura 2 - Caracterização descritiva das medidas de gibosidades dos 34

participantes da fase inicial do estudo (pré-vestibular).

As frequências dos valores das medidas de gibosidades (torácica, tóraco-lombar e tóraco-lombar) pré e pós-vestibular podem ser observadas na figura 3. Esses dados foram lado a lado para que se possa fazer uma “comparação visual” dos resultados. É importante salientar que todos os avaliados após a realização do exame vestibular apresentaram gibosidade e, ainda, a soma dos

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valores é diferente de 16 (número de indivíduos reavaliados) devido à presença de mais de uma curva no mesmo participante.

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 1 2 3 4 5 6 7 8 9 G T ( c m ) Alunos (A) 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1 2 3 4 5 6 7 G T L ( c m ) Alunos (B) 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1 2 3 4 5 6 7 G L ( c m ) Alunos (C)

Figura 3 - Frequência dos valores das medidas de gibosidades (cm) dos

alunos que participaram de ambas as fases dos estudos (n=16). (A): GT - Gibosidade torácica (n=9); (B): GTL – Gibosidade tóraco-lombar (n=7); (C): GL - Gibosidade lombar (n=7). Barra escura: fase pré; barra cinza-clara: fase pós-vestibular.

As correlações lineares entre os valores das gibosidades coletados antes e após o vestibular mostraram-se fraca, moderada e boa (Tabela 2). Contudo, quando não separadas por região e lado a correlação foi de boa à excelente (r=0,81).

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Tabela 2 - Valores dos coeficientes de correlação linear de Pearson das

medidas de gibosidades torácica, tóraco-lombar e lombar divididas por lado direito (D) e esquerdo (E) dos alunos (n= 16) avaliados antes e após o vestibular.

Pré x Pós

Gibosidade

Torácica Tóraco-lombar Lombar

D E D E D E

0,21 0,59a - 0,26 - 0,11 * 0,66a

*não houve correlação, pois somente um aluno apresentou gibosidade lombar direita na fase pré-vestibular. a correlação de moderada a boa.

Os resultados da ocorrência cada aspecto psicológico referentes à aplicação do HTP podem ser visualizados na tabela 3. A coluna “Análise pré-vestibular” contempla a ocorrência de cada fator, em número e percentual referente aos 34 participantes do início do estudo. A coluna “Análise pós-vestibular” contempla a ocorrência de cada fator, em número e percentual referente aos 16 participantes da fase pós-vestibular.

Tabela 3. Características psicológicas obtidas pelo teste HTP na fase pré

(n=34) e pós-vestibular (n=16).

Características Psicológicas (absoluto) Pré (absoluto) Pós (relativo-%) Pré (relativo-%) Pós

Agressividade 15 07 44,11 43,75

Auto-suficiência 05 03 14,70 18,75

Baixa estima pessoal 23 14 67,64 87,50

Carência afetiva 28 14 82,35 87,50 Comunicabilidade 02 00 5,88 0 Conflitos sexuais 04 03 11,76 18,75 Dependências sentimentais 10 06 29,41 37,50 Depressão 02 00 5,88 0 Desconfiança exagerada 03 01 8,82 6,25

Descontrole de impulsos internos 04 02 11,76 12,50

Dificuldade de aprendizagem 12 06 35,29 37,50

Dificuldade de autonomia 17 08 50,00 50,00

Dificuldade perante a vida real 24 11 70,58 68,75

Falta de realização 06 03 17,64 18,75 Fantasias excessivas 08 05 23,52 31,25 Insegurança 33 16 97,05 100 Isolamento 27 11 79,41 68,75 Sentimentos de inadequação 27 12 79,41 75,00 Tendência à perfeição 26 14 76,47 87,50

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Após a análise qualitativa dos aspectos do HTP, pôde-se atribuir ao grupo avaliado um perfil com as seguintes características: insegurança, carência afetiva, baixa estima pessoal, tendência à perfeição, dificuldade perante a vida real, sentimento de inadequação.

Discussão

De uma maneira geral, pôde-se observar uma alta ocorrência de gibosidades (91,17%) dentre os avaliados. Ferreira et al.21, em indivíduos com faixa etária inferior e Ferreira et al.22, em indivíduos com idade semelhante, utilizaram os mesmos instrumentos e técnicas e observaram, igualmente, uma alta prevalência desse tipo de deformidade – 44,23% no primeiro (considerando apenas as gibosidades > 0,5 cm na região lombar e > 0,7 cm na região torácica); e 87,5% no segundo estudo (considerando qualquer medida de gibosidade).

Em relação às medidas das gibosidades (Figura 2), os valores médios ficaram em torno de 0,5 cm para a região torácica; e de 0,8 cm para as regiões tóraco-lombares e lombares. Vercauteren et al.24 consideram gibosidades lombares acima de 0,5 cm e torácicas acima de 0,7 cm “assimetrias estruturais” muito relacionadas à presença de escoliose, uma vez que tais medidas correspondem às curvas com ângulo de Cobb ≥ 10º. Desta forma, grande parte da amostra estudada demonstrou indícios circunstanciados da presença de escoliose. A repetição deste alto percentual nos alunos brasileiros deve nos remeter às condições envolvidas no seu cotidiano. Estudos internacionais relatam uma prevalência de escoliose que varia em torno de 0,5-10% da população em crescimento.25-27

No Brasil, um estudo com pré-adolescentes, relata uma prevalência de 12,3% de alteração no teste de Adams.28 Contudo, especificamente na adolescência, que também corresponde à época de realização do exame vestibular, o presente estudo concorda com o de Ferreira et al.22 no aspecto de que parece haver um aumento substancial (em torno da metade da amostra avaliada) dessa ocorrência quando os indivíduos são submetidos às condições descritas.

Apesar de se ter optado por não aplicar testes de hipóteses, devido à perda amostral na segunda etapa do estudo, visualmente as medidas das gibosidades na fase pré e pós-vestibular foram muito semelhantes. Esses valores quase não sofreram alterações, com pouca variação para mais ou para menos e, este fato ocorreu principalmente nas gibosidades tóraco-lombares e tóraco-lombares (Figura 3). Alguns estudos13,14,29, que concordam com os presentes achados, vem mostrando que esses indivíduos estão expostos a uma elevada carga de estresse e outras manifestações emocionais que, por vezes, desaparecem após a realização do exame. Contudo, acredita-se que, assim como a somatização faz parte um processo lento e gradual, envolvendo múltiplas agressões de todos os universos vividos pelo indivíduo30, possivelmente seus resultados físicos também prosperem além do término do principal fator causador (no caso o exame vestibular). Assim, entende-se que para a melhoria em todas as esferas, além de um tratamento físico, uma avaliação em longo prazo, isto é, após as transformações inerentes ao período pós-vestibular (mudança de cidade, entrada em outro ambiente escolar e social, mudanças de hábitos de vida) talvez mostrasse, mais claramente, possíveis diferenças entre as fases avaliadas.

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A correlação das medidas de gibosidades, na fase pré com a fase pós-vestibular, foi excelente, porém quando as dividimos em tipos de gibosidade de acordo com a localização, demonstrou-se moderada e boa para gibosidade torácica e lombar esquerda, respectivamente. Possivelmente cada tipo de gibosidade e a separação em lados direito e esquerdo apresentaram uma evolução diferente quando correlacionadas as fases pré e pós-vestibular. Esse achado reforça algumas pesquisas21,31,32, que relatam que os fatores que levam a evolução da escoliose ainda precisam ser determinados, e a medida de gibosidade fornece apenas um dado complementar para acompanhar a progressão, mas não pode ser o único parâmetro.

Em relação à avaliação do estado emocional, as indagações gerais do indivíduo sobre “o que sou”; “o que vou ser” e “como vou ser”, passam a ser tão vitais quanto os problemas cotidianos do sujeito.33 A espera pela fase do vestibular, portanto, pode gerar momentos de grande angústia, ansiedade e estresse para um aluno que está participando desta etapa, mas que seria superada de uma maneira mais positiva ou negativa dependendo das vivências e forma de atuação que cada aluno utilizaria.34 Desta forma, após a aplicação do teste HTP, pôde-se observar que em grande parte dos alunos ocorreu insegurança, pressões familiares, estresses, e que a forma como cada um dos indivíduos lidou com o problema, facilitou ou dificultou o processo de atuação. Esses achados corroboram os relatados por Lara et al.12, que citam sentimentos como medo; dúvida; angústia; confusão; incerteza; receio e insegurança, como os mais presentes dentre esses indivíduos. Constatou-se, ainda, que o término do vestibular não alterou os sintomas, sendo suas causas substituídas por outras como perspectivas futuras, pressões familiares com relação a resultados e sentimentos de fracassos.

Verificou-se que a maioria dos alunos apresentou gibosidades e características de personalidade muito semelhantes e que as características mais frequentes se mantiveram praticamente inalteradas nas fases pré e pós-vestibular. Com esses dados pode-se supor que o estado emocional, inerente à própria adolescência e agravado pela necessidade de realização do exame vestibular, talvez estivesse sendo somatizado pelo organismo desses indivíduos. Alguns estudos vêm relatando associações entre o estado emocional à presença de alterações de equilíbrio e postura35,36, entretanto nenhum estudo científico experimental foi encontrado acerca da relação entre estado emocional e presença de escoliose para que se pudesse com outras arguições, aguçar o teor desta discussão.

O presente estudo apresentou como limitações a dificuldade de reavaliação de todos os participantes após o exame vestibular e a falta de uma avaliação de retenção dos resultados, após um período maior da realização da prova. Mesmo assim, de uma maneira geral, os resultados obtidos são congruentes entre si e mostram uma necessidade de realização de programas de rastreamento, intervenção terapêutica física e psicológica para esse tipo de população.

Conclusão

Os achados do estudo apontam para uma alta ocorrência de presença de gibosidade dentre os indivíduos avaliados. Sabe-se, por estudos anteriores, que isso pode estar associado à faixa etária, no entanto, nos estudantes brasileiros essa tendência pode ser agravada pelas mudanças relacionadas ao estado emocional do aluno, na época do vestibular, uma vez que este esteve

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alterado em muitos aspectos. Deve-se ter cuidado ao afirmar que as medidas das gibosidades e estado emocional estão associados, mesmo porque outras variáveis podem interferir no padrão encontrado, como o curso natural de crescimento e desenvolvimento; a postura mantida durante as aulas; a utilização de bolsas e mochilas inapropriadas ou com excesso de peso e a inexistência de momentos para realização de alongamentos e outras atividades preventivas. Sugere-se que outros estudos sejam realizados visando buscar correlações estatísticas entre o diagnóstico e evolução da escoliose com as alterações emocionais que o exame vestibular pode acarretar.

Abstract

Purpose: This study aimed to determine the signs of scoliosis prevalence

and changes in emotional status of adolescents and young adults, in the process of career choice, and look for possible associations between the pre and post-selection test. Material and Method: we evaluated 34 individuals of both genders, after to the selection test. After the test, 16 of which were reassessed. For the measurement of spinal deformity (scoliosis indicative) used a specific instrument and for assessing emotional we applied Home, and Tree Person test (HTP). For results description, we used frequency distributions and Pearson linear correlation test. Result and Discussion: The results showed that the 34 individuals initially assessed, 31 students had spinal deformity. In the second stage all 16 subjects had spinal deformity. The dorsal spinal deformity was the most frequent and the dorsal-lumbar and lumbar with larger magnitudes. There was excellent linear correlation between the measurements before and after the selection test. The most frequent findings, related to emotional state, were lack of affection, low self-esteem, difficulty of autonomy, difficulty before the real life, insecurity, isolation, feelings of inadequacy and a tendency to perfection, although many others have been found. Conclusion: The study showed a high prevalence of spinal deformity and emotional disorders among the subjects, however, must be careful in saying that the measures of spinal deformity and emotional state are associated, if only because other variables may interfere with the pattern found.

Keywords: Hump deformity. Spine. Adolescent. School admission criteria.

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Referências

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