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A relevância do desenvolvimento da oralidade desde as séries iniciais do ensino fundamental.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

EVELYN REIS MACÊDO

A RELEVÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE DESDE

AS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Salvador-Bahia

2008

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EVELYN REIS MACÊDO

A RELEVÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE DESDE

AS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Monografia apresentada ao Colegiado do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, como requisito para a conclusão da Graduação em Pedagogia.

Orientação: Prof.ª Dra. Emília Helena Portella Monteiro de Souza

Salvador-Bahia

2008

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TERMO DE APROVAÇÃO

EVELYN REIS MACÊDO

A RELEVÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE DESDE

AS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Monografia apresentada ao Colegiado do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, como requisito para conclusão da

Graduação em Pedagogia, pela seguinte banca:

__________________________________________________________________ Emília Helena Portella Monteiro de Souza

Prof.ª Doutora em Letras e Lingüística – Orientadora

__________________________________________________________________ Dinéa Maria Sobral Muniz – Prof.ª Doutora em Educação

__________________________________________________________________ Noemi Pereira de Santana – Prof.ª Mestre em Letras e Lingüística

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A Deus

[...] Eu pedi força E Deus me deu dificuldades para me fazer forte. Eu pedi sabedoria E Deus me deu problemas para resolver. Eu pedi prosperidade E Deus me deu cérebro e músculo para trabalhar. Eu pedi amor E Deus me deu pessoas com problemas para ajudar. Eu pedi favores E Deus me deu oportunidades. Eu não recebi nada do que pedi. Mas eu recebi tudo de que precisava.

(Autor não identificado)

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AGRADECIMENTOS

Neste momento de realização, conquista e de vitória quero agradecer a todos aqueles que estiveram ao meu lado nessa caminhada de dificuldades, obstáculos, realizações, alegrias, tristezas, conquistas e perdas. Agradeço a Deus pelo dom da vida. Agradeço a toda minha família pelo apoio e incentivo durante todos esses anos. Quero dedicar e agradecer essa vitória em especial a minha mãe (Maria), mulher de garra e determinação, que muito me ajudou e incentivou durante toda minha vida. MÃE TE AMO! Agradeço também as minhas amigas pela paciência e pela força, aos companheiros de trabalho pela tolerância e ajuda nas horas necessárias, aos colegas e amigas que fiz durante esses quatro anos na UFBA. Aos mestres da UFBA, os quais tive o privilégio de ser aluna. A minha orientadora Emília Helena pela paciência, orientação e pelo grande apoio que me dedicou durante esses meses. Aos professores que se disponibilizaram para responder o questionário do estudo de campo. A todos vocês que, direta e indiretamente, me ajudaram a concretizar mais uma etapa de minha vida o meu MUITO OBRIGADA!

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“Mestre não é aquele que ensina, mas aquele que de repente aprende.”

Guimarães Rosa

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RESUMO

Esta monografia se propõe a fazer um estudo sobre a relevância em desenvolver a oralidade dos alunos desde as séries iniciais. Para isso, trouxemos, além de autores, escolhidos para o estudo, que publicaram trabalhos nessa área, uma análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa e um estudo de campo para verificar como anda a opinião de alguns professores a respeito do tema. Buscou-se, com isso, mostrar que o desenvolvimento da oralidade é um dever e um compromisso da escola e que os professores proporcionem aos seus alunos desde cedo atividades que aprimorem seu desempenho na hora de expressar-se oralmente. Deve-se ainda, respeitar o dialeto de seus alunos e mostrar-lhe que existem variedades lingüísticas espalhadas pelo nosso Brasil, e que essas variações não são nem melhores, nem piores, apenas diferentes.

Palavras-chaves: Língua Oral, Variações Lingüísticas e Atividades de Língua

(8)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

9

2 A ORALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

13

2.1 O USO DA LÍNGUA ORAL

13

2.2 ORALIDADE E ESCRITA

16

2.3 O ENSINO DE LÍNGUA ORAL NA ESCOLA

18

3 CONTRIBUIÇÕES DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA REFERENTES À LÍNGUA ORAL

21

4 ATIVIDADES DE LÍNGUA ORAL: SUGESTÕES E IMPORTÂNCIA

25

5 A ORALIDADE A PARTIR DAS SÉRIES INICIAIS: ALGUMAS

CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS

35

6 ESTUDO DE CAMPO

40

6.1 METODOLOGIA

40

6.2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

41

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

44

REFERÊNCIAS

46

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1 INTRODUÇÃO

Para começar, quero dizer que o meu interesse em fazer a monografia na área da oralidade foi devido a muitas observações que fui tirando ao longo da vida escolar e que se intensificaram mais no ensino superior.

É comum encontrar pessoas com dificuldades em se expressar desde o ensino fundamental até o ensino superior. Isso é algo que vivi e ainda vivo. Sempre fui uma pessoa tímida, que pouco falava, tinha dificuldades (ainda tenho) para me expressar e isso sempre acabava me prejudicando. É difícil para nos relacionarmos, para conseguir emprego e até para nos divertirmos. O pouco que me lembro da minha infância escolar é que ficava sempre isolada, a timidez me acompanhava e a atenção era dada àqueles que se sobressaiam nas aulas. No ensino médio também não foi diferente, continuei com dificuldades em expressar-me oralmente. Nas atividades que precisava apresentar em sala era um sofrimento e não conseguia falar nada. Ao decidir fazer faculdade, a primeira coisa que me veio na mente foi: e quando houver as apresentações, como vou fazer? E os tais seminários? Era uma dúvida cruel, faço ou não faço? Fiz. Enfrentei. Consegui passar no vestibular e, agora, o que fazer? Decidi, vamos lá. Porém, logo de início nas primeiras aulas, começou de novo o sofrimento, tínhamos que nos apresentar para a turma, aquilo era um terror, mas com o tempo fui me acostumando. Mas com os seminários não tinha jeito, as pernas tremiam, a voz saia trêmula, enfim, começava de novo, a hora do terror. Eu comecei a perceber que isso não acontecia só comigo, a maioria das minhas colegas também sofriam com essa dificuldade em expressar-se oralmente. Alguns professores comentavam que isso era reflexo do ensino que tínhamos recebido. E realmente eram poucas as aulas no ensino fundamental que estimulavam ou que desenvolviam a oralidade. As atividades eram muito formais, não havia dinâmicas, atividades que estimulassem a expressividade dos alunos. Agora estou aqui na reta final do curso que foi cursado com muita dificuldade, melhorei bastante para o que eu era, porém, ainda me desespero quando o assunto é expressar-me para muitos.

Bom, em termos de teorização sobre a oralidade vi muito pouco durante o curso, apenas na disciplina Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa, disciplina optativa, que pude ler um pouco sobre o assunto. A partir da disciplina me interessei

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mais pelo tema e comecei a ler um pouco mais sobre o assunto que já me inquietava.

Diante disso, quero falar na minha monografia sobre como é importante desenvolver e melhorar a oralidade dos alunos e de como a comunicação oral deve estar incluída nas atividades curriculares desde as séries iniciais do Ensino Fundamental.

Assim, o presente trabalho versa sobre o tema da oralidade como parte importante na aprendizagem dos alunos e de como as atividades em torno da oralidade são importantes e devem acontecer desde as séries iniciais. A título de exemplo, temos as contribuições de Marcuschi, Cagliari, Magda Soares, Bortoni-Ricardo, Maria José Del Rio, entre outros, e também a contribuição dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa 1ª a 4ª série referentes ao ensino e desenvolvimento da oralidade desde as séries iniciais.

Muitos acreditam que a língua falada, por ser aprendida pela criança fora do contexto educacional, não deva ter na escola um tratamento específico e com fins educativos. Porém, ela é tão importante quanto o tratamento dado à escrita, mesmo porque a língua falada vem antes da língua escrita.

É grande o número de estudantes que não têm habilidades comunicativas, que sentem dificuldades de exposição em público, que se sentem inseguros frente a um trabalho, muitas vezes eles são capazes intelectualmente, porém a insegurança e o medo de não se expressar bem, de não saber fazer uso de sua língua, de não saber adequar sua fala frente a situações que exijam um pouco mais de proficiência da língua oral, o medo de estar falando “errado,” tudo isso prejudica o indivíduo, não somente enquanto aluno, mas também enquanto cidadão, que se utiliza da fala para se relacionar, para se comunicar, para transmitir mensagens e sentimentos no seu dia-a-dia.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa são grandes aliados dos professores. São diretrizes de orientação que servem como subsídios aos profissionais na elaboração de atividades e de projetos educacionais. Deve ser lido pelo professor, que pode também estar procurando outras fontes que tragam outras contribuições referentes a atividades que venham proporcionar ao aluno uma boa oralidade.

Neste trabalho, atentar-se-á para o ensino de língua na perspectiva da oralidade, de seus usos sociais e comunicativos, bem como na sua contribuição e importância

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no aprendizado do aluno desde as séries iniciais. Sendo necessário que, desde cedo, o aluno vá se familiarizando com as práticas sociais da língua falada, expandindo o uso da linguagem, tanto nas práticas sociais da fala em público, quanto nas particulares, bem como se adequando aos usos que faz da fala em determinados contextos.

Portanto, são objetivos deste trabalho: • Situar a oralidade no contexto escolar;

• Apresentar a contribuição dos PCNLP referente à Língua Oral;

• Descrever atividades de Língua Oral Comunicativa que possam ajudar o professor a proporcionar o desenvolvimento da oralidade dos alunos;

• Trazer contribuições teóricas referentes ao processo de desenvolvimento da oralidade desde as séries iniciais;

• Colher informações de professores a respeito do ensino da língua oral nas séries iniciais;

• Expor os dados da pesquisa de campo a respeito das atividades de língua oral.

No primeiro capítulo, procuramos: situar à oralidade no contexto escolar abordando o uso da língua oral e sua relevância, o desenvolvimento da oralidade como parte importante e de responsabilidade dos educadores desde as séries iniciais; esclarecer alguns aspectos da escrita e da oralidade, que para muitos se refere a um mesmo processo e descrever o ensino da oralidade na escola, seus usos, variações e preconceitos.

Para o segundo capítulo, trazemos a contribuição dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa como instrumento que auxilia o professor no seu dia-a-dia.

No terceiro capítulo apresentamos sugestões de atividades que estimulam e desenvolvem a oralidade dos alunos.

Já no quarto capítulo, trazemos a contribuição de alguns teóricos a respeito do ensino da oralidade e de sua importância para o aluno desde as séries iniciais.

E no quinto capítulo, apresentamos a metodologia e os resultados obtidos de um estudo de campo, elaborado através de um questionário, com o intuito de identificar a opinião de professores a respeito do ensino de língua oral desde as séries iniciais.

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Sendo assim, esse estudo monográfico tem como objetivo geral mostrar a relevância do desenvolvimento da oralidade dos alunos desde as séries iniciais do Ensino Fundamental.

(13)

2 A ORALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

2.1 O USO DA LINGUA ORAL

A língua, segundo o dicionário Buarque de Holanda (2001, p. 427), [...] “é o conjunto das palavras e expressões, faladas ou escritas, usadas por um povo, por uma nação” [...]. Mas ela é antes de tudo um acontecimento cultural que faz parte de nossa história muda com o passar do tempo, exprime idéias, ações, pensamentos e sentimentos. E para Marcuschi:

Em primeiro lugar, a língua é fator de identidade, seja do indivíduo, de um grupo ou de um povo. É o patrimônio mais importante de um povo por que contribui para a formação de sua cultura e sua história. [...] Em segundo lugar a língua é também fator de dominação, discriminação e disseminação do preconceito. Por isso, deve ser tratada com cuidado para não se tornar um instrumento de opressão desde os primeiros anos escolares. Este aspecto sugere uma discussão mais geral sobre o papel da língua na construção da cognição social e na valorização de todas as manifestações culturais de um povo. (MARCUSCHI, 1998, p. 154-155)

Marcuschi diz ainda a respeito da língua que:

[...] a língua é muito mais do que um sistema de estruturas fonológicas, sintáticas e lexicais com funções instrumentais. A língua é um fenômeno cultural e histórico fundado numa atividade social e cognitiva que varia ao longo do tempo e de acordo com os falantes: a língua se manifesta no uso e é sensível ao uso. È variável, mutável, heterogênea e sempre situada em contexto de uso. (MARCUSCHI, 1998, p. 140)

A língua pode ser manifestada através da fala ou da escrita. Como diz Marcuschi (2001, p. 25), “A fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos na modalidade oral (situa-se no plano da oralidade, portanto)." E é dentro desta perspectiva que se situa o seu estudo neste trabalho.

O compromisso da escola em trabalhar a oralidade tem que acontecer de maneira organizada, planejada e com responsabilidade. Muitos acreditam que se o aluno já chega à escola como um falante da sua língua materna não tem mais necessidade de se preocupar com o seu desenvolvimento oral, salvo com aqueles que têm dificuldades na fala. Mas faz-se obrigatório e pertinente que se comece bem

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cedo essa preocupação no âmbito escolar. Para expressar-se bem o indivíduo precisa saber o que vai falar, ter segurança e autonomia para o que vai ser dito e ter a possibilidade de ser escutado e respeitado na hora da sua oratória. Se usamos a língua falada a todo instante, a escola é um ótimo local para ela ser desenvolvida e com a mesma preocupação que é dada à língua escrita, pois, segundo Soares e outros:

A linguagem oral deve ser observada prioritariamente na escola. Em primeiro lugar, porque ela é a forma natural de uso da língua (anterior à escrita), e seu aperfeiçoamento é o primeiro passo para o desenvolvimento das demais habilidades. Em segundo lugar, porque mais do que lê e escreve, o indivíduo ouve e fala. Nada mais necessário, portanto, do que se tentar na escola o aperfeiçoamento do ouvir e do falar. (SOARES e outros, 1977)

Nas aulas de português, por exemplo, o professor deve se preocupar em fazer com que o aluno compreenda o que é língua, para que serve e como devemos usá-la no nosso dia-a-dia, desmistificando alguns mitos e preconceitos referentes ao seu uso na realidade.

Segundo Marcuschi (2001, p. 35), “a língua, seja na modalidade falada ou escrita, reflete, em boa medida, a organização da sociedade. Isso porque a própria língua mantém complexas relações com as representações e as formações sociais.” Desta maneira, a escola como um espaço de uso da língua, em sua heterogeneidade deve proporcionar condições para que o educando vá melhorando suas relações pessoais e sociais, se expressando com uma postura mais adequada, transmitindo mensagens com mais eficiência, e utilizando a comunicação oral mais apropriada às diversas situações do cotidiano. Para Marcuschi (1997) as idéias como “norma”, “padrão”, “dialeto”, “variante”, “sotaque”, “registro”, “gíria” podem tornar-se essenciais para o ensino de língua e ajudar a formar a consciência de que a língua não é homogênea nem monolítica. Essas noções serão de grande importância para o professor analisar e trabalhar com a língua em sala de aula. Marcuschi diz ainda que:

A fala varia de acordo com os contextos de uso e as situações, os falantes, os objetivos, as relações interpessoais etc. Também varia de acordo com as profissões e as classes sociais. Postular a uniformidade lingüística no desempenho oral é ignorar fatos óbvios a qualquer observador atento, mesmo que não seja um cientista da

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linguagem. Não há como evitar a variação, seja dentro ou fora da sala de aula. (MARCUSCHI, 1998, p.145)

O aluno tem que estar preparado para adequar sua fala a depender do contexto em que ele esteja inserido. E o educador deve estar mediando esse conhecimento. De acordo com Rio (1996, p. 18), “O trabalho psicopedagógico da língua oral inclui, também, ensinar aos alunos o emprego social da língua oral, habilidades ou competência comunicativa, ou seja, ensinar a comunicar-se com eficácia.”

Quando chega à escola o aluno que já é falante de sua língua materna, muitas vezes, se defronta com o preconceito lingüístico, visto que muitos, principalmente os da zona rural, são estigmatizados pela forma como se expressam, uma maneira nem melhor, nem pior, apenas diferente. De acordo com estudiosos que tratam da variação na sala de aula, como por exemplo Marcuschi (1998), o correto é respeitar a fala do aluno e ao mesmo tempo fazê-lo saber que há uma fala diferente da sua. Uma variação muito comum no nosso país diversificado linguisticamente, influenciado por muitas culturas e vários dialetos. É necessário ter muito cuidado em tratar a fala do aluno, pois ele muitas vezes é vítima do preconceito social. Para Marcuschi (1998, p. 144), “Respeitar a fala do aluno é ter sensibilidade para sua realidade, para seu mundo e para seus conhecimentos lingüísticos.” Visto que o professor irá se defrontar na sala de aula com alunos de diferentes contextos sociais, que trazem consigo peculiaridades distintas, sendo assim, cabe ao professor respeitar a fala de cada um desses alunos. Encontram-se nesses alunos, tanto na fala como na escrita, vários níveis de uso da língua, desde o mais formal até o informal. Por isso, é preciso ficar atento para não prestigiar a fala de uns e desprestigiar a de outros.

A língua falada na escola pelos alunos tem que ser respeitada pelo educador visto que faz parte do processo educacional. Não se pode tolher a expressão do aluno, mas criar condições para que ele saiba utilizá-la, adequando-a às várias situações no seu dia-a-dia. Não deixando de respeitar aqueles que se comunicam através de outras variedades, como sejam as variedades populares, vernáculas.

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2.2 ORALIDADE E ESCRITA

É muito difícil falar em oralidade sem nos remeter à escrita, mesmo porque a escrita serve como registro do que foi dito oralmente e, em alguns casos, a oralidade é uma manifestação do que estava escrito. E ao tratar de língua não se deve deixar de falar da escrita. Para Marcuschi (2001, p. 37), “Oralidade e escrita são duas

práticas sociais e não duas propriedades de sociedades diversas." (Grifo do autor).

Uma não pode ser tratada como superior à outra, elas são tão importantes que devem ser analisadas e investigadas de maneira que uma não se sobressaia à outra. Para Fávero, Andrade e Aquino (2002, p. 13), “O ensino da oralidade não pode ser visto isoladamente, isto é, sem relação com a escrita, pois elas mantêm entre si relações mútuas e intercambiáveis.” Precisa-se sim de um estudo mais aprofundado da oralidade e seus usos, pois o que se vê bastante é a preocupação apenas com a escrita dos educandos. E segundo Marcuschi (2001, p. 36), “A oralidade jamais desaparecerá e sempre será ao lado da escrita, o grande meio de expressão e de atividade comunicativa.” Cada uma com suas particularidades distintas, mas que muitas vezes fazem parte de um mesmo processo. Marcuschi (2001, p.37) defende a idéia que, “[...] as diferenças entre fala e escrita se dão

dentro do continuum tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos opostos.” (Grifo do autor). Em algumas situações

de oralidade, é preciso fazer uso da escrita. No caso de um seminário, de uma apresentação, de um debate, por exemplo, a escrita funciona como suporte para organizar a fala. Porém, o que ocorre muitas vezes nas escolas é que os professores ignoram a necessidade do trabalho com a linguagem oral, sendo a ênfase do ensino a linguagem escrita.

As práticas sociais estão dentro de um contínuo no qual ocorre por meio de idas e vindas, em certos momentos pratica-se uma ação na qual a escrita pode ser traduzida através da oralidade (ou vice e versa), como por exemplo, ler uma carta para uma família, ou escrever uma carta coletivamente. Tudo vai depender do contexto e do ponto de vista do observador. Para Marcuschi (2001), a escrita é usada em paralelo com a oralidade em vários contextos sociais de nossa vida. Isso ocorre no contexto familiar, educacional, profissional, na vida burocrática e intelectual. Tudo isso se configura no contínuo entre oralidade e escrita. Geralmente, nas atividades que envolvem oralidade pode-se notar quase sempre a presença do

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contínuo. Para Rio (1996, p. 62), “Haverá momentos nos quais os alunos, em uma atividade preferencialmente oral, escrevam algo, ou atue de modo alternativo como ouvinte (compreensão) e não apenas falante (produção).”

Na visão de Fávero, Andrade e Aquino (2002, p. 9), “A escrita tem sido vista como de estrutura complexa, formal e abstrata, enquanto a fala, de estrutura simples ou desestruturada, informal, concreta e dependente do contexto.” E isso vai depender muito de como cada Indivíduo interpreta fala e escrita.

É muito recorrente ver os professores dando ênfase à escrita e pouco ou quase nenhuma atenção ao processo da oralidade, mas Marcuschi (2001) vê a oralidade e a escrita como práticas e usos que possuem características próprias e distintas, porém não o bastante para se tornarem opostas, nem uma dicotomia, na qual oralidade fica de um lado escrita de outro. É necessário que os professores busquem possibilidades concretas de atuarem em sala de aula, trazendo contribuições que estimulem o desenvolvimento da língua oral, mas que também ensinem aos alunos o emprego dessa língua no uso social, suas habilidades e como adequá-la ao contexto. Para Rio (1996), não basta ensinar o aluno a escrever bem e como usar as regras gramaticais, é preciso contribuir também para aquisição das habilidades comunicativas dos educandos.

Muitas vezes, a fala só é analisada quando se trata de questionamentos que dizem respeito à questão do falar “certo” ou “errado”. Isso, muitas vezes, ocorre de forma preconceituosa num intuito de menosprezar ou desqualificar o falante de certos locais que não falam “errado”, como muitos postulam, apenas falam diferente. De acordo com Bagno (1999), é preciso acabar com o mito que diz que o brasileiro não sabe falar o português. O que pode não acontecer por parte dos brasileiros é o domínio do português de Portugal, pois falamos o português brasileiro que foi influenciado por muitas culturas, além disso, nosso país é rico em dialetos e tem suas variações a depender da região. Nessa perspectiva, os emigrantes de origem rural são os que mais sofrem com o preconceito, visto que eles, muitas vezes, estão habituados com o seu falar peculiar e se defrontam na escrita com palavras que são bem diferentes das que eles costumam pronunciar. Por exemplo, eles falam “bassoura” (isso a depender da região) e têm que escrever “vassoura”. Essa transição da fala para a escrita, muitas vezes, acaba confundindo também a criança que confronta várias vezes, e principalmente na escola, com um modo de escrever diferente daquele que está acostumada a falar. Para Bortoni- Ricardo (2004, p. 24),

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“[...] a transição do domínio do lar para o domínio da escola é também uma transição de uma cultura predominantemente oral para uma cultura permeada pela escrita.”

É comum se fazer uso da escrita para expressar o que está dito oralmente, assim como registrar informações que circulam no meio oral, transmitir informações através de cartas, telegramas, transcrever para livros de atas o que foi dito em reuniões. Desta maneira, a escrita está intimamente ligada à fala que, por sua vez, está relacionada à oralidade. É necessário um trabalho bem articulado e planejado de maneira que venha contribuir para o aprendizado do aluno. Nessa instância, o professor é um grande aliado do aluno para ajudá-lo na adequação da fala, de maneira que o educando faça uso da oralidade com eficácia, sem ser menosprezado nem menosprezando o outro interlocutor.

2.3 O ENSINO DE LÍNGUA ORAL NA ESCOLA

Sabe-se que o ensino da língua oral nas escolas praticamente não existe e se existe ocorre de forma desorganizada, superficialmente e sem planejamento. Sendo que nas escolas públicas o ensino da oralidade acontece precariamente e de maneira desestimulante, talvez pela falta de recursos, de valorização do profissional, de investimentos, despreparo dos profissionais, que não vêem muita importância em trabalhar atividades que desenvolvam a oralidade. Entretanto, o que se vê com bastante freqüência é uma preocupação com o desenvolvimento da escrita mais do que com o desenvolvimento da oralidade, não que o trabalho com a escrita não seja importante, mas a falta de um trabalho mais sistemático com a oralidade vai apresentar dificuldades no desempenho e na competência comunicativa do aluno. Não se pretende com isso dizer que a oralidade seja tratada de forma superior à escrita, mas que seja repensada e vista com mais atenção.

Ao entrar na escola, a língua falada não pode ser ignorada, mesmo porque o aluno já faz uso dela antes e fora do contexto escolar. E de acordo com Marcuschi (1998, p. 144), não se deve estranhar que a criança, ao entrar na escola já saiba falar, e que a língua falada seja tomada como ponto de partida e não como ponto de chegada. De acordo com Cagliari (1997, p. 29-30), “A escola não parte do conhecimento que a criança tem de sua fala e da fala de seus colegas para a partir daí ensinar o que deve”. É tão comum o uso da oralidade no cotidiano que talvez

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seja por isso que ela não esteja sendo discutida com mais precisão no âmbito educacional.

No ensino da oralidade existem ainda muitos mitos e preconceitos, o que acaba tornando-se obstáculo à prática das atividades orais. Segundo Antunes (2003), existem vários aspectos que atrapalham o ensino da língua oral. O que ocorre sempre é a quase omissão da fala como atividade escolar. Acredita-se que, pelo simples fato do uso oral em nossas vidas ser tão comum, não seja necessário tratar a oralidade como assunto dentro da sala de aula. Existe também a visão equivocada de que na fala os usos das regras gramaticais são sempre violados. Há também a concentração das atividades em torno dos gêneros da oralidade informal, não havendo portanto, uma preocupação com a exposição em público e no uso de registros mais formais da fala.

Realmente, ainda há uma crença muito grande em torno do ensino da oralidade na escola que diz que o ensino da linguagem escrita é superior ao ensino da linguagem oral, visto que para muitos a escola é o local para se ensinar apenas a escrever e a ler. Para Soares e outros (1977), o desprestígio da língua oral nas escolas acontece por ser recente a preocupação da lingüística quanto à oralidade. Isso muitas vezes acaba acarretando numa desvantagem quanto ao ensino de habilidades lingüísticas como o ouvir, falar, habilidades que deveriam ser bem desenvolvidas e trabalhadas no contexto escolar, além de ler e escrever. Muitos professores não estão trabalhando com essa competência dentro da sala de aula como explica, abaixo, Rio:

a) Há uma tradição muito arraigada na escola que sobrepõe o trabalho de língua escrita sobre o de língua oral; portanto, é necessário e conivente oferecer elementos para potencializar a língua oral, para que esta sirva de contrapeso.

b) No caso de se trabalhar com língua oral, a escola, sobretudo nas últimas séries, habitualmente enfatiza mais os aspectos normativos que os comunicativos.

c) Parece-nos relevante dar condições de conhecer recursos pedagógicos para trabalhar língua oral, os quais são cada vez mais numerosos mas nem por isso mais conhecidos. (RIO, 1996, p. 17)

Existem muitas formas de se desenvolver a comunicação oral na sala de aula e é preciso que isso aconteça desde cedo para que o aluno vá, aos poucos, melhorando a sua oralidade, ganhando mais segurança ao falar na sala de aula em situações cotidianas. A prática em sala de aula vai fazer com que o educando, além

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de desenvolver a autonomia e as relações interpessoais e sociais, obtenha e transmita informações, passando a observar e ouvir com mais atenção. Por isso, faz-se necessário que os profissionais da educação busquem em suas aulas formas de desenvolver a oralidade das crianças. Para Rio:

[...] é certo que quando um docente se interessa pela língua oral e por seus aspectos comunicativos defronta-se, de imediato, com uma exigência concernente aos procedimentos ou métodos educativos que está acostumado a empregar. (RIO, 1996, p. 11)

Segundo Rio (1996), é impossível que a comunicação oral possa ser aprendida em uma aula monótona, sem dinâmica, tradicional, na qual não haja participação e interação da turma com o professor. Isso é desgastante tanto para o aluno quanto para o professor no seu dia-a-dia em sala de aula. A autora diz ainda que: “A área de língua oral é exigente não apenas porque implanta novos conteúdos, mas, sobretudo, porque obriga a repensar a maneira de realizar o trabalho em sala de aula.“ (RIO, 1996, p. 11). Os professores devem atualizar os conhecimentos e os recursos pedagógicos para atuarem de forma mais segura e mais responsável na prática diária do desenvolvimento da oralidade.

A escola tem o papel de facilitar a ampliação da competência comunicativa dos alunos, permitindo-lhes apropriarem-se dos recursos comunicativos com segurança nas distintas tarefas lingüísticas. Dessa forma, os alunos se apropriarão do uso social da língua oral, descobrindo novas habilidades comunicativas e melhorando a sua desenvoltura oral.

Usamos a fala em nosso dia-a-dia para exercer diversos fins, desde um simples “bom dia” a uma exposição em público, o que exige uma adequação mais formal da fala. Para isso, é fundamental que haja um interesse e um aprofundamento no estudo da competência lingüística em sala de aula, para que se pense em projetos e planejamentos que visem melhorar a competência lingüística. A competência comunicativa de um falante lhe permite saber o que falar e como falar com quaisquer interlocutores em quaisquer circunstâncias. Ela traz a noção de adequação no âmbito da competência, na qual o interlocutor faz uso de normas de adequação definidas em sua cultura.

(21)

3

CONTRIBUIÇÕES

DOS

PARÂMETROS

CURRICULARES

NACIONAIS DE LÍNGUA PORTUGUESA REFERENTE À LÍNGUA

ORAL

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa de 1ª a 4ª série (PCNLP), lançado pelo MEC em 1997, vem como um suporte, um guia norteador para o trabalho do professor de língua portuguesa em sala de aula. Elaborados com o intuito de ajudar e auxiliar os professores de 1ª a 4ª série a atuarem em sala de aula, eles indicam caminhos a serem trabalhados no dia-a-dia pelo professor que servirão como metas a serem alcançadas pelos alunos para se tornarem cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, que possam refletir e discutir seu papel na sociedade em que estão inseridos. Se bem visto pelos professores serão de grande apoio no seu planejamento de aula, assim como também, nas propostas de projetos educacionais.

Sabe-se que os PCN são apenas diretrizes e não um manual de regras, é interessante então que os professores busquem outras fontes para o ajudarem nas atividades em sala de aula. Os Parâmetros trazem uma boa reflexão e sugestão sobre os aspectos do ensino da língua oral e de atividades que desenvolverão os alunos no que se refere a sua oralidade. Propõe que o ensino da língua portuguesa seja feito em função do eixo USO=> REFLEXÃO=>USO, um tratamento cíclico que é organizado de maneira que o professor possa compreender que a análise dos produtos obtidos acontecerão durante o processo, sendo assim, o professor poderá observar as dificuldades e necessidades de cada aluno e repensar uma forma de melhorar o seu trabalho.

No que se referem ao ensino da língua, os PCNLP (1997) trazem a noção de expandir o uso da linguagem tanto nas situações privadas como nas situações em público, de maneira que o aluno possa com isso desenvolver várias habilidades tanto orais como escritas.

Algumas reflexões serão feitas a respeito da contribuição dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o professor no dia-a-dia com seus alunos no âmbito educacional. Conforme os PCNLP:

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Toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça necessidades pessoais – que podem estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, a transmissão e busca de informação, ao exercício da reflexão. (PCNLP, 1997, p. 30):

Além disso, no que se refere à língua oral é possível notar a preocupação de que o professor não está ali para ensinar o aluno a falar, ou a fala “correta”, mas para ensinar o aluno a se adequar aos contextos de uso. Os PCNLP dizem que:

O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento.” (PCNLP, 1997, p. 23)

É importante que o professor também possa pensar dessa maneira, ensinar o uso da língua em seus diversos contextos e respeitar o aluno enquanto falante que usa a linguagem para vários fins, que através dela também reivindica seus direitos e sabe dos seus deveres. Participando e exercendo a cidadania na sociedade. Para os PCNLP:

A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma finalidade específica; um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história. Dessa forma, se produz linguagem tanto numa conversa de bar, entre amigos, quanto ao escrever uma lista de compras, ou a redigir uma carta- diferentes práticas sociais das quais se pode participar. (PCNLP, 1997, p. 23)

Conforme os PCNLP (1997), a escola deve ensinar o aluno a utilizar a linguagem nas mais variadas situações comunicativas, principalmente nas mais formais como, por exemplo: apresentação de seminário, debates, entrevistas, conversas com autoridades, dramatizações, etc. O professor pode utilizar suas aulas para propor aos seu alunos atividades nas quais eles possam estar utilizando a linguagem nessas diversas situações. Com isso, o aluno vai perdendo a timidez, ganhando autonomia ao falar, melhorando sua dicção e expressando-se de maneira mais apropriada aos diferentes modos de uso da linguagem.

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Vários são os benefícios que o ensino da oralidade pode trazer para o aluno. E segundo os PCNLP:

Quando se pensa e se fala sobre a linguagem mesma, realiza-se uma atividade de natureza reflexiva, uma atividade de análise lingüística. Essa reflexão é fundamental para a expansão da capacidade de produzir e interpretar textos. (PCNLP, 1997, p. 38)

Mas do que foi dito pelos PCNLP, o aluno ainda consegue através da linguagem, refletir, produzir, interpretar, além de abstrair novos conhecimentos ou ainda, melhorar os que já possui.

Os PCNLP (1997) indicam, como objetivos do ensino fundamental, que o aluno possa sair do ensino fundamental capaz de:

• Explorar o uso da linguagem em locais públicos e privados com eficácia e produzir tanto textos orais como escritos;

• Usar a linguagem como meio de aprendizagem, e utilizá - la para ter acesso, compreender e fazer uso de informações nos meios escritos, assim como, identificar aspectos relevantes e produzir textos coerentes;

• Melhorar suas relações pessoais através da linguagem; • Respeitar as variedades lingüísticas.

Alguns brasileiros, principalmente os da região nordeste e de alguns interiores das principais capitais, sofrem com o preconceito, não só racial e social, como também o lingüístico. Certas variações lingüísticas regionais sofrem discriminação por parte de pessoas que falam um dialeto diferente, é o caso, por exemplo, do “falar” nordestino que é discriminado e muito criticado por algumas pessoas do sul do país, tido como variedades incorretas e de menor prestígio.

Cabe ao educador respeitar o dialeto de cada região, para que o aluno não se envergonhe de falar nas situações em público com medo de ser discriminado. O que o professor deve é possibilitar a formação de uma consciência lingüística do aluno e fazer com que ele saiba adequar sua fala a diferentes contextos. Os PCNLP trazem a seguinte concepção:

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Expressar-se oralmente requer confiança em si mesmo. Isso se conquista em ambientes favoráveis à manifestação do que se pensa, do que se sente, do que se é. Assim, o desenvolvimento da capacidade de expressão oral do aluno depende consideravelmente de a escola constituir-se num ambiente que respeite e acolha a vez e a voz, a diferença e a diversidade. (PCNLP, 1997, p. 49)

Existe também quem discorde, em alguns aspectos, dos PCN como, por exemplo, Marcuschi (1997, p. 44), para ele os PCN enfatizam que, cabe à escola ensinar o aluno a adequar e cultivar o domínio da fala. Tratando a língua como simples instrumento de comunicação adequada, sem se ater com a relação que a fala tem com a escrita. Para o autor, a escola deve respeitar a realidade do aluno, e o tratamento dado à fala deva ocorrer de maneira útil e não de forma artificial. Marcuschi (1997, p. 44) diz: “A posição que defendo é a de que se deveria fazer o aluno exercitar o espírito crítico e a capacidade de raciocínio desenvolvendo sua habilidade de interagir criticamente com o meio e os indivíduos." Isso referindo-se ao uso da língua como instrumento para construir e manter as relações interpessoais.

Nessa perspectiva, sabe-se que é necessário que o educador possa estar sempre procurando novas referências a respeito do assunto e fazendo comparações, refletindo, repensando novas possibilidades para que cada vez mais a discussão fique mais clara.

É preciso que o educador tenha senso crítico, que saiba analisar e compreender que tudo pode ser aperfeiçoado e adaptado a determinados contextos e a determinadas situações. Refletir sobre o que é melhor para seus alunos também é muito interessante. Marcuschi (1998, p. 138) diz ainda que: “Em muitos aspectos o documento acerta e se afigura promissor.” Por isso, é preciso ter um pouco de cuidado na hora das interpretações.

Como já foi dito, os PCN constituem propostas que podem direcionar o professor na sua atividade diária, porém, não são manuais que precisam ser seguidos ao “pé da letra”.

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4 ATIVIDADES DE LÍNGUA ORAL: SUGESTÕES E IMPORTÂNCIA

Trata-se de algumas sugestões tendo em vista a atuação dos professores na sala de aula, dada a relevância das atividades de língua oral desde as primeiras séries. Sabe-se que atividades que desenvolvam a oralidade na escola não ocorrem com a mesma freqüência que as atividades de escrita. Muito do que se aprende na escola não está voltado para o ensino da oralidade, mas a oralidade faz parte da vida do indivíduo e deve ser tratada de maneira a possibilitar ao aluno uma adequação da linguagem às mais variadas situações de comunicação. E isso é compromisso da escola, mesmo porque o aluno passa muito tempo de sua vida inserido nesse espaço. O professor que tem compromisso com o seu papel de educador responsável pela aprendizagem do aluno deve procurar maneiras de melhorar o nível dos seus alunos, e no que se refere ao desenvolvimento da oralidade, parte tão importante na vida dos alunos, deve começar desde cedo a trabalhar com atividades que possibilitem uma expansão no uso da linguagem na sociedade.

A escola não tem o papel de ensinar o aluno a falar, mesmo porque ele já chega à escola como um falante. A escola tem o papel de expandir seus conhecimentos sobre a língua, bem como ensinar a fazer uso dela nos diferentes ambientes, respeitando as diversas variedades lingüísticas faladas em contextos sociais.

Para Soares e outros (1977), “A preocupação do professor não deverá ser censura dos hábitos lingüísticos do aluno, mas a busca da ampliação do dialeto e dos registros dele.” O educador tem que planejar suas aulas de forma que as atividades que desenvolvam a oralidade estejam dentro dos seus objetivos. E para os PCNLP:

Eleger a língua oral como conteúdo escolar exige o planejamento da ação pedagógica de forma a garantir, na sala de aula, atividades sistemáticas de fala, escuta e reflexão sobre a língua. (PCNLP, 1997, p. 49)

De acordo com Soares e outros (1977), “A atividade realmente centrada no aluno vai favorecer o trabalho nessa área. Nesse caso, o professor estimulará a livre expressão, a produção do aluno, incentivando, ao mesmo tempo, a audição ativa e

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participante.” Propiciar ao aluno um ambiente no qual ele possa sentir-se a vontade também ajuda bastante no momento em que as atividades forem colocadas em prática.

O professor deve, ainda, fazer uma avaliação diagnóstica, no que se refere à oralidade, no início do ano e processual durante o processo educacional para analisar se os alunos: expõem suas idéias e opiniões ainda com pouca fluência; ou com clareza e coerência; ainda não argumentam bem em defesa de suas idéias; ou conseguem argumentar; procuram adequar sua fala a diferentes interlocutores e situações sociais; mantêm um clima de respeito e solidariedade em situações de diálogo; acompanham uma discussão com interesse, mas só participam quando solicitados; têm vergonha de perguntar, de pedirem ajuda; nas atividades em grupo, são mais observadores do que participantes espontâneos etc. Com isso, os professores terão como planejar um bom trabalho que venha a contemplar o ensino da oralidade.

Para Rio (1996), o professor também pode estar analisando como anda a eficácia comunicativa dos alunos e avaliando suas ações para propor outras novas sugestões, reparando se eles: participam das aulas com autonomia; se demonstram capacidade de interatuar com outros colegas; se seus discursos são coerentes e se demonstram adequação; se seus alunos são capazes de improvisar situações comunicativas relativamente novas; reparar como anda a receptividade dos alunos, como escutar, aceitar e respeitar o ponto de vista do outro; analisar se os alunos são capazes de refletirem, comentarem e opinarem sobre assuntos variados com segurança etc. No processo de avaliação o professor pode também, ouvir as propostas dos alunos a respeito das atuações de seus colegas.

No que se refere às dificuldades de trabalhar com atividades que desenvolvam a língua oral comunicativa dos alunos Rio ressalta que:

a) Recriar situações comunicativas na escola que representem e se assemelhem àqueles que os alunos encontram no seu dia-a-dia fora da escola.

b) Em segundo lugar, aproveitar e reconverter oportunidades que a mesma escola oferece para exercitar a competência comunicativa dos alunos. Não se pode esquecer que determinadas atividades cooperativas muito próprias do início da escolaridade são, ao mesmo tempo, muito adequadas para desenvolver certas Habilidades comunicativas. (RIO,1996, p. 57)

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Todo o trabalho desenvolvido em cima de atividades que melhorem e estimulem a oralidade dos alunos são de suma importância. São atividades que irão favorecer tanto ao professor quanto ao aluno. Marcuschi traz em seu trabalho sobre,

A concepção de língua falada nos manuais de português de 1º e 2º graus: uma visão crítica, (grifo meu), algumas sugestões de tarefas para análise da língua falada, a

fim de servirem como reflexão por parte dos profissionais da educação. Nessas sugestões trazidas por Marcuschi (1997) pode-se encontrar: audição de fitas com falas de diferentes pessoas, com diferentes idades e de diferentes regiões do país. Isso irá possibilitar aos alunos a percepção dos vários dialetos falados em diferentes locais e por diversas pessoas, assim como perceber os sotaques, as gírias, as estratégias comunicativas, e será de grande utilidade para demonstrar como nosso país é rico em variação lingüística; através da audição das fitas poderá se criar também um debate sobre o preconceito e sobre a discriminação lingüística possibilitando mostrar aos alunos a diversidade e o respeito pela diferença como uma maneira de identificação da fala e como fator que contribui para a formação de identidades; analisar a polidez e a organização da fala, bem como, observar como este aspecto interfere de maneira decisiva na interação verbal; identificar papéis executados pelos participantes, assim como, o número de participantes, formas de sequenciação, tomadas de turno (tão comum nas conversações); identificar alguns aspectos típicos da produção oral como as hesitações, os marcadores conversacionais, as repetições de elementos lexicais, as correções etc.

Essas são apenas sugestões que podem ser vistas e analisadas pelos docentes a fim de melhorarem os seus trabalhos no que diz respeito ao ensino da língua oral. Procurar sempre novas informações, novos conhecimentos sobre determinados assuntos deve estar dentro do planejamento de cada professor.

E em se tratando de língua oral não se pode deixar de falar da variação lingüística, tão comum e que se expressa de maneira bem direta na fala. Vale ressaltar que para Cagliari:

Os modos diferentes de falar acontecem porque as línguas se transformam ao longo do tempo, assumindo peculiaridades características de grupos sociais diferentes, e os indivíduos aprendem a língua ou dialeto da comunidade em que vivem. (CAGLIARI, 1997, p. 81)

(28)

Com todas essas variações da língua ao longo do tempo nota-se que é preciso pensar um pouco antes de classificar em certo ou errado os usos da língua. Certo e errado são formas, muitas vezes, de demonstrar o preconceito social através do preconceito lingüístico. Mas para a escola é bem mais difícil lidar com isso já que existe um conceito muito arraigado de demonstrar em certo e errado as atividades da criança. Ricardo-Bortoni (2004) em seu livro: Educação em língua materna: a

sociolingüística na sala de aula aponta a cada capítulo objetivos que servem como

ponto de reflexão para os profissionais da educação quando se fala em variação lingüística dos quais seguem abaixo alguns:

• Identificar as principais características sociolingüísticas da sociedade brasileira e suas implicações para a educação;

• Facilitar a conscientização sobre variação lingüística;

• Refletir sobre a variação lingüística no repertório dos professores e dos alunos de ensino fundamental;

• Levar o aluno a aprofundar sua conscientização sobre a variação lingüística e a educação em língua materna;

• Introduzir os conceitos de competência lingüística e competência comunicativa e suas implicações para a educação.

É necessário que o professor trabalhe através do texto/leitura as variações lingüísticas de cada região, contribuindo assim para o enriquecimento dos alunos no conhecimento de novas palavras e de novos significados. Essas variações podem decorrer de vários fatores como diz Bortoni-Ricardo (2004): entre os grupos etários (os avós geralmente falam diferentes de seus filhos e de seus netos etc); entre os gêneros (homens e mulheres falam de maneiras distintas, mulheres usam muito o diminutivos, os marcadores conversacionais como”né?”, “tá?”, “ta bom?”, já os homens usam muito as gírias e os palavrões; o status socioeconômico (as desigualdades na divisão dos bens materiais e de bens culturais quase sempre se refletem em diferenças sociolingüísticas); o grau de escolarização ( o grau de escolarização e a qualidade das escolas que o aluno freqüentou também têm influência em seu repertório sociolingüístico; o mercado de trabalho ( as atividades profissionais que o indivíduo desempenha também são fatores condicionadores de

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seu repertório sociolingüístico); e a rede social ( a rede social com a qual o indivíduo interage nos diversos domínios sociais, também é um fator determinante das características de seu repertório sociolingüístico). Tudo isso, deve ser levado em conta pela escola quando o assunto for variação lingüística. E o professor deve pensar nisso quando for planejar sua atividades.

Na visão de Cagliari (1997, p. 171), “[...] ensinar claramente ao aluno o que é próprio da linguagem e que é próprio do uso que a sociedade faz da leitura é fundamental.” O aluno deve saber que vivemos em transformação e mudança e que a língua é viva e também sofre mutação e que para cada situação que formos escrever ou falar algo devemos adequar a nossa fala e nossa escrita ao ambiente e à situação desejada. Para Bortoni-Ricardo:

Na sala de aula, como em qualquer outro domínio social, encontramos grande variação no uso da língua (...) o que estamos querendo dizer é que, em todos os domínios sociais, há regras que determinam as ações que ali são realizadas. (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 25)

O professor deve estar preparado para trabalhar com as variações lingüísticas dentro da sala de aula, respeitar as diversidades dos seus alunos e conhecer o contexto em que seus alunos estão inseridos.

No trabalho com a oralidade tem-se como objetivo, também, desenvolver as habilidades do falar e do escutar. O trabalho do ouvir pode fazer com que o aluno observe a argumentação do interlocutor, sua organização de idéias, preparando-o para uma contrapartida, se for o caso. As atividades voltadas para o ouvir e ler também fazem parte do processo de desenvolvimento da oralidade.

Exercitar o hábito da leitura em voz alta, na sala de aula, serve também como auxílio para desinibir o aluno frente a um público. Desde que também, ele já tenha feito a leitura em silêncio. A prática da leitura também estimula a oralidade, visto que muitas vezes o indivíduo tem que se adequar ao tipo de leitura, assim como melhorar sua dicção. E segundo Cagliari (1997, p. 155), “Por leitura se entende toda manifestação lingüística que uma pessoa realiza para recuperar um pensamento formulado por outra e colocado em forma de escrita”. (CAGLIARI, 1997, p. 155). Por isso, é de muita importância que a leitura, assim como a interpretação e a análise dos dados descritos nos textos, sejam trabalhados em sala de aula desde as séries

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iniciais, isso ajuda o aluno a desenvolver a linguagem oral. Isso pode acontecer nas interpretações de historinhas e músicas trabalhadas em sala, tentando com isso um contato maior do aluno com o texto, despertando a curiosidade, as intervenções e as interpretações de cada um.

As rodas de música são também excelentes atividades que desenvolvem a oralidade das crianças. Elas ficam mais desinibidas, se soltam com mais facilidade. As músicas são grandes aliadas no processo de desenvolvimento do processo oral na sala de aula. Para Cagliari:

Uma criança pode começar ouvindo histórias, aprendendo a decifrar os sons das letras (no seu dialeto ou no da escola) em diversos contextos (palavras diferentes), e se pôr a ler pequenos textos de cujo conteúdo já tem conhecimento (já ouviu) ou que sabe de cor, como canções, provérbios e adivinhações etc.” (CAGLIARI, 2000, p.168)

Por isso, o professor tem papel fundamental no desenvolvimento do aluno no que se refere ao desenvolvimento da oralidade. O professor deve estar atento a esse momento dedicado à leitura, no qual ele não será apenas espectador, mas também participante no processo.

A leitura oral é feita não somente por quem lê, mas pode ser dirigida a outras pessoas, que também “lêem” o texto ouvindo-o. Os primeiros contatos das crianças com a leitura ocorrem desse modo. Os adultos lêem histórias para elas. Ouvir histórias é uma forma de ler. (CAGLIARI, 1997, p.155)

Todas essas questões são relevantes para o ensino da oralidade visto sob a perspectiva tanto da expressão oral (falar) e da compreensão oral (ouvir). Ao falar, o aluno vai exercitar a dicção, entonação, clareza, altura da voz etc. E ao ouvir estimulará a compreensão do que o texto quer dizer, observará a forma como o outro interlocutor expõe suas idéias, além de abstrair algum conhecimento.

Para Rio (1996, p. 59-60), é necessário antes de colocar as atividades em prática planejar e sistematizar os objetivos a serem alcançados com determinadas atividades. As atividades podem ser de diversos tipos e cabe ao professor escolher de acordo com alguns fatores. Para a autora, deve-se classificar as atividades comunicativas seguindo alguns critérios dos quais seguem abaixo:

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• Pelo número e papel dos interlocutores como por exemplo: diálogo/entrevista (dois interlocutores, alternando papéis), conversação/discussão (diversos membros, falantes e interlocutores), discurso/exposição (um único falante e platéia); colóquio (um falante e uma audiência, com alternância de papéis);

• Pelo grau de proximidade física com audiência: proximidade (presença simultânea de ambos os interlocutores), ausência (distância física entre os interlocutores);

• Pelo grau de formalidade exigida: informal (interação entre amigos e familiares), formal médio (entre conhecidos ou entre iguais), formal (entre desconhecidos e com desiguais superiores);

• Pelo grau de proximidade entre conteúdos e contextos: descrição contextualizada (faz referência ao contexto imediato), narração (referências a fatos passados, não - imediatamente presentes ou imaginários), planejamento (referência a fatos futuros ou hipotéticos); • Ou ainda pelos centros de interesses temáticos: entre amigos, entre

familiares, esporte preferido, festas em um povoado, viagem com colegas etc.

Essas atividades poderão ser intercaladas a determinados conteúdos, nas quais muitas vezes a oralidade será apenas um meio pelo qual o aluno vai utilizar para expor seu conhecimento ou seu aprendizado. Em outros momentos as atividades serão essencialmente orais. Por isso, é necessário o planejamento do professor antes de classificar as atividades comunicativas.

Sabe-se que é muito freqüente a inibição de alguns alunos em sala de aula, principalmente, nas apresentações em público. Algumas atividades diárias nos primeiros anos escolares reforçam a disinibição, principalmente dos mais tímidos, como, por exemplo: exposição oral de suas atividades, roda de conversas, recados para serem dados em sala e dentro do espaço escolar, leitura de contos, notícias e textos, comentar com a turma sobre seu final de semana e pedir que os alunos falem sobre como foi o seu, comentar com os alunos sobre um fato importante que ocorreu durante a semana e foi veiculado nos meios de comunicação e pedir para eles opinarem etc. Essas pequenas ações irão estimular o desenvolvimento da expressão oral dos alunos.

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É bom lembrar que o professor deve evitar intervir, se por um acaso, algum aluno expressar uma palavra de forma inadequada, ele deve anotar o acontecimento e depois num momento oportuno fazer a observação. Isso fará com que o aluno não se acanhe perante seus colegas, e também, para que seus colegas não façam gozação, o que vai machucá-lo e retrai-lo ao invés de estimulá-lo.

Há outras atividades orais que vão desenvolver certas habilidades de uso da língua como: debates, entrevistas, dramatizações, inversão de papéis etc. Essas atividades vão proporcionar o uso da língua mais monitorada e elaborada. Além de enriquecer a aula também irá desenvolver a oralidade dos alunos e favorecer a interação oral significativa.

Os PCNLP trazem algumas contribuições que serão de grande importância na hora de elaborar as atividades de oralidade. Vejamos alguns gêneros discursivos que os PCNLP trazem como adequados para se trabalhar com a linguagem oral:

• contos (de fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares; • poemas, canções, quadrinhas, parlendas, adivinhas, trava-línguas,

piada;

• saudações, instruções, relatos;

• entrevistas, notícias, anúncios (via rádio e televisão); • seminários, palestras. (PCNLP, 1997, p. 111)

Essas atividades irão contemplar tanto o trabalho com a linguagem oral como com a linguagem escrita, além de favorecer a organização das situações de aprendizagem a partir da diversidade textual.

No item que se refere aos blocos de conteúdos no primeiro ciclo1, para aqueles que se referem à língua oral: usos e formas, os PCNLP dizem o seguinte a respeito dos conteúdos específicos:

• Participação em situações de intercâmbio oral que requeiram: ouvir com atenção, intervir sem sair do assunto tratado, formular e responder perguntas, explicar e ouvir explicações, manifestar e acolher opiniões, adequar as colocações às intervenções precedentes, propor temas.

• Manifestação de experiências, sentimentos, idéias e opiniões de forma clara e ordenada.

• Narração de fatos considerando a temporalidade e a casualidade.

1 Esse primeiro ciclo refere-se a 1ª e 2ª série do ensino fundamental. Hoje no ensino de nove anos

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• Narração de histórias conhecidas, buscando aproximação às características discursivas do texto-fonte.

• Descrição (dentro de uma narração ou de uma exposição) de personagens, cenários e objetos,

• Exposição oral com ajuda do professor, usando suporte escrito, quando for o caso.

• Adequação do discurso ao nível de conhecimento prévio de quem ouve (com ajuda).

• Adequação da linguagem às situações comunicativas mais formais que acontecem na escola (com ajuda). (PCNLP, 1997, p. 113-114)

Já os conteúdos específicos para o segundo ciclo2, propostos pelos PCNLP são os seguintes:

• Escuta ativa dos diferentes textos ouvidos em situações de comunicação direta ou mediada por telefone, rádio ou televisão: inferência sobre alguns elementos de intencionalidade implícita (sentido figurado, humor, etc.), reconhecimento do significado contextual e do papel complementar de alguns elementos não-linguísticos para conferir significação aos textos (gesto, postura corporal, expressão facial, tom de voz e entonação).

• Utilização da linguagem oral em situações como as do primeiro ciclo, ampliando-as para outras que requeiram:

• Maior nível de formalidade no uso da linguagem; • Preparação prévia;

• Manutenção de um ponto de vista ao longo da fala; • Uso de procedimentos de negociação de acordos; • Réplicas e tréplicas;

• Utilização de recursos eletrônicos (gravador e vídeo) para

registrar situações de comunicação oral tanto para documentação como para análise.

Esses são conteúdos relevantes e devem ser analisados pelos professores na hora de pensar em trabalhar língua oral na escola. Os Parâmetros podem ajudar bastante os professores na hora de buscar alternativas para desenvolver a oralidade de seus alunos.

O planejamento é uma ferramenta bastante útil para o trabalho do educador. O professor não pode ir para sua sala sem ter feito um levantamento do assunto que vai ser ministrado ou sem ter planejado sua aula. Após análise, compreensão e execução dos conteúdos trabalhados os educadores podem fazer uma avaliação para saber como os alunos estão no que se refere ao uso da língua oral. É

2

Esse segundo ciclo refere-se a 3ª e 4ª série do ensino fundamental. Hoje no ensino de nove anos refere-se ao 4º e 5º ano do ensino fundamental.

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necessária uma avaliação constante para verificar o crescimento do aluno, de sua fluência em utilizar a linguagem etc. E assim reorganizar seus planejamentos a depender do resultado encontrado com a avaliação.

(35)

5 A ORALIDADE A PARTIR DAS SÉRIES INICIAIS: ALGUMAS

CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS

O trabalho com a oralidade desde as séries iniciais é de fundamental importância, pois ao mesmo tempo em que traz várias melhorias no desempenho do aluno dentro do ambiente escolar, também insere a criança na sociedade como um ser crítico e reflexivo que sabe se colocar em público oralmente com segurança e autonomia.

As escolas, comumente, costumam enfocar mais a aquisição da escrita do que se voltar para o processo de desenvolvimento da oralidade, parte tão importante para a aprendizagem do indivíduo, visto que ele é um ser que vive em uma sociedade e que se utiliza da fala na interação com as pessoas. Sendo assim, é muito importante que o desenvolvimento da oralidade ocorra dentro da escola desde as primeiras séries. E os professores têm a obrigação de repensar a maneira de melhorar essa habilidade comunicativa no sistema educativo. O professor não deve apenas ensinar a língua, mas proporcionar aos alunos as várias formas de usá-la em seu dia-a-dia.

O processo de iniciação na escola, que para muitos ainda acontece na alfabetização, é um momento muito difícil, tanto para o aluno quanto para o professor. O aluno por estar numa fase nova, momento em que ele terá que passar por uma adaptação e que irá se defrontar com um mundo novo, de aprendizados e conhecimentos, da transição da fala para a escrita, esse estágio é muito conturbado para o aluno. Segundo Cagliari:

[...] toda a consciência que a criança tem da linguagem oral se deturpa quando ela entra na escola e aprende a escrever; de tal modo que depois, adulta, só será capaz de observar sua fala, sem as interferências da forma gráfica das palavras, após treinamento fonético. (CAGLIARI, 1997, p. 8)

Nas séries iniciais, o aluno que ainda não escreve, mas que faz uso das palavras através da fala, se diverte com os sons que emite e entende o que fala, mesmo sem compreender o que está escrito. Eles se relacionam, dialogam sobre vários assuntos, interpretam situações do seu dia-a-dia, assumem papéis através das brincadeiras de “faz de conta.” Com isso, observa-se como é bem aguçada a

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sua capacidade lingüística e como a linguagem oral é tão importante quanto a escrita. Cagliari diz que:

[...] a criança que se inicia na alfabetização já é um falante capaz de entender e falar a língua portuguesa com desembaraço e precisão nas circunstâncias de sua vida em que precisa usar a linguagem. Abstraindo novos conhecimentos e passando por um novo processo no qual a linguagem oral vai perdendo um pouco sua legitimidade e as palavras escritas vão ganhando mais importância. (CAGLIARI, 1997, p. 29)

Nessa perspectiva, os professores têm a obrigação e a responsabilidade de tratar a língua oral com a mesma ênfase que é dada à língua escrita, visto que ela também faz parte do processo de aprendizagem e do desenvolvimento dos alunos, principalmente nas séries iniciais, fase em que a criança utiliza mais da língua falada do que da língua escrita.

Deve-se, ainda, respeitar o tempo de aprendizagem do aluno e cuidar para que ele não seja rotulado em sala de aula como um aluno que “não sabe falar.” Isso, além de não ajudar na aprendizagem do aluno, vai acabar prejudicando e fazendo com que esse aluno sinta-se inferiorizado e vítima do preconceito. Para Cagliari (1997, p. 82), “A escola, incorporando esse comportamento preconceituoso da sociedade em geral, também rotula seus alunos pelos modos diferentes de falar.”

Promover o ensino da língua oral desde as primeiras séries fará com que o aluno vá se familiarizando com a exposição oral, o que ocorrerá com maior freqüência a partir do sexto ano de ensino (no ensino fundamental de nove anos, equivalente à 5ª série). Nessa próxima etapa, o aluno irá se defrontar com atividades nas quais a oralidade será cobrada com mais intensidade. Segundo os PCNLP (1997, p.51), “Assim, é importante que as situações de exposição oral freqüentem os projetos de estudos e sejam ensinadas desde as séries iniciais, intensificando-se posteriormente.”

Deve-se começar o trabalho com a oralidade desde as primeiras séries, pois esse aluno irá se expor através da língua oral para expressar suas opiniões e reivindicar seus direitos. Além de precisar saber adequar sua fala aos vários contextos, argumentar com coerência e autonomia, e fazer uso da fala em determinados contextos que precisem de um aprimoramento mais apropriado à ocasião.

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No que se refere ao respeito às variações lingüísticas, a escola ainda tem muito que contribuir. A escola, muitas vezes, rotula aquele aluno que fala diferente da maioria dos seus alunos, como o aluno que fala “errado”. Desrespeitando o aluno como indivíduo e cidadão, que deve ser respeitado independente de crença, etnia, decisão política, sexual, como também uma pessoa que apenas fala de forma diferente daqueles daquela localidade. Respeitar a diversidade lingüística também deve ser um compromisso da escola com seus alunos, visto que, ao se deparar com uma turma, o professor vai encontrar alunos com diferentes modos de falar. A escola muitas vezes não respeita essa variação. Ela geralmente classifica em: esse fala “certo” e aquele fala “errado”. Conforme Cagliari:

Para a escola aceitar a variação lingüística como um fato lingüístico, precisa mudar toda a sua visão de valores educacionais. Enquanto isso não acontece, os professores mais bem esclarecidos deveriam pelo menos discutir o problema da variação lingüística com seus alunos e mostrar-lhes como os diferentes dialetos são, por que são diferentes, o que isso representa em termos das estruturas lingüísticas das línguas e, sobretudo, como a sociedade encara a variação lingüística, seus preconceitos e a conseqüência disso na vida de cada um. (CAGLIARI, 1997, p. 82)

Essa preocupação com a variação é um fator que deve começar ser inserido no ensino nas primeiras séries. Já que é tão comum encontrarmos pessoas que têm um jeito peculiar de falar. De acordo com Cagliari:

Os modos diferentes de falar acontecem porque as línguas se transformam ao longo do tempo, assumindo peculiaridades características de grupos sociais diferentes, e os indivíduos aprendem a língua ou dialeto da comunidade em que vivem. (CAGLIARI, 1997, p.81)

Com o passar do tempo, a língua ganha novos valores e novos significados que serão introduzidos na sociedade em que vivemos. Os professores, principalmente os das séries iniciais, precisam deixar de lado o preconceito que diz que existe o “erro de português” e começar a enxergar com “bons olhos” as variedades lingüísticas existentes no nosso país. Os professores devem possibilitar aos alunos, principalmente os menos favorecidos, o acesso à cultura letrada para poderem lutar de igual para igual com os alunos das classes mais abastadas. Agindo dessa forma, o professor vai vencendo os preconceitos lingüísticos e assim o

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