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Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL. DIETA E IMPACTO DA PREDAÇÃO DE GATOS DOMÉSTICOS (Felis catus) EM AMBIENTES RURAIS. Inês Assis dos Santos Nobre Leitão. MESTRADO EM BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO 2008.

(2) UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL. DIETA E IMPACTO DA PREDAÇÃO DE GATOS DOMÉSTICOS (Felis catus) EM AMBIENTES RURAIS. Inês Assis dos Santos Nobre Leitão. MESTRADO EM BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO. Dissertação orientada pela Professora Doutora Margarida Santos-Reis (DBA/CBA- FCUL) 2008.

(3) Agradecimentos A realização deste trabalho só foi possível mediante todo o apoio recebido. Desta forma quero agradecer: À Professora Doutora Margarida Santos-Reis por ter aceite a orientação da minha tese de mestrado e por todo o apoio demonstrado até ao último dia. À Cristina Maldonado pelo tempo disponibilizado na triagem dos últimos dejectos e na identificação dos pêlos, dentes e pênas, e pela boa disposição demonstrada durante a estadia em Barrancos. Ao Mário Boeiro e Miguel Rosalino pela ajuda na identificação dos insectos. À Mafalda Basto e à Tátá pelo esclarecimento de dúvidas na triagem dos dejectos e pela ajuda inicial no laboratório. Ao professor Henrique Cabral, Mafalda Costa, Ana Marta Serronha e Ana Rita Mateus pela ajuda na elaboração da análise estatística multivariada. Ao Nuno Silva e ao Nelson Cintra, pela ajuda informática. Aos guardas do Perímetro Florestal da Contenda, da Herdade da Coutada dos Frades e do Castelo de Noudar, pela boa disposição demonstrada, companhia no campo e conhecimentos transmitidos. A todos os barranquenhos, pela enorme hospitalidade e amizade demonstradas, pela companhia e apoio, pelas noites de diversão e pelo respeito e compreensão demonstrados pela natureza. Aos meus grandes amigos, que sempre me apoiaram ao longo deste período, especialmente à Ana Rita Mateus e Mariana Montez pela enorme amizade. Ao meu pai, por me ter transmitido a paixão pela natureza e pela vida selvagem desde pequena e por sempre me ter apoiado na minha carreira como bióloga. Aos meus pais, pela compreensão, ajuda e força demonstradas nas situações mais complicadas. A eles dedico este trabalho! E finalmente ao gato-bravo (Joaquim Pedro Ferreira), por me ter escolhido como parceira nesta grande aventura, por todos os conhecimentos transmitidos no campo, pela ajuda em todas as fases deste trabalho, pela grande amizade demonstrada, pelas horas de trabalho e também de diversão, e por mostrar que em Portugal existem excelentes investigadores. i.

(4) Resumo Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais O gato doméstico exerce um reconhecido impacto predatório sobre populações de aves e pequenos mamíferos, nomeadamente em ilhas e zonas urbanas. Contudo, a sua maior ameaça refere-se à integridade do gato-bravo, através da hibridação e da competição pelo espaço e pelo alimento, estas últimas indirectamente reveladas pelo grau de associação da espécie doméstica ao homem e às suas infra-estruturas. Através deste estudo pretendeu-se caracterizar a dieta do gato doméstico no Sítio MouraBarrancos (Alentejo) e determinar o seu impacto predatório sobre espécies silvestres, comparando ainda os resultados obtidos, com os de diferentes áreas geográficas: ilhas, zonas urbanas e outras zonas rurais. Relacionou-se também o regime do gato doméstico no Sítio Moura-Barrancos com o obtido para o gato-bravo no contexto nacional, averiguando sobre a possível competição alimentar entre as duas espécies. Entre Março e Agosto de 2007, foram recolhidos dejectos de gato doméstico em três herdades situadas em zonas favoráveis à ocorrência de gato-bravo. A análise da dieta, foi expressa pela frequência de ocorrência e percentagem de biomassa de cada item alimentar. Dos 166 dejectos analisados, detectou-se o consumo de 473 presas, agrupadas em 8 grupos principais (Lagomorpha: F.O.-1,48%, P.B.-4,36%; Rodentia: F.O.-26,85%; P.B.-9,61%; Insectívora: F.O.-0,63%, P.B.-0,08%; Aves: F.O.-7,19%, P.B.-11,02%; Reptilia: F.O.-1,48%, P.B.-0,03%; Arthropoda: F.O.-20,30%, P.B.-0,27%; Material Vegetal: F.O.-14,38%, P.B.-0,05% e Restos de alimentação humana: F.O.27,70%, P.B.-74,58%). Os resultados indicam que os gatos domésticos desta zona, são predadores oportunistas tendo hábitos alimentares mais generalistas que os observados noutras zonas, e que no Sítio Moura-Barrancos a competição alimentar não representa um risco para o gato-bravo, uma vez que os gatos domésticos baseiam a sua dieta em restos de alimentação humana e presas associadas ao homem. Palavras-chave: dieta, Felis catus, Felis silvestris, predação, Sítio Moura-Barrancos, conservação. ii.

(5) Abstract Feeding habits and predation impact of domestic cat (Felis catus) in rural environments The domestic cat exerts an well known predation effect on birds and small mammals populations, namely on islands and urban areas. Although, the biggest threat is related to the wildcat integrity, through hybridization and competition for space and food, the last ones indirectly revealed by the degree of association of the domestic species to man and its environment. The goals of this study were to characterize the domestic cat diet on Moura-Barrancos (Alentejo) and determine the domestic cat predatory impact on wildlife species, comparing the results with those of distinct geographic areas: islands, urban areas and others rural areas. The domestic cat diet in Moura-Barrancos was compared to wildcat diet in a national context, to understand the possible trophic competition between the two species. Between March and August 2007, domestic cat scats were collected in three rural farms located in favourable wildcat areas. The diet composition was expressed by frequency of occurrence and percentage of consumed biomass of each food item. In the 166 analysed scats ,there were identified 473 different preys, separated in 8 principal groups (Lagomorpha: F.O.-1,48%, P.B.4,36%; Rodentia: F.O.-26,85%; P.B.-9,61%; Insectívora: F.O.-0,63%, P.B.-0,08%; Birds: F.O.-7,19%, P.B.-11,02%; Reptilia: F.O.-1,48%, P.B.-0,03%; Arthropoda: F.O.20,30%, P.B.-0,27%; Plant matter: F.O.-14,38%, P.B.-0,05% and Household food: F.O.-27,70%, P.B.-74,58%). The results indicate that domestic cats in Moura-Barrancos are opportunistic predators with feeding habits more generalized that those observed in others areas, and that the trophic competition doesn’t represent a threat to the wildcat, since the domestic cats diet is based in household food and preys linked to man. Keywords: diet, Felis catus, Felis silvestris, predation, Moura-Barrancos, conservation. iii.

(6) Índice Agradecimentos……………………………………………………………………. i Resumo……………………………………………………………………………... ii Abstract…………………………………………………………………………….. iii 1 Introdução……………………………………………………………………....... 1. 1.1 Objectivos do estudo………………………………………….......................... 6 2 Área de Estudo…………………………………………………………………... 8 2.1 Caracterização do Sítio Moura-Barrancos………………………………......... 9 2.2 Critérios para a selecção dos locais de amostragem……………...................... 11 2.3 Caracterização dos locais de amostragem…………………………………..... 12 2.3.1 Perímetro Florestal da Contenda………………...……………………… 12 2.3.2 Castelo de Noudar………………………………………………………. 14 2.3.3 Herdade da Coutada dos Frades…….…………………………………... 15 3 Métodos………………………………………………………………………....... 17 3.1 Recolha de dejectos…………………………………………………………… 18 3.2 Procedimento laboratorial…………………………………………………...... 18 3.3 Análise do regime trófico do gato doméstico no Sítio Moura-Barrancos.…… 19 3.3.1. Homogeneidade e representatividade espacial das amostras .................. 19 3.3.2. Estimativas de ocorrência e de biomassa consumida para cada item trófico…………………………………………………………………... 20 3.3.3. Análise da variação no consumo de presas ……………………………. 22 3.3.4. Diversidade no consumo de presas…………………………………….. 22 3.3.5. Sobreposição dos nichos alimentares ………………………………….. 23 3.3.6. Classificação dos recursos tróficos consumidos……………………….. 23 3.4. Análise do regime trófico do gato doméstico em diversos ambientes..……. .. 23 3.5 Competição alimentar com Felis silvestris…………………………………… 24 4 Resultados………………………………………………………………………... 27. iv.

(7) 4.1. Regime trófico do gato doméstico no Sítio Moura-Barrancos……………….. 28 4.1.1. Análise global do regime trófico do gato doméstico………………........ 28 4.1.2. Análise espacial do regime trófico do gato doméstico……..…………... 30 4.1.2.1. Regime trófico do gato doméstico no Perímetro Florestal da Contenda……………………………………………………….. 30 4.1.2.2. Regime trófico do gato doméstico no Castelo de Noudar……... 32 4.1.2.3. Regime trófico do gato doméstico na Herdade da Coutada dos Frades…………………………………………………………... 32 4.1.2.4. Consumo de mamíferos nos três locais amostrados..………….. 33. 4.1.2.5. Consumo de aves nos três locais amostrados………………….. 34 4.1.2.6. Amplitude do Nicho Trófico…………………………………... 35 4.1.2.7. Sobreposição do Nicho Trófico……………………………....... 35. 4.2. Comparação do regime trófico do gato doméstico em diferentes regiões........ 36 4.2.1. Comparação do regime alimentar em ilhas, zonas urbanas e zonas rurais………………………………………………………………….... 36 4.2.2. Amplitude do Nicho Trófico …………………..…………………….... 38 4.3. Competição alimentar com Felis silvestris…………………........................... 39 4.3.1. Regime trófico de Felis silvestris e Felis catus ……………………….. 39 4.3.2.Consumo de pequenos mamíferos por Felis silvestris e Felis catus…… 41 5 Discussão de resultados………………………………………………………… 43 5.1 Regime trófico do gato doméstico no Sítio Moura-Barrancos………………. 44 5.1.1 Análise global do regime trófico do gato doméstico…………………... 44 5.1.2 Variação espacial do regime trófico do gato doméstico..……..……….. 45 5.1.2.1. Análise do consumo das diferentes classes-presa……………... 45 5.1.2.2. Consumo de mamíferos……………………………...……….... 46 5.1.2.3. Consumo de aves …………………………...…………………. 47 5.1.2.4. Amplitude do Nicho Trófico…………………………………... 48 5.1.2.5. Sobreposição do Nicho Trófico………………………………... 49 5.2. Comparação do regime trófico do gato doméstico em diferentes regiões...…. 50 5.2.1. Comparação do regime alimentar em ilhas, zonas urbanas e zonas. v.

(8) rurais........................................................................................................ 50 5.3. Competição alimentar com Felis silvestris…………………………………... 54 5.3.1. Regime trófico de Felis silvestris e Felis catus …………………….….. 55 5.3.2. Análise do consumo de micromamíferos……………………..………... 56 6 Considerações finais…………………………………………………………….. 58 7 Referências bibliográficas………………………………………………………. 62 8 Anexos……………………………………………………………………………. 72. vi.

(9) Índice de tabelas Tabela 1 – Sexo, idade e cor da pelagem dos gatos domésticos existentes no Perímetro Florestal da Contenda, no Castelo de Noudar e na Herdade da Coutada dos Frades................................................................................. 14. Tabela 2 – Pesos médios das classe-presas consumidas pelos gatos domésticos (mamíferos, aves, répteis, artrópodes, sementes)………........................ 21. Tabela 3 – Número de indivíduos, Frequência de Ocorrência e Percentagem de Biomassa referentes ao regime trófico do gato doméstico no Sítio MouraBarrancos................................................................................................ 29 Tabela 4 – Número de excrementos e de items alimentares referentes ao Perímetro Florestal da Contenda, Castelo de Noudar e Herdade da Coutada dos Frades……………….............................................................................. 30. Tabela 5 - Frequências de Ocorrência referentes aos artrópodes consumidos no Perímetro Florestal da Contenda……………………………..……....... 31. Tabela 6 –Valores de Amplitude do Nicho Trófico para o Perímetro Florestal da Contenda, Castelo de Noudar e Herdade da Coutada dos Frades..….... 35. Tabela 7 – Valores de Sobreposição do Nicho Trófico para o Perímetro Florestal da Contenda, Castelo de Noudar e Herdade da Coutada dos Frades..…..... 36. Tabela 8 – Valores de Qui-quadrado obtidos para cada classe-presa constituinte do regime trófico do gato doméstico, quando se comparam os dados do presente estudo com os dados verificados noutras regiões….……........ 37. Tabela 9 – Valores de amplitude do nicho trófico (índice de Levins padronizado), calculado com base em 8 classes-presa (Lagomorpha, Rodentia, Insectivora, Aves, Reptilia, Arthropoda, Material Vegetal e Restos de Alimentação Humana) para zonas rurais, zonas urbanas e ilhas………. 39. Tabela 10 - Resultados da análise PCA por comparação dos regimes tróficos de Felis silvestris e Felis catus. Valores próprios (eigenvalues) e percentagem de variância cumulativa das classes-presa explicada por cada eixo.......................................................................................................... 40. vii.

(10) Tabela 11 - Resultados da análise PCA por comparação do consumo de pequenos mamíferos por Felis silvestris e Felis catus. Valores próprios (eigenvalues) e percentagem de variância cumulativa das classes-presa explicada por cada eixo………...................................................................................... 41. viii.

(11) Índice de Figuras Figura 1 – Localização das herdades rurais existentes no Sítio Moura-Barrancos (Baixo Alentejo), com indicação das herdades onde foi verificada a presença de gatos domésticos……………………………….………... 11 Figura 2 – Sítio Moura-Barrancos (Baixo Alentejo), com indicação das áreas de adequabilidade à ocorrência de gato-bravo e a localização do Perímetro Florestal da Contenda, do Castelo de Noudar e da Herdade da Coutada dos Frades………………………………………......................................... 12 Figura 3 – Vista do Perímetro Florestal da Contenda……………………………. 13 Figura 4 – Pombal 1........................................................................….…………… 13 Figura 5 – Palheiro 1.........................................................................………...….... 13 Figura 6 – Vista do castelo de Noudar…………………………………………… 14 Figura 7 – Torre da igreja ……………………………..………………………… 15 Figura 8 – Vista da Herdade da Coutada dos Frades…………………………….. 16 Figura 9 – Palheiro 2............................................................................…………... 16 Figura 10 – Pombal 2......................................................................…………..….. 16 Figura 11 – Galinheiro.........................................................................……........... 16 Figura 12 – Localização geográfica dos locais onde foram realizados os estudos acerca do regime trófico do gato doméstico……………....…………… 24 Figura 13 – Localização geográfica dos locais onde foram realizados os estudos de gato doméstico e de gato-bravo……………………………….............. 25 Figura 14 – Frequência de ocorrência e percentagem de biomassa referentes às classes-presa consumidas no Perímetro Florestal da Contenda……….. 31. Figura 15 – Frequência de ocorrência e percentagem de biomassa referentes às classes-presa consumidas no Castelo de Noudar…...………………..... 32 Figura 16 – Frequência de ocorrência e percentagem de biomassa referentes às classes-presa consumidas na Herdade da Coutada dos Frades...…..…... 33 Figura 17 – Frequências de ocorrência referentes aos mamíferos consumidos no Perímetro Florestal da Contenda, no Castelo de Noudar e na Herdade da Coutada dos Frades…………………………………………………..... 33. ix.

(12) Figura 18 – Frequências de ocorrência referentes às aves consumidas no Perímetro Florestal da Contenda, no Castelo de Noudar e na Herdade da Coutada dos Frades……………………….………………………………..………... 34. Figura 19 – Frequências de ocorrência referentes às 8 classes-presa consumidas na Ilha de Port-Cros (França), em São Paulo (Brasil), em Madrid (Espanha), no Sítio Moura-Barrancos (Portugal) e nas montanha Jura (Suiça), durante a época seca.…….................................................................................... 37. Figura 20 – Percentagem de Biomassa referente às 8 classes-presa consumidas no Sítio Moura-Barrancos (Portugal) e em Revinge (Suécia), durante a época seca……….............................................................................................. 38. Figura 21 – Representação gráfica da PCA, realizada com base no regime trófico de Felis silvestris e Felis catus………………………………….……....... 40. Figura 22 – Representação gráfica da PCA, realizada com base no consumo de pequenos mamíferos por Felis silvestris e Felis catus……….……..…. 42. x.

(13) Índice de Anexos Anexo I…………………………………………………………………………....... 73 Anexo II…………………………………………………………………………….. 74 Anexo III………………………………………………………………………….... 75. Anexo IV………………………………………………………………………….... 76. Anexo V…………………………………………………………………………….. 77 Anexo VI…………………………………………………………………………… 78 Anexo VII…………………………………………………………………………... 79. xi.

(14) INTRODUÇÃO.

(15) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. 1.Introdução Na natureza, muitos predadores, no decurso dos processos evolutivos e sob influência da selecção natural, especializaram-se no consumo de presas ou grupos presas específicos, o que se traduz em vantagens energéticas, evitando também fenómenos de competição inter e intra específica. Como resposta, muitas presas evoluíram desenvolvendo mecanismos fisiológicos e comportamentais que minimizam esta eficiência predatória. Um exemplo é o lince ibérico (Lynx pardinus), espécie especializada no consumo de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), que se encontra criticamente ameaçado (Cabral et al. 2005) devido à diminuição drástica das populações desta presa, as quais foram dizimadas pela mixomatose e a febre hemorrágica viral (Delibes 1980, Ward 2005). A co-evolução destas duas espécies, teve início com o ancestral do lince-ibérico (Lynx issiodorensis) que sobreviveu à competição alimentar com outros carnívoros da Península Ibérica, os quais consumiam essencialmente ungulados, por ver favorecidas as suas menores dimensões corporais e concentrar a predação no ancestral do coelho, espécie abundante na altura (Castro 1992). Estes mecanismos de co-evolução, são fortemente influenciados pela selecção natural, visto que os predadores, ao longo das gerações, vão transmitindo os genes que lhes permitem obter uma maior eficiência na detecção e captura das presas, enquanto que as presas, pelo mesmo mecanismo, vão-se tornando necessariamente mais eficientes na resposta às tentativas de captura, o que poderá garantir a sua sobrevivência, a longo-prazo (Eimermacher 2004, Brodie & Brodie 1999). Deste modo, estabelece-se um equilíbrio ecológico entre predadores e presas que co-existem num mesmo ecossistema, fruto da evolução recíproca entre os dois grupos, o qual apenas pode ser quebrado pela remoção ou introdução de predadores ou presas nesse sistema natural (Strauss et al. 2006). O gato doméstico (Felis catus) é actualmente um dos carnívoros com maior área de distribuição, em grande parte por o processo de domesticação lhe ter permitido adaptar-se à vida nos novos meios criados pelo homem. Por outro lado, a elevada plasticidade ecológica, trófica e comportamental possibilita a sua sobrevivência nos mais variados habitats (Artois et. al 2002), exercendo um efeito negativo na manutenção do efectivo populacional de várias espécies de presas. A introdução voluntária ou acidental do gato doméstico em muitas ilhas, em particular nos anos 90, teve um forte 2.

(16) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. impacto nas populações de pequenos mamíferos igualmente introduzidos (Mus musculus e Rattus sp.) e de aves marinhas (Furet 1989, Van Rensburg 1985, Kirpatrick 1986), assim como em populações de répteis localizadas em ilhas a baixas latitudes (Fitzgerald 1988). Nestes casos, a inexistente relação predador-presa beneficiou extraordinariamente o gato doméstico, visto que as presas ao evoluírem na ausência de predadores, não desenvolveram mecanismos de defesa anti-predação, de elevado custo energético, para garantirem a sua sobrevivência (Nogales 2004, Blumstein & Daniel 2005); assim, a introdução deste carnívoro resultou numa diminuição do efectivo populacional de muitas espécies, e, em alguns casos, conduziu mesmo à extinção destas (Olivier 1955 in Woods et al. 2003, Vázquez-Domínguez et al. 2004). Em contraste com este notório impacto verificado em ambientes insulares, as populações de presas silvestres dos continentes que partilham, há inúmeras gerações, as suas áreas de ocorrência com o gato doméstico, mostram níveis de predação muito inferiores (Fitzgerald 1988). No centro das grandes metrópoles, onde o grau de urbanização excede grandemente o verificado nas zonas rurais e onde a disponibilidade alimentar é ampla e variada, numerosos grupos familiares de gatos assilvestrados, atingem elevadas densidades populacionais. No seio dos grupos, as pequenas áreas vitais dos indivíduos sobrepõem-se, e os recursos alimentares são partilhados por todos os membros (Liberg & Sanndell 1988); a promiscuidade associada ao modo de vida e ao contacto entre grupos, reflecte-se numa elevada propagação de doenças (Artois et al. 2002). Nas mesmas áreas urbanas, mas sob condições um pouco diferentes, vivem os gatos domésticos que embora partilhando as habitações com o homem, normalmente possuem livre acesso às ruas, o que permite a sua dispersão por amplas áreas. Nos quintais de muitas casas e nos jardins municipais, situados no centro das cidades, ocorre uma infinidade de espécies silvestres, que são presas fáceis para o elevado número de gatos existentes. Nestes locais, a predação destes felinos tem maior incidência sobre pequenos mamíferos, com especial ênfase para os roedores, e, em menor escala, sobre passeriformes e lacertídeos (Woods et al. 2003, Baker et al. 2005). Em alguns casos, a intensa predação incide também sobre espécies com estatuto de ameaça, como as espécies de passeriformes Sialia sialis e Archilochus colubris, o que agrava a situação das mesmas (Lepczyk 2003). Devido a este facto, numerosos esforços têm sido. 3.

(17) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. efectuados, com vista à diminuição do impacto predatório dos gatos domésticos sobre populações silvestres, sendo encorajada, junto dos donos, a proibição de acesso ilimitado às ruas (Daniels et al. 2001) e a colocação de coleiras com sinos, o que reduz o impacto predatório destes felinos (Ruxton 2002). Numa perspectiva mais rural, os gatos domésticos sempre foram vistos como exímios caçadores de ratos, tendo sido fomentado o aumento do número de gatos domesticados nestas zonas, com o propósito de controlar as pragas de roedores, em especial nos celeiros (Turner & Meister 1988). Nos meios rurais, onde o nível de urbanização é reduzido, a elevada riqueza específica de presas traduz-se num forte impacto predatório, sendo que nestas áreas a existência de outros predadores influencia a pressão predatória manifestada pelo gato doméstico (Alterio et al. 1998). Nestes locais, o gato doméstico rural possui uma forte ligação ao homem, em termos alimentares e de abrigo (Liberg 1984), mas, em contrapartida, possui também livre acesso aos habitats naturais e a todo o tipo de presas aí existentes. Os grupos de gatos assilvestrados, são constituídos por um número reduzido de indivíduos, apenas fêmeas e crias (Liberg & Sandell 1988), que variam o consumo de restos de alimentação humana na dieta, consoante o grau de dependência em relação ao homem (Biró et al. 2005). As principais presas do gato doméstico são pequenos mamíferos, lagomorfos e aves, de acordo com a sua disponibilidade, sendo similar a dieta observada entre gatos domésticos e assilvestrados em meio rural (Liberg 1984), apesar deste felino também capturar presas pertencentes a outros grupos (Woods et al. 2003, Biró et al. 2005, Campos 2004), sendo considerado um predador oportunista (Fitzgerald 1988, Clevenger 1995, Konecy 1987), apto a explorar uma grande diversidade de presas e a trocar de fonte alimentar primária, sempre que necessário. Por outro lado, as zonas rurais localizadas em espaços naturais bem conservados, são os locais onde o gato doméstico pode induzir graves problemas de conservação, nomeadamente no que diz respeito à hibridação com o gato-bravo (Felis silvestris, Scheber 1975). Esta espécie, que se encontra actualmente ameaçada a nível Europeu, foi classificada com o estatuto de espécie Vulnerável (VU) (Cabral et al. 2005) por o conhecimento existente indicar uma acentuada regressão nas suas populações (Ferreira 2003). Como factores de ameaça são referidos a destruição do habitat, a. 4.

(18) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. perseguição directa, o atropelamento e o controlo de predadores (Mayo 1986, Garcia 2004), sendo a hibridação com o gato doméstico, a maior ameaça à integridade da espécie (Stahl & Artois 1991, Stahl & Leger 1992). Nestes ambientes rurais, os grupos de gatos assilvestrados permanecem em contacto directo com outros grupos de gatos semelhantes, sendo frequente e facilitada a transmissão de doenças, durante as lutas e os acasalamentos (Yamaguchi 1996). Desta forma, a hibridação é vista como uma fonte de diminuição do pool genético puro do gato-bravo, e um factor de transmissão de doenças virais, como o FIV (sida felina) e o FeLV (leucemia felina), entre as duas espécies (McOrist 1991), o que pode ter graves consequências nas populações de gato-bravo de reduzido efectivo. Em diversos países, onde a hibridação e as doenças estão na base do declínio do gato-bravo, foram adoptadas medidas minimizadoras de contacto entre as duas espécies, por exemplo, programas de exclusão dos gatos domésticos das áreas de gato-bravo (Hubbard et al. 1992). Por outro lado, a hibridação tem como pressuposto o contacto directo entre as espécies, que só pode ocorrer se houver sobreposição das suas áreas de ocorrência, mesmo que ocasionalmente, ou apenas numa restrita parte (Biró et al. 2004), visto que o gato-bravo é uma espécie habituada a habitats onde a perturbação humana é reduzida (Stahl & Artois 1991, Ferreira 2003, Fernandes 2004), e as áreas vitais dos gatos domésticos encontram-se confinadas à área circundante das estruturas humanas (Palomares & Delibes 1993). Esta eventual sobreposição de áreas vitais, poderá ainda estar na base de uma marcada competição alimentar, visto que ambas as espécies apresentam preferências sobre as espécies de presas que ocorrem em maior abundância no meio ambiente (Malo et al. 2004), sendo esta competição prejudicial para o gatobravo, nos locais onde a densidade de gatos domésticos é elevada (Biró et al. 2003). Na Península Ibérica, e até ao presente, apenas um estudo analisou o regime trófico do gato doméstico, e numa área em que o gato-bravo não estava presente (Marques 2003). Em Portugal e em diversas zonas mediterrânicas de Espanha, o reduzido número de estudos sobre a biologia e ecologia do gato-bravo, definem-no como uma espécie solitária, de hábitos nocturnos, cuja dimensão das áreas vitais, e, consequentemente dos territórios, está estritamente relacionada com a quantidade e qualidade dos recursos disponíveis no meio (Fernandes 1991, Monterroso 2006). A base. 5.

(19) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. da alimentação desta espécie são os lagomorfos e os roedores (Aymerich 1982, Abreu 1993, Pereira et al. 2001, Moleón & Gil-Sànchez 2003, Carvalho & Gomes 2004), parecendo haver uma nítida preferência sazonal pelos primeiros, quando estes são abundantes no meio, o que confere ao felino uma economia no esforço de predação (Sarmento 1996) e uma maximização da energia diária necessária adquirida (Pereira et al. 2001), sendo os segundos mais predados quando os lagomorfos estão ausentes duma determinada região (Malo et al. 2004). O gato-bravo ocorre preferencialmente em zonas de matagal e bosque mediterrâneo, em que a presença de linhas de água é quase obrigatória, alternadando com áreas abertas, sendo que as zonas de matos densos estão associadas ao repouso do felino, e as zonas abertas são áreas previligeadas de caça (Ferreira 2003, Lozano et al. 2006). No Sul de Portugal, o conhecimento existente sobre as populações de gatobravo é ainda mais limitado, restringindo-se a estudos pontuais na bacia do Rio Guadiana (Pereira et al. 2001, Ferreira 2003, Monterroso 2006). O aparente declínio da espécie, observado do litoral para o interior, torna as regiões fronteiriças como a margem esquerda do Rio Guadiana importantes para a conservação do gato-bravo (Ferreira 2003), uma vez que se tratam de áreas de.continuidade da distribuição ibérica da espécie (Palomo & Gisbert 2002). Deste modo, torna-se importante compreender as causas da descontínuidade e redução da área de distribuição de gato bravo, nomeadamente conhecer os factores que determinaram essa regressão, e qual o seu peso. A hibridação e a introgressão de genes de gato doméstico nas populações de gato-bravo são uma ameaça à integridade da última (Pierpaoli et al. 2003). Em Portugal, as populações de gato-bravo e de gato doméstico que vivem em simpatria, possuem uma proporção significativa de híbridos, cerca de 15% (Fernandes 1996, Oliveira et al. 2007), fruto do contacto directo entre as duas espécies.. 1.1 Objectivos do estudo Este estudo pretende dar a conhecer o regime trófico do gato doméstico rural, numa região de ocorrência confirmada de gato-bravo (Pereira et al. 2001, Ferreira 2003,. 6.

(20) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. Monterroso 2006), o que poderá implicar fenómenos de competição por recursos alimentares e de hibridação entre as duas espécies.. Assim, através deste estudo pretende-se atingir os seguintes objectivos:. . Determinar o impacto predatório do gato doméstico sobre as espécies silvestres numa zona rural do Sul de Portugal, e comparar com o grau de predação observado noutros habitats. . Aferir sobre a possível existência de competição alimentar entre o gato doméstico e o gato bravo, na zona rural em questão, onde o grau de humanização é reduzido.. Tendo em conta os objectivos definidos, foram testadas as seguintes hipóteses: 1. O gato doméstico varia a sua dieta de acordo com a disponibilidade de recursos alimentares naturais e não naturais existentes em cada local (Fitzgerald 1988). 2. Em ambientes rurais, apesar da disponibilidade e acessibilidade a presas silvestres, o gato doméstico comporta-se como um oportunista mostrando-se dependente dos restos alimentares fornecidos pelo homem (Liberg 1984, Weber & Dailly 1998). 3. A dependência do homem por parte do gato doméstico em ambientes rurais reduz o seu potencial como competidor do gato-bravo pelos recursos alimentares.. 7.

(21) ÁREA DE ESTUDO.

(22) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. 2.Área de Estudo 2.1 Caracterização do Sítio Moura-Barrancos O Sítio Moura-Barrancos integra-se na Rede Natura 2000, a qual foi criada com o objectivo de promover a conservação da natureza e da diversidade biológica dos países da União Europeia. Este Sítio de Interesse Comunitário, foi proposto no âmbito da directiva Habitats e posteriormente definido como Zona Especial de Conservação (ZEC), visando a conservação dos habitats naturais, fauna e flora silvestres da região em causa, através da aplicação das medidas necessárias à manutenção e restabelecimento do estado de conservação favorável dos habitats naturais ou das populações das espécies para as quais o Sítio foi designado (DR 1999, de 24 de Abril). A selecção do Sítio Moura-Barrancos como área de estudo, justifica-se pela sua importância para a conservação do gato-bravo, que encontra aqui uma das áreas de ocorrência confirmada no Sul de Portugal. Por outro lado, é nesta área natural que tem sido feito o maior investimento tendo em vista a análise dos factores que potencialmente poderão ser determinantes para o estado das suas populações (Pereira et al. 2001, Santos-Reis et al. 2003, Ferreira 2003). O Sítio Moura-Barrancos, localizado entre as latitudes 38º13´N e 37º57´N e as longitudes 7º24´O e 6º59´O, abrange uma área de 43 309 ha do sudeste alentejano, estando limitado pelas povoações de Safara, Santo Aleixo da Restauração, Sobral da Adiça, Vila Verde de Ficalho e Barrancos. É considerado parte integrante da região bioclimática pré-mediterrânica, visto apresentar Verões quentes e Invernos frios. O regime pluviométrico é marcado por uma elevada sazonalidade e escassez de chuvas, sendo o clima denominado de sub-húmido mesotérmico (Rivas-Martinez 2005). A paisagem é bastante heterogénea e caracterizada pela elevada diversidade de biótopos, onde os montados de sobro (Quercus suber) e azinho (Quercus ilex subsp. rotundifolia) com subcoberto (33,4%) e sem subcoberto (30,6%) dominam e assumem grande importância, por estarem bem adaptados às condições edafo-climáticas da região, ocorrendo em solos fracos para o uso agrícola e com grandes riscos de erosão. Com menor representatividade aparecem os olivais explorados (12,7%), que se encontram associados a uma utilização agrícola ou pastoril. As searas (4,8%), são zonas de extrema. 9.

(23) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. importância para a avifauna residente ameaçada, visto serem locais de ocorrência da abetarda (Otis tarda), do sisão (Tetrax tetrax) e do cortiçol-de-barriga-negra (Pterocles orientalis), sendo também uma zona de invernada do grou-comum (Grus grus). Estes habitats são locais igualmente importantes para os juvenis de grandes rapinas, como a águia-de-Bonelli (Hieraaetus fasciatus), a águia-real (Aquila chrysaetus) e a águiaimperial-ibérica (Aquila adalberti), visto disponibilizarem uma elevada quantidade de presas, principalmente micromamíferos, e para as espécies de rapinas necrófagas, por fornecerem cadáveres suficientes de bovinos e ovinos que pastam neste tipo de habitat. As espécies arbóreas não nativas aparecem representadas por zonas de pinhal Pinus sp. com subcoberto (3,3%), pinhal sem subcoberto (0,8%), e áreas de eucaliptal (Eucalyptus globosus) com subcoberto (0,4%). As plantações recentes (1%) e os cultivos de vinha, hortas e pomares (0,8%) encontram-se fracamente representados (Ferreira 2003). A esteva (Cistus ladanifer) é a espécie arbustiva que predomina na região, associada a matos e matagais de outras espécies características, como os sargaços (Cistus salvifolius e Cistus monspeliensis), a roseira pequena (Cistus crispus), o tojo (Ulex spp.), a giesta (Genista spp.), a urze (Erica spp.), o rosmaninho (Lavandula spp.), a aroeira (Pistacia lentiscus) e o carrasco (Quercus coccifera), ou aparecendo em manchas homogéneas - estevais (Baltazar 2001). O sítio Moura-Barrancos é atravessado pelo rio Ardila e por diversas ribeiras (Murtigão, Toutalga, Safara, Murtega, Pães Joanes e Safarejo) de regime torrencial no Inverno, altura em que possuem um caudal considerável no canal de escoamento. Estes cursos de água da Bacia do Guadiana correm ao longo de vales encaixados, normalmente com zonas rupícolas (0,8%) associadas, onde a vegetação ripicola (1,6%) aparece representada pelo tamujo (Securinega tintorea) e o aloendro (Nerium oleander). Nestes locais podem ser avistadas espécies como bufo-real (Bubo bubo), cegonha-preta (Ciconia nigra), lontra (Lutra lutra) e toirão (Mustela putorius) (Ferreira 2003). Em torno das linhas de água, podem ser encontradas manchas de matagais (6,6%), matos clímax (2,7%) e matos de esteva dominante (0,5%), salientando-se o complexo de serras Adiça-Preguiça-Ficalho-Malpique, onde o património botânico é reconhecido a nível mundial. Neste local, a comunidade de carnívoros encontra-se bem. 10.

(24) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. representada, pela grande diversidade de espécies existentes, sendo uma das zonas onde a densidade populacional de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) atinge valores mais elevados (Ferreira 2003). A reduzida ocupação humana do Sítio Moura-Barrancos, concentrada em quatro povoações (Barrancos, Moura, Mourão e Serpa), revela uma actividade centrada essencialmente na agricultura e pecuária; a actividade cinegética é também muito comum, visto que 66% dos espaços florestais correspondem a zonas de regime de caça especial (ICN 2006).. 2.2 Critérios para a selecção dos locais de amostragem A realização de inquéritos orais efectuados em todas as herdades do Sítio Moura-Barrancos (N = 132), foi o método seleccionado para avaliar a ocupação das mesmas por gatos domésticos; em cada local de presença de gatos, foi reunida informação acerca das características fenotípicas, biológicas e sanitárias dos indivíduos observados (Anexo I). Da avaliação feita em toda a área de estudo verificou-se que das 132 herdades aí existentes, somente 27 (20%) encontram-se em actividade, estando os gatos domésticos inventariados (n = 112) apenas presentes naquelas cujas casas rurais estão habitadas ou são utilizadas de uma forma parcial (p. ex. por trabalhadores durante o dia) (Fig. 1).. Figura 1 – Localização das herdades rurais existentes no Sítio Moura-Barrancos (Baixo Alentejo), com indicação das herdades onde foi verificada a presença de gatos domésticos.. 11.

(25) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. Para análise da dieta e do impacto predatório dos gatos domésticos em ambiente rural seleccionaram-se três locais de amostragem (Perímetro Florestal da Contenda, o Castelo de Noudar e a Herdade da Coutada dos Frades – Fig. 2) sendo os critérios que presidiram à sua escolha a proximidade a áreas adequadas para a ocorrência de gato-bravo (Ferreira 2003), serem herdades em que alguns dos indivíduos estavam a ser alvo de rádio-seguimento (J.P. Ferreira, Com. Pess.) (Anexo II) e as condições de acessibilidade.. Figura 2 - Sítio Moura-Barrancos (Baixo Alentejo), com indicação das áreas de adequabilidade à ocorrência de gato-bravo e a localização do Perímetro Florestal da Contenda, do Castelo de Noudar e da Herdade da Coutada dos Frades.. 2.3 Caracterização dos locais de amostragem 2.3.1 Perímetro Florestal da Contenda A Herdade da Contenda apresenta uma elevada heterogeneidade espacial, sendo catalogada como Zona de Caça Nacional (ZCN). Estende-se por uma área de. 12.

(26) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. 5,319 ha, onde predomina a esteva (Cistus ladanifer), que pode estar associada a outras espécies arbustivas ou integrada em matos. No coberto arbóreo, as espécies dominantes são o pinheiro manso (Pinus pinea), o pinheiro bravo (Pinus pinaster), a azinheira (Quercus rotundifolia) e o sobreiro (Quercus suber) (Ferreira 1997). Considerando que a distância média de afastamento dos gatos alvo de rádioseguimento é de cerca de 1 km (J.P. Ferreira, Com. Pess.), para uma melhor caraterização do habitat disponível para os indivíduos residentes em cada herdade, foi criado um “buffer” com 1km de raio em seu redor. No Perímetro Florestal da Contenda, o uso do solo dominante neste “buffer” é o montado disperso sem subcoberto (60% Fig. 3), sendo a restante área ocupada por montado com subcoberto (30%) e linhas de água (10%).. Figura 3 – Vista do Perímetro Florestal da Contenda (© J.P. Ferreira). No interior da Herdade, existem 3 casas rurais, sendo apenas uma usada em permanência, e integrando um pombal (Fig. 4), uma capoeira, um barracão com maquinaria agrícola e florestal e um armazém de palha (Fig. 5).. Figura 4 – Pombal 1 (© I.N. Leitão). Figura 5 – Palheiro 1 (© I.N. Leitão) 13.

(27) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. No Perímetro Florestal da Contenda existem quatro gatos, dois machos e duas fêmeas (Tab. 1). Tabela 1 – Sexo, idade e cor da pelagem dos gatos domésticos existentes no Perímetro Florestal da Contenda, no Castelo de Noudar e na Herdade da Coutada dos Frades P.F. da Contenda. Castelo de Noudar. H. Coutada dos Frades. Gato Nº. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Sexo. M. F. M. F. M. F. M. F. F. Idade. A. A. SA. A. SA. A. A. A. A. Pelagem. PB. PB. PB. P. P. P. PC. P. P. M-macho, F-fêmea; A-adulto, SA-sub-adulto; PB-preta e branca; P-parda; PC-parda clara. 2.3.2 Castelo de Noudar O Castelo de Noudar, eleva-se entre as margens da ribeira do Múrtega e do Rio Ardila, estando envolvido por áreas de matagais bem conservados e habitats rupícolas integradas numa matriz de montados de azinho (Quercus rotundifolia) com um subcoberto de herbáceas (Fig. 6). A área envolvente ao Castelo de Noudar (“buffer”), compôe-se de matagal mediterrânico (30%), montado com subcoberto (20%), montado sem subcoberto (30%) e linhas de água (20%).. Figura 6 - Vista do castelo de Noudar (© J.P. Ferreira). 14.

(28) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. No interior do Castelo, existe uma torre da antiga igreja (Fig. 7), onde se estabeleceram ninhos de apodiformes (Apus sp.), e três casas, funcionando uma delas como local de armazenamento de palha. No Castelo de Noudar existem dois gatos, um macho subadulto e uma fêmea adulta (ver Tab. 1).. Figura 7 – Torre da igreja (© I.N. Leitão). 2.3.3 Herdade da Coutada dos Frades A Herdade da Coutada dos Frades, com uma extensão de 490ha, faz fronteira com o Perímetro Florestal da Contenda, estando integrada no Regime Cinegético Especial como Zona de Caça Turística. O montado de azinho com subcoberto é o tipo de vegetação predominante na área, apesar de também ocorrerem afloramentos rochosos ao longo das linhas de água, como nas Ribeiras de Paejoanes e Murtigão. A espécie arbustiva dominante é a esteva (Cistus ladanifer) (Fig. 8). Na proximidade (“buffer”) da casa rural associada à Herdade da Coutada dos Frades, predomina o montado com subcoberto (90%) e as linhas de água (10%).. 15.

(29) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. Figura 8 – Vista da Herdade da Coutada dos Frades (© I.N. Leitão). A área adjacente à casa do monte possui um palheiro (Fig. 9), um pombal (Fig. 10), e um galinheiro (Fig. 11), além de ninhos de apodiformes nos telhados das casas. Nesta herdade existem três gatos adultos, um macho e duas fêmeas (ver Tab. 1).. Figura 9 - Palheiro 2 (© I.N. Leitão). Figura 10 – Pombal 2 (© I.N. Leitão). Figura 11- Galinheiro (© I.N. Leitão). 16.

(30) MÉTODOS.

(31) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. 3.Métodos 3.1 Recolha de dejectos Com a finalidade de recolher informação sobre o regime trófico dos gatos domésticos em zonas rurais integradas em áreas de ocorrência potencial de gato-bravo, o método seleccionado foi o habitual em estudos de dieta de carnívoros (Reynolds & Aebischer 1991), isto é, a análise de amostras fecais. A recolha de dejectos decorreu entre Março (excepto na Herdade da Contenda, com início em Maio) e Agosto de 2007, com uma periodicidade quinzenal. Previamente, foi efectuada uma prospecção, num raio de 1km em torno da casa principal de cada herdade, de forma a identificar os locais habituais de defecção dos gatos. A cada excremento recolhido foi anexada a seguinte informação: data da recolha, número da amostra, localização (sítio onde foi encontrado e se estava enterrado ou a descoberto) e a idade previsível do mesmo (recente ou antigo).. 3.2 Procedimento laboratorial No laboratório, após o amolecimento em água, procedeu-se à lavagem de cada excremento, utilizando um jacto de água e uma rede de malha fina (crivo). De seguida, efectuou-se a triagem dos vários componentes não digeridos, representantes das diferentes classes-presa consumidas: pêlos, penas, ossos, peças quitinosas, escamas, material vegetal e material não identificado. Os componentes de cada excremento foram colocados em caixas de petri, o que facilitou a determinação visual da percentagem de ocorrência (P.O.) das diversas classes-presa. Cada caixa de petri foi colocada na estufa a 50ºC, até os vários componentes ficarem totalmente secos, sendo posteriormente guardados e devidamente identificados. O material vegetal não energético, constituído por folhas e caules, e o material não identificado, constituído por restos de alimentação humana, foram considerados como sendo voluntariamente ingeridos, enquanto recurso alimentar, apenas quando a. 18.

(32) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. sua P.O. no excremento era igual ou superior a 20%. Apenas as sementes, devido ao elevado valor energético dos frutos, foram consideradas como recurso voluntariamente ingerido independentemente da sua P.O. em cada dejecto (Rosalino 1995). Posteriormente procedeu-se à identificação do material triado. A identificação microscópica dos pêlos de revestimento dos mamíferos foi efectuada a partir da observação da medula entre lâmina e lamela, de cortes transversais em medula de sabugueiro e, sempre que necessário, da impressão cuticular (Teerink 1991). As espécies de micromamíferos foram ainda identificadas através dos restos de dentição encontrada nos excrementos (Santero & Alvarez 1985). A observação microscópica de preparações simples das plumas, permitiu a identificação das aves até à ordem (Brom 1986). A identificação dos répteis foi efectuada com base em escamas, sendo apenas possível diferenciar os lacertídeos dos répteis não identificados, visto não terem ocorrido nos dejectos vértebras constituintes destes, que permitiriam uma identificação mais rigorosa. Recorrendo a uma colecção de referência, a um guia de identificação (Chinery 1997) e a especialistas, foi possível associar as peças quitinosas aos diferentes grupos de artrópodes, na maioria dos casos até à Familia.. 3.3 Análise do regime trófico do gato doméstico no Sitio MouraBarrancos A Primavera (Março, Abril e Maio) e o Verão (Junho, Julho e Agosto) do ano em estudo não mostraram diferenças climatéricas significativas, pelo que os dados recolhidos no campo foram analisados conjuntamente, como que fazendo parte da estação seca do ano de 2007.. 3.3.1 Homogeneidade e representatividade espacial das amostras De forma a verificar a homogeneidade da dimensão da amostra, em termos espaciais, utilizou-se o teste do Qui-quadrado (Fowler & Cohen 1990). Para avaliar a. 19.

(33) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. representatividade das amostras espacialmente, foi calculada a Curva Acumulativa da Diversidade Trófica (Mason & Macdonald 1980), definida pela relação entre a frequência acumulada de cada item alimentar e o número de excrementos referentes a cada local de recolha, seleccionados por ordem aleatória.. 3.3.2. Estimativas de ocorrência e de biomassa consumida para cada item trófico Os resultados obtidos foram expressos em termos de: Frequência de Ocorrência (F.O.) - quociente entre o número de ocorrências de cada classe-presa e o número total de ocorrências de todas as classes-presa * 100) Percentagem de Biomassa (P.B.): quociente entre o peso médio total de cada classepresa ingerida e o peso total de todos os items consumidos * 100). O peso médio total de cada classe-presa foi calculado multiplicando o peso médio tabelado (Tab. 2) para cada classe-presa, pelo número de ocorrências correspondente a cada classe-presa.. Para calcular o valor de biomassa referente aos restos de alimentação humana, estimou-se a dose diária de alimento necessária por sexo (machos:250g; fêmeas:156,25g), tendo em conta que o peso médio dos machos é 4Kg e o das fêmeas 2,5Kg, e que um gato com aproximdamente 3,5kg necessita de 225g de alimento por dia (Scott 1968 in Liberg 1984). Assumindo que um excremento corresponde a uma refeição diária, foi calculada a dose média necessária por dia (1 refeição) e por gato, independentemente do sexo (cerca de 203g). A este valor foi subtraído o peso total das presas que ocorreram em cada dejecto, sendo esse o valor atribuído à biomassa dos restos de alimentação humana, por dejecto. Para os lagomorfos e aves não passeriformes (Columbiformes, Anseriformes e Galliformes), cujo peso individual ultrapassa o valor correspondente à dose diária de alimentos ingeridos por um gato doméstico adulto, 203g, foi atribuído um valor de biomassa de 170g por indivíduo consumido (Fitzgerald & Karl 1979 in Nogales 1988). O peso médio da ordem Passeriformes, foi calculado com base no peso real (Cramp. 20.

(34) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. 1985) de indivíduos pertencentes às cinco espécies mais comuns da avifauna existente na área de estudo (Tab. 2). O material vegetal não energético (folhas e caules), não entrou no cálculo da biomassa, visto assumir-se que foi consumido apenas como purgante (Pettersson 1968 in Fitzgerald 1988).. Tabela 2 - Pesos médios das classe-presas consumidas pelos gatos domésticos (mamíferos, aves, répteis, artrópodes, sementes) Item alimentar Apodemus sylvaticus Arvicola sapidus Mus sp. Rattus sp. Microtus sp.. Peso Médio (g) 22,61 155 11,91. Fonte bibliográfica Ramalhinho (Com. Pess.) in Clamote 1997 Calviño 1984 Ramalhinho (Com. Pess.) in Clamote 1997. 150. Simão 1988. 20. Simão 1988. Crocidura russula. 7,40. Ramalhinho (Com. Pess.) in Clamote 1997. Lagomorpha. 170. Fitzgerald & Karl 1979 in Nogales 1988. Passeriformes. 25. Cramp 1985. Apodiformes. 45. Cramp 1985. Accipitriformes. 180. Cramp 1985. Columbiformes. 170. Fitzgerald & Karl 1979 in Nogales 1988. Anseriformes. 170. Fitzgerald & Karl 1979 in Nogales 1988. Galliformes. 170. Fitzgerald & Karl 1979 in Nogales 1988. Lacertidae. 3. Castells & Mayo 1993 in Malo 2004. Insecta. 0,5. Castells & Mayo 1993 in Malo 2004. Arachnida. 1,22. Teixeira & Coutinho 2002. Scolopendra cingulatus. 2,98. Ferreira 1997. Olea europaea (sementes) Tricitum sp. (sementes). 2 0,5. Simão 1988 Delibes 1974. 21.

(35) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. 3.3.3. Análise da variação no consumo de presas Tendo em conta a distribuição espacial dos dados e as frequências de ocorrência de cada item alimentar, utilizou-se o teste do Qui-Quadrado modificado, com um nível de significância de 0,05 (Simpson et al. 1960) para averiguar possíveis diferenças no consumo dos diversos itens alimentares entre locais. Este é definido segundo a fórmula: X2 = N (ad-bc)2 / (a+b) (c+d) (a+c) (b+d) onde: a – nº de vezes que o recurso i ocorreu na amostra A; b – nº de vezes que o recurso i não ocorreu na amostra A; c – nº de vezes que o recurso i ocorreu na amostra B; d – nº de vezes que o recurso i não ocorreu na amostra B; N = a+b+c+d.. 3.3.4. Diversidade no consumo de presas Para analisar o grau de diversidade da dieta em cada local, calculou-se a amplitude do nicho alimentar, tendo em conta 8 categorias alimentares (Lagomorpha, Rodentia, Insectívora, Aves, Reptilia, Arthropoda, Material vegetal e Restos de Alimentação Humana), através do índice de Levins (Krebs 1972), expresso pela seguinte fórmula: B = 1 / Σ pi2 em que pi é a proporção da frequência de ocorrência da classe-presa i em relação ao total de itens consumidos em cada herdade. De forma a possibilitar a comparação das amplitudes de nichos alimentares entre locais, procedeu-se a uma padronização do índice de Levins, descrita pela seguinte equação: BA = (B-1) / (n-1) onde B é a amplitude do nicho alimentar calculada e n o número de categorias alimentares definidas. Este índice varia entre 0 e 1, correspondendo os valores próximos de 0 a uma dieta mais restrita (especialista), e os valores próximos de 1 a uma dieta mais ampla (generalista).. 22.

(36) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. 3.3.5. Sobreposição dos nichos alimentares De maneira a avaliar a sobreposição dos nichos alimentares, foi utilizado o índice de Pianka (Pianka 1974): ahk = ∑ pih * pik / √ ∑ pih2 * ∑ pik 2 onde pi é a proporção de cada classe-presa i na dieta nas amostras h e k. Este índice varia igualmente entre 0 e 1, sendo este último o valor máximo atingido, quando os espectros alimentares são semelhantes nas duas amostras.. 3.3.6. Classificação dos recursos tróficos consumidos Os recursos tróficos consumidos foram classificados tendo em conta a frequência de ocorrência (F.O.) definida para cada item alimentar (Oreja 1990 in Tomé): F.O. < 1% - Recurso Ocasional 1% < F.O. < 5% - Recurso Complementar 5% < F.O. < 20% - Recurso Constante F.O. > 20% - Recurso Básico. 3.4 Análise do regime trófico do gato doméstico em diversos ambientes O regime trófico do gato-doméstico no Sítio Moura-Barrancos foi comparado com o observado em outros locais da área de distribuição da espécie, utilizando-se para tal todos os estudos disponíveis onde a análise do regime trófico foi efectuada através de excrementos recolhidos apenas na época seca. Previamente a esta análise, os dados foram homogeneizados, sendo recalculadas as respectivas F.O. (%) de acordo com as 8 classes-presas definidas (Rodentia, Insectívora Lagomorpha, Aves, Reptilia, Arthropoda, Material vegetal e Restos de Alimentação Humana). Dos cinco estudos seleccionados, dois foram efectuados em zonas urbanas (Marques 2003, Campus 2004), dois em zonas rurais (Liberg 1984, Weber & Dailly 1998) e um numa ilha mediterrânica (Bonnaud et al. 2007) (Fig. 12). Os estudos. 23.

(37) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. realizados em zonas urbanas, ocorreram num bosque (Marques 2003) e num Campus Universitário (Campus 2004), de grande proximidade às cidades de Madrid e de São Paulo, respectivamente, e com intensa actividade humana. A análise da diversidade trófica foi efectuada através do cálculo da amplitude do nicho alimentar, indicado pelo índice de Levins padronizado (ver 3.3.4.). Revinge, Suécia (1). Sítio Moura-Barrancos, Portugal (6). Campus Universitário São Paulo, Brazil (4). Montanhas Jura, Suíça (2). Ilha de Port-Cros, França (5). BBosque de Valdelatas Madrid, Espanha (3). Figura 12 – Localização geográfica dos locais onde foram realizados os estudos acerca do regime trófico do gato doméstico: (1) Liberg 1984; (2) Weber & Dailly 1998; (3) Marques 2003; (4) Campus 2004; (5) Bonnaud et al. 2007; (6) presente estudo.. 3.5 Competição alimentar com Felis silvestris Para avaliar o potencial competitivo do gato-doméstico face ao gato-bravo efectuou-se uma análise comparativa dos regimes alimentares das duas espécies utilizando um modelo multivariado de ordenação canónica. De maneira a determinar qual o melhor modelo de ordenação multivariada a utilizar, efectuou-se uma Detrended Correspondence Analysis (DCA), que revelou um comprimento do gradiente inferior a 3 S.D., indicando a Principal Components Analysis (PCA) como a análise mais adequada (ter Braak & Smilauer 1998). Este método de análise multivariada tem sido 24.

(38) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. actualmente usado em estudos referentes ao regime trófico de felinos, como o gato doméstico (Pontier et al. 2002), o gato-bravo (Lozano et al. 2006) e o jaguar (Panthera onça) (Nuno 2007). Nesta análise utilizaram-se seis estudos, sendo três de gato doméstico (Weber & Dailly 1998, Marques 2003, presente estudo) e três de gato-bravo (Corbett 1979, Fernandes 1991, Pereira et al. 2001) (Fig. 13). Em todos, a análise do regime alimentar foi realizada recorrendo apenas a excrementos referentes à época seca, de modo a haver uniformidade nos dados. Os dados provenientes dos diferentes estudos foram reorganizados, tendo sido recalculadas as F.O. de acordo com as classes definidas no presente estudo (Rodentia, Insectívora Lagomorpha, Aves, Reptilia, Arthropoda, Material vegetal e Restos de Alimentação Humana). Para a execução da DCA e da PCA fez-se recurso ao software CANOCO for Windows versão 4.5 (ter Braak & Smilauer 1998).. Parque Natural Montesinho, Portugal (2). Bacia do Guadiana, Portugal (4). Sítio Moura-Barrancos, Portugal (6). Glen Tanar, Escócia (1). Montanhas Jura, Suíça (3). Bosque de Valdelatas Madrid, Espanha (5). Figura 13 – Localização geográfica dos locais onde foram realizados os estudos de gato doméstico e de gato-bravo: (1) Corbett 1979; (2) Fernandes 1991; (3) Weber & Dailly 1998; (4) Pereira et al. 2001; (5) Marques 2003; (6) presente estudo.. 25.

(39) Dieta e impacto da predação de gatos domésticos (Felis catus) em ambientes rurais. Sendo que os micromamíferos representam o grupo-presa mais consumido tanto pelo gato doméstico, como pelo gato-bravo, de modo a verificar se existe um consumo diferencial dos vários géneros e espécies, que poderia minimizar o potencial competitivo, efectuou-se uma segunda análise de ordenação canónica - Detrended Correspondence Analysis (DCA). Esta revelou igualmente um comprimento do gradiente inferior a 3 S.D., indicando a PCA como a análise mais adequada a realizar (ter Braak & Smilauer 1998). Nesta análise, foram utilizados quatro estudos realizados na Península Ibérica, dois de gato-bravo (Fernandes 1991, Pereira et al. 2001), e dois de gato doméstico (Marques 2003, presente estudo) (Fig. 13) onde as F.O. de micromamíferos foram elevadas. Tendo em conta as espécies consumidas em cada estudo, foram definidos 8 grupos classificados de acordo com o género (Apodemus sp, Arvicola sp, Mus sp., Rattus sp., Microtus sp., Crocidura sp., Talpa sp. e Eliomys sp.).. 26.

(40) RESULTADOS.

Imagem

Figura 2 - Sítio Moura-Barrancos (Baixo Alentejo), com indicação das áreas de adequabilidade  à  ocorrência  de  gato-bravo  e  a  localização  do  Perímetro  Florestal  da  Contenda, do  Castelo  de  Noudar e da Herdade da Coutada dos Frades.
Tabela 1 – Sexo, idade e cor da pelagem dos gatos domésticos existentes no Perímetro Florestal  da Contenda, no Castelo de Noudar e na Herdade da Coutada dos Frades
Figura 8 – Vista da Herdade da Coutada dos Frades (© I.N. Leitão)
Tabela 2 - Pesos médios das classe-presas consumidas pelos gatos domésticos (mamíferos, aves,  répteis, artrópodes, sementes)
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