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O PAPEL DO MONITORAMENTO DA PRODUÇÃO CANAVIEIRA
PELO PROJETO CANASAT: O CASO DO NOROESTE
PARANAENSE
Vitor Hugo Ribeiro1 Thiago César Frediani Sant’Ana2 Lucas César Frediani Sant’Ana3
INTRODUÇÃO
O presente trabalho trata da expansão da cultura canavieira na mesorregião Noroeste Paranaense, ressaltando algumas implicações que essa atividade vem gerando nesta localidade do Estado, em virtude à sua concentração em alguns municípios aonde vem apresentando certa problemática, dentre elas, com os demais agentes agroindustriais da região. A paisagem agrícola predomina na mesorregião Noroeste Paranaense. Outrora o café era o grande motor econômico, que inseriu a região Noroeste Paranaense na formação econômico brasileira no decorrer do século XX. Com o processo de modernização agrícola que teve a sua origem nas décadas de 1960-70, outras atividades agrícolas passaram a fazer parte da economia desta região. Dentre as que vêm se destacando, podemos citar a pecuária, a mandiocultura, o cultivo de citrus e, atualmente com a intensificação das políticas voltadas ao etanol, a cana-de-açúcar (atividade pouco expressiva nas décadas passadas) vem se mostrando favorável à região.
Esta pesquisa está dividida em duas partes, onde a primeira foi levantado, brevemente, os pressupostos teóricos do projeto canasat (INPE), e o seu emprego para o
1 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá, e integrante do Núcleo de Estudos de Mobilidade e Mobilização (NEMO)- UEM.
2 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá- Bolsista CAPES.
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, mapeamento da cana-de-açúcar da região centro-sul do Brasil, e a segunda foi feito um esboço de um estudo de caso da atividade canavieira na mesorregião Noroeste Paranaense.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa foi baseada em leituras de materiais e busca de dados secundários que vem tratando da problemática em questão, além do emprego de mapas, imagens de satélites, e dentre outros materiais necessários para a reflexão deste tema.
CANASAT
O projeto Canasat do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) tem por objetivo mapear a área ocupada pela cana de açúcar em toda a Região Centro-Sul do Brasil. O projeto foi criado em 2003, e no seu início estava centrado apenas no Estado de São Paulo. Posteriormente, em 2005 ele se expande para as demais regiões centro-sul do país.
Segundo Rudorff e Sugawara (2007, p.79-86), a cana-de-açúcar apresenta várias características que favorecem a identificação e mapeamento das imagens. Dentre elas, os autores citam algumas que merecem destaque:
É uma cultura semiperene, cujo plantio é feito normalmente entre os meses de outubro e março quando a época de plantio e o número de meses de crescimento (do plantio ao primeiro corte) definem se a cana-plantada é de ano ou ano-e-meio;
Após o primeiro corte, as rebrotas da cana são denominadas soqueiras e crescem normalmente durante um período de 12 meses;
As soqueiras sofrem cortes anuais durante cinco a seis anos, quando estas são renovadas com uma cana-planta de ano, então ela será colhida na safra seguinte. Contudo, a maioria das reformas dá-se por meio da cana-planta de ano-e-meio, que será colhida na safra subseqüente.
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, os limites municipais. Neste caso, foi mapeada a área plantada de cana-de-açúcar em cada município do centro- sul do Brasil (RUDORFF; SUGAWARA, 2007, p.83).
Segundo (RUDORFF; SUGAWARA, 2007, p.79), ao se tratar de monitoramento dos recursos naturais, o Brasil está entre os pioneiros na construção e utilização de imagens de satélites de sensoriamento remoto. Ainda conforme os autores:
o desenvolvimento do projeto Canasat tem sido feito com bastante cuidado, pois ao serem disponibilizados os mapas da cana na internet é preciso que o resultado seja de boa qualidade para que possa alcançar a confiabilidade junto aos usuários desta informação. Assim, existe sempre o desafio de incorporar alguma novidade que explore melhor as imagens de satélites e as inúmeras facilidades que os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) proporcionam para a análise das informações espaciais, inclusive pela internet no próprio site do projeto.
O Canasat é uma ferramenta fundamental para o acompanhamento do crescimento da cultura canavieira nos Estados brasileiros onde praticam essa atividade. Com estas imagens, é possível acompanhar a expansão canavieira em detrimento de outras atividades como, por exemplo, a agricultura familiar, e dentre outras atividades agrícolas.
O ESTUDO DE CASO DO NOROESTE PARANAENSE
O Censo Agropecuário realizado pelo IBGE em 2006 mostrou que no ano agrícola 2005/2006, o Paraná produziu 33.917.335 toneladas de cana-de-açúcar. A concentração da economia canavieira está quase que exclusivamente na Região Norte do Estado, área que engloba três mesorregiões: Norte Pioneiro, Norte Central, e Noroeste. Essas três mesorregiões somam 30.943.754 toneladas (Tabela 1), 91,2% da produção total do Estado (RIBEIRO, V,H 2008).
Tabela 1 – Norte do Paraná, Quantidade produzida, Valor da produção, Área plantada e colhida de cana-de-açúcar, 2006
Quantidade Valor da Área Plantada Área Colhida
Mesorregião Geográfica Produzida Produção (Hectares) (Hectares)
(Toneladas) (Mil Reais)
Noroeste 14.548.306 468.154 190.068 190.068
Norte Central Paranaense 10.319.565 387.824 132.908 132.908 Norte Pioneiro Paranaense 6.075.883 234.543 71.213 71.213
TOTAL 30.943.754 1.090.521 394.189 394.189
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Conforme a tabela 1, a mesorregião Noroeste Paranaense é a porção do Estado que mais produz cana-de-açúcar e, conseqüentemente, tem a maior área plantada em relação às demais regiões. Além desses dados da produtividade canavieira da mesorregião Noroeste Paranaense, é nesta localidade que mais recentemente vem se concentrando o maior número de unidades produtivas para a fabricação de açúcar e de álcool (RIBEIRO, V,H 2008).
A figura 1 apresenta a localização das unidades agroindustriais que movem a atividade canavieira na mesorregião Noroeste Paranaense, e de acordo com a imagem, há uma forte tendência da expansão da cana-de-açúcar na microrregião de Paranavaí, pois nesta área estão inseridos os projetos de construção das unidades produtoras.
Figura 1- Unidades produtivas da mesorregião Noroeste do Paraná- 2008 Fonte: IBGE, 2000. ALCOPAR, 2008
Adaptado: RIBEIRO, V,H. 2009.
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Além dessa problemática entre os agentes do agronegócio, o avanço canavieiro na mesorregião em questão vem em detrimento de outras atividades agrícolas, dentre elas a agricultura familiar e a policultura, tão importantes para o desenvolvimento local dessas áreas. Muitos municípios, como se verá na figura 2, vêm disponibilizando suas maiores áreas agrícolas para o plantio de cana-de-açúcar em detrimento dessas atividades.
Figura 2- Área municipal ocupada pela lavoura canavieira, ano de 2006. Fonte: SIDRA, IBGE, 2006.
Elaboração: RIBEIRO, V,H. 2009.
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Tabela 2- Área municipal ocupada pela lavoura canavieira, ano 2006.
Perímetro Área plantada área Plantada
Municípios Municipal com Cana (em %)
hectares) (em (em hectares)
São Tomé 21.862,40 9.311 42,6
Paranacity 34.895,10 14.720 42
São Carlos do Ivaí 22.507,70 8.803 39
Paraíso do Norte 20.456,50 6.558 32
Ivaté 41.090,70 12.914 31,4
Rondon 55.608,60 15.220 27,3
Tapejara 59.140 13.850 23,4
Inajá 19.470,50 4.343 22,3
Cidade Gaúcha 40.304,40 8.841 22
Cruzeiro do Sul 25.878 5.674 22
Indianópolis 12.262,30 2.710 22
Guaporema 20.018,80 4.339 21,6
Tamboara 19.334,50 3.456 17,8
Marilena 23.236,60 3.785 16,2
Jussara 21.081,20 3.350 15,8
Nova Londrina 26.938,90 3.521 13
Tuneiras do Oeste 69.887 9.160 13
Cruzeiro do Oeste 77.922,20 9.739 12,5
Icaraíma 67.524,10 8.259 12,2
Mirador 22.150,60 2.433 11
Japurá 16.518,40 1.660 10
Nova Aliança do Ivaí 13.127,20 1.197 9
Mariluz 43.317 3.845 8,8
Paranapoema 17.587,40 1.499 8,5
Alto Piquiri 44.772,20 3.686 8,2
Cafezal do Sul 33.620,50 2.596 7,7
São Manoel do
Paraná 9.538,20 718 7,5
Diamante do Norte 24.289,40 1.771 7,3
Tapira 43.436,70 3.049 7
Nova Olímpia 13.630,80 771 5,6
São Joao do Caiuá 30.441,20 1.639 5,3
Itaúna do sul 12.887 612 4,7
Cianorte 81.166,60 3.650 4,5
Perobal 40.670,70 1.736 4,2
Douradina 41.985,20 1.620 3,8
Alto Paraná 40.771,90 1.442 3,5
Umuarama 122.742,50 2.329 1,8
Ipora 64.789,40 1.057 1,6
Maria Helena 48.623,40 650 1,3
Paranavaí 120.246,90 1.668 1,3
Terra Rica 70.058,70 967 1,3
Guairaçá 49.393,90 625 1,2
Brasilandia do Sul 29.103,90 150 0,5
Loanda 72.249,60 125 0,17
São Pedro do Paraná 25.065,30 20 0,08
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Através do projeto canasat é possível acompanhar o avanço da cana-de-açúcar nessas localidades, e verificar as áreas de cultivo (Figura 3). De acordo com a imagem, a atividade se concentra, principalmente, nos municípios onde estão inseridas as unidades de produção.
Figura 3- Distribuição da cultura Canavieira na mesorregião Noroeste do Paraná- Safra 2007.
Fonte: RIBEIRO, V,H. 2008
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Em entrevistas realizadas às usinas de açúcar e destilarias COPAGRA, do município de Nova Londrina e Stª Terezinha, unidade de Terra Rica, ambas inseridas no noroeste paranaense, para a instalação dessas usinas nestas localidades, obteve-se em um primeiro momento um levantamento empírico da região quanto à sua dinâmica sócio-espacial, onde se procura esclarecer basicamente a demanda de mão-de-obra e a estrutura fundiária e tipo de produção agrícola da região, onde segundo Sant’ana, 2007
Percorrendo as rodovias do noroeste paranaense, fica muito clara a tendência que se tem à homogeneização da paisagem, transformada pela cultura da cana-de-açúcar. Onde antes se tinha pastagens e/ou mandioca, hoje se vê grandes áreas destinada à cana-de-açúcar, cultura esta a priori, vinculada à média/grande propriedade. (p. 56)
Em um segundo momento entra o papel do poder público municipal, assegurando ou não além de incentivos financeiros, como abatimento de impostos, a instalação e manutenção de infra-estruturas necessária ao funcionamento da
usina/destilaria sucroalcooleira, bem como arrecadação de
investimentos/financiamentos provindos de órgãos governamentais (Figura 4).
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Ainda tomando o exemplo das duas usinas citadas acima, após sua instalação a sua zona de influência na dinâmica do uso do solo agrícola pode ser mensurada em uma área de cujo raio vária de 30 a 50 quilômetros a partir da unidade de moagem da cana-de-açúcar, conforme no exemplo abaixo, no município de Itaúna do Sul, localizado na microrregião de Paranavaí, onde embora não tenha dentro de seu limite municipal uma usina sucroalcooleira, têm uma produção de cana-de-açúcar relevante, devido às duas usinas que se encontram a um raios de menos de 30 quilômetros do município (Figura 5)
Figura 5 - Circunferência indicando área de abrangência (30 km) das Usinas de Santa Terezinha (Terra Rica – PR) e da COPAGRA (Nova Londrina-PR). Organização: Sant’ana (2007).
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, “viabilidade logística” da área, onde quanto melhor a forma de escoamento4 da colheita da cana-de-açúcar, maior vai ser a área de abrangência da usina.
Este procedimento explica a polarização de algumas áreas no noroeste paranaense que concentram, conforme figura 3, maiores áreas agrícolas destinadas à cana de açúcar, embora muitos desses municípios não tenham usina/destilaria instalada dentro de seu território.
Considerações finais
Pelo que foi exposto no decorrer deste trabalho, não nos deixam dúvidas a importância do uso do sensoriamento remoto para espacializar o cultivo da cana-de-açúcar no estado do Paraná. Com isso, o sensoriamento remoto vem sendo apresentado como um instrumento de análise das dinâmicas territoriais do uso do solo, servindo assim como ferramenta de apoio à gestão pública, no que diz respeito ao planejamento territorial. Através do projeto canasat, podemos acompanhar a dinâmica da expansão canavieira nos municípios aonde vem exercendo essa atividade agroindustrial. Paralelamente a isso, e que esse trabalho apenas esboçou algumas informações relevantes acerca do agronegócio canavieiro, é possível acompanhar o impacto desse segmento agroindustrial no que diz respeito às condições sociais de trabalho gerado pelo setor nas pequenas cidades do Noroeste paranaense, além das questões ambientais como um todo, pois um olhar atento para as dinâmicas geradas com o incremento dessa atividade nos expõe uma série de questões que se apresentam como pertinentes para reflexão no meio acadêmico.
Referências
Alcopar, Disponível em: <http://www.alcopar.org.br/associados/mapa.php> acesso em 22/06/2008.
IBGE, <Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/uftabunit.asp?t=18&n=8&z=t&o=4> acesso em 22/06/2008.
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, IPARDES, Disponível em:
<http://www.ipardes.gov.br/biblioteca/docs/leituras_reg_meso_noroeste.pdf> acesso em: 18/03/2009.
NUNES, Osmar. Mandioca tenta segurar a cana. Gazeta do Povo, Paranavaí, 23 de out. 2007, Caminhos do Campo, página 4 a 5.
RUDORFF, Bernardo Friedrich Theodor e SUGAWARA, Luciana Miura. Mapeamento da cana-de-açúcar na Região Centro-Sul via imagens de satélites. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.28, n.241, nov/dez. 2007, p.79- 86.
RIBEIRO, Vitor Hugo. O avanço do setor sucroalcooleiro do Paraná: dos engenhos às usinas. 2008. 60 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Geografia). Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2008.