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Reflexões sobre a Filosofia da História de Immanuel Kant

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Academic year: 2021

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Ágabo Borges Sousa**

Resumo: talvez não sejam muito conhecidos os textos de Kant: “Ideias para uma

Histó-ria Universal do Ponto de Vista Cosmopolita” e “Provável Início da HistóHistó-ria Humana”, quando ele discute alguns aspectos para uma filosofia da história. Estes textos, especialmente, o “Provável Início da História Humana” abrem--nos possibilidade de uma discussão em torno dos conceitos de história pro-vável e história criada. Considerando que “um relato do início do desenvol-vimento da liberdade desde sua predisposição original na natureza humana é, portanto, algo inteiramente diferente do que um relato histórico da evolução dessa liberdade, um relato que só pode ser baseado em informações históricas”

(KANT, 2012, p. 46), podemos dizer com Kant, que não há como fazer uma

His-toriografia documental do início da história humana. Para ele, isso seria, fun-damentalmente, um exercício que se consente à imaginação. Este começo não precisa ser fabricado, “mas pode ser derivado da experiência se se assume que essa experiência não era melhor ou pior em sua origem do que é presentemente

(KANT, 2012, p. 46). Podemos, portanto, tomar um fio condutor conectado à

experiência da razão e seguir um roteiro. Kant escolhe utilizar “um documento sagrado” e desenvolve sua reflexão a partir de Gênesis, um texto bíblico. Gos-taria de refletir até onde este caminhar de Kant nos ajudaria a pensar filosofi-camente a parte mais antiga da história humana e como textos mitológicos nos servem de documentos filosóficos e históricos para uma reflexão do ser humano em sua gênesis.

Palavras-chave: Kant. Filosofia da História. Bíblia. História Provável. Gênesis.

REFLEXÕES SOBRE A FILOSOFIA DA HISTÓRIA DE IMMANUEL KANT*

–––––––––––––––––

* Recebido em: 08.08.2016. Aprovado em: 16.08.2016.

** Mestre e Doutor em Teologia. Professor Adjunto de Filosofia Geral na UEFS. E-mail: dr_agabo@hotmail.com.

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Q

uando pensamos em Filosofia da História, vem-nos à mente Voltaire (2007) e sua tentativa de estabelecer uma cronologia da história antiga com seus “pri-meiros fundamentos da história”; Hegel (2008) - sua visão dialética de histó-ria; e a dupla Marx e Engels, com o materialismo histórico (HINKEL MANN, 1986); dificilmente, pensamos em Immanuel Kant. Normalmente este nome está associado ao Iluminismo, ao Idealismo Alemão, à Filosofia do Conheci-mento, à Ética e a Estética, mas não à Filosofia da História. Isto se dá porque três obras do pensador de Koenigsberg se tornaram clássicas, a saber: Crítica

da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e a Crítica da Faculdade de

Jul-gar; apesar da grande importância de textos como: Prolegômenos a Qualquer

Metafísica Futura que Possa vir a Ser Considerada como Ciência e o

Funda-mento da Metafísica dos Costumes, entre outros escritos. Contudo, uma Fi-losofia da História não é ressaltada e alguns textos introdutórios sobre Kant, sequer citam seus escritos sobre o tema (PECORARO, 2008). Apenas a título de informação temos: 1755, História Universal da Natureza e Teoria do Céu, ou Ensaio onde se trata do sistema e da origem mecânica de todo o Universo segundo os princípios de Newton; 1755, História e Descrição do Terremoto

do ano de 1755; 1784, Ideia de Uma História Universal do Ponto de Vista

Cosmopolita; 1785, Recessão da Obra de Herder: “Ideias sobre a Filosofia da

História da Humanidade; 1786, Conjecturas sobre o Começo da História da

Humanidade; 1794, Fim do Mundo. Além desses textos que tratam diretamente o problema da história, enquanto tentativa de relato histórico, como a histó-ria do terremoto, bem como dos que tratam dos princípios da históhistó-ria, temos, ainda, os textos relativos à religião e antropologia, que foram desprezados por uma parte significativa dos estudiosos de Kant.

Por um lado é compreensível o interesse nos pontos que serviram de base para o seu pen-samento, bem como os textos que o destacaram como grande pensador. Contudo, nós ficamos com um olhar equivocado de Kant, sem considerar suas preocupa-ções com a compreensão do relato histórico como interpretação do ser humano, muito mais do que como registro de fatos e acontecimentos do passado.

Obviamente não teremos condições, neste espaço, de pensar todos os aspectos do pro-blema da filosofia da história em Kant, por duas razões: 1. Por uma questão de tempo e espaço, pois uma abordagem do todo da problemática em Kant nos tomaria muito tempo; 2. Por não me considerar apto para a apresentação de uma sistematização completa do pensamento de Kant, quanto à sua filosofia da história. Por isso nos limitaremos a pensar apenas um dos seus escritos, talvez o menor de todos, mas não, por isso, o menos importante para uma compre-ensão da proposta kantiana de filosofia da história. Trabalharemos, portanto, o

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PONTO DE PARTIDA

Kant parte do princípio de que é plenamente “admissível interpor especulações no âmbito do relato histórico a fim de preencher as lacunas oferecidas pelas informações (KANT, 2012, p. 45).”7 Nesta primeira frase de seu trabalho, Kant já deixa claro

que o historiador tem a liberdade de “especular”, quando as informações dos fatos deixarem lacunas, considerando, porém, o princípio da “causa remota” e o “efeito” que vem depois dela, permitindo considerar com certa segurança a descoberta das “causas intermediárias”, tornado o relato da transição algo inte-ligível. Obviamente que a razoabilidade para Kant, deve estar fundamentada no seu princípio da razão. Assim sendo, teríamos uma história provável, mesmo que não pudéssemos estabelecer a fundamentação documental da afirmação, o que ele chamará, mais tarde, de história certificada.

Gostaria de abrir um pequeno parêntese, pois há uma diferença entre a narrativa histó-rica de fundamentação documental e a narrativa históhistó-rica de fundamentação factual, uma vez que não mais temos acesso à “bruta facta” mas, ao testemunho desta, por meio de “documentos” que podem ter diversas naturezas. O documen-to pode testemunhar de um fadocumen-to, mas não o estabelece. O fadocumen-to, depois de seu acontecimento, deixa de existir e não pode ser reestabelecido.

A compreensão de história aqui, para Kant, não é o acontecimento em si, a “bruta

fac-ta”, mas o relato da “progressão da história das ações humanas”. Este relato, ao passo que reflete a progressão, interpreta e gera consciência, por isso, ao lado da história provável, Kant coloca a história fabricada, como acontece com os romances ou outros relatos de natureza congênere.

A questão é se podemos pensar em uma história das origens, sem uma história fabrica-da. Para Kant isto só é possível na medida em que este começo “pode ser deri-vado da experiência se se assume que essa experiência não era melhor ou pior em sua origem do que é presentemente” (KANT, 2012, p. 46). Esta suposição, segundo ele, está em pleno acordo com a analogia da natureza. Falar, portanto, do início do desenvolvimento é diferente de fazer um relato histórico da evo-lução de algo, pois este relato só pode ser baseado em informações históricas, o que não é possível, em se tratando do problema das origens.

Fazer um relato das origens é, para Kant, “um exercício que se consente à imagina-ção, acompanhado da razão, para recreação e saúde da mente” (KANT, 2012, p. 46). É plenamente compreensivo este posicionamento, considerando que não é possível reunir nenhum dado documental ou mesmo testemunhal de nenhum período das origens; por isso, uma “história das origens” não pode ser um relato considerado e acreditado como real, porque as razões que le-vam a um relato das origens são completamente diferentes da mera filosofia da natureza.

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É proposto, pelo filósofo de Koenigsberg, que há uma necessidade de uma compre-ensão de vários aspectos da natureza humana que precisam ser buscados na predisposição original desta natureza. Um exemplo disto é o relato do início do desenvolvimento da liberdade, desde sua origem, e sua predisposição para tal na natureza humana. Não se trata de buscar informações sobre a evolução da liberdade, mas compreender sua predisposição original, que foge da pos-sibilidade de colher o material informativo sobre o momento de seu estabele-cimento na natureza humana. Contudo, a razão e a experiência da liberdade nos garantem que, em algum momento, houve uma origem, estabelecendo-se como experiência que é, em natureza, nem melhor nem pior do que percebe-mos no tempo presente.

Por isso, Kant entende que o exercício que busca a origem é uma “aventura por puro prazer”, que ele propõe fazer a partir de um documento sagrado, usando a imaginação, mas entendendo que há um fio condutor conectado à experiência da razão. “O leitor pode abrir este documento (Gênesis 2-6) e verificar passo a passo se o caminho que a filosofia segue com seus conceitos coincide com o caminho estabelecido pela história” (KANT, 2012, p. 46).

Para Kant não temos como pensar uma história das origens, especialmente a partir de um olhar filosófico, sem nos munirmos de uma compreensão que une a ima-ginação e experiência pelo vínculo da razão. Os relatos bíblicos, sobretudo de Gênesis 2-6, são instrumentos talhados para este exercício.

DESENVOLVIMENTO E ARGUMENTAÇÃO

A leitura que Kant faz das narrativas de Gênesis 2-6 começa com a observação de que o texto estabelece “causas naturais precedentes”, como ponto de partida, que é a existência humana. Ele considera necessário começar com o ser humano adulto, completamente desenvolvido; por isso, tudo começa com um casal, a fim de que a espécie se propague; isso também garante a origem comum de todos os seres humanos. Este casal é colocado em um lugar seguro, em um jardim, com suas habilidades devidamente aperfeiçoadas, “no uso de suas competências naturalmente dadas” (KANT, 2012, p. 47). Desta maneira, Kant entende preencher a lacuna entre o ser humano, em sua completa brutalidade, e ser humano aperfeiçoado, nos moldes que conhecemos hoje. “O primeiro ser humano foi, assim, capaz de ficar de pé e andar. Foi capaz de falar (Gênesis 2:20) e se comunicar, ou seja, expressar-se através da utilização de conceitos coerentes (v. 23) e, consequentemente, de pensar” (KANT, 2012, p. 47-8). Kant entende a “voz de Deus” como sendo o instinto que orienta o ser humano

inexpe-riente, que é comum a todos os animais. Esta voz interna do instinto permitiu--lhe estabelecer a diferença e encontrar coisas boas ou más para a nutrição.

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“Enquanto o ser humano inexperiente obedecia a este chamado da natureza, tudo estava bem com ele” (KANT, 2012, p. 49). É a razão que interrompe este processo de harmonia, na medida em que desperta, por meio da comparação, o que lhe é apresentado. Desta forma, instala-se um segundo estágio da razão. “Mas é uma peculiaridade da razão que, ajudada pela imaginação, pode inven-tar desejos não só sem uma vontade correspondente e natural, mas até mesmo contrária a ela (KANT, 2012, p. 49). Este poder da razão é capaz gerar uma série de inclinações desnecessárias, estabelecendo uma nova realidade no pró-prio ser humano. Enquanto o instinto de nutrição preserva o indivíduo, o ins-tinto sexual preserva a espécie, tornando-se, assim, extremamente importante. Desta forma, o ser humano vence o tédio da satisfação meramente animal e passa à dependência das ideias, possibilitando a recusa.

Depois do primeiro experimento da livre escolha, que estabelece uma nova dimensão dos desejos inventados, envolvendo o instinto de nutrição, ampliando-se para o do sexo, a razão se mistura com as necessidades imediatas; ela antecipa a consciência do futuro. Assim, o ser humano estabelece uma nova marca distin-tiva de sua capacidade de ser, pois consegue vislumbrar e preparar-se para fins distantes, baseados em seu destino. Essa capacidade de antecipação

conscien-te do futuro se torna, também, uma fonte de angústia e preocupação por causa da incerteza que ela gera.

Kant percebe nas narrativas das origens no Gênesis um quarto e último estágio do de-senvolvimento da razão humana, que é o fato de elevá-lo acima dos animais, colocando-o como a finalidade da natureza, sem ter concorrente neste sentido. Os animais passam a ser vistos “como meios à disposição de sua vontade e como ferramentas para atingir quaisquer fins escolhidos” (KANT, 2012, p. 52). Este ser humano racional, que reivindica ser um fim, não está mais imerso na natureza,

não é mais um fim para outros, mas para si; ele encontra sua plenitude da razão como liberto do seio na natureza, perdendo sua condição segura e inofensiva da infantilidade, para uma liberdade honrosa e perigosa.

Esta história primeva do ser humano nos mostra como ele saiu do estado de brutalida-de, sendo uma criatura meramente animal, na compreensão de Kant, para uma condição de racionalidade, na liberdade que se manifesta na sua atual iden-tidade de ser humano. A isso, Kant chama de “progresso rumo à perfeição”. Mesmo que, para o indivíduo, esta transição tenha representado perdas, Kant entende que o progresso é o caminhar do pior para o melhor. Assim, para a espécie humana, esta transição foi efetivamente um progresso.

Neste ponto Kant destaca o estabelecimento do princípio da moral. Pois, antes do despertar da razão não havia comando nem proibição; por conseguinte, ne-nhuma transgressão. Mas a razão tirou o ser humano do estado de inocência, sendo o lado moral o primeiro a sair deste estado, que foi chamado de queda.

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Suas consequências, contudo, envolvem o lado físico, a completude do ser humano.

“A história da natureza começa, portanto, com o bem, pois é obra de Deus. A história da liberdade começa com o mal, pois é obra do ser humano” (KANT, 2012, p. 54). Neste sentido, o ser humano se torna uma espécie moral. Instala-se, para Kant, nesta história primeva, o conflito inevitável da cultura com a natureza humana. Este conflito seria responsável pelos vícios e aflições que pesam so-bre a vida humana. Há uma mudança de período, no qual o ser humano sai de uma época de paz e comodidade, onde surgiu, para uma época de trabalho e discórdia.

Kant entende que se estabelece uma nova lacuna na história do desenvolvimento huma-no; por isso, ele já é colocado em posse de animais domesticados e de plan-tas que ele mesmo cultivou. O exercício da atividade pecuária e agrícola nos indica os diversos estágios pelo qual passou o ser humano para chegar à sua condição atual. O conflito da sociedade pastoril e agrária vem representado no conflito fraterno, sendo a separação destas atividades um terceiro estágio em direção à arte da socialidade e segurança civil, mostrando os modelos de vivên-cia no exercício da liberdade, no qual se estabelece desigualdades, tanto nas formas de vida, campesinos e citadinos, como, também, nas estruturas sociais. Kant fecha sua reflexão sobre o “Provável Início da História Humana” destacando três

insatisfações que marcaram a natureza do ser humano.

• “Trata-se da insatisfação com a providência que governa o curso do mundo como um todo, quando ele considera os males que tanto afligem a raça huma-na com tanta frequência e - ao que parece - sem esperança de algo melhor” (KANT, 2012, p. 60-1).

“A segunda insatisfação dos homens diz respeito à ordem da Natureza com relação à brevidade da vida” (KANT, 2012, p. 62).

A terceira inquietação seria o desejo vazio, já que o desejado nunca será obtido. Trata-se da “imagem sombria daquele tempo louvado pelos poetas como a Idade de Ouro.” Não há mais como retornar à era da simplicidade da inocência, antes da razão. Esta é a forma que Kant usa na tentativa de escrever, através da filosofia, a parte mais

antiga da história humana. OLHAR CRÍTICO

Kant já havia percebido em 1786 que a historiografia não respondia aos anseios do ser humano em se compreender como ser histórico, fazendo uma dis-tinção entre o acontecimento e seu relato. Pois história, para Kant, não está limitada à narrativa de acontecimentos, mesmo porque haveria mui-tas lacunas a serem preenchidas pelo historiador. Muito mais que apenas

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apresentar a sucessão de acontecimentos, o historiador deveria explicar o “porquê” das coisas. Hayden White observa que “a maioria das sequências históricas podem ser contadas de inúmeras maneiras diferentes, de modo a fornecer interpretações diferentes daqueles eventos e dotá-los de sen-tidos diferentes” (WHITE, p. 101). Há uma ideia de que a história seria um modelo de expressão linguística, no qual o historiador apresenta certo conjunto de acontecimentos exteriores à sua mente. Kant abre um espaço de compreensão no qual o acontecimento fora do historiador e sua criação não são completamente distintos; por esta razão ela se torna algo possível e desejável. A história, para Kant, deixa de ser um mero relato, o que em si mesmo é praticamente impossível, para ser interpretação das «coisas que são», possibilitando entender a experiência humana.

Se o historiador, na elaboração de seu relato histórico, escolhe eventos relacionando-os e dando destaque a uma causa, em função do efeito de seu interesse, pode a mesma sucessão de fatos ter uma enorme diversidade de interpretações pelos destaques dados. Muito mais livre seria uma história que propusesse discutir as origens, cuja informação principal é a experiência atual. Neste sentido, as histórias são muito mais que os eventos; elas são, também, o conjunto de rela-ções possíveis, que estes figuram nas demonstrarela-ções de seus relatos.

White, citando Lévi-Straus, destaca que o historiador, por mais meritória que seja sua tentativa de dar vida a um momento histórico, deveria admitir que jamais es-capa completamente da natureza do mito (WHITE, p. 107). A pergunta que se estabelece, a partir desta afirmação, é se há algum demérito em buscar uma ex-plicação efetiva da condição humana em uma “história documental” que reflita a compreensão do ser humano de si mesmo, que não nos remete para aconte-cimentos que não estejam ligados ao espaço, no conceito kantiano do mesmo. Para Kant, o espaço é a condição da manifestação das coisas no nosso espírito, pois

toda experiência exterior pressupõe o espaço. Neste sentido, o espaço para Kant é a priori, pois a condição da possibilidade dos fenômenos é a sua repre-sentação; em outras palavras, sem a representação do espaço não há sequer a possibilidade dos fenômenos.

Já sua compreensão de tempo, lhe possibilita falar de uma história das origens, pois todas as intuições são fundamentadas no tempo; sendo assim, ele é uma repre-sentação necessária. Os fenômenos podem desaparecer, mas o tempo não. Ele fundamenta a experiência. Assim, para Kant, o tempo é uma forma pura da in-tuição sensível; não se trata de um conceito discursivo. A infinitude do tempo significa que toda sua magnitude, toda sua grandeza, é una, ou seja, única, não havendo um tempo presente distinto de um tempo passado ou de um tempo futuro (KANT, 1980).

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e a razão se aliam para reconstruir o desenvolvimento do ser humano, dando sentido à sua condição atual, a aquilo que estabelece sua própria natureza. A sabedoria histórica da humanidade que preservou os textos sagrados, que deram

sentido à compreensão do ser humano ocidental, torna-se importante para que compreendamos o nosso percurso na caminhada do que nos tornamos e na ma-neira de percebermos o mundo. Toda cultura estabelece sua forma de perceber suas origens, na tentativa de explicar porque que as coisas são como são. Nes-te sentido, uma narrativa mítica Nes-tem a liberdade de olhar dentro de si o Nes-tempo, no sentido kantiano, mesmo que o espaço lhe seja ausente, onde o fenômeno não se manifestou. Não há nenhum demérito nisso, mas um exercício saudável de olhar a vida dentro de si mesmo, para tentar, pelo crivo da razão, perceber suas experiências mais profundas, que determinam nossa natureza enquanto seres humanos, enquanto seres sociais que caminham para um fim da história, sendo este fim finalidade e fechamento.

A filosofia ocidental não pode prescindir de um olhar para as Escrituras Sagradas, que chamamos de Bíblia, se quisermos entender a nós mesmos; porque percebe-mos o mundo como o fazepercebe-mos, porque nos percebepercebe-mos desta ou daquela ma-neira. Toda a filosofia ocidental vem carregada da força conceitual e visão de mundo das Escrituras Sagradas. Muito mais que textos de história do passado, são o reflexo de nossas experiências como seres humanos que se atualizam e nos ajudam a nos vermos como somos neste nosso tempo.

As narrativas de Ge. 2-6 não são história fabricada, tão pouco uma história puramente factual, mas uma história provável, como advoga Kant; na qual podemos nos ver no reflexo de seus relatos, percebendo que nossa experiência hoje não é melhor nem pior que as experiências dos tempos remotos, que estabeleceram a consciência do ser humano ocidental.

REFLECTIONS ON THE IMMANUEL KANT’S HISTORY PHILOSOPHY

Abstract: Some Texts of Kant are not so well known. For exemple: “Ideas for a

Uni-versal History of Viewpoint Cosmopolitan” and “Probable Early Human History” when he discusses some aspects of a philosophy of history. These texts, especially the “Probable Early Human History” open the possibility of a discussion about some concepts like probable history and created history. Whereas “an account of the early development of freedom since its original predisposition in human nature is therefore something entirely different than a historical account of the evolution of this freedom, an account that can only be based on historical information,” we can say, with Kant, there is no way to make a documentary historiography of the beginning of human history. For Kant, this would be fundamentally an exercise that allows the imagination.

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This need not be manufactured beginning, “but can be derived from experien-ce it is assumed that this experiment was not better or worse than its origin is present.” We can therefore take a lead wire connected to the experience of reason and follow a script. Kant chooses to use “a sacred document” and develops its reflection from Genesis, a biblical text. I would like to reflect how far this hike Kant help us think philosophically the oldest part of human history and how mythological texts serve as the philosophical and historical documents to a reflection of the human being in its genesis.

Keywords: Kant. Philosophy of the History. Bible. Probable History. Genesis.

Referências

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Filosofia da História. Tradução de Maria Rodrigues e Hans Harden. 2. ed. Brasília: Editora UnB, 2008.

HINKELMANN, Edeltraut et alii (Org.). Dialektisher um historischer Materialismus:

Lehrbu-ch für das maxistisLehrbu-ch-leninistisLehrbu-che Grundlagenstudium. Berlin: Dietz Verlag, 1986.

KANT, Immanuel. Critica da Razão Pura. Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur Moos-burger. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os Pensadores)

KANT, Immanuel. Filosofia da História. Tradução de Cláudio J. A. Rodrigues. São Paulo: Ícone, 2012.

PECORARO, Rossano (Org.) Os Filósofos: Clássicos da Filosofia. (Vol. II) De Kant a Poper. Petrópolis: Vozes; Rio de Janeiro: Editora PUC Rio, 2008.

VOLTAIRE. Filosofia da História. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WHITE, Hayden. “Tópicos do Discurso: ensaio sobre a Crítica da Cultura”. In. Ensaios de

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