• Nenhum resultado encontrado

Sangue-negro: a relação e a influência do petróleo nos principais conflitos bélicos da humanidade

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Sangue-negro: a relação e a influência do petróleo nos principais conflitos bélicos da humanidade"

Copied!
96
0
0

Texto

(1)

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

SANGUE-NEGRO – A RELAÇÃO E A INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NOS PRINCIPAIS CONFLITOS BÉLICOS DA HUMANIDADE

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO

MATHEUS PEREIRA LEITE

(2)

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

MATHEUS PEREIRA LEITE

SANGUE-NEGRO – A RELAÇÃO E A INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO NOS PRINCIPAIS CONFLITOS BÉLICOS DA HUMANIDADE

Monografia apresentada ao Curso de Engenharia de Petróleo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Petróleo.

Orientador: Albino Lopes d‟Almeida

Niterói 2013

(3)
(4)
(5)

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, por me abençoar em todas as minhas ações e sempre me dar força para seguir em frente.

Aos meus pais, Sérgio e Rosa, ao meu irmão, Lucas, a minha namorada, Mayara, e a todos os meus outros familiares, que estão sempre comigo, seja compartilhando bons momentos ou me ajudando nos momentos difíceis, e sem os quais não seria possível chegar até aqui.

Ao meu professor orientador, Albino Lopes d‟Almeida, e a todos os outros professores que contribuíram para a realização desse trabalho.

E a todos os meus amigos, que também estão sempre presentes e contribuíram de alguma forma para a realização dessa monografia.

(6)

"Por quase um século e meio o petróleo vem trazendo à tona o melhor e o pior de nossa civilização. Vem se constituindo em privilégio e em ônus. (...) Ele tem sido o palco para o nobre e o desprezível do caráter humano. (...) Foi isso que fez a era do petróleo."

(7)

RESUMO

A ambição por hegemonia faz parte da natureza humana, assim como a guerra. O petróleo, desde sua descoberta, se transformou em sinônimo de riqueza e poder. Como conseqüência, ele sempre esteve relacionado com os principais conflitos da história da humanidade. Desde a Antiguidade, passando pelas duas guerras mundiais, até os recentes conflitos no Oriente Médio, o petróleo sempre esteve presente, muitas vezes desempenhando um papel-chave. Esse trabalho tem por objetivo relatar essa relação entre petróleo e guerras, de forma a reiterar a importância dessa matéria-prima para a história da humanidade.

(8)

ABSTRACT

The ambition for hegemony is part of human nature, as well as war. Oil, since its discovery, has become synonymous with wealth and power. As a result, he has always been related with the main conflicts in human history. Since ancient times, through the two world wars, until the recent conflicts in the Middle East, oil has always been present, often playing a key role. This paper aims to describe the relationship between oil and war in order to reiterate the importance of this raw material for the history of mankind.

(9)

LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

BP British Petroleum BPD Barris por Dia

EUA Estados Unidos da América IEA International Energy Agency

OAPEC Organization of Arab Petroleum Exporting Countries ONU Organização das Nações Unidas

OPA Office of Price Administration

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo OSCO Oil Service Company of Iran

PAW Petroleum Administration for War PIB Produto Interno Bruto

PLUTO Pipeline Under the Ocean

PNAC Projeto por um Novo Século Americano RAF Real Força Aérea Britânica

(10)

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Mapa da 2ª Guerra Mundial na Europa e no Norte da África... 34

Figura 2.2 Mapa da 2ª Guerra mundial no Pacífico ... 39

Figura 3.1 O Canal de Suez ... 49

Figura 3.2 As Conquistas de Israel na Guerra dos 6 Dias ... 55

Figura 4.1 O rio Shatt-al-Arab ... 73

Figura 4.2 O Campo Petrolífero de Rumaila ... 81

(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 12

I. Objetivo... 12

II. Justificativa... 12

III. Metodologia... 12

IV. Relevância e Contextualização do Trabalho... 12

V. Estrutura do Trabalho... 13

CAPÍTULO 1 – DESDE A ANTIGUIDADE ATÉ A 1ª GUERRA MUNDIAL... 14

1.1. Na Antiguidade... 14

1.2. Na Idade Contemporânea... 14

1.3. Na 1ª Guerra Mundial... 16

1.3.1. O Pré-Guerra... 16

1.3.2. O Conflito... 19

1.3.2.1. O Petróleo nos Campos de Batalha... 20

1.3.2.2. O Suprimento Mundial de Petróleo Durante a 1ª Guerra Mundial... 21

1.3.2.2.1. O Suprimento dos Aliados... 21

1.3.2.2.2. O Suprimento da Alemanha... 24

1.3.3. O Fim do Conflito e a Consagração do Petróleo... 25

CAPÍTULO 2 – O PETRÓLEO E A 2ª GUERRA MUNDIAL... 26

2.1. O Pré-Guerra... 26 2.1.1. Na Alemanha... 27 2.1.2. Na Grã-Bretanha... 27 2.1.3. No Pacífico... 28 2.2. As Batalhas do Petróleo... 30 2.2.1. Na Europa... 30

2.2.1.1. As Batalhas na União Soviética... 31

2.2.1.1.1. A Operação Blau... 31

2.2.1.1.2. A Batalha de Stalingrado... 32

2.2.1.2. A Batalha do Bulge... 32

(12)

2.2.3. No Atlântico... 34 2.2.4. No Pacífico……... 35 2.2.4.1. Pearl Harbor…... 35 2.2.4.2. A Batalha de Balikpapan…... 36 2.2.4.3. A Batalha de Midway... 37 2.2.4.4. A Batalha de Marus... 37

2.2.4.5. A Batalha das Ilhas Marianas... 38

2.2.4.6. A Batalha das Filipinas... 38

2.2.4.7. A Batalha de Okinawa... 38

2.3. Inovações Relacionadas ao Petróleo Feitas Durante o Conflito... 39

2.3.1. A Construção do Big Inch e do Little Inch... 39

2.3.2. A Utilização da Gasolina de 100 Octanas... 40

2.3.3. PLUTO... 41

2.4. O Suprimento de Petróleo Durante a 2ª Guerra Mundial... 41

2.4.1. O Suprimento da Alemanha... 41

2.4.2. O Suprimento do Japão... 42

2.4.3. O Suprimento dos Aliados... 44

2.4.3.1. A Organização da Indústria Petrolífera Britânica... 44

2.4.3.2. A Organização da Indústria Petrolífera Americana... 45

2.4.3.2.1. O Racionamento nos EUA... 46

2.4.3.3. O Suprimento nos Fronts de Batalha... 47

CAPÍTULO 3 – O PETRÓLEO E OS CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO - PARTE 1... 49

3.1. A Guerra no Canal de Suez... 49

3.2. A Guerra dos Seis Dias... 54

3.3. A Guerra do Yom Kippur... 57

3.3.1. O Pré-Guerra... 57

3.3.1.1. No Oriente Médio... 57

3.3.1.2. Nos EUA... 58

3.3.2. O Conflito... 59

(13)

3.4. A Revolução Islâmica no Irã... 65

3.4.1. O Pré-revolução... 65

3.4.2. Os Conflitos... 66

3.4.3. As Consequências da Revolução Islâmica no Irã... 68

CAPÍTULO 4 – O PETRÓLEO E OS CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO - PARTE 2... 73

4.1. A Guerra Irã x Iraque... 73

4.1.1. O Pré-guerra... 73 4.1.2. O Conflito... 74 4.1.3. O Contrachoque do Petróleo... 75 4.1.4. O Fim da Guerra... 78 4.2. A Guerra do Golfo... 79 4.2.1. O Pré-guerra... 79

4.2.2. O Início da Crise – A Invasão do Iraque ao Kuait... 81

4.2.3. Operação Tempestade no Deserto... 84

4.2.4. As Conseqüências da Guerra do Golfo... 85

4.3. A Guerra do Iraque... 87

4.3.1. O Pré-guerra... 87

4.3.2. A Relação do Petróleo com a Guerra do Iraque... 89

4.3.3. A Guerra... 89

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÃO... 91

(14)

INTRODUÇÃO

I – Objetivo

A presente monografia tem por objetivo relatar a relação e a influência do petróleo nos principais conflitos bélicos da humanidade, desde a antiguidade até os dias atuais. Através da abordagem do papel do petróleo antes, durante e após as principais guerras do mundo, objetiva-se reiterar a importância dessa matéria-prima para a história da humanidade.

II – Justificativa

A relação entre petróleo e guerras é um assunto de extrema importância, não só para a indústria de petróleo, mas também para a sociedade em geral, uma vez que o mundo atual é completamente dependente dessa matéria-prima. Apesar de ser um assunto extremamente relevante, ainda não foi abordado em projetos finais do curso de Engenharia de Petróleo da Universidade Federal Fluminense.

III – Metodologia

O presente trabalho foi feito através de revisão bibliográfica, cujas principais fontes foram livros e artigos disponíveis na internet. Destaque para o livro “O Petróleo: Uma história mundial de conquistas, poder e dinheiro”, de Daniel Yergin (2009), que por ser uma obra que relata a história da indústria petrolífera mundial de forma profunda e detalhada, foi a base para o desenvolvimento desse trabalho.

IV – Relevância e Contextualização do Trabalho

A guerra faz parte da natureza humana. Diversos são os motivos que levam o ser humano a entrar em conflito com seus semelhantes: raça, religião, territórios, riquezas, poder, etc. Entretanto, a ambição por poder e hegemonia pode ser considerada o principal fator que há mihares de anos leva o ser humano à guerra.

O petróleo, a partir de sua descoberta, tornou-se uma grande fonte de riqueza. Com o passar dos anos, ele deixou de ser apenas uma maneira de enriquecer, passou a ser vital para civilização moderna e, com isso, tornou-se a maior fonte de poder e hegemonia existente no mundo. E, consequentemente, a maior fonte de guerras.

(15)

V – Estrutura do Trabalho

A monografia proposta está dividida em 3 partes. Na primeira, é feita uma introdução ao trabalho, na qual são apresentados objetivo, justificativa, relevância e metodologia do mesmo.

Na segunda parte, é feito o desenvolvimento do assunto proposto em 4 capítulos. No capítulo 1 é abordada, de forma sucinta, a influência do petróleo em conflitos na Antiguidade, como a Guerra de Tróia e a tomada da Babilônia pela Pérsia, e também em conflitos da Idade Contemporânea, como a Guerra de Secessão e a Guerra Russo-Japonesa. Por fim, é relatada a influência do petróleo na 1ª Guerra Mundial, abordando o seu papel no cenário pré-guerra, a transformação proporcionada por ele nos combates e a questão do suprimento de petróleo dos principais países envolvidos na guerra.

No capítulo 2 é relatada a influência do petróleo na 2ª Guerra Mundial, abordando a sua relevância no cenário pré-guerra e nas principais batalhas do conflito, as inovações relacionadas ao petróleo ocorridas durante a guerra e o suprimento de petróleo dos principais países participantes da guerra.

Nos dois capítulos seguintes é relatada a influência do petróleo nos principais conflitos ocorridos no Oriente Médio após a 2ª Guerra Mundial, retratando os papéis que o petróleo teve nessas guerras – desde motivador até arma política. No capítulo 3 são abordados os principais conflitos ocorridos entre o fim da 2ª Guerra e o 2º Choque do Petróleo: Guerra no Canal de Suez, Guerra dos Seis Dias, Guerra do Yom Kippur e Revolução Islâmica no Irã. No capítulo 4 são analisados os principais conflitos a partir do Contra-choque do Petróleo: Guerra Irã-Iraque, Guerra do Golfo e Guerra do Iraque.

Na terceira parte, capítulo 5, é feita uma avaliação final sobre a relação entre petróleo e guerras.

(16)

CAPÍTULO 1

DA ANTIGUIDADE ATÉ A 1ª GUERRA MUNDIAL

1.1) Na Antiguidade

Milhares de anos antes de Edwin L. Drake encontrar petróleo em Titusville, na Pensilvânia, a humanidade já conhecia essa preciosa substância. Os primeiros registros de betume vieram da Mesopotâmia, três mil anos antes de Cristo. Já na Antiguidade, o betume era um valioso artigo de comércio: era utilizado em paredes, como argamassa; em embarcações, como impermeabilizante; na construção de estradas; e como remédio. No século I D.C., o naturalista romano Plínio descreveu o uso farmacêutico do betume, destacando a eficácia deste contra várias enfermidades, como hemorragias e feridas.

Data da antiguidade também uma função que se tornaria recorrente e decisiva na história da humanidade: a bélica. O petróleo, convertido em chama, foi uma das principais armas da Guerra de Tróia, conflito entre Grécia e Tróia, datado por volta de 1250 A.C., narrado de forma lendária e poética por Homero, na Ilíada. Muitos historiadores e estudiosos ainda discutem se o conflito de fato ocorreu, apesar da descoberta das ruínas da cidade de Tróia. O poder do fogo proveniente do petróleo também foi decisivo durante a tomada da Babilônia pela Pérsia, em 539 A.C. A partir do século VII, o fogo grego – oleo incendiarum – substância constituída pela mistura de petróleo e cal, foi utilizado pelos bizantinos para fins bélicos, e foi considerado durante muito tempo mais destrutivo que a pólvora (YERGIN, 2009).

1.2) Na Idade Contemporânea

O grito que ecoou em agosto de 1859 através dos estreitos vales do oeste da Pensilvânia – de que o maluco yankee, o Coronel Drake, havia encontrado petróleo – deu início a uma imensa corrida ao petróleo, que nunca mais teve fim desde então. E, daí em diante, na guerra e na paz, o petróleo ganharia o poder de construir ou destruir nações e seria decisivo nas grandes batalhas políticas e econômicas do século XX. (YERGIN, 2009, p. 886)

A partir da descoberta de Drake, em 27/08/1859, o petróleo passou a estar relacionado, de algum modo, com a maioria dos conflitos da humanidade. A Guerra de Secessão – conflito civil ocorrido nos EUA de 1861 a 1865, entre os estados do sul e os do norte, motivado principalmente pelas diferenças econômicas e pela questão da escravatura – influenciou o primeiro boom do petróleo, ocorrido em Oil Regions, na Pensilvânia, a partir de 1861. Com a guerra, os estados do norte não tiveram mais acesso à terebintina do sul, da qual se obtinha o canfeno, um óleo iluminante barato, o qual foi substituído pelo querosene proveniente do petróleo de Oil Regions. Além disso, devido ao conflito, os

(17)

estados do norte não tiveram mais participação nos lucros gerados pela exportação do algodão; a exportação do petróleo da Pensilvânia para a Europa compensaria essa perda, fornecendo uma nova fonte de lucros. E, com o fim da guerra, milhares de veteranos se mudaram para Oil Regions, atraídos pelo sonho de riqueza proporcionado pelo petróleo.

Também nos EUA, ocorreu a chamada Guerra do Petróleo, em fevereiro de 1872, devido à tentativa de John D. Rockfeller, presidente da Standard Oil Company, de monopolizar a indústria de refino do país. Na ocasião, 3 mil homens, representando os produtores independentes que estavam sendo extremamente prejudicados pela South Improvement Company (empresa criada por Rockfeller com o único objetivo de possibilitar o monopólio), se mobilizaram, boicotando refinadores e ferrovias aliados da Standard Oil. Apesar do esforço ter resultado no fechamento da South Improvement, Rockfeller atingiu seu objetivo. E, na primavera de 1872, converteu-se “no chefe do maior grupo de refinarias do mundo” (YERGIN, 2009, p. 44).

Em março/1873, ocorreu outro fato que demonstrou como o petróleo estava ligado com a atividade militar, mesmo que de forma indireta. Os suecos irmãos Nobel, donos de uma grande fábrica de armamentos, entraram na indústria do petróleo quando Robert, o irmão mais velho, estava em uma viagem pelo Cáucaso a procura de suprimentos de madeira para a fabricação de coronhas de espingardas (a empresa havia fechado um acordo lucrativo com o governo russo para o fornecimento de espingardas). Ele desembarcou em Baku, onde a indústria de petróleo começava a proliferar, e foi atraído pelo negócio. Posteriormente, os irmãos criariam a Companhia de Produção de Petróleo Irmãos Nobel, que se destacaria na indústria petrolífera russa.

Outra demonstração da relação indireta entre petróleo e a guerra foi o fato de Marcus Samuel, dono da companhia de transporte e armazenagem de petróleo M. Samuel & Co., ter feito fortuna como um dos principais fornecedores de armas e suprimentos para o Japão durante a guerra contra a China, ocorrida entre 1894 e 1895. Marcus foi o fundador da Shell Transport and Trading Company, que mais tarde seria parte do Royal Dutch-Shell Group, empresa que viria a ter uma posição de destaque na indústria petrolífera mundial.

No final do século XIX, duas guerras influenciaram o mercado petrolífero. A Guerra dos Bôeres, conflito que ocorreu de 1899 a 1902 na África do Sul, entre as Repúblicas Bôeres da África do Sul (compostas por colonos descendentes de holandeses e franceses) e a Grã-Bretanha, ocasionou uma alta nos preços do petróleo. Já a Guerra dos Boxers, movimento antipopular e antiocidental ocorrido entre 1899 e 1900 na China, arrasou o país e sua economia, acabando com “um dos mais promissores mercados da Shell” (YERGIN, 2009, p. 131).

(18)

16 No início do século XX, ocorreu a Guerra Russo-Japonesa, com a qual a indústria petrolífera também estava relacionada. O conflito, que ocorreu entre 1904 e 1905, teve como principais motivadores a disputa pelo controle dos territórios da Manchúria e da Coréia e a crise que o regime czarista de Nicolau II enfrentava na Rússia. A região do Cáucaso (hoje Azerbaijão) era o centro dos descontentamentos e dos protestos russos – segundo Yergin (2009, p. 144), Baku era a “estufa revolucionária do Cáspio”, onde a indústria do petróleo propiciou o campo de treinamento para um grande número de líderes bolcheviques, como Mikhail Kalínin, Klementi Voroshílov e Joseph Djugashvíli, que mais tarde seria conhecido por Joseph Stalin. Diante da crise, o czar viu na guerra contra o Japão uma solução para rechaçar os protestos e restaurar a paz no Império. Porém, a estratégia não deu certo, e a guerra piorou o cenário russo.

Em 1905, ocorreu em São Petersburgo o chamado Domingo Sangrento, no qual trabalhadores foram recebidos a tiros pela polícia quando se dirigiam ao Palácio de Inverno para fazer reinvidicações ao czar. O Cáucaso foi tomado por greves e pelo conflito étnico entre os armênios cristãos, que eram os principais líderes do petróleo na região, e os tártaros mulçumanos, apoiados pelo governo. Durante o conflito, os tártaros incendiaram centenas de torres e poços de petróleo, destruindo a indústria petrolífera de Baku. Com o fim da revolução e da guerra, em 1905, o resultado se mostrou desastroso para a Rússia: dois terços dos poços de petróleo do país foram destruídos.

Entretanto, foi a invenção do motor de combustão interna que tranformou o papel estratégico do petróleo na arte da guerra. A revolução causada pela introdução do motor a combustão interna no final do século XIX mudou dramaticamente a natureza do petróleo para as nações e para a humanidade, e em poucos anos o “ouro negro” ascenderia ao seu status de commodity estratégico vital para a segurança nacional das grandes potências (MAUGERI, 2006).

1.3) Na 1ª Guerra Mundial

“Os Aliados flutuaram para a vitória em uma onda de petróleo.” (Visconde Curzon de Kedleston)

1.3.1) O Pré-Guerra No final do século XIX, o governo alemão tinha começado a sua tentativa em larga

escala em direção ao reconhecimento da Alemanha como potência mundial e à supremacia global política, estratégica e econômica – a chamada Welpolitik. Porém, a Inglaterra possuía a supremacia em alto-mar, com sua Armada Real movida a carvão galês e respeitada em todos os mares do mundo. A Alemanha tinha consciência de que a supremacia inglesa em

(19)

alto-mar poderia impedir suas ambições e que, por isso, deveria construir uma armada que pudesse competir com a inglesa. Assim, em 1897, os alemães começaram sua corrida naval. O governo britânico, alarmado com a segurança do Império e com a possibilidade de perder a liderança industrial, deu início à modernização de sua armada, através de um amplo programa de reconstrução, que teve como personagens fundamentais John Arbuthnot Fisher e Winston Spencer-Churchill.

John Fisher era um almirante inglês, que posteriormente passaria a ser conhecido como “o chefão do óleo", e tinha como uma das paixões de sua vida a Armada Real Inglesa. No início do século XX, defendia arduamente o avanço tecnológico da marinha, tendo como principal objetivo a mudança da propulsão dos navios do carvão para o óleo, pois acreditava que o óleo combustível provocaria uma revolução na estratégia naval (YERGIN, 2009). Porém não tinha o apoio dos outros almirantes, que confiavam no carvão galês e relutavam em mudar. Em meados de 1903, o primeiro teste de uso de óleo combustível num encouraçado inglês foi feito, em Portsmouth, porém foi um fracasso. O objetivo do teste era que o navio, chamado de HMS (His Majesty Ship) Hannibal, saísse do porto movido a carvão e durante a viagem passasse a ser movido por óleo. Enquanto queimava carvão, tudo ocorrera normalmente, porém quando passou a utilizar óleo, um queimador defeituoso fadou o teste ao fracasso. Em 1904, Fisher, já como Primeiro Lorde do Mar, estava convencido de que a Inglaterra enfrentaria a Alemanha imperial, e mais convencido ainda de que o petróleo desempenharia um papel fundamental nessa inevitável guerra.

Apesar da ameaça alemã, a Inglaterra estava dividida em relação à corrida naval, e nesse cenário surgiu Winston Churchill, à época Secretário do Interior. No início, ele era contra a expansão naval, pois não acreditava num conflito inevitável contra a Alemanha, e por isso defendia um acordo entre os dois países, para assim liberar dinheiro para reformas sociais. Porém, após um ato imperialista do governo alemão – que mandou um navio canhoneiro, Panther, ao porto marroquino de Agadir – Churchill concluiu que a Alemanha tinha por real objetivo a guerra, e passou a defender arduamente o fortalecimento da Armada Real, pois acreditava que se a Inglaterra perdesse sua supremacia naval, toda a riqueza acumulada ao longo da história do império se perderia. (YERGIN, 2009).

Em 1911, Churchill se tornou Primeiro Lorde do Almirantado e, ao aliar-se a Fisher no processo de modernização da armada, foi logo instruído por ele sobre a questão do óleo: Lembre-se de que o óleo, ao contrário do carvão, não se deteriora, e assim é possível acumular grandes estoques em tanques subterrâneos, de modo a evitar a destruição por incêndio, bombardeios ou incendiários, e a leste de Suez o óleo é mais barato que o carvão! (...) Quando um vapor de carga pode economizar 78% em combustível e ganhar 30% em espaço para carga com a adoção da propulsão por combustão interna e praticamente se livrar

(20)

18 dos foguistas e maquinistas, é óbvio que com o óleo uma prodigiosa mudança está às nossa portas. (YERGIN, 2009, p. 173,174)

Ao chegar ao almirantado, Churchill se deu conta que os encouraçados de guerra – a principal parte da frota – ainda eram propelidos a carvão, apesar de a Armada já possuir embarcações propelidas somente a óleo (56 destróieres e 74 submarinos). Assim, decidiu criar uma nova linhagem de encouraçados, com armamento e blindagem superiores e, acima de tudo, mais rápidos, pois em sua concepção, a velocidade era a principal arma no combate em mar. Essas mudanças só seriam possíveis com o petróleo. Além de oferecer maior velocidade e aceleração mais rápida, o óleo admitia o reabastecimento no mar, com menos energia humana necessária se comparado ao carvão, além de possibilitar um raio de ação maior. E Churchill tinha consciência disso:

À medida que um navio a carvão usava seu carvão, precisava-se de um número cada vez maior de homens, que eram retirados das armas para transportar com pás o carvão de depósitos distantes e incômodos até outros mais próximos das fornalhas ou até as próprias fornalhas, diminuindo assim a eficiência do combate do navio talvez no momento mais crítico da batalha (...) O uso do óleo possibilitava, em qualquer tipo de navio, mais poder de fogo e mais velocidade contra menos tamanho ou menor custo. (YERGIN, 2009, p. 174)

Entretanto, Churchill criou uma comissão, liderada por Fisher, para avaliar as questões relacionadas à conversão do carvão para o óleo, como preço, disponibilidade e segurança do fornecimento. Após o comitê concluir que o óleo combustível era extremamente mais vantajoso que o carvão, o governo britânico deu início, em 1912, ao programa naval que seria referido por Churchill como o “mergulho do destino”: a criação de uma divisão ligeira, a classe Queen Elizabeth, composta de cinco encouraçados movidos somente a óleo. Posteriormente, mais dois programas navais seriam feitos (1913 e 1914), com todos os navios movidos somente a óleo, constituindo, em termos de custo e de mudança de rumo, “o maior acréscimo da história da Armada Real até aquela época” (YERGIN, 2009, p. 175).

Após o governo britânico decidir que sua armada seria movida a óleo, a auto-suficiência energética do país, que era baseada no carvão, fora perdida para sempre, e a busca por fontes de petróleo estáveis e invulneráveis se tornou uma necessidade vital para a Grã-Bretanha (MAUGERI, 2006). Havia apenas duas escolhas para o fornecimento de petróleo: o poderoso Royal Dutch-Shell Group, liderado por Henri Deterding e Marcos Samuel; e a Anglo-Persian Oil Company, empresa menor e em delicada situação financeira, que tinha nos campos petrolíferos da Pérsia sua principal atividade, liderada por Charles Greenway.

(21)

A Anglo-Persian ofereceu um contrato de abastecimento de 20 anos ao Almirantado, em troca de uma ajuda financeira do governo inglês. Greenway, que tinha uma rivalidade intensa com a Royal Dutch-Shell, defendia veementemente a idéia de que, sem a ajuda do governo, a Anglo-Persian não teria outra saída senão ser absorvida pela empresa de Deterding e Samuel, que assim teria o monopólio do óleo. Como consequência, a Armada Real ficaria a mercê da Royal Dutch-Shell, sujeita a preços absurdos de petróleo. Além disso, Greenway dizia que se a Anglo-Persian fosse absorvida, o governo alemão a controlaria, uma vez que a Royal Dutch, liderada pelo holandês Deterding, controlava a Shell, e o governo holandês era suscetível à pressão alemã. As teses de Greenway foram aceitas por Fisher, e logo depois pelo Ministério das Relações Exteriores, mas não pelo Almirantado. Porém, após crescerem as dúvidas sobre disponibilidade de petróleo em outros lugares além da Pérsia, e a pressão de Churchill sobre o Almirantado – que argumentava que o óleo era indispensável para o acesso do Império Britânico à outras matérias-primas fundamentais para a economia, como milho e algodão – o Almirantado mudou de idéia.

Assim, após Churchill conseguir a aprovação do Parlamento, a Anglo-Persian passou a ter o governo britânico como acionista majoritário – segundo Maugeri (2006), esse fato marcou pela 1ª vez na história a conexão estratégica entre petróleo, segurança nacional e poder mundial.

1.3.2) O Conflito

A 1ª Guerra Mundial se iniciou em 28/07/1914. O estopim para o conflito foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, e de sua esposa, a duquesa Sofia de Hohenberg, ocorrido em Saravejo, em 28/06/1914, por um estudante sérvio pertencente a um grupo nacionalista, que lutava pela unificação dos territórios que continham sérvios. A guerra foi disputada entre as principais potências européias, que se dividiram em 2 grupos: a Tríplice Aliança, inicialmente formada por Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália, e a Tríplice Entente, inicialmente formada por Rússia, França e Inglaterra. No decorrer do conflito, alterações ocorreram nessas alianças, como a mudança de lado da Itália, em 1915, a saída da Rússia do conflito, em 1917, e a entrada dos EUA, como aliados da Tríplice Entente, também em 1917.

Com o início dos combates, veio a revolução causada pelo petróleo nos campos de batalha, como escreveu Yergin (2009, p. 187): “Durante a 1ª Guerra Mundial, o óleo e o motor de combustão interna mudaram todas as dimensões do conflito armado, até mesmo o próprio significado da mobilidade na terra, no mar e no ar.”

(22)

20 1.3.2.1) O Petróleo nos Campos de Batalha

Antes da 1ª Guerra, as operações militares em terra eram baseadas nos sistemas ferroviários e na capacidade muscular de homens e animais: tropas e suprimentos eram transportados até a extremidade da linha férrea, e a partir dali a movimentação se dava a cavalo ou a pé. Essas operações estavam, portanto, sujeitas à inflexibilidade dos sistemas ferroviários e à resistência física dos homens e dos cavalos.

A Alemanha dispunha de uma superioridade em ferro e carvão, e de um sistema ferroviário bem estruturado e não atribuía importância estratégica ao petróleo; por isso, o governo alemão acreditava que tomaria o Ocidente de forma rápida e decisiva. Porém, o petróleo deu sua primeira demonstração de importância estratégica, de uma forma inusitada, no início de setembro/1914, quando a Alemanha estava prestes a tomar Paris. Com o exército alemão a apenas 64 km de distância, a cidade evacuada e o comandante-chefe do exército francês considerando uma retirada, o governador militar de Paris, general Joseph Gallieni, recusou-se a entregar a cidade aos alemães e iniciou um contra-ataque. Apesar do sucesso inicial da ofensiva, as forças francesas precisavam de reforços que, localizados nos arredores de Paris, estavam impossibilitados de chegarem ao front – o sistema ferroviário francês fora destruído; os veículos militares disponíveis eram poucos; e, com a chegada de mais tropas germânicas, não havia tempo para se deslocarem a pé. Nesse momento crítico, Gallieni viu no motor a combustão interna dos 3 mil táxis de Paris uma possível solução para a vitória, e decidiu que uma armada de táxis seria organizada para deslocar milhares de soldados franceses até o front. Assim, de 06 a 08/09, os 3 mil táxis saíram em comboios de 25 a 50 carros, levando rapidamente milhares de soldados ao ponto crítico da batalha, sendo decisivos para o fortalecimento da linha francesa e a conseqüente retirada alemã.

Quando a Alemanha suspendeu a retirada, a 1ª Guerra transformou-se numa guerra estática de defesa, devido ao uso difundido da metralhadora e das trincheiras. O primeiro a apresentar uma solução ao impasse da guerra das trincheiras foi o coronel inglês Ernest Swinton que, juntando seu conhecimento sobre o potencial da metralhadora e experiências militares com tratores da agricultura, idealizou um veículo militar, de motor de combustão interna e movido sobre tratores, com blindagem resistente às balas de metralhadora: o tanque. Essa solução não foi bem vista pelo alto comando inglês. Churchill, pelo contrário, gostou da idéia, e passou a destinar os fundos da Armada para o desenvolvimento do veículo. O tanque foi utilizado pela primeira vez na Batalha do Somme, em 1916, e teve papel fundamental na Batalha de Amiens, em 08/08/1918, dia que seria chamado como o “dia negro do exército alemão na história da guerra” pelo general Erich Ludendorff (YERGIN,

(23)

2009, p. 191). A importância do tanque foi tanta que o Alto Comando alemão atribuiu à introdução deste como a primeira razão para a derrota na guerra.

O carro e o caminhão também foram de extrema importância para a vitória dos aliados na 1ª Guerra Mundial, superando o bom transporte ferroviário alemão no deslocamento de tropas e suprimentos. Em 1914, o exército inglês contava apenas com 827 carros a motor; no fim do conflito, a frota militar se expandiu para 56 mil caminhões, 23 mil carros a motor e 34 mil motocicletas e bicicletas motorizadas. Muitos dizem que a vitória dos aliados sobre a Alemanha foi “a vitória do caminhão sobre a locomotiva” (YERGIN, 2009, p. 192).

Assim como os veículos terrestres, o avião também teve papel de destaque no conflito. Antes da 1ª Guerra, a aviação não tinha utilização militar. Porém, após o início do conflito, a situação mudou, como relatou um comentarista da aviação inglesa no início de 1915:

Desde que eclodiu a guerra, o aeroplano fez coisas tão surpreendentes que até mesmo os menos imaginativos começam a perceber que ele constitui um grande auxiliar das operações navais e militares, e possivelmente até mesmo um veículo para uso corrente quando cessa a guerra. (YERGIN, 2009, p. 192)

O aeroplano desempenhou papel militar importante primeiramente nas áreas de reconhecimento e observação. Logo depois, surgiu o avião de combate e, com ele, os bombardeios tático e estratégico – o primeiro foi fundamental para o exército inglês devastar os turcos e conter o avanço alemão no front em 1918, e o segundo foi iniciado pelos alemães na “primeira batalha da Grã-Bretanha”.

Já no mar, apesar da corrida naval ter sido um dos motivadores do conflito, não houve muitos confrontos – a Grande Frota Inglesa e a Armada Alemã de alto-mar se enfrentaram uma única vez, em 31 de maio de 1916, na Batalha de Jutland.

1.3.2.2) O Suprimento Mundial de Petróleo Durante a 1ª Guerra Mundial

O petróleo mudou radicalmente os combates militares, tanto em terra quanto no ar e no mar. Assim, devido à sua utilização nos campos de batalha, a questão do suprimento de petróleo foi fundamental para o desfecho da 1ª Guerra.

1.3.2.2.1) O Suprimento dos Aliados

Um pouco antes da 1ª Guerra, a Inglaterra fechara um acordo com a Anglo-Persian, na qual seria dona de 51% das ações da empresa. Porém, antes de a compra ser finalizada, o conflito se iniciara e o empreendimento na Pérsia, que em 1914 representava apenas 1%

(24)

22 do petróleo mundial, não era prioridade do exército inglês. Apesar disso, a produção de petróleo persa não sofreu perturbações intensas durante a guerra, representando, no final de 1916, 1/5 da necessidade de óleo da Armada Inglesa, e aumentando mais de dez vezes entre 1912 e 1918 – passou de 1,6 mil barris por dia para 18 mil.

Foi durante a guerra que a Anglo-Persian começou a gerar lucros e, consequentemente, crescer: comprou a British Petroleum, uma das maiores redes de distribuição de petróleo do Reino Unido e desenvolveu uma frota de petroleiros, passando de uma empresa que produzia exclusivamente petróleo bruto para uma companhia integrada de petróleo. Além disso, seu diretor administrativo, Charles Greenway, tinha por objetivo transformar a Anglo-Persian numa empresa totalmente inglesa, que defenderia patrioticamente o petróleo do Império Britânico. Greenway não media esforços para atacar a sua rival, a Royal Dutch-Shell, frequentemente acusando o grupo de deslealdade, por lucrar com a venda de produtos do petróleo para a Alemanha.

Apesar das acusações, a Royal Dutch-Shell foi peça-chave no fornecimento de petróleo para a Inglaterra durante a guerra – adquiria e organizava, ao redor do mundo, os suprimentos para o exército inglês – e foi fundamental para a vitória dos Aliados – assegurava a entrega dos produtos oriundos de Borneu, Sumatra e EUA no ponto final das linhas férreas e nos campos de aviação da França. Marcos Samuel, acusado de desleadade por Greenway, mostrou-se um verdadeiro patriota inglês, ao arquitetar um plano em 1915 para assegurar o fornecimento de explosivos da Inglaterra. No início da guerra, o tolueno, ingrediente essencial do explosivo TNT, era extraído do carvão, porém a produção mostrou-se insuficiente. A Shell possuía uma fábrica que extraía tolueno do petróleo em Roterdam, na Holanda, que estava sendo utilizada pelo exército alemão para a fabricação de explosivos; uma equipe, liderada por Samuel, desmontou em uma noite a fábrica peça por peça, transportando-a para Inglaterra. Mais tarde, a fábrica, junto com outra construída posteriormente pela Shell, garantiria o fornecimento de TNT para o exército britânico, sendo responsável pela fabricação de 80% do tolueno utilizado em combate.

Apesar do fornecimento de petróleo vindo da Anglo-Persian e da Royal Dutch-Shell, a Inglaterra enfrentou uma escassez de petróleo a partir de 1916. Essa crise do petróleo inglês aconteceu por duas razões principais: a ação dos submarinos alemães movidos a diesel, que destruíram vários petroleiros (como o John D. Archbold, da Standard Oil of New Jersey, e o Murex, da Shell); e o aumento exponencial da demanda, devido à utilização massiva do petróleo nos campos de batalha. Em 1917, a situação era crítica, com os alemães cada vez mais bem-sucedidos nos ataques de submarinos. Nesse cenário, o secretário de Estado para as Colônias, Walter Long, constatou a importância do petróleo

(25)

para a guerra: “Pode-se ter homens, munições e dinheiro, mas se não se tem óleo, que hoje é a grande força motriz, todas as demais vantagens com que se conta são de pouco valor” (YERGIN, 2009, p. 198).

Diante da crise, vários comitês e órgãos foram criados, com o objetivo de coordenar a política do petróleo, como o Poder Executivo do Petróleo. Na França, a crise também estava grave, e foi criado o Comité Général Du Pétrole, inspirado no Poder Executivo do Petróleo inglês. Em ambos os países, os EUA e seus navios-petroleiros surgiram como solução para a crise. Em dezembro/1917, o primeiro-ministro, Geroges Clemenceau, ao ser advertido que o país poderia ficar sem petróleo em março/1918, fez um apelo ao presidente americano, Thomas Woodrow Wilson, dizendo que a gasolina era “tão vital quanto o sangue nas próximas batalhas” (YERGIN, 2009, p. 198). Diante dessa situação, Estados Unidos, Inglaterra, França e Itália se reuniram em fevereiro/1918, na Conferência de Petróleo Interaliada, objetivando uma ação conjunta em relação ao suprimento de petróleo dos aliados. A conferência, aliada ao combate aos submarinos alemães e à contribuição efetiva da Standard Oil of New Jersey e da Royal Dutch-Shell, fizeram com que os problemas de suprimento dos países aliados fosse resolvido.

Os EUA passaram então a ser responsáveis por 80% das necessidades bélicas de petróleo dos aliados. Com isso, a produção americana, que em 1914 era de aproximadamente 730 mil bpd e correspondia a 65% da produção mundial, passou para 918 mil bpd em 1917, correspondendo a 67% do total mundial. Porém, ao entrar na guerra e “salvar” os aliados, os EUA se viram diante de um desafio: conciliar as demandas da guerra com as da sua crescente economia industrial.

Para isso, foi criada em agosto de 1917 a Divisão de Petróleo da Administração do Combustível, com o objetivo principal de estabelecer uma relação inédita de trabalho entre o governo e a indústria de petróleo. Atuando em conjunto com o Comitê Nacional de Petróleo para o Serviço de Guerra (que organizava o suprimento de óleo americano para a 1ª Guerra), a Divisão de Petróleo criou um novo padrão de colaboração entre governo e empresa privada, que contrastava com a guerra travada entre o governo e a extinta Standard Oil, de John D. Rockfeller, há uma década atrás. Apesar de alguns problemas, como aumento do preço do petróleo – que dobrou entre 1914 e 1918, mas foi controlado posteriormente – e a restrição de atividades essenciais (como os “Domingos sem gasolina”), que geraram protestos, os EUA não chegaram a enfrentar uma crise do petróleo.

(26)

24 1.3.2.2.2) O Suprimento da Alemanha

Se por um lado os países aliados não sofreram uma crise prolongada de petróleo, o mesmo não pode se dizer da Alemanha. Após bloqueios dos Aliados, a única fonte de petróleo possível para os alemães era a Romênia – segundo maior produtor europeu na época, atrás da Rússia – que tinha declarado guerra contra a Áustria-Hungria e, consequentemente, contra a Alemanha. O Alto Comando alemão tinha consciência de que a vitória contra a Romênia era imprescindível para a continuidade da ofensiva alemã, assim como o Comitê de Guerra do Gabinete Britânico tinha consciência de que não poderia medir esforços para impedir que os alemães tomassem posse do petróleo romeno.

Com a inevitável vitória alemã nos campos de batalha da Romênia, o governo britânico decidiu destruir a indústria petrolífera romena. A missão foi dada ao coronel John Norton-Griffiths, conhecido como “Jack Império”. Segundo Daniel Yergin (2009, p. 204), Jack Império cumpriu sua missão com sucesso:

O aparato dos campos foi destruído; dinamitaram-se torres; foram tapados poços com pedras, pregos, lama, correntes quebradas, pedaços de broca e o que estivesse à mão; os oleodutos foram inutilizados; e enormes tanques de armazenamento foram incendiados, explodindo com grandes estrondos. Quando os alemães chegaram, Norton-Griffiths já estava fora de alcance, e havia deixado um rastro de detruição: cerca de 70 refinarias destruídas e aproximadamente 800 mil toneladas de petróleo bruto e derivados perdidos. A intenção do governo britânico fora atingida, e a produção de petróleo romeno ficou extremamente debilitada durante todo o ano de 1917, recuperando-se somente em 1918.

Assim que conseguiu recuperar a produção na Romênia, a Alemanha passou a vislumbrar outra fonte de petróleo, para tentar reverter a situação na 1ª Guerra: Baku, no Cáucaso. Inicialmente, os alemães tentaram chegar ao petróleo de Baku pacificamente, através do Tratado de Brest-Litovsk, assinado com a Rússia revolucionária em março/1918, que a esta altura já tinha se retirado do conflito. Porém, as forças turcas, aliadas da Alemanha, avançaram em direção à região petrolífera, e o governo britânico novamente interveio, enviando uma tropa, que tinha por objetivo impedir que os turcos chegassem ao petróleo e, se necessário, repetir a façanha de Jack Império na Romênia. A luta entre ingleses e turcos durou um mês, tempo necessário para enfraquecer a Alemanha ainda mais. Quando os ingleses se retiraram e os turcos tomaram Baku, “já era muito tarde para fazer algo em favor dos alemães e de seu suprimento de petróleo” (YERGIN, 2009, p. 204).

(27)

1.3.3) O Fim do Conflito e a Consagração do Petróleo

A perda de Baku foi um golpe duro para a Alemanha, que não tinha mais opções de suprimento de petróleo e via suas reservas se esgotarem. Em outubro/1918, a situação era desesperadora, e a vida da Alemanha na 1ª Guerra estava com os “dias contados”: o suprimento para a indústria bélica, movida a óleo, esgotaria em dois meses. Diante dessa situação, em 11/11/1918, a Alemanha se rendeu e o armistício foi assinado. Terminava assim a 1ª Guerra Mundial.

Dez dias após o fim da guerra, a Conferência de Petróleo Interaliada se reuniu em Londres, para um jantar, onde o senador Bérenger, diretor do Comité Général Du Pétrole, resumiu a importância do petróleo, o qual chamava de “o sangue da terra”, no conflito e nos anos que viriam:

O petróleo foi o sangue da vitória (...) A Alemanha se jactou demasiadamente de sua superioridade em ferro e em carvão, mas não deu a devida importância à nossa superioridade em petróleo. Como o petróleo foi o sangue da terra, ele será do mesmo modo o sangue da paz. Nessa hora, no início da paz, nossas populações civis, nossas indústrias, nosso comércio, nossos fazendeiros estão pedindo mais petróleo, sempre mais petróleo, mais gasolina, sempre mais gasolina. Mais petróleo, sempre mais petróleo! (YERGIN, 2009, p. 205)

(28)

CAPÍTULO 2

O PETRÓLEO E A 2ª GUERRA MUNDIAL

“O petróleo foi um produto indispensável, em todas as suas formas, para as campanhas aliadas ao redor do mundo. Sem ele, a 2ª Guerra Mundial nunca poderia ter sido vencida pelos Aliados” (MILLER, 2002). Essa frase de Keith Miller resume a importância do petróleo no “de longe maior, e provavelmente mais sanguinário, conflito” da história (BALDWIN, 1959). A guerra, que iniciou-se em 01/09/1939 com a invasão da Polônia pela Alemanha, foi disputada entre as principais potências mundiais, que se dividiram em 2 grupos: os Aliados, que tinham como principais forças os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a União Soviética; e o Eixo, liderados pela Alemanha, Itália e Japão.

O petróleo, em suas diversas formas, foi a fonte de produtos bélicos indispensáveis, como tolueno para as bombas, a borracha sintética para os pneus, o combustível utilizado nos veículos terrestres (jipes, caminhões, tanques), navios e aviões, além de lubrificantes para as armas e máquinas.

Enquanto a 1ª Guerra Mundial se caracterizou pela estaticidade, a 2ª Guerra Mundial se caracterizou pela mobilidade. Devido a isso, muito mais petróleo foi consumido na 2ª Guerra, como descreve Yergin (2009, p.427 e 428):

Durante a 2ª Guerra, nos momentos de pico, as forças americanas na Europa usaram 100 vezes mais gasolina do que na 1ª Guerra. A tropa americana típica, durante a 1ª Guerra, usava 4 mil HP; na 2ª Guerra, 187 mil HP. (...) cerca da metade da tonelagem total embarcada pelos EUA durante a guerra foi de petróleo. O Serviço de Inteligência calculava que, quando um soldado americano partia para combater no exterior, ele necessitava de 30 kg de suprimentos e equipamentos para manter-se, e a metade era de produtos derivados de petróleo.

Michael Klare (2001 apud FUSER, 2008, p. 41, 42) descreveu a importância do petróleo para o conflito:

Embora as explosões nucleares em Hiroshima e Nagasaki tenham determinado o fim da guerra, foi o petróleo que serviu de combustível para os exércitos que derrotaram a Alemanha e o Japão. O petróleo deu às forças aliadas uma vantagem decisiva sobre seus adversários, que não dispunham de fontes seguras desse combustível.

2.1) O Pré-Guerra

Na véspera da 2ª Guerra Mundial, o petróleo já tinha assumido um papel importante como estratégia militar nas economias modernas. Os EUA eram o “centro de gravidade” da produção de petróleo do mundo, produzindo 3,6 milhões bpd – o equivalente a mais de 60% da produção mundial (5,7 milhões bpd). O Oriente Médio ainda estava no início de sua

(29)

produção, com apenas 330 mil bpd, sendo superado pela União Soviética e pela Venezuela, que eram, respectivamente, o 2º e 3º maiores produtores mundiais na época. Entretanto, como fonte de energia, o petróleo ainda era superado significativamente pelo carvão, que era responsável pelo fornecimento de aproximadamente 80% da energia primária mundial. Porém, a 2ª Guerra Mundial iria mudar esse panorama e levaria o petróleo ao status de recurso mais vital da história contemporânea (MAUGERI, 2006).

2.1.1) Na Alemanha

Em 1932, ainda como líder do Partido Nacional Socialista, Adolf Hitler já planejava chegar ao poder como chanceler da Alemanha e transformá-la novamente numa potência mundial. Porém, o país possuía mínimas reservas de petróleo. No final da década de 1930, a matriz energética germânica ainda tinha como carro-chefe o carvão (90%), com o petróleo correspondendo a cerca de 5%, sendo que a maioria desse óleo era importado, principalmente do Ocidente. E Hitler sabia que isso era um grande obstáculo às suas ambições. Por isso, passou a apoiar o programa de combustível sintético da I.G.Farben, a principal indústria química alemã, que seria fundamental para a máquina de guerra nazista. Ao chegar ao poder em 1933, o führer começou a construir bombardeiros, aviões de combate, tanques e caminhões, todos movidos a petróleo.

Hitler, que já tinha a certeza de que o petróleo era crucial para seus planos, vivenciou um acontecimento que comprovou ainda mais a importância dessa matéria-prima. Em outubro de 1935, a Itália, liderada por Benito Mussolini, invadiu a Abissínia (hoje Etiópia). A Liga das Nações impôs sanções econômicas à Itália e ameaçou um embargo às exportações de petróleo, como modo de tentar frear o ditador italiano. Mussolini sabia que sem petróleo, seu exército se tornaria inútil e a invasão fracassaria. Apesar das ameaças, o embargo não aconteceu, e a Abissínia foi conquistada em 1936. Mais tarde, Mussolini confidenciaria a Hitler que se o embargo tivesse ocorrido, o exército italiano não teria condições de ficar na Abissínia por mais de uma semana (YERGIN, 2009).

Em 1936, Hitler inaugurou o Plano Quadrienal, que tinha com um dos principais objetivos reduzir a dependência alemã de petróleo importado, através da produção acelerada de combustíveis sintéticos.

2.1.2) Na Grã-Bretanha

Em 1937, já prevendo um conflito com a Alemanha, o governo britânico iniciou uma avaliação em relação ao petróleo disponível para a guerra. Como a maior parte do petróleo utilizado pelos ingleses era importado, uma corrente do governo passou a considerar a possibilidade de a Inglaterra extrair óleo do carvão, uma vez que possuía extensas reservas

(30)

28 desse mineral. Porém, a estratégia dos combustíveis sintéticos foi rejeitada. Porque o custo seria mais elevado, uma vez que o país tinha acesso ao petróleo mais barato em todas as partes do mundo, além de sediar duas grandes companhias internacionais, a Royal Dutch-Shell e a Anglo-Iranian (antiga Anglo-Persian). E também porque, na guerra, as usinas de hidrogenação seriam alvos mais vulneráveis do que os navios e portos utilizados na importação de petróleo convencional.

Durante o período de planejamento para a guerra, o futuro do grupo Royal Dutch-Shell ficou indefinido, o que gerou um certo pavor no alto comando britânico, pois a companhia fora o “quartel-general da Grã-Bretanha para o petróleo durante a 1ª Guerra Mundial” (YERGIN, 2009, p. 413). Isso porque Henri Deterding, o presidente da companhia, passou a admirar os nazistas e, particularmente, Hitler, em meados da década de 30. O fascínio era tanto que em 1935 Deterding iniciou, por conta própria, negociações com o governo alemão sobre a possibilidade de sua companhia fornecer petróleo a crédito para a Alemanha, que não vingaram devido à veemente rejeição do conselho do grupo. Ainda assim, ao se aposentar em 1936, Deterding se mudou para a Alemanha e passou a cooperar com o regime nazista. Com sua morte, no início de 1939, os nazistas vislumbraram a possibilidade de tentar tomar o controle da empresa, mas não tiveram sucesso. De acordo com as normas da empresa, as ações que davam direito ao controle poderiam ficar somente sob o domínio de diretores – com a morte de Deterding, suas ações foram rapidamente distribuídas entre outros diretores.

Uma das medidas mais marcantes do governo britânico durante o planejamento para a 2ª Guerra Mundial foi que as indústrias petrolíferas britânicas deveriam eliminar a competição entre si no período de guerra – Royal Dutch-Shell, Anglo-Iraniana e a subsidiária britânica da Standard Oil of New Jersey eram donas de 85% das refinarias e da distribuição locais – e deveriam cooperar totalmente com o país.

2.1.3) No Pacífico

A partir de 1930, o Japão intensificou sua expansão imperial na Ásia Oriental (iniciada no final do século XIX) motivado pela opressão econômica que vinha sofrendo – devido à Grande Depressão e ao colapso do comércio mundial – e pelo espírito nacionalista extremo pregado pelo exército e por segmentos importantes da sociedade.

Tomados pelo nacionalismo, os militares japoneses passaram a condenar o liberalismo, o capitalismo e a democracia, defendendo uma doutrina de guerra total. Entretanto, o Japão possuía mínimos suprimentos de petróleo – no final da década de 1930, de todo o petróleo consumido no país, a produção interna correspondia a somente 7%, com

(31)

o restante sendo importado dos EUA (80%) e das Índias Orientais Holandesas [hoje Malásia, Indonésia e Cingapura] (13%). E os militares nipônicos sabiam que o petróleo era fundamental para suas pretensões expansionistas. Assim, com o objetivo de dominar a indústria petrolífera no país, os militares aprovaram em 1934 a Lei Industrial do Petróleo – a partir dessa lei, o governo passou a controlar importações, fixar preços e estabelecer quotas no mercado de ações, além de exigir que as empresas estrangeiras mantivessem estoques acima dos níveis comerciais normais. Simultaneamente, com o objetivo de pressionar as companhias ocidentais, os japoneses criaram um monopólio de petróleo na Manchúria .

Entretanto, em 1937, o Japão entrou em guerra com a China, e se viu obrigado a frear sua política de dominação da indústria petrolífera, reatando as relações com as companhias estrangeiras. Desde o início da Guerra Sino-japonesa, o Japão foi considerado o vilão da história pelos americanos, que pressionavam o presidente Franklin Roosevelt a cessar a exportação de equipamentos militares ao Japão. Com a continuidade do conflito, a pressão aumentava. E, em 1939, a maioria da população apoiava essa posição. Porém, o presidente buscava uma solução menos enérgica, para não desencadear uma crise no Pacífico, uma vez que os EUA já estavam se deparando com a ameaça da Alemanha Nazista.

Em setembro/1940, após o Japão iniciar o avanço sobre a Indochina e, paralelamente, conduzir um acordo com Alemanha e Itália, Roosevelt cortou toda a exportação de ferro e aço aos japoneses, mas manteve a de petróleo. O motivo era evitar uma guerra com o Japão na véspera das eleições presidenciais.

No final de 1940, os japoneses concluíram que, para que a vitória contra a China fosse possível, precisariam do petróleo das Índias Orientais Holandesas. Mas sabiam que a frota americana no Havaí significava um grande obstáculo à invasão e, por isso, começaram a planejar o ataque à Pearl Harbor.

Em meados de 1941, o governo americano ainda debatia sobre um embargo de petróleo ao Japão. De um lado, o Secretário do Interior Harold Ickes defendia o corte total das exportações; do outro, o presidente Roosevelt argumentava que a suspensão do fornecimento levaria os EUA a uma guerra, num momento em que o país já estava se estava se preparando para outra guerra, a da Europa. Assim, para evitar o embargo e manter o foco militar no Atlântico, mas tentando frear o avanço japonês na Indochina, o presidente decidiu pelo congelamento de todas as operações financeiras do Japão nos EUA em 25/07 – mas que no fim das contas, funcionaria como um embargo sobre o petróleo. Grã-Bretanha e Holanda seguiram os EUA, congelando os bens japoneses e fazendo um

(32)

30 embargo de petróleo. Esse embargo, segundo Samuel Eliot Morison, tornou “a guerra com o Japão inevitável” (BALDWIN, 1959).

Com o embargo, os estoques de petróleo do Japão começaram a cair drasticamente e se esgotariam em 2 anos. A partir daí, os japoneses começaram a discutir sobre recuar e obter uma conciliação com os EUA ou continuar a sua expansão e enfrentar os americanos em uma guerra. Em outubro/1941, o primeiro-ministro príncipe Konoye, que era a favor da conciliação, foi substituído pelo ministro da guerra Hideki Tojo, que descartava qualquer acordo com os EUA. Em novembro, foi realizada uma Conferência Imperial, que aprovou uma lista de exigências a serem feitas aos EUA para que um conflito não se deflagrasse. Ao receber a lista de exigências, o governo americano propôs o reatamento do comércio americano com o Japão, contanto que as tropas japonesas se retirassem da Indochina e da China. O governo japonês considerou a proposta um ultimato e ordenou que uma força-tarefa, que estava reunida nas Ilhas Kurilas, zarpasse em direção ao Havaí. A guerra no Pacífico entre EUA e Japão estava prestes a começar.

2.2) As Batalhas do Petróleo

Nos múltiplos fronts da guerra, o petróleo provou ser “a cartada da vitória”, seja nos ataques e ocupações terrestres, nas campanhas aéreas ou nas batalhas navais (MAUGERI, 2006). Os esforços para conquistar áreas ricas em petróleo e/ou evitar que as tropas inimigas tivessem acesso a elas foi um dos principais fatores que determinou a estratégia na 2ª Guerra Mundial – campanhas foram decididas ou influenciadas pela disponibilidade de petróleo das tropas. (BALDWIN, 1959)

2.2.1) Na Europa

Diversas batalhas por petróleo ocorreram na Europa (figura 2.1). Segundo Yergin (2009), a estratégia básica de guerra alemã, a blitzkrieg (guerra relâmpago), foi moldada baseado na preocupação de Hitler com o petróleo – os ataques alemães tinham que ser concentrados, violentos e rápidos, de maneira à alcançar a vitória antes que os problemas com fornecimento de petróleo surgissem.

No início da guerra, o exército nazista conquistou a Polônia, a Noruega, os Países Baixos e a França de maneira rápida e fácil, o que fez com que o fornecimento de petróleo não fosse um problema no início da guerra para a Alemanha – o combustível gasto nas invasões era consideravelmente inferior às quantidades capturadas.

(33)

Mesmo após a derrota nas Ilhas Britânicas em meados de 1940, Hitler tinha por objetivo dominar completamente a Europa, e por isso direcionou seu exército para a União Soviética.

2.2.1.1) As Batalhas na União Soviética

Diversos são os fatores que motivaram Hitler a invadir a União Soviética, mas pode-se dizer que o petróleo foi um dos principais, pode-se não o principal. Hitler acreditava que pode-se tomasse posse das vastas reservas petrolíferas do Cáucaso, seu império se tornaria invulnerável – assim como os japoneses acreditavam que o petróleo das Índias Orientais e do Sudeste Asiático era o fator que os tornariam invencíveis. Além disso, os nazistas consideravam os soviéticos uma ameaça aos campos de petróleo de Ploesti, na Romênia, aliada da Alemanha. Fora da União Soviética, a maior produção de petróleo da Europa era a dos campos de Ploesti, e a Alemanha dependia dessa produção – em 1940, 58% das importações alemãs eram provenientes da Romênia.

Após Stálin ordenar a tomada de uma parte do nordeste da Romênia, usando como justificativa o pacto Nazi-Soviético de 1939, Hitler concluiu que os campos de petróleo de Ploesti estavam em perigo, e decidiu invadir a União Soviética. O ataque teve início em 22/06/1941 e, baseando-se no sucesso da blitzkrieg, os nazistas previam mais uma vitória fácil e rápida. No início, suas previsões foram até superadas, porém os problemas decorrentes do fornecimento de petróleo logo começaram a surgir. As estradas russas eram de péssima qualidade e os terrenos eram de difícil acesso, o que fazia os veículos consumirem mais combustível do que o normal – e os alemães não levaram isso em consideração no cálculo de suas provisões. Apesar disso, Hitler estava entusiasmado com o sucesso inicial da campanha e mandou seu exército ir em direção a Criméia e tomar Baku, enquanto seus generais achavam que deviam direcionar as forças nazistas em Moscou. Mais tarde, Hitler mudou de idéia e concordou com seus generais, mas essa demora teve seu preço. A 30 km do Kremlin, o estoque de petróleo e outros suprimentos havia esgotado, e o exército alemão ficou vulnerável ao inverno que se aproximava e aos contra-ataques soviéticos, que se iniciaram em dezembro e impediram o avanço alemão.

2.2.1.1.1) A Operação Blau

Apesar do fracasso na tentativa de tomar Moscou, os nazistas planejaram um novo ataque na União Soviética, que tinha por objetivo tomar o petróleo do Cáucaso, e posteriormente os campos do Irã, Iraque e Índia – a chamada Operação Blau. Os alemães sabiam que o petróleo soviético era fundamental para a continuidade da Alemanha na guerra.

(34)

32 No final de julho/1942, os alemães interromperam, na cidade de Rostov, o oleoduto proveniente do Cáucaso e no início de agosto chegaram a Maikop, a região petrolífera mais ocidental do Cáucaso. Mas a produção dessa região era pequena e, além disso, os soviéticos haviam destruído tudo, desde os campos de petróleo até as ferramentas das oficinas, tornando a produção insignificante – em janeiro/1943, eram extraídos apenas 70 bpd.

A ofensiva alemã continuou e, em meados de agosto, os alemães chegaram ao topo do Monte Elbrus, o ponto mais alto do Cáucaso e da Europa. Porém, nesse momento, a escassez de petróleo foi novamente um problema – os alemães até se apossaram dos tanques russos, mas estes continham diesel, inúteis para a divisão blindada alemã que, movida a gasolina, ficou dias parada à espera de combustível. Os caminhões responsáveis pelo reabastecimento não chegavam por falta de combustível para eles próprios. A situação era tão desesperadora que o petróleo começou a ser transportado no dorso de camelos. Assim, devido ao problema do suprimento de petróleo, a operação fracassou. “A ironia da Operação Blau estava em que os alemães ficaram sem petróleo em sua busca pelo petróleo” (YERGIN, 2009, p.376).

2.2.1.1.2) A Batalha de Stalingrado

Os alemães também enfrentaram o problema da escassez de petróleo na Batalha de Stalingrado. O alto comando militar queria que as tropas do Cáucaso se movessem para o front, mas Hitler ainda tinha a intensão de tomar o petróleo de Baku, pois acreditava que se isso não acontecesse, a guerra estaria perdida. Quando o führer deu a ordem para as tropas saírem do Cáucaso e partirem para Stalingrado, já era tarde. No início de fevereiro/1943, o exército alemão estava encurralado e sem recursos – e principalmente, sem petróleo – o que levou à sua rendição. Com a primeira derrota na guerra, os alemães passaram para a defensiva. Era o fim da fase do blitzkrieg.

2.2.1.2) A Batalha do Bulge

Acuada e quase sem petróleo após a derrota na União Soviética, a Alemanha partiu para sua última tentiva de mudar sua situação na guerra em 16/12/1944, nas florestas de Ardennes, a leste da Bélgica e de Luxemburgo, na chamada Batalha de Bulge. Depositando todas suas forças e suprimentos restantes nesse ataque, e utilizando a surpresa como maior arma, os nazistas tiveram êxito no início, avançando sobre as linhas inimigas, mas logo a escassez de petróleo impediu a continuidade do avanço.

Porém, nessa batalha, os alemães estiveram pertos de causar uma reviravolta na guerra. Em 17/12, o coronel alemão Jochem Peiper e sua unidade Panzer, ao avançarem

(35)

sobre a área de Stavelot, no leste da Bélgica, chegaram a 300 m do “maior depósito de combustível dos Aliados e certamente o maior posto de abastecimento da Europa” – 9 milhões de litros estavam estocados lá, além de 2 milhões de mapas rodoviários, e as estradas a redor continham centenas de milhares de latões de combustível (YERGIN, 2009, p. 390). Ao verem os nazistas se aproximando, um grupo de soldados aliados ateou fogo num poço em uma tentativa desesperada de impedir o avanço das tropas alemães, formando uma pequena parede de chamas; Peiper, que possuía mapas desatualizados e por isso não tinha conhecimento do depósito, ordenou que sua unidade seguisse em outra direção. Mais tarde, por ironia do destino, a unidade alemã ficou sem combustível e foi capturada. Yergin (2009, p. 390) definiu o acontecimento da Batalha de Bulge como “um daqueles incidentes de batalha com conseqüências monumentais”:

As provisões de combustível em Stavelot eram equivalentes às necessidades dos primeiros 10 dias de toda a ofensiva alemã em Ardennes; a sua captura teria dado aos alemães o combustível para prosseguirem em direção a Antuérpia e ao canal da Inglaterra, no momento em que os aliados ainda estavam vacilantes por efeito da desorganização e confusão.

2.2.2) Na África

Em fevereiro de 1941, tropas germânicas foram enviadas para o norte da África para somar forças a uma tropa italiana, que estava sendo derrotada pelo exército britânico (figura 2.1). Liderados pelo general Erwin Rommel, as tropas alemãs, conhecidas como Afrika Korps, tiveram êxito no início, avançando por mais de 500 km e fazendo as forças britânicas recuarem. Rommel não tinha por objetivo principal ajudar os italianos, mas sim conquistar o Cairo e o canal de Suez, depois Palestina, Iraque e Irã, e finalmente Baku e suas reservas petrolíferas. Rommel estava travando uma guerra de movimento – avançava rapidamente e por longas distâncias – o que exigia vastos estoques de petróleo.

Porém, ao avançarem rapidamente, os nazistas criaram um problema para si próprios – as vias de reabastecimento do exército se tornaram muito longas, e os caminhões de combustível, encarregados do reabastecimento dos veículos militares, gastavam mais gasolina para ir ao front e voltar do que transportavam em seus tanques. Além disso, os navios e aviões com suprimentos estavam sendo atacados pela Marinha Real e pela Real Força Aéra Britânica (RAF), que fizeram uma base na ilha mediterrânea de Malta, ao largo da costa da Líbia. Depois de longos conflitos – como as duas Batalhas de El Alamein e a Batalha de Alan Halfa – os alemães, sem petróleo, foram obrigados a recuar e, posteriormente, se render.

(36)

34 Após a morte de Rommel, foram encontradas anotações suas sobre as batalhas no norte da África e, numa delas, o general alemão definira a importância do petróleo nos conflitos:

O homem mais corajoso nada pode fazer sem armas, nada vale sem fartura de munição, e tanto armas como munição têm pouca valia em uma guerra móvel, a menos que haja veículos com petróleo em quantidade para transportá-las. (YERGIN, 2009, p.383 e 384)

Figura 2.1 – Mapa da 2ª Guerra Mundial na Europa e no Norte da África. Fonte: Yergin (2009, p. 378).

2.2.3) No Atlântico

O grande problema do esquema de suprimento de petróleo americano para a Grã-Bretanha eram as grandes extensões que os petroleiros e cargueiros tinham que navegar no Atlântico, o que transformou esses navios em alvos fáceis para os submarinos alemães U-boat na chamada Batalha do Atlântico.

Já no início de 1941, a campanha dos submarinos alemães causou grandes perdas que, somadas à crescente demanda gerada pela guerra, fizeram com que os estoques de petróleo britânico chegassem a um nível crítico. Em julho do mesmo ano, a Marinha Real tinha combustível para apenas mais dois meses de combate, sendo que o nível de

Referências

Documentos relacionados

Por lo tanto, la superación de la laguna normativa existente en relación a los migrantes climático consiste en una exigencia para complementación del sistema internacional

O setor de energia é muito explorado por Rifkin, que desenvolveu o tema numa obra específica de 2004, denominada The Hydrogen Economy (RIFKIN, 2004). Em nenhuma outra área

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

A opinião dos alunos que frequentam o PA sobre a implementação do Programa de Correção de Fluxo Escolar é de extrema importância, visto serem eles os protagonistas

Para solucionar ou pelo menos minimizar a falta ou infrequência dos alunos dos anos finais inscritos no PME, essa proposta de intervenção pedagógica para o desenvolvimento

Neste capítulo foram descritas: a composição e a abrangência da Rede Estadual de Ensino do Estado do Rio de Janeiro; o Programa Estadual de Educação e em especial as

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

Pensar a formação continuada como uma das possibilidades de desenvolvimento profissional e pessoal é refletir também sobre a diversidade encontrada diante