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CAPÍTULO 3 – O PETRÓLEO E OS CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO PARTE 1

3.2. A Guerra dos Seis Dias

Na década de 60, Gamal Abdel Nasser ainda estava determinado a criar um mundo árabe livre do domínio ocidental e a acabar com Israel, seu inimigo mortal - para ele, a criação de Israel fora o “maior crime internacional da história” (YERGIN, 2009, p. 541). Motivado pelo triunfo em Suez, mais uma vez o ditador egípcio desencadeou uma crise no Oriente Médio, no ano de 1967.

Suas ações começaram em maio, ao expulsar os observadores das Nações Unidas que estavam no Egito desde o conflito de 1956. Posteriormente, bloqueou o golfo de Aqaba, impossibilitando que a frota mercante israelense tivesse acesso ao porto de Eilat, colocando em risco a importação de petróleo por parte de Israel. Além disso, enviou tropas à Península

do Sinai. Paralelamente, fez uma aliança militar com a Jordânia (o Iraque se uniria a eles posteriormente), além de ganhar o apoio de outros países árabes, que colocaram suas forças militares à disposição do Egito.

Diante da ameaça de um conflito, Israel partiu para a ofensiva em 05/06/1967, atacando a Síria, Jordânia e Egito, dando início a Terceira Guerra árabe-israelense. De forma avassaladora, os exércitos israelenses destruíram todas as tropas árabes em apenas 6 dias (a força aérea egípcia fora totalmente abatida logo nas primeiras horas do conflito), daí o nome de Guerra dos Seis Dias. Com a rápida vitória nos campos de batalha, Israel tomou posse do Sinai, Jerusalém, Faixa de Gaza e das Colinas de Golan (figura 3.2).

Figura 3.2 – As Conquistas de Israel na Guerra dos 6 Dias (Modificada). Fonte: http://www.mundovestibular.com.br/articles/4378/1/A-GUERRA-DOS-SEIS

DIAS/Paacutegina1.html.

O conflito, apesar de breve, “assinalou a primeira vez em que os governos árabes recorreram à „arma do petróleo‟ em represália pelo apoio ocidental a Israel” (FUSER, 2008, p.117), o que desencadeou mais uma crise na indústria petrolífera mundial. Um dia após o início dos ataques israelenses, um embargo de petróleo foi feito pela Arábia Saudita, Kuait, Iraque, Líbia e Argélia contra EUA, Grã-Bretanha e Alemanha Ocidental (países simpatizantes de Israel). Segundo Maugeri (2006), essa decisão representou um fato completamente novo na política internacional do pós-guerra. A intensidade dessa decisão pôde ser comprovada na carta enviada pelo ministro árabe do petróleo, Ahmed Zaki Yamani, às companhias que formavam a Aramco (Exxon, Móbil, Texaco e Standard of Califórnia):

56 Solicitamos que suas companhias deixem de enviar, a partir de agora, petróleo para os Estados Unidos da América e para o Reino Unido. Vocês devem ter em mente que esta é uma decisão rigorosa e que essa companhia será gravemente responsabilizada caso uma só gota de nosso petróleo venha a ser desembarcada em qualquer das nações mencionadas. (YERGIN, 2009, p. 627)

Simultaneamente, diversos distúrbios ocorreram nas indústrias petrolíferas estrangeiras localizadas no Oriente Médio: sabotagem e destruição das instalações, motim contra funcionários e greve nos campos de petróleo (como exemplo, a refinaria em Abadã, uma das maiores do Oriente Médio, teve que ser fechada, pois os pilotos navais iraquianos se recusaram a continuar operando no canal de Shatt-al-Arab). Além disso, o canal de Suez e os oleodutos do Iraque e da Arábia Saudita estavam bloqueados. Como conseqüência, houve uma redução de 40% no fluxo de petróleo árabe e uma perda total de 6 milhões bpd. Esse cenário levou o subsecretário americano do Interior a declarar que a crise de 1967 era muito mais grave que a de 1956, e que a Europa estava prestes a sofrer uma escassez de petróleo (YERGIN, 2009). Para agravar ainda mais a situação, iniciou-se em julho a guerra civil na Nigéria: devido ao conflito, o governo nigeriano cessou as exportações de petróleo, causando mais uma perda no mercado (500 mil bpd).

Diante da ameaça de escassez de petróleo na Europa, o governo dos EUA, assim como na crise de Suez, convocou um Comitê de Fornecimento de Petróleo Estrangeiro para coordenar a distribuição de petróleo mundial. Esse comitê era formado por mais de 10 companhias de petróleo americanas, as quais teriam liberdade para formar um truste e combater a crise em conjunto, se fosse necessário. O maior desafio a ser enfrentado pelo comitê era a logística - para reorganizar o fluxo de petróleo, as rotas de petróleo tinham de ser alteradas, principalmente devido ao bloqueio do canal de Suez e dos oleodutos do Iraque e da Arábia Saudita. Esse desafio fora atenuado pela utilização dos superpetroleiros, que surgiram após a crise de 1956 e foram aperfeiçoados ao longo dos anos: em 1967, petroleiros 5 vezes maiores que os de 1956 já eram utilizados, e diante da crise, 6 novos superpetroleiros, 7 vezes maiores que os utilizados em 1956, foram construídos.

Apesar do pavor inicial, a crise não fora tão grave. Os EUA, com suas reservas de petróleo estocado, elevaram sua produção diária para aproximadamente 1 milhão de barris, impedindo que a Europa sofresse uma escassez. Outros países também aumentaram sua produção e auxiliaram os europeus, como Venezuela, Irã e Indonésia. Apesar de o Comitê de Fornecimento de Petróleo Estrangeiro ter sido imprescindível, as leis antitrustes americanas nem precisaram ser suspensas – a atuação individual das companhias internacionais fora suficiente para conter a crise.

Com a contenção da crise por parte do Ocidente, os países árabes viram que a “arma do petróleo” havia fracassado e que eles próprios foram os maiores perdedores (num encontro da cúpula árabe em agosto, Nasser admitira que o Egito estava falido). Assim, os líderes árabes decidiram acabar com o embargo no início de setembro.

Segundo Maugeri (2006), a derrota na Guerra dos Seis Dias freou a ascendência de Nasser, mas não a sua mensagem de revolta contra o Ocidente, que se espalhou por todo o Oriente Médio e teve como conseqüência imediata a militarização da sociedade civil árabe. Fuser (2008) ressalta ainda que após o conflito de 1967, os EUA passaram a ser os vilões para os árabes, uma vez que apoiaram os ataques israelenses e não pressionaram Israel a devolver os territórios que conquistou: “os norte-americanos se tornaram um alvo do ódio árabe tal como os ingleses depois da crise de Suez” (PALMER, 1992 apud FUSER, 2008, p. 117).