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CAPÍTULO 2 – O PETRÓLEO E A 2ª GUERRA MUNDIAL

2.4. O Suprimento de Petróleo Durante a 2ª Guerra Mundial

2.4.2. O Suprimento do Japão

2.4.3.2. A Organização da Indústria Petrolífera Americana

Assim como na 1ª Guerra Mundial, os EUA e sua vasta produção de petróleo – no início da década de 1940, a produção americana correspondia a quase 2/3 da produção mundial (YERGIN, 2009) – seriam a garantia de suprimento de petróleo para a Grã- Bretanha.

Devido ao sistema de rateio federal – criado durante a década de 1930, em função da produção descontrolada do leste do Texas que desestabilizou a indústria petrolífera americana – os EUA possuíam uma capacidade de produção extra, de aproximadamente 1 milhão bpd, o equivalente a 30% da produção em 1941 (3,7 milhões de bpd). Segundo Yergin (2009, p. 415), essa capacidade extra “revelou-se uma margem de segurança valiosa, um recurso estratégico de imensa importância”, sem a qual “o curso da 2ª Guerra poderia ter sido muito diferente”. Assim, apoiado pela Lei de Empréstimo e Arrendamento (Lend Lease), os EUA começaram a abastecer a Grã-Bretanha: já na primavera de 1941, 50 petroleiros americanos, destinados ao abastecimento da Costa Leste, foram desviados para a Grã-Bretanha.

Para organizar a indústria petrolífera americana para a guerra, o secretário do Interior, Harold Ickes, foi nomeado Coordenador do Petróleo para a Defesa Nacional. Primeiramente, Ickes teve que mudar o relacionamento conflituoso entre o governo de Franklin Roosevelt (que era do partido Democrata) e a indústria do petróleo, causado pela política do New Deal, que criticava veementemente o “monopólio” do petróleo: em 1940, o Instituto Americano de Petróleo, 22 grandes companhias de petróleo e 345 companhias menores sofreram um processo antitruste. Além disso, Ickes tinha que fazer com que a indústria petrolífera americana maximizasse a produção, evitasse a escassez e cooperasse totalmente com o governo, nos moldes do que foi feito na Grã-Bretanha.

46 Durante a 2ª Guerra, a Petroleum Administration for War (Administração do Petróleo para a Guerra), chefiada por Ickes, teve como um dos principais objetivos aumentar a produção americana e manter uma capacidade de expansão, uma vez que a duração do conflito era desconhecida, bem como a quantidade de petróleo que seria usada pelos Aliados. Porém, a PAW frequentemente sofria oposição de outras agências federais, como a War Production Board (Conselho de Produção de Guerra), responsável pela distribuição de aço e outros materiais; a War Shipping Administration (Administração de Transporte Bélico), responsável pelos petroleiros; e o Office of Price Administration (Escritório de Administração de Preços), órgão regulador dos preços do petróleo. A PAW e o OPA travaram uma batalha particular. De um lado, Ickes defendendo um aumento de US$ 0,35 em todos os tipos de petróleo, acima do máximo de US$ 1,19, com o objetivo de estimular a exploração e a atividade de produção; do outro, o OPA rejeitando a proposta, com receio da inflação. No final, o aumento não ocorreu, com exceção do óleo espesso da Califórnia, e toda a indústria petrolífera criou uma aversão ao OPA. Apesar de tudo, a PAW conseguiu atingir seu objetivo e a produção americana aumentou 30% em 5 anos, passando de 3,7 milhões bpd em 1940 para 4,7 milhões bpd em 1945.

Yergin (2009, p. 424) relatou a importância do petróleo americano na 2ª Guerra Mundial:

Ao todo, entre dezembro/1914 e agosto/1945, os Estados Unidos e seus aliados consumiram quase 7 bilhões de barris de petróleo, dos quais 6 bilhões eram provenientes dos Estados Unidos. Sua produção no período da guerra foi equivalente a mais de ¼ de todo o petróleo produzido nos Estados Unidos, desde os tempos do poço do Coronel Drake até 1941. 2.4.3.2.1) O Racionamento nos EUA

Em meados de 1941, Harold Ickes lançou, com o apoio das companhias de petróleo, uma campanha de redução do consumo de petróleo na Costa Leste americana, com o objetivo de mandar mais petróleo para os britânicos, que estavam com os estoques de petróleo em níveis críticos devido à campanha dos submarinos alemães no Atlântico. Os postos de gasolina passaram a funcionar somente de 7h às 19h e adesivos com a frase “Estou consumindo 1/3 de gasolina a menos” foram distribuídos aos montes; além disso, tentou reinstaurar os “Domingos sem gasolina”, campanha utilizada durante a 1ª Guerra Mundial, e fazer um programa de uso coletivo dos automóveis. Porém, o esforço de Ickes pela economia voluntária fracassou, obrigando-o a pressionar as companhias a reduzir de 10 a 15% a distribuição de combustível aos postos de gasolina. Produtores, refinadores e distribuidores independentes, imprensa e população não entendiam o por quê da redução, visto que Ickes não tornou público o motivo – por questões estratégicas – e muitos protestos ocorerram no país. Com a regularização dos níveis de seus estoques, os britânicos

passaram a devolver os petroleiros que tinham sido transferidos para a Grã-Bretanha e a situação do abastecimento na Costa Leste melhorou.

Entretanto, apesar de todo o esforço do governo americano, a sombra de uma escassez de petróleo frequentemente pairou sobre os EUA durante a 2ª Guerra. Assim, o governo norte-americano, ao mesmo tempo em que trabalhava para aumentar a produção, empenhava-se para que o consumo de petróleo por parte dos americanos diminuísse. “O foco da contenção era a gasolina” (YERGIN, 2009, p.424).

As primeiras medidas tomadas pelo governo foram a proibição do uso de gasolina nas corridas de automóveis e, posteriormente, o racionamento na Costa Leste, que foram seguidos de veementes protestos por parte da população. A administração Roosevelt viu-se forçada a encontrar algum fator que justificasse o racionamento e, assim, fizesse com que a população cooperasse. Esse fator foi a borracha. Os EUA importavam borracha natural das Índias Orientais e da Malásia, mas com a conquista desses territórios pelo Japão, a importação foi reduzida em 90%, e o país passou a sofrer uma escassez de borracha. Assim, o uso do carro (e consequentemente da gasolina) tinha que ser reduzido, para que a demanda popular por pneus também reduzisse e as reservas de disponíveis de borracha fossem direcionadas para as forças armadas. A estratégia do governo funcionou e, juntamente com outras medidas, como a redução do limite de velocidade para 60 km/h, fez com que o consumo médio de gasolina por carro de passeio fosse 30% menor em 1943 do que em 1941.