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Representação dos Jogos dos Povos Indígenas na mídia brasileira

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DE RIBEIRÃO PRETO. CAMILA MOTTA ESTEVAM. Representação dos Jogos dos Povos Indígenas na mídia brasileira. RIBEIRÃO PRETO 2020.

(2) CAMILA MOTTA ESTEVAM. Representação dos Jogos dos Povos Indígenas na mídia brasileira. Versão Corrigida. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação Física e Esporte da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, para Exame de Defesa nível mestrado. Linha de Pesquisa: Dimensões pedagógicas e socioculturais envolvidas no processo de desenvolvimento da carreira esportiva de atletas, treinadores e consumidores. Orientador: Prof. Dr. Claudio Miranda Rocha. RIBEIRÃO PRETO 2020.

(3) Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.. Estevam, Camila Motta Representação dos Jogos dos Povos Indígenas na mídia brasileira. Ribeirão Preto, 2020. 88 p. : il. ; 30 cm Dissertação de Mestrado, apresentada à Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto/USP. Área de concentração: Gestão Esportiva. Orientador: Rocha, Claudio Miranda. 1. Jogos. 2. Jogos dos povos indígenas. 3. Mídia..

(4) 4. Nome: Camila Motta Estevam. Título: Representação dos Jogos dos Povos Indígenas na mídia brasileira. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação Física e Esporte da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de mestre nível em Educação Física. Aprovado em: Banca Examinadora. Profa. Dra. __________________________________________________________________ Instituição:__________________________________________________________________ Julgamento:_________________________________________________________________. Profa. Dra. __________________________________________________________________ Instituição:__________________________________________________________________ Julgamento:_________________________________________________________________. Prof. Dr. __________________________________________________________________ Instituição:__________________________________________________________________ Julgamento:_________________________________________________________________.

(5) AGRADECIMENTOS À Nossa Senhora do Perpétuo Socorro ao qual sou devota. À minha família por todo apoio e incentivo. Ao meu esposo Tiago pela paciência, incentivo e compreensão em todos os processos desta caminhada. Aos meus amigos e amigas de mestrado, em especial Taislaine por todo apoio e tempo dedicados com todo carinho. Gratidão ao meu orientador Prof. Dr. Claudio Miranda, que mesmo morando em outro país, esteve comigo a todo momento, posicionando-se sempre de forma cordial, positiva e segura em todas as fases da elaboração deste projeto. Ao Prof. Dr. Rafael Pombo pela gentileza em aceitar o convite da minha banca de qualificação e pela compreensão referentes às mudanças ocorridas no decorrer desta pesquisa. À Profa. Dra. Marina Vinha pela gentileza em aceitar o convite para a composição da minha banca de qualificação, por seus apontamentos extremamente necessários para o desenvolvimento desta pesquisa e por sempre estar disponível em contribuir no que fosse necessário..

(6) RESUMO. ESTEVAM, Camila Motta. Representação dos Jogos dos Povos Indígenas na mídia brasileira. 2020. 88 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física e Esporte) – Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2020. O objetivo desta pesquisa é compreender como a mídia brasileira tem representado os Jogos dos Povos Indígenas (JPI). Estes jogos foram criados com o apoio do extinto Ministério de Estado do Esporte e do Comitê Intertribal (ITC). Os Jogos dos Povos Indígenas é considerado como um evento não mega e ao longo de suas 12 edições, acumularam um patrimônio cultural diverso que oportuniza a pesquisa sobre seus legados de forma única. Os JPI podem ser considerados como evento Entender com a mídia brasileira representa os JPI pode trazer benefícios para as populações indígenas, que deveriam ser os principais beneficiários de tal evento. Trata-se de uma pesquisa qualitativa. Como método de coleta de dados optou-se pela técnica de análise de conteúdo. Os meios de comunicação e fontes utilizados foram jornais, revistas, arquivos e internet que abordaram as 12 edições dos Jogos dos Povos Indígenas. Resultados desta análise mostram que a mídia possui pouco conhecimento e interesse no aprofundamento de temáticas indígenas. O tratamento dos dados mostrou, que além do despreparo destes meios de comunicação, as reportagens muitas vezes estavam arraigadas de preconceito. Embora a expressão “jogos” usada para classificar os JPI, tenha sido a mais utilizada, dentro do contexto das matérias ela estava mais ligada a um conceito de esporte padronizado do que o significado do jogo para estes povos. Palavras-chave: Jogos. Jogos dos povos indígenas. Mídia..

(7) ABSTRACT. ESTEVAM, Camila Motta. Representation of Indigenous Peoples Games in the Brazilian media. 2020. 88 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física e Esporte) – Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2020.. The purpose of this study is to describe how the Brazilian media has represented the Indigenous People Games (IPG). These games are supported by the Ministry of Sport and the Intertribal Committee (IC). Throughout its 12 editions, the Games have accumulated a diverse cultural heritage that makes it possible to uniquely research their legacies. Understanding how the Brazilian media represents the IPG can bring benefits to indigenous populations, who should be the main beneficiaries of such an event. It is a qualitative research. The content analysis technique was chosen to analyze the data. The media and sources used were newspapers, magazines, archives and the internet that addressed the 12 editions of the Indigenous People Games. Results of this analysis show that the media has little knowledge or interest in deepening indigenous themes. The treatment of the data showed that, in addition to the unpreparedness of these media, the reports were often fraught with prejudice. Although the term “games” used to classify IPG was the most widely used term, within the context of the material it was more linked to a concept of standardized sport than the meaning of the game to these people. Keywords: Games. Indigenous peoples games. Media..

(8) LISTA DE QUADROS. Quadro 1 - Número de reportagens por meio de comunicação………………………………51 Quadro 2 - Número de reportagens por edição………………………………………………53.

(9) LISTA DE FIGURAS. Figura 1 - Logos da I a X edições............................................................................................26 Figura 2 - Esquema explicativo sobre as terminologias indígena, autóctone, primitivo e aborígene...................................................................................................................................37 Figura. 3-. Esquema. de. desenvolvimento. de. uma. análise........................................................................................................................................48.

(10) LISTA DE GRÁFICOS. Gráfico 1 - Frequência das conceituações dos JPI realizadas nas reportagens………………57 Gráfico 2 - Número de reportagens por edição………………………………………………65.

(11) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10 2 REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................................... 12 2.1 Eventos esportivos mega e não-mega .............................................................................. 12 2.2 Legados de eventos esportivos ......................................................................................... 17 2.3 Jogos indígenas como exemplo de eventos não-mega .................................................... 24 2.3.1 A importância do legado de participação para os povos indígenas .......................... 28 2.3.2 A importância do legado cultural para os povos indígenas ....................................... 30 2.4 Corpo indígena.................................................................................................................. 33 2.4.1 As práticas corporais das etnias brasileiras: quais jogos se jogam? ......................... 38 2.4.2 Etno-desporto ................................................................................................................. 41 2.5 Comportamento da mídia diante os JPI ......................................................................... 43 3 METODOLOGIA................................................................................................................ 47 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 51 4.1 Temas principais e secundários abordados nas reportagens ....................................... 53 4.2 As etnias e as modalidades abordadas ............................................................................ 57 4.3 A classificação dos JPI e a visão sobre os povos indígenas e sua cultura. ................... 60 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 68 5.1 Limitações e perspectivas para pesquisas futuras ......................................................... 70 APÊNDICE .............................................................................................................................. 77 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 71.

(12) 10. O interesse do homem pelas variedades de jogos surge na antiguidade e perdura até os tempos modernos. Com relação aos eventos esportivos, é possível dizer que sua relevância surgiu inicialmente pela necessidade humana de interagir uns com os outros; porém, atualmente esta relevância está muito ligada a interesses políticos, de mercado ou de administradores (POIT, 2006). Neste sentido, não é surpreendente que pesquisas relacionadas a eventos esportivos têm focado principalmente em mega-eventos esportivos, tais como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Contudo, recentemente, a comunidade acadêmica internacional tem direcionado um maior enfoque para os legados de eventos esportivos de menor porte, os quais têm sido chamados de “non-mega events” ou eventos não mega (TAKS, 2013). O Brasil recentemente ganhou projeção internacional no cenário esportivo por sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Contudo, o país também tem sediado eventos esportivos internacionais e nacionais que podem ser classificados como eventos não mega. No contexto internacional, por exemplo, o país sediou os Jogos Mundiais Militares (2011) no Rio de Janeiro e os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (2015) em Palmas, Tocantins. O interesse do presente projeto encontra-se em um evento genuinamente brasileiro com nuances muito específicas e culturalmente rico. Estas características estão ligadas a vários componentes, um deles tem a ver com o fato da sua constituição ser formada e estar envolvida com comunidades indígenas de todo o Brasil. Os JPI possuem características de um evento não mega, com nuances únicas quando comparado aos demais eventos desta natureza. Os JPI são uma idealização dos irmãos Carlos Justino Terena e Mariano Marcos Terena. Foram criados em 1996, como uma iniciativa indígena do Comitê Intertribal - Memória e Ciência Indígena (ITC), com o apoio do Ministério do Esporte do Brasil. As modalidades presentes nos JPI são divididas entre jogos tradicionais (por exemplo, a canoagem, arco e flecha, arremesso de lança, corrida de tora e cabo de força) e jogos ocidentais (como o futebol, o vôlei e a natação). Além destes jogos, estão presentes no evento apresentações culturais de dança, luta e rituais sagrados. Atualmente, os JPI já estão na sua décima segunda edição. A última edição ocorreu em 2013 na cidade de Cuiabá em Mato Grosso, onde estiveram reunidos cerca de 1,6 mil representantes indígenas de 48 etnias brasileiras, entre homens e mulheres, jovens e idosos, além da presença de lideranças de povos indígenas de outros países, que vieram prestigiar o evento e participar do lançamento da 1a edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Os.

(13) 11. JPI brasileiros foram os precursores da primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI) ocorrida no ano de 2015 em Palmas-TO, onde estavam presentes 23 etnias brasileiras e delegações de 22 países. A segunda edição dos JMPI aconteceu no ano de 2017 Maskwascis província de Alberta, no Canadá, com a participação de mais de 2000 atletas de 30 países. Considerando-se os grandes investimentos sociais e financeiros necessários para se organizar e sediar eventos, espera-se que estes deixem legados para diferentes grupos envolvidos no processo (ROCHA, 2017). Dentre estes grupos, podem estar a comunidade sede, os participantes, os espectadores, ou outros diretamente ou indiretamente envolvidos. Legados têm sido definidos como todas estruturas planejadas e não planejadas, positivas e negativas, intangíveis e tangíveis, que foram/serão criadas através de um evento esportivo e permanecerão após o evento (PREUSS, 2007). Neste intuito, o primeiro direcionamento do estudo foi compreender os aspectos da gestão esportiva e simultaneamente tomar como base a concepção diferenciada das práticas corporais de seus participantes, por meio da perspectiva do etno-desporto. Segundo Fassheber (2006), o etno-desporto indígena representa a possibilidade de transformações e adaptações das culturas indígenas. O entendimento da concepção diferenciada de corpo indígena com o suporte nos autores Mauss (2003) e Viveiro de Castro (1979) permitiu uma visão mais nítida sobre as práticas corporais que acontecem nos jogos. Além disso, esta compreensão permitiu um melhor enfretamento da análise sobre a abordagem da mídia com relação aos JPI. Entender e classificar os JPI, com embasamento da gestão esportiva, considerando-o como um evento com características únicas, que demandam uma conceituação ampla no sentido de considerar as vivências, as práticas e culturas específicas destas comunidades proporciona uma melhor compreensão dos seus possíveis impactos e legados. A partir deste pressuposto, analisar como a mídia aborda os JPI pode apontar direcionamentos para o desenvolvimento de possíveis pesquisas que visem intervenções para alavancar legados e impactos destes tipos de evento. Nesse sentido, o objetivo geral desta pesquisa é compreender como a mídia brasileira tem representado os Jogos dos Povos Indígenas (JPI). Os objetivos específicos são: analisar temas principais e secundários das reportagens, a incidência de reportagens relacionado à proximidade da cidade e número de povos indígenas naquela área, a visão do jornal sobre o conteúdo dos jogos, a descrição das etnias e modalidades, percepções positivas e negativas da mídia.

(14) 12. Em uma trajetória histórica, os eventos têm suas origens na antiguidade e desde os tempos mais primórdios, até os tempos modernos, têm como característica o envolvimento de várias pessoas nas diversas fases do seu planejamento e organização, além de atrair diversos tipos de participantes (POIT, 2006). Para este mesmo autor, os eventos apresentam-se como importante atividade econômica e social. Os Jogos Olímpicos da Era Antiga, datados de 776 a.C., podem ser considerados como a origem dos demais eventos esportivos. Os Jogos Olímpicos tiveram a maior contribuição na organização de eventos esportivos, servindo de modelo para várias festas esportivas da época e padrão técnico e organizacional para a maioria dos eventos antigos e contemporâneos (POIT, 2006). Os eventos podem ainda ser definidos como: […] acontecimentos previamente planejados, com objetivos claramente definidos. Tem um perfil marcante: esportivo, social, cultural, filantrópico, religioso, entre outros. Sua realização obedece a um cronograma e uma de suas metas é a interação entre seus participantes, público, personalidades e entidades (POIT, 2006, p. 19).. No contexto esportivo, Santovito (2006) diz que: Evento esportivo é uma competição de uma ou mais modalidades esportivas, destinada ao público consumidor desse esporte. Pode envolver ampla divulgação, organização, regulamentos específicos, homenagens a personalidades significativas de cada modalidade, cerimonial e protocolos oficiais de cada país, premiações diversas, interesse de empresas potenciais patrocinadoras, investimentos do poder público e parcerias relevantes da iniciativa privada (p. 3).. Segundo Poit (2006), pode-se dizer que a história nos fornece exemplos que incentivam a evolução dos eventos, talvez por uma necessidade humana de unir pessoas, comemorar vitórias, ou por outras necessidades. Ao se olhar por este prisma, é possível realizar uma ponte entre essas necessidades humanas e as expectativas do público dos eventos esportivos, tais como emoção, lazer, disputa e competição. Por outro lado, ou concomitante a este processo, o aumento dos eventos esportivos não se restringe apenas às necessidades do homem comum, mas também se vincula a interesses de empresários, administradores e políticos (TAVARES, 2011). Neste contexto, a exemplo de grande expansão, destacam-se os megaeventos esportivos (MEE). O termo megaevento é recente em estudos acadêmicos e seu primeiro uso pode ser atribuído ao 37º Congresso da Associação Internacional de Cientistas Especialistas.

(15) 13. em Calgary, em 1987, com o tema “O papel e o impacto dos megaeventos e atrações no desenvolvimento turístico regional e nacional” (MÜLLER, 2015). O surgimento do termo megaevento neste congresso e o fato dele ser considerado como uma atração turística pode explicar o foco em muitos estudos na área do turismo e do lazer (GETZ, 2008). Segundo Marris (1987), há três formas de definir os megaeventos: uma maneira é em volume, outra é por alguma medida de dinheiro e uma terceira via é em termos psicológicos: Uma definição de volume poderia estipular que, por exemplo, pelo menos um milhão de visitantes participa. Uma definição de valor pode ser o valor da receita para a localidade ou, como sugerido aqui, o custo de capital da construção de instalações. A terceira definição sugerida é psicológica, derivada dos sentimentos de turistas que vão ao evento ou atração. É tão importante que está em sua lista de coisas para visitar, então isso faz uma mega atração ou evento (Marris, 1987, p. 3).. Embora Müller (2015) considere que o número de ingressos vendidos seja a melhor variável de representatividade para atratividade de visitantes, para a qual os dados estão disponíveis em uma grande quantidade de eventos, ele ressalta que esta medida pode superestimar o número de visitantes únicos, pois alguns visitantes participam de várias competições. Outro ponto destacado pelo autor que apresentaria uma falha a esta medida, é o fato desses consumidores participarem sem a necessidade de estarem presentes no local, ou seja, assistirem na frente de uma tela. Isto significa dizer, que o telespectador tem a possibilidade de assistir ao evento, por exemplo, por meio da televisão, do computador ou pelo celular. Müller (2015) propõe uma categorização heurística, onde é considerado que para um evento ser realmente “mega”, ele deverá ser grande em quatro dimensões: um grande número de visitantes, grande alcance da mídia, grandes custos e grandes impactos no ambiente construído e na população. A exemplo desta classificação, Müller (2015) cita os Jogos Olímpicos (de verão) como evento giga. Como exemplo de megaeventos, Müller (2015) cita a Euro Copa de Futebol, a Copa do Mundo FIFA (masculina) e os Jogos Olímpicos de Inverno. Como exemplos de eventos principais (menores que mega, mas ainda com um apelo internacional), Müller (2015) cita os Jogos da Comunidade Britânica, as Universidades, os Jogos Panamericanos, a Copa do Mundo de Rugby e o “Super Bowl” de futebol americano. Müller (2015) propõe uma diferenciação de cada uma das quatro dimensões em três intervalos de tamanho, onde é estabelecido pontuações para cada tipo de evento. Portanto, para um evento ser um evento giga, segundo a classificação de Müller (2015), ele tem que alcançar 3 pontos em cada quatro das dimensões, com um total final de 11 a 12 pontos. O evento giga tem que ter mais de 3 milhões de tickets vendidos, o que equivale à dimensão do número de.

(16) 14. visitantes, ter o valor acima de 2 bilhões de dólares em direitos de transmissão, o que corresponde à dimensão do alcance da mídia, ter um custo maior que 10 bilhões de dólares, o que equivale à dimensão dos custos totais do evento e ter um capital de investimento maior que 10 bilhões de dólares, referente à dimensão dos impactos no ambiente construído e na população. Nesta mesma classificação, para o evento ser considerado um megaevento, ele tem que possuir 2 pontos em cada uma das quatro dimensões, com um total final de 7 a 10 pontos. O megaevento tem que ter mais de 1 milhão de tickets vendidos, ter o valor acima de 1 bilhão de dólares em direitos de transmissão, ter um custo de mais de 5 bilhões e um capital de investimento maior que 5 bilhões. Para ser considerado um evento principal, o evento deve alcançar 1 ponto em cada uma das quatro dimensões, com um total final de 1 a 6 pontos. Um evento principal deverá ter mais de 5 milhões de tickets vendidos, ter o valor acima de 1 bilhão de dólares em direitos de transmissão, ter um custo maior que 1 bilhão e um capital de investimento maior que 1 bilhão de dólares. Sendo assim, para o autor “megaeventos têm diferentes dimensões em que podem ser ‘mega’, mas nem todos os eventos são ‘mega’ nas mesmas dimensões e no mesmo grau. Portanto, não se deve perguntar se um evento é mega, mas como ele é. Para uma melhor visualização, segue abaixo a tabela de pontuação para classes de eventos de acordo com o tamanho, criada por Müller (2015, p. 9). Em uma abordagem menos abrangente, Roche (2000) diferencia os eventos de acordo com seu tipo e dimensão, ao tentar classificar os eventos através de seu alcance de mídia e mercado. Embora Roche (2000) não apresente um estudo mais sistemático sobre os megaeventos, como realizado por Müller (2015), amplas explorações sócio históricas e relatos do fenômeno do megaevento na modernidade são mostrados. Roche (2000) realiza uma reflexão sobre os principais significados pessoais e interpessoais sobre os megaeventos, bem como alguns dos principais elementos do papel sociológico desempenhado pelos megaeventos no desenvolvimento da sociedade mundial. O autor ressalta ainda o aumento da popularidade dos megaeventos no século XXI, relacionando-o com a possibilidade dos megaeventos possuírem o papel de fornecer “alguns recursos e oportunidades culturais significativos para as pessoas da sociedade moderna abordarem as suas necessidades humanas básicas para os indivíduos (e também grupo) identidade...” (ROCHE, 2000, p. 218). Horne (2007, p. 1) relata que as características centrais pelos quais os megaeventos são vistos “são consideradas como tendo consequências significativas para a cidade, região ou nação anfitriã em que ocorrem e, em segundo lugar, atrairão uma cobertura considerável da mídia”. Embora a caracterização de Horne (2007) seja classificada por Müller (2015) como sendo baseada apenas no alcance da mídia e no impacto transformador, ela faz uma reflexão.

(17) 15. sobre a necessidade de um olhar mais crítico sobre os efeitos econômicos e também para além dos efeitos econômicos que os megaeventos têm. Horne e Manzenreiter (2006) sugerem uma análise mais crítica sobre os pressupostos, crenças e desentendimentos que muitas vezes são reprimidos quanto à abordagem sobre megaeventos. Horne (2007) parece concordar com Roche (2000), ao relatar que o desenvolvimento nas tecnologias da comunicação de massa, especialmente o desenvolvimento da televisão por satélite, criaram públicos internacionais sem precedentes para eventos como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo. Ambos ressaltam que o atrativo estratégico para patrocinadores corporativos está diretamente relacionado ao tamanho do público da televisão. Horne (2007) questiona quem realmente se beneficia com os megaeventos, em que de um lado está “a redistribuição social” e do outro estão os interesses corporativos capitalistas. Esta abordagem é imprescindível para desmistificar a qualidade sedutora dos megaeventos e conduzir nossa visão por um prisma mais crítico, em que Horne (2007) afirma que os megaeventos são uma parte importante da experiência da modernidade, mas que é necessário manter uma posição independente para avaliar esses eventos. A maioria dos eventos esportivos que acontecem não pode ser classificada como mega. Nesta direção, outros autores têm investigado organização, impactos e legados de eventos esportivos que eles chamam de “não-mega” – EENM (AGHA; TAKS, 2015; TAKS; CHALIP; GREEN, 2015). Estes eventos sempre existiram e recebiam outras denominações como eventos de médio porte, evento de pequeno porte, ou eram caracterizados de acordo com a sua abordagem geográfica (eventos locais, eventos estaduais, eventos nacionais, etc.). A denominação de um evento como não mega parece funcionar para diferenciá-los dos MEE, que captam a maior parte da atenção, principalmente da mídia. Em uma reflexão sobre impactos sociais, Taks (2013) diferencia megaeventos de eventos não mega, onde em uma dimensão menor, os eventos não mega também atraem a atenção e o patrocínio da mídia em todos os níveis, e em relação ao número de participantes, a diferença consiste mais no tipo de participantes que os eventos não mega atendem do que na quantidade, que no caso dos megaeventos é maior. No que diz respeito à relação de poder, os eventos não mega parecem oportunizar uma maior participação da comunidade local na criação e no desenvolvimento do evento. Referente à regeneração urbana, Taks (2013) diz que os eventos não mega, embora em alguns casos possam necessitar de adaptações nas instalações esportivas, geralmente não requerem grandes projetos de infraestrutura urbana. Concernente ao capital humano, Taks (2013) expõe que as chances de desenvolvimento para residentes locais são maiores no contexto de eventos não mega..

(18) 16. Em uma perspectiva diferente, Gibson, Kaplanidou e Kang (2012) investigam os eventos não mega, no contexto da sustentabilidade econômica, ambiental e social, por meio do turismo de esporte. Eventos de média escala é outro termo usado para definir eventos não mega. A distinção de megaeventos e eventos não mega segundo Gibson, Kaplanidou e Kang (2012) consiste nas mudanças ecológicas provocadas pela atividade turística e pelo desenvolvimento de infraestrutura, que no caso de eventos não mega, geralmente não necessitam de mudanças na infraestrutura utilizando as estruturas existentes. Desta forma, estes eventos teriam um saldo ecológico mais positivo, ao contrário da realização de megaeventos, que necessariamente precisam da construção de novas estruturas. O estudo conclui que embora este modelo de turismo sustentável possa não funcionar para todos os tipos de comunidade, pode funcionar para seus pilares econômicos, sociais e ambientais. Sob uma ótica econômica houve o desenvolvimento de uma tipologia para analisar o impacto significativo dos principais eventos esportivos (GRATTON; DOBSON; SHIBLI, 2000). A tipologia consiste em seis divisões: o tipo A que são eventos de espectadores internacionais irregulares, únicos e importantes, gerando atividade econômica significativa e interesse na mídia (por exemplo, Jogos Olímpicos, Copa do Mundo de Futebol, Campeonato Europeu de Futebol); o tipo B que são os principais eventos de espectadores, gerando atividade econômica significativa, interesse da mídia e parte de um ciclo doméstico anual de eventos esportivos (por exemplo, final da Copa de Futebol da Inglaterra a FA Cup, o torneio “Six Nations Rugby Union International”, o torneio Open de golfe da Associação Profissional de Golfe (PGA), e o torneio de tênis em Wimbledon); o tipo C que consiste eventos regulares, únicos, principais eventos internacionais de espectadores / concorrentes que geram atividade econômica limitada (por exemplo, Campeonato Europeu de Boxe Júnior, Campeonato Europeu de Natação Júnior, Campeonato Mundial de Badminton, Grande Prêmio da Associação Internacional das Federações de Atletismo); e o tipo D que são os principais eventos de concorrentes gerando atividade econômica limitada e parte de um ciclo anual de eventos esportivos (por exemplo, Campeonatos Nacionais na maioria dos esportes). Embora este estudo tenha características exclusivamente econômicas, ele apresenta uma ferramenta importante na compreensão dos eventos esportivos e mostra “uma grande variação entre os eventos esportivos em sua capacidade de gerar impacto econômico na cidade anfitriã” (GRATTON; DOBSON; SHIBLI, 2000, p. 27). Com o objetivo contrário à divagação em conceitos ou definições rigorosas, esse caminho inicial é importante para se entender um pouco da dimensão dos megaeventos e dos eventos não mega, pois são acontecimentos distintos que podem ser vistos por muitos.

(19) 17. prismas. Em geral, estes prismas variam de acordo com a avaliação dos impactos dos eventos, os quais têm focado em aspectos diversos, tais como o econômico, o turístico, o social ou o da participação no esporte (AGHA; TAKS, 2015). Uma conceituação mais acadêmica acerca dos eventos esportivos é importante para se evitar o senso comum, onde genericamente o termo megaevento é empregado como sinônimo de grandes competições. Referente aos conceitos de megaeventos e eventos não mega, Tavares (2011) relata que alguns autores já consideram a distinção entre estes como entendimento tácito, que dispensaria definições mais rigorosas. Porém, tais definições não são tão simples assim. É necessário estabelecer claramente os limites que separam os megaeventos dos demais, principalmente porque os impactos que os eventos têm em suas comunidades e economias variam de acordo com o tamanho e apelo da mídia do mesmo (TAKS; CHALIP; GREEN, 2015). A questão dos impactos e dos legados tem recebido substancial atenção por parte de organizadores e da classe acadêmica. Esse direcionamento dos autores aos impactos e legados dos eventos esportivos são tão importantes quanto o entendimento de suas definições. Vários autores têm abordado a questão dos impactos e dos legados em função da característica do evento (megaevento vs. evento não mega). Contudo, a literatura tem sido consistente ao considerar a natureza multidimensional dos impactos e dos legados, os quais têm sido abordados sem seus aspectos econômicos, sociais, ambientais e/ou culturais (HORNE; MANZENREITER, 2006; TAKS, 2013; MÜLLER, 2015; AGHA; TAKS, 2015; TAKS; CHALIP; GREEN, 2015). A seguir, os principais legados dos megaeventos e os eventos não mega serão discutidos.. Etimologicamente o significado da palavra legado não representa o contexto em que é usado na literatura de eventos. Para Preuss (2007), uma definição geral de legado deve ser independente de exemplos qualitativos. Preuss (2007) propõe que legado são todas as estruturas planejadas e não planejadas, positivas e negativas, intangíveis e tangíveis, que foram/serão criadas através de um evento esportivo e permanecerão após o evento. Para Preuss (2007) o significado de legados de eventos esportivos na literatura não é satisfatório, pois ao contrário do que é exposto, o legado de eventos esportivos não pertence a alguém, como os organizadores dos eventos ou entidades políticas, mas é considerado um bem público. Os eventos também causam legados que não são planejados, como externalidades positivas e/ou negativas. No âmbito dos megaeventos, as externalidades podem ser entendidas.

(20) 18. como os efeitos das decisões sobre aqueles indivíduos que não participam diretamente delas, ou seja, é uma atividade que envolve a imposição involuntária de custos ou benefícios. A construção da Vila Olímpica em Barcelona pode ser entendida como uma externalidade negativa, pois segundo Bronstein (2012), houve uma grande valorização da área residencial, após a construção da vila, o que inviabilizou o objetivo inicial do projeto que era fornecer abrigo à população de classe média. Porém, em um outro aspecto, na perspectiva de Roche (2000), apesar dos debates locais sobre um processo de gentrificação ligados à construção da Vila Olímpica, o mesmo evento pode ser considerado como exemplo de uma externalidade positiva por ter se tornado um polo turístico de grande importância para a cidade. Ainda sobre legados, Preuss (2007) diz que para sua mensuração devem ser considerados como resultados de eventos únicos que envolvem diversas áreas como as sociais, as econômicas, que fazem parte de um processo dinâmico e sofrem variações quando realizado em diferentes cidades, eventos e horários. Nesse contexto, Preuss (2007) relata que o mesmo evento ocorrido na mesma cidade gera legados diferentes, pois o evento e o mundo sofrem mudanças. Diferentes eventos ocorridos na mesma cidade também podem gerar legados diferentes, embora em alguns casos os legados possam ser os mesmos. Concernente à construção de legados em eventos esportivos, “a estratégia se concentra nas estruturas adicionais criadas por um evento e na necessidade de longo prazo dessas estruturas” (PREUSS, 2007, p. 7). Historicamente pode-se dizer que o planejamento de legados teve seu início em 2002, quando o Comitê Olímpico Internacional (COI) sofreu uma série de críticas devido aos prejuízos causados às cidades anfitriãs dos eventos esportivos (SOUZA; PAPOUS, 2013). Com a participação de mais de 150 experts na comunidade internacional sobre Jogos Olímpicos, elaborou-se um documento que relata as necessidades de planejamento dos legados, no qual o COI começou a enquadrar o conceito de legado juntamente com o conceito de desenvolvimento sustentável do esporte. Assim, legado tornou-se parte essencial do vocabulário do COI e dos Comitês Organizadores dos Jogos Olímpicos (COJOs) (GIRGINOV; HILLS, 2008). Os COJOs são criados pelo Comitê Nacional Olímpico (CON) e juntamente com a cidade anfitriã, segundo a Carta Olímpica, são conjunta e solidariamente responsáveis por todos os compromissos contraídos individual ou coletivamente em relação à organização e ao desenrolar dos Jogos Olímpicos, salvo no que concerne à responsabilidade financeira da organização e do desenrolar dos Jogos, que será inteiramente assumida conjunta e solidariamente pela cidade anfitriã e pelo COJO. Contudo, até recentemente no plano internacional, os estudos de megaeventos e.

(21) 19. legados tinham suas bases assentadas nos chamados Estudos Olímpicos (EO), que são: […] uma área, de teorias e práticas desenvolvidas em universidades e entidades afins como centros de informação, museus de esporte, etc., voltada para os Jogos Olímpicos, o Movimento Olímpico e o Olimpismo. Esta especialização foi proposta pelo Barão Coubertin nos anos de 1930, antes de seu falecimento, e posteriormente foi promovida pela Academia Olímpica Internacional - IOA, sediada em Olímpia, Grécia, e por suas entidades filiadas, as Academias Olímpicas Nacionais vinculadas aos Comitês Olímpicos Nacionais.[…] (Da COSTA; MIRAGAYA, 2008, p. 33-46).. Em relação aos legados dos eventos esportivos podemos destacar também, como um dos estudos pioneiros, as dimensões propostas por Brent Ritchie (1984), são elas: econômicas, turismo/comercial, físico, sociocultural, psicológica e política. As pesquisas decorrentes parecem derivar destas dimensões, concentrando-se na maior parte na área turística e econômica (TAKS, 2013). Podemos destacar, ainda, um redirecionamento nas pesquisas sobre impactos menos tangíveis, como os sociais e de participação no esporte, com os megaeventos como protagonistas (TAKS, 2013). Na abordagem de impactos sociais, sobre as diferenças de megaeventos e eventos não mega, Taks (2013, p. 124) afirma que ambos os eventos podem gerar “impactos sociais de curto ou longo prazo, positivos ou negativos, que podem levar a resultados sociais positivos ou negativos”. Para o autor, esses resultados podem tornar-se legados se perdurarem, ou seja, se eles forem sustentados. Nesta perspectiva parece ser importante observar os impactos desses eventos como possibilidade de futuros legados. Os impactos são tangíveis e, embora tenham grande expressividade em megaeventos, eles diferem dos legados pois os impactos possuem uma curta duração e a sua medição, devido ao seu aspecto tangível, é usada como uma justificativa política para investimentos de recursos escassos em eventos deste porte. Segundo Preuss (2007), a movimentação econômica gerada pelos visitantes do megaevento é considerada como um impacto econômico pois eles são de curto prazo. Porém, se as melhorias nas estruturas da cidade anfitriã atraíssem um número fixo de turistas que gerassem um influxo de capital a longo prazo esta atividade seria considerada um legado econômico. O conceito de legado no contexto de megaeventos é complexo. Os legados de megaeventos têm a sua construção baseada na multidimensionalidade positiva, no qual as suas dimensões estariam de alguma forma correlacionadas entre si (ROCHA; BARBANTI; CHELLADURAI, 2016). Segundo Rocha, Barbanti e Chelladurai (2016), essa característica multidimensional positiva tem sido utilizada para promover o apoio popular aos megaeventos. Neste sentido, com base na teoria da troca social, Rocha, Barbanti e Chelladurai.

(22) 20. (2016), relacionaram as expectativas de legados multidimensionais positivos e o trabalho do governo na preparação ao receber o evento com o apoio dos residentes locais às Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. O estudo constatou que quanto mais os residentes do Rio de Janeiro acreditavam nos benefícios multidimensionais advindos do evento mais eles estavam dispostos a apoiar o evento. A outra relação foi entre uma melhor percepção do trabalho do governo e uma maior intenção dos residentes em apoiar o evento. No entanto, a intenção em apoiar o evento foi menor em pessoas com baixo poder aquisitivo, pois segundo Rocha, Barbanti e Chelladurai (2016) talvez os cidadãos de baixa renda do Rio de Janeiro tenham a consciência que não vão ter benefícios advindos dos Jogos como os cidadãos de alta renda. Um outro fator importante a se destacar sobre as maiores expectativas dos residentes em relação ao legado de turismo quando comparado as expectativas do legado ambiental. De acordo com Rocha, Barbanti e Chelladurai (2016) a baixa expectativa com relação aos legados ambientais, pode ser decorrente dos problemas ambientais ocorridos em edições anteriores e a falta de legados positive nestas edições. Outro fator está ligado aos impactos ambientais ocorridos no Rio de Janeiro durante a preparação dos eventos. Como exemplo, os autores citam a construção de um campo de golfe nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, construída em área de preservação ambiental, no qual teoricamente nada poderia ser construído. Em uma abordagem econômica, Agha e Taks (2015) criaram uma estrutura que considera as características do evento e da cidade, enfatizando a importância dos requisitos de recursos, físicos, financeiros e humanos. O estudo apresenta o conceito de Demanda de Recursos de Eventos (DRE) como uma medida multivariada dos recursos totais necessários para organizar um evento. Em relação às cidades, é apresentado o conceito de Fonte de Recursos da Cidade (FRC) como uma medida multivariada dos recursos totais que uma cidade fornece para organizar o evento (locais, voluntários, funcionários, etc.). Segundo Agha e Taks (2015) o tamanho do evento é determinado pelos recursos locais necessários. Os recursos humanos, financeiros e físicos são representados respectivamente por funcionários e voluntários, investimentos privados e governamentais, alojamento, transporte público e privado e serviços de alimentação. Por meio desta abordagem os autores concluíram que há um nível igual de benefícios para pequenos eventos em cidades pequenas e grandes, mas custos são geralmente mais altos para pequenos eventos nas pequenas cidades do que nas grandes cidades. Outro ponto a destacar da pesquisa de Agha e Taks (2015), é que segundo eles, quanto maior a deficiência de recursos, maior a redução do impacto econômico indicando que.

(23) 21. eventos menores com uma menor demanda de recursos têm maior potencial de impacto econômico ótimo em comparação com eventos maiores com maiores demandas de recursos. Em suma, parece que mesmo no caso de pequenos eventos em que o FRC seja menor que o DRE, esses eventos estão mais próximos de alcançar o impacto econômico ótimo que os grandes eventos. Porém, para Taks, Chalip e Green (2015), por meio dessa ótica, parece ser óbvio que os eventos de menor escala exijam menos recursos e, portanto, sejam mais propensos a gerar resultados econômicos mais positivos (ou menos negativos) do que os megaeventos esportivos. Contudo, em relação aos eventos não mega, os autores parecem concordar com o fato que esses eventos proporcionam oportunidades para impactos e resultados sociais mais positivos (ou menos negativos) para comunidades anfitriãs do que os megaeventos esportivos. A probabilidade maior da ocorrência de impactos sociais mais positivos em eventos não mega ocorreria devido à maior reciprocidade nas comunidades anfitriãs. Segundo Taks, Chalip e Green (2015), o voluntariado em eventos não mega é uma experiência coletiva e um resultado direto do capital social, o que parece gerar um maior capital humano nas comunidades anfitriãs. Outro fator importante no que tange capital social, é o legado de participação, que pode ser gerado pelo impacto de participação. Taks, Chalip e Green (2015) relatam que as infraestruturas nos eventos não mega geralmente são atualizadas ou construídas visando a comunidade anfitriã, o que pode proporcionar a utilização destes espaços a longo prazo para a participação no esporte de uma forma mais sustentável. A expressão capital social utilizada por Taks, Chalip e Green (2015), pode ser entendida como sinônimo de legado de participação, contudo segundo Portes (2000), o alargamento deste conceito pode colocar seu valor heurístico em risco. Portes (2000) diz que dentre as teorias sociológicas o capital social foi uma das mais utilizadas e usadas em diferentes contextos. De acordo com Portes (2000, p. 153) para a abordagem sobre o capital social é necessário reconhecer “... suas diferentes fontes e os seus diferentes efeitos, e que os seus aspectos negativos sejam examinados com a mesma atenção.” Neste mesmo direcionamento D’Araújo (2003) diz que o conceito de capital social quando mal compreendido pode desqualificá-lo como instrumento conceitual e prático para a consolidação de políticas públicas. Segundo D’Araújo (2003, p. 10) capital social tem haver com a capacidade de cooperação e confiança para a produção do bem público, no qual a autora o define como “... a argamassa que mantém as instituições em contato entre si e as vincula ao cidadão visando à produção do bem comum.” No que tange o estudo sobre o legado de participação, os resultados mostram-se.

(24) 22. contraditórios, pois segundo Wicker e Sotiriadou (2013) os resultados apresentados na literatura são em geral resultados intangíveis e controversos. Nessa acepção, um dos efeitos abordados na literatura acadêmica referentes ao legado de participação em megaeventos é o “trickle-down effect”, expressão em inglês que seria equivalente ao “efeito cascata”. O “trickle-down effect” é um efeito que inspira os indivíduos a participar mais de atividades físicas e esporte através da inspiração gerada pelo esporte de elite em grandes eventos (WICKER; SOTIRIADOU, 2013). Nesse sentido, é possível observar uma grande parte da literatura de megaeventos que aborda a participação esportiva (WEED et al., 2009; POTWARKA; LEATHERDALE, 2016; CHALIP et al., 2017). Em relação aos Jogos Olímpicos, a maioria dos estudos apresenta evidências inconclusivas, mas que dizem que o esporte de alto rendimento parece ter um resultado contrário à inspiração da participação, devido à diferença de competência percebida (WEED et al., 2009). Contudo, Reis, de Sousa-Mast e Gurgel (2013) ressaltam a necessidade de planejamento para alavancar os legados de participação dos eventos principais, os eventos esportivos necessitam ser melhor planejados, para que tenham maior possibilidade de gerar legados de participação, pois apenas a sua realização não é garantia “[…] para aumentar a participação em atividades físicas e esportivas, ou para incentivar comportamentos saudáveis de saúde” (WEED et al., 2009, p. 57). Porém, de acordo Wicker e Sotiriadou (2013), é importante analisar o “trickle-down effect” em grupos específicos, pois seria possível identificar os grupos que se beneficiariam mais do que outros e por quais motivos. Sob o mesmo ponto de vista de Wicker e Sotiriadou (2013), Potwarka e Leatherdale (2016) relatam a importância de se investigar o efeito cascata em segmentos particulares de uma população e sobre a necessidade desta investigação ocorrer com comunidades próximas ao evento. Para Potwarka e Leatherdale (2016, p. 243), em direção ao que relata Weed et al. (2009) a deficiência na literatura acadêmica sobre o “trickle-down effect” decorre da falta de dados apropriados. Isso ocorreria, na opinião destes autores, devido ao fato de os estudos serem realizados a nível macro, abrangendo toda a nação, estado ou província, pois as pesquisas “[...] devem considerar dados de participação mais localizados entre subpopulações particulares dos anfitriões do evento”. Potwarka e Leatherdale (2016) utilizaram dados do Canadian Institute for Health Information para analisar os possíveis níveis de participação de jovens de ambos os sexos gerados pelas Olimpíadas de Inverno de Vancouver 2010, onde foi observado um aumento significativo na taxa de mulheres ativas/moderadamente ativas de 2007-2008 (pré-evento) para 2009-2010 (ano anterior ao evento e ano em que o evento foi encenado). Outro dado importante desta pesquisa, foi o fato da mudança em relação ao.

(25) 23. aumento da participação ser sustentado por pelo menos dois anos. Embora tal estudo ainda não seja suficiente para fornecer dados definitivos sobre o “trickle-down effect”, pela falta de dados longitudinais, a pesquisa é uma das pioneiras a encontrar níveis de atividade física e de lazer que podem ser atribuídos a um megaevento. O legado de participação é uma constante nos discursos das autoridades ao se tentar promover os megaeventos. Contudo, se o “trickle-down effect” for uma realidade, seja em comunidades e grupos específicos mais próximos à realização do evento, como defende Potwarka e Leatherdale (2016) ou se o “trickle-down effect” proporcionar um resultado contrário à motivação para a população tornar-se mais ativa como relata Weed et al. (2009), o aumento da participação da população no esporte a partir de eventos esportivos necessita ser planejado. O método de debate e construção de ideias para a alavancagem da participação esportiva a partir dos megaeventos proposto por Chalip et al. (2017), parece ser uma boa alternativa. O estudo desenvolvido por Chalip et al. (2017) formou um grupo de especialistas que estavam envolvidos e/ou se beneficiariam do evento para identificar os desafios e propor alternativas no processo de alavancagem da participação. Um dos maiores desafios encontrados foi o contraste entre as habilidades dos atletas e a percepção da população em relação às suas próprias habilidades (CHALIP et al., 2017). Como alternativa para este desafio, o grupo de especialistas sugeriu que um sentimento de conexão fosse desenvolvido a partir da construção de uma imagem mais realista ou humana dos atletas por meio do apoio da mídia (CHALIP et al. 2017). Contudo, a alavancagem da participação necessita da aliança entre as organizações esportivas e os organizadores do evento. O capital social parece ser um dos legados mais importantes dos eventos esportivos. Este tem sido estudado na literatura acadêmica em concepções referentes às questões civis, bem-estar, identidades coletivas, regeneração urbana, capital humano e participação no esporte (DJABALLAH; DESBORDES; HAUTBOIS, 2015). Segunto Taks (2013) os eventos não mega tendem a gerar um capital social mais horizontal em relação aos megaeventos, ou seja, uma forma de capital social que representa igualdade entre os cidadãos, no qual ocorreira uma maior participação cívica e o um aumento no nível de confiança social. A pesquisa de Ruhanen e Whitford (2011) sobre o Festival Esportivo e Cultural Anual que ocorre na cidade de Brisbane, na Austrália, reafirma a premissa que eventos não mega tendem a gerar um capital social mais positivo, principalmente referente ao legado de participação. Este festival é um evento esportivo indígena, com comunidades em torno da Austrália e do Pacífico Sul, que ocorre anualmente desde 1993. Segundo Ruhanen e Whitford (2011), os aborígenes australianos mesmo já possuindo um histórico de atividades esportivas.

(26) 24. e de lazer anterior ao evento, possuem benefícios mais amplos, como exemplo a experiência canadense de comunidades francófonas minoritárias demonstra o sucesso da promoção de identidades indígenas através da organização de eventos esportivos. De acordo com Ruhanen e Whitford (2011, p. 43), o Festival Esportivo e Cultural Anual proporcionou “uma ocasião para se envolver em atividades esportivas e de lazer, uma oportunidade de compartilhar e fortalecer a cultura e a identidade da comunidade, e o desenvolvimento do capital social”. Nesse contexto, no qual os eventos não mega tem um maior potencial para o desenvolvimento de capital social, os Jogos dos Povos Indígenas (JPI) podem e devem ser entendidos com uma relevante oportunidade para as comunidades indígenas brasileiras. Classificar os JPI no meio científico significa sair do campo de definições do senso comum e possibilitar a construção de conceitos mais sólidos.. Como afirma Gruppi (2013, p. 85), “os Jogos dos Povos Indígenas são ações idealizadas pelos irmãos Mariano Marcos Terena e Carlos Justino Terena por meio do Comitê Intertribal de Memória e Ciência Indígena em parceria com o Ministério do Esporte […]”. De acordo com dados do Ministério do Esporte (http://www.esporte.gov.br/), a primeira edição dos Jogos dos Povos Indígenas ocorreu em 1996 em Goiânia, com a participação de mais de 30 etnias. Os jogos têm sido organizados pelo Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena (ITC) e patrocinados pelo Ministério do Esporte. Os jogos estão na sua XIII edição, que ocorreu em 2013 na cidade de Cuiabá, no qual estiveram presentes 48 etnias. Algumas das modalidades presentes nos jogos são: canoagem, arco e flecha, arremesso de lança, corrida de tora, cabo de força e futebol. O principal lema dos jogos é “celebrar e não competir”, seja nas atividades tradicionais ou não tradicionais, assim relatada por Gruppi (2013, p. 110):. As práticas corporais consideradas pelos indígenas como tradicionais são as que fazem parte de seus rituais, e as práticas ocidentais como o futebol compõem os Jogos dos Povos Indígenas e revelam as manifestações culturais desses povos, com intenção de celebrar o encontro das etnias sem se preocuparem com resultados ou performances.. De acordo com Gruppi (2013), os Jogos dos Povos Indígenas ao longo das edições de 1996 a 2011 tiveram como organizadores os seus idealizadores representantes do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, bem como o apoio de setores como os Ministérios da Educação, Cultura, Justiça, Esportes, e das Secretarias Estaduais e Municipais. As edições XI e a XII dos jogos também foram realizados com o apoio do Comitê Intertribal – Memória e.

(27) 25. Ciência Indígena (ITC), dos governos locais das cidades anfitriãs e com o patrocínio do Ministério do Esporte. Desde 2019 com a extinção do Minsitério do Esporte, a pasta do esporte foi incorporada ao Ministério da Cidadania, Ministério da Cultura e Ministério do Desenvolviemnto Social. Após estas mudanças, teoricamente, o apoio aos JPI estariam submetidos a estes ministérios, porém até o fechamento desta pesquisa nenhuma informação sobre realizações futuras dos JPI foram relatadas. Os JPI não possuem uma periodicidade regular, pois a sua realização está vinculada à diversos fatores, o mais determinante deles está veiculdao aos embates dos seus idealizadores e organizadores com as decisões da gestão federal vigente. O lema dos jogos, acima colocado, nos remete à ideia da concepção diferenciada que os povos indígenas têm das práticas corporais e a importância de reconhecer as especificidades de cada etnia. Nessa visão, caracterizar o evento JPI como não mega nos remete a uma reflexão mais profunda, que abarcará o envolvimento de áreas tais como a sociologia e a antropologia. Contudo, o foco do presente trabalho ao classificar os JPI como não mega se encontra na possibilidade de verificar legados positivos que estes trazem para os principais beneficiários, os indígenas (RAMCHANDANI et al, 2015; AGHA; TAKS, 2015). Quanto aos possíveis legados no aspecto político, Pinto (2015, p. 38) relata que com a iniciativa dos irmãos Marcos e Carlos Terena foi possível abrir caminho para garantia de alguns direitos indígenas: […] consagrados pelos artigos 231 e 232 da Constituição federal brasileira de 1988. Direitos também legitimados pela Convenção n.169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 07/06/1989, homologada pelo Governo Brasileiro por meio do Decreto Presidencial 5.051, de 19 de abril de 2004; a Política Nacional de Esporte (Brasil, 2005); e a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas de 07/09/2007.. Outro legado importante atribuído aos JPI por Pinto (2015), é a revitalização da ludodiversidade cultural por meio da inclusão de modalidades tradicionais relacionadas à sobrevivência e rituais sagrados. O legado da valorização da visão de mundo indígena, da sua espiritualidade e de suas memórias está apoiado por meio do uso nos JPI de símbolos da natureza como a água, o fogo e as sementes. A escolha dos temas e das logos, onde sempre estão presentes aspectos da cultura indígena, também reforçam este legado (PINTO, 2015). Em entrevista concedida para Pinto (2015), Marcos Terena, diz que os JPI têm como um dos seus objetivos conscientizarem a população que o evento não se trata apenas de um campeonato de índios, de esportes indígenas, mas que os Jogos têm toda uma celebração, uma.

(28) 26. tradição, um rito que se faz na aldeia e que precisava ser trazido para a cidade. Ainda, para Pinto (2015), os JPI são festas que têm por objetivo celebrar vidas humanas e sua relação com a natureza: terra e meio ambiente. Dentro desta perspectiva, pode-se dizer que esses eventos têm características singulares, ilustrado, por exemplo, pela escolha dos temas, como relatado acima, em cada edição, como explana Pinto (2015, p. 48): I JPI: Goiânia/GO, 1996: Programa do Índio - Os povos indígenas vão mostrar que esporte não é reserva de branco. II JPI: Guaíra/PR, 1999 (na fronteira ArgentinaParaguai): A Terra de todas as Tribos. III JPI: Marabá/PA, 2000 (na Amazônia brasileira): A União das Tribos. IV JPI: Campo Grande/MS, 2001 (região do Pantanal): Compromisso com nossas Tribos. V JPI: Marapanim/PA, 2002: Jogos do Homem-Natureza. VI JPI: Palmas/TO, 2003: Esta Terra é Nossa. VII JPI: Porto Seguro/BA, 2004 (local da chegada dos “caraíbas” portugueses): 1994/2004 Década Internacional do Índio. VIII JPI: Fortaleza/CE, 2005: O importante não é competir e, sim, celebrar. IX JPI: Recife e Olinda/PE, 2007: Água é vida, direito sagrado que não se vende. X JPI: Paragominas/PA, 2009: O importante não é ganhar e, sim, celebrar. XI JPI: Porto Nacional/TO, 2011: Importante não é ganhar e, sim, celebrar. XII JPI: Cuiabá/MT, 2013: Soberania alimentar: alimentação e respeito à Mãe Terra (Fontes: Site do ITC; banco de dados LABJOR/Unicamp).. Abaixo os logos compilados por Ferreira e Vinha (2015, p. 48). Figura 1 - Logos da I a X edições dos JPI.

(29) 27. Segundo Almeida (2008), os Jogos nasceram de uma demanda dos povos indígenas brasileiros aos órgãos governamentais e, de acordo com o Regulamento Geral, têm por finalidade fortalecer a identidade cultural das sociedades indígenas, procurando obedecer à concepção e à filosofia tradicional de cada etnia participante. Contudo, os JPI são um evento esportivo amparado por lei, previsto na Constituição Federal Brasileira de 1988, no Artigo 217, que diz que é dever do Estado fomentar práticas esportivas formais e não-formais, como direito de cada um especialmente o inciso IV que trata sobre a proteção e o incentivo às manifestações esportivas de criação nacional. Além desse artigo, os JPI são uma via para garantir também os direitos previstos nos artigos 231 e 232 da Constituição Federal Brasileira que tratam sobre garantias à cultura e o direito às terras dos índios. A Declaração da ONU (Organização das Nações Unidas) dos Direitos dos Povos Indígenas reconhece e afirma direitos fundamentais e universais no contexto das culturas, realidades e necessidades indígenas. No momento denominado como “Década Internacional do Índio” a primeira edição dos JPI ocorrida em Goiânia (1996) foi considerada como o evento mais importante realizado em nível nacional e internacional.

(30) 28. (GRUPPI, 2013). O pioneirismo brasileiro em reafirmar e promover os direitos dos povos indígenas por meio da promoção dos JPI vem ao encontro com os propósitos e princípios da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. No quadro em que os indígenas brasileiros são um grupo em risco de exclusão social os JPI se apresentam como uma alternativa para conquista de legados nas áreas políticas; na revitalização da ludodiversidade cultural; na valorização da visão de mundo indígena, na sua espiritualidade e memórias; e nas trocas entre indígenas e destes com os não indígenas (PINTO, 2015, p. 39). Nessa linha de considerações, Harvey (2001) diz que a participação em eventos esportivos e de recreação tem benefícios positivos no desenvolvimento emocional, físico e social, especialmente em grupos com risco de exclusão social. A despeito disso, os JPI como evento não mega e com protagonismo indígena têm maiores probabilidades de legados positivos. Sendo assim, o propósito de apresentar um breve histórico dos JPI e explanar sobre seus objetivos foi tentar construir uma base para caracterizá-lo como um evento não mega, com potencial de deixar legados para os seus principais beneficiários. A seguir uma amostra da situação indígena em que a perspectiva dos legados pode estar inserida.. O contato cultural da população indígena de todo mundo com pessoas não indígenas é formado por uma história de preconceito e discriminação, que afeta profundamente seu bemestar físico, social e psicológico. Segundo Trovato (2001), existe uma grande mortalidade nestas comunidades por morte prematura por acidentes, violência e suicídio, enquanto, ao mesmo tempo, nas últimas décadas houve uma crescente incidência de doenças crônicas degenerativas. De acordo com Cardoso, Mattos e Souza (2001), fatores que colaboram para essa baixa qualidade de vida estão ligados às mudanças alimentares, estresse psicológico, sedentarismo, obesidade, hereditariedade e mudanças socioeconômicas. O estudo realizado por Cardoso, Mattos e Koifman (2001) diz que em decorrência do processo de crise de identidade cultural, destruição dos ecossistemas, onde os indígenas vivem, e mudanças de hábito acarretaram um aumento das doenças de diabetes, cardiovasculares e transtornos mentais. Em relação à saúde mental, Oliveira e Lotufo Neto (2003) relatam que a maioria da população indígena apresenta problemas como depressão e abuso de substâncias químicas como a exemplo dos índios norte-americanos do sudoeste dos EUA, dos esquimós do oeste do Alaska e dos nativos do Canadá, principalmente os indígenas da etnia Cree..

(31) 29. O estudo realizado por Ferreira, Matsuo e Souza (2011) mostra que a realidade da população indígena no Brasil não é diferente. As mudanças do seu estilo de vida, da sua relação com a terra, a incorporação de novos hábitos culturais e a diminuição das atividades físicas também acarretou um aumento em doenças crônico-degenerativas como diabetes mellitus, obesidade e hipertensão. A pesquisa realizada com indígenas do Mato Grosso do Sul, onde se concentra a segunda maior população indígena do país, mostrou a existência de doenças cardiovasculares atribuídas principalmente às alterações no estilo de vida e na diminuição das atividades físicas (FERREIRA; MATSUO; SOUZA, 2011). Em concordância com o quadro mundial, foram detectadas também altas taxas de suicídio na população indígena, que para Ferreira, Matsuo e Souza (2011, p. 2336) ocorrem devido “…à destruição da cultura causada pela perda de seus antigos territórios e aos problemas gerados pelo confinamento compulsório em pequenas áreas de terra em que se encontram atualmente”. Neste contexto, a investigação do legado de participação nos JPI é oportuna, pois eventos dessa dimensão que possuem os indígenas como protagonistas podem oferecer algum retorno aos povos e às comunidades indígenas ao estimular a prática de atividades esportivas (RUHANEN; WHITFORD, 2011). Referente à saúde mental é viável dizer que “…a inclusão de performances culturais indígenas, alimentos, arte e artesanato no festival, ao lado do componente esportivo, reforçam a identidade cultural, o orgulho da comunidade e o sentimento de pertença” (RUHANEN; WHITFORD, 2011, p. 46). O estudo de Ruhanen e Whitford (2011) citado anteriormente, sobre o Festival Anual de Esportes e Cultura realizado na Austrália, apresenta como duas das principais características citadas dos entrevistados a participação esportiva e a oportunidade de se envolver em atividades físicas. Isto significa dizer que se houver um legado de participação resultante dos JPI, isso poderá contribuir positivamente na saúde física das comunidades indígenas como uma maneira de combater possíveis doenças crônicas-degenerativas. Em concordância, Ferreira e Vinha (2015, p. 243) destacam que os JPI podem ter influências positivas sobre a saúde social dos indígenas, pois representam um contexto onde é possível realizar “[…] vínculos com o ambiente de pertencimento, no qual todos se conhecem, se influenciam mutuamente e cuja participação está carregada de significados, promovendo experiências que são incorporadas pelo grupo e pelo indivíduo.” A visão amplificada sobre saúde e a não restrição do conceito apenas aos aspectos mentais ou físicos é importante. A importância dos legados dos JPI também está direcionada à saúde social, como citado acima. A autora Vinha (2015, p. 230) ressalta a necessidade do afastamento do conceito de saúde de uma visão eurocêntria e reducionista, no qual “[...] a.

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