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Academic year: 2021

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(1)AGDA DIAS BAETA. DISNEY PÓS-MODERNA A presença do discurso pós-moderno nas histórias em quadrinhos da personagem Margarida. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicações e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Pós-Graduação Lato-Sensu de Especialização em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas São Paulo, 2006.

(2) AGDA DIAS BAETA. DISNEY PÓS-MODERNA A presença do discurso pós-moderno nas histórias em quadrinhos da personagem Margarida. Monografia apresentada ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em cumprimento parcial às exigências do Curso de Pós-Graduação Lato-Sensu, para obtenção do título de Especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, sob a orientação do Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa.. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicações e Artes São Paulo, 2006.

(3) Disney Pós-Moderna. Aprovação. Professor Orientador: ____________________________________________________ Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa. Professor Convidado: ____________________________________________________ Prof. Dr. Waldomiro de Castro Santos Vergueiro. Professor do Curso: ______________________________________________________ Prof. Ms. Arlindo Ornellas Figueira Neto. Nome do Autor: Agda Dias Baeta Título da Monografia: Disney Pós-Moderna Aprovada em: 07 de março de 2006 Instituição: Universidade de São Paulo – Escola de Comunicações e Artes. Agda Dias Baeta. 3.

(4) Disney Pós-Moderna. Resumo. O que está por trás do discurso supostamente inocente das histórias em quadrinhos? Muito além do entretenimento, ele dissemina ideologias e padrões de comportamento. Em Disney Pós-Moderna, a autora analisa o papel da mulher no período pós-moderno e sua relação com o discurso das histórias em quadrinhos da personagem Margarida, produzidas no Brasil nas décadas de 80 e 90.. Palavras-chaves: pós-modernidade, feminismo, mulher, Disney, história em quadrinhos, crise de identidade do sujeito, comunicação, cultura.. Agda Dias Baeta. 4.

(5) Disney Pós-Moderna. Abstract. What is behind the supposedly innocent discourse of comics? Besides entertainment, it disseminates ideologies and models of behaviour. In Disney Postmodern, the author analyzes both the role of women in the postmodern period and its relation to the discourse of the comics character Daisy Duck, produced in Brazil in the 80´s and 90´s.. Key-words: postmodernism, feminism, woman, Disney, comic, crisis of identity, communication, culture.. Agda Dias Baeta. 5.

(6) Disney Pós-Moderna. Resumen. ¿Qué hay detrás del discurso supuestamente inocente de las historietas? Además de entretenimiento, éste disemina ideologías y patrones de comportamiento. En Disney Postmoderna, la autora analiza el papel de la mujer en el periodo posmoderno y su relación con el discurso de las historietas de la personaje Daisy1, producidas en Brasil en las décadas de 80 y 90.. Palabras Clave: posmodernismo, feminismo, mujer, Disney, historieta, crisis de identidad, comunicación, cultura.. 1. Margarita en Argentina.. Agda Dias Baeta. 6.

(7) Disney Pós-Moderna. Sumário Apresentação............................................................................................................................ 8. Primeira Parte: Comunicação, Ideologia, Contexto Social e Histórias em Quadrinhos ..... 10 1.1. Introdução................................................................................................................... 11. 1.2. Histórias em Quadrinhos, Ideologia e Comportamento ......................................... 13. 1.2.1 1.2.2. 1.3. A evidência do discurso social nos quadrinhos ..................................................................15 A influência no público leitor .............................................................................................18. Pós-Modernidade........................................................................................................ 21. 1.3.1 Modernidade ou Modernismo?...........................................................................................22 1.3.2 Teoria das Ondas ................................................................................................................22 1.3.3 Uma nova ambiência ..........................................................................................................24 1.3.3.1 A Nova Era ....................................................................................................................24 1.3.3.2 A Sociedade...................................................................................................................28 1.3.3.3 O Sujeito........................................................................................................................31 1.3.3.4 A Mulher ........................................................................................................................33. 1.4. A Personagem Margarida.......................................................................................... 36. 1.4.1 1.4.2. A Super Pata .......................................................................................................................39 O Gibi .................................................................................................................................40. Segunda Parte: Evidências de uma Margarida Pós-Moderna .......................................... 41 2.1. Crise e Pluralismo do Sujeito .................................................................................... 42. 2.2. O Feminismo como Deslocamento do Sujeito .......................................................... 45. 2.3. O Relacionamento Amoroso, o Casamento e a Maternidade ................................. 50. 2.4. Tarefas Domésticas..................................................................................................... 55. 2.5. O Fim do Sexo Frágil .................................................................................................. 58. 2.6. Feminista, sem deixar de ser feminina...................................................................... 60. 2.7. Simulacro .................................................................................................................... 64. 2.8. Profissional do Conhecimento ................................................................................... 67. 2.9. A Conquista do Mercado de Trabalho ..................................................................... 68. 2.10 Cidadã - consciente...................................................................................................... 74 2.11 Identidades Contraditórias......................................................................................... 76. Terceira Parte: Considerações Finais ............................................................................. 79 3.1 3.1.1 3.1.2 3.1.3. Conclusão .................................................................................................................... 80 A mulher nos meios de comunicação nos anos 80 .............................................................80 Um novo estereótipo...........................................................................................................82 Mudança Global .................................................................................................................84. Bibliografia .................................................................................................................... 86 Livros......................................................................................................................................87 Teses e Dissertações ...............................................................................................................89 Monografias............................................................................................................................90 Artigos ....................................................................................................................................90 Sites ........................................................................................................................................92 Gibis........................................................................................................................................93. Anexos ............................................................................................................................ 94 Histórias em quadrinhos citadas .........................................................................................................95. Agda Dias Baeta. 7.

(8) Disney Pós-Moderna. Apresentação. As mudanças que caracterizam a pós-modernidade repercutem em todos os setores de nossas vidas e provocam alterações no nosso modo de pensar e agir. Essas transformações foram apresentadas por Alvin Toffler (1980) em seu livro A Terceira Onda, no qual o autor descreve o declínio da sociedade industrial e o desenvolvimento da economia cerebral propiciados pelo avanço tecnológico e pelo aumento da importância do conhecimento no âmbito econômico. Com a mesma intensidade, essas mudanças atingem o contexto político e social, o que acarreta a crise dos valores modernos e a redefinição de papéis, tanto das instituições sagradas da modernidade – Estado, Igreja, Família e Escola – quanto do próprio indivíduo em relação ao mundo e a si mesmo.. Todos os conceitos - seja no campo econômico, político ou social - se alteram e a comunicação não passa imune diante dessa situação. Ela capta e dissemina o movimento de mudanças, propagando os novos valores e evidenciando os acontecimentos latentes. Os meios de comunicação funcionam como radar dos deslocamentos de valores e difusor dos novos comportamentos.. Apesar de ter nascido em um mundo já marcado pela importância da imagem e de ter sido criada em um país que tem a televisão como referência de vida, sempre gostei da leitura e essa sempre fez parte da minha vida, seja em forma de livros, jornais, revistas ou até mesmo, gibis. Ao realizar leituras sobre o contexto atual em que vivemos, me deparei com conceitos sobre pós-modernidade, terceira onda, modernidade tardia e crise do sujeito. Todos esses assuntos me fascinaram e me fizeram pensar sobre a minha própria formação.. Quais foram as influências de pensamento que sofri ao longo de minha vida? E como que numa retrospectiva, recordei as viagens que tive a oportunidade de fazer, os anos escolares, os professores que me foram exemplo, a convivência com diferentes grupos de amigos, a família, as músicas que ouvi, os filmes que assisti e... como não poderiam faltar, as leituras que fiz. E já no final dessa retrospectiva me deparei com um gibi que aos dez anos eu adorava: o gibi da Margarida!. Agda Dias Baeta. 8.

(9) Disney Pós-Moderna. Qual a relação desse gibi com a pós-modernidade e com a terceira onda de Toffler? Na década de 80, a personagem Margarida (isso mesmo... a namorada do Pato Donald... ou melhor, simplesmente Margarida, aliás, ela tornou-se independente) além de um gibi próprio, ganhou uma nova personalidade. Ela deixou de ser a coadjuvante namorada do Pato Donald e transformou-se no retrato da mulher da terceira onda. O velho coletinho preto e rosa foi substituído por roupas modernas, ela passou a trabalhar fora e a lutar por seus direitos e ideais. Este estudo analisa o discurso pós-moderno nas histórias em quadrinhos da personagem e verifica a influência que causou na formação de garotas, que como eu, eram leitoras assíduas do gibi.. Agda Dias Baeta. 9.

(10) Primeira Parte Comunicação, Ideologia, Contexto Social e Histórias em Quadrinhos.

(11) Disney Pós-Moderna. 1.1. Introdução. Alvin Toffler lançou o seu livro A Terceira Onda em 1980. O gibi número um da Margarida foi lançado no Brasil em 18 de julho de 1986. A personalidade atribuída à personagem, nas histórias em quadrinhos elaboradas no Brasil, está sustentada em valores que coincidem com aqueles apresentados por Toffler e por outros autores que se dedicaram ao estudo da pós-modernidade.. A coincidência nas datas de publicação do livro de Toffler e do gibi da Margarida evidencia a repercussão mundial, em diferentes meios de comunicação, dos mesmos valores e conceitos. As mudanças que se processam no contexto global e que afetam – inevitavelmente - o indivíduo, se tornam objeto de estudo de diversas áreas do conhecimento e compõem o discurso de diferentes manifestações de informação, cultura e lazer, entre elas, as histórias em quadrinhos.. Será que o discurso utilizado nas histórias em quadrinhos apenas reflete as mudanças mundiais discutidas pelos diferentes autores ou também são responsáveis pela sua disseminação? Até que ponto a linguagem utilizada para levar entretenimento para crianças não conduz o comportamento das mesmas? Pretendo com este estudo evidenciar a repercussão dos ideais pós-modernos no discurso aparentemente inocente das histórias em quadrinhos. A leitura de um gibi está repleta de significados e dissemina de maneira efetiva temas complexos estudados pelas teorias da comunicação.. Para isso, analisarei as histórias da personagem Margarida criadas pelos quadrinhistas brasileiros no período de 1986 a 1997, época em que o gibi com título próprio da personagem esteve no mercado. Este estudo comparará o discurso dessas histórias com as transformações ocorridas no indivíduo no período chamado de nova ambiência (transição da modernidade para a pós-modernidade).. Entre as características pós-modernas que serão abordadas, atribuo maior relevância à crise de identidade do sujeito - analisada por Stuart Hall (2005) em seu livro A Identidade Cultural na Pós-Modernidade - ocasionada pelas mudanças conceituais. Agda Dias Baeta. 11.

(12) Disney Pós-Moderna. ocorridas a partir do final do século XX, em especial pelo feminismo, tido por Hall como o quinto fato responsável pelo deslocamento do sujeito na atualidade.. Agda Dias Baeta. 12.

(13) Disney Pós-Moderna. 1.2. Histórias em Quadrinhos, Ideologia e Comportamento. Por analisar o discurso das histórias em quadrinhos da Margarida, este trabalho relaciona-se às histórias do universo Disney e conseqüentemente às histórias em quadrinhos americanas. Ao contrário do que ocorreu na Europa, os primeiros quadrinhos americanos foram as comic strips - conhecidas no Brasil como ‘tirinhas’publicadas nos grandes jornais de Nova York por volta de 1895. A entrada dos personagens de Walt Disney para o mundo dos quadrinhos ocorreu na década de 1930, ocasião em que o estúdio passava por dificuldades financeiras e começou a comercializar produtos com os personagens dos desenhos animados, além de licenciar os direitos de publicação de tira do personagem Mickey. Dessa maneira, Mickey e Pato Donald ganharam a simpatia dos leitores e novos personagens foram criados tanto para os desenhos animados quanto para as histórias em quadrinhos.. Devido a sua origem no desenho animado, as histórias em quadrinhos Disney estão associadas ao público infantil e são consideradas, pela grande massa, unicamente fonte de entretenimento. Por ter seu uso relacionado ao lazer e ao passatempo, a princípio, seu conteúdo é tido como menos relevante no contexto comunicacional. No entanto, ao analisar a história das histórias em quadrinhos percebe-se que esse meio de comunicação de massa não é assim tão inocente. Desde sua origem, as histórias em quadrinhos têm causado - no Brasil e no mundo - inúmeras polêmicas e proibições em torno do seu discurso ideológico e moral. Entre elas podemos citar a intervenção do governo fascista em 1938, na Itália, que proibiu a importação de quadrinhos estrangeiros; a publicação em 1954 de The Seduction of the Innocent, escrito por Frederic Wertham, “que marcou o apogeu de violenta campanha contra as histórias em quadrinhos” (Vergueiro, 1985:6), porque nele o autor alertava pais e educadores em relação aos malefícios causados por essas histórias; e a censura durante o regime militar brasileiro que afetou não só a música, a televisão e a imprensa, mas também os quadrinhos.. Cabe aqui lembrar que os contos populares dos Irmãos Grimm que inspiraram a maioria dos contos-de-fada produzidos pela Disney também eram direcionados para as crianças:. Agda Dias Baeta. 13.

(14) Disney Pós-Moderna. “na tradição oral, as histórias compiladas não eram destinadas ao público infantil e sim aos adultos. Foram os Irmãos Grimm que dedicaram-nas às crianças por sua temática mágica e maravilhosa. Fundiram, assim, esses dois universos: o popular e o infantil. O título escolhido para a coletânea ‘Histórias das crianças e do lar2’ já evidencia uma proposta educativa” (Oliveira, s/d3).. Assim, as histórias dos irmãos alemães - conhecidas mundialmente através da distribuição industrial dos desenhos animados de Walt Disney - já apresentavam no início do século XIX um conteúdo moralizante. O castigo era, em todas as narrativas, o final para as personagens que não se comportavam de acordo com as normas estabelecidas pela sociedade. Isso evidencia que a leitura infantil está repleta de significados, ideologias e padrões de comportamentos e não constituem apenas um meio de fuga da realidade ou passaporte para um mundo fantástico. Serve também de instrumento moralizador e ideológico.. Diante disso, por que as histórias em quadrinhos estariam neutras em seu discurso? Com o advento da indústria cultural de massa4, as histórias em quadrinhos das personagens de Walt Disney - que começaram a ser publicadas em forma de revistas em quadrinhos (os comic books norte-americanos), conhecidas popularmente no Brasil como gibis5 ganharam repercussão mundial e passaram a ser consumidas não somente pelo público americano, mas também pelos países europeus e latino-americanos. Nesse contexto, estudos foram realizados na eminência de provar que as histórias em quadrinhos, enquanto produto cultural, carregam a influência da sociedade em que são desenvolvidas. Como trata Mosatta:. 2. A primeira compilação de histórias dos Irmãos Grimm tinha 51 contos e data de 1810. Publicada pela primeira vez em 1812, Histórias das Crianças e do Lar teve um segundo volume publicado em 1815. A edição foi revista e aumentada em 1819 e depois em 1822. A última edição que aparece em vida dos irmãos Grimm é de 1857 e conta com 181 histórias. Fonte: http://www.graudez.com.br/litinf/ autores/grimm/grimmhtm, acessado em 05/02/2006. 3 Fonte: http://www.graudez.com.br/litinf/ autores/grimm/grimmhtm , acessado em 05/02/2006. 4 “Desde o início, sua característica (da história em quadrinhos) foi a de comunicação de massa, uma vez que atingia um público enorme” (Bibe-Luyten, 1985: 10). 5 “Poucas pessoas se lembram de que a palavra ‘gibi’ significa ‘moleque’. É que houve uma revista com este nome, nas décadas de 30 a 40, que, de tão difundida, emprestou seu nome a todas as revistas de quadrinhos do país” (Bibe-Luyten: 1985: 11).. Agda Dias Baeta. 14.

(15) Disney Pós-Moderna. “Las historietas, en los Estados Unidos, no son tan inofensivas: no solo se encuentran casi absoluta y verticalmente integradas a la sociedad que las origino, sino que se hallan estrechamente mezcladas con las instituciones interesadas en la integración y el status quo social”6 (1982:21).. 1.2.1 A evidência do discurso social nos quadrinhos. As histórias em quadrinhos retratam o contexto social e a ideologia do autor que as escreve e conseqüentemente do ambiente em que ele vive. Muitos são os estudos que evidenciam a influência do discurso ideológico e político nas histórias em quadrinhos. Entre eles, o livro Para Ler o Pato Donald, de Ariel Dorfman e Armand Mattelart, lançado em 1976 no Chile7 e que “embora cientificamente não tenha muitos méritos, destacou-se pelo grande número de reações que despertou entre os estudiosos e aficionados do gênero” (Vergueiro, 1985:12).. Nessa obra, definida por Vergueiro como “parcial, radical, antiimperialista e anticolonialista” (1985:12), os autores denunciam a disseminação dos ideais norteamericanos nos países da América Latina através da exportação de suas histórias em quadrinhos. Segundo os autores, o discurso contido nas histórias reflete a ideologia imperialista americana e tem o objetivo de divulgar para o mundo a supremacia dos EUA em relação aos países subdesenvolvidos. Hegemonia essa, justificada segundo critérios associados ao controle econômico. Nas historias analisadas no livro torna-se evidente o argumento de que o mais rico é o que manda e os menos afortunados devem obedecer sem questionar:. “todo personagem está de um lado ou de outro da linha demarcatória do poder. Os que estão abaixo devem ser obedientes, submissos, disciplinados, e aceitar com respeito e humildade as ordens superiores. Os que estão acima exercem, em troca, a coerção constante: ameaças, repressão física e moral, domínio econômico (...). Ser mais velho ou mais rico ou mais belo neste mundo dá imediatamente o direito de mandar nos menos ‘afortunados’. Estes aceitam 6. “As histórias em quadrinhos, nos EUA, não são tão inofensivas: não só se encontram quase absoluta e verticalmente integradas com a sociedade que as originou, mas estreitamente mescladas com as instituições interessadas na integração e no status quo social” (1982:21). 7 A edição utilizada para desenvolvimento deste trabalho é de 1978.. Agda Dias Baeta. 15.

(16) Disney Pós-Moderna. como natural esta sujeição; passam o dia todo a se queixar de tudo e da sua própria escravização. São incapazes, porém, de desobedecer ordens, por mais insanas que sejam” (Dorfman e Mattelart, 1978: 30).. Desconsiderando o caráter extremista da obra - que por ter sido desenvolvida por socialistas radicais, apresenta uma análise também influenciada pela ideologia partidária de seus autores – percebe-se a importância do estudo enquanto evidência da presença ideológica nas histórias infantis. No entanto, não é possível afirmar – como fizeram os autores – que esse discurso seja intencional e utilizado como arma de dominação mundial. Deve-se levar em consideração que a obra cultural é elaborada em um meio e dele adquire influência e reflete os fenômenos vigentes, como a Guerra Fria que vigorava no contexto mundial da época. Como argumenta Renard: “as bandas desenhadas8 são produzidas por grupos de imprensa e autores que, por um lado, têm as suas próprias opções filosóficas, políticas e sociais, e por outro, partilham os hábitos e costumes da sociedade onde se encontram. É por isso que as suas obras reflectem ideologias, ou seja, crenças e comportamentos convencionais que são de resto formulados, numa linguagem mais clara, pelos discursos da política e da educação” 9 (1978:177).. Outros exemplos de influência ideológica na composição do discurso das histórias em quadrinhos podem ser citados. Ainda no que se refere ao universo Disney, o rato Mickey também não está imune aos efeitos do capitalismo. Além do desmedido amor de Tio Patinhas pelo dinheiro, também nas histórias de Mickey o tema é recorrente sob a forma de minas de ouro, heranças, ganhos nas corridas, mapas do tesouro etc, como salienta Renard (1978). Além disso, em estudo realizado por Bernard Pourprix10 e citado por Renard:. “o universo Walt Disney é o ‘símbolo inamovível’ do conservantismo político, econômico e social’. O tema propriedade privada surge com enorme freqüência. 8. Banda desenhada é a denominação de histórias em quadrinhos em Portugal, país no qual o livro de Renard foi traduzido para o português. 9 A edição utilizada foi traduzida em Portugal e por isso apresenta grafia utilizada no país. 10 Renard (1978) cita um estudo realizado por Pourprix, intitulado Lecture Politique de Mickey – Economie at Humanisme, maio-junho de 1971.. Agda Dias Baeta. 16.

(17) Disney Pós-Moderna. A acção dos heróis tem como objectivo reforçar a autoridade pessoal de um chefe, garantia da propriedade, ou defender directamente os bens de outrem; em 78% das histórias, os heróis comportam-se como defensores da propriedade, e em 15% apenas como defensores de indivíduos ameaçados ou oprimidos” (1978: 180).. Símbolo do conservadorismo norte-americano, os super-heróis também refletem a dominação imperialista e isso se torna claro durante a Segunda Guerra Mundial, ocasião em que os super-heróis foram à luta junto com seus compatriotas. As histórias em quadrinhos da época mostravam, claramente, os personagens em combate. Segundo análise de Moacy Cirne:. “o super-herói, em sua forma ideológica mais radical (Super-Homem, Capitão América, Homem de Ferro, Capitão Marvel, Batman, Homem Borracha), é um produto nazistificante que, ao surgir, volta-se contra o nazismo por um imperativo político, assim como mais tarde se voltará contra o socialismo (combatendo na Coréia, no Vietnam, na imaginária Lubânia etc.) por um imperativo de ordem ideológica (...) O mito do super-herói, e mais particularmente do Super-Homem, é o mito da classe média americana em busca de auto-afirmação, identificando-se com a prepotência imperialista (que invade ideológica, econômica e militarmente países periféricos do chamado ‘Terceiro Mundo’)” (1982:38).. Mas não é só a ideologia dominante e conservadora que está refletida nos quadrinhos. Em análise de Peanuts, de Charles Schulz, percebe-se o papel dos quadrinhos como sátira da sociedade moderna e modelo de sociedade humana. Seus personagens retratam o conflito psicológico gerado no homem moderno pela sociedade capitalista. Já a questionadora Mafalda, de Quino, representa os ideais da democracia liberal Argentina da década de 60. Assim, pode-se dizer que os quadrinhos enquanto meios de comunicação de massa estão abertos à disseminação de posicionamentos políticos e ideológicos tanto de esquerda quanto de direita. O que nos faz acreditar que os quadrinhos estão a serviço do grupo dominante é o controle dos meios de comunicação, que na maioria das vezes está sob o poder dessa elite e que em momentos como de. Agda Dias Baeta. 17.

(18) Disney Pós-Moderna. ditaduras militares, pode censurar ou coibir a produção de histórias que apresentem ideologia contrária à dos detentores de poder.. 1.2.2 A influência no público leitor. Reconhecida que a presença de ideologias e do contexto social está refletida nas histórias em quadrinhos produzidas tanto em solo americano como em outros países, resta verificar se a influência desses ideais disseminados afeta o público-leitor e determina o seu comportamento. Segundo Renard (1978), com base em pesquisas sobre a influência de outros meios de comunicação de massa - como jornais, cinema e televisão - sobre o público:. “a banda desenhada, tal como todos os mass media, reforça as atitudes preexistentes, não conseguindo no entanto determinar novas. Por outras palavras, a banda desenhada não pode influenciar quem quer, como quer: em última análise, tudo depende do leitor e da sua filiação num meio familiar e social particular” (1978:188).. No entanto, o autor defende o caráter mitológico das histórias em quadrinhos que teriam um aspecto compensatório para o leitor. As histórias de aventuras, por exemplo, seriam fontes de fuga da monotonia cotidiana. Segundo estudo de Chambart de Lauwe11 sobre a imagem da criança na imprensa infantil: “a criança encontra de facto nestas imagens de crianças uma compensação para a sua situação na sociedade” (1970:126 apud Renard, 1978:196). Assim, “enquanto o jovem leitor está dependente da família, o jovem herói é independente, 44,2% dos personagens infantis não apresentam de facto qualquer família; 18,1% só têm um tio ou um padrinho” (Renard 1978:196). O personagem lido pela criança reflete a realização do que ela gostaria de ser. As limitações impostas pela figura dos pais, por exemplo, desaparecem - nas histórias em quadrinhos - simplesmente devido ao fato dos pais não existirem12. Ou ainda, o grande 11. Chambart de Lauwe, Marie-José. L’enfant et sés besoins culturels dans la cité contemporaine, em PaulHenry Chambart de Lauwe, Images de la culture, Paris, Payout, col. Petite Bibliothèque Payout, nº 163, 1970 (capítulo 6, p. 111- 134). 12 É interessante lembrar que segundo a análise de Dorfman e Mattelart em Para Ler o Pato Donald, a ausência de pais nos quadrinhos Disney é uma maneira de incutir a ideologia de supremacia americana no inconsciente coletivo dos países subdesenvolvidos, com o objetivo de evitar os questionamentos diante de relações de poder não justificadas. Como declaram os autores “a relação de poder entre pai e filho é. Agda Dias Baeta. 18.

(19) Disney Pós-Moderna. número de histórias que se passam fora dos centros urbanos, segundo pesquisa de Chambart de Lauwe13, dos enquadramentos geográficos apresentados na imprensa infantil, 75,1% retratam ambientes exóticos ou campo enquanto que 24,9% das aventuras são na cidade. As histórias que se passam em ambiente diferente do qual o leitor vive são consumidas para supressão do nomadismo14 intrínseco ao ser humano.. Dessa maneira, podemos dizer que apesar não ter uma influência direta e determinante na composição do pensamento e comportamento coletivo - que têm como determinantes outros aspectos sociais e culturais como os valores transmitidos pela família, a época e o contexto no qual se desenvolveu a formação do indivíduo – as histórias em quadrinhos, assim como os demais meios de comunicação, também não estão totalmente desassociados da composição ideológica vigente. Como salienta Cirne: “não existe quadrinhos inocentes, assim com não existem leituras inocentes” (1982: 11). Não devemos levar a análise de maneira extrema como Whertam15 na década de 50, mas também não podemos defender a idéia de que apesar do discurso ideológico e político estar presente nas produções de quadrinhos, não influencia em nada aqueles que os consomem como fonte de entretenimento.. No livro Quadrinho para Quadrados, Silva (1976) faz uma análise sobre as histórias em quadrinhos do personagem Flash Gordon. No capítulo intitulado ‘O que Flash Gordon nos ensinou’, o autor demonstra como o enredo das histórias antecipou fenômenos que só ocorreram três décadas depois. Nas palavras do autor:. “quando no dia 20 de julho de 1969, o comandante Armstrong, da Apollo XI, pisou pela primeira vez na lua, e comunicou que a terra era azul, pode ter surpreendido milhões em todo o mundo, menos nós leitores das histórias em quadrinhos, que já sabíamos disso, desde a década de trinta. Flash Gordon nos tinha contado. Igualmente através dele, tomamos conhecimento antes do resto justificada pela biologia, já a relação de poder entre tio e sobrinho perde esta justificação. É uma relação contratual que toma a aparência de uma relação natural, uma tirania que não assume sequer a responsabilidade de um nascimento. Sepultou-se, inclusive, a natureza como causa de rebeldia. (Não se pode dizer a um tio: ‘Você foi um mau pai.’)” (1978: 29). 13 Chambart de Lauwe, Marie-José. L’enfant et sés besoins culturels dans la cité contemporaine, em PaulHenry Chambart de Lauwe, Images de la culture, Paris, Payout, col. Petite Bibliothèque Payout, nº 163, 1970 (capítulo 6, p. 111- 134). As informações mencionadas foram citadas pela autora na página 128. 14 A errância a qual todo ser humano está submetido é tratada por Maffesoli (2001) em Sobre o Nomadismo: vagabundagens pós-modernas. 15 Autor da polêmica publicação The seduction of the innocent, já mencionada anteriormente.. Agda Dias Baeta. 19.

(20) Disney Pós-Moderna. da humanidade da televisão, raio laser, propulsão a jato, energia atômica, discos voadores, jato-spray e até da própria mini-saia. Tudo isso já existia em fins de 1933, na mente de Alex Raymond, jovem desenhista americano, quando criou Flash Gordon (...) Suas concepções de máquinas, roupas, armas e tantos outros objetos, antecipavam-se aos cientistas e técnicos, e iriam tornar-se realidade com tanta exatidão no decorrer dos anos, influenciando todo o complexo industrial do mundo ocidental” (1976: 71).. A afirmação do autor não tem confirmação científica, mas nos leva a rever o papel das histórias em quadrinhos e a importância do seu discurso dentro do contexto social. Como visto anteriormente, a presença dos discursos ideológicos é marcante na composição dos quadrinhos. A questão que deve ser avaliada agora se refere ao poder de disseminação das idéias e padrões de comportamento vigentes na sociedade na qual a história foi desenvolvida e a sua capacidade de antecipar tendências não só dessa sociedade, mas tendências mundiais. A partir do momento que os quadrinhos funcionam como espaço para disseminação de idéias e valores, estão muito próximos de incuti-las no imaginário de seus leitores, daí a sua importância enquanto ferramenta ideológica.. Agda Dias Baeta. 20.

(21) Disney Pós-Moderna. 1.3. Pós-Modernidade. A discussão sobre a época pós-moderna tem suas raízes nos trabalhos realizados pelo sociólogo Daniel Bell16 a respeito da sociedade pós-industrial. A sua interpretação sobre o futuro da sociedade moderna, marcada pelo industrialismo, deu margem a diversos outros estudos sobre a nova época que dava seus primeiros sinais de vida nos últimos anos da década de 60.. No decorrer dos anos 70, as idéias do sociólogo Bell foram popularizadas por Toffler e Peter Drucker17, entre outros autores. A cada releitura, a teoria ganhou uma nova nomenclatura. Para Krishan Kumar, isso ocorreu porque os autores privilegiaram aspectos de mudança diferentes em suas análises: “o que diferencia essas versões, não é tanto o tipo particular de desenvolvimento que escolhem, mas os parâmetros que usam para analisá-lo” (1997: 49). Assim, para citarmos alguns exemplos, na teoria pósfordista as relações de produção compõem o parâmetro de análise, enquanto que a teoria da sociedade da informação, foca o advento do conhecimento.. Kumar (1997) aborda a pós-modernidade como uma corrente de pensamento derivada da teoria pós-industrial, assim como o pós-fordismo e a sociedade da informação:. “o pós-modernismo é a mais abrangente das teorias recentes. Acolhe em seu generoso abraço todas as formas de mudança – cultural, política e econômica. Nenhuma delas é considerada o ‘vetor’ privilegiado do movimento em direção à pós-modernidade. O que os outros vêem como provas de ‘pós-fordismo’ ou da ‘sociedade da informação’, ela tranqüilamente agrupa como componentes de sua própria e ambiciosa conceituação de fenômenos correntes” (1997:16).. Portanto, independente do título utilizado, todos os autores versam sobre o mesmo tema: a passagem entre a modernidade e a pós-modernidade, e é justamente nessa transição, chamada de “nova ambiência” (Sousa, 2003), que se situa a análise pretendida com este trabalho.. 16 17. Ver Cevoli (1999) e Kumar (1997). Ver Kumar (1997).. Agda Dias Baeta. 21.

(22) Disney Pós-Moderna. 1.3.1 Modernidade ou Modernismo?. A pós-modernidade em muitos aspectos é a negação da modernidade e a continuidade do modernismo, por isso é importante diferenciarmos os termos. A modernidade, que corresponde à segunda onda de Toffler (1980), foi desencadeada pela revolução industrial e tem na linha de produção um dos maiores fatores de mudanças econômicas, políticas e sociais. O período tem seus alicerces na ação da Família, da Igreja e da Escola. Através dessas três instituições, o Estado busca manter a ordem e o progresso. Entre as principais características do período estão: o controle, a centralização, a hierarquia, a massificação e a unidade.. Já o modernismo contradiz a modernidade. Formado pelas manifestações artísticas e culturais, tem o caráter de negar o fordismo, o taylorismo e todos os outros valores e preceitos que compõem a modernidade. Nas palavras de Kumar:. “entendo por ‘modernidade’ uma designação abrangente de todas as mudanças – intelectuais, sociais e políticas – que criaram o mundo moderno. ‘Modernismo’ é um movimento cultural que surgiu no ocidente em fins do século XIX e, para complicar ainda mais a questão, constituiu, em alguns aspectos, uma reação crítica à modernidade” (1997:79).. Da mesma maneira, os termos pós-modernidade e pós-modernismo estão relacionados ao contexto geral e à produção cultural, consecutivamente. Neste trabalho, principalmente a pós-modernidade é abordada. A análise está diretamente relacionada aos aspectos globais de mudança – âmbitos econômico, social e político – e não às produções artísticas.. 1.3.2 Teoria das Ondas. Para Toffler (1980), as mudanças ocorridas na sociedade se processam como ondas. Segundo ele, três grandes ondas são as responsáveis pelas transformações ocorridas no mundo ao longo dos séculos. Transformações essas, que alteram a vida em sociedade, o modo de trabalho e produção, a política e o comportamento humano.. Agda Dias Baeta. 22.

(23) Disney Pós-Moderna. A primeira grande onda foi a passagem da sociedade nômade – que vivia da coleta, caça e pesca – para a sociedade agrícola. O domínio do solo transformou a civilização, que além de extrair o seu sustento, passou a fixar-se nele. As famílias tornaram-se multigeracionais e trabalhavam juntas, consumindo o que produziam. A segunda onda assolou o mundo no século XVIII com o advento da Revolução Industrial, que transformou o modo de produção e fez com que as pessoas deixassem o campo para viverem nos centros urbanos e trabalharem nas fábricas. Isso fez com que as famílias estendidas da primeira onda se transformassem em famílias nucleares e que seus papéis em relação ao trabalho e à vida em sociedade fossem redefinidos.. “A produção econômica deslocou-se do campo para a fábrica, a família não mais trabalhava junta como uma unidade. Para liberar trabalhadores para o serviço na fábrica, funções básicas da família eram distribuídas para novas instituições especializadas. A educação da criança era entregue às escolas. O cuidado dos idosos era entregue a asilos de indigentes ou casas de saúde (...). A chamada família nuclear – pai, mãe e algumas crianças, sem o estorvo de parentes – tornou-se o modelo padrão ‘moderno’, socialmente aprovado em todas as sociedades industriais, capitalistas ou socialistas” (Toffler, 1980: 412).. Já a terceira onda, pela qual estamos passando, iniciou-se na segunda metade do século XX e tem como propulsores: a crise de energia, o advento do conhecimento (tratado por alguns autores como Revolução da Informação) e a globalização, entre outros inúmeros fatores que se relacionam nesta cadeia de mudanças.. A alegoria da onda é utilizada por Toffler (1980) porque esses três grandes movimentos se processam como as ondas do mar: assolam o planeta e não necessariamente uma onda deve acabar para que a outra se inicie. Na verdade, elas se colidem. Assim, apesar de quase extinta, a sociedade pré-industrial ou o movimento da primeira onda ainda existe em algumas regiões da América Latina, Ásia e África. A segunda onda ou a sociedade industrial compõe a maioria das nações e a pós-industrial tem deixado o seu lastro nos países desenvolvidos e afetado aos demais devido à globalização.. Agda Dias Baeta. 23.

(24) Disney Pós-Moderna. 1.3.3 Uma nova ambiência. Como dito anteriormente, é a nova ambiência – a transição da modernidade para a pósmodernidade – que tem importância para o desenvolvimento deste trabalho. Ou seja, a passagem da segunda para a terceira onda, conforme a teoria de Toffler (1980) ou da modernidade para a pós-modernidade, como trata Kumar (1997). É importante ter em mente que as mudanças que se processam nessa transição:. “não são independentes umas das outras. Nem são fortuitas. Por exemplo, o colapso da família nuclear, a crise global de energia, o advento do tempo flexível e o novo pacote de vantagens adicionais, o aparecimento dos movimentos separatistas (...), tudo isso parecem eventos isolados. A verdade, entretanto, é o inverso. Estes e muitos outros eventos ou tendências aparentemente desconexos estão inter-relacionados” (Toffler, 1980:16).. Para apresentar as principais mudanças ocorridas na nova ambiência e que resultam nos valores pós-modernos, a análise é divida em quatro módulos. Em A Nova Era, serão retratadas as mudanças globais; em A Sociedade, as mudanças que afetam diretamente o convívio das pessoas em sociedade; em O Sujeito, serão abordadas as mudanças ocorridas na identidade cultural do indivíduo e em A Mulher, a influência pós-moderna no padrão de comportamento feminino.. 1.3.3.1. A Nova Era. As ondas de mudanças se propagam quando ocorrem alterações em relação ao entendimento do espaço e do tempo. Na pós-modernidade, a revolução da informação e a globalização são os fenômenos responsáveis pelos “novos modos de inserção no (e de percepção de) tempo e espaço” (Martín-Barbero, 2003: 60).. “Os fluxos de informação e o tratamento automático de dados estão para esse novo tempo em que vivemos como a urbanização, a mecanização do cotidiano, a prepotência do Estado e o irresistível ascenso dos meios de comunicação, entre tantos outros fatores, estiveram para a Modernidade” (Polistchuk e Trinta, 2003:143). Agda Dias Baeta. 24.

(25) Disney Pós-Moderna. No contexto vivido pelo mundo contemporâneo, no qual “o espaço foi ampliado para cobrir todo o globo e está ligado quase que em ‘tempo real’” (Bell, 1980:62 apud Kumar, 1997:23), a informação – assim como o solo na sociedade rural e a indústria na modernidade – se transformou no motor propulsor de toda a sociedade. Por esse motivo, as três grandes ondas podem também ser analisadas como três revoluções: a Agrícola, a Industrial e a da Informação.. Temos na informação e no conhecimento, a chave da reorganização mundial. O desenvolvimento das tecnologias da informação introduziu virtualidade ao espaço e velocidade ao tempo. Assim, o computador e o satélite são representantes da importância da tecnologia na era pós-moderna: “a empresa multinacional vive de comunicação. É ela que lhe confere identidade como empresa que abrange o mundo. Computadores e satélites são tão essenciais ao seu funcionamento quanto os operários e as fábricas que produzem bens e serviços” (Kumar, 1997:19-20).. Os avanços tecnológicos possibilitam que as pessoas se comuniquem num curtíssimo espaço de tempo. As notícias de todo o mundo estão em tempo real dentro de nossas casas, basta ligar a televisão ou acessar a internet. Os efeitos desses avanços atribuíram velocidade ao tempo, ele não é mais um empecilho, ele propicia oportunidades. Não há mais demora: “pela primeira vez, temos informações compartilhadas de forma instantânea pelo planeta” (Naisbitt, 1984:57 apud Kumar, 1997:22),. O mesmo ocorre com o espaço. Devido à virtualidade atribuída a ele, podemos conhecer e nos comunicar com pessoas de qualquer país sem sair de casa. Negócios são fechados sem que os executivos apertem suas mãos. Não há mais distância e isso fez surgir a globalização, um dos fenômenos centrais do mundo pós-moderno responsável pela transformação do “sentido do lugar no mundo” (Martín-Barbero, 2003:58).. No entanto, globalização nada tem a ver com a padronização, um dos princípios do industrialismo. Globalizar não significa que o mundo é uma unidade, significa que o mundo está interconectado. Cada local mantém as suas características, apesar de conhecer as dos outros. É por este motivo que o advento da informação e da globalização estão intrinsecamente relacionados. Agda Dias Baeta. 25.

(26) Disney Pós-Moderna. Assim, podemos dizer que: “o processo de globalização que agora vivemos é ao mesmo tempo um movimento de potencialização da diferença e de exposição constante de cada cultura às outras” (Martín-Barbero, 2003:60), o que atribuiu à pós-modernidade a importância tanto do global quanto do local, que assim como inúmeras outras vertentes que parecem contraditórias, se justapõem na pós-modernidade.. O local adquire valor através do conhecimento global. Segundo Kumar, esse paralelismo ocorre porque: “a sociedade pós-moderna associa tipicamente o local e o global. Os acontecimentos globais – a internacionalização da economia e da cultura – são refletidos para as sociedades nacionais, minando as estruturas nacionais e promovendo as locais” (1997: 132).. Com a globalização, o sentimento de pertencer a uma nacionalidade foi substituído pelo ´fazer parte´ de um pequeno grupo, um grupo local e isso justifica a queda do totalitarismo do estado-nação, típico da modernidade. Os contextos político, social, cultural e econômico são hoje influenciados pelos acontecimentos globais, o nacional perdeu sua credibilidade. “A nação-estado, a encarnação política clássica da modernidade, acabou, atacada por uma combinação de forças globais e locais” (Kumar, 1997:162). Não é mais possível o Estado controlar seu povo, qualquer um tem acesso ao que ocorre no mundo todo: “pense globalmente, aja localmente’, o lema da década de 1960, aplica-se a um bom número de novos movimentos sociais, sobretudo aos movimentos feminista e ecológico” (Kumar, 1997:133).. O declínio da hegemonia do Estado e a relação paralela, e ao mesmo tempo antagônica, de local e global atribuem individualidade ao que na sociedade moderna era visto como massa. O sentido de local atribui particularidades aos indivíduos e isso ocasiona a descrença na massificação e o início da desmassificação.. Conseqüência do industrialismo, a massificação na produção dos bens de consumo, obtida através da divisão de trabalho – que possibilitou a produção em série, conhecida como fordismo – acarretou a massificação dos demais componentes da sociedade (como a educação, a comunicação, o conhecimento, a atitude e o comportamento dos indivíduos) e propiciou a padronização da informação que gerou a alienação das Agda Dias Baeta. 26.

(27) Disney Pós-Moderna. massas. Na nova onda que se espalha pelo globo terrestre tudo se desmassifica. Cada vez mais o desenvolvimento das novas tecnologias possibilita o atendimento às particularidades do sujeito, a personalização é possível.. Outra conseqüência ocasionada pela globalização, e pela conseqüente queda do estadonação como instituição detentora do poder, é a descentralização e com ela a desmistificação da hierarquia e do fluxo linear. O controle, um dos princípios possibilitadores da modernidade, está associado aos conceitos de centralização e unidade e por esse motivo, a hierarquização foi fundamental durante o período. Não só as empresas, mas outras instituições como a Igreja, são organizadas através de uma forte e imutável hierarquia de poder. O fluxo organizado e linear estabelecido pela hierarquia abrangia também a forma de pensamento, que era dual: a única distinção existente era a do certo e do errado, a do bem e o mal. Não existe, na modernidade, a múltipla possibilidade.. Já na pós-modernidade, “há simplesmente um fluxo aleatório, sem direção, que perpassa todos os setores da sociedade” (Kumar, 1997: 113-4). Isso ocorre porque ao contrário da modernidade, a pós-modernidade não possui um fluxo linear e organizado de pensamento: “ela apaga as linhas divisórias entre os diferentes reinos da sociedade – político, econômico, social e cultural” (Kumar, 1997:113). É a própria manifestação da diversidade e por esse motivo, muitas vezes, apresenta características conflitantes, contraditórias. Esse fluxo aleatório a estabelece como fragmentada, é composta de arranjos que se justapõem de acordo com a situação, apresentando uma pluralidade de possibilidades. Em definição de Jencks:. “a era pós-moderna é um tempo de opção incessante (...) todas as tradições aparentemente têm alguma validade. Esse fato é em parte conseqüência do que se denomina de explosão das informações, o advento do conhecimento organizado, das comunicações mundiais e da cibernética” (1989:7 apud Kumar, 1997:115).. Agda Dias Baeta. 27.

(28) Disney Pós-Moderna. 1.3.3.2. A Sociedade. Os valores pós-modernos, além do contexto global, afetam também a vida em sociedade. A pós-modernidade é uma nova maneira de estar no mundo. “Dela falam as profundas mudanças produzidas no mundo da vida: no trabalho, no casal, na roupa, na comida, no lazer” (Martín-Barbero, 2003:60). Essa mudança generalizada, muda o sentido do convívio em sociedade, o estar-junto muda de significado.. Na sociedade na qual a linguagem multimídia impera, vivemos a simulação: “não importa quem você é ou quem você seja, o que importa é como você se produz para mostrar quem você é. Você não é o que é, você mostra quem é a partir do momento que se identifica com alguma roupagem. Você passa a ser o que mostra” (Sousa, 2003: 23). E essa simulação também afeta o estar-junto social. As pessoas por natureza têm a necessidade do conjunto, do contato coletivo. Hoje, este estar-junto tem sido midiatizado: “nos grandes centros, não há mais a experiência do estar-junto coletivo. Não temos mais o público. Quem faz a ponte do estar-junto coletivo é a mídia, a televisão, o computador” (Sousa, 2003:22-3). A tecnologia serve de prótese para que os indivíduos compartilhem experiências e essa prótese tem se tornado o real.. “A revolução da informação é uma realidade e nela estamos. Afetou a maneira como vemos o mundo e como vivemos nele. O fluxo de imagens e informação gera, de fato, um senso de ‘hiper-real’ (...). Vivemos na ‘sociedade do espetáculo’ (...). Nosso mundo saturado de imagens, alimentado de forma incessante pela mídia eletrônica, muda realmente nossa percepção do que é real e torna mais difícil do que antes diferenciar imagem de realidade” (Kumar, 1997: 171).. Assim, aprendemos a acreditar no simulacro. O que era apenas uma prótese do real, passa a compô-lo e a espetacularização substitui a racionalidade: “você passa a ser o que mostra” (Sousa, 2003). Morrem as grandes utopias pelas quais a sociedade moderna lutava e em seu lugar entra a performance, que está relacionada ao viver hoje e não adiar a felicidade para um futuro incerto. Não importa mais a construção de uma sociedade ideal para vivermos no futuro ou para que nossos filhos usufruam. Não existe mais a luta contra o governo ditador, nem a luta pela liberdade, igualdade e fraternidade, Agda Dias Baeta. 28.

(29) Disney Pós-Moderna. que nunca foram alcançadas. A sociedade pós-moderna deseja viver o presente, fazer do hoje o mundo ideal.. Essa preocupação com o presente e não mais com o futuro, como ocorria na modernidade, está associada principalmente com os problemas ambientais enfrentados por todo o globo terrestre. Problemas com a camada de ozônio e com o esgotamento de recursos naturais fazem surgir uma nova consciência coletiva que evidencia o AGORA, que por vezes parece perto de acabar.. Os problemas com a biosfera e a crise da energia fizeram surgir um indivíduo que deve ser responsável. O petróleo, o gás e o carvão - que garantiram o crescimento econômico do industrialismo - são energias não-renováveis e a sua incorreta utilização, durante os trezentos anos de sobrevivência da segunda onda, tornou evidente seu esgotamento e os prejuízos causados à biosfera. Isso tem exigido uma nova postura dos cidadãos em relação ao mundo em que vivem.. O indivíduo deixa de ser apenas uma peça na engrenagem da máquina social e passa a ter opinião, a exigir seus direitos e respeito. Ele adquire consciência de cidadão e o consumerismo:. "entendido como um movimento social organizado, próprio da Sociedade de Consumo - surge como reação à situação de desigualdade entre fornecedores e consumidores. Considerando as imperfeições do mercado e sua incapacidade de solucionar, de maneira adequada, uma série de situações como práticas abusivas, acidentes de consumo, injustiças nos contratos de adesão, publicidade e informação enganosa etc" (Portilho, 2005:36),. substitui o consumismo da sociedade industrial. Nasce o cidadão-consciente.. Essa consciência também é resultado de uma sociedade mais esclarecida e informada, que acarretou a constituição de uma nova força de trabalho, formada por profissionais do conhecimento. Na sociedade da informação, os trabalhadores previsíveis, nãocríticos e intercambiáveis do industrialismo sedem espaço aos críticos, inovadores, que gostam de assumir riscos e que têm no conhecimento a sua principal força de trabalho. Agda Dias Baeta. 29.

(30) Disney Pós-Moderna. Esses novos trabalhadores não são facilmente intercambiáveis, o que favorece a individualidade. Eles são altamente especializados, o que torna tanto sua substituição quanto sua recolocação no mercado mais difícil do que ocorria na modernidade.. “A compactação do espaço e do tempo tornada possível pela nova tecnologia da informação altera a velocidade e o escopo das decisões, aumentando a capacidade do sistema de reagir rapidamente a mudanças, mas, ao mesmo tempo e pela mesma razão, tornando-o mais vulnerável, dada a tendência de amplificar perturbações relativamente pequenas e transformá-las em grandes crises (...)” (Kumar, 1997:164).. Além dos avanços tecnológicos que proporcionam uma nova dimensão para o uso e para a importância do conhecimento no mercado de trabalho, até então dominado pela linha de produção mecanicista, as relações de trabalho pós-modernas também foram afetadas pela nova estrutura das relações familiares.. A família moldada pela expansão do industrialismo tornou-se utópica. O núcleo familiar da modernidade, no qual cada membro tinha função definida – o pai era provedor do sustento da família, obtido fora de casa, e a mãe responsável pela manutenção do lar e pelo cuidado de toda a família – já não é predominante na pós-modernidade. “A família nuclear moderna desintegrou-se, sendo substituída por uma grande diversidade de arranjos individuais” (Kumar, 1997: 162).. O número de divórcios aumentou, as mulheres ganharam o mercado de trabalho e já não dependem de seus maridos para sobreviverem. A mudança no indivíduo acarretou a diversidade nas formas familiares. Conforme exemplificado por Toffler (1980), encontra-se hoje na sociedade, diferentes composições que nada têm a ver com a família nuclear da segunda onda:. Agda Dias Baeta. 30.

(31) Disney Pós-Moderna. Tipo. Composição. Solos. Famílias de uma pessoa só, os que vivem sozinhos.. Viver juntos. Pessoas que moram juntas sem nenhum compromisso civil.. Sem filhos. Casais que optam por não ter filhos.. Agregada. Dois divorciados com filhos se casam e compõem uma nova família.. Um dos pais. Filhos que moram apenas com um dos pais seja por motivo de divórcio, por serem filhos de mães solteira, filhos tidos fora do casamento ou fruto de adoções por pessoas solteiras.. Quadro 1. Famílias informais já existentes. Fonte: informações obtidas em Toffler (1980).. Esses são poucos exemplos das inúmeras possibilidades que já surgiram em nossa sociedade. “Essa diversidade da estrutura familiar revela a diversidade que encontramos na economia e na cultura, enquanto a sociedade de massa da Segunda Onda se desmassifica” (Toffler, 1997:112) e tem relação direta com as mudanças ocorridas na relação homem X mulher e com a redefinição do papel de ambos na sociedade, da qual trataremos posteriormente.. 1.3.3.3. O Sujeito. A onda de mudanças pela qual o mundo está passando afeta não só estruturas políticas, formas de produção e o convívio em sociedade, mas também e, conseqüentemente, o indivíduo:. “estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a idéia que temos de nós próprios como sujeitos integrados (...) As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado” (Hall, 2005:9/7).. O sujeito da nova ambiência é “composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas” (Hall, 2005:12). O dualismo predominante na Idade Moderna foi substituído pelo pluralismo. Hoje, o sujeito possui várias identidades, relacionadas às questões de raça, sexo, gênero, posicionamento político, classe social, entre outras. De acordo com a situação, o sujeito considera mais ou menos uma de suas identidades para posicionar-se em relação a determinado assunto. Essas múltiplas identidades, por vezes, podem ser até contraditórias: Agda Dias Baeta. 31.

(32) Disney Pós-Moderna. “O pluralismo, o ‘ismo’ da nossa época, é, ao mesmo tempo, o grande problema e a grande oportunidade: quando Todo Homem se torna cosmopolita e, Toda Mulher, um Indivíduo Liberado, a confusão e a ansiedade passam a ser estados dominantes de espírito (...)” (Jencks, 1989:7 apud Kumar, 1997:115).. “Estamos na época da simultaneidade: estamos na época da justaposição, do perto e do longe, do lado a lado, do disperso” (Soja, 1989:10 apud Kumar, 1997:157). Não existe também no indivíduo o fluxo linear, seu pensamento e suas identidades também são aleatórias, ele é tudo ao mesmo tempo e por vezes tem que optar por uma ou outra identidade em momentos críticos: “não há mais expectativas de um desenvolvimento contínuo por toda a vida (...) a biografia pessoal torna-se uma questão de experiências e identidades descontínuas, e não a história de personalidade em desenvolvimento (...)” (Kumar, 1997:157).. Segundo Hall, o sujeito pós-moderno não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente. “A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (Hall, 2005:13). Isso faz do sujeito pósmoderno um ser plural e que por ter a nova ambiência como algo definitivamente novo, entra em crise por não ter mais o seu papel único no mundo. Ele busca entender qual o seu novo lugar na nova sociedade.. “A assim chamada ‘crise de identidade’ é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social” (Hall, 2005:7).. O sujeito unificado, centrado e estável da modernidade construía a sua identidade através da interação entre o mundo pessoal e público. Hoje, ele encontra-se deslocado. A onda de mudanças:. Agda Dias Baeta. 32.

(33) Disney Pós-Moderna. “está fragmentando as paisagens culturais, de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações sociais. (...) Esta perda de um ‘sentido de si’ estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito” (Hall, 2005: 9).. Como apresenta Hall (2005), o deslocamento - ou a descentração - do sujeito foi provocado por cinco rupturas18 nos discursos do conhecimento moderno. A análise das histórias em quadrinhos da Margarida baseia-se no quinto deslocamento do sujeito: o feminismo. A influência dessa teoria social é nítida no discurso das histórias em quadrinhos da personagem estudada.. 1.3.3.4. A Mulher. A mulher, com certeza, foi quem mais mudou com o início da terceira onda. Com a pósmodernidade, ela deixou de ser submissa ao marido e foi para fora de casa buscar seu espaço e seu tempo. O movimento feminista da década de 60, sem dúvida, é um marco para essas mudanças e conseqüência da nova ordem social que começava a se propagar.. “O feminismo faz parte daquele grupo de ‘novos movimentos sociais’, que emergiram durante os anos sessenta (o grande marco da modernidade tardia), juntamente com as revoltas estudantis, os movimentos juvenis contraculturais e antibelicistas, as lutas pelos direitos civis, os movimento revolucionários do ‘Terceiro Mundo’, os movimentos pela paz e tudo aquilo que está associado com 1968” (Hall, 2005: 44).. 18. Segundo Hall (2005), essas cinco rupturas representam avanços na teoria social e nas ciências humanas. A primeira é a reinterpretação feita na década de 60 do pensamento Marxista, que nega a existência de uma essência universal de homem tirando-o do centro do sistema teórico. A segunda ruptura vem da descoberta do inconsciente por Freud: “a teoria de Freud de que nossas identidades, nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona de acordo com um ‘lógica’ muito diferente daquela da Razão, arrasa o conceito do sujeito cognoscente e racional provido de uma identidade fixa e unificada” (Hall, 2005:36). O terceiro deslocamento está associado com o trabalho de Saussure, no qual ele conclui que apenas utilizamos a língua segundo padrões estabelecidos para nos posicionarmos de acordo com propostas préexistente. A quarta ruptura ocorre no trabalho de Foucault que conclui que “quanto mais coletiva e organizada a natureza das instituições da modernidade tardia, maior o isolamento, a vigilância e a individualização do sujeito individual” (Hall, 2005:43). A quinta ruptura, ou deslocamento, é o feminismo.. Agda Dias Baeta. 33.

(34) Disney Pós-Moderna. O movimento feminista, segundo Hall (2005), com o slogan ‘o pessoal é público’, questionou a distinção entre o ‘privado’ e o ‘público’ e:. “abriu, portanto, para contestação política, arenas inteiramente novas de vida social: a família, a sexualidade, o trabalho doméstico, a divisão doméstica do trabalho, o cuidado com as crianças, etc (...) O feminismo questionou a noção de que os homens e as mulheres eram parte da mesma identidade, a ‘Humanidade’, substituindo-a pela questão da diferença sexual” (Hall, 2005: 45-46).. Com o advento da segunda onda, o trabalho que na sociedade agrícola era realizado por toda a família foi dividido. Coube ao homem prover o sustento da família através do desempenho do trabalho que na era industrial passou a ter como foco o mercado consumidor:. “Enquanto o marido, em geral, saía para fazer o trabalho econômico direto, a mulher geralmente ficava em casa para fazer o trabalho econômico indireto. O homem assumia a responsabilidade de forma historicamente mais avançada de trabalho; a mulher era deixada atrás para tomar conta da forma mais antiga, mais atrasada de trabalho. Ele avançava, por assim dizer, para o futuro; ela permanecia no passado” (Toffler, 1980: 57).. A divisão de funções acentuada durante a modernidade, configurou a cisão sexual e os estereótipos relacionados ao papel do homem e da mulher na sociedade industrial:. “As mulheres preparadas desde o berço para as tarefas da reprodução, da criação dos filhos e da labuta doméstica, realizada até um grau considerável em isolamento social, eram ensinadas a serem ‘subjetivas’- e eram freqüentemente consideradas incapazes para a espécie de pensamento racional, analítico, que supostamente acompanhava a objetividade” (Toffler, 1980:57).. Através do movimento feminista, esses estereótipos foram questionados e a mulher tem conquistado ao longo das últimas décadas um novo espaço e um novo papel na sociedade. A mulher pós-moderna foi à luta pela conquista do mercado de trabalho. Agda Dias Baeta. 34.

(35) Disney Pós-Moderna. Adequada à sociedade da informação, conquistou aos poucos a oportunidade de exercer todo e qualquer tipo de atividade que até então, só eram exercidas pelos homens. Adiou a constituição da família, priorizou a carreira profissional ao invés da maternidade. Impôs-se na relação com o parceiro. Conquistou a independência financeira e isso lhe propiciou também a independência emocional e psicológica. É a influência das ‘identidades’ da mulher pós-moderna, amplificadas com o movimento feminista que posicionaremos no discurso das histórias em quadrinhos.. Agda Dias Baeta. 35.

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