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ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: AS CONTRIBUIÇÕES DA JUSTIÇA RESTAURATIVA

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ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: AS CONTRIBUIÇÕES DA JUSTIÇA RESTAURATIVA

Debora Rickli Fiuza1 José Claudio Alves Junior2 Mirian Maria Kosak3 Rafael de Farias Sass4

RESUMO

A Justiça Restaurativa focaliza as consequências do ato infracional, mudando a abordagem da busca pelos culpados e punição pela construção de reconhecimento social dos envolvidos e compartilhamento na reparação, superação e prevenção de danos. Este trabalho busca, através da pesquisa bibliográfica narrativa, investigar o que é Justiça Restaurativa e quais suas contribuições nos casos de adolescentes que cometeram atos infracionais. As intervenções da Justiça Restaurativa com jovens podem iniciar mudanças no relacionamento destes com os adultos e a comunidade, pois ao tempo em que não isenta de culpa o comportamento danoso, usa a experiência para oportunizar aprendizagens aos envolvidos.

Palavras-Chave: Justiça Restaurativa; Práticas Restaurativas; Adolescência.

1. INTRODUÇÃO

Caravellas (2009) coloca que o sistema de justiça criminal está em crise atualmente. Para o autor, nos delitos graves em que as penas preveem a privação de liberdade são ineficazes no sentido da restauração dos infratores. Ainda nesta perspectiva, Apelfeld (2013) afirma que os fins colocados pelo legislador para justificar as penas privativas de liberdade não estão consonantes com seus efeitos práticos reais.

Em relação as

infrações de menor potencial ofensivo

, muitas mudanças vieram com a Lei 9.099/95 que instituiu a transação penal e a suspensão condicional do processo. Entretanto, Caravellas (2009) afirma que nem em relação aos delitos graves tampouco aos delitos

de menor potencial ofensivo

a justiça penal tradicional tem se mostrado eficaz como resposta estatal ao crime e nem como fator de apaziguamento social. Levando isso em

1

Professora - Orientadora do Programa de Execução das Alternativas Penais do Município de Pitanga- PR/ E-mail: debora_rickli@yahoo.com.br;

2

Acadêmico do Curso de Psicologia Bacharelado da Faculdade Campo Real; Bolsista da Universidade Sem Fronteiras; E-mail: juunn1n@gmail.com;

3

Psicóloga do Programa de Execução das Alternativas Penais do Município de Pitanga- PR/ E-mail: mirian_patd@hotmail.com;

4

Graduado em Psicologia pela Faculdade Guairacá/ SESG; Membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental; Bolsista da Universidade Sem Fronteiras; E-mail: rafaelsass@hotmail.com.

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consideração, surgem em vários países novas ideias em relação ao tratamento da questão criminal, dentre estas novidades está a Justiça Restaurativa.

Nesta perspectiva, o presente artigo busca responder o que é Justiça Restaurativa e quais as contribuições que ela pode oferecer no tratamento de casos de adolescentes que são responsabilizados por suas infrações através do comprimento de medidas socioeducativas. O trabalho justifica-se pela relevância em debater sobre este tema que ainda é muito recente em nosso país, contribuindo para a reflexão sobre novas formas de tratar as questões de infrações no domínio da adolescência.

O presente artigo divide-se em duas partes. Na primeira expõe-se o conceito e o histórico da Justiça Restaurativa e na segunda apresentam-se as contribuições que a Justiça restaurativa pode trazer na condução de casos de adolescentes em

cumprimento

de medidas socioeducativas

. Para a coleta de dados foi utilizada a pesquisa bibliográfica narrativa.

2. METODOLOGIA

O presente artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, utilizando-se da revisão narrativa como aporte metodológico. No que se refere à pesquisa bibliográfica, a mesma é feita "[...] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites" (FONSECA, 2002, p. 32 apud GERHARDT e SILVEIRA, 2009).

O material que é consultado para a pesquisa bibliográfica abrange todas as produções tornadas públicas relacionadas ao tema de estudo. A partir destas produções são reunidos conhecimentos sobre a temática pesquisada (RAUPP; BEUREN, 2003).

Neste contexto, Lima e Mioto (2007) colocam que a pesquisa bibliográfica é um procedimento metodológico de grande importância para a produção do conhecimento cientifico que permite gerar hipóteses ou interpretações principalmente sobre temas pouco explorados, o que pode servir como ponto de partida para outras pesquisas.

A revisão narrativa, também conhecida como revisão tradicional, apresenta a temática a ser discutida de forma mais aberta, sem utilizar-se de protocolos rígidos e estruturados para sua composição. Sendo assim, não empregam-se regras específicas para a busca de fontes (CORDEIRO et al. 2007). Rother (2007) salienta que a revisão narrativa tem por característica a interpretação e análise crítica e pessoal do autor em relação à literatura publicada em livros, artigos de revistas impressas e eletrônicas.

Ainda seguindo com Rother (2007), a autora destaca que esta categoria de artigos mostra-se fundamental para a educação continuada pelo fato de que:

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[...] permite ao leitor adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma temática específica em curto espaço de tempo; porém não possuem metodologia que permitam a reprodução dos dados e nem fornecem respostas quantitativas para questões específicas. São considerados artigos de revisão narrativas e são qualitativos (p. 1).

Para a presente pesquisa, realizou-se buscas em bases de dados online, consulta a livros, artigos científicos e cartilhas.

3. RESULTADOS

3.1 Justiça Restaurativa: histórico e conceito

A justiça restaurativa apresenta-se como um novo paradigma no âmbito dos operadores do Direito, no entanto a natureza das ideias apresentadas já ara utilizadas por povos de inúmeras culturas, com diferentes nomenclaturas, este modelo de justiça restaurativa era utilizada pelas sociedades nativas, com o viés de romper com as inclinações individuais e se apropriando dos interesses coletivos. Entre os povos nativos buscavam não excluir os indivíduos infratores do seu clã, devido a questão de sobrevivência do grupo (JACCOUD, 2005 apud PRUDENTE, 2013). Segundo Tello (2007 apud PRUDENTE, 2013) no período dos povos nativos, o infrator como forma de restaurar os danos as vítimas realizavam rituais religiosos, pois a ideia destes rituais é manter o equilíbrio e coesão do grupo.

Na contemporaneidade o primeiro contato com práticas restaurativas se deu no Canadá no ano de 1974, no qual foram realizados neste período um trabalho com indivíduos acusados de vandalismo (ZEHR, 2008 apud PRUDENTE, 2013). Prudente (2013) salienta que o primeiro país a utilizar das práticas restaurativas na legislação, foi a Nova Zelândia, onde foram realizados trabalhos com crianças, jovens e seus familiares.

Devido a inúmeras experiências efetivas ligadas ao modelo de práticas restaurativas na Europa. O conselho da Europa regulamentou em 1999 a recomendação pela mediação no processo penal. Em 2001 a União Europeia passa validar em seu quadro referente a um estatuto envolvendo as vítimas em volvendo processo penal e atuação da mediação (PRUDENTE, 2013).

No âmbito da América Latina temos no ano de 1998, a Argentina atuando em dois polos; “o centro de assistência às vítimas de delitos e o centro de mediação e Conciliação Penal” (PINTO, 2014, p. 5). No Brasil as práticas restaurativas estão sendo realizadas através de vários projetos pilotos em vários Estados do país. No entanto existe um projeto

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de Lei, PL 7006/2006, na Câmera do Deputados, propondo modificações no Código Penal Brasileiro e nas Lei dos Juizados Criminais, como objetivo de admitir procedimentos que engloba a justiça restaurativa (PRUDENTE, 2013). De acordo com Fariello (2016) durante uma sessão plenária do Conselho Nacional de Justiça, foi aprovado a resolução que apresenta diretrizes para a realização de práticas restaurativas no âmbito judiciário no país.

A práticas de justiça restaurativa no Brasil, está em um processo de construção e inúmeros projetos pilotos nos estados, é evidente que existe muita resistência por parte de alguns operadores do Direito e poucas publicações científicas que aborde o tema de justiça restaurativa a nível nacional.

Mas afinal o que seria estas práticas de justiça restaurativas? Buscaremos apresentar de maneira breve, sem pretensão de fechar o assunto, mas antes abrir oportunidades para novas discussões acerca do tema justiça restaurativa.

O conceito de justiça restaurativa é muito discutido entre os teóricos e os operadores do direito, isto se dá devido ao processo de construção desse novo paradigma no âmbito jurídico. Portanto Jaccoud (2005 apud PRUDENTE, 2013) irá apontar que o primeiro a cunhar o termo de justiça restaurativa, foi o psicólogo norte americano Albert Eglash.

Prudente (2013) aponta inúmeros termos que está relacionado diretamente com a justiça restaurativa entre os tais estão: justiça reparadora, justiça recuperadora, justiça participativa, justiça transformadora, justiça recreativa entre outros utilizados.

É possível observar na literatura que a justiça restaurativa não se define em um conceito único, pois está neste processo de construção, mas afinal o que seria justiça restaurativa?

Para alguns autores o conceito de justiça restaurativa surge como um novo paradigma, que retifica o modelo atual de definir o crime e justiça, tendo como potencial em sua aplicabilidade a transformação da conflagração no período em que ocorre a efetivação das relações sociais (NUNES, 2005 apud PRUDENTE, 2013).

De acordo com Pinto (2007) ao citar Howard Zeher (1990) para entender a justiça restaurativa no campo epistemológico é preciso mudar a maneira de enxergar as noções de crime e justiça. A justiça restaurativa deve-se compreendida como um novo viés que rompe e transcende as controversas no cotidiano da criminologia e das ciências sociais, pois rompe com as discussões costumeiras entre as questões legais e ressocialização (PINTO, 2007).

Segundo Carvalho (2014) aponta a justiça restaurativa como sendo um processo colaborativo para resolução do conflito envolvendo o autor do crime e vítima. Esta mediação passa ocorrer principalmente quando se encontra o autor do crime e a vítima, num ambiente jurídico, com viés de buscar a resolução do conflito entre autor do crime e a vítima, não

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apenas das punições sancionadas, mas visando também a reparação dos danos emocionais sofrido pela vítima.

Segundo a Organização das Nações Unidas na resolução 2002/12, passa a definir justiça restaurativa como um programa que visa atuar com processos restaurativos e alcançar resultados restaurativos. Estes processos restaurativos se referem a mediações, reuniões de conciliações entre o autor do crime e a vítima, estas reuniões visam o processo de reparação e restituição de danos a vítima, buscando objetivar a integração entre a vítima e o autor do crime (PRUDENTE, 2013). Pinto (2007) aponta que a resolução da ONU nº 2002/12 traz como dispositivo que neste processo de programa de justiça restaurativa as pessoas envolvidas devem optar em participar do programa de maneira voluntaria e sem nenhum tipo de coerção, para que acha um salto para o estabelecimento da ordem, paz e dignidade humana.

3.2 Contribuições da Justiça Restaurativa nos casos de adolescentes em conflito com a Lei

Para Dolto (1990) citado por Rodriguez e Kovács (2005) é no período da adolescência que ocorre a morte da infância sem contanto existir maturidade necessária para encarar a vida adulta. Nesta fase perde-se o que é conhecido e aumentam-se os sentimentos de angústia frente ao novo. Estas vivências podem trazer sentimentos de medo, solidão e tristeza, que necessitam de um tempo para elaboração, pois o adolescente sai de um mundo protegido e encontra uma vida imperfeita e

distinta da que foi

idealizada.

Estas mudanças rápidas que ocorrem na adolescência vêm acompanhadas pelo início da busca por uma identidade e pela procura de experiências diferentes que ainda não foram vivenciadas, o que muitas vezes pode representar perigo. Muitas vezes, o adolescente não considera a morte como uma possibilidade e a onipotência é vivenciada com força total, sendo justamente este período onde ocorrem o maior número de acidentes, o uso abusivo de drogas, práticas de violência, contaminação por doenças, como a AIDS, e ocorrência de um grande número de suicídios (KOVACS, 2005).

O adolescente é um sujeito em desenvolvimento, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, a adolescência é o período dos 12 aos 18 anos de idade. Entretanto, esta informação se altera tendo em vista que cada indivíduo tem sua maturidade desenvolvida pelo contexto de vida, sendo variável o tempo de amadurecimento de cada adolescente (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2010).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069/90, dispõe sobre a proteção integral da criança e do adolescente, reconhecendo-os como sujeitos de direitos e garantindo-lhes direitos inerentes à pessoa humana. Os direitos fundamentais preconizados

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pelo ECA são: "direito à vida, à saúde, à liberdade, ao respeito, à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, à profissionalização e à proteção no trabalho" (SANTOS, 2014, p.43). Quando se fala de adolescentes que cometeram ato infracional, isso se refere a uma conduta descrita como contravenção penal, segundo o art.103 - ECA (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2010).

Rosa (2008) citado por Santos (2014) afirma que em certo período de sua vida o adolescente passa por uma crise na busca de sua identidade, sofrendo conflitos internos na tentativa de reconhecer sua subjetividade. Neste sentido, esta fase torna-se propícia para o desencadeamento de algumas reações, vistas muitas vezes como sintomas de que algo não está bem. Segundo o autor, a prática do ato infracional seria um dentre estes vários sintomas possíveis.

Entretanto, Aguinsky e Brancher (2006) citados por Santos (2014) afirmam que não são somente as questões internas do sujeito, advindas de seu processo de formação que influenciam desvios de conduta, mas que o contexto social e a ausência da prestação de políticas públicas destinadas aos jovens são fatores importantes.

Segundo Rotondano (2011) citado por Santos (2014), a criminalidade juvenil deve-se a exclusão dos adolescentes da sociedade, ficando os mesmos desamparados e esquecidos, recorrendo desta forma ao caminho do crime como tentativa de receber atenção e cuidados que são devidos a eles por direito. Neste contexto, o autor entende que o comportamento infracional é um grito do adolescente a sociedade sinalizando que estão desamparados e desmapeados que demandam do acesso digno à saúde, educação, lazer e outros direitos assegurados pela Constituição Federal.

São muitas as discussões em torno do adolescente infrator, sendo repetido o pensamento de que sobre o jovem paira uma impunidade, conjuntamente, é recorrente a concepção social de que a prática do ato infracional precisa corresponder a um castigo. Como consequência disso, se distorce a realidade, acontece uma supervalorização da delinquência juvenil, e consequentemente um sentimento de insegurança por parte da sociedade, decorrente da ideia que se tem que o sistema de responsabilização juvenil brasileiro é ineficaz (AGUINSKY; BRANCHER, 2006 apud SANTOS, 2014).

Apesar dos avanços conquistados pelo ECA, o Estado continua reagindo de maneira violenta diante da prática dos atos infracionais, não impondo limites necessários nem atribuindo responsabilidade pela prática do ato, ignorando as consequências futuras que podem resultar desta situação (ROSA, 2008 apud SANTOS, 2014). Rosa (2008, apud Santos, 2014, p.41) coloca que ao reagir ao ato infracional "[...] o Estado não reconhece o adolescente como um sujeito singular, que passa por um momento de crise existencial na busca pela sua identidade, sendo que o ato infracional pode significar a pretensão de estabelecimento da sua subjetividade”.

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Sendo assim, é importante levar em conta que as ações praticadas por estes adolescentes correspondem na busca por sentido e refletem suas demandas, mesmo que para a sociedade estes atos sejam incompreensíveis. É por este motivo que na resolução dos conflitos juvenis deve-se levar em consideração o contexto em que o conflito está inserido (MELO, 2005 apud SANTOS, 2014).

Pranis (2006) apud Santos (2014) afirma que as intervenções da Justiça Restaurativa com os jovens colabora para iniciar mudanças no relacionamento entre jovens e adultos da comunidade, trabalhando a assistência e a responsabilização conjunta e contribuindo para a demonstração que o poder pessoal pode ser usado de forma construtiva. A justiça restaurativa atua sobre o esforço de conseguir relacionamentos saudáveis, que não isenta de culpa o comportamento que causou o dano, mas utiliza-se destas experiências como oportunidade de aprendizagem para os envolvidos.

A Justiça Restaurativa difere da Justiça Tradicional ao passo que a última se ocupa da violação da norma de conduta em si, a primeira valoriza a autonomia dos sujeitos envolvidos e diálogo entre os mesmos. A Justiça Restaurativa cria espaços adequados para a autoexpressão e protagonismo dos envolvidos e dos interessados (transgressor, vítima, familiares, comunidade) para buscar opções de responsabilização (MCCOULD; WATCHEL, 2003 apud AGUINSKY; CAPITAO, 2008).

No viés da Justiça Restaurativa muda-se o foco do culpado para as consequências do delito. Para que haja respeito com a dignidade, capacidade e autonomia do adolescente que cometeu o ato infracional é essencial a inclusão da vítima no processo. Referente à participação da comunidade nas práticas restaurativas, é importante a mobilização do maior número de pessoas que estejam relacionadas aos envolvidos no conflito, ou que possam trazer contribuições para a solução deste, abrindo espaço para a participação de familiares, amigos ou pessoas próximas do infrator e da vítima, e representantes das comunidades que de alguma forma possam ter sido atingidos pelas consequências da infração (AGUINSKY; CAPITAO, 2008).

Aguinsky e Capitao (2008) colocam que:

A Justiça Restaurativa no Sistema de Justiça da Infância e Juventude implica uma mudança de ótica e uma nova ética na significação das violências em relação às situações levadas à jurisdição da execução das medidas socioeducativas. Essas passam a ser tomadas como necessidades não atendidas de todos os afetados por ofensa, delito, conflito, violência (p.263).

Desta forma a abordagem passa da busca por culpados e de somente punição para a construção de reconhecimento social de todos os envolvidos e de hipóteses compartilhadas de reparação, superação e prevenção de danos. Estas responsabilidades

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devem fazer sentido para todos, tanto ofensores quanto vítimas, para rede primária e secundária destes, e para a comunidade (AGUINSKY; CAPITAO, 2008).

Autores (AGUINSKY; CAPITÃO, 2008, p.262) afirmam que:

A justiça restaurativa indica a possibilidade de avançar na qualificação do atendimento socioeducativo, apresentando pressupostos teórico-metodológicos e éticos que questionam os paradigmas existentes. No seu bojo, erguem-se possibilidades de construção social de respostas, no âmbito das políticas públicas, que se materializam em práticas institucionais que concretizem o paradigma da garantia de direitos aos adolescentes, autores de ato infracional, em cumprimento de medida privativa de liberdade e, também, de alternativas para esta privação.

Apelfeld (2013) coloca que estudos e ações de Justiça Restaurativa vêm acontecendo desde 2005 em Porto Alegre com adolescentes que passam pela vara de execução de medidas socioeducativas. Neste programa os atos infracionais mais acolhidos são o tráfico de drogas, roubo simples e qualificado, lesões corporais e furtos. A autora salienta que a equipe busca alcançar uma responsabilidade social restaurativa para o adolescente em conflito com a Lei. Partindo de métodos que compõe doses equilibradas de afetos e limites “[...] em virtude do fomento da justiça restaurativa através de políticas públicas voltadas para a segurança e a assistência, culminando na possível cura, recuperação e correção de injustiças decorrentes do ato infracional praticado” (p.15-16).

Sousa e Zuge (2011) colocam que diante disso observa-se que a Justiça Restaurativa desacomoda o já instituído e age na reorganização dos lugares pré-estabelecidos para os adolescentes que cometeram atos infracionais, seus familiares e profissionais da rede. Os autores salientam que o lugar vertical, hierárquico e prescritivo antes apropriado pelos profissionais vem aos poucos ganhando a possibilidade de ser desocupado.

Segundo Bazemore (2006) citado por Santos (2014) para os resultados serem satisfatórios e haver redução de delitos juvenil e da segregação, faz-se necessário que as ideias de Justiça Restaurativa e as práticas restaurativas em si estejam conectadas, para revitalizar e fortalecer os processos de base comunitária de controle social informal e de apoio.

As práticas restaurativas podem contribuir para a aplicação das medidas socioeducativas. Aguisky e Capitão (2008) apud Ferrão, Silva e Dias (2013) colocam que a aplicação da Justiça Restaurativa para adolescentes em conflito com a Lei, foca no desenvolvimento de princípios, como a responsabilidade, autonomia, interconexão, respeito e participação que quando adicionados ao atendimento socioeducativo podem qualificar as intervenções e possibilitar que o adolescente, a família e a rede de atendimento das politicas públicas possam dar novos significados às medidas socioeducativas.

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Dentro desta perspectiva a justiça restaurativa objetiva superar a cultura do castigo e da punição que não tem sido eficaz na mudança do quadro de violência e violação de adolescentes que praticam atos infracionais. O adolescente precisa ser responsabilizado a cumprir a medida socioeducativa, mas também precisa trabalhar com as consequências dos atos praticados. É neste contexto que a Justiça restaurativa traz suas contribuições, pois ao trazer a perspectiva da corresponsabilidade da sociedade oferece-se para que o cumprimento da medida socioeducativa possa substituir em práticas atuais baseada na cultura apenas da punição (FERRÃO; SILVA; DIAS, 2013).

Apelfeld (2013) coloca que mesmo a Justiça Restaurativa tendo uma atuação complementar ao sistema de Justiça Criminal, por ser uma experiência ainda nova, não se pode negar a importância de o adolescente infrator permanecer incluído na comunidade e evitar que cometa novos atos infracionais. Desta forma, em consonância com a afirmação de Apelfeld (2013) considera-se a Justiça Restaurativa como um modelo que valoriza o diálogo:

[...] para que se construa o respeito mútuo às necessidades pessoais, tanto de indivíduos que estão em desenvolvimento quanto da vítima, buscando restaurar relacionamentos de forma horizontal, visto que, para se obter a justiça deve-se partir da premissa que estamos tratando de pessoas, cujos sentimentos, traumas e garantias dos direitos humanos devem ser tratados com a devida consideração para se alcançar soluções não-violentas, e, consequências mais favoráveis do que as atingidas pela falta de efetividade do sistema de justiça penal juvenil (p.17-18).

A partir do conhecimento sobre a Justiça Restaurativa e entendendo as consequências de sua aplicação, compreende-se que essa nova prática propicia o aperfeiçoamento do sistema de justiça criminal e contribui para a luta por novos modelos de resolução de conflitos que sejam mais humanos, solidários e democráticos (APELFELD, 2013).

4. CONCLUSÃO

A adoção da Justiça Restaurativa permite às partes a oportunidade do diálogo e da resolução de conflitos relacionados ao delito praticado. Por promover o reestabelecimento dos laços de quem pratica o delito e da vítima para com a sociedade, esta forma de resolução de conflitos permite ações reconstrutivas para os envolvidos e construtivas para a justiça.

No que tange ao adolescente em conflito com a Lei, a justiça restaurativa permite que este, além de ser responsabilizado pelo ato praticado, também possa entrar em contato e refletir sobre as consequências de suas ações. Nesta perspectiva, a justiça restaurativa

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utiliza-se destas experiências como uma forma de promover aprendizagens para os envolvidos no conflito. É importante ressaltar que a justiça restaurativa pode contribuir para a qualificação do atendimento socioeducativo sempre tendo em perspectiva a garantia dos direitos dos adolescentes preconizados pelo ECA.

REFERÊNCIAS

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