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Eventos extremos no jornalismo: análise interdiscursiva dos vídeos dos portais UOL, G1 E R7 1

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Eventos extremos no jornalismo: análise interdiscursiva dos vídeos dos portais UOL, G1 E R71

Bruna de Jesus LOPES2

Camila AMORIM3

Jeferson Dellarmelim MATIELO4

Luísa Haas da SILVA5

Yasmin Zandonai VILANOVA6

Cláudia Herte de MORAES7

Universidade Federal de Santa Maria, Frederico Westphalen, RS.

RESUMO

O artigo apresenta análise de audiovisuais nos portais brasileiros UOL, G1 e R7 no ano de 2019, na temática dos eventos climáticos extremos. O objetivo é compreender como o discurso sobre emergência climática e seus impactos foi construído no período. A perspectiva adotada é da Análise do Discurso (AD) de linha pecheutiana. A metodologia envolve a busca por palavras-chave temáticas, a transcrição textual e a organização do

corpus com uso do software N-Vivo. A análise discursiva aponta os principais sentidos

na cobertura: impacto ambiental; impacto humano e social; medo e preocupação; risco; alternativas; impacto econômico. A conclusão indica a abordagem interdiscursiva com viés dramático e enfoque ao desastre, ressaltando um menor espaço ao debate sobre responsabilidades públicas no planejamento das cidades para a adaptação climática.

PALAVRAS-CHAVE: jornalismo ambiental; portais brasileiros; emergência climática;

eventos extremos; interdiscurso.

INTRODUÇÃO

A emergência climática pode ser considerada a nova fase do processo de mudança do clima, do qual cientistas alertam há décadas. É um tema ambiental de ampla abrangência e alcance social. Os perigos em relação às alterações climáticas são diversos, podendo afetar as áreas como saúde, ambiente, negócios, cultura e segurança alimentar. Os cientistas já adotam o termo “emergência climática” pelo fato de que não estamos solucionando os desastres (aumentos das emissões de gases) causados pelas interferências humanas e outros fatores que contribuem para a transformação e aceleração da crise do

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Trabalho apresentado no IJ01 – Jornalismo da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

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Estudante de Graduação 4º. semestre do Curso de Jornalismo da UFSM-FW, e-mail: bruna.j.lopess@gmail.com 3

Estudante de Graduação 4º. semestre do Curso de Jornalismo da UFSM-FW, e-mail: amorimcamila412@gmail.com 4 Estudante de Graduação 6º. semestre do Curso de Jornalismo da UFSM-FW, e-mail: jefersondellarmelim@gmail.com 5

Estudante de Graduação 6º. semestre do Curso de Jornalismo da UFSM-FW, e-mail: luisahaasdasilva@gmail.com 6

Estudante de Graduação 6º. semestre do Curso de Jornalismo da UFSM-FW, e-mail: yasmin.rz.vilanova@gmail.com 7 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo da UFSM-FW, e-mail: claudia.moraes@ufsm.br

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2 clima. Os eventos climáticos extremos, ou só eventos extremos são definidos a partir de uma mudança climática brusca, mais intensa ou frequente. (LOOSE; MORAES, p. 113). Com isso, aumentam a incidência e os estragos oriundos, por exemplo, de inundações (causadas por chuvas intensas), os ciclones, tornados, as secas e escassez de água, ondas de calor, entre outros.

Neste trabalho apresentamos resultados parciais de uma pesquisa mais ampla, na qual são estudados os discursos sobre temas associados à crise climática pelos audiovisuais publicados nos portais brasileiros UOL, G1 e R7 no ano de 20198. O recorte feito resultou no corpus composto pela temática das reportagens de eventos extremos. A escolha se deu pelo grande volume neste critério, especialmente sobre os acontecimentos do período, tais como enchentes, deslizamentos de terras, alagamentos, desabamentos etc. A análise se deu a partir da compreensão da mudança climática causados por seus efeitos (impactos) bem como sua relação com o conceito de justiça climática, que indica a possibilidade de que os danos socioambientais não são distribuídos igualmente em nossa sociedade. A perspectiva adotada é da Análise do Discurso (AD) de linha pecheutiana, com o objetivo de compreender como o discurso sobre emergência climática e eventos extremos foi construído pelos portais brasileiros em 2019. A metodologia envolve procedimentos de coleta, organização e seleção do material, de acordo com as especificidades da AD.

Após esta introdução, passamos a discutir os pressupostos teóricos nas seções Emergência climática e eventos extremos; Jornalismo e meio ambiente; Análise do Discurso e interdiscurso. Na sequência, temos a exposição da Metodologia para enfim apresentar Resultados e discussão, dando destaque à cobertura de cada portal. As considerações finais trazem uma apreciação geral acerca dos discursos encontrados em face do objetivo do trabalho, especialmente quanto à noção do interdiscurso interpretado pela AD.

1 Emergência climática e eventos extremos

8 “Enquadramentos discursivos em reportagens sobre o futuro do planeta”, projeto guarda-chuva, que busca

compreender como o jornalismo constrói o discurso sobre a mudança do clima. No ano de 2019, o projeto analisou os três portais citados no âmbito do audiovisual totalizando a coleta de 593 reportagens audiovisuais sobre os temas de geração de energia, a crise da água, o uso de combustíveis, a questão das florestas e a ocorrência de eventos extremos (cheias, inundações, deslizamentos), bem como as cúpulas e negociações globais.

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3 Queima de combustíveis fósseis, atividades industriais, agropecuária, desmatamento estão entre as principais atividades que contribuem para o aumento da emissão de gases na atmosfera e para o aquecimento global. Disso resulta mudança do clima e, consequentemente, a ocorrência de eventos extremos, que abalam as estruturas de variados países não apenas ambientalmente, mas economicamente e socialmente. As consequências dos fenômenos climáticos são mais intensas para as regiões menos desenvolvidas, portanto, aos mais vulneráveis. Esta situação abre a reflexão sobre as condições de vida das sociedades mais carentes, para que seus direitos sejam dignos, protegidos e reforçados.

A falta de planejamento pode agravar os riscos ambientais e sociais no contexto das mudanças climáticas. Segundo o Acordo de Paris, devemos considerar as ações para combate às alterações do clima e promover várias áreas tais como os direitos humanos, à saúde, ao desenvolvimento; o direito de povos indígenas, comunidades locais, migrantes, crianças, pessoas com deficiência e pessoas em situação de vulnerabilidade; a igualdade de gênero e intergeracional (ONU, 2015 apud SOUZA, YOSHIDA, 2019).

As mudanças climáticas impactam a vida de milhões de pessoas, muitos brasileiros vivem em situações precárias de vulnerabilidade que acabam sendo afetados de uma forma mais direta. Sotto et. al (2019) indicam a necessidade de diminuição da vulnerabilidade ambiental que se relaciona com o primeiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, ou seja, com a erradicação da pobreza, diminuindo a exposição destas populações e construindo resiliência dos “mais pobres e vulneráveis e à redução de sua exposição a eventos extremos, choques e desastres”.

Para evitar e tentar controlar esses riscos nos grandes centros, sobreveio a noção de “infraestrutura verde”, entendida como instrumento para ações de soluções baseadas na natureza e que atendam tanto questões ecológicas, quanto sociais e econômicas, sendo portanto uma estratégia de adaptação urbana. (SOTTO et. al, 2019). Porém, para sua implementação no Brasil, é preciso alterar a concepção de cidade e contrariar interesses econômicos. (NIELSEN et. al, 2016 apud SOTTO et. al, 2019). Também Haase et al. (2014) fazem uma relação do conceito à maneira e aos grandes benefícios que as áreas verdes trazem para as cidades.

Segundo os dados relatados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) em 2013, os anos 2000 têm sido os mais quentes de todo o histórico desde o início das medições. Esse conjunto de dados apresenta relações

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4 entre a ocorrência dos eventos extremos com a ação humana. Significa que a ciência confirmou que são causados e/ou intensificados por causas antropogênicas, visto que o aumento da temperatura média do planeta, conforme o IPCC (2013), ocorre em cerca de 90% pela ação humana. Assim, durante todo o século XXI, haverá um grande aumento aos riscos de secas e enchentes, entre outros.

As alterações climáticas não são apenas problemas políticos, científicos e econômicos, mas são também questões sociais e morais. Como este cenário está atingindo a política, o Estado e o governo possuem um papel catalisador de ações, efetuando medidas que contornam a situação da crise ambiental. Também é importante salientar que a questão se tornou um problema mundial e, desta forma, tomou uma grande proporção em debates levando a temática à grande visibilidade. (CARVALHO, 2011 apud ZANOVELLO, 2018, p. 13).

Entre os aspectos concernentes à emergência climática, cumpre destacar ainda o conceito de justiça climática, que surge como resposta aos impactos sofridos em grande medida pelos eventos extremos, pois, afinal, os mesmos “[...] atingem de forma e intensidade diferentes grupos sociais distintos.’’ (MILANEZ e FONSECA, 2011, p.84). Desta forma, a injustiça social e econômica acompanha a mudança do clima. Os autores sustentam a ideia de que não se pode mais viver em uma sociedade no qual o consumo acontece de forma exacerbada.

Em um mundo desigual e injusto é ainda mais difícil gerar conscientização social sobre o aquecimento global, pois há diferenças entre os impactos sofridos por regiões e também por estratos sociais, entre ricos e pobres. A ideia da justiça climática é trazida exatamente para lembrar sobre a importância de que toda a população tenha seus direitos assegurados diante dessa crise global.

JORNALISMO E MEIO AMBIENTE

A comunicação é um serviço público, em que o jornalista tem como dever mostrar as respostas e discussões sobre os impactos que o meio ambiente pode sofrer, ou já sofreu. Após o surgimento e crescimento das indústrias, houve também o crescimento dos movimentos ambientalistas que notaram os impactos ambientais, o acúmulo econômico a partir dos recursos e o modelo predatório de desenvolvimento ainda no século XX (MORAES; FANTE, 2018). Nesse sentido, a comunicação se interessou pelo tema, e ampliou seus estudos na área (MORAES, 2016).

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5 Como elemento fundamental da democracia, a comunicação precisa da diversidade de opiniões e visões de mundo para explorar a sua finalidade democrática em uma sociedade. Segundo Moraes (2016), muitas vezes não há acesso à diversidade de opinião, prejudicando assim o comprometimento da essência do verdadeiro jornalismo, como instrumento de informação para a sociedade. Motta (2010) indica a relação entre a cobertura de meio ambiente e a política editorial dos grandes veículos, em função de que as reportagens ambientais exigem fôlego e investimentos.

Hannigan (1995, apud MORAES, 2016, p.90) aponta que os problemas ambientais não decorrem apenas por ações individuais, porém no jornalismo são trazidos como tal, dessa forma a população em geral é vista como vilã, e não indicam a responsabilidade às más condutas políticas e/ou empresariais das grandes corporações.

Segundo Barros e Sousa (2010 apud MORAES, 2016, p. 56), o aumento do interesse pelo assunto se dá pelas discussões das agendas ambientais nacionais às internacionais, com eventos que debatem as relações de impactos ambientais em todos os lugares, em escala global, propondo, assim, uma nova perspectiva sobre o uso dos recursos naturais e as ações humanas.

A pauta climática está em ascensão e o papel da comunicação como serviço público tem o dever mostrar as respostas sobre os impactos que o meio ambiente pode sofrer, ou, já sofreu. Embora em maior número nos anos recentes, as reportagens podem se tornar sensacionalistas, ou apontando os danos econômicos em primeiro plano. (MORAES, 2016).

Desta maneira, para tensionar a cobertura sobre meio ambiente, o conceito de jornalismo ambiental auxilia à percepção de que uma mudança é necessária na sociedade e nos veículos de mídia pois a perspectiva é propor um olhar para a sociedade “a partir do saber ambiental e com as lentes da visão sistêmica, beneficiando sobretudo a informação e a cidadania.” (MORAES, 2016, p. 78). Sendo assim, “a prática do jornalismo ambiental precisa incorporar a participação, elemento central do nosso tempo, em que os cidadãos têm a possibilidade de serem incluídos mais fortemente na discussão da vida social, trazendo luzes para as preocupações ambientais” (GIRARDI et al, 2012a, p.149).

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6 A Análise do Discurso (AD) busca entender a língua em relação à vida das pessoas, considerando as condições e situações de certo discurso. “Nessa confluência, a Análise do Discurso critica a prática das Ciências Sociais e da Linguística, refletindo sobre a maneira como a linguagem está materializada na ideologia e como a ideologia está materializada na linguagem”, (ORLANDI, 2001, p.16). De acordo com Siqueira (2017), na AD liderada por Michel Pêcheux “[...] o conceito de condição de produção tem um lugar privilegiado, na medida em que não é mais possível atribuir ao sujeito a produção de suas falas (portanto, não é mais possível afirmar que o sujeito é a fonte do discurso).” (2017, p. 23).

Para Pêcheux (1990), o discurso é um lugar particular, sendo resultado da história, dos processos de significação e da memória. Além disso, Orlandi (2001) afirma que o que não foi dito em um texto tem tanta força quanto o que foi dito, por isso, a partir de uma observação histórica e social profunda é possível perceber os sentidos de certo espaço discursivo. A língua não é língua sem equívocos, a história não é contada sem rupturas e sem essas mudanças não haveria sujeito nem sentido.

Essas falhas são necessárias e contínuas pois a língua é sujeita a essas imperfeições para haver então os movimentos do sujeito de se significar (ORLANDI, 2001). No âmbito da linguagem, a tarefa do analista é descolar a ambiguidade dos sentidos (entendidos como lógica) para compreender, na língua, através do papel do equívoco, causado pelo sujeito e pela história, o discurso de forma mais complexa (PÊCHEUX, 1982 apud ORLANDI, 1998, p.10-11).

Segundo Orlandi (2001), a ideologia é capaz de produzir evidências, colocando o homem na relação imaginária com suas condições materiais de existência. Mostrando todo o processo de produção de sentidos citado anteriormente, de acordo com a autora, o “indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para que se produza o dizer”, com produção de evidências subjetivas que constituem o próprio sujeito. (ORLANDI, 2001, p,46).

A memória deve ser pensada como interdiscurso, afinal, algo que dizemos está sempre relacionado a outro discurso (ORLANDI, 2001). Nesse caso, a memória, é definida como tudo aquilo que se fala antes. O interdiscurso sempre afeta o modo como o sujeito significa em dada situação. Segundo Lima (2003, p .84) “tudo o que já se disse sobre um tema e seus correlatos está, de certo modo, significando ali, interpelando os sujeitos.”

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7 O discurso do jornalismo é uma retomada, atualização e deslocamento de algo que já foi dito anteriormente, por conta disso, quem realiza a análise discursiva deve compreender essa interdiscursividade e os resultados que isso pode ter. “Estas regularidades, por sua vez, são tramadas por um conjunto de regras sempre determinadas no tempo e no espaço, efetivamente influenciadas pelo contexto histórico [...]” (SCHWAAB e ZAMIN, 2014, p.50).

Assim como toda a comunicação humana, o discurso jornalístico também será polissêmico. Apesar de contar com expressões objetivas acerca de certos fatos, o discurso no jornalismo ainda está em relação com elementos simbólicos que dão sentido para além do que está escrito de maneira explícita (SCHWAAB e ZAMIN, 2014). Para além disso, é importante frisar que as notícias também são interpretadas pelo público. O jornalismo se legitima como objetivo, transparente e imparcial. Mas a sua prática leva em conta o uso da linguagem e editoração, por isso, precisamos recorrer para a memória discursiva, discurso transverso e pré-construído, sendo nesse meio que o jornalismo acontece. (SCHWAAB e ZAMIN, 2014).

O discurso também está relacionando ao enquadramento dado para certa situação, pois sempre algo é deixado de lado, logo, ao direcionar certo assunto por um ângulo, será constituído o discurso e o conhecimento de certo fato (MORAES, 2016). Portanto, “a verdade não está no discurso, mas somente no efeito que ela produz” (CHARAUDEAU apud ZANOVELLO, 2018, p.63). Com isso, é primordial estar atento e buscar compreender esse contexto, pois para Gregolin (2008, p.16) “a mídia é o principal dispositivo discursivo no qual a ‘história do presente’ é produzida, como um fato que determina a memória e o esquecimento.”

METODOLOGIA

Este projeto está vinculado ao projeto guarda-chuva “Enquadramentos discursivos em reportagens sobre o futuro do planeta”. A escolha dos portais G1, UOL e R7 se deu por terem maior número de acessos no Brasil. O G1, conhecido pelo portal do grupo Globo possui mais espectadores e leitores em suas reportagens comparado aos outros dois portais. O portal UOL, do grupo Folha, se destaca pela audiência de 30% do seu conteúdo audiovisual em relação aos demais portais, um fator importante para a escolha deste portal pois leva relevância do seu trabalho jornalístico à pesquisa. Já o portal

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8 R7, da rede Record, é bastante conhecido pelo trabalho televisivo da própria emissora, também está entre os portais de maior audiência jornalística.

A partir da definição dos objetivos da pesquisa, foi realizada busca nos portais com as palavras-chave que estavam relacionadas à cada temática, coletando-se os audiovisuais publicados pelos portais no ano de 2019. Após avaliação, foram selecionados os vídeos que com mais de duas fontes ouvidas, como forma de priorizar as reportagens que possuem mais espaço para a exposição de diferentes visões dos fatos e, com isso, possibilitar melhores contextos para as análises.

Para a realização das análises dos textos dos materiais audiovisuais, cada matéria audiovisual foi transcrita e, com uso do programa NVIVO – software de pesquisa qualitativa, foi denominado cada sentido para a totalização. Ressalte-se que, nesta etapa do projeto, foram analisados apenas aspectos do código verbal (excetuando-se imagens e sons). A análise discursiva foi realizada em busca da regularidade do discurso (identificando-se paráfrases e polissemias dos textos)9 e, com isso, interpretamos o sentido principal de cada trecho significativo. As marcas discursivas analisadas levaram à atribuição dos sentidos.

QUADRO 1 - PRINCIPAIS SENTIDOS ENCONTRADOS POR TEMÁTICA/PORTAL

Temática G1 UOL R7

Eventos Extremos Risco;

Incerteza; Ceticismo; Emergência; Alternativas; Planejamento; Culpa ou Responsabilidade; Risco; Incerteza; Emergência; Alternativas; Planejamento; Culpa ou Responsabilidade; Decisões políticas e Risco; Incerteza; Ceticismo; Emergência; Alternativas; Planejamento; Culpa ou Responsabilidade;

9 Paráfrase foi entendida como o discurso que se repete (um dizer reiterado), enquanto que a polissemia está associada aos sentidos de ruptura ou deslizamentos. São utilizados no trabalho como um movimento interpretativo de caráter operacional.

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9 Decisões políticas e governamentais; Impacto Ambiental; Impacto Econômico; Medo e Preocupação; Gestão e Fiscalização; Conflito Controvérsia/; Impacto Humano e Social; governamentais; Impacto Ambiental; Impacto Econômico; Medo e Preocupação; Impacto Humano e Social; Cultura Sustentável; Impacto Ambiental; Impacto Econômico; Medo e Preocupação; Conflito Controvérsia/; Impacto Humano e Social. Fonte: os autores. RESULTADOS E INTERPRETAÇÃO

A partir da análise das reportagens dos três portais audiovisuais G1, UOL e R7 pela temática dos eventos extremos, noticiados no ano de 2019, vemos que estão voltadas à situação das enchentes que ocorrem em diversos locais do território nacional e acabam por prejudicar a vida de diversas pessoas, especialmente nas grandes cidades. Entre a justificativa para tais eventos está a variação climática ocorrida em 2019. De maneira geral, o discurso se direciona à população de modo geral e como ela sofre com a situação. Afinal, as enchentes que ocorrem em grande escala no Brasil podem prejudicar a saúde pública, as moradias das pessoas, o bem estar da população, a segurança de uma comunidade, entre outros aspectos.

O discurso acerca do problema sobressai no discurso relatado pelos entrevistados, nas reportagens sobre as enchentes, que poderiam ter sido evitadas se houvesse a fiscalização (pelos governantes), conforme a Sequência Discursiva (SD):

“E os moradores do bairro Itaguaí que estão bem irritados com a Prefeitura de Mongaguá, eles estão reclamando do mato alto, da sujeira que tá entupindo bueiros por lá e aí provoca enchentes né enfrentam reclamando da falta de manutenção.” (G1)

“O que no passado foi construído como solução, hoje é considerado um problema, para especialistas a canalização de rios e córregos contribuiu para acumular água em determinados pontos com mais rapidez. Abrir

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essas obras e revitalizar as margens é uma das saídas apontadas.” (UOL)

Deslizamentos de terras também foram eventos frequentes, principalmente nas cidades litorâneas ou em construções irregulares. As reportagens se baseiam nos ocorridos após chuvas intensas causando mortes e destruição de casas, túneis, etc. Os deslizamentos de terra são associados ainda às questões sociais, pois os impactos materiais são nitidamente maiores as pessoas com poucas condições financeiras, indicando a vulnerabilidade social e injustiça climática. Exemplo no trecho “Esse deslizamento atingiu não só estrada, mas também algumas casas que ficam mais lá embaixo a gente conseguiu entrar em uma das casas interditadas e aqui debaixo.” (R7).

Os impactos emocionais, bem como vítimas e mortos desses eventos extremos, receberam grande atenção nas reportagens dos portais e utilizaram paráfrases para o sofrimento humano, trazendo comoção, angústia, raiva e revolta. Isso gera no espectador empatia, até mesmo para ajudar às vítimas. Portanto, podemos dizer que os portais se assemelham - como um discurso geral sobre os eventos extremos, no contexto da emergência climática, mirando nos seus impactos, trazendo a problematização do evento extremo à agenda pública e buscando a humanização dos estragos.

A seguir, apresentamos uma análise detalhando a cobertura realizada em cada portal, com dimensão de aspectos diferenciados sobre como o discurso foi trazido pelos veículos. Quando pertinente, há destaque para uma SD que traz um recorte do texto, em que o sentido do discurso é destacado para análise.

PORTAL UOL

No Portal UOL, as 20 reportagens analisadas representam temas de enchentes, alagamentos, temporais, vendavais, deslizamentos de terras ou pedras e desabamento de túneis. As consequências emocionais das perdas que os familiares sentem de seus parentes é bastante explícita, pois a forma que as perdem é muito impactante e trágica. Os entrevistados descrevem os ocorridos com pavor e medo, pelo trauma que sofreram. Trazemos isso exemplificado na SD:

“A gente tá em estado de choque, a gente não tá acreditando, ta sendo um pesadelo. Você fecha os olhos, você consegue dormir um pouquinho, mas você vê barro, vê lama. Você fica olhando, pensando com os olhos assim, você vê o pessoal buscando corpos aqui, ta sendo muito ruim.’’ (UOL)

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11 Também vemos a ajuda da polícia e defesa civil como algo positivo em algumas reportagens, já que suas ações diante dos eventos são vistas como atos heróicos, pelos salvamentos de vítimas de enchentes, desabamentos etc. Em algumas reportagens, está implícita a demora ou falta de apoio pelas prefeituras, para a solução dos impactos sofridos em duas reportagens sobre enchente e temporal na cidade de São Paulo, é descrito que o prefeito não estava presente no momento do impacto.

As perdas das vítimas de deslizamentos de terras são por estarem em áreas irregulares. Também por enchentes, fatores causados por mau planejamento das áreas urbanas (sem regulamentação política e fundiária), chuvas excessivas, e, por causa do acúmulo de lixo. Os desabamentos ocorridos em túneis, por erros que poderiam ser evitados se houvesse atuação do poder público. Já os temporais (chuvas e ventos), acontecidos nas cidades de São Paulo e no litoral paulista, causam consequências de verdadeiros estragos por onde passam, provocando mortes, falta de luz em residências, alagamentos e derrubadas de árvores e casas.

Contudo, percebemos que as sequências discursivas se baseiam repetidamente no discurso das problemáticas dos eventos extremos, pelas vítimas e por seus estragos em casas, carros, e no meio ambiente, como na SD: “A gente passou aqui correndo, a gente foi até a parte mais alta do terreno. A gente parou aqui e olhou para trás, viu a lama chegando [...]”. O sentido deste trecho reforça algo como “fora de controle”. No geral, percebemos ainda que há poucas menções para soluções para o enfrentamento dos desastres, com algumas críticas eventuais à falta de planejamento pelas organizações políticas.

PORTAL G1

No portal G1, devido a essa situação afetar diretamente o ser humano, é possível perceber que as reportagens, totalizando 47 matérias acerca do tema de eventos extremos e em especial sobre as enchentes, inundações, temporais e situações de riscos, apresentam um tom de medo, angústia e incerteza por parte daqueles que vivenciam um evento extremo, como nesta SD: “basta as nuvens no céu anunciarem chuva para a população ficar preocupada!’’. Com o elevado número de casos de chuvas fortes, causando enchentes e alagamentos, várias pessoas sofrem com as consequências. Perdas materiais e danos sociais são os principais resultados deixados pelas catástrofes climáticas. Com

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12 isso, percebe-se um discurso voltado para o alerta e o perigo, pois o acontecimento retratado pode ocorrer novamente, para isso, é necessário entender a situação e o que causou. Logo, as matérias buscam um culpado, tratando da ação do homem na natureza e na estrutura das cidades, algo que propicia as enchentes.

Por conta disso, ao mostrar os problemas do fato, procura-se saber o que pode ser feito para resolver a situação que afeta diversas pessoas, como neste trecho: “o transporte foi suspenso em toda zona rural de Baturité, a prefeitura não tem nenhum projeto para melhorar a passagem molhada ou torná-la, a solução encontrada foi suspender as aulas sempre que chover e inundar o local’’. A sequência discursiva que ganha destaque aqui tem um sentido de alternativa, propondo soluções aos problemas enfrentados.

Nesse contexto, entra-se em contato com as autoridades em busca de compreender a responsabilidade delas no caso e o que devem fazer diante de tal problemática ambiental e social, que agrava as desigualdades no Brasil. Pode-se perceber que as autoridades possuem preocupação com as pessoas que são afetadas pelos eventos extremos, afinal, o mapeamento das áreas que podem sofrer mais com os alagamentos e deslizamentos começaram a ser realizadas para que as pessoas não tenham suas vidas prejudicadas. Desta forma, as famílias são alertadas e deslocadas para locais que são considerados seguros pelas autoridades.

Ainda se pode ver que o dano material é a consequência mais frequente citada e recortada no G1 como perda de móveis e casas destruídas, deixando pessoas desabrigadas. De modo geral, encontramos um enfoque nos indivíduos, como na SD: “foi só bens materiais, a gente trabalha pra conquistar de novo, com a cabeça erguida e seguir em frente’’. A ideia de seguir em frente alude ao interdiscurso de força pessoal e vontade individual, descartando os aspectos coletivos na busca de melhor infraestrutura nas cidades, por exemplo. Além disso, esse discurso direcionado para o ser humano - a humanização da pauta pode ser uma forma de gerar mais empatia naqueles que consomem a notícia.

PORTAL R7

Na análise da cobertura sobre os eventos extremos no Portal R7 foram encontradas cinco reportagens: três referem-se a deslizamentos de terra provocados por chuvas, que levaram casas e causaram mortes; já as outras duas relatam deslizamentos em estradas, decorrentes de enchentes e chuvas em excesso.

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13 O aspecto emocional é bastante tocado, pois no momento da entrevista com as pessoas afetadas, os relatos são do seu sofrimento por perderem suas casas, feitas com tanta luta, como na fala de Seu Antônio, na reportagem “Casal se salva de deslizamento de terra, mas lamenta a morte do sobrinho neto”: “Era todo mundo unido, essas épocas de Copa a gente enfeita as ruas. Eu tinha uma barraquinha vendia tudo humildemente, fazia fiado, mas não me faltava meu dindin no bolso, sempre tive o que dar para o meu neto”. O espaço principal é para o sofrimento pela perda dos familiares.

Outro aspecto presente nas reportagens tanto nos deslizamentos em comunidades, quanto em estradas, é a questão social. Onde há deslizamento sobre casas, consequentemente há pessoas desabrigadas, que não tem para onde ir. Já onde há enchentes e estradas interditadas, há trabalhadores que não conseguem chegar ou sair de suas casas, pois a água não deixa. Muitas vezes, as reportagens que relatam eventos extremos servem como um apelo, um pedido de ajuda para essas pessoas, que entendem a mídia como mediadoras dessas situações, com o poder de levar a mensagem às pessoas e autoridades dispostas a ajudar.

Mesmo que, em comparação com os outros dois portais, o R7 tenha sido o que menos apresentou reportagens sobre eventos climáticos extremos, identificamos uma retomada do modo de dizer já construído em eventos passados e por outros veículos, de forma interdiscursiva: não cobrar de autoridades sobre as responsabilidades em relação aos fatos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os eventos extremos geram impactos econômicos, sociais, humanos e ambientais. A mudança do clima afeta com mais ênfase locais de maior vulnerabilidade social, acentuando as diferenças já existentes em certas regiões. Por conta disso, compreende-se que cada grupo social é impactado de maneira distinta, tendo diversas perdas, inclusive prejudicando a própria saúde. Tudo isso demonstra a forte relação entre o homem e a natureza. Caso não cuide melhor do planeta, a humanidade irá sofrer as consequências, principalmente aqueles que estão à margem da sociedade. Tendo isso em mente e a importância dos meios de comunicação quanto ao debate social, o artigo analisou de que forma foi construído o discurso sobre os eventos extremos pelos audiovisuais dos portais brasileiros UOL, G1 e R7 no ano de 2019.

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14 O discurso é moldado pelos processos de significação, processos históricos e a retomada da memória. Ele sempre se transforma. A Análise do Discurso, perspectiva adotada neste trabalho, trata do estudo da prática simbólica da linguagem, que é observada no social construtivo da história humana, agregando sentidos na sua construção e podendo ser interpretada de inúmeras maneiras (ORLANDI, 2001). O discurso quando associado a um conjunto pode ser considerado interdiscurso. Se pensarmos no discurso sozinho, o interdiscurso seria então o conjunto de todas as unidades discursivas já relacionadas. No jornalismo, devemos nos atentar ao interdiscurso, e o que ela pode representar nas notícias.

As reportagens dos portais UOL, G1 e R7 falam majoritariamente sobre casos de deslizamentos de terra, enchentes e alagamentos. No entanto, o discurso não se concentrou sobre o que ocasionou tais fatos, especialmente quanto às causas de tais fenômenos extremos. Também foi muito sutil na abordagem sobre as responsabilidades por causa da infraestrutura e manutenção pública nas cidades. Desta forma, a abordagem discursiva destacou os efeitos dos eventos extremos, em como as pessoas lidam com o ocorrido, já que muitas perdem suas casas, ficam paradas por horas em ruas alagadas, e em situações realmente extremas, chegam a perder familiares e amigos.

O discurso dos audiovisuais analisados trouxeram vários sentidos, conforme destacamos impacto ambiental; impacto humano e social; medo e preocupação; risco; alternativas; impacto econômico. No entanto, salientamos uma abordagem interdiscursiva, que se repetiu nos portais, atrelada à perspectiva dramática e aos danos às pessoas atingidas. O enfoque é direcionado ao desastre, quando o mesmo já ocorreu. Não há uma busca maior por responsabilidades, ou pelo que deveria ter sido feito de forma preventiva. Com isso, apesar de indicar por vezes a desigualdade e a injustiça climática, os portais não trouxeram um debate mais aprofundado quanto a soluções de longo prazo para a adaptação à emergência climática em curso.

REFERÊNCIAS

GREGOLIN, Maria. Análise do discurso e mídia: a (re) produção de identidades. Comunicação mídia e consumo, v. 4, n. 11, p. 11-25, 2008.

HAASE, Dagmar et al. A Quantitative Review of Urban Ecosystem Service Assessments: Concepts, Models, and Implementation. Ambio. England, p. 413-433. abr. 2014.

IPCC. Report Climate Change: The Physical Science Basis - Summary for Policymakers, 2013. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/>

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Referências

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