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Esporte, infância e juventude despossuída: uma análise das ONG's como acontecimento discursivo

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www.rbceonline.org.br

Revista

Brasileira

de

CIÊNCIAS

DO

ESPORTE

ARTIGO

ORIGINAL

Esporte,

infância

e

juventude

despossuída:

uma

análise

das

ONG’s

como

acontecimento

discursivo

Rubia-Mar

Nunes

Pinto

a,

e

Cristina

Borges

de

Oliveira

b

aUniversidadeFederaldeGoiás(UFG),FaculdadedeEducac¸ãoFísicaeDanc¸a,Goiânia,GO,Brasil bUniversidadeFederalFluminense(UFF),InstitutodeEducac¸ãoFísica,Niterói,RJ,Brasil

Recebidoem27demaiode2013;aceitoem19desetembrode2014 DisponívelnaInternetem4defevereirode2016

PALAVRAS-CHAVE

ONGs;

Infânciaejuventude; Esporte;

Discursos

Resumo OartigoapresentaumestudoquepretendeucompreenderasONG’scomo aconteci-mentodiscursivoqueinstituiecolocaemcirculac¸ãoumdiscursoquesepretendeverdadeiro sobreoesporteesobrecrianc¸asejovensdespossuídos.Fez-seaanálisedosdiscursospublicados nossitesdenoveONGsquecentramsuaac¸ãonaofertadeatividadesesportivasparaopúblico infanto-juvenilqueviveemperiferiasurbanas.Concluiu-sequeasONGsconferemmaisênfase àprópriaac¸ãodoqueaossujeitosqueasrecebem;queosdiscursossobreoesportesão infor-madosportradic¸õespolíticasediscursivasquereforc¸amovalordessapráticacomoferramenta dedisciplinaecontrole;equecrianc¸asejovenspobressãoaproximadosdiscursivamenteda ociosidade,dacriminalidade,daindisciplinaedodesrespeitoàsregras.

©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´e umartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

KEYWORDS

NGOs;

Childhoodandyouth; Sport;

Speeches

Sport,childrenandyouthdispossessed:ananalysisofNGO’showdiscursiveevent

Abstract ThepaperpresentsofastudythatsoughttounderstandtheNGOsasdiscursiveevent thatimposesandputsintocirculationaspeechintendedtobetrueaboutthemselves,about sportandaboutchildren andyoung peoplelivinginBrazilianurbanoutskirts.Assumingthat NGOs arepolitical-economicstrategyofsocialfinancializationanddeviceofdiscipliningand governmentofindividualsandpopulations,ithasbeencarriedoutananalysisofwhathasbeen publicizedinthesitesof9organizationsthatfocustheiractivitiesonoffersportsactivitiesfor thejuvenilepublic.ThefindingsshowthattheNGOsgivemoreemphasistotheirownaction

Autorparacorrespondência.

E-mail:rubia-marp@bol.com.br(R.M.N.Pinto). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2016.01.013

0101-3289/©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigoOpenAccesssobuma licenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

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thantochildrenandyoungpeoplewhoreceivethem;thatthespeechesaboutthesportare informedbypoliticalanddiscursivetraditionsthatreinforcethevalue ofthispracticeasa toolofdisciplineandcontrol;ethatpoorchildrenandyoungareapproximatediscursivelyto vagrancy,crime,indisciplineanddisrespecttotherules.

©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/). PALABRASCLAVE ONG; Infanciayjuventud; Deporte; Discursos

Deporte,ni˜nosyjóvenesdesahuciados:unanálisisdelasONGcomoacontecimiento discursivo

Resumen ElartículopresentaunestudioenqueseintentaentenderalasONGcomo aconte-cimientodiscursivoqueinstituyeyponeencirculaciónundiscursoquesepretendeverdadero sobreeldeporteysobrelosni˜nosyjóvenesdesahuciadosdelaperiferiaurbanadeBrasil.Seha hechounanálisisdeloquesehapublicadoenlossitioswebde9organizacionesquecentran susactividades enlaoferta deactividadesdeportivasparaelpúblicoinfantily juvenil.Los resultadosmuestranquelasONGdanmásimportanciaasupropiaacciónquealosni˜nosy jóve-nesquereciben;quelosdiscursossobreeldeportecontienentradicionespolíticasydiscursivas querefuerzanelvalordeestaprácticacomounaherramientadeladisciplinayelcontrol,y queseaproximadiscursivamentealosni˜nosyjóvenespobresalavagancia,ladelincuencia,la indisciplinaylafaltaderespetoalasnormas.

©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Estees unart´ıculoOpenAccessbajolalicenciaCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

Introduc

¸ão

OestudointencionoucompreenderasONGsquecentramsua ac¸ãosocialnaofertadeatividadesesportivascomo aconte-cimentodiscursivoqueaoformularecolocaremcirculac¸ão certosenunciados e certasimagens acabapor instituirou fixar verdades sobre o esporte e sobre crianc¸as e jovens despossuídosque vivemnasperiferiasurbanasbrasileiras. Oacontecimentodiscursivoéaquientendidocomoa possi-bilidadedesedizeralgoemumdeterminadomomento,ou seja,comooconjuntodascondic¸ões(materiaisenão mate-riais)quepermitemqueumdiscursosejaproferidoemuma dadarealidade histórica.Entender o discursocomo acon-tecimentoéaceitarsuaimersãoemumquadroreferencial mutantee suarelac¸ãodecomplementaridadeouexclusão comoutrosdiscursosapartirdeumavontadedeverdade.

Os discursos acontecem exatamente na e pela pressão e coerc¸ão que exercem uns sobre os outros movidos todos pelavontadedeserreconhecidoscomodiscursoverdadeiro (Foucault, 1996). Ou seja, a oposic¸ão entre verdadeiro e falsoestabeleceregrasdeinterdic¸ãoederejeic¸ãode cer-tosdiscursosetornapossívelounãooseuacontecer.Assim, tratarodiscursodasONGscomoacontecimentoimplica con-siderarcomo taisorganizac¸õesadentram asdisputas pela produc¸ãodeverdadessobreoesporteesobreajuventude brasileira.

Por outrolado,entenderasONGscomoacontecimento discursivonãosignificaaceitaraideiadequeodiscursoé tudonemtampoucodesconsiderar dinâmicasque,embora capturadas pela teia de discursos, não podem ser redu-zidas a eles. O foco no discurso das organizac¸ões quer encontrarascondic¸õesquefazemcomqueasONGsejam,

crescentemente,alc¸adasaprodutoresdaverdadesobreas crianc¸as eosjovensqueatendem.Espera-se, assim, posi-cionar os discursos enquanto uma dimensão fundamental tanto para o enraizamento das organizac¸ões nos campos doesporte edaeducac¸ãodecrianc¸as e jovensbrasileiros quanto para sua legitimac¸ão como parceira doEstado no enfrentamento das problemáticas sociais. Assim, ao con-siderar as organizac¸ões como acontecimento discursivo e buscarinterpretarcomodizemoesporteeossujeitos infan-tisejuvenisquerecebemsuaac¸ãosocialecomoexplicam essaac¸ão,espera-sedaravercomofuncionaodiscursoe comoinstituie/ouconsolidacertosmodosdepensarever arealidadeapontodetornarcertostemasobjetodosenso comumouaindadeumdebatepúblico.

No caso das ONGs que lidam com o esporte, a aná-lise pode possibilitar compreender com mais propriedade oseupapelepotencialnatransformac¸ãoemudanc¸aouna manutenc¸ão daatual ordem dascoisas. Afinal, se parece inequívocoopapeldessasorganizac¸õesnaconsolidac¸ãodo Estadomínimo, se suaac¸ãosocial serve aseusmilitantes comoestratégiadeacumulodestatuseprestígiosocial,se asONGs constituem espac¸osdemobilizac¸ão possível para as classes e osgrupos afastados do poder, interessou-nos adentrarpelomodocomocolocamemcirculac¸ãoe funcio-namentocertasverdadesque,porsuavez,oferecemvasto campopara práticas e discursos que pretendemlegitimar aexistênciadasorganizac¸õesnasearadoesportee funda-mentarsuaimportânciafrenteàausênciadeac¸õesestatais navidadecrianc¸asejovensdasáreaspobres.

Aanálisenãosepreocupouemprocuraroqueestá ocul-tadosubliminarmentenascoisasditas.Naacepc¸ãodeMichel

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produzidanase pelas relac¸õesentrepoder esabere não deve, portanto, ser confundido como mera expressão de algo,masserentendido---elepróprio---comoessealgo.

[...]odiscurso---comoapsicanálisenosmostrou---nãoé simplesmenteaquiloquemanifesta(ouoculta)odesejo; étambémaquiloqueéobjetododesejo;evisto que ---issoahistórianãocessadenosensinar---odiscursonão ésimplesmenteaquiloquetraduzaslutasouossistemas dedominac¸ão,masaquiloporque,peloque seluta,o poderdoqualnos queremosapoderar(Foucault,1996, p.10).

Daí que para analisar os discursos é necessário recu-sar as explicac¸ões fáceis e recorrentes sobre o tema e evitarabuscapelossentidosocultosnotexto. Metodologica-mente,colocar-sedo‘‘ladodefora’’dodiscurso,fugirdas explicac¸õesunívocas (osuniversais,segundoesseteórico), tentarficarsimplesmentenoníveldaspalavrasescritasou ditaseexploraraomáximoomateriallinguístico,ouseja, osenunciadoseasrelac¸õespostasemfuncionamentopelo discurso.ConformeFischer(2001,p.198)

[...] a primeira tarefa para chegar a isso é tentar desprender-se de um longo e eficaz aprendizado que aindanosfazolharosdiscursosapenascomoumconjunto de signos, como significantes que se referem a deter-minados conteúdos, carregam tal ou qual significado, quase sempre oculto, dissimulado, distorcido, inten-cionalmente deturpado, cheio de ‘‘reais’’ intenc¸ões, conteúdoserepresentac¸ões,escondidosnosepelos tex-tos,nãoimediatamentevisíveis.Écomosenointeriorde cadadiscurso,ounumtempoanterioraele,sepudesse encontrar,intocada,averdade,despertaentãopelo estu-dioso(Grifodasautoras)

Nessa perspectiva, nossa preocupac¸ão foi identificar a formac¸ão discursiva ao qual discurso se filia para encon-trarascondic¸õesquepermitemqueaspráticasdiscursivas aquiestudadasemerjamcomodispositivodepoderesaber sobre crianc¸as e jovens das periferias urbanas do Bra-sil. A formac¸ão discursiva pode ser compreendida como construc¸ão histórica que fornece asregras da enunciac¸ão aovalorizarcaracterísticasenecessidadesexistentescomo superfíciesqueensejamaproduc¸ãodediscursosedefinem, portanto, quem podee quem nãopodefalar, o que pode e o que não pode ser dito,do que se podeou nãofalar, comosepodeecomonãosedevedizer(Foucault,1996).Ou seja,aformac¸ãodiscursivadefine asregrasquepermitem oacontecerdodiscursoemsuasrelac¸õesdesaber-poder.

Contudo,seotextoescritopossibilitaumadensamento da interpretac¸ão e, assim, um entendimento mais ampli-adodasorganizac¸õesemsuasrelac¸õescomoesporteecom ossujeitose territóriosporelasatendidos, asimagens,as coreseossímbolosforammetodologicamentetratados tam-bémcomodispositivos(Chartier,1990)quefuncionamcomo discursosreforc¸adoresdaverdadepronunciadapelasONGs. Os sites das organizac¸ões analisados foram mapeados em sitesdebusca (especialmente, oGoogle)comusodos descritores‘‘educac¸ão física,lazer,esportes, ONGse ter-ceirosetor’’.Osdescritoresforamusadosoracomosquatro itensoraagrupadosemdistintascombinac¸ões.Comogrande partedossitespertenciaaONGslocalizadasnoeixoRio-São Paulo,refinamosasbuscaseacrescentamosaexpressão‘‘na

região...’’(Sul,Sudeste,Centro-Oeste,Norte,Nordeste)ao descritoresjá mencionados. Dos resultadosque pingaram

docomputador, foram selecionadas páginas que apresen-tavam informac¸ões detalhadas sobrea ONGmantenedora doespac¸ovirtual.Nofim,foramescolhidas09organizac¸ões cujossitesafirmavamtrabalharcomesporte.Nãofoi encon-trada ocorrência referente a ONGs que atuassem com os outrosdescritoresdabusca(educac¸ãofísica,lazer).O mate-rialrecolhidofoisalvocomo‘‘Favoritos’’e,dadoocaráter fluidodainternet,copiadosesalvosemarquivotipodoc.

Para a análise pretendida, colocamos de partida um questionamentosobreosmovimentossociais.Pareceu-nos, aprincípio, que havia relac¸ões e entrecruzamentos entre ONGs e movimentos sociais, dado que ambos partilham, pelomenosaparentemente,omesmoprojetodesociedade. Quaisseriamesseselos?Aquestãosemostrourelevante por-que,especialmentenasegundametadedoséculoXX,grande parte dos direitos civis, sociaise políticos dos brasileiros foramconquistadospormovimentossociaisque confronta-ramoautoritarismoqueatravessaaculturapolíticanacional (Viola, 2008). Nos últimos 20 anos, o aparecimento das ONGsnocenáriosociopolíticoeculturalbrasileirovem ten-cionandoo campode atuac¸ão sociocultural e política dos movimentos sociais, daí a necessidade de entender suas imbricac¸ões e seus afastamentos. O segundo movimento interpretativo,emfunc¸ãodoslimitesdesteartigo,recortou paraaanáliseapenasaspáginasdeintroduc¸ãoe doslinks

objetivosemissãopublicadosnossitesdasorganizac¸ões.

Imbricac

¸ões

e

distanciamentos

entre

movimentos

sociais

e

ONGs

Proclama-seatualmentenosmeiospolíticosemidiáticosque oBrasilviveumafasededesenvolvimentoeconômicoede avanc¸ossociaisecelebra-seatémesmoumasupostanova classemédiabrasileira.Mas,conformePoschamn(2012),o queseassiste nãodeveserpensado como emergênciade umanova classemédia,maso crescimentodoempregoe docontingentedebrasileirosocupadosnabasedapirâmide social,oqueconfiguraumreforc¸ona classetrabalhadora. ParaChauí(2013), umanovaclassetrabalhadora, jáque, forjadapelo liberalismo econômicoe político, repudia as lutaseidentidadeclássicasdostrabalhadoresemostra-se, aocontrário,abertaàmentalidadetípica daclassemédia [individualismo, competic¸ão, sucesso a qualquer prec¸o, isolamentoeconsumo]e,portanto,forjatrabalhadores des-politizados, individualistas e interessados em adentrar a sociabilidadecapitalista.

Assim, embora seja inegável o crescimento da capaci-dade de consumo dos trabalhadores, é possível perceber a permanência da desigualdade social e de seus efeitos entreosmaispobrese,emparticular,entreosmaisjovens. Ocrescimentodesordenadodoespac¸ourbano,aocupac¸ão deáreasdemananciaisaquáticosederisco,osubemprego (vigiar carros na rua ou vender balas nos sinais de trân-sito,porexemplo),entreoutros,permanecemcomomarcas dahistórica desigualdadesocial brasileira. Nesse sentido,

Poschamn(2012)destacaafragmentac¸ãodaspolíticas soci-ais, chama a atenc¸ão para o fortalecimento dos planos privados de saúde, educac¸ão, assistência e previdência sociais e questiona se a identificac¸ão do crescimento da

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classe trabalhadora como nova classe media, longe de constituir-se um equívoco conceitual, pode expressar a disputa em torno da concepc¸ão e efetivac¸ão de políticas sociais.

Assim, não obstante se tornem espac¸os de interesse comercial,asáreaspobresdascidadescontinuam abando-nadas à própria sorte: sem redes de saneamento básico, escolasecrechespermanecemrefénsdaviolência.Demodo geral,ajuventudedasperiferiasurbanascontinuaareceber tratamentopreconceituosoediscriminatóriooumeramente exterminatório, haja vista o alarmante índice de assassi-natos de jovens. Julio Jacobo Waiselfisz (2014) manipula informac¸õesedadoscensitáriosedemonstraocrescimento aterradordaviolência contrajovens e negros:em 1980 a taxadejovensde15a29anosvitimadosporarmadefogo erade 12,8, passou para 46,5 em 2003 para situar-se na médiade43,5por100milhabitantesem2010.Avitimizac¸ão dosjovensnegros, obtidapelaanálisedosdadosdoCenso 2010, mostrou que morrem proporcionalmente 133% mais jovensnegrosquebrancos.

Para muitos, esse processo é decorrente da reforma neoliberaldoEstado,comaprivatizac¸ãodopúblicoea pro-gressivareduc¸ãodacentralidade doEstadona construc¸ão emanutenc¸ãodecertasdimensõesessenciaisàexperiência modernadasnac¸ões,emespecialaquelasligadasàprotec¸ão socialdos cidadãos eà garantiadoatendimentode direi-tossociaiscomo saúde,educac¸ão,moradia, trabalhoetc. Nessaseara,conformeNogueira(2011,p.6),‘‘ajuventude tornou-seumproblemasocialecategoria centralem polí-ticaspúblicas’’nasquais,emgrandeparte,‘‘osjovenssão associadosàdelinquência,aocomportamentoderiscoeao usodedrogasenecessitamdeac¸õesfocadasnapreparac¸ão paraumavida adultasocialmente ajustadae produtiva’’. Decorredaíquearesponsabilidadedecriarascondic¸õesde garantiadesseconjuntodedireitoscidadãosérapidamente transferida para a esfera não estatal, mais precisamente paraorganizac¸õescriadaspelainiciativaprivada.

Nocontextodareduc¸ãodoEstado,aspolíticasda juven-tudeencontramrespaldo---esãoefetivadas---pelaparceria comaesferaprivada.Assiméque,nointeriorounos arre-doresdasáreaspobresdascidades,emac¸õesdirigidasaos seusmoradores, nãoé difícilencontrargrupos depessoas agregadasem organizac¸õesreconhecidascomo não gover-namentais (ONGs), asquais se proclamamnão lucrativas, distanciadasdepartidospolíticosesindicatoseautônomas emrelac¸ãoaoEstado(Roldão,2010).Taisorganizac¸ões cons-tituem fenômeno recenteno Brasil. Suaemergência data dos anos 1990 no rastrodas politicas neoliberais. Na pri-meiradécadadestemilênio,ganharamforc¸aexplosivanão somenteporsuapresenc¸anosocial,mastambémporquese tornaramumaexpressãoeconômicaquemovimenta parce-lassignificativasderecursospúblicoseprivados.

Essenovosujeitosocialjásuscitaointeressede pesqui-sadoresdediversoscamposdesaber;entreeles,aeducac¸ão física, que, diante da proliferac¸ão de organizac¸ões que adotam saberes historicamente relacionados a essa área acadêmica (esportes,lutas, danc¸a, lazer, aprendizagem e desenvolvimento motor), comec¸a a interrogar as formas através das quais as ONGs pensam e tratam tais saberes juntoaosgrupos queatendem.Grossomodo,asONGs são pensadas em registros teóricos distintos pelo campo da educac¸ão física. Deumlado, sãoconcebidas como ‘‘uma

ideia-forc¸a,umespac¸omobilizador dereflexão,de recur-sos e, sobretudo, de ac¸ão em busca de uma sociedade maisigualitária’’(SantoseFreire,2006,p. 35).Deoutro, são qualificadas como agentes de um padrão emergente de intervenc¸ão social que privatiza o público e fragiliza a democratizac¸ão do acesso ao esporte como um direito social,ao mesmo tempoem quecompromete avisão uni-versalizante das políticas sociais (Oliveira et al., 2011). Um terceiro registro exime-se de efetivar processos de

demonizac¸ãooude simpleselogio àsONGs [e ao terceiro setor]eoptaporencará-lascomopartícipesdeumateiade interdependêncianaqualseusagentesatuamembuscade prestígioedestatus(Martines,2009).

Deoutrolado,os movimentossociaisforam(eainda o são) umobjetode estudo contemplado pelos pesquisado-resdaeducac¸ãofísica.Especialmente,nosúltimos20anos, umaparceladepesquisadoresdocampodaeducac¸ãofísica, doesporte edolazernãoficouimune aopapel dos movi-mentossociaiseinseriunaagendapolíticaepedagógicade tais movimentos a democratizac¸ão das práticas corporais como um dos elementos construtivos da cidadania. Con-tudo,conformeCapela(2000,p. 142),asrelac¸õesentrea educac¸ãofísicaeosmovimentossociaisseapresentam per-meadaspelaausência demetodologias deac¸ão coerentes comaagendadelutasdosmovimentosetambémpelafalta deumapolíticaculturalquepossaevitarqueosdiálogose interlocuc¸õessejammarcadosportentativasdeimporaos ‘‘movimentossociaisaburocraciadofazeracadêmico cien-tíficoformaldaáreadaeducac¸ãofísicaetransformaresse relacionamento eminvasãoculturaloudialogoautoritário oubancário’’.(Grifosdasautoras).

Vários movimentos sociais brasileiros cumpriram his-toricamente um importante papel da democratizac¸ão da sociedade e são considerados fontes de inovac¸ões e mudanc¸aselócusdelutasporumasociedadequedefendeo públicoenquantoesferadedireito.SegundoRoldão(2010, p.23),

Mesmo que não explicitassem ruptura profunda com o capitalismo, a realizac¸ão concreta dos objetivos des-sesmovimentosameac¸aria(eameac¸a)aespinhadorsal destemododeproduc¸ão,namedidaemqueimplicaria(e implica)asocializac¸ãodebens,deservic¸oseatémesmo, embora mais raros, dos processos de tomada de deci-sões,oqueédiametralmenteopostoaumsistemaque primapelocompromissocomaconcentrac¸ãoderiquezas, com a desigualdade na distribuic¸ão debens e servic¸os ecomaelitizac¸ãodosprocessosdecisórios.

Porém, em que pese o reconhecido potencial trans-formador e emancipatório dos movimentos sociais, os desdobramentos políticos, econômicos e socioculturais oriundos da emergência do neoliberalismo e de crises da modernidadetardiaparecemterprovocadoalterac¸ões sig-nificativas na sua dinâmica organizacional e econômica, bem comona sua ac¸ãosocial. Entre asmaissignificativas alterac¸ões,ressalta-sesuaparcialinserc¸ãonoterceirosetor, oqualtemcomoumdosseusarquétiposasorganizac¸õesnão governamentais(ONGs).ConformeRoldão(2010,p.29),as ONGssãoos‘‘sucedâneosnecessáriosdasobrevivência’’dos movimentos sociaisna medida em que, para manter seus projetos, ‘‘as lideranc¸as [...]acabaram porconstituirum novoenteeformular[...]concepc¸õessobreele,acabaram

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pordesembocarnoqueficouconhecidocomoorganizac¸ões nãogovernamentais’’. Além disso, afragilidade e o cará-ter efêmero de muitos movimentos sociais levaram seus militantes a buscar construir processos de mobilizac¸ão e organizac¸ãomaisduradouros,sem,contudo,perdera iden-tidadediferenciadaemrelac¸ãoaoEstadoeaomercado.As ONGssurgiram,pois,com‘‘amesmamísticados movimen-tossociais’’(Roldão,2010).

Aproclamadaautonomiaeindependênciaemrelac¸ãoao Estadoé umdos aspectosmais acentuadamentecriticado nosestudossobreasONGs,asquaistemfatiasignificativa de sua contabilidade oriunda dos cofres públicos. Assim, de alguma forma, estão contidas na própria máquina de governoonde atuamcomogestorasdeumorc¸amento des-tinado ao social. Embora as ONGs sejam constantemente confundidascomosmovimentossociais,existemdistinc¸ões marcantesentreessesdoisatoressociais,conformeassinala (Pinto,2006,p.656).

[...]asONGsnãosubstituemosmovimentosnemsãouma faseavanc¸adadesses,masserelacionamcomeles. Divi-demcomosmovimentossociaisafragmentac¸ãodeseus temas,demandasecampanhas,masseus funcionamen-tossãomuitodistintos:umaONGsóexisteporintermédio deprojetosqueasustentem,elaéproativa,temmetas acumprir,programaspreestabelecidosefinanciados.Os movimentos sociais são menosestruturados, não pres-tam contas, nem têm um grupo de profissionais para sustentar. As ONGs formalizam-se, possuem diretorias, conselhosecorpodefuncionários;[...]mesmoque mui-tas ONGs tenham se originado de movimentos sociais, essanãoéasuaúnicaorigem,tambémsurgiramde gru-pos de profissionais envolvidos com causas específicas, deex-militantespolíticos,tantoosquetiveramcarreira interrompidapelogolpemilitarcomoosquese desiludi-rame deixaramospartidospolíticosporoutrasrazões. As origensdelimitam muitode pertoarelac¸ãoentre a ONGeacausaquedefende.

A existência e o fortalecimentodas ONGs demonstram que a privatizac¸ão do Estado não ocorre somente com a transformac¸ãodeempresasestataisemempresasprivadas. Acontecetambémdeformamaissutilcomaincorporac¸ão namáquinadegovernodecertasorganizac¸õessociaisque reivindicamaesferapúblicaepassamacompô-la crescen-tementeàsombradoEstado,porém,decertaforma,dele divorciada.Talvezporissopossamserpensadascomo enti-dadesprofundamenteimplicadasnaconsolidac¸ãodoEstado mínimo,pedradetoquedasreformasneoliberaisdosanos 1990 e2000 noBrasil. Nessecontexto, asONGscumprem umafunc¸ãode despolitizac¸ão dos movimentossociais, na medida em que, muitas vezes, a busca de financiamento paraamanutenc¸ãodesuaestruturaorganizacionalsetorna maisrelevantedoqueaprópriademandasocialaser aten-dida(Pinto,2006).

Por outro lado, é inegável a importância das ONGs na divulgac¸ãodequestõesetemasque foramhistoricamente alijadosdodebatepúblicoe daagendapolíticabrasileira, comoéocasodosdireitosdasmulheres,daquestão ambien-taledosdireitosecológicos,entreoutros.ParaPinto(2006, p.657),

as ONGs foram centrais em campanhas públicas, em enfrentamentosdiretoscomoEstadoeatéemac¸õesde desobediência civil na defesa de velhos e novos direi-tos. Decorre dessa postura a incorporac¸ão, na agenda governamental, detemas que haviam ficado atéentão completamenteausentesdadiscussãopúblicaeque,na maioria dasvezes,nãoeramsequerreconhecidoscomo legítimos.

Seja como processo de despolitizac¸ão dos movimentos sociais,sejacomoestratégiamobilizadapelasorganizac¸ões em sua busca de status e poder, seja como espac¸o de divulgac¸ão de temas e questões invizibilizados na histó-ria nacional, a presenc¸a das ONGs acaba por fortalecer a privatizac¸ão do Estado e o espac¸o de correlac¸ão esta-tal/privado. Para a crítica marxista-leninista, as ONGs contribuemparademonizaroEstado,umavezque,ao assu-miraresponsabilidadesocial ecelebraravanc¸osem áreas nasquais o Estado sempre fracassou, veiculam uma ima-gemdecompetênciaecompromissoparaaesferaprivada, aopassoqueopúblico---pensadocomoestatal---étaxado comoinoperante,incompetente,burocratizadoecorrupto. Emrelac¸ãoaoterceirosetoreaosesportespode-se iden-tificaraampliac¸ãodeumaaproximac¸ãonadécadade1990. Interessou-nos,apartirdaí,entenderquequestõesacerca doesporte são colocadas--- para o debatepúblico e para aagendapolíticabrasileira---pelasONGsquelidamcomo esportecomopráticadeinclusãoecidadania.Énesse sen-tidoqueaanálisedasONGscomoacontecimentodiscursivo semostra relevantepara a tarefa de identificar como se operacomaformulac¸ãodeverdadesquepodemsetornar inclusivesensocomumemnossasociedade.

Para tatear a interpretac¸ão é preciso atar no mesmo feixeoesporte,osobjetivoseamissãoanunciadosem tex-toseossujeitoseterritórios quesãoalvosdaac¸ãosocial das ONGs ao espectro político e sociocultural no qual se enraízamaspráticas,asinstituic¸ões,osindivíduoseos ter-ritórios/lugares.Três indagac¸õesserviramcomopontosde ancoragemparaainterpretac¸ãodosdiscursos:quesujeitos recebemasac¸õessociaisdasorganizac¸ões?Quaisos terri-tóriosondemaisrecorrentementefazemseutrabalho?Que objetivospretendemalcanc¸ar?

As

ONGs

no

espac

¸o

virtual:

enunciando

verdades

em

textos,

imagens,

cores

e

símbolos

Ostemaspossíveisde seremacessadosa partir dapágina deintroduc¸ão das ONGsjá deixamverumacaracterística marcante de todas as organizac¸ões que foram objeto de análise:agrande ênfase na própriaac¸ãosocial, operac¸ão quesecundarizasimbolicamenteascrianc¸aseosjovensque sãoossujeitosatendidospelasorganizac¸ões,osquais jus-tificamdiscursivae politicamente suapresenc¸a nosocial.

Alguns autores (Pinto, 2006; Ferreira, 2005) já registra-ram,arespeito,queaformalizac¸ãodasONGseaformac¸ão dediretorias, conselhos, corpo defuncionários e quadros profissionaispodelevarasorganizac¸õesasignificativos pro-cessosdeautorreferêncianosquais a‘‘‘reproduc¸ão como organizac¸ão tenhaquasetantacentralidade comoa causa quedefende’’(Pinto,2006,p.656).

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Aanálisepreliminardaspáginasdeintroduc¸ãoenoslinks

missãoe objetivosrevelou queé recorrente aimbricac¸ão entre esporte, inclusão social e cidadania. Nessa seara, o esporte vincula-se a qualidade de vida e desenvolvi-mentohumano.Talimbricac¸ãoatravessaaspáginasvirtuais das organizac¸ões, está presente em textos e imagens, consolidando-secomocernedodiscursoqueasONGs cons-troem sobre si mesmas no espac¸o virtual e não virtual. Afinal, sãocomo agentes de inclusãosocial e promotoras dacidadaniaqueessasorganizac¸õessurgem,agregam tra-balhadoresvoluntários,inscrevem-senointeriordasáreas pobres,recebemdoac¸õeseadentramoespectrodoEstado embuscadefinanciamento públicoparasuamanutenc¸ão. Comoselênosseguintesenunciados:

Nossoprincipalobjetivoé,pormeiodoesporte,a inclu-sãosocialdacrianc¸aedoadolescente,possibilitandoa essesa oportunidade deintegrac¸ão junto àsociedade, oferecendonoc¸õesdecidadania,disciplina,trabalhoem equipe,lideranc¸a,respeitoaregras,alémdaconsciência dofuncionamentodeseuprópriocorpo(ONGPraFrente Brasil,2012).

Contemplamosoesporteeapráticaregulardeatividades físicascomoinstrumentosdedesenvolvimentohumanoe demelhoria daqualidadedevidadetodaasociedade. Comoconsequêncianatural,almejamosrevelartalentos epermitir atodososnossos alunosacessoàcidadania, tornandopossívelamelhoriadaqualidadedosespac¸osda vidacotidiana,queinfluenciampositivamentena autoes-timadofuturocidadão(ONGQualiVida,2012).

Nas páginas iniciais de todas as ONGs, observa-se a abundânciade fotografias que mostramcrianc¸as e jovens praticando esportes. Mais raramente, aparecem imagens de crianc¸as e jovens debruc¸ados sobre livros e cader-nos ouainda manuseando computadores e maquinaria de pequenoporte,alusãoqueremeteaosprojetoseducacionais (preferencialmente, reforc¸o escolar) e profissionalizantes realizadospelasorganizac¸ões.Tambémsãocomunsimagens emquecrianc¸asejovensladeiamumoumaisadultosque são,via deregra,aqueles que criaram ouincentivarama criac¸ão das organizac¸ões. Nesse caso, chama aatenc¸ão o usodaimagemdeatletasetécnicosesportivosaposentados nacionalmente reconhecidos que criaram e dirigem ONGs quelidamcomoesporte.

Dasnoveorganizac¸õescujossitesforamanalisados, qua-trosãoresultantesdainiciativaetrabalhodessaspessoas, asquaisagregamsuaimagempúblicaaotrabalhovoluntário voltadoparaaresoluc¸ãodosproblemassociaispormeiodo esporte.Apenas umadessasONG ---Esporte e Educac¸ão ---nãoapresentatextualmenteseufundador,aex-jogadorade vôleiAnaMoser,preferindomostrá-lanapáginadeabertura dosite.Asoutrastrês organizac¸ões,alémdasfotografias, informam seu fundador e suas motivac¸ões, preocupac¸ões sociaiseobjetivos.

AONGQualiVidafoifundadaem19dedezembrode2002 pelaprofessoradeeducac¸ãofísica[etécnicadeequipes eatletasnacionais]GeorgetteVidorMelloeseusamigos, queacreditavam na inclusãosocial a partir doesporte (ONGQualiVida,2012).

SomosumaONGinstituídaem1998pelosex-jogadoresde futebol Raí e Leonardo, para dar outra perspectiva devidaacrianc¸asejovensdecomunidadessocialmente vulneráveis(ONGGoldeLetra,2012).

Criadopelomedalhistaolímpico FlávioCantoem 2003, oInstitutoReac¸ãoéumaorganizac¸ãonão governamen-talquepromoveodesenvolvimentohumanoeainclusão social por meiodo esporte e daeducac¸ão [...]. (ONG InstitutoReac¸ão,2012)

Tem-seaíumduploganho:deumlado,crescemo pres-tígioeostatusdessesagentessociaisnocampoesportivo; eles são reconhecidos pelo trabalhoe esforc¸o voluntários quefazemparaamelhoriadasociedade.ConformeMartines (2009),osagentessociaisqueatuamnasONGspautamsuas ac¸õesporinteressesespecíficosdocampoemqueseinserem e,nocasodapromoc¸ãodeprojetosesportivos,desejam con-quistarprestígioestatussocial.Deoutrolado,asimagens conferemlegitimidadeaprópriaONGnamedidaemquea imagemdoatletaoutreinadorfamosoebem-sucedido fun-cionacomoreforc¸adordeseriedadeedepotencialidadeno alcancederesultados.Ousodasimagensfotográficaspode serpensadocomoestratégiamobilizadaparaapresentaros resultadosdaac¸ãosocialfeitapelaONGse,assim, compro-varseupapelsocialnaresoluc¸ãodosproblemassociais.

As fotografias veiculadas pelos sites podem ser enten-didas como discursos que produzem efeitos de verdade

acerca do trabalho feito pelas ONGs e dão a ver que a ac¸ão social promovida por elas produz resultados visíveis junto ao público-alvo. Nelas, aparecem crianc¸as e jovens sempreuniformizadospelovestuárioepelaexpressão sorri-dente.Mostramsujeitosenvolvidoscomapráticaesportiva que recebem premiac¸ões (medalhas e troféus), às vezes estudam, concentrados e atentos. As imagensevidenciam disciplina e boa educac¸ão daqueles que, também nesses sites,sãodescritoscomosocialmentevulneráveis,carentes, ociosos, oriundos de famílias desestruturadas, excluídos, próximosdacriminalidade,entreoutros.

O uso de cores é bastante frequente nesses sites. É possível encontraraía permanênciadatradic¸ão discur-sivaepolíticaqueinvestiunoesportecomosímbolodaforc¸a epujanc¸adasnac¸ões.Emconjuntocomtextoseimagens, ascoresfuncionamaocomporumdiscursoaltamente posi-tivado para as ONGs e ressaltam não somente seu papel social voluntário e suas parcerias com as esferas pública eprivadacomoindíciosdeseusbem-sucedidosresultados, mas inserem asorganizac¸ões na esfera das preocupac¸ões relacionadascomanac¸ão.

Nossosentimentoédemuitaesperanc¸a,oesporteéuma ferramentatransformadoraedeinclusãosocial.Éatravés delequeosjovensirãovisualizarmaisalternativaspara sua vida e teriam mais oportunidades de construirum futuro melhorparasi mesmos,parasuascomunidades, seupaís,e,porquenão,paraoBrasil.(ONGPeloEsporte, 2012)

Demodo geral, aspáginas de abertura dos sites apre-sentam certa recorrência no uso das cores verde, azul e amarelo, em uma clara alusão às simbologias nacio-nais. Dessa forma, é possível vincular o esporte à nac¸ão ao se reforc¸ar seu papel como elemento construtor da

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nacionalidade.Ainda nessesentido, osnomesde algumas ONGs remetem claramente a símbolos e acontecimentos relacionadosaofutebolbrasileiro(ONGGoldeLetra,2012; ONG Pra Frente Brasil, 2012). Em última instância, essas denominac¸ões podem ser associadas à insistência no uso decores-símbolosdaidentidadenacionale, nessecaso, a associac¸ãoparecedizerqueaac¸ãosocialpromovidapelas ONGssevinculaàconstruc¸ãodoBrasilcomonac¸ãomoderna e desenvolvida. Contudo, em nenhum dos discursos em pauta o esporte é significado como patrimônioda cultura brasileiraeuniversal.

Nascores,nasimagens,nossímbolosescolhidose tam-bém nos textos dos sites das organizac¸ões o esporte é o elementoqueagregaecondensaaformulac¸ãoecirculac¸ão dediscursosverdadeirossobreacidadaniaesobreainclusão decrianc¸as e jovenspobres. Mascomo o esporte é enun-ciado, qual o seu valor e papel nessa seara e como são construídasasrelac¸õesentreesporteepobrezasãoquestões queaindareclamamrespostas.

Para

que

serve

o

esporte?

O discurso sobreo esporte formuladopelas ONGs vincula indiscutivelmente tal prática a uma tradic¸ão política e discursivaqueoabordaporumaóticaprioritariamente ins-trumentale funcionalista.Discursivamente,tal vinculac¸ão é operadacomo uso recorrentede palavrase expressões que requerem complemento linguístico. Assim, a palavra

ferramenta --- ‘‘o esporte é uma ferramenta transforma-dora’’ (site ONG Esporte Clube, 2014); ‘‘o esporte pode ser usado como ferramenta’’ (site ONG VemSer, 2012) ---reclamacomplementac¸ãolinguísticaparaqueosseus senti-dossejampercebidoseapreendidos.Ocaráterinstrumental daspráticasesportivaséfartamentemobilizadonostextos que descrevem os objetivos e a missão das organizac¸ões nos quais se usam expressões tais como ‘‘por meio do esporte’’(ONGInstitutoEsporteEducac¸ão,2012),‘‘através doesporte’’(SiteONGVemSer,2012)ou,ainda,‘‘apartirdo esporte’’(siteONGQualiVida,2012),nasquaisseencontra ocaráterdeinacabamento.

Na discursividade formulada e veiculada nos sites das ONGs,portanto,oesportenãofalaporsisó,masreclama outraspalavras(eimagens)paratornar-seinteligível. Mas como,nofim,o esporteé significado comoummeiopara quesealcancemcertosfins,restasaberquaisosfinsequais aspotencialidadesdessaferramentaparaalcanc¸á-los.Não poracaso,aformac¸ãodeatletaseasuainserc¸ãonoesporte competitivoe/ouprofissionalsãoanunciadascomo objeti-vos por, pelomenos, metadedas organizac¸ões que foram estudadas.

[...]paraosatletasmaioresde18anostemosumprojeto socialdiferente,comoobjetivodeformarprofissionais campeões(ONGEsporteClube,2014)

Alémdereceberacompanhamentopsicológicoe acadê-mico, as jovens beneficiadas pelo projeto, que usa o esportecomoferramentaparaumtrabalhodeformac¸ão e conscientizac¸ão da cidadania, participam de treina-mentos regulares, que visam à formac¸ão de atletas e equipes para disputa de torneios e competic¸ões (ONG VemSer,2012)

Aqui foi encontrado também um caráter economicista queveiculaaideiadequeoesporteeoaltonível competi-tivosãoa‘‘políticapúblicamaisbarataeeficientenaluta pelainclusãosocial’’.Popularizadoetendoincluído‘‘todas aspessoas, independentemente de etnia ou gênero, [...] tambémaspessoascomdeficiência,oacessoaoesportee aoaltonívelcompetitivo[...]proporcionarágrandesfrutos paraoesportedealtonívelnofuturo’’(siteONGQualiVida, 2012).

Mais do que formar atletas, as ONGs afirmam ter entre seus objetivos a formac¸ão de ‘‘profissionais cam-peões’’ tanto no esporte quanto na vida (site ONG Pelo Esporte,2012) ouaindaoferecer aos sujeitosatendidosa ‘‘oportunidadedesetornaremumcidadãoe,sepossível,um futurojogadorprofissional’’(siteONGEsporteClube,2014) ouainda‘‘formarvencedorasnojogo davida,atravésdo desenvolvimentodeprojetosesportivos/educacionais(ONG VemSer)’’ouainda[...]‘‘usaroesportecomoinstrumento educacionaledetransformac¸ãosocial,formarfaixaspretas dentroeforadotatame’’(ONGInstitutoReac¸ão,2012).Os elosentreesporteeformac¸ãoparaacidadaniasão confir-madosapartirdeumaformulac¸ãodiscursivahistoricamente presentenointerior deprojetos degovernoedecontrole deindivíduosepopulac¸ões.

Cabequestionaroconceitodecidadaniaalardeado nes-sestextos,jáqueapretensãodeformarparaoesportee paraavidaencerraidealizac¸õesnãoconfinadasaessa prá-ticaparticular--- oesporte---maspretendeconstituí-locomo

escola decaráter com potencialidadesde formarsujeitos civilizados e ordeiros. Para Eiras, Souza e Vlalich (2009, p.14),‘‘aimplantac¸ãodeprojetossocioesportivosnãotem comoumfimemsipromoveroacessoaaquelesquedeoutra formanãoteriam,mas,sim,atravésdoesporte promover valoresecomportamentos’’.Nessecaso,seapostanaescola docaráterquesesupõeseroesporteeseesperaproduziro sujeito‘‘amantedaliberdade,dabeleza,dobem,dosbons gostos e das boas maneiras, capaz demedir e esgotar as suasforc¸asecapacidadesemcompetic¸ões,sembeliscaro respeitopelasnormasepelosadversários’’(Bento,2009,p. 656).

Deoutro lado,filiando-se à tradic¸ãodiscursiva conser-vadoraquerepresentaainfânciaejuventudecomotempo depreparac¸ãoparaodepois,odiscursodasONGssobrea formac¸ãodeatletasecidadãossemostracomoumdiscurso voltadoparao futuro, enãopara opresente vividopelos sujeitos.Comoselê:

Uma associac¸ão sem fins lucrativos com a missão de estimularatransformac¸ãodarealidadedevidae vulne-rabilidadesocialdejovensdeperiferiaatravésdapaixão pelo esporte, daraoportunidade parasetornarem um cidadão e, se possível, um futuro jogador profissional. (ONGEsporteClube,2014)

[...]permitiratodososnossosalunosacessoàcidadania, tornar possívela melhoriadaqualidade dosespac¸osda vida cotidiana,queinfluenciampositivamente na auto-estimadofuturocidadão(ONGQualiVida,2012) Assim, é em um projetado futuro que as crianc¸as e jovenspoderãotornar-se cidadãos.Osdiscursos dasONGs vinculam-seassim à formac¸ão discursiva sobre a infância queédominantenamodernidade,qualseja,aqueenxerga

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acrianc¸acomotabularasa(semrazão,experiênciae matu-ridade) e pretende transformá-la no adulto de amanhã. Nolimiar dosdiscursos,emergeacrianc¸acomoserfrágil, inocenteedependentequerespaldaanegac¸ãodesuas pos-sibilidades de coconstrutor de conhecimentos, identidade e culturae, portanto, oculta e o silencia sobre a capaci-dadedas crianc¸as departicipar e interferirna vidasocial (Sarmento,2004).

Deque sujeitos,afinal, se ocupamasONGs aqui enfo-cadas como representativas desse universo? As crianc¸as e os jovens que são os sujeitos preferenciais da ac¸ão social das ONGs aparecem representados muito menos como sujeitos, e muito mais como objetos à mercê das organizac¸ões. Não por acaso o público preferencial dasONGspesquisadas sãocrianc¸as, adolescentesejovens descritos como ‘‘em situac¸ão de vulnerabilidade social’’, ‘‘carentes’’,‘‘pertencentes acamadas menosfavorecidas dapopulac¸ão’’,‘‘baixarenda’’,entreasmaisrecorrentes’. Aquisemostra,umavezmais,apermanênciadeconcepc¸ões conservadoras sobre os sujeitos, dado que eles são apro-ximadosdiscursivamente daociosidade,dacriminalidade, daindisciplina,dodesrespeito àsregrase daausênciade esforc¸opessoaledotrabalhocoletivo.

OsobjetivosdasONGspautam-seexatamenteporesses sentidoseporessasrepresentac¸õesepropõem-se,através do esporte, a ensinar valores que parecem supor inexis-tentes nos espac¸os sociais nos quais vivem tais sujeitos. Ocidadãodofuturoqueemergedadiscursividadeemtela seria, pois, aquele que encontrou na infância ou adoles-cênciaoportunidadesdeapreenderpormeiodoesporteo autocontroleeadisciplinarequeridaspeloscódigos civiliza-tóriosocidentaisepelomundoprodutivo.

Ofereceremumacomunidademuitopobreumconjunto interligadodeprojetosdedesenvolvimentoparatiraras crianc¸as e osadolescentes da ociosidadee do contato comacriminalidadeeaplicarumametodologiaconjunta doesporteedaeducac¸ão(OMGPeloEsporte,2012). Nascida da crenc¸a de que o esporte pode ser usado como ferramenta para um trabalho de formac¸ão e conscientizac¸ãodacidadaniacomjovenspertencentesa camadasmenosfavorecidasdapopulac¸ão,aVemSertem opropósitodeofereceraessepúblicoapossibilidadede construc¸ãodeumfuturomelhor(ONGVemSer,2012). Comopodeserpercebido,osobjetivosmanifestospelas ONGssãoatadosporoutrascategorias,umavezqueo dis-cursoque vinculadiretamente exclusão social e ausência decidadanianãosemostraunicamentearticuladopor cate-goriasetáriasesociais(crianc¸as eadolescentescarentes).

Avinculac¸ãoétambémexplicitadaporcategoriasespaciais, dadoqueosterritórios-alvosdasorganizac¸õessãodescritos comocomunidadesebairros‘‘muitopobres’’,‘‘de perife-ria’’,‘‘comunidadessocialmentevulneráveis’’,osquaissão representadoscomolugaresondegrassaaociosidadeesuas sucedâneasnaturais,criminalidade,violênciaedegradac¸ão humana.

Estamos localizados em uma região extremamente carente, extremo leste da periferia do município de São Paulo ---a ociosidade é uma constante no dia a dia de muitas pessoas que moram nessa região, tanto

os adultos quanto as crianc¸as. Observamos que nesse bairroencontramosaltíssimoíndicedeviolênciaegrande concentrac¸ão de pessoas desempregadas e consequen-temente por vezes famílias desestruturadas tendo em vista a própria condic¸ão sociofinanceira familiar (ONG PeloEsporte,2012).

OBrasiltemnúmerosaltíssimosdecrianc¸asejovensde baixa renda que vivemem bairros sem estrutura, que estão afastados daescola,convivem numambiente de extremaviolênciaedepoucasounenhumaoportunidade deatividadesqueocupemseutempoeosdesenvolvam cultural,social,físicae intelectualmente(ONGProjeto Esporte,2014).

Nesses lugares em que asfamílias são descritas como desestruturadas e os ambientes como pouco estimulantes e impeditivos para a formac¸ão de cidadãos, os discursos dasorganizac¸õessinalizamqueoafastamentodossujeitos dosseuscontextosdevidaeformac¸ãoseconstituiumdos principaisargumentosmobilizadosna tarefaformativa das ONGs.

Atravésdesuasac¸ões,aONGpretendeproporcionaraos jovensbeneficiadosporseusprojetoseporsuas campa-nhasumambientepositivo,noqualpossamformarseu caráter e se desenvolvercomo cidadãos (ONGVemSer, 2012).

[nosso objetivo é] por meio do esporte, [promover] a inclusãosocialdacrianc¸aedoadolescente, possibilitar aessesaoportunidadedeintegrac¸ãoàsociedade, ofere-cernoc¸õesdecidadania,disciplina,trabalhoemequipe, lideranc¸a,respeitoaregras,alémdaconsciênciado fun-cionamentodeseuprópriocorpo(ONGPraFrenteBrasil, 2012).

Osdiscursoscontribuemparaalegitimac¸ãodaexistência das ONGs nosocial e reforc¸am suaimagem como entida-des profundamente comprometidas com as desigualdades e exclusões e como agentes bem-sucedidos na tarefa de minimizá-las. Aqui é possível identificar indícios de uma mentalidade assistencialista que, historicamente, encon-trou abrigo nas elites nacionais em sua relac¸ão com as populac¸õesdespossuídas e que acaba por distribuir como

favoraquiloqueéumdireitodoscidadãos.Nessadirec¸ão, aassistênciasocialporviadoesportetambémseinserenos objetivosdeONGsquedefinemcomomissãoapromoc¸ãoda ‘‘obradeassistênciasocialdeâmbitonacionale internacio-nal.Atravésdaorganizac¸ãodetorneiosesportivoseeventos culturais em comunidadescarentese instituic¸õessociais’’ (siteONGMovimentoSocialdeEsportes/MSE,2012).

Contudo,eemboratambémmanipulandoocaráter ins-trumental do esporte, foram encontrados discursos que colocamnovaseimportantesquestõesparaodebatepúblico eparaaagendapolíticabrasileira,principalmenteao pen-sar ‘‘um esporte que é para todos, base para políticas públicas quevisam agarantirosdireitosconstitucionais à educac¸ão, ao esporte e ao lazer’’ e articular as possibi-lidadesdo esportecom a formac¸ão do‘‘cidadãocríticoe participativo[...]favorecerodesenvolvimentode comuni-dadesdebaixarenda’’(siteONGInstitutoEsporteEducac¸ão) ouaindaconsiderar‘‘o contextodos atendidos,promover aindaofortalecimentodasfamíliasecomunidades’’e

(9)

espe-rar‘ensinaroesportedeformaqueosalunosseapropriem deconhecimentosnas áreasdesaúde,cultura,cidadania, protagonismo e comunidade’’ (site ONG Fundac¸ão Gol da Letra,2012).

É

preciso

estar

atento

às

verdades

que

se

repetem

.

.

.

Em grande parte, as verdades pronunciadas pela ONGs aquiestudadaspoucoounadacontribuemparaqueodebate públicoeaagendapolíticabrasileirapossamreveroretrato preconceituosoe excludente que historicamente delineou parajovensecrianc¸asdespossuídose buscaraconstruc¸ão depolíticas,práticas e discursosque, defato,enfrentem adesigualdadeeaexclusãoesustentemoexercícioda cida-daniaparatodos.Ao contrário, essesdiscursos colaboram paraaocultac¸ãodaspossibilidadesdeconstruc¸ãodeoutros modosdeviver,agir,pensaresentir.Noquedizrespeitoao esporte,contribueminfimamentenasuaassimilac¸ãocomo direito dos cidadãos, como prática que constrói sentidos paraa existênciae comopatrimônioculturalcriado pelas sociedadeshumanasapartirdocorpoedosgestos(Bento, 2009).

No seu conjunto, os discursos produzidos pelas ONGs sobreesporteesobreossujeitoselugaresquerecebemsua ac¸ãosocialpodemseralinhadosmuitomaiscomas dinâmi-casdegovernoedecontrole deindivíduosepopulac¸õese muitomenosaconstruc¸ãodacidadaniaeainclusãodos indi-víduosegruposemumasociedadededireitos.Comomuito bemnosensinouMichelFoucault (2005),adisciplina indi-vidual eo governodaspopulac¸õesconstituemtecnologias depoderintrínsecasaoliberalismocomodoutrinapolítica. Nessa direc¸ão, o que importa não é tanto o alargamento dos direitosouque todossejam incluídos,mas aac¸ão de controlequepermitequeadiversidadeeamultiplicidade dapopulac¸ãosejamgovernadasecontroladas.Importa,de fato,agestãodosriscoseperigossociaispormeiode dispo-sitivosdeseguranc¸aquevãofuncionaremarticulac¸ãocom umatecnologiadisciplinarecomosmecanismosjurídicos.

Énessecontextoqueosdiscursossobrecrianc¸asejovens das periferias urbanas diagnosticam ‘‘o que eles são’’e, ao reforc¸ar imagens que associam infância, juventude e periferia àociosidade,criminalidade e ausência de mora-lidade,ganhamautoridadesocialparaexercerumaac¸ãode contenc¸ão,vigília edisciplinarizac¸ãodecrianc¸as e jovens que vivemnas periferias urbanas. É aí que a repetic¸ão e fixac¸ão de verdades já ditas (emanadas de tradic¸ões dis-cursivasepolíticasconservadoras)secolocamcomolimite objetivo para a transformac¸ão dos indivíduos e da socie-dade.

Adiscursividadeveiculada pelasONGs emseussitesna rede virtual vem reafirmar, pela repetic¸ão, enunciados e imagensquehámuitomediamnossasrelac¸õescomcrianc¸as ejovensdespossuídosecomoslugaresondevivem.Defato, hámuitoessasverdadesestãopresentesemnossas menta-lidadese cotidianos,subsidiandopráticasepolíticas.Mas, emborajádesgastadaspelotempoepelouso,sãonovasas teiasnasquaisseengendraodiscurso,novoéoagentequeo formula,novossãoossistemasqueocolocamemcirculac¸ão. Produzem,portanto,novosefeitosdepoder,aosquais deve-mosestaratentos.Pensadosnarelac¸ãocomoutraspráticas

discursivasenãodiscursivasdeumasociedadeglobalizada emsuasdinâmicasdeinterdic¸ãoerejeic¸ãodosdiscursos,é precisoqueinterroguemosconstantementepelasverdades

silenciadasporessesdiscursossobreoesporte (eas práti-cascorporais, de modogeral), sobrea juventude esobre asperiferias.Aconsolidac¸ão dasONGsem nossocontexto exige, pois, que exercitemos um questionamento perma-nentesobreasformaspelasquaisasociedadebrasileiratem avalizadoaenunciac¸ãodeverdadessobresimesmaeuma interrogac¸ão insistenteacerca dos efeitos de poder-saber produzidospelosdiscursosdasorganizac¸ões.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

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