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Contribuição ao debate acerca da centralidade do trabalho no universo produtivo

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Academic year: 2021

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Josiane Silva Brito

da centralidade do trabalho no

universo produtivo

Mestranda em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC (UFABC)

(josiane_sb18@yahoo.com.br)

Resumo

Alguns autores contemporâneos questionam a centralidade do trabalho no processo de produção da base material da sociedade. Suas críticas se baseiam, principalmente, na percepção de que mudanças ocorridas no mundo do trabalho, como a diminuição dos postos de trabalho formais e o aumento do trabalho em suas formas precárias, decorrentes da adoção de políticas de caráter neoliberalizante e do avanço da reestruturação produtiva, representariam o fim da ideia que coloca o trabalho como central no universo produtivo. Neste trabalho, buscamos evidenciar que as transformações ocorridas no universo produtivo não representam o fim da centralidade do trabalho e que as novas formas de exploração aparecem nas trajetórias de vida de um grupo de e trabalhadores terceirizados da Universidade Federal de Alfenas, campus Varginha.

Palavras-chave

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Introdução

Na segunda metade do século XX, o sistema produtor de mercadorias passou por uma crise estrutural, diante da qual se reconfigurou (HARVEY, 2011), substituindo o padrão de produção fordista-taylorista, que até então atendeu bem às demandas de acumulação e exploração do capital, pelo modo de acumulação flexível.

Esse novo padrão de acumulação, cujos principais mecanismos de funcionamento se dão através da reestruturação produtiva, sua base material, e do neoliberalismo, sua base ideológica (ANTUNES, 2000), implicou em profundas transformações no mundo do trabalho visto que sua implementação resultou em fechamento de fábricas, renovação tecnológica, terceirização, reorganização dos processos produtivos e enxugamento de quadros (COSTA, 2005), elevando o desemprego e o uso de formas de trabalho precarizadas. Costa (2005, p. 16) chama a atenção para o fato de que mesmo que as relações trabalhistas no Brasil vertiam-se, desde muito cedo, “num sistema altamente flexível e amplamente propenso a fomentar relações precárias e hostis”, este cenário resultou em mais de 1 milhão de empregos destruídos na indústria de transformação só na primeira metade da década de 1990, elevando a faixa de trabalhadores que se deslocaram para o setor de serviços e para a informalidade.

Dado que as transformações que ocorreram no mundo produtivo servem de base para teses que negam a centralidade do trabalho no processo de criação de mercadorias, vislumbrando a ciência como a principal força produtiva, buscamos, com este trabalho, compreender a atual conjuntura, principalmente no que se refere ao debate acerca da centralidade do trabalho,

argumentando que as mutações que ocorreram no universo laboral não implicam que o trabalho esteja sendo abolido “massivamente”, como afirma Gorz (ORGANISTA, 2006), mas sim que, ao se materializar em novas formas de exploração, “essas mutações sustentam a mesma lógica de valorização do capital”, sendo “funcionais ao núcleo central do capitalismo produtivo” (ORGANISTA, 2006, pp. 65-66). Nossa base empírica é constituída por um estudo de caso que busca entender os efeitos da precarização do trabalho nos trabalhadores em situação de terceirização da Universidade Federal de Alfenas, campus Varginha.

Conjuntura histórica do debate acerca da

centralidade do trabalho

Trabalho é o processo que, por meio da transformação da natureza, cria utilidades, produzindo a base material da sociedade. A partir deste conceito, pode-se afirmar que ele é “a condição ou atividade correspondente ao processo biológico humano, isto é, ao processo mais fundamental e imediato diretamente relacionado à reprodução da vida” (FORTES apud LIMA, 2003, p. 2).

O trabalho, segundo Sérgio Lessa e Ivo Tonet (2008, p. 17), torna o homem “um autêntico ser social, com leis de desenvolvimento histórico completamente distintas das leis que regem os processos naturais”. Deste modo, enquanto o trabalho das formigas, abelhas ou joões-de-barro é determinado geneticamente, não representando a base para seu desenvolvimento, o trabalho humano se caracteriza por um processo onde, ao ser constatada uma necessidade, é pensada uma forma de satisfazê-la, a prévia-ideação do que logo mais será objetivado

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no valor-de-uso1 que saciará a necessidade. Essa capacidade de mentalizar uma coisa que ainda não existe materialmente é denominada teleologia, e é uma capacidade exclusivamente humana. Através do trabalho, da transformação da natureza, da objetivação de uma prévia ideação a fim de se obter valores-de-uso, o homem constrói a sim mesmo na medida em que adquire novas habilidades e conhecimentos. Esse conhecimento, de acordo com Lessa e Tonet (2008, p. 27), “se eleva a um conhecimento acerca da realidade geral”, podendo ser aplicado em situações não pensadas pelo homem que o originou, se disseminando por toda a sociedade. Assim, ainda segundo os autores, todo processo histórico de construção do indivíduo e da sociedade tem seu fundamento no trabalho.

Entretanto, mudanças no mundo produtivo deram origem a muitos questionamentos acerca do papel do trabalho na produção da base material da sociedade. São mudanças referentes à substituição do padrão de produção fordista-taylorista frente à crise do capital, pelo padrão de acumulação flexível, que disseminou a ideologia neoliberal e que tinha na reestruturação produtiva sua base material (ANTUNES, 1999). É importante ressaltar que As metamorfoses do trabalho industrial e a fragmentação de classe são resultados de processos sócio-históricos estruturais, de longa duração, de acumulação capitalista. É algo que percorre o século XIX e XX. O que o complexo de reestruturação produtiva sob a mundialização do capital faz é incorporar – e impulsionar com maior aceleração histórica – as perversidades da lei geral da acumulação capitalista, na direção do enfraquecimento do mundo do trabalho. (ALVES, 1999, pp. 66-67)

1 “a utilidade de uma coisa faz dela um valor-de-uso. Mas essa utilidade não é algo aéreo. Determinada pelas propriedades materialmente iner-entes à mercadoria, só existe através dela. A própria mercadoria [...] é, por isso, um valor-de-uso, um bem. [...] O valor-de-uso só se realiza com a utilização ou o consumo” (MARX, 2008, p. 58).

Neste sentido, este novo padrão de produção e acumulação exige uma estrutura produtiva mais flexível, diminuindo a participação do trabalho formal na produção e aumentando as formas de trabalho precárias, como os trabalhos parciais, temporários e terceirizados, desenvolvendo, segundo Alves (1999, p. 69), no seio da classe operária industrial, “um operariado periférico, um subproletariado tardio, de estatuto salarial precário”.

Entre as tendências que caracterizam o processo vivenciado pela classe trabalhadora, principalmente a partir da década de 1980, Alves e Antunes (2004), destacam a diminuição do proletariado industrial e de serviços característico da fábrica fordista, e aumento das formas desregulamentadas de trabalho; aumento do trabalho feminino, absorvido, principalmente, no universo do trabalho precarizado; aumento dos assalariados no setor de serviços; exclusão dos jovens que tentam ingressar no mercado de trabalho e dos trabalhadores tidos como idosos pelo capital; expansão do trabalho no “Terceiro Setor”; e expansão do trabalho em domicílio em face à desconcentração produtiva e à expansão das pequenas e médias unidades produtivas. Salientam, também, que sob o toyotismo, materialização do novo padrão de acumulação, intensifica-se, também, a exploração dos trabalhadores que não estão desempregados ou precarizados, dado que esta organização da produção requer um trabalhador polivalente, multifuncional e mais qualificado.

Assim, numa realidade onde se vê o aumento do desemprego, do trabalho precarizado, da degradação metabólica da relação entre o homem e a natureza (ANTUNES, 2008), além da ampliação do trabalho morto na produção e diminuição do

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trabalho vivo (LIMA, 2003), surge um campo fértil para o despontamento de novas formas de representação que procuram negar o protagonismo do trabalho no processo de acumulação capitalista.

Teses e antíteses da não-centralidade do

trabalho

As teses que negam a centralidade do trabalho se dividem em duas variantes críticas (ANTUNES, 1999). A primeira variante sugere uma crise do trabalho abstrato2, criador de valores-de-troca3, entendida como um processo desencadeado pela reestruturação produtiva e as políticas neoliberais, que implicaram numa redução do trabalho vivo e o aumento do trabalho morto, já que, segundo Kurz (1999), a produção de riqueza desvincula-se cada vez mais, com a revolução microeletrônica, instauradora do reinado do trabalho morto, ou seja, trabalho materializado em equipamentos e máquinas, do uso do trabalho humano, isto é, força de trabalho, trabalho vivo.

A crise do trabalho abstrato pode ser entendida de duas maneiras: aquela que acredita que o trabalho não exerce papel estruturante na criação de valore-de-troca, sendo este papel ocupado agora pela ciência; ou aquela que, conforme Antunes (2008), critica a sociedade do trabalho abstrato porque este assume a forma de trabalho estranhado,

2 “Qualquer ato de trabalho pode ser considerado separadamente de suas características específicas, simplesmente como dispêndio de FOR-ÇA DE TRABALHO humana. [...] O dispêndio de trabalho humano considerado sob esse aspecto cria valor e é chamado de ‘trabalho ab-strato’” (MARX, 2008, p. 383).

3 Valor-de-troca é definido, em Dicionário do Pensamento Marxista (MARX em BOTTOMORE, 1983, p. 401, grifo do autor), como “a proporção quantitativa pela qual valore-de-uso de um tipo se trocam por valore-de-uso de outro tipo. O objeto de estudo adequado da eco-nomia política são as leis que governam a produção e o movimento do valor-de-troca ou, de maneira mais rigorosa, as leis que governam o VALOR, a propriedade inerente das mercadorias que surge como valor-de-troca”.

fetichizado da atividade humana autônoma. Com o desenvolvimento do sistema de produção regido pelo capital e a consequente mercantilização de todas as esferas da vida, o trabalho deixou de ser espaço de humanização do homem, de efetivação e refinamento de suas faculdades, passando a ser, ele mesmo, mercadoria a ser vendida por aqueles que nada têm, e comprada pelos detentores dos meios de produção. Desta forma, é negligenciada a sua dimensão concreta, onde o homem, produzindo valores-de-uso através da transformação da natureza, cria e transforma a si mesmo, e passa a vigorar sua dimensão abstrata, produtora de valores-de-troca, abrindo espaço para os espaços de alienação, quando o trabalhador não se reconhece mais no produto de seu trabalho, e de reificação que, como explica Eduardo Galeano (1981), se dá quando há uma personificação da mercadoria e uma coisificação do ser humano.

A outra variante crítica da centralidade do trabalho, nega o seu papel como trabalho concreto na estruturação de um mundo emancipado e, ao mesmo tempo, de uma vida cheia de sentido (ANTUNES, 2008), afirmando que outras categorias como a intersubjetividade ou o lazer (vida fora do trabalho), teriam esse papel estruturante. Habermas é o teórico de maior destaque nesta variante, minimizando o papel do trabalho na construção da sociabilidade do ser social, substituindo-o pela esfera da intersubjetividade como momento privilegiado do agir societal (ANTUNES, 1999).

Em sua análise, Habermas realiza um desacoplamento entre sistema e mundo da vida, o primeiro englobando “as esferas econômicas e políticas voltadas para a reprodução societal”, e o último, “o locus do espaço intersubjetivo, da organização dos seres em função de sua identidade

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e dos valores que nascem da esfera da comunicação” (ANTUNES, p. 149). Segundo Habermas, citado por Antunes (1999, p. 148), o mundo da vida é onde ocorre “o reconhecimento do princípio da alteridade, da validade dos seres sociais, por meio da interação subjetiva, da intersubjetividade“, que toma, então, caráter de centralidade na ação humana.

Para os fins deste trabalho, serão esboçados os principais argumentos de André Gorz, Claus Offe e Robert Kurz, que enxergam nas transformações recentes no mundo do trabalho o esgotamento de uma ideologia que coloca o trabalho como central na organização do universo produtivo. Para tanto, nos valeremos da obra de Organista (2006).

André Gorz fala do surgimento de uma “não-classe-de-não-trabalhadores” substituindo, contínua e crescentemente, a “antiga classe operária”, fruto das soluções encontradas para a crise nos países capitalistas e do desmantelamento do Estado de bem-estar. Essa “não-classe” é composta pelos trabalhadores que foram expulsos do mercado de trabalho formal, estando desempregados ou precarizados e tem, segundo Gorz, o emprego como atividade “provisória, acidental ou contingente”. Desta forma,

A não-classe-de-não-trabalhadores não pode ser definida a partir de sua inserção no processo social de produção, posto que o trabalho, para Gorz, não é mais a atividade principal, haja visto que a revolução microeletrônica inaugura uma nova ordem, cujas consequências mais visíveis são a diminuição da quantidade de trabalho social disponível e o aumento de desemprego de natureza tecnológica. (ORGANISTA, 2006, p. 34)

Gorz sustenta, ainda, que as transformações ocorridas no universo laboral tornaram o mercado de trabalho dual: com um centro privilegiado de

trabalhadores em tempo integral, com tendências a diminuir; e uma “periferia constituída, cada vez mais, por trabalhadores parciais, domésticos e até mesmo desempregados” (ORGANISTA, 2006, p. 36), tendendo a aumentar. Logo, para Gorz, o trabalho perde seu potencial de integração social, dado o aumento do desemprego estrutural, se torando um problema social.

Segundo Organista, Gorz fundamenta sua obra a partir de uma confusão entre trabalho e emprego, forma historicamente datada do trabalho. Vendo a diminuição dos postos de trabalho assalariado formais, diagnostica o fim do trabalho como um todo. Neste sentido, afirma que

a não-classe, caracterizada como trabalhadores em tempo parcial e temporário, ao contrário do que afirma Gorz, não está desvinculada do processo produtivo. Não podemos esquecer os diversos expedientes surgidos com a marca e a grife da flexibilização que proporcionaram ao capital diminuir o núcleo central dos empregos vinculados à produção, sem, no entanto, descartar a absorção diferenciada no processo produtivo da “velhas” novas formas de trabalho. (ORGANISTA, 2006, p.35) Já para Offe, o incremento da atividade industrial no século XIX explicaria porque Marx, Weber e Durkheim consideram o trabalho e os trabalhadores categorias centrais para se entender a sociedade. Assim, vendo as mutações no universo laboral ocorridas a partir do último quartel do século XX, diagnostica a “crise da sociedade do trabalho e, no limite, [...] a perda da centralidade do trabalho assalariado como fator de integração social e para a diminuição política dos trabalhadores” (ORGANISTA,2006, p. 62).

O crescimento do setor de serviços, o declínio da participação dos trabalhadores do setor industrial, o desemprego, a expansão do emprego parcial, a crise do Estado de bem-estar e a fragmentação da sociedade salarial

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sugerem, para Offe, o declínio da ética do trabalho, haja visto que o trabalho ocupa cada vez menos espaço como continuidade biográfica, tornando-se, na maioria dos casos, uma excepcionalidade. (ORGANISTA, 2006, pp. 63-64)

E essa descontinuidade do trabalho na vida do indivíduo, possibilita a ele colocar sua auto-realização para fora da esfera do trabalho. Sobre o assunto, Organista pontua que, ao contrário, as transformações ocorridas no universo do trabalho não permitem deduzir uma crise da sociedade do trabalho ou o surgimento de uma sociedade do tempo livre. Permitem apenas tornar claro que as relações sociais e as representações acerca do trabalho encontram-se em mutação.

Robert Kurz se diferencia dos atores já apresentados pelo fato de fazer a distinção entre trabalho concreto e trabalho abstrato e por partir de uma análise da derrocada do socialismo real para fundamentar seus argumentos. Para ele, o fim do socialismo mostra os limites do sistema produtor de mercadorias, que condena, no atual contexto, o homem não mais à exploração do trabalho, “mas ao desemprego estrutural, ao subemprego e à fome” (ORGANISTA, 2006, p. 85). Segundo Kurz, citado por Organista (2006), o socialismo do leste europeu manteve todas as “características fundamentais do capitalismo: salário, preço e lucro”, além de levar ao extremo o princípio básico do trabalho abstrato. Partindo disto, Kurz conclui que “a crise do sistema produtor de mercadorias tem de ser buscada para além da sociedade industrial, do mercado e do Estado, ou seja, na dissolução da sociedade do trabalho” (idem, p. 86), sugerindo que a superação do caos se daria através de uma maior atuação do Terceiro Setor.

Kurz, partindo das transformações ocorridas no mundo produtivo, enfatiza que o

capital está perdendo sua capacidade de exploração e que esta não-exploração se tornou o principal problema do trabalhador, sem atentar para o fato de que, como salienta Organista (p. 91

Longe de dispensar a exploração dos trabalhadores, o capital expande seus tentáculos e continua explorando o trabalho produtivo, agora de forma diferenciada, externalizando sua produção ou terceirizando a mesma, construindo pari passu as transformações do processo de produção, novas expressões valorativas que possam sustentar o sobretrabalho sob a aparência de uma maior liberdade e autonomia, fundada sobre os pilares do contraproprismo (sic), do auto-emprego, do cooperativismo etc.

Sobre a distinção feita por ele entre trabalho concreto, criador de coisas socialmente úteis, e trabalho abstrato, criador de valores-de-troca, Antunes (1999) aponta que Kurz não é suficientemente claro, discorrendo sobre uma crise do trabalho abstrato sem enfatizar a necessidade do resgate do trabalho em sua forma concreta.

Principais erros analíticos dos teóricos

do fim do trabalho e a afirmação de sua

centralidade

De acordo com Lima (2003), os principais erros analíticos das teorias que preconizam o fim do trabalho são a frequente confusão entre trabalho concreto e trabalho abstrato e, mesmo entre aqueles que não fazem essa confusão, é comum que comecem seus argumentos referindo-se a uma crise do trabalho abstrato e terminem propondo o fim do trabalho em geral; e a confusão entre os sentidos histórico e trans-histórico do trabalho, ou seja, o trabalho enquanto categoria eterna e insuperável

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e o trabalho nas formas que assume em cada momento histórico. Neste sentido, se pode dizer que

Uma coisa é conceber, com a eliminação do capitalismo, também o fim do trabalho abstrato, do trabalho estranhado; outra coisa, muito distinta, é conceber a eliminação, no universo da sociabilidade humana, do trabalho concreto, que cria coisas socialmente úteis e, ao fazê-lo, (auto) transforma seu próprio criador. (ANTUNES, 1999, p. 215) Os teóricos que afirmam a validade da tese sobre a centralidade do trabalho o fazem extraindo das próprias transformações em curso no universo laboral os elementos que a confirmam. Segundo Tosel (apud ANTUNES, 1999, p. 219),

como o capital tem um forte sentido de exclusão, é a própria centralidade do trabalho abstrato que produz a não centralidade do trabalho na massa dos excluídos do trabalho vivo que, uma vez (des)socializados e (des) individualizados pela expulsão do trabalho, procuram desesperadamente encontrar formas de individuação e de socialização nas esferas isoladas do não-trabalho.

Segundo Lukács (ANTUNES, 2001), o trabalho representa o ponto de partida do processo de humanização do homem, o complexo que possibilitou o “salto ontológico” das formas pré-humanas para o ser social, intermediando a relação entre a natureza e a humanidade, observando o homem como um ser que não pode viver sem se relacionar com a natureza. Desta forma, o trabalho nunca pode ser extinto. Suas formas podem mudar, todavia, em todas as formas de sociabilidade, seja a mais “rústica” ou a mais “refinada”, existe trabalho (ANTUNES, 2008).

Caminhos metodológicos

Em face ao aumento contínuo do uso das novas formas de exploração decorrentes do processo de reestruturação produtiva, observamos, por meio de um estudo de caso, quais os efeitos de uma dessas novas velhas formas de exploração, a terceirização, na vida do trabalhador em situação de terceirização na Universidade Federal de Alfenas. Para que este fim fosse atendido, 10 trabalhadores da referida instituição foram entrevistados no primeiro semestre de 2013.

Como técnica de pesquisa, utilizamos a entrevista semi-estruturada, com algumas questões previamente estabelecidas sobre a história de vida dos depoentes, suas trajetórias profissionais e sobre as condições de trabalho na Unifal. Buscamos, também, estimular seu discurso livre a fim de apreendermos o que “pensam, sabem, representam, fazem e argumentam” (SEVERINO, 2007, p.124) por meio de um diálogo mais descontraído, próximo do método do discurso livre. O objetivo do trabalho é identificar aspectos da precarização nas narrativas dos sujeitos entrevistados e entender se terceirização implica em menos direitos ou na violação dos direitos desses trabalhadores; logo, a abordagem qualitativa é a mais pertinente para o desenvolvimento deste trabalho.

Tomamos como hipótese que os trabalhadores não veem a terceirização como um grande problema, dado que o trabalho, ainda que terceirizado, possibilita o atendimento de necessidades básicas, permite a construção de identidades, bem como uma dimensão da sociabilidade dos indivíduos.

Consideramos que dez entrevistas eram suficientes dado os objetivos da pesquisa. Os trabalhadores entrevistados foram escolhidos devido à proximidade com a pesquisadora, por indicação de outros

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trabalhadores ou aleatoriamente. Foram entrevistados nas imediações da Unifal durante o expediente de trabalho. Porém, relatos retirados de conversas tidas fora das entrevistas também foram considerados.

Apresentação dos dados obtidos através

das entrevistas

O primeiro entrevistado, seu Antônio4, era funcionário da prestadora de serviços PH Service há quase um ano no momento da entrevista. Tinha 58, era casado e tinha um filho que também trabalhava.

Ele começou a trabalhar aos 17 anos como eletricista, ofício que aprendeu com um amigo. Trabalhou por 25 anos numa multinacional que se instalara em Varginha. Ele falou com muito orgulho e saudade de seu trabalho nesta empresa, visto que, além de receber um bom salário, que lhe permitia manter sua “geladeira sempre cheia”, e ter “o melhor” plano de saúde, era muito reconhecido por seu trabalho, sendo que até pessoas “estudadas” vinham lhe pedir ajuda no serviço.

Em 2003, esta empresa terceirizou seus funcionários, exigindo que a empresa terceirizada mantivesse os níveis salarias e o plano de saúde. Em 2008, a multinacional, que já vinha transferindo sua produção para o sul do país há algum tempo, fechou suas portas em Varginha, deixando 80 trabalhadores – que já foram mais de 500 antes da descentralização produtiva – inclusive Antônio, desamparados. Ele julga que a culpa de a empresa ter se mudado para o sul é do Governo de Minas Gerais, por não ter dado incentivos à empresa para que ficasse.

Antônio ficou desempregado, ou “autônomo”, já que usa as duas expressões para designar a mesma

4 Os nomes utilizados aqui são fictícios para a proteção da identidade dos trabalhadores que colaboraram com esta pesquisa.

situação, até 2012, quando entrou na Unifal. Segundo ele, esse foi um período em que seu “ritmo de vida caiu”. Passava meses sem “aparecer uma lâmpada para trocar”. Justifica isso, em parte, por ter ficado muito tempo “fora do mercado”, dentro da multinacional, o que ocasionou a perda de sua clientela.

Conta que, quando entrou na Unifal, ficou tão feliz que não conseguiu prestar atenção ao que o encarregado da PH Service lhe dizia! Alega que tem todos os direitos garantidos. Porém, numa conversa posterior à entrevista, contou que recebeu seu salário faltando uma parte sem que a empresa lhe informasse o porquê. Antônio afirmou que se esqueceu tal fato na entrevista.

Disse que gosta muito de trabalhar na Unifal, pois é um serviço leve e ninguém e ninguém (se referindo aos alunos) lhe aborrece. Se orgulha em dizer que, mesmo só precisando chegar à Unifal às 7 horas, sempre chega meia hora mais cedo para vistoriar a iluminação das salas antes das aulas começarem.

Antônio já está quase aposentando, porém disse que pretende parar de trabalhar nunca. Afirmando que, se parasse de trabalhar, adoeceria ou morreria!

Na entrevista, percebe-se que o trabalho tem importância e sua vida. Mas não qualquer trabalho: o trabalho que lhe proporciona dignidade, estabilidade e um “geladeira cheia”, é o trabalho com “carteira assinada”.

A segunda entrevistada, Beatriz, era funcionária da Unifal há um ano e meio no momento da entrevista. Tinha 28 anos, era casada, e tinha um filho de 4 anos. Seu marido também trabalha.

Começou a trabalhar aos 16 anos como babá, único emprego que teve sem carteira assinada em sua vida. Trabalhou na “área azul”, estacionamento de rua em Varginha, foi vendedora e atendente.

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Beatriz trabalhava na Unifal das 8 da manhã às 21:40, com duas horas de almoço, de segunda a sexta-feira. Ela disse que a carga horária é extensa, mas que é compensada pelo salário. Antes trabalhava das 8 horas até às 15 horas, e tinha que voltar à Unifal às 18 horas para ficar até as 21:40. Assim, à tarde não havia serviço, o que gerava muitas reclamações por parte dos alunos. A empresa, para não contratar outro funcionário, aumentou seu salário para que trabalhasse os três períodos.

Beatriz também se sente compensada por não trabalhar aos sábados e domingos, já que anteriormente, em outros empregos, teve que trabalham nesses dias. O que, segundo ela, foi muito desgastante.

Ela disse que gosta muito do trabalho, apesar de reclamar do maquinário e de alguns alunos por serem mal-educados e não reconhecerem seu trabalho (falou em conversa fora da entrevista).

Alega ter os direitos trabalhistas garantidos, apesar de trabalhar mais de 11 horas por dia.

Outro entrevistado, Cláudio, vigilante da universidade pela Alpha Vigilantes, do grupo PH Service. Tinha 27 anos, solteiro e morava com os pais e um irmão. Estava terminando o curso de logística.

Cláudio narrou que começou sua vida profissional como estagiário em mecânica de manutenção numa empresa de Varginha. Ao completar 18 anos, essa empresa assinou sua carteira. Lá ele trabalhou por 6 anos. Quando saiu, decidiu fazer o curso de vigilância. Ficou um período, até entrar na Unifal, trabalhando com seu irmão na peixaria de sua família.

Cláudio disse que gosta muito de seu trabalho atual, já que não há cobranças sobre o que deve fazer, nem tem, como num outro emprego em empresa privada, que comprovar que fez a ronda.

Cláudio tem, como os outros vigilantes

da Unifal, horas-extras pagas e plano de saúde, sendo a única categoria profissional, segundo ele, a ter esses benefícios na Unifal. Isso será abordado mais a frente, em outra entrevista.

Djanira tinha 30 anos, era casada e tinha uma filha de 3 anos. Era auxiliar administrativa, pela PH Service, na Unifal desde o final de 2011.

Quando questionada sobre o momento em que começou a trabalhar, respondeu que foi aos 19 anos, como técnica em enfermagem. Todavia, ao longo da entrevista, alegou que desde os 16 anos trabalhava como doméstica, mas sem carteira assinada. Também já trabalhou como vendedora e atendente, sempre com a carteira de trabalho assinada.

O quinto trabalhador entrevistado, Elvis, era vigilante na universidade pela Alpha Vigilantes, desde 2011. Tinha 39 anos, era casado e não tinha filhos. Sua esposa também trabalhava.

Elvis começo sua vida profissional aos 17 anos, como borracheiro. Trabalhou em várias áreas, até que decidiu fazer o curso de vigilantes para ter uma “especialização”. Trabalhava na área há 16 anos.

Ele já trabalhou para outras empresas terceirizadas e julga que trabalhar numa empresa que presta serviços para uma entidade pública é vantajoso, já que, segundo ele, num processo licitatório, para que uma empresa possa se candidatar, deve informar qual Convenção Coletiva do Trabalho vai seguir, definindo, assim, qual será o tratamento para com seus funcionários. Já no caso das prestadoras de serviço para entidades privadas, há necessidade apenas de atender ao critério do “menor preço”. Assim, a garantia do cumprimento dos deveres para com os trabalhadores fica dependendo da fiscalização do Ministério do Trabalho, que pode ser lenta e falha.

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tem do que reclamar e que gosta muito. Como dito anteriormente, os trabalhadores da Alpha são os únicos que recebem pelas horas-extras trabalhadas e que têm plano de saúde. Elvis, que demonstrou ter muito conhecimento sobre os direitos trabalhistas e a importância dos sindicatos, explica, durante a entrevista, que isso se deve à força dos Sindicatos dos Vigilantes de Minas Gerais ao negociar com as empresas.

Elvis considera muito importante, para o trabalhador, ter conhecimento da CLT, principalmente para o momento de exigir direitos.

O sexto trabalhador entrevistado, Fernando, era porteiro da Unifal havia 4 anos. Era casado e tinha 3 filhas que também trabalhavam.

Começou a trabalhar aos 12 anos, com seu pais e irmãos em uma olaria. Trabalhou, também, nas roças de café. Aos 19 anos, como operário em uma fábrica de Varginha, teve seu primeiro emprego com carteira assinada. Lá trabalhou por 17 anos. Esteve desempregado por 2 vezes e, para “se virar”, fazia “bicos”.

Fernando, ao longo dos 4 anos que esteve na Unifal, já passou por três empresas terceirizadas. No momento da entrevista estava na PH Service, a quarta empresa, há sete meses. As outras empresas, com exceção da primeira para a qual trabalhou, “não aguentaram”, como disse. Ganharam a licitação oferendo o menor preço e não cumpriram com suas obrigações, atrasando salários e vales-alimentação – ele e alguns outros trabalhadores já ficaram sem seus salários por dois meses. Segundo Fernando, só não atrasaram o vale-transporte para que pudessem ir trabalhar!

Para receber o acerto, Fernando teve que fazer um acordo com uma das empresas. Outros trabalhadores ainda estão com processos na Justiça do Trabalho para que valer seus direitos. Ele comentou

que o sindicato de sua categoria, por ter sede fora do município de Varginha, fez falta na hora em que precisaram exigir das empresas seus direitos.

Fernando, desde que entrou na Unifal, só tirou férias uma vez, já que só uma das empresas para as quais trabalhou permaneceu por meias de um ano prestando serviços.

Ele alega que prefere não trabalhar como terceirizado, dizendo que nessa situação, não há a figura do patrão com quem reclamar. O encarregado da PH vai muito pouco à Unifal e, quando vai, não conversa com os trabalhadores, com foi colocado por Cláudio. Fernando também acha que, quando não se trabalha como terceirizado, os pagamentos são sempre em dia. Apesar das dificuldades com as empresas, se orgulha em dizer que, nos 4 anos na Unifal, nunca faltou um dia ao trabalho.

Gabriela trabalha nos serviços gerais da Unifal desde 2009. Tinha 35 anos e morava com um filho de 18 anos, que ainda não trabalhava. Havia divorciado-se um ano antes.

Trabalha desde os 12 anos. Começou como babá mas já trabalhou como diarista, cuidou de idosos e “passou roupas para fora” quando não tinha emprego fixo. Casou-se muito nova, com 17 anos, e seu marido provia a casa, por isso não tinha que se preocupar em ter renda certa. Seu emprego na Unifal é o seu primeiro com carteira assinada. Como Fernando, Gabriela está na quarta empresa terceirizada na Unifal, a Adicon, estando entre os trabalhadores que estão com processos na justiça contra duas empresas. Segundo Gabriela e Fernando, essas duas empresas atrasaram salários, alimentação, mas nunca vale-transporte, e, então, a Unifal rescindia o contrato.

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uma vez durante os 4 anos de trabalho por conta da rotatividade de empresas;

Henrique era auxiliar administrativo na Unifal desde março de 2013, contratado pela PH Service. Tinha 24 anos, solteiro e morava com a avó, uma tia e uma prima. Sua avó é aposentada e sua tia também trabalha. Começou a trabalhar aos 13 anos como auxiliar em treinamentos esportivos. Aos 14 anos, assinaram sua carteira com aprendiz. Trabalhou também como atendente e foi estagiário numa empresa de Varginha por 5 anos. Queria, neste último, que assinassem sua carteira, propondo até que reduzissem seu salário, que considerava ser alto. Mas não o fizeram.

Henrique disse que, por conta do emprego na Unifal, teve que abandonar o curso universitário de Administração que, havia pouco, começara.

A falta da falta da figura do chefe a quem reclamar ou pedir aumento salarial é um ponto que coloca como negativo na situação de terceirizado. Entretanto, alega que este ponto pode ser negativo no sentido de que não há o monitoramento de seus serviços.

Henrique é adepto da ideologia de que o emprego público é desvantajoso (para a sociedade), à medida que o trabalhador, depois de tê-lo conseguido, “relaxa”, se acomoda, não tendo incentivos para cumprir sua função de modo eficiente. Porém alega que pretende entrar no funcionalismo público por conta da estabilidade que proporciona.

Ingrid foi a nona entrevistada. Ela trabalhava nos serviços gerais da Unifal, pela PH Service. Tinha 37 anos, era casada e mãe de 4 filhos. Em sua casa, todos trabalhavam.

Começou a trabalhar aos 12 anos como babá. Até os 18 anos, trabalhou também como doméstica e na “panha de café”. Depois de atingir a maioridade sempre trabalhou com a carteira assinada. Foi

doméstica, auxiliar de produção e serviços gerais. Estava na Unifal havia 3 anos. No seu trabalho, afirma não gostar apenas do salário, que julga ser baixo.

A última entrevistada era técnica administrativa na universidade havia 2 anos, também pela PH Service. Juliana tinha 30 anos, era divorciada e tinha um filho de 3 anos. Morava com este filho.

Começou a trabalhar aos 16 anos como agente de turismo. Aos 17 anos, nesse emprego, assinaram sua carteira. Foi secretária durante 4 anos num consultório médico. Deste emprego, reclama que, além do salário baixo e da inexistência de benefícios, assinaram sua carteira como se trabalhasse como doméstica, o que lhe privou de alguns direitos quando deixou o emprego, dado que esta profissão era pouco regulamentada à época. O fez depois de ter tido seu filho, pensando que não era valorizada o suficiente para ficar longe do filho. Também era casada no momento, o que lhe deu segurança para deixar o emprego. Juliana trabalhava na Unifal das segundas às sextas-feiras, das 8 às 18 horas. No momento da entrevista, tinha que trabalhar também aos sábados das 8 horas da manhã ao meio dia, para cobrir a falta de um funcionário. Às vezes tem que levar seu filho ao trabalho, aos sábados, por não ter com quem deixa-lo. Afirma que o emprego na Unifal, como terceirizada, é melhor do que o antigo emprego de secretária. Ao mesmo tempo, tem vontade de entrar no funcionalismo público, mas acha que não conseguiria passar no concurso público já que faz tempo que deixou a escola.

Análise das informações coletadas

Tendo por base as informações obtidas por meio das entrevistas, pudemos constatar alguns

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efeitos do processo de precarização das relações de trabalho na história de vida do trabalhador terceirizado da Universidade Federal de Alfenas.

A primeira constatação é que a terceirização já era uma realidade, antes do atual trabalho na Unifal, para a metade dos trabalhadores entrevistados e que metade deles, 4 mulheres e um homem, também começaram sua vida profissional em trabalhos precários: babás, domésticas e na “panha de café”, ocupações que, até o momento, contam com regulamentação fraca ou ausente.

Daí podemos ter um indicativo de que há, dentro das relações trabalhistas do grupo, uma reiteração da precarização entre os mesmos sujeitos, ou seja, há sempre uma parcela dos trabalhadores para a qual, por conta de uma herança histórica, sempre são reservados trabalhos de estatutos precários.

Outra constatação é que a descentralização produtiva, que se intensificou com a reestruturação produtiva, também se fez presente, tendo efeitos negativos na vida de um dos trabalhadores entrevistados. Antônio, como já foi mencionado, ficou desempregado quando a multinacional para a qual trabalhava mudou-se para o sul do país. Sendo que, de acordo com as informações da entrevista, durante todo o processo de descentralização da produção, outros 400 trabalhadores ficaram sem trabalho.

Quanto às condições de trabalho na Unifal, pode-se observar que dois dos trabalhadores entrevistados, Gabriela e Henrique, tiveram problemas para receber salários e vales-alimentação com duas prestadoras de serviços, sendo que Henrique estava até o momento da entrevista momento uma ação judicial contra duas empresas para receber o “acerto”. Observa-se a importância que tem a Unifal na fiscalização do tratamento das empresas para com os

trabalhadores que, ao perceber a violação dos direitos trabalhistas por parte das empresas, tem o dever de rescindir os contratos. Segundo Gabriela, a instituição sempre cumpriu esta função. Henrique comentou, também, que o tipo de licitação, seguindo o critério do “menor preço”, é que, às vezes, “obriga” a empresa vencedora a não cumprir suas obrigações trabalhistas.

Importante também é atentar para o fato de dois entrevistados terem mencionado a importância dos sindicatos. Uma delas, Gabriela, reclama que não pôde contar com o sindicato de sua categoria, quando precisou, já que sua matriz se encontra em São Lourenço; o outro, Fernando, disse que o fato do Sindicato dos Vigilantes de Minas Gerais ter muita força, explica o porquê de sua categoria ser a única a ter plano de saúde e horas-extras pagas entre as que atuam na Unifal. Logo, vemos pelo menos nessas duas entrevistas, que há o reconhecimento, por parte do trabalhador, do sindicato como instrumento de luta coletiva que o representa na luta por direitos, caso de Fernando, ou, ao menos deveria representar, caso da Gabriela.

Podemos deduzir das informações coletadas nas entrevistas, também, que experiências anteriores ruins como o desemprego, a falta de valorização no trabalho e exigência de trabalho aos finais de semana, servem para amenizar algumas facetas da precarização inerente à terceirização, como a alta carga horária, no caso da entrevistada Beatriz, e o salário vindo pela metade do entrevistado Antônio. O não poder prestar atenção ao que o encarregado lhe explicava sobre seu novo trabalho, dada a felicidade de sair do desemprego, ilustra bem o que dissemos.

Considerações finais

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debate acerca da centralidade do trabalho n processo de acumulação capitalista e as constatações tiradas da análise das entrevistas com os trabalhadores terceirizados da Unifal – partimos do pressuposto que as transformações ocorridas no universo laboral, que resultaram numa classe trabalhadora complexificada, heterogênea e fragmentada, não possibilita o diagnóstico do fim do trabalho no processo de produção de produção de mercadorias. Aliás, o que se pode tirar deste processo é que estas novas formas de exploração da força de trabalho são funcionais à lógica de exploração e acumulação do capital. Assim podemos, também, combater a ideia apresentada por Kurz de que o capital está perdendo sua capacidade de exploração. Essa exploração apenas se dá de forma diferenciada, se materializando em formas de trabalho precarizadas.

As informações retiradas das entrevistas com os trabalhadores terceirizados da Unifal nos permite inferir que metade deles começara sua vida profissional em trabalho de caráter precário e que quase todos já passaram por alguma situação de precarização no trabalho, seja no trabalho na Unifal ou em empregos anteriores. Nos permitiu perceber, também, que o trabalho na Unifal, de acordo com os relatos sobre os contratos de licitação, que exige que a empresa contratada garanta aos seus trabalhadores determinados direitos, assegura a alguns destes trabalhadores mais direitos do que outros empregos nos quais não estavam na situação de terceirizados.

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