• Nenhum resultado encontrado

O Universo Familiar de Relações: a base cotidiana dos estrangeiros (São Paulo, 1827-1878)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Universo Familiar de Relações: a base cotidiana dos estrangeiros (São Paulo, 1827-1878)"

Copied!
25
0
0

Texto

(1)

O Universo Familiar de Relações:

a base cotidiana dos estrangeiros (São Paulo, 1827-1878)

*

Vanessa dos Santos Bodstein Bivar USP/CEDHAL

Palavras-chave: família, imigrantes, testamentos.

“A história da humanidade é a história das migrações e de suas conseqüências”1 afirma Carlos Fouquet ressaltando a importância da migração como fenômeno histórico que caracteriza o movimento dos homens em um contexto mundial desde os primórdios da civilização humana.

No Brasil, a Abertura dos Portos ocorrida em 1808 marcou o início da imigração para esse território, tornando possível e mais constante a presença de estrangeiros na vida brasileira. Logo, a confluência de diversas nacionalidades fez com que em especial São Paulo, apresentasse uma estrutura populacional complexa, pela integração de várias etnias, ultrapassando, inclusive, os limites da situação social dos habitantes ao mesclar livres e cativos.

É nesse contexto do universo de imigrantes na cidade de São Paulo que se insere este trabalho, tomando, então, como fonte, os testamentos por eles deixados entre os anos de 1827 e 1878.

De um total de 620 documentos consultados, percebe-se que a grande maioria era nascida no Brasil (72,41%). Configuram-se como estrangeiros, nesse meio, 12,90% dos testamentos. E ainda é alusivo que 14,35%, portanto, mais do que o número de imigrantes que deixaram testamento, neste caso não informem nacionalidade, conforme ilustra o gráfico abaixo:

* Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado

em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.

1 FOUQUET, Carlos. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil (1808-1824-1974). São Paulo:

(2)

Gráfico 01

Quadro geral de nacionalidade dos testantes (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

449 80 89 2 0 100 200 300 400 500 Brasileiros Estrangeiros Não informada Ilegível

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

A maioria dos testantes (76,62%) era do sexo masculino, sendo minoria as mulheres (19,48%) e os testamentos de mão comum, os quais marido e mulher fizeram conjuntamente (3,90%).

Gráfico 02

Número de testamentos deixados por estrangeiros por sexo (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

298 59 298 15 24 3 0 50 100 150 200 250 300 Homens Mulheres Mão Comum Total de testamentos de estrangeiros Total de testamentos

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

Entre os grupos de estrangeiros encontrados como testantes, há uma nítida predominância dos portugueses que compõem 52,50% do total. Seguido dos africanos, franceses, alemães, prussianos, espanhóis, uruguaios, inglês e italiano.

(3)

Quadro 01

Nacionalidade dos testantes estrangeiros por sexo (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

Nacionalidade Homens % Mulheres % Total %

Portugueses 38 61.29 04 22.22 42 52.50 Africanos 08 13.11 06 33.33 14 17.50 Franceses 07 11.29 - - 07 8.75 Alemães 04 6.45 03 16.67 07 8.75 Prussianos 02 3.22 02 11.11 04 5.00 Espanhóis 01 1.61 01 5.55 02 2.50 Uruguaios - - 02 11.11 02 2.50 Ingleses 01 1.61 - - 01 1.25 Italianos 01 1.61 - - 01 1.25 Total 62 100 18 100 80 100

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

É tortuoso e difícil o desvendar do cotidiano dos estrangeiros na dita cidade, até mesmo se refletirmos sobre as limitações das fontes primárias e escritas. Contudo, deve-se ressalvar que a despeito de deve-ser um universo aparentemente restrito de análideve-se, os documentos dos 80 testadores aqui focados, não devem ser encarados apenas como casos específicos, mas como elucidações indicativas dos processos mais gerais entre os estrangeiros2.

Nesse âmbito, se encerra a importância da família como alicerce de sobrevivência e de relações sociais, de onde advém a sua conexão vital para com a sociedade.

Os testamentos são mina inesgotável de informações sobre a família. Nele, muitas vezes, seu futuro era decidido, preocupações eram aventadas e decisões tomadas com relação ao governar e partilhar dos bens, o caminhar e a sobrevivência do cônjuge, dos filhos, demais parentes, vizinhos e amigos, revelando uma série de laços de solidariedade, amizade e gratidão, assim como contendas que permeavam o vivenciar entre os membros da família.

Os relatos testamentários ainda incluem passagens que interligam o país de origem e o Império brasileiro, explicitando relações que contam acerca da família deixada na terra natal, assim como da integração à comunidade local com a formação de

2 LEWKOWICZ, Ida. Herança e relações familiares: os pretos forros nas Minas Gerais do século XVIII IN Revista

(4)

novos grupos familiares e descendentes, sem, contudo, perder os liames com o país de emigração.

É sob a riqueza desses elementos, nem sempre lineares, que mergulharemos no passado buscando reconstituir a família do testador imigrante e para tal enveredado por diversos caminhos, como o do casamento; dos filhos; da estima; da ilegitimidade e da herança. Estes fatores nos permitirão recuperar, ao menos em parte, o vivenciar e o universo de relações porque passava a São Paulo do século XIX.

O enlace

O casamento era um acontecimento de grande repercussão social no Império, dado que ali iniciava-se um núcleo de solidariedade, a começar pelo casal e culminando entre as famílias ou vice-versa; além de fundir uma nova organização econômica ou consolidar aquela já existente.

A despeito de ser oneroso e implicar em diversos entraves burocráticos, alguns testadores estrangeiros mencionaram serem casados legitimamente perante a Igreja, como Felix e Flora Coutinho, o primeiro português e a segunda brasileira, da seguinte forma:

“Decla

ramos que somos casados um com o ou tro na forma que determina o Sagrado

Concilio Tridentino”3

Por outro lado, este mesmo exemplo evidencia uma importante característica, que é a da inserção dos portugueses em famílias brasileiras através do casamento, buscando nele, talvez, um meio de ascensão social. Da mesma forma, é sabido que comerciantes portugueses lançavam mão desse recurso, casando-se com moças das tradicionais famílias paulistas, o que lhes possibilitava uma maior integração na esfera político-econômica local4 e, por sua vez, contribuiria senão para um aumento, ao menos

3 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Felix de Abreu Pereira Coutinho e Flora Justina de

Assis Coutinho. 14/08/1871. nº do processo: 1163

4 KUZNESOF, Elizabeth Anne. A família na sociedade brasileira: parentesco, clientelismo e estrutura social (São Paulo,

1700-1980) IN SAMARA, Eni de Mesquita (org.). Família e grupos de convívio. Revista Brasileira de

(5)

para a preservação do montante de bens familiar da nubente, como ocorrera entre o próspero negociante José Marques da Crus e sua esposa Maria Benedita da Penha5. Quadro 02

Nacionalidade e/ou naturalidade dos cônjuges dos testantes portugueses (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

Nacionalidade do cônjuge

Nº de testantes % Naturalidade dos cônjuges

Nº de cônjuges

%

Brasileiros 07 36.84 Cidade de São Paulo 04 44.44

Portugueses 03 15.78 Santa Ifigenia 02 22.22

Não mencionada 09 47.36 Villa Nova de Famalicão (Portugal)

02 22.22

Freguesia da Sé 01 11.11

Total 19 100 09 100

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

Ponto também essencial na escolha do cônjuge era a religião. “Isso significa que os estrangeiros no Brasil, desde que católicos tinham facilidades de acesso às famílias locais, através de casamentos”6, como acontecera, por exemplo, entre os ditos portugueses.

No entanto, devemos observar que este mesmo processo, em geral não ocorria entre os estrangeiros com religião diferente daquela ditada pelo Império. Prussianos e alemães tendiam a configurar uniões com pessoas da mesma religião ou comunidade de origem, tentando, assim, preservar os costumes e elementos que definiam a sua identidade étnica.

A partir de 1824, os protestantes viventes no Brasil tinham assegurada a sua liberdade de culto perante o Estado7. Logo, não raro eram os que mencionavam a religião em testamento. Um bom exemplo é o de Pedro e Maria Nelsen que afirmando -se “protestantes reformados em cuja doutrina temos verdadeira fé e esperamos viver e

morrer”8, casaram-se segundo o seu rito perante o sacerdote Jorge Heesel. Outras

histórias de vida desses imigrantes ainda denotam a preferência por cônjuges de mesma

5 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de José Marques da Crus. 10/03/1857. nº do

processo: 633

6 SAMARA, Eni de Mesquita. As mulheres, o poder e a família (São Paulo, século XIX). São Paulo:

Marco zero/Secretaria do Estado da Cultura, 1989. p. 100

7 RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo no Brasil monárquico: 1822-1888. São Paulo: Pioneira, 1973. p

138

8 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Pedro Nelsen e Maria Nelsen. 09/12/1863. nº do

(6)

religião e origem, como Maria Luiza Chart9 viúva do também alemão Luiz Chart ou a prussiana Catharina Justo10, que em duas núpcias contraídas, ambos os cônjuges eram prussianos.

O fato de nenhum testante mencionar casamentos mistos, ou seja, de religiões diferentes, ou ainda manter um silêncio a respeito do credo de seu cônjuge, sugere que tais enlaces eram reprovados perante à Igreja e à sociedade, mas, de toda forma aconteciam. A diversidade nesse aspecto parece ser melhor aceita com relação aos filhos dos imigrantes. As filhas da prussiana Barbara Beinrimbak, por exemplo, casaram-se com brasileiros11.

Ademais, os relatos testamentários revelam que havia ingerência por parte dos estrangeiros no casamento de seus filhos. Quando desgostosos com a união, solicitavam que genros e noras ficassem apartados da herança. Ao mesmo tempo, era momento de cobrar empréstimos feitos aos mesmos e de denotar o profundo ressentimento sentido, o que torna-se compreensível se visualizado à luz das desavenças familiares.

Nesse sentido, a dita prussiana menciona em suas últimas vontades que sua filha Bernardina e seu marido Francisco Gomes ficam fora de sua herança por lhe serem devedores de várias quantias, as quais a testadora fez questão de enumerar uma a uma. Pela leitura deste relato presenciamos todo um sentimento de ingratidão expressado com relação à filha e ao genro. Da terça, ela afirma:

“ficando della escluida minha filha

Bernardina, pelos agravos dela, e de seu marido Santos Lima tenho recebido”12 .

Dentre as quantidades devidas, a testadora menciona algumas de sua “especial estima”, como

“um cordão de Ouro que foi do meu finado marido, e de

minha especial estima, que minha filha pidio

9 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Maria Luiza Chart. 02/08/1853. nº do processo:

[rasurado].

10 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Catharina Justo. 18/12/1859. nº do processo: 652 11 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Barbara Beinrimbak. 28/05/1858. nº do processo:

681.

12ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família .Testamento de Barbara Beinrimbak. 28/05/1858. nº do processo:

(7)

emprestado por dias para seu marido e com elle se ficou, avaliado pela quantia de cincoenta mil reis”13 ou ainda um sítio

“ que o di

to meu genro Lima exigio que fosse Letra pas- sada em seu favor como dinheiro devido a ele, e

nisto concenty unicamente por conceder”14

Por outro lado, quando os pais concordavam com o casamento, por vezes, genros e noras eram beneficiados nas disposições testamentárias. Vejamos o quão diverso é o caso da já assinalada testadora Barbara Beinrimbak: se por um lado punia a filha e o genro por um casamento que não aprovara, por outro deixava ao marido de sua outra filha o cargo de testamenteiro, o qual era concedido somente a pessoas de confiança.

Diante de todos os fatores de complexidade que envolviam o casamento, parece que o amor ocupava um lugar de menor importância na eleição do cônjuge, mas é certo que a afeição muitas vezes estava presente, ao menos no decorrer dos anos de convivência. O casal de portugueses Alexandre Antonio dos Reis e Anna Vivencia de Macedo Reis, deixaram a terça reciprocamente, assim justificando-a:

“Isto fasemos

não só pela afeição que vota mos um ao outro, como pela consi

deração de termos ambos por tra balhos communs, e constantes, como

é notório (...)”15

Amizade e harmonia são outros elementos que fazem parte do casamento: instituindo-se mútuos herdeiros, diversos casais mencionaram fazer tal ação “em

13 Idem 14 Ibidem

15ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Alexandre Antonio dos Reis e Anna Vicencia de

(8)

attenção á amisade, que nós consagramos, e á harmonia em que constantemente temos vivido”16.

Essa atenção e carinho por certo não eram voltados somente aos cônjuges, mas também entrelaçavam-se nessa rede de sociabilidade os demais parentes e amigos. O testamento por si só agrega a vontade de, segundo as expressivas palavras do italiano João Sartorio, “com tudo querendo preparar-me para a eterna viagem que ninguem

pode deixar de fazer e para a qual deve star sempre preparado porque não tem a sua dispozição o momento, sendo assim dezejo que por meu fallecimento não se suscitem as

menores duvidas entre aqueles que amo como partes de mim próprio (...)”17.

Ao mesmo tempo em que serviam para expressar afetos, os testamentos também tinham a função de ajustes finais nas incompatibilidades e traições, que de parte a parte os casais cometiam. O português Antonio José Mauricio Pereira, por exemplo, foi abandonado pela esposa e por não querer que sua casa fizesse parte da meação, tendo, portanto, a dita mulher parcela na mesma, colocou este bem imóvel em nome de outra pessoa18.

Estado conjugal

Mencionadas algumas questões que envolvem o universo do casamento, faz-se necessário visualizar os números relacionados ao estado conjugal dos testantes:

16 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de José Antonio dos Reis Monte-negro e Anna Flora

Bello Monte-Negro. 27/11/1854. nº do processo: 876

17 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de João Sartorio. 25/05/1852. nº do processo: s/ inf. 18 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Antonio José Mauricio Pereira. 17/10/1863. nº do

(9)

Gráfico 03

Estado conjugal dos testantes portugueses (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

30,95% 4,76% 4,76% 19,05% 40,47% Casados Solteiros Viúvos Segundas núpcias Não informado

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

Os dados acima revelam que entre os portugueses, nem todos os testantes eram casados, aparecendo também neste quadro os solteiros, viúvos e casados em segundas núpcias. Vejamos agora as porcentagens concernentes às demais nacionalidades, com exceção dos africanos, que pela riqueza de informações não puderam ser contemplados neste trabalho.

Gráfico 04

Estado conjugal dos testantes alemães (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

42,86% 14,29% 14,29% 14,29% 14,29% Casados Solteiros Viúvos Terceiras núpcias Não informado

(10)

Gráfico 05

Estado conjugal dos testantes prussianos (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

50% 50%

Viúvos

Segundas núpcias

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

Gráfico 06

Estado conjugal dos testantes franceses (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

71,43% 14,29% 14,29% Casados Solteiros Não mencionado

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

Assim como os portugueses, os alemães também eram a maioria de casados, mas a seguir vinham em partes iguais os solteiros e viúvos. Os prussianos, por sua vez, dividiam igualmente o estado de viúvos e de segundas núpcias. No caso dos franceses 71,43% eram casados. Dentre os espanhóis havia solteiro e viúva; dos uruguaios um solteiro e uma casada; e, por fim, o inglês, único que menciona ser divorciado.

Uma das problemáticas que envolvem o estudo dos testamentos é que a maior parte dos estrangeiros não menciona se já havia casado em seu país de origem, ou se constituíra família em terras brasileiras, o que veio, a inviabilizar, portanto, a quantificação dessa variável. No entanto, entre uma linha e outra de alguns relatos percebe-se que não era incomum ao imigrante apartar-se da família na terra natal, partindo só ao Brasil Império. Devido a este fator justifica-se a rara declaração nas disposições, do cônjuge vivendo no país de origem, como ocorrera com o francês

(11)

Frederico Fontaine, “cazado em primeiras e únicas nupcias com Maria Mulotin, que

ainda vive na mesma cidade de Dondeville”19, onde ele nascera.

A viuvez, por seu turno, era um estado corrente na São Paulo do século XIX. Muitos permaneciam sozinhos após a morte do cônjuge, porém outros seguiam o fim da união conjugal ao início de outra .

As novas uniões destes viúvos, por vezes, eram mal vistas pela sociedade, na medida em que temia-se a dissipação dos bens deixados pelo cônjuge, assim como a extinção do montante destinado aos filhos. Talvez devido a esse fator, ou mesmo por punição, excesso de zelo ou ainda como uma tentativa de assegurar a fidelidade conjugal da esposa mesmo depois de morto, o comerciante José Marques da Crus, impôs a condição de, se sua mulher casar-se novamente, dela serem imediatamente retirados todos os bens. Vejamos como este testador se posiciona:

“Declaro mais que

enquanto minha Espoza viuva e que se portar com capacidade podera o totor deixar as minhas fazendas

conservar-se em poder della mas logo que ella se caze e não se porte Com a onesti- dade devida a huma senhora Viuva pesso tanto

au meu nomeado totor e as autoridades que Imediatamente sejaõ della tomadas e en-

tregues a quem pertencer”20

Esta declaração denota que ao nível do comportamento moral desejado, a viuvez era quista como um estado respeitado, aproximando-se da castidade.

19 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Frederico Fontaine. 03/11/1855. nº do processo:

971.

20 ATJSP/ CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Jose Marques da Crus. 10/03/1857. nº do

(12)

Filhos

O caso dos estrangeiros viventes na Província de São Paulo durante o século XIX denota um perfil típico de família nuclear. Além do que, tais famílias configuravam como característica mais geral a existência de poucos filhos e de muitos casais, viúvos e solteiros os quais não apresentavam filho algum. Este fator pode ser melhor visualizado se mostrarmos os dados computados para essa variável.

Quadro 03

Número de filhos por testante português (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

Nº de filhos Nº de testantes % 00 23 54.76 01 03 7.14 02 07 16.66 03 03 7.14 04 03 7.14 06 02 4.76 11 01 2.38 Total 42 100

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878. Gráfico 07

Testantes portugueses com e sem filhos (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

54,76%

45,24%

Com filhos Sem filhos

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

Quadro 04

Nº de testantes portugueses com e sem filhos por estado conjugal (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

Com filhos % Sem filhos %

Casados 08 19.04 09 21.42 Segundas núpcias 01 2.38 01 2.38 Solteiros 03 7.14 09 21.42 Viúvos 06 14.28 02 4.76 Não mencionado 01 2.38 02 4.76 Total 19 45.24 23 54.76

(13)

Para os portugueses torna-se bem nítida a existência de poucos filhos. É alusivo ainda que 54,76% dos testantes dessa nacionalidade não tivessem filho algum, o que ocorria mesmo com a maior parte dos casados. Veja-se a situação de Maria Justina Portilho, casada há 27 anos quando da data da feitura de seu testamento, e não teve filhos21. Uma possível explicação para tal tendência talvez se encerre na idéia de que “o desejo de ter filhos é menor nas sociedade mais expostas à modernização (como, por exemplo, São Paulo), onde a atuação da mulher é mais independente, a participação no casamento mais igualitária e a orientação recebida mais individualista”22. Este mesmo protótipo ainda aparece nos franceses, cuja porcentagem é de 57,14%, para aqueles que não tem filhos, assim como para os espanhóis, uruguaios e o inglês, os quais não apresentavam nenhum filho.

Interessante, porém, mostra-se o caso dos prussianos e alemães. Observemos os seguintes dados:

Quadro 05

Número de filhos por testante alemão (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

Nº de filhos Nº de testantes % 00 01 14.29 03 01 14.29 04 03 14.29 09 01 14.29 11 01 14.29 Total 07 100

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878. Gráfico 08

Testantes alemães com e sem filhos (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

14,29%

85,71%

Com filhos Sem filhos

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

21 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Maria Justina Elvaim Ferreira Portilho.

28/01/1860. nº do processo: 809

(14)

Quadro 06

Nº de testantes alemães com e sem filhos por estado conjugal (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

Com filhos % Sem filhos %

Casados 03 42.86 00 00.00 Solteiros 00 00.00 01 14.29 Viúvos 01 14.29 00 00.00 Terceiras núpcias 01 14.29 00 00.00 Não mencionado 01 14.29 00 00.00 Total 06 85.71 01 14.29

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878. Dentre os alemães percebemos que a grande maioria (85,71%) possuía filhos, variando entre três e nove para o conjunto dos testadores, sendo que do total somente um alemão solteiro não tinha filho algum.

Tabela 01

Número de filhos legítimos por testante prussiano (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

Nº de filhos Nº de testantes % 03 01 33.33 09 01 33.33 10 01 33.33 Total 03 100

‘FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878. Gráfico 09

Testantes prussianos com e sem filhos (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

100,00%

Com filhos

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

Os prussianos em sua totalidade tinham descendentes, variando o número de filhos entre três e dez. Torna-se fator peculiar, mesmo levando-se em conta a pequena amostra de nossa fonte, que os membros de uma mesma etnia tenham a tendência de possuir mais filhos. Logo, advém algumas indagações: será que a preservação dos costumes e da identidade e a menor aculturação se comparada às outras nacionalidades relaciona-se com esta característica ? Tal hipótese não é explicitada nos testamentos.

Ao baixo número de filhos deve ainda ser agregado o alto índice de mortalidade infantil da época, que era sentido e mencionado pelos estrangeiros em seus relatos. A

(15)

alemã Susana Teisen declarou em 1856 que de seu matrimônio tivera nove filhos, dos quais somente existia uma viva. A morte com poucos meses de vida, por sua vez, está presente nas disposições da prussiana Barbara Beinrimbak:

“(...) de cujo matrimonio tivemos nove filhos dos quais trez falecerão poucos mezes depois de

nascidos (...)”23

A relação entre pais e filhos revela importantes componentes inerentes ao seio familiar. Nos testamentos são expressos diversos momentos que fazem parte da história de vida dos imigrantes. A seguir nos deteremos em alguns deles.

Eram frequentes as alusões à gratidão devida aos filhos e as justificativas dadas para beneficiar um ou outro, seja com a terça ou a nomeação de alguma propriedade. “Homem ou mulher, o testador buscava no derradeiro momento da vida premiar, ou punir, os filhos pelo tratamento, a atenção e a assistência recebida”24

Assim, não raro nos testamentos haviam referências e agradecimentos às filhas “que cuidaram dos pais na velhice e na doença, zelando por seus interesses no governo da casa”25.

O português Antonio Joaquim da Silva privilegia a sua filha na herança, declarando que

“esta minha deixa tem

por motivo achar-se a dita minha filha há muitos annos tratan- do-me, de minhas molestias com toda a caridade, deixando a sua

familia para vir passar noites e dias em minha casa”26

23 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Barbara Beinrimbak. 28/05/1858. nº do processo:

681

24 SCOTT, Ana Silvia Volpi. Famílias, formas de união e reprodução social no noroeste português

(séculos XVIII e XIX). Guimarães: NEPS/ Universidade do Minho, 1999. p. 340

25 SAMARA, Eni de Mesquita. As mulheres, o poder ... op. cit. p. 59

26 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Antonio Joaquim da Silva.22/01/1858. nº do

(16)

O cuidado para com os filhos, revela-se também na sua forma de educação, como João Miguel, filho da testadora Barbara Beinrinbak, instruindo-se na Alemanha27, o que aliás, denota vínculo com a região de origem.

Além desses meandros que intercruzam sobrevivências, pareciam extremamente caros aos estrangeiros que se estabeleciam na Província de São Paulo, os elementos de sua família de origem que ali se encontravam. Alicerce e talvez ponte para a construção de novos relacionamentos, eles apareciam nos relatos, recebendo um quinhão da terça.

De toda forma, esse ideário que aqui propusemos do casamento, ou seja, da união legal, não é unilateral, ele denota somente um aspecto da realidade da população vivente no Brasil Império. Temos que levar em consideração o fato de ao lado da família legal, existir aquela ilegítima, das uniões consensuais, do concubinato e mesmo das uniões estáveis, de onde advinham os filhos ilegítimos. São histórias que contrapõem-se à moral cristã, então vigente, mas que revelam todo um cenário embebido nos costumes e no cotidiano dos estrangeiros.

Vivendo sós ou com seus pais, acobertados ou não em consequência dos mistérios da “fragilidade humana”, os ilegítimos não só pertenciam à sociedade que envolvia os estrangeiros, mas também eram partes de sua própria vida, como filhos não desejados, ou, pelo contrário, bem aceitos; como expostos, recebendo toda a educação necessária; e, finalmente, no papel deles mesmos, quando desconheciam sua filiação.

Herança

Os momentos que acercavam a morte eram propícios para demonstrar o carinho e a gratidão sentida pelos entes queridos que, por sua vez, não envolviam somente aqueles membros da família nuclear, mas alargavam-se ao âmbito dos demais parentes, amigos, compadres, comadres e vizinhos. Estes tinham papel ativo no cotidiano dos estrangeiros, principalmente se levarmos em conta que pelo fato mesmo de serem imigrantes, inseridos em terras estranhas à sua, necessitavam de toda uma rede de solidariedade que amenizava o seu desconhecimento.

27 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Barbara Beinrimbak.28/03/1856. nº do processo:

(17)

A São Paulo do século XIX era uma sociedade relacional, em que os laços de amizade e compadrio em muito contavam para a sobrevivência de algumas famílias. Nesse sentido é que se insere a terça na herança, por ser de livre disposição do testante, ela revelava os mais profundos sentimentos para com essas pessoas.

A relação afilhado-padrinho parecia ser extremamente cara ao testante. Diversas são as disposições em que eles aparecem, sendo beneficiados com quinhões da terça. Desde os estrangeiros mais abonados até os mais pobres mantinham essa prática.

Os bons serviços prestados, o carinho, o cuidado e o zelo proporcionado ao estrangeiro seja nas situações de plena saúde no decorrer dos anos, seja nos momentos de sofrimento provocados pela doença, não eram esquecidos no testamento. Diversas são as alusões e benefícios dados àqueles que o acompanharam durante a vida, cuidando de seus pertences, trabalhando para seu bem-estar. Assim, agradecimentos à pessoas, tais como: governanta; feitor; caseiro; cozinheiro e mesmo à madrasta e ao sogro, eram correntes nos relatos desses imigrantes:

“Declaro que deixo á Donna Anna Clara Muller toda a minha mobilia, em recompensa a bons serviços que á

mesma Senhora me tem prestado, no governo de minha caza”28

São histórias que intercruzam todo um sistema de ajuda, solidariedade e ao mesmo tempo afeto. Nesse perfil também integravam-se os vizinhos, pela muita amizade e consideração que os envolviam:

“Deixo cincoenta mil reis a Viuva

Anna França, minha vizinha”29

28 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Carlos Abrão Bresser.13/07/1850. nº do processo:

580

29 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Barbara Beinrimbak.28/05/1858. nº do processo:

(18)

Outros parentes como cunhados e primos eram incluídos no entremear da terça. Mesmo não fazendo parte do âmbito nuclear e da distância que os separava, dado que alguns dos mesmos residiam na terra natal, os laços familiares não eram quebrados e persistiam apesar do tempo e da devida distância. Declarando que todos os parentes por ele nomeados moravam em Portugal, o Barão da Silva Garneiro, deixou a irmãos, primos, cunhados e amigos, apólices da dívida pública do Império do Brasil30.

Logo, parentes que viviam na terra natal eram lembrados no momento da feitura do testamento. O alemão Gustavo Gravanhorst31, por exemplo, informava que ambos os seus pais eram vivos e residiam na cidade de Hamburgo, da mesma forma que o francês Celestino Barroul32, cuja mãe era viva e residia em Niça Marítima.

A despeito da intensa integração com a comunidade local, parece que especialmente os portugueses mantinham interligações com o país de origem. Ana Cristina Araújo, a qual estudou a “morte em Lisboa”33comenta que nos testamentos feitos em Portugal há diversas alusões a parentes que migraram para o Brasil, o exemplo mais comum era o de mulheres portuguesas cujos maridos para cá embarcavam. De igual maneira, nos testamentos escritos na Província de São Paulo são várias as menções não somente a familiares, mas também a negócios deixados em Portugal.

Nesse âmbito, o português natural da Ilha da Madeira, Francisco Gomes Neto, declarou ter dinheiro guardado no Banco comercial situado no Porto e também uma demanda a pagar na cidade de seu nascimento, cujas informações eram-lhe dadas por seu correspondente, Antonio da Fonseca, através de carta. A partir desse relato percebe-se, então, a nomeação de procuradores que ficavam na terra a zelar pelos interesses de quem partia e ao mesmo tempo, acabavam por manter vivos os laços de comunicação.

Esses pequenos relatos denotam a importância das imbricações familiares e dos processos de acumulação e distribuição de riqueza dentro desses grupos, instigando ainda mais a reconstituição desse “mundo” dos estrangeiros formado na Província de São Paulo.

30 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Ayres Coelho da Silva Garneiro.16/06/1875. nº

do processo: 1216

31 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Gustavo Gravanhorst. 22/06/1856. nº do

processo: 688

32 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Celestino Barroul. 28/04/1860. nº do processo:

1157

33ARAÚJO, Ana Cristina. A morte em Lisboa (atitudes e representações). Lisboa: Editorial Notícias,

(19)

Dentre os testantes consultados, o caso mais típico de inter-relação entre o Império brasileiro e a terra natal é o do português José Marques da Cruz34, casado com Dona Ana Fernandes da Cruz nascida em São Paulo. É patente através do relato testamentário, que este imigrante foi um exemplo de retorno a Portugal. Como pode-se notar no gráfico abaixo, ele foi o único dentre os testadores que escreveu esse documento em terras portuguesas, ou seja, na cidade de Lisboa, local onde estava com sua esposa e uma de suas duas filhas. Maria Beatriz Nizza da Silva35 comenta que a saída do país natal podia ser encarada como temporária, além de permitir no regresso uma promoção social propiciada pela acumulação de capital. Sob esse prisma, portanto, dentre os que regressavam estavam aqueles que de algum modo podiam ostentar uma melhoria em termos financeiros, como o mencionado testante, próspero comerciante na cidade de São Paulo.

Gráfico 07

Local onde o testamento foi feito por testante português (São Paulo, Capital e Interior - 1827-1878)

35 2 1 1 1 1 1 0 5 10 15 20 25 30

35 cidade de São Paulo

Rio de Janeiro

Freguesia de N. Sra. da Penha de França

Freguesia do Braz Villa de Santos Lorena Lisboa

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

Na vida de Jose Marques da Cruz, então, a ligação entre as duas localidades parecia ser estreita. Sua outra filha estava vivendo na cidade de São Paulo em companhia dos avós maternos e, ao mesmo tempo, ele pedia em testamento

“Entregar a minha mulher

e arranjalla de tudo o necessario com as melho- res comodidades possiveis fazella siguir viagem ju-

34 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Jose Marques da Cruz. 10/03/1857. nº do

processo: 633

35 SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Documentos para a história da imigração portuguesa no Brasil

(20)

nto com nossa Inoçente filha para o Brazil”36

Além de rogar para a mulher e a filha retornarem ao Brasil, também facultava à irmã a possibilidade de passagem para onde quisesse ir, seja com destino ao Porto ou à terras brasileiras E, da mesma maneira, nomeou testamenteiros tanto em São Paulo como no Porto para a execução de suas disposições.

Estes relatos do testamento que comprovam o seu enraizamento no Brasil sem perder os vínculos com o país de origem são ainda mais acentuados nas últimas frases do documento, nas quais roga

“as autoridades dos

dois Paizes Portugal e Brazil A[cc]eitem Inde-

pendente de qualquer fiança em Juizo”37

Seja lá ou cá, notamos que o sentimento de gratidão a esta ou aquela pessoa era comum a todas as nacionalidades. Em cada um dos gráficos abaixo está a presença de pelo menos um elemento que não está inserido na relação de herdeiros forçados (pais, filhos e cônjuge).

36 Idem

37 ATJSP/CEDHAL. 3º Ofício da Família. Testamento de Jose Marques da Cruz. 10/03/1857. nº do

(21)

Gráfico 10

Relação de herdeiros - portugueses (São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

12,93% 12,93% 6,90% 5,17% 4,31% 2,59% 2,59% 2,59% 2,59% 1,72% 1,72% 1,72% 1,72% 1,72% 1,72% 1,72% 1,72% 22,41% 3,45% 2,59% 2,59% 2,59%

Cônjuge Filhos Afilhados

Irmandade de N. Sra. da Boa Morte Mãe Santa Casa de Misericórdia Pai Irmandade de N. Sra. Do Remédio Diligência de N. Sra. da Luz Igreja de N. Sra. do Rosário dos Pretos Ordem 3a de n. Sra. Do Carmo Testamenteiro

Irmãos Irmandade do Santíssimo Sacramento Irmandade de São Pedro Capela de N. Sra. Da Consolação Igreja de São Gonsalo Capela de N. Sra. Da Conceição

Cunhados Amigos Escravos

Outros

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878. Gráfico 11

Relação de herdeiros - alemães

(São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878

10,00% 10,00% 10,00% 10,00% 60,00% Filhos Netos Pai Governanta Cônjuge

(22)

Gráfico 12

Relação de herdeiros - prussianos

(São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878

36,36% 18,18% 9,09% 9,09% 9,09% 9,09% 9,09% FilhosCônjuge Vizinha Escravos Neta Afilhada Somente nome

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878. Gráfico 13

Relação de herdeiros - franceses

(São Paulo, Capital e Interior, 1827-1878)

33,33% 22,22% 22,22% 11,11% 11,11% Cônjuge Filhos Afilhada Irmã Somente nome

FONTE: ATJSP/CEDHAL. Testamentos. 3º Ofício da Família. SP: (Capital e Interior), 1827-1878.

De toda forma, partindo das mais diversas localidades os estrangeiros migravam com a perspectiva de realizar sonhos ou, ao menos, ter uma vida melhor. Alcançando ou não seus tão almejados objetivos, o certo é que adotaram estratégias de sobrevivência que envolviam relações de sociabilidade direcionadas não somente aos membros da família nuclear, mas alargando-se ao âmbito dos demais parentes, amigos, compadres, comadres e vizinhos. Assim, os momentos que acercavam a morte eram ideais para demonstrar o carinho e a gratidão sentidos com relação a estes entes queridos, os quais tanto os ajudaram em sua trajetória no Brasil, assim como as contendas e problemáticas que não deixavam de entremear seu íntimo.

(23)

Fontes e bibliografia Fontes manuscritas

Testamentos. Arquivo do Tribunal de Justiça/ CEDHAL. 3º Ofício da Família.

Província de São Paulo, 1827-1878.

Fontes impressas

Código Philippino ou Ordenações do Reino de Portugal, recopiladas por mandado

D´El –Rey D. Philippe I. Rio de Janeiro: Typographia do Instituto Philomatico, 1870.

Bibliografia

ALMEIDA, Ângela Mendes de et alii. Pensando a família no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e tempo/UFRJ, 1987.

ARIÉS, Philippe. O homem diante da morte. vol. II. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

CASTRO, Hebe M. Mattos de. Laços de família e direitos no final da escravidão IN Novais, Fernando A. (dir.). História da vida privada no Brasil. v. 02. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

DIAS, Maria Odila Leite da. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1995.

FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. Barrocas famílias: vida familiar em

Minas Gerais no século XVIII. São Paulo: Hucitec, 1997.

FOUQUET, Carlos. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil

(1808-1824-1974). São Paulo: Instituto Hans Staden/ Federação dos Centros Culturais, 1974.

KUZNESOF, Elizabeth Anne. A família na sociedade brasileira: parentesco,

clientelismo e estrutura social (São Paulo, 1700-1980) IN SAMARA, Eni de Mesquita

(org.). Família e grupos de convívio. Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH/Marco Zero. v. 9. nº 17. set/1988 a fev/1989.

LEVY, Maria Stella Ferreira e SCARANO, Julita. O imigrante em São Paulo:

casamento e nupcialidade IN Revista População e Família. nº 02. São Paulo:

CEDHAL/Humanitas/FFLCH, 1999.

LEWKOWICZ, Ida. Herança e relações familiares: os pretos forros nas Minas Gerais

do século XVIII IN Revista Brasileira de História. v. 9. nº 17. set/88 a fev/89.

LOPES, Eliane Cristina. O revelar do pecado: os filhos ilegítimos na São Paulo dos

século XVIII. Dissertação de mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo/FFLCH,

(24)

LUNA, Francisco Vidal e KLEIN, Hebert S. Características da população em São

Paulo no início do século XIX IN Revista População e Família. nº 03. São Paulo:

CEDHAL/Humanitas/FFLCH, 2000.]

MATTOSO, Kátia de Queirós. Família e sociedade na Bahia do século XIX. São Paulo: Corrupio, 1988.

MESGRAVIS, Laima. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (1599-1884). São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1976.

MIALHE, Jorge Luís. Cidadãos de dois mundos. Imigração francesa e dupla

nacionalidade na região de Piracicaba: aspectos histórico-jurídicos. Tese de

doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1997.

NAZZARI, Muriel. A viúva como obstáculo aos negócios: objeções britânicas às leis

brasileiras sobre casamento e herança IN Revista População e Família. São Paulo:

CEDHAL/Humanitas/FFLCH, 2000.

_______________. Dotes paulistas: composição e transformações (1600-1870) IN

Revista Brasileira de História. v. 09. nº 17. set.1988/fev.1989.

RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo no Brasil monárquico: 1822-1888. São Paulo: Pioneira, 1973.

SAMARA, Eni de Mesquita. As mulheres, o poder e a família (São Paulo, século

XIX). São Paulo: Marco zero/Secretaria do Estado da Cultura, 1989.

_______________________. Casamento e papéis familiares em São Paulo no século

XIX IN Revista de estudos e pesquisas em educação. nº 37, maio de 1981.

_______________________. Família e vida doméstica no Brasil: do engenho aos

cafezais. Estudos do CEDHAL nº 10. São Paulo: CEDHAL/Humanitas/FFLCH, 1999.

_______________________. Mistérios da “fragilidade humana”: o adultério feminino

no Brasil, séculos XVIII e XIX IN Revista Brasleira de História. vol. 15, nº 29. 1995.

_______________________. Portugueses do Porto no Brasil: vivências, integração e

mobilidade. Comunicação apresentada nas IV jornadas de relações internacionais O

Porto, metrópole atlântica e européia. 02 a 04 de maio de 2001.

SCOTT, Ana Silvia Volpi. As diferentes formas de organização familiar em Portugal

(séculos XVIII e XIX). Comunicação apresentada à mesa redonda história e família .

Brasil 500 anos : a historiografia brasileira em debate. São Paulo: Centro de Estudos

de Demografia Histórica da América Latina (CEDHAL), 19 e 20 de maio de 1999. _____________________. Famílias, formas de união e reprodução social no

noroeste português (séculos XVIII e XIX). Guimarães: NEPS/ Universidade do

(25)

SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Documentos para a história da imigração

portuguesa no Brasil (1850-1938). Rio de Janeiro: Nórdica Ltda., 1992.

_____________________________. Sistema de casamento no Brasil colonial. São Paulo: T.A. Queiroz/ EDUSP, 1984.

Referências

Documentos relacionados

O chefe de gabinete do Superintendente Regional da FUNAI disse que os Waimiri-Atroari tinham conhecimento da série de matérias intituladas "Os Índios na nova Constituição",

Kita vertus, sergant LOPL, ypaè po virusiniø kvëpavimo takø ligø, gali iðryðkëti bronchø astmos klinika.. Taigi pacientas gali sirgti

Mover (ou não) as linhas de base: as consequências da elevação do nível dos oceanos sobre as zonas marítimas dos pequenos estados insulares em desenvolvimento e as alternativas

Embora cresça no país o número de pesquisas sobre educação ambiental em escolas e comunidades, patrocinadas por secretarias municipais ou estaduais e

Seus objetivos específicos são: enfatizar as implicações da implementação e impactos dos projetos sociais, considerando a desigualdade social e as demandas de

Se a pessoa do marketing corporativo não usar a tarefa Assinatura, todos as pessoas do marketing de campo que possuem acesso a todos os registros na lista de alvos originais

No Ocidente, a China recebe a maior parte das atenções; a Índia tem sido lar- gamente ignorada, sobretudo na Europa.. Aliás, a Índia é a grande omissão das

Sem nunca perder de vista as dificuldades his- tóricas salientadas por Scruton, Zakaria responde à questão através da apologia do liberalismo constitucional (não confundir com