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Juventude e projetos de futuro : possibilidades e sentidos do trabalho para os estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes)

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA. TEREZINHA DE JESUS LYRIO LOUREIRO. JUVENTUDE E PROJETOS DE FUTURO: POSSIBILIDADES E SENTIDOS DO TRABALHO PARA OS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES). VITÓRIA 2013.

(2) TEREZINHA DE JESUS LYRIO LOUREIRO. JUVENTUDE E PROJETOS DE FUTURO: POSSIBILIDADES E SENTIDOS DO TRABALHO PARA OS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES). Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Psicologia do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Profª. Drª. Maria das Graças Barbosa Moulin.. UFES Vitória, agosto de 2013..

(3) TEREZINHA DE JESUS LYRIO LOUREIRO. JUVENTUDE E PROJETOS DE FUTURO: POSSIBILIDADES E SENTIDOS DO TRABALHO PARA OS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre.. Aprovada em _____ de agosto de 2013. COMISSÃO EXAMINADORA. _______________________________________ Profª. Drª. Maria das Graças Barbosa Moulin Universidade Federal do Espírito Santo - UFES Orientadora _______________________________________ Profª. Drª. Silvia Rodrigues Jardim Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ _______________________________________ Prof. Dr. Thiago Drumond Moraes Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. _______________________________________ Profª. Drª. Luziane Zacché Avellar (suplente) Universidade Federal do Espírito Santo - UFES _______________________________________ Prof. Dr. Luiz Henrique Borges (suplente) Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória - EMESCAM.

(4) Ao meu filho, Lorenzo, razão da minha alegria. Aos meus pais, Dirceu e Alice, por minha vida. Aos meus irmãos, Sebastião e João Hermínio, pelo carinho e apoio de sempre..

(5) AGRADECIMENTOS. À minha orientadora Maria das Graças Moulin, com quem aprendi muito ao longo desses anos. Minha gratidão por me apresentar o mundo do trabalho e ter paciência em me conduzir até aqui. Seus ensinamentos seguirão comigo, sempre! Ao meu filho, Lorenzo, meu querido Lolô, a quem muito amo, meus agradecimentos e minhas desculpas! Parafraseando uma manifestação (carinhosa) dele: “A gente tem altos e baixos, mas continuamos nos amando, né!?” À minha mãe, Alice Lyrio Loureiro, que partiu cedo, mas me deixou o melhor dos exemplos para a construção do meu futuro: com fé, esforço e simplicidade a gente faz acontecer tudo! Ao meu pai, Dirceu Máximo Loureiro, que me ensinou ser importante e necessário ajudar o outro, acreditar nas pessoas, preciso viver todos os dias com bom humor, humildade, carinho, respeito e amor. Ao meu irmão, João Hermínio Lyrio Loureiro (Mano), que sempre torceu por mim, de longe e perto, sempre! Por ter me ensinado que coincidências não existem e por acreditar na vida que segue! Acho que cheirar talco na infância deu certo... Ao meu irmão Sebastião Lyrio Loureiro, que me apresentou a Psicologia, e, mesmo longe, tenho a certeza de que a torcida foi válida. À minha cunhada Cassia Venturin, que cuidou de Lolô nas minhas viagens para longe, para perto, até mesmo sem sair do lugar, para que eu estudasse um pouco mais. Às minhas sobrinhas e “filhotas do coração” Julia e Joana, que, ao meu lado, sempre me fizeram acreditar no futuro, no sorriso, na juventude. Agradecimentos, eternos, por cuidarem de Lolô na minha ausência, na minha presença e, também, de mim. À Sirley Trugilho , pelo incentivo para ingressar no mestrado, permanecer nele e concluí-lo. Sem a ajuda dela nada disso aconteceria. Minha admiração pelo seu profissionalismo, determinação e pela sabedoria de conduzir, com primazia e carinho, a amizade com uma escorpiana. À Grace Kelly Filgueiras, minha querida Super Poderosa, pela paciência, ajuda e amizade! À Sheila Domingues, outra Super Poderosa, em quem me espelhei durante esta caminhada. Ela é um exemplo a ser seguido: de paciência, persistência e serenidade. Obrigada pelo carinho e prontidão em me ajudar!.

(6) À Manoela Pagotto, minha querida Manu, pelo carinho. Foram tantas emoções vividas pelas trocas de livros, artigos, ideias, angústias e sorrisos! Em Vitória, Anchieta, Iriri, Recife... Longe ou perto, nossa amizade permanecerá! À Arielle Scarpat, minha companheira de viagem! Ir a Portugal com ela foi um evento à parte, Que a vida nos proporcione mais encontros, aqui, ali ou acolá! À Lucia Fajóli, por sua disposição e prontidão em ajudar sempre! Sentirei saudades! À Neusinha e Marilda, que cuidaram da minha casa e do meu filho na minha ausência e na minha presença-ausente! Não tenho palavras para agradecer quão importantes vocês foram para mim nesta caminhada! Que Deus as abençoe, sempre! À Faculdade de Tecnologia Faesa – Cetfaesa – em especial, James Alexandre Zumerle Theodoro, Luiz Claudio Monjardim e Adiléa Bulhões. Meus agradecimentos, também, aos meus colegas professores e funcionários administrativos. Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, por proporcionar a realização deste estudo e pela oportunidade de crescimento profissional. Ao diretor do Ifes, professor Ricardo Paiva, por acreditar e viabilizar todas as etapas da pesquisa. Agradeço, imensamente, seu carinho e atenção! A Hudson Luiz Cogo e Kefren Calegari dos Santos , pelo incentivo, pela colaboração e pelo carinho. À Norma Suely Machado dos Santos e Danusa Simon Robers, pelo exemplo de dedicação ao trabalho, pela prontidão e disposição. À Alzira Soares, Dalva Rodrigues, Eloá Custódio e Raphael Gabrieli, pela força, pela amizade e pelo carinho! À Camila Belizário, no contato com os jovens estudantes. Às professoras do PPGP: Cristina Menandro, Zeidi Trindade e Edinete Rosa, que fizeram parte desta trajetória desde a graduação. Ao professor Thiago Drummond, que me acolheu como aluna ouvinte nas disciplinas da graduação e que muito contribuiu para a conclusão deste estudo com suas valiosas sugestões e orientações. Ao professor Luiz Henrique Borges, que participou do exame de qualificação e colaborou com seus ensinamentos e suas experiências no campo do trabalho..

(7) Aos meus amigos e familiares, de longe e de perto, que torceram por mim, me incentivaram e entenderam a minha vida de nerd durante esses anos. Agradeço de forma especial aos estudantes do Ifes/campus Vitória que participaram das entrevistas e me receberam com atenção e disposição, compartilhando suas dúvidas e incertezas, com bom humor e esperança de um mundo melhor. A Deus, por minha vida! Por me dar paciência nos momentos difíceis, por me dar fé nos momentos de desânimo, por me dar sabedoria nos momentos instáveis e por escutar as minhas preces sonolentas e apressadas! Que a Ele, cada dia, eu saiba agradecer mais e mais!.

(8) Semente do Amanhã (Gonzaguinha) Ontem um menino que brincava me falou que hoje é semente do amanhã... Para não ter medo que este tempo vai passar... Não se desespere não, nem pare de sonhar. Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs... Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar! Fé na vida, fé no homem, fé no que virá! Nós podemos tudo, Nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será.. [...] o trabalho não é só um dever, mas um direito, pois através dele o homem é homem, se faz, aparece; enquanto cria, entra em relação com os outros, com o seu tempo, cria o seu mundo, se torna reconhecido e deixa impressa no planeta em que vive a marca de sua passagem. (Suzana Albornoz).

(9) RESUMO O mundo do trabalho vem se transformando nas últimas décadas, apoiado em novas tecnologias de informação e comunicação e novas formas de gestão organizacional. Tais transformações resultaram, entre outros efeitos, na diminuição do operariado industrial, no aumento do setor serviços, no ingresso acentuado de mulheres na força de trabalho e, principalmente, em maior desemprego, em precarização do trabalho e intensificação da jornada dos que se encontram empregados. Alguns autores chegam a questionar a centralidade do trabalho. Partindo do pressuposto que o trabalho ainda é fonte de significação e de valoração da vida pessoal e social, interrogamo-nos como é que os jovens se posicionam ante essas questões,. mesmo imersos num. mundo de incertezas e fluidez. Por isso, a pesquisa teve como objetivo conhecer e analisar os significados do trabalho de 16 jovens estudantes, de ambos os sexos, com idade entre 16 e 19 anos, concluintes dos cursos do Ensino Médio Integrado de Edificações, Eletrotécnica, Estradas e Mecânica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes). Utilizando abordagem qualitativa e tendo como instrumento entrevistas semiestruturadas, os depoimentos desses jovens estudantes foram analisados pelo método de interpretação de sentidos, de acordo com a construção de suas trajetórias e seus projetos de vida. As principais temáticas apresentadas e analisadas foram estas: (1) os projetos de vida relatados pelos jovens estudantes que apontam uma associação entre estudo e trabalho, ou seja, os jovens têm o seu cotidiano permeado pela vida escolar visando ao ingresso futuro no mundo do trabalho; (2) a aspiração de ingressar na universidade como um meio de galgar uma vida profissional valorizada, o que requer esforço e dedicação por meio da realização do exame vestibular; (3) baseando-se nas novas exigências do mercado de trabalho e tendo o trabalho dos pais como referência, o sentido do trabalho é apresentado e questionado pelos participantes, ora como um dever, ora como natureza humana, ora como via de realização de desejos e realização pessoal; (4) o “tempo livre” não é sinônimo de lazer e descanso, sendo muitas vezes utilizado com atividades de aprendizagem para reforçar as obrigações escolares. O futuro se apresenta como uma gama de oportunidades e como fonte de incertezas. Pudemos.

(10) observar que a atividade de trabalho está no centro da vida e das atividades desses jovens, por meio da preparação para uma futura profissão, ancorando outros projetos como possibilidade de viagens, de realização e mesmo de sobrevivência.. Palavras-chave: jovens estudantes, trabalho, projetos de vida, ensino profissional..

(11) ABSTRACT The world of work has been transformed in recent decades, supported by new information and communication technologies and new forms of organizational management. Those changes resulted, among other effects, on the decrease in industrial workers, the increase in the services’ sector, the marked entry of women. into. the. workforce. and particularly in. higher unemployment,. precariousness of work and intensification of the journey of those who are employed. Some authors even question the centrality of labor. Supposing that work is still a source of meaning and valuation of personal and social life, we wonder how young people position themselves at those issues, even immersed in a world of uncertainty and fluidity. Therefore, the research aimed to identify and analyze the significance of work to 16 young students of both sexes, aged between 16 and 19 years, graduating from technical courses in Building, Electrical-Technic, Mechanics and Roads integrated with High School at the Institute Federal Education, Science and Technology of Espírito Santo (Ifes). Using a qualitative approach, taking semi-structured interviews as a tool, the testimony of these young students were analyzed by the method of interpretation of meanings, according to the construction of their careers and their life projects. The main topics presented and discussed were the following: (1) life projects reported by the young students show an association between study and work, that is, young people have their day-to-day permeated by a school life aiming at the future entry into the labor, (2) the aspiration to joining a university as a means to ascend to a valued professional life, which requires effort and dedication to take a university entrance exam , (3) based on the new requirements of the labor market and taking their parents work as reference, the meaning of work is presented and questioned by the participants, either as a duty, or as human nature, sometimes as a means of wish fulfillment and personal achievement, (4) the "free time" is not synonymous with leisure and rest, often used with learning activities to boost school’s obligations. Future is presented as a range of opportunities and a source of uncertainty. We observed that the work activity is the center of life and activities of these youths, by way of preparing for a future career, anchoring other projects as the possibility of travel, realization and even survival. Keywords: young students, work, life projects, and professional education..

(12) LISTA DE SIGLAS. Cefet – Centros Federais de Educação Tecnológica Cefetes – Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo Cerests – Centros de Referência de Saúde do Trabalhador Diesat – Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho ETFES – Escola Técnica Federal do Estado do Espírito Santo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Ifes – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LBD – Lei das Diretrizes e Bases da Educação MEC – Ministério da Educação OIT – Organização Internacional do Trabalho ONU – Organização das Nações Unidas PEC – Proposta de Emenda à Constituição Proep – Programa de Expansão da Educação Profissional.

(13) SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.............................................................................................15 1 PSICOLOGIA E TRABALHO.........................................................................17 2 O TRABALHO E SEUS SENTIDOS NA HISTÓRIA......................................20 3. AS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO NO CAPITALISMO............................................................................................25 3.1 O TRABALHO SE TRANSFORMA: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À ERA DA INFORMAÇÃO.............................................................................................25 3.2 O NOVO MUNDO DO TRABALHO NO CAPITALISMO: FLEXÍVEL, GLOBALIZADO E HETEROGÊNEO.................................................................27 4 A CENTRALIDADE DO TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE...........33 5 A JUVENTUDE CONTEXTUALIZADA: SINGULAR E PLURAL..................38 6 O NOVO TRABALHADOR: EXIGÊNCIAS E EXPECTATIVAS NO MUNDO DO TRABALHO................................................................................................41 7 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO – IFES.................................................................................44 8 JUSTIFICATIVA.............................................................................................49 9 OBJETIVOS...................................................................................................51 9.1 OBJETIVO GERAL......................................................................................51 9.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................51 10 METODOLOGIA..........................................................................................52 10.1 PARTICIPANTES......................................................................................53 10.2 INSTRUMENTOS......................................................................................53 10.3 PROCEDIMENTOS...................................................................................54 10.4 ASPECTOS ÉTICOS.................................................................................54 10.5 ANÁLISE DOS DADOS.............................................................................55 11. RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................56 11.1 CURSOS DO ENSINO MÉDIO INTEGRADO DO IFES............................56.

(14) 11.2 OS JOVENS ESTUDANTES E SUAS CARACTERÍSTICAS ...................58 11.2.1 Faixa etária............................................................................................58 11.2.2 Naturalidade e residência....................................................................58 11.2.3 Escolaridade dos pais e renda familiar..............................................58 11.2.4 Proveniência dos estudantes..............................................................59. 11.3 JOVENS ESTUDANTES E SEUS PROJETOS DE VIDA........................59 11.3.1 Projeto de vida: a escolha do Ifes como estratégia..........................60 11.4. O TRABALHO COMO HORIZONTE.........................................................63 11.4.1. Exame vestibular como acesso à universidade................................64 11.4.2. A escolha profissional: (i)maturidade e (in)certezas........................67 11.4.3. Estágio e novas exigências do mercado de trabalho.......................70 11.5. A QUESTÃO DO TRABALHO ..................................................................73 11.5.1. O trabalho em questão........................................................................73 11.5.3.1. O trabalho dos pais como referência..................................................78 11.6 “TEMPO LIVRE” EM TEMPOS GLOBALIZADOS E OUTRAS PERSPECTIVAS................................................................................................82 11.6.1 Lazer e sociabilidade: o uso do tempo livre.......................................82 11. 6. 2 2 A juventude, o futuro e suas possibilidades.................................85. 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................88 13 REFERÊNCIAS............................................................................................90 APÊNDICES......................................................................................................99 APÊNDICE A – ROTEIRO DE QUESTÕES PARA ENTREVISTA.................100 APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO..101 APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PAIS......................................................................................................103.

(15) 15. APRESENTAÇÃO Concluí o curso de Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em 1993, e comecei minha inserção profissional desempenhando atividades relacionadas à área da Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, mas o meu percurso profissional direcionou-me à área da Psicologia do Trabalho e Saúde do Trabalhador, inclusive no exercício da atividade em docência.. Em 1995 ingressei no mundo do trabalho, como psicóloga, em uma escola agrotécnica federal localizada no Estado do Espírito Santo e atualmente atuo, na mesma função, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes). Minhas atividades no Serviço de Psicologia, inicialmente, estavam relacionadas à área de ensino, mais especificamente ao atendimento aos alunos da antiga Escola Técnica Federal do Espírito Santo. Geralmente, eles eram encaminhados pela supervisão pedagógica ou procuravam o Serviço de Psicologia em busca de orientação profissional, entre outras demandas. Com o passar do tempo e a chegada de uma colega de profissão, minha atuação foi direcionada para atender outro público, igualmente relevante, nessa instituição de ensino: os servidores técnico-administrativos e professores.. Por esse motivo, o interesse em investigar a articulação entre trabalho e juventude, temática desenvolvida na perspectiva da Psicologia Social, decorre desses dois momentos da minha atuação como psicóloga nessa instituição; anteriormente, pelos alunos em busca de respostas sobre carreiras, profissões e mercado de trabalho e, atualmente, pelos servidores insatisfeitos com os processos de trabalho em constante transformação, causando-lhes descontentamento quanto ao trabalho executado, entre outras queixas relacionadas à atividade laboral. Acredito que seja necessário e urgente analisar o trabalho, suas relações, transformações e seus significados, bem como sua importância para os jovens em busca de oportunidades no mundo do trabalho..

(16) 16. Tendo por referência esses dois momentos de minha experiência profissional – por um lado, os jovens com dúvidas e incertezas quanto ao seu futuro; por outro, os trabalhadores descontentes quanto ao presente trabalho –, instigou-me a ideia de conhecer o que pensa o jovem que um dia virá a ser provavelmente um trabalhador. Torna-se relevante confrontar os anseios e esperanças de vida desses jovens quanto ao imperativo social relacionado ao trabalho. Muitas dúvidas permeiam o assunto, até mesmo sobre qual seria o significado que, nos dias de hoje, os jovens atribuem à atividade de trabalho.. Para Minayo (2010), a pesquisa tem o propósito de vincular pensamento e ação porque as questões de investigação estão relacionadas a circunstâncias e interesses socialmente condicionados. Assim, o interesse em estudar trabalho e juventude decorre da minha prática profissional, pois “nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática” (MINAYO, 2010, p. 16, grifos do autor)..

(17) 17. 1. PSICOLOGIA E TRABALHO. O trabalho tem passado por mudanças ao longo das últimas décadas, e a Psicologia, inserida no contexto contemporâneo, acompanha essas modificações, as quais se encontram atreladas às questões políticas, econômicas e sociais. Trabalho e Psicologia, de forma dialética, são alterados no decurso do tempo. A Psicologia, ao longo da história do mundo ocidental, tem muito que contribuir para melhor compreensão das transformações ocorridas no mundo do trabalho; portanto, à medida que a sociedade muda, tais contribuições acompanham essas mudanças. São colocadas novas questões com as quais surgem novos desafios (VERONA, 2010).. Para Sato (2003), trabalho e organizações constituem objeto de investigação e de práticas para a Psicologia em duas vertentes: a Psicologia do Trabalho e das Organizações e a Saúde do Trabalhador.. A primeira perspectiva, construída historicamente e reconhecida socialmente, legitima-se como Psicologia do Trabalho e das Organizações. Essa vertente é uma articulação entre a administração e a engenharia, por isso está associada com demandas gerenciais e, consequentemente, “solicita da Psicologia uma abordagem de recursos humanos, a partir do espraiamento nos locais de trabalho dos princípios da administração científica de F.Taylor [...]” (SATO, 2003, p. 167-168).. O movimento da gerência científica, inaugurado por Taylor nas últimas décadas do século XIX, significa a aplicação dos métodos ditos científicos aos problemas relativos ao controle do trabalho nas indústrias capitalistas, então em crescente expansão. Braverman (1986) aponta a relevância dos princípios tayloristas no delineamento da empresa moderna, bem como de todas as instituições pertencentes à sociedade capitalista que executam os processos de trabalho. Entretanto, não se podem reduzir tais princípios ao cronômetro, aceleramento, tempo x movimento e o homem certo no lugar certo, porque “além dessas trivialidades reside uma teoria que.

(18) 18. nada mais é que a explícita verbalização do modo capitalista de produção” (p. 83). O autor destaca que o trabalho, baseado na lógica capitalista, é organizado conforme os princípios tayloristas, enquanto os departamentos de pessoal se ocupam com seleção, manipulação, adestramento, pacificação e ajustamento da mão de obra com o propósito de adaptá-la aos processos de trabalho.. Por isso, reconhecida como Psicologia do Trabalho e das Organizações, essa vertente, que é vista como “uma psicologia voltada para a gestão de recursos humanos” (SATO, p. 168), é a mesma que mantém sua hegemonia até os dias de hoje.. A segunda vertente importa-se com problemas humanos e sociais no ambiente de trabalho e fora dele e é baseada nos preceitos da psicologia social, pois “interessa compreender fenômenos como: identidade, processos de interação social, processos de percepção e de cognição social e a subjetividade” (SATO, p. 169). Essa vertente, mediante a articulação entre a psicologia social, a medicina latinoamericana e a saúde coletiva, vai emergir, do ponto de vista dos trabalhadores, valorizando sua vivência, o trabalho e seus processos organizativos e a própria transformação do trabalho.. No final da década de 70, a começar do reaparecimento do movimento sindical, a Saúde do Trabalhador no Brasil assume um novo desenho. Dessa forma, no Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat), diversos profissionais têm um novo olhar em relação ao mundo do trabalho por meio de questões relacionadas à saúde. Na década de 80 surgem Programas de Saúde do Trabalhador implantados por intermédio das Secretarias Estaduais de Saúde e os Centros de Referência de Saúde do Trabalhador (Cerests) nas esferas estadual e municipal. De acordo com Sato (2003), “o pressuposto então adotado para essa vertente da psicologia inserida no campo da Saúde do Trabalhador toma como central o direito à saúde e à cidadania” (SATO, 2003, p. 171). No campo da Saúde do Trabalhador, a medicina social latino-americana vai oferecer suporte teórico, bem como articular um.

(19) 19. diálogo multidisciplinar, proporcionando compreender o processo saúde/doença, como histórico, por meio do conceito do processo de trabalho.. Atualmente, emerge, no campo da Psicologia Organizacional, uma prática dita nova, a chamada “Qualidade de Vida no Trabalho”, que inclui práticas de ginástica laboral, alimentação balanceada, entre outras. Tais práticas apontam uma compreensão da saúde do trabalhador como um recurso necessário para garantir a produtividade, o que difere, radicalmente, da perspectiva adotada pela Saúde do Trabalhador (SATO, 2003).. A despeito das dificuldades relacionadas à temática trabalho e saúde, entendemos como Jacques (2010) que é possível “avançar na construção teórica e de propostas de intervenção que levem em conta a complexidade da categoria trabalho. Enfim, avançar no campo da saúde do trabalhador [...]” (p. 107).. Por muito tempo, a Psicologia não se preocupou com a relação trabalho/saúde e, no início de seu percurso, voltou-se, principalmente, para a classificação dos indivíduos em aptos ou inaptos, saudáveis e não saudáveis, atentos ou desatentos diante do cotidiano de trabalho, desconsiderando a subjetividade do trabalhador. Dessa maneira, “a Psicologia debruçou-se mais para a produção em busca de resultados, do que para o trabalho e os/as trabalhadores/as” (GRISCI e LAZZAROTTO, 1998, p. 230). As autoras ressaltam que existe uma ideia, ainda vigente, de uma Psicologia demarcada em áreas de atuação específicas, marcada por estereótipos.. Cabe, portanto, à Psicologia, como psicologia crítica do trabalho, proporcionar a busca por novas possibilidades, pelo respeito das singularidades e pela compreensão de que o trabalho também pode ser uma experiência com sentidos e significados e isso se mostra urgente..

(20) 20. 2. O TRABALHO E SEUS SENTIDOS NA HISTÓRIA O trabalho, como fato social, adquire novas formas, novos sentidos e contribui para a produção da história. Ao analisar a trajetória da história, observa-se que não existe um trabalho que atravessa o tempo; portanto, importa analisar as atividades que deram origem a diversos conceitos sobre o trabalho e buscar compreender seus diversos sentidos (GONDAR, 1989).. Recorremos à polissemia que envolve o vocábulo trabalho, pois, na linguagem cotidiana, ele apresenta vários significados demonstrando uma oscilação em seu conteúdo. Dessa forma, Albornoz (2008) ressalta que a palavra trabalho aparece, “às vezes, carregada de emoção, lembra dor, tortura, suor do rosto, fadiga. Noutras, mais que aflição e fardo, designa a operação humana de transformação da matéria natural em objeto de cultura” (p. 8).. Assim como o trabalho, trabalhar tem mais de uma significação em quase todas as línguas de cultura europeia, como o grego, latim, francês, italiano, espanhol, inglês e alemão. Em português, embora haja labor e trabalho, a palavra trabalho possui ambas as significações: “a de realizar uma obra que te expresse, que dê reconhecimento social e permaneça além da tua vida; e a de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incômodo inevitável” (ALBORNOZ, 2008, p. 9). Em nossa língua, o vocábulo trabalho se origina do latim tripalium1, do verbo tripaliare, que significa torturar. De acordo com Albornoz (2008), a palavra trabalho, associada ao uso desse instrumento como meio de tortura, por muito tempo significou algo como cativeiro e padecimento.. Mesmo mantendo ainda parte dessa conotação, ao longo dos anos a construção da rede semântica do trabalho com o acréscimo de esforçar-se, obrar e laborar,.

(21) 21. decorrente de uma transformação do sentido do trabalho, alterou o conteúdo semântico de sofrer; laborar, no sentido de esforço e cansaço, e obrar como realização da obra. A atividade se transforma, e os significados também.. Apresentamos as alterações do vocábulo trabalho a respeito de significação. Mas, para entender tais transformações, é preciso compreender o contexto em que elas ocorrem. As variações histórico-político-sociais são específicas de cada época e originam diferentes configurações de trabalho, visto como objeto histórico (GONDAR, 1989).. Gondar (1989) apresenta três dessas configurações: a primeira refere-se à Grécia Antiga em um momento em que não existe a categoria trabalho; a segunda aponta uma concomitância entre o surgimento do trabalho e o nascimento da disciplina; a terceira apresenta uma nova concepção de homem, tendo o trabalho como atividade humana central, desde a revolução burguesa.. Na Grécia Antiga, não existia uma palavra para designar trabalho. A diversidade de tarefas presentes nessa sociedade era tamanha, que seria impossível unificá-las, subsumidas como categoria única, o trabalho humano, como é para o mundo ocidental. A agricultura e o artesanato referem-se a dois tipos de atividades que podem demonstrar o grau de diversidade das tarefas praticadas no mundo grego (GONDAR, 1989).. A atividade agrícola não era considerada como trabalho nem vista como comércio entre os homens. Tal atividade, por estar ligada ao cultivo da terra, era concebida como um comércio com os deuses, apresentando-se mais como forma de conduta religiosa do que como ideia de profissão. “Na cultura dos cereais, é por meio de um esforço e de uma fadiga estreitamente reguladas que o homem entra em contato com as força divinas” (GONDAR, 1989, p.25). Para os gregos, a atividade na agricultura não era uma ação sobre a natureza a fim de transformá-la, pois o valor conferido ao trabalho da terra era como um elo estabelecido com a divindade, já que os deuses dirigiam a fertilidade da terra (ALBORNOZ, 2008). 1. Tripalium – instrumento usado no trabalho do agricultor – era feito de três paus aguçados, às vezes com pontas de ferro, para rasgar e esfiapar o trigo, o linho e as espigas de milho..

(22) 22. Quanto ao artesanato, as capacidades da profissão do artesão estavam subordinadas à sua obra e, consequentemente, esta se encontrava “inteiramente submissa à necessidade do usuário” (GONDAR, 1989, p. 25). A esse respeito fala Albornoz (2008, p. 45): A causa real da fabricação não está na vontade ou na força do artesão, mas fora dele, no produto feito, no fim a que se dirige a atividade. A essência de um objeto é a perfeita adaptação de todas as suas partes ao uso que se quer, à necessidade que se deseja atender com aquele objeto.. A atividade artesanal distinguia os homens, não os tornava iguais, mas, por estar submetida à vontade alheia, era desvalorizada na cultura grega antiga. A autora ainda ressalta: [...] E uma vez que se aliena na forma concreta do produto e em seu valor de uso, o trabalho do artesão se manifesta para os gregos como serviço de outrem e, assim, um trabalho escravo. À mercê do usuário e servidor de um modelo que é uma norma, o artesão representa o papel de mero instrumento destinado a satisfazer as diferentes necessidades do usuário. (ALBORNOZ, 2008, p. 46).. A cidade grega, o espaço da polis, era o lugar onde cidadãos livres debatiam as suas questões; o exercício do debate dos problemas da polis definia-se como atividade significativa para o homem livre. Sendo assim, somente a atividade intelectual, destinada para a filosofia e para a política, era valorizada, diferindo das outras atividades, apresentadas anteriormente, consideradas desprezíveis e realizadas pelos escravos. A divisão entre as atividades intelectual e manual marcava uma sobrevalorização da primeira sobre a segunda, e tal classificação, herdada por nós, é inscrita no contexto atual.. A segunda concepção do trabalho ocorre por volta do século III da Era Cristã e propõe uma nova administração do tempo, do corpo, dos desejos de das ações humanas; uma nova arquitetura do espírito. Era preciso enfraquecer a carne para elevar o espírito (GONDAR, 1989)..

(23) 23. Nos primórdios do cristianismo, o trabalho servia como expiação dos pecados, servia para “a saúde do corpo e da alma, e para afastar os maus pensamentos provocados pela preguiça e pela ociosidade” (ALBORNOZ, 2008, p. 51).. Gondar (1989) revela que, por volta do século IV, muitos cristãos seguiam para os desertos com o propósito de buscar a solidão e, com isso, dominar a carne; surgia, assim, o ascetismo. Com o passar do tempo e o aumento do número de ascetas solitários instalados nos desertos, nascia uma nova organização: a ordem monástica. Os monastérios ou mosteiros eram compostos por celas individuais isolando seus habitantes, os monges, com o propósito da meditação e do jejum. Para os monges, o trabalho, considerado obrigatório, era realizado somente para satisfazer as necessidades reais da comunidade e alternado com a oração. Era preciso realizar alguma atividade que enfraquecesse a carne, o trabalho, visto como dispêndio de energia e eliminação de qualquer desejo ou força presente no corpo. A prática das atividades realizadas pelos monges era regulada por intervalos de tempo: tempo de oração e tempo de trabalho, com isso, a disciplina e o tempo eram instaurados como princípios fundamentais para o funcionamento do mosteiro. Nesse contexto, o trabalho apresenta-se “como uma quantidade medida numa certa variável de tempo: o trabalho torna-se um meio de disciplinar e sincronizar as ações dos homens” (GONDAR, 1989, p. 28). A visão do trabalho como instrumento de salvação ultrapassa os muros do mosteiro e segue para a cidade. A tarefa monástica é a reabilitação espiritual do homem da cidade, já que, nesse período marcado pelas invasões bárbaras, a população necessitava de proteção: vidas degradadas em virtude dos saques, incêndios, fome e doença. A vida monástica proporciona a paz, a ordem, a proteção e a disciplina para os pecadores urbanos. Como o propósito da cidade medieval é viver uma vida cristã, o trabalho nada mais é do que um instrumento de salvação, logo: trabalhar é orar. Entretanto, nota-se que há um rompimento com o ideal ascético do monastério, o trabalho vai privilegiar a função de produção como meio de reconstrução das cidades para servir à Igreja – o crescimento urbano é sobreposto à mortificação da carne (GONDAR, 1989)..

(24) 24. A vida comunitária tomava forma por meio das guildas, “associações de ofício que propunham uma convivência fraterna e disciplinada entre indivíduos que exercessem uma mesma atividade profissional” (GONDAR, 1989, p. 29). Era nesse contexto que a Igreja Medieval estimulava o crescimento das cidades e conduzia a vida medieval para um período de grande prosperidade: a expansão do comércio, a acumulação de riquezas e o progresso técnico predominavam em toda parte. Com isso, surgia uma nova classe – a burguesia.. Chegamos à terceira concepção de trabalho, que inaugura uma nova concepção de homem desde a revolução burguesa. A classe burguesa precisa da religião do trabalho, na qual o tempo rege a vida da burguesia e a perda do tempo surge como o principal e o primeiro de todos os pecados (GONDAR, 1989; ALBORNOZ, 2008). Os interesses da burguesia – o novo império – se sobrepõem aos da igreja, da fé cristã e trazem a morte de Deus enquanto referencial central, tanto simbólico quanto político, econômico e social: “a fé e o dogma punham obstáculos no caminho dos novos desenvolvimentos, da expansão das indústrias, da plena realização dos ideais da classe burguesa” (GONDAR, 1989, p. 31). Com a morte de Deus, que não aconteceu de forma súbita2, o homem ocupa, com autoridade, a medida de todas as coisas, tornando-se senhor da natureza e base moral de uma nova sociedade. O trabalho tem o próprio homem em seu fundamento e a expressão de que “o trabalho enobrece o homem” se apresenta como resquícios do cristianismo adquirindo, em nossa sociedade, a forma do imperativo categórico: “é necessário trabalhar”. O trabalho, como fato social, instiga a necessidade de questionamento diante de uma realidade que apresenta o trabalho como fenômeno neutro e natural. Torna-se indispensável considerar trabalho e trabalhador, na nova ordem do trabalho, em uma perspectiva dinâmica contextualizada social e historicamente, e não somente na busca de maximizar a produção em menor tempo e tantas outras exigências baseadas na lógica do sistema capitalista.. 2. Para Gondar (1989), a Revolução Francesa funciona como marco de referência do início do processo da morte de Deus..

(25) 25. 3. AS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO NO CAPITALISMO. 3.1 O TRABALHO SE TRANSFORMA: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À ERA DA INFORMAÇÃO O mundo do trabalho é modificado em decorrência de algumas contradições advindas do modo capitalista de produção. Ao mesmo tempo que o trabalho é estruturante do ser social e fonte de humanização, com base na lógica do capital ele se torna alienado, degradado e estranhado (NAVARRO e PADILHA, 2007).. Albornoz (2008) informa que, desde o início da era moderna, são reconhecidos três estágios de desenvolvimento da tecnologia: o primeiro é a revolução tecnológica do século XVIII, com a invenção da máquina a vapor; o segundo é caracterizado pelo uso da eletricidade no século XIX; o terceiro, como estágio mais recente da evolução tecnológica, é representado pela automação, pela invenção do computador, conhecido como a terceira onda da Revolução Industrial, tendo início no século XX.. A Revolução Industrial, também denominada como a Primeira Revolução Industrial, ocorreu na Inglaterra, entre os séculos XVIII e XIX, provocando uma grande transformação no mundo do trabalho. A indústria têxtil, com sua produção em larga escala, foi o lugar pioneiro onde as máquinas movidas a vapor substituíram os trabalhadores – homens especializados – além de, contratando mulheres e crianças sob uma jornada diária de trabalho intensiva, representar uma mão de obra superexplorada (DECA, 2009; LUCA, 2001; PRONI, 2006). O modo de vida das pessoas foi transformado: a vida rural, campestre, cede lugar à vida urbana. Para retratarmos esse cenário, encontramos, nas palavras de Deca (2009, p. 28), as transformações da. vida. cotidiana provocadas pelo trabalho,. também em. transformação: As cidades, antes vilarejos voltados para o comércio, converteram-se em verdadeiras ‘florestas de chaminés’ de fábricas poluídas, onde uma grande multidão se acotovelava pelas ruas. Os relógios, antes existentes apenas nas torres das igrejas, multiplicaram-se e passaram a ditar o ritmo diário dos trabalhadores: o tempo passou a ser dinheiro. Assim, pode-se dizer que a Revolução Industrial.

(26) 26. produziu uma profunda modificação na vida das pessoas, em sua maneira de trabalhar, de viver; de se relacionar com os outros, de se divertir e, enfim, de compreender o mundo.. Com a Segunda Revolução Industrial, datada entre os séculos XIX e XX, a maquinaria espraia-se por outros países da Europa, América e Ásia (OLIVEIRA, 2006). Nessa fase, o ferro e o carvão foram substituídos pelo petróleo, pelo aço e pela eletricidade, “inaugurando a era das grandes empresas, baseadas em sofisticada tecnologia, controladas por engenheiros e administradores profissionais, com milhares de empregados e atuando em várias partes do planeta” (LUCA, 2001, p.98).. A automação, as tecnologias de informação e a globalização marcam o que já é conhecido como a Terceira Revolução Industrial. O mundo do trabalho também assume a forma do mundo hightech – todos conectados, homens e máquinas aumentando a produtividade e alterando o processo produtivo (LUCA, 2001).. Para Antunes (2005), em meio a tantas transformações, com a introdução das novas tecnologias e as complexificações decorrentes da nova divisão do trabalho nessa fase do capital mundializado, o trabalho não se tornou uma mera virtualidade, mesmo que venha passando por mudanças significativas. A globalização, que exerce grande influência sobre o mundo do trabalho, encontra-se (oni)presente nas mais diversas organizações, espalhadas pelos quatro cantos do planeta. O que se passa, então, com o mundo real do trabalho? Da General Motors à Microsoft, da Bennetton à Ford, da Toyota ao McDonald’s, será que o mundo produtivo e de serviços de fato não mais carece do trabalho vivo Este teria se tornado mera virtualidade? É ficção que a Nike se utiliza de quase 100 mil trabalhadores e trabalhadoras, esparramados em tantas partes do mundo, recebendo salários degradantes? (ANTUNES, 2011, p.174).. O trabalho vai se modificando por exigências da sociedade capitalista, e o trabalhador, para atender às necessidades do capital, com a inclusão de novas tecnologias e tantas outras novidades inerentes à globalização, perde o controle do próprio trabalho, de sua subjetividade. Com o aumento da competitividade produzida pelo mercado de trabalho baseado na lógica capitalista, o capital, no uso crescente.

(27) 27. do aparato tecnológico, traz como consequências, incluindo novas formas de exploração do trabalhador, a pobreza, o desemprego. (ANTUNES, 2005).. O fato é que o trabalho é constituído e construído, em sua dimensão ontológica, por distinções e sentidos, seja como “princípio educativo ou trabalho alienado por sua subordinação ou subsunção real; trabalho concreto e abstrato, produtivo e improdutivo, trabalho material e imaterial e mundo da necessidade e da liberdade etc.” (FRIGOTTO, 2009, p.172).. Surge, então, a necessidade de um novo trabalhador para atuar no flexível mundo do trabalho marcado pelo trabalho precarizado, pelo aumento das exigências para o ingresso e pela permanência no mercado de trabalho (NARDI, 2006).. 3.2 O NOVO MUNDO DO TRABALHO NO CAPITALISMO: FLEXÍVEL, GLOBALIZADO E HETEROGÊNEO. O trabalho como elemento estruturante da sociedade, como fato social, plural e polissêmico, ocupa um papel importante na vida das pessoas. No entanto, para atender às exigências do capital, a classe trabalhadora sofre consequências com a intensificação das mudanças no mundo do trabalho.. De forma dialética, nos últimos três séculos, o capital transformou o trabalho da mesma forma que este tem se transformado. Marx, apud Antunes e Alves (2004), caracteriza a relação entre trabalho e capital como subsunção, e, nesse processo, o capital, embora considerado dialético, marca sua superioridade, propõe que o trabalho (e o trabalhador) se apresente(m) como seu(s) subordinado(s).. No decorrer do desenvolvimento do processo de trabalho no capitalismo, surgem novas formas de intensificação e controle do trabalho baseadas nos princípios taylorista, fordista e toyotista..

(28) 28. O taylorismo aperfeiçoou a divisão do trabalho introduzida nas fábricas, assegurando, com isso, controle do tempo do trabalhador determinado pela gerência, que constituiu “uma separação extrema entre concepção e execução do trabalho” (NAVARRO e PADILHA, 2007, p. 17). O fordismo, como continuidade do taylorismo, introduz nas fábricas a esteira na linha de montagem e cria um novo modo de gestão da força de trabalho, ao reduzir a quantidade de horas trabalhadas com aumento de salário.. Nos anos setentas, com a crise vivida pelo capitalismo nesse período, taylorismo e fordismo “passam a conviver ou mesmo a ser substituídos por outros modelos considerados mais ‘enxutos’ e ‘flexíveis’, melhor adequados às novas exigências capitalistas de um mercado cada vez mais globalizado” (NAVARRO e PADILHA, 2007, p. 17). Desde os anos oitentas, constatam-se grandes mudanças no mundo do trabalho: A reestruturação produtiva – mudanças advindas principalmente da introdução de novas tecnologias no processo de trabalho – tem levado, tendencialmente, à reafirmação da inseparabilidade entre a força de trabalho e o ser humano que a possui, através, por exemplo, dos novos modelos de gestão. Por sua vez, a globalização e as reformas neoliberais têm levado ao constante questionamento dos direitos do trabalho (CUNHA e LAUDARES, 2009, p. 64).. O toyotismo, com o objetivo principal de produzir a baixo custo pequenas séries de produtos variados, “constitui um conjunto de inovações organizacionais cuja importância é comparável ao que foram em suas épocas as inovações organizacionais trazidas pelo taylorismo e pelo fordismo” (CORIAT, 1994, p. 24, apud NAVARRO e PADILHA, 2007, p. 17). Considerada como fábrica magra3, a Toyota tem como seu ponto forte e como principio organizador da produção o just in time: fabricação de produtos para atender instantaneamente à demanda, com estoque zero e com número reduzido de operários. A qualificação do trabalhador é outra característica do modelo japonês, porque no toyotismo o trabalhador precisa ser transformado. em. um funcionário. “altamente. qualificado”, ”polivalente”,. “multiprofissional” (NAVARRO e PADILHA, 2007, p. 17). 3. Coriat (1994) aponta como fábrica “magra”, transparente e flexível em oposição à fábrica fordista, qualificada como “gorda”(NAVARRO e PADILHA, 2007)..

(29) 29. Trabalhador e trabalho subsumidos ao capital constituem a configuração do mundo do trabalho – histórico e datado. Concordamos com Proni (2006, p. 23) quando ressalta que o termo ‘mundo do trabalho’ não deve evocar a ideia de um universo fechado em si, autônomo em relação às demais esferas da vida social. Pelo contrário, refere-se a um conjunto de situações e interações que só podem ser examinadas à luz de um quadro social mais amplo, no qual devem ser contemplados, por exemplo, a evolução cientifico-tecnológica e os embates políticos-ideológicos.. Antunes e Alves (2004, p. 336-342) apresentam as principais consequências das transformações no processo de trabalho e a maneira como estas afetam o mundo do trabalho: 1) a crescente redução do proletariado fabril, industrial, tradicional, manual e especializado que se desenvolveu no binômio taylorismo/fordismo, dando lugar a formas desregulamentadas de trabalho; 2) a expansão dos trabalhadores terceirizados, subcontratados, part-time, que estão presentes em diferentes modalidades do trabalho precarizado e temporário; 3) o aumento significativo do trabalho feminino, atingindo mais de 40% da força de trabalho em diversos países avançados, absorvido pelo capital de forma precarizada e com baixos níveis salariais; 4) o aumento dos trabalhadores do setor de serviços, resultante do processo de reestruturação produtiva, das políticas neoliberais e do cenário de privatização; 5) a crescente exclusão dos jovens que atingem a idade de ingresso no mercado de trabalho que, sem perspectiva de emprego, aceitam trabalhos precários ou ficam desempregados; 6) o aumento da exclusão dos trabalhadores com idade aproximada aos 40 anos, considerados ‘idosos’ pelo capital, que dificilmente reingressam no mercado de trabalho, já que foram substituídos pelo trabalhador ‘polivalente e multifuncional’ da magra empresa toyotista; 7) a expansão do trabalho do ‘Terceiro Setor’ que acaba por absorver trabalhadores e trabalhadoras que foram expulsos do mercado de trabalho formal;.

(30) 30. 8) a expansão do trabalho em domicílio, que, por meio da telemática, permite a desconcentração do processo produtivo e a expansão de pequenas unidades produtivas, conectadas ou integradas às empresas, com isso, possibilitando o crescimento e a aceleração das atividades transnacionais; 9) a configuração transnacional do mundo do trabalho que provoca tanto o surgimento de novas regiões industriais quanto o desaparecimento de muitas, desenvolvendo uma classe trabalhadora mesclada, em sua dimensão local, regional, nacional, com a esfera internacional. Compreender o mundo do trabalho marcado por diversas tendências que promovem uma nova classe trabalhadora implica discutir a associação entre trabalho e emprego com base na lógica do capital e no modo de produção capitalista.. O uso do termo trabalho é utilizado como sinônimos de emprego, profissão ou qualquer outra atividade que, como troca, oferece um salário; sistema de troca próprio da sociedade capitalista. Para Marx, o trabalhador vende sua força de trabalho ao capital, a ele se submetendo e transformando-a em mercadoria (ANTUNES e ALVES, 2004; DUARTE, 2004).. A associação entre trabalho e emprego foi construída, historicamente, na sociedade industrial, na qual o emprego se tornou [...] importante referencial para o desenvolvimento emocional, ético e cognitivo do indivíduo ao longo do seu processo de socialização, para o seu reconhecimento social, para a atribuição de prestígio social intra e extragrupal (LIEDKE, 2002, p. 345, apud NARDI, 2006, p. 31).. Trabalho e emprego se apresentam interligados como produtores de processo de socialização, como forma de prestígio social para o trabalhador, mas se distinguem: emprego como relação de trabalho e o trabalho enquanto atividade (LIEDKE, 1997 apud NARDI, 2006; SPINK, 2009).. Vale dizer que, se trabalho e emprego se encontram interligados, emprego e consumo também se associam pela lógica do capital. Singer, apud Albornoz (2008, p.81) ressalta que.

(31) 31. [...] hoje, na prática, emprego não se entende, em primeiro lugar, como uma atividade peculiar, no sentido técnico de trabalho ou produção, mas sim como recurso de acesso, mesmo que parcial e defeituoso, a uma parte da renda e, consequentemente, ao consumo. As pessoas trabalham antes para poder consumir do que propriamente para produzir alguma coisa.. A cultura do novo capitalismo, marcada pelo consumo, pelo medo de se tornar supérfluo e ficar para trás e pela a busca do trabalho (ou por um emprego), traz novas exigências. Novas estruturas, novas formas de poder, novas relações de trabalho. em. que. as. práticas. de. flexibilidade. norteiam. as. organizações. contemporâneas (SENNETT, 2008; 2010).. Para Sennett (2010, p. 54-65), três elementos produzem o sistema de poder que se esconde por trás das modernas formas de flexibilidade: a) a reinvenção descontínua de instituições, que é marcada pela redução de empregados nas empresas e, com isso, ocorre a sobrecarga de trabalho devido à multiplicidade de tarefas a cumprir, e práticas, como reengenharia (fazer mais com menos) e delayering (remover camadas, níveis hierárquicos), são executadas porque a organização precisa provar ao mercado que pode mudar; b) a especialização flexível de produção é caracterizada pela colocação de produtos mais variáveis no mercado e cada vez mais rápido, como antítese ao sistema fordista, tendo como aliada a alta tecnologia, em que a estrutura interna das instituições é determinada pela mutante demanda do mundo externo; c) a concentração de poder sem centralização dá uma ideia falsa de que os funcionários de categorias inferiores têm mais controle sobre suas atividades, e, nas organizações que utilizam essa prática, a dominação do alto é muito forte e informe.. Por isso, a nova forma de trabalho presente nas organizações flexíveis, exigências advindas da reestruturação produtiva, demanda trabalhadores ágeis que assumam riscos de forma contínua e adaptáveis às mudanças em curto prazo, o que [...] não causa apenas sobrecarga de trabalho para os que sobreviveram ao enxugamento dos cargos, mas acarreta grande impacto para a vida pessoal e familiar de todos os trabalhadores; sejam eles empregados ou desempregados (NAVARRO E PADILHA, 2007, p. 19)..

(32) 32. Tais impactos espraiam nos jovens que intencionam a entrada no mercado de trabalho e buscam o trabalho como satisfação de suas necessidades. Abramo e Branco (2005) relataram na pesquisa “Perfil da juventude brasileira” 4, na qual foi questionado aos jovens entrevistados “Qual das seguintes palavras se aproxima mais do que você pensa sobre trabalho? Para você, trabalho é:”. As respostas obtidas foram as seguintes: necessidade (64%), independência (53%), crescimento (47%), autorrealização (29%) e exploração (4%).. Em pesquisa semelhante, Bock e Liebesny (2003), citados por Menandro, Araújo e Oliveira (2010), em estudo realizado com estudantes de escolas públicas e particulares, constataram que o trabalho era elemento central nos projetos de vida dos participantes, embora para os alunos do ensino público o trabalho tenha sido visto como uma necessidade e para os do ensino privado o trabalho fosse derivado de uma boa formação recebida.. Com base em reflexões discutidas no próximo capítulo, alguns autores questionam se o trabalho seria, ainda, uma categoria central para pensar o mundo social e até a sociabilidade humana (MÉDA, GORZ, HABERMAS, OFFE, RIFKIN, KURZ, apud ANTUNES, 2011; NARDI, 2006). Nesse debate outros autores defendem o trabalho como categoria central, tanto no aspecto da estrutura, dos significados para o mundo social quanto no aspecto psíquico dos indivíduos.. Mesmo tendo sido modificado pelo capital, sofrendo inúmeras transformações (reestruturação produtiva, globalização, flexibilidade, políticas neoliberais, entre outras) e produzindo novas formas de intensificação do trabalho e de controle da subjetividade do trabalhador, o trabalho, segundo esses autores, permanece central na vida das pessoas (ANTUNES, 2005; PRONI, 2006; POCHMANN, 2006; NAVARRO e PADILHA, 2007).. 4. A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira foi realizada com 3.501 jovens entre 15 e 24 anos, de ambos os sexos, representantes de todos os segmentos sociais e residentes no território brasileiro em 2003..

(33) 33. 4. A CENTRALIDADE DO TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE As profundas transformações provocadas pela lógica capitalista afetaram (e ainda afetam) o mundo do trabalho. Para Albornoz (2008), a expansão da tecnologia, desde o século XIX, trouxe à tona um velho sonho da existência de uma terra abençoada, onde não seria mais necessário trabalhar; o ócio e a preguiça seriam privilégios da maioria, já que a automação libertaria a humanidade do pesado fardo do trabalho. Entretanto, a autora mostra que o indivíduo moderno enfrenta dificuldades em dar sentido à sua vida e complementa, com as palavras de Hannah Arendt, que a sociedade que está por libertar-se dos grilhões do trabalho é uma sociedade de trabalhadores, que desconhece outras atividades em benefício das quais valeria a pena conquistar aquela liberdade. A possibilidade de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho não aparece como uma libertação do mundo da necessidade, mas como uma ameaça inquietante. As massas contemporâneas seriam destituídas da única atividade que lhes resta (ARENDT, apud ALBORNOZ, 2008, p. 24).. O avanço tecnológico advindo do mundo moderno, que trazia como possibilidade a conquista da libertação do trabalho, trouxe ao mundo contemporâneo uma ameaça inquietante. Graças à tecnologia, houve o aumento da produtividade e muitas profissões tornaram-se obsoletas, outras até desapareceram, em virtude da informatização, provocando um aumento contínuo no índice de desemprego (LUCA, 2001). Essa “sociedade de trabalhadores” que vem sofrendo as transformações organizacionais e tecnológicas advindas da gestão do capital se depara, então, com um contexto de flexibilização das formas de trabalho, desemprego, precarização do trabalho, enfraquecimento das representações coletivas dos trabalhadores, o que vai gerar um acirramento do individualismo e da competitividade.. Discutir a centralidade do trabalho em nossa sociedade baseada no modo de produção capitalista remete a questões relativas do mundo do trabalho na atualidade, as quais surgem associadas: Trabalho e desemprego, trabalho e precarização, trabalho e gênero, trabalho e etnia, trabalho e nacionalidade, trabalho e corte geracional,.

(34) 34. trabalho e imaterialidade, trabalho e (des)qualificação, muitos são os exemplos da transversalidade e da vigência da forma trabalho (ANTUNES, 2011, p. 174).. Dessa forma, Antunes (2005) aponta como desafio a compreensão da nova morfologia ou a nova polissemia do trabalho para se contrapor a tese da finitude do trabalho. A tendência que aponta uma perda da centralidade do trabalho manteve-se dominante. nas. últimas. décadas,. apesar. de. questionada. e. enfraquecida. recentemente. Em relação aos estudos que apontam a tese do fim do trabalho, são destacados os seguintes: “Adeus ao proletariado”, do sociólogo francês A. Gorz, e “Trabalho: a categoria chave da sociologia?", do sociólogo alemão C. Offe, ambos produzidos nos anos oitentas. De acordo com De Toni (2003, p. 253), [...] esses autores buscaram interpretar as mudanças no mundo do trabalho pela via da perda de centralidade do trabalho como elemento fundante das relações sociais e da construção identitária dos indivíduos, aportando questionamentos para a teoria e a pesquisa nas ciências sociais.. De Toni (2003) ressalta que, na década de 90, outros estudos ampliam as discussões nesse campo, como os do escritor americano Jeremy Rifkin, o sociólogo alemão Ulrich Beck e a filósofa francesa Dominique Méda. A proposta de Méda, por exemplo, é baseada na criação de mecanismos para a redução do espaço que o trabalho ocupa na vida dos indivíduos: o espaço, antes ocupado pelo trabalho, deve ser preenchido com atividades familiares e outras ligadas à amizade (NARDI, 2006). Mas como ampliar o tempo livre ou diminuir a jornada de trabalho em uma sociedade subsumida ao capital, marcada pelo desemprego e pelo trabalho precarizado?. Apesar de esses autores apontarem uma perda da centralidade do trabalho, as transformações contemporâneas revelam que o trabalho continua central no aspecto da construção material e psíquica dos indivíduos e da estrutura social (NARDI, 2006). Se, de um lado, temos a sociologia com seu debate sobre a finitude ou perda da centralidade do trabalho, de outro, temos as contribuições da Psicodinâmica do Trabalho, representada por Dejours, no que diz respeito às situações de trabalho e ao trabalhador.. Nas palavras de Dejours e Abdoucheli (2010, p. 143),.

(35) 35. o trabalho revela-se, com efeito, como um mediador privilegiado, senão único entre inconsciente e campo social e entre ordem singular e coletiva. [...] O trabalho não é apenas um teatro aberto ao investimento subjetivo, ele é também um espaço de construção do sentido e, portanto, de conquista da identidade, da continuidade e historicização do sujeito.. A centralidade do trabalho na vida do trabalhador é um dos alicerces da teoria da Psicodinâmica do Trabalho, em que trabalhar é o preenchimento da lacuna existente entre o prescrito e o real do trabalho. Para Dejours (2004, p. 29), o trabalho é aquilo que implica o fato de trabalhar. Do ponto de vista humano, são “gestos, saber-fazer, um engajamento do corpo, a mobilização da inteligência, a capacidade de refletir, de interpretar e de reagir às situações; é o poder de sentir, de pensar e de inventar, etc.”.. E se há um engajamento do corpo do trabalhador, a saúde deste está implicada nas mais diversas relações de trabalho. Para a Psicodinâmica do Trabalho, importa compreender como os trabalhadores, mesmo estando submetidos a condições de trabalho desestruturantes, conseguem alcançar equilíbrio psíquico (DEJOURS, DESSOURS e DESRLAUX, 1993; MERLO, 2002).. De acordo com Merlo (2002), a teoria da Psicodinâmica do Trabalho encontrou muita ressonância entre os pesquisadores e técnicos brasileiros que atuam na área da Saúde do Trabalhador e buscam preencher lacunas no conhecimento em saúde e trabalho. De fato, houve aumento significativo na produção científica brasileira no que concerne às relações entre trabalho e saúde, trabalho e subjetividade, dando maior visibilidade às mais diversificadas situações de trabalho, com base nos pressupostos tanto da psicodinâmica do trabalho quanto da ergonomia, ergologia, psicossociologia do trabalho, entre outras possibilidades teórico-metodológicas. Tais pressupostos diferem relativamente a suas práticas científicas, embora tenham em comum a ética da valorização do saber fazer, da subjetividade dos trabalhadores e da intervenção nos processos de trabalho que porventura possam ser adoecedores. Esses estudos têm em comum, também, apontar o trabalho como fato social estruturante no aspecto da identidade, da sociabilidade ou da produção da subjetividade humana. Ou seja: são autores que apontam o trabalho como central na vida humana, a despeito de suas transformações (ANTUNES, 2005, DEJOURS,.

(36) 36. 2004; JACQUES, 1996; JARDIM, 2011; MERLO, 2010; MOULIN, 2007; NARDI, 2006; NAVARRO e PADILHA, 2007; SATO, 2009; SELIGMANN-SILVA, 2011).. No universo dos jovens, as mudanças do mundo do trabalho também têm seus efeitos. Por isso, tais transformações levaram Guimarães (2008) a questionar, em seu estudo, “Trabalho: uma categoria-chave no imaginário juvenil?”5, que buscou compreender os múltiplos significados que o trabalho tem para os jovens e constatou que o trabalho permanece central para os jovens brasileiros, com 30% das respostas dos participantes, indicando-o como o principal problema desta nação. Dessa forma, a autora arrisca que a centralidade do trabalho para a juventude diz respeito muito mais a uma demanda a ser satisfeita do que a um valor a ser cultivado. Ademais, complementa: [...] o trabalho se manifesta como demanda urgente, necessidade, no centro da agenda de parcela significativa da juventude brasileira. Ou, de outra forma, é por sua ausência, por sua falta, pelo não-trabalho, pelo desemprego, que o mesmo se destaca (GUIMARÃES, 2008, p.159).. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou, em fevereiro de 2011, dados que comprovaram a situação em que a juventude brasileira se encontra. Dos desempregados no Brasil, 54% são jovens na faixa etária de 18 a 29 anos. Por mais que se esforcem para a entrada no mercado de trabalho, 45% desses jovens estão à procura de emprego há mais de seis meses e 25% deles se encontram desempregados há mais de um ano (Disponível em: www.opiniaoenoticia.com.br. Acesso em: 2 abr. 2012).. Entretanto, de acordo com o relatório de Tendências Mundiais do Emprego Juvenil 2012, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o crescimento econômico ocorrido no Brasil, nos últimos anos, provocou uma diminuição no índice de desemprego juvenil devido à criação de mais postos de trabalho. Importa ressaltar que esse crescimento não se converteu em trabalhos qualificados para a juventude. O setor serviços foi o protagonista do aumento da oferta de empregos, frequentemente vinculados a atividades de terceirização, empregos temporários, marcados pela precarização, com baixa remuneração e com direitos trabalhistas.

(37) 37. reduzidos. O mesmo relatório da OIT constatou que a informalidade e a precariedade são maiores entre os jovens quando comparadas às dos adultos. (SALATI, 2013).. Falar em juventude implica considerar o jovem como sujeito de direitos, expressão cunhada na última década, apontando uma interseção entre os direitos de cidadania e direitos humanos (NOVAES, 2009), bem como compreender as desigualdades e as inseguranças que atingem particularmente essa parcela da população, que vão além de uma simples questão etária.. 5 Estudo como parte integrante de “Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional”(ABRAMO e BRANCO, 2008)..

Referências

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