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ARTIGO DE REVISÃO. Jerusa Pereira Santos¹, Damaris Gomes Maranhão². Descritores Dor; Cuidado da criança; Enfermagem pediátrica; Saúde da criança

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Cuidado de Enfermagem e manejo da dor em

crianças hospitalizadas: pesquisa bibliográfi ca

Nursing care and pain management in hospitalized children: literature review

Cuidados de Enfermería y el manejo del dolor en niños hospitalizados: revisión de la literatura

Jerusa Pereira Santos¹, Damaris Gomes Maranhão²

Resumo

O objetivo deste trabalho foi descrever os métodos, as competências e as difi culdades da equipe de Enfermagem para o manejo da dor em crianças hospitalizadas. Revisão de literatura em língua portuguesa, realizada entre 2003 e 2015, nas bases de dados SciELO e LILACS, a partir dos descritores “saúde da criança”, “enfermagem pediátrica”, “terapia” e “dor”. Várias escalas para avaliação da dor podem ser usadas conforme a idade, o desenvolvimento, a preferência e o estado clínico da criança. As difi culdades da Enfermagem foram relativas à observação, à percepção, à valorização da expressão de dor, à consideração de sua evolução e ao registro no prontuário. A capacitação dos profi ssionais requer sensibilização para o problema, habilidades de comunicação com a criança e sua família, conhecimento e emprego das escalas adequadas, registro e manejo por métodos farmacológicos e não farmacológicos.

Abstract

The objective of this study was to describe the methods, skills and diffi culties of Nursing staff for the management of pain in hospitalized children. Literature review in Portuguese language carried out in the period between 2003 and 2015 with journals annexed in SciELO and LILACS databases using the keywords: “saúde da criança”, “enfermagem pediátrica”, “terapia” and “dor”. Several scales for pain assessment can be applied according to age, development, preference, and clinical state of the child. Nursery diffi culties were related to observation, perception, valorization of pain expression and evolution, and register in the medical record. Professionals’ capacitation required sensitivity to the problem, communication skills with the child and his/her family, knowledge, and use of appropriate scales, register, and management of pharmacological and non-pharmacological methods.

Resumen

El objetivo de este estudio fue describir los métodos, las técnicas y las difi cultades de personal de enfermería para el manejo del dolor en niños hospitalizados. Revisión bibliográfi ca en el idioma portugués, realizada entre 2003 y 2015, en las bases de datos SciELO y LILACS con los descriptores: “saúde da criança”, “enfermagem pediátrica”, “terapia” y “dor”. Hay diversas escalas para evaluación del dolor que deben ser usadas de acuerdo a la edad, el desarrollo, la preferencia y el estado clínico del niño. Las difi cultades de enfermería estaban relativas a la observación, percepción, valorización de la expresión del dolor, de su evolución y registro en el prontuario médico. La capacitación de los profesionales requiere sensibilización para el problema, habilidades de comunicación con el niño y con la familia, conocimiento y uso de las escalas adecuadas, registro y manejo por métodos farmacológicos y non-farmacológicos.

Descritores

Dor; Cuidado da criança; Enfermagem pediátrica; Saúde da criança

Keywords

Pain; Child care; Pediatric nursing; Child health.

¹Enfermeira. Universidade de Santo Amaro de São Paulo - UNISA, São Paulo (SP), Brasil.

²Doutora em Ciência da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, São Paulo (SP), Brasil; Professora em Enfermagem Pediátrica da Universidade de Santo Amaro de São Paulo - UNISA, São Paulo (SP), Brasil.

Autor correspondente: Damaris Gomes Maranhão - damaranhao@uol.com.br

Palabras clave

Dolor; Cuidado al niño; Enfermería pediátrica; Salud del niño.

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Introdução

O processo de internação infantil é marcante na vida de qualquer criança, uma vez que, nesse momento, ela está vulnerável e afastada de seu meio, com alterações em sua rotina diária, como brincar e ir à escola.(¹)

Entre as vivências desagradáveis no processo de internação ou de atendimento em serviço de saúde, a criança pode sentir dor causada por procedimentos como punção venosa, coletas de exames, curativos ou pelo próprio processo patológico. A maneira como a criança comunica sua dor e sua habilidade para en-frentá-la estão relacionadas à sua idade e ao seu de-senvolvimento.(2)

Dor é defi nida pela International Association for

the Study of Pain (IASP) como uma experiência

senso-rial e emocional desagradável, associada a um dano real ou potencial dos tecidos ou descrita em termos de tal dano. Pode ser classifi cada em aguda, crônica ou recorrente. Trata-se de uma manifestação sub-jetiva, que envolve mecanismos físicos, psíquicos e culturais.(3)

Desde janeiro de 2000, a Joint Commission:

Accre-ditation on Healthecare Organizations (JCAHO)

estabe-leceu, como indicador de qualidade da assistência, a inclusão da dor como quinto sinal vital.(4) Ela deve ser sempre avaliada e registrada, ao mesmo tempo em que são verifi cados os outros sinais vitais, para que se normatize sua avaliação, bem como a conduta tomada, sua fundamentação e os resultados obtidos. A queixa de dor deve ser sempre valorizada e respeitada, devi-do ao desconforto que manifesta. Na própria defi nição de dor, proposta pela IASP, fi ca evidente que a dor é uma experiência subjetiva, ou seja, cada um sente e manifesta sua dor ao seu modo.(4-5) Para a JCAHO, a avaliação da dor inclui localização, intensidade da dor baseada em escala numérica e verbal, além de outras escalas.(6)

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, em sua resolução 41, dispõe sobre os Di-reitos da Criança e Adolescente Hospitalizados, afi r-mando, em seu Art. 7º, que o paciente tem “direito a não sentir dor, quando existem meios para evitá-la”.(7)

Estudos internacionais e nacionais apontam que a dor, seja aguda ou crônica, em todos os níveis de aten-ção à saúde, é subdiagnosticada, mal avaliada, subtra-tada e, algumas vezes, negligenciada.(7-8)

A American Pain Society (APS) relata a defi ciência da equipe de saúde para avaliar a dor dos pacientes, apesar de variadas opções de técnicas de avaliação, e de terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas.(5)

Com base no exposto, surgiu a questão desta pes-quisa: “Quais os métodos utilizados, as competências e as difi culdades da equipe de Enfermagem para iden-tifi car e manejar a dor na criança?”.

O objetivo deste trabalho foi descrever os métodos, as competências e as difi culdades da equipe de Enferma-gem para o manejo da dor em crianças hospitalizadas.

Método

Revisão bibliográfi ca composta por artigos seleciona-dos a partir seleciona-dos descritores “saúde da criança”, “en-fermagem pediátrica”, “terapia” e “dor”.

Foram incluídos artigos que tivessem como participantes enfermeiras ou equipe de Enferma-gem, as próprias crianças e seus pais, publicados na língua portuguesa no período de 2003 a 2015, por compreender pesquisas realizadas no período pos-terior ao reconhecimento da dor como quinto sinal vital. Foram excluídos artigos de revisão e aqueles que não estavam relacionados com o tema.

Foram utilizadas, como fonte dos dados, as bases bi-bliográfi cas Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientifi c Electronic Library

Online (SciELO). Foram encontrados 28 artigos científi cos

sobre a temática, e 23 atenderam os critérios de inclusão. Inicialmente, foi realizado fi chamento de todos os artigos encontrados; posteriormente, foi feita análise temática, buscando-se responder a pergunta da pes-quisa. Foram construídas duas categorias: Escalas de avaliação da dor e Competências e difi culdades da equipe de Enfermagem no manejo da dor na criança.

Resultados

Escalas de avaliação da dor

A avaliação da dor é complexa por seu caráter subje-tivo. Para objetivá-la, foram criadas as escalas de dor. As escalas de dor são instrumentos utilizados e

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reco-mendados para pacientes hospitalizados no reconhe-cimento, quantificação e tratamento da dor, inclusive com escalas específicas para crianças. Esses instru-mentos facilitam a interação e a comunicação entre os membros da equipe de saúde, que passam a observar e perceber a evolução da dor em cada paciente, e a verificar a resposta à terapia. Deve-se usar uma úni-ca esúni-cala de avalição da dor adequada à sua pertinên-cia, à idade e ao desenvolvimento ou à preferência da criança.(6)

Todas as escalas de dor são de difícil utilização em algumas situações clínicas, como nas crianças se-dadas, com restrição de movimentos ou submetidas à intubação traqueal.(6)

Dentre as escalas conhecidas, podemos citar o Sistema de Codificação da Atividade Facial Neonatal (NFCS). Nela, avalia-se a dor por observação da ex-pressão facial, com a ajuda de oito parâmetros quanti-ficados de zero a 8 pontos. Conclui-se pela existência de dor quando três ou mais movimentos faciais apare-cem de maneira consistente durante a avaliação. Pode ser utilizada em recém-nascidos pré-termo, a termo e para lactentes até 4 meses de idade.(6-9)

Outra escala indicada para avaliação da dor em recém-nascidos prematuros ou a termo, mas espe-cífica para situações pós-cirúrgicas, é denominada CRIES (sigla do inglês Crying, Requires O2 for

Sa-turation Above 90%, Increased Vital Signs, Expression and Sleeplessness). Essa escala considera os seguintes

parâmetros: necessidade de oxigênio para manter a saturação maior que 90%, aumento da frequência car-díaca, aumento da pressão arterial, expressão facial e ausência de sono. Esses indicadores devem ser ava-liados a cada 2 horas, nas primeiras 24 horas após o procedimento doloroso, e a cada 4 horas após mais 1 ou 2 dias. Seu escore varia de zero a 10. Escore ≥5 deve ser considerado como indicativo de dor, havendo ne-cessidade de analgesia.(6,9-10)

A escala comportamental Neonatal Infant Pain

Sca-le (NIPS) é empregada para avaliar a dor em neonatos

pré-termos ou a termo, mas ainda não é validada para lactentes. Possibilita diferenciar estímulos dolorosos de não dolorosos, e é composta por sete parâmetros comportamentais e fisiológicos, com pontuação zero a 1, e o escore total pode variar de zero a 7 em escala crescente de dor. As avaliações são feitas em interva-los de 1 minuto antes, durante e após o

procedimen-to agressivo. Avaliam parâmetros de expressão facial, choro, padrão respiratório, movimentos dos braços e pernas, e estado de consciência. Não é recomendada sua utilização de forma isolada, devendo ser levado em conta o estado geral do neonato, além do ambiente onde ele está inserido.(6,9-10)

A escala de Hannallah possibilita uma avaliação por meio da linguagem corporal, mesmo sem verba-lização. É um método que verifica sinais vitais e com-portamento da criança para aferir grau de gravidade da dor. Pontuação ≥6 significa dor importante.(6-9)

A Escala de Perfil de Dor do Pré-Termo (PIPP, sigla do inglês Premature Infant Pain Profile), utilizada para avaliar a dor em recém-nascidos, pré-termo e ter-mo, possui sete parâmetros para serem avaliados: ida-de gestacional (variando ida-de menores ida-de 28 semanas a maiores de 36 semanas), estado de alerta, frequência cardíaca, saturação de oxigênio, fronte saliente, olhos franzidos e sulco nasolabial. Escore >12 indica dor mo-derada a intensa.(9-10)

Para crianças maiores de 3 anos de idade, pode ser utilizada a Escala de Avaliação da Dor de Faces, que consiste em seis faces desenhadas, variando desde a face sorrindo para “sem dor”, até a face chorosa para “piora da dor”.(9)

Escala de Sedação Comfort tem sido emprega-da em crianças submetiemprega-das à ventilação mecânica para avaliar o grau de sedação. Consideram-se oito parâmetros de desconforto fisiológico ou ambien-tal. Escore <17 indica sedação excessiva; valores entre 17 e 26, sedação adequada; e >26, sedação in-suficiente.(10)

A Escala Visual Analógica (EVA) consiste numa li-nha horizontal ou vertical com 10 cm de comprimento que tem assinalada, numa extremidade, a classificação “sem dor” e, na outra, a classificação “dor máxima”. O paciente deve fazer uma cruz ou um traço perpen-dicular à linha, no ponto que representa a intensida-de intensida-de sua dor. Há, por isso, uma equivalência entre a intensidade da dor e a posição assinalada na linha. Mede-se, posteriormente e em centímetros, a distân-cia entre o início da linha, que corresponde a zero, e o local assinalado, obtendo-se, assim, uma classificação numérica.(11)

A escala numérica consiste em uma linha crescen-te, em que a criança diz se sua dor tem valor igual a zero até 10, sendo que zero corresponde a classificação

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“sem dor” e 10 à classificação “dor máxima” (dor de intensidade máxima imaginável).(11)

As duas escalas citadas anteriormente não são es-pecíficas para uso no período lactente ou infante, pois dependem da verbalização da criança para correta aplicação.(9)

Competências e dificuldades da equipe de

Enfermagem no manejo da dor na criança

As competências requeridas da equipe de Enferma-geminiciam-se pela percepção e pela valorização da manifestação de dor pela criança. Incluem a observa-ção e o registro dos sinais que a criança emite, além das alterações fisiológicas, que indicam o sofrimento.(2)

As dificuldades descritas nas pesquisas anali-sadas são relativas à percepção, à valorização da ex-pressão de dor e ao registro no prontuário. Para que a equipe de Enfermagem avalie e quantifique a dor de modo adequado, é importante sensibilizá-la para o problema e incluir as competências de identifica-ção, mensuraidentifica-ção, registro e manejo em sua formação continuada. Os profissionais precisam ser capacita-dos para empregar as escalas de dor, de acordo com a condição clínica e as possibilidades de comunicação da criança.(5)

O manejo adequado da dor deve ser uma priori-dade no planejamento terapêutico de pacientes pediá-tricos. O reconhecimento e o tratamento preventivo ou precoce da dor evitam o aumento de sua intensi-dade, o que tornará mais difícil seu manejo. A criança deve saber que sua dor está sendo levada a sério, e que seus pais e os enfermeiros estão fazendo todo o pos-sível para aliviá-la. Embora avaliar e mensurar a dor não sejam tarefas fáceis, esses procedimentos devem se tornar rotineiros para os enfermeiros e sua equipe, que devem registrar essas informações no prontuário da criança, para que as devidas providências de alívio da dor possam ser implementadas.(7)

Na avaliação de manejo da dor em Pediatria, deve-se considerar que a percepção da manifestação dolorosa da criança é mediada, às vezes, pelo acompa-nhante. Assim, incluir os pais ou outro familiar/acom-panhante da criança no processo de avaliação e de in-tervenção para alívio da dor parte do pressuposto de que eles conhecem seus filhos e de que são sensíveis às modificações que ocorrem em seu comportamento.(7-12)

Durante a internação, quando a criança queixa-se de dor, o acompanhante pode ser o primeiro a perce-ber que ela está desconfortável, sofrendo e que pre-cisa de ajuda. É o familiar, muitas vezes, que recorre ao profissional, visando ao alívio da dor percebida na criança. Ter os pais ou outras pessoas queridas por perto, em si, já proporciona segurança e proteção à criança, o que também contribui para alívio da dor.(7-13)

Entretanto, os estudos evidenciam que a comuni-cação entre a família e o enfermeiro ainda é precária.(12) Pesquisadores(6) identificaram cinco categorias de aspectos intervenientes na avaliação, tratamento e prevenção da dor em crianças internadas em unidade de terapia intensiva. A primeira categoria é a sensibi-lização do profissional para perceber e valorizar a dor. Essa competência é influenciada pela sensibilidade e pelas experiências pessoais relativas a dor em si pró-prio ou em seus filhos. A segunda é a associação da dor com o diagnóstico, a hospitalização e os procedi-mentos realizados. A terceira é o reconhecimento da dor pelos sinais e sintomas expressos pela criança e identificados pela observação e empregos de técnicas ou métodos que quantifiquem e qualifiquem a mani-festação da dor pela criança. A quarta categoria anali-sa os fatores intervenientes que dificultam a avaliação e o tratamento da dor na criança. As dificuldades e os obstáculos encontrados pelos profissionais de Enfer-magem guardam forte relação com a interação e a par-ceria com a equipe multiprofissional; com a dificulda-de dificulda-de comunicação com a criança; com a insuficiência de recursos humanos; e com o sentimento de ambiva-lência em relação ao uso de analgésicos em crianças. A quinta categoria destaca os fatores intervenientes que dificultam a prevenção da dor e que são atribuídos à insuficiente organização para assistência à criança e à família, ao grande número de procedimentos, às limi-tadas técnicas nas manipulações e coleta de exames e a pouca simultaneidade de cuidados pela equipe de saúde. As autoras concluem que a avaliação da dor depende da interação entre os profissionais, criança e família, e que há fatores subjetivos do profissional en-volvidos no processo. As escalas de avaliação podem ter sensibilidade alterada segundo o aplicador.

Ao se investigar como os enfermeiros que traba-lhavam em unidade de terapia intensiva neonatal ava-liavam a dor do neonato e quais terapias analgésicas eles utilizavam, encontrou-se que os parâmetros

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uti-lizados pelas enfermeiras foram a expressão facial e o choro, seguidos da alteração dos sinais vitais. O méto-do farmacológico mais citaméto-do foi o uso de analgésicos anti-inflamatórios não esteroides, opioides potentes e fracos, sedativos e os anestésicos locais. Entre o ma-nejo não farmacológico, foram citados: mudança de decúbito, massagem local, sucção não nutritiva, banho de imersão, glicose oral e enrolamento.(9)

Estudo realizado em unidade de neonatologia identificou que os principais procedimentos de roti-na considerados dolorosos foram a remoção de fitas adesivas, a troca de curativo, e a punção venosa e a de calcâneo. Os enfermeiros entrevistados avaliaram a dor pela expressão facial e pelo choro do neonato e a trataram com analgésicos anti-inflamatórios não esteriodais previamente prescritos. Empregaram tam-bém métodos não farmacológicos, como mudança de decúbito, massagem local e sucção não nutritiva. Os autores concluíram que existia uma preocupação, por parte da equipe de Enfermagem, em adotar medidas que minimizassem a dor no neonato durante a hospi-talização e, para isso, foram utilizadas medidas para alívio da dor, mas sem padronização de condutas.(14)

Pesquisadores descreveram o conhecimento da equipe da Enfermagem em relação aos instrumen-tos disponíveis para avaliar a dor e os sentimeninstrumen-tos dos mesmos profissionais ao prestarem assistência às crianças com dor. Os enfermeiros apresentaram mais conhecimentos dos instrumentos de avaliação da dor em relação aos auxiliares e técnicos, mas não conhe-ciam todos os instrumentos disponíveis. Os autores destacaram a importância da racionalização do uso da medicação analgésica e a importância da comunicação com os familiares e com as crianças.(15)

Uma investigação analisou, entre outras variá-veis, a associação entre sexo e as variáveis específicas da dor operatória em Pediatria. A prevalência de dor foi de 91,7% para meninas e de 75,5% para meninos, mas não houve associação entre intensidade de dor e sexo. Os principais agravos foram as adenoamigdali-tes e fraturas. As palavras usadas pelas crianças para descrever a dor foram “cortar” e “apertar”, e a escala preferida pelas crianças foi a Escala de Faces de Ce-bolinha e Mônica. Os pesquisadores concluíram que, no contexto estudado, o manejo da dor em Pediatria ainda era inadequado e o sexo podia influenciar na resposta a dor.(16)

Estudo transversal analisou a implantação da avaliação da dor como quinto sinal vital em um hospi-tal-escola, por meio de um questionário aplicado com 188 técnicos e auxiliares de Enfermagem que trabalha-vam em cinco unidades de internação e que verifica-vam os sinais vitais. Destes, 149 (79,3%) relataram que avaliavam a dor como quinto sinal vital; 24 (12,8%) verificavam às vezes; e 13 (6,9 %) quando o paciente queixava-se de dor. Para 64% dos profissionais, o hos-pital incentivava a avaliação da dor e, como sugestão, 49% relataram a necessidade de cursos e treinamentos, pois 60,3% tinham dificuldade de avaliar a dor. Con-cluíram sobre a importância da inclusão da avaliação da dor como quinto sinal vital, “falta de compreensão do paciente” na mensuração da dor por meio de escala de intensidade desse sinal e falta de tempo pelos pro-fissionais.(17)

Em outra pesquisa, ficou evidente que os profis-sionais reconheciam a dor na criança, mas não uti-lizavam métodos validados para mensurá-la. Con-cluiu-se que os profissionais de Enfermagem eram comprometidos, no sentido de identificar a dor, mas existia a fragilidade quanto ao conhecimento relacio-nado ao seu controle; a maior parte se restringiu aos métodos farmacológicos e abordava o problema de forma restrita.(1)

Estudo com objetivo de avaliar a percepção e as dificuldades de 51 profissionais de Enfermagem frente à identificação, à quantificação e ao manejo da dor em pacientes vítimas de trauma e internados em unidade terapia intensiva evidenciou que 84,3% dos profissionais tinham conhecimento sobre a dor como quinto sinal vital. Destes, 25,5% adquiriram conheci-mento na graduação, 21,5% em cursos técnicos, 41,2% em congressos e palestras e 54,9% no ambiente de trabalho. Em relação à percepção da dor na criança, 94,1% a identificam por meio da verbalização e pela expressão facial, e 62,75% pela presença de taquicar-dia. Os autores concluíram que os profissionais de Enfermagem do setor analisado tinham conhecimen-to insuficiente sobre a identificação, quantificação e tratamento da dor.(5)

Outro estudo evidenciou que a maioria dos enfer-meiros avaliava que sua formação básica era deficien-te. Esses enfermeiros não participaram de formação em serviço para avaliação e manejo da dor em crianças. A proporção de profissionais era inadequada, assim

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como a disponibilidade de instruções institucionais para melhorar a qualidade da analgesia. As autoras concluíram que enfermeiras valorizavam a avaliação e a intervenção para o alívio de dor em crianças, mas consideravam que havia problemas na colaboração entre a equipe, de infraestrutura, falta definição de processos, insuficiente educação formal e contínua.(12)

Discussão

O manejo da dor em neonatos e crianças ainda é um desafio para a Enfermagem e requer projetos de inter-venção institucionais que aprimorem a formação con-tinuada dos profissionais, concomitante à elaboração e à implementação de protocolos, além da organização dos serviços, para garantir o direito de todos os pa-cientes em ter sua dor reconhecida e minimizada.

A maioria dos estudos é relativa a neonatos, mas é preciso considerar as necessidades e as especificidades do desenvolvimento, da linguagem e da comunicação da criança em cada faixa etária e contexto.(16-18)

Apesar dos avanços na pesquisa e no desenvol-vimento de métodos e de recursos para avaliação e o manejo da dor em pediatria, ainda há lacunas na for-mação e na gestão da equipe de Enfermagem, as quais dificultam sua implementação efetiva.(19)

Alguns profissionais não utilizam escalas para a mensuração da dor do recém-nascido, apoiando suas práticas em crenças individuais, o que aponta a ne-cessidade de maior reflexão acerca do conhecimento teórico e prático, relativo à avaliação e ao manejo da dor em crianças, pois observou-se certa inconsistência entre os saberes e as práticas.(22)

As crenças de que as crianças não sentem dor pa-recem ainda estar presente no imaginário dos profis-sionais e têm grande impacto no manejo dos sintomas. Associadas às dificuldades de comunicação com neo-natos e crianças, essas crenças dificultam a percepção e a valorização dos sinais manifestos por elas, seja por meio de mímica facial, choro e outros comportamen-tos, ou por alterações dos sinais vitais.(18-20)

Intervenções educativas e protocolos construídos e implementados coletivamente pela equipe foram empregados por alguns autores, como estratégias de aprimoramento no manejo da dor em unidades pediá-tricas e neonatais.(21)

As pesquisas evidenciam que a superação das dificuldades depende de projetos de intervenção co-letiva, nos quais todos os profissionais devem refletir criticamente sobre as próprias dificuldades, construir protocolos e colaborar na formação de todos os envol-vidos.(22-23)

Conclusão

Os enfermeiros assistenciais em Pediatria que partici-param das pesquisas apresentadas nesta revisão evi-denciaram que tinham conhecimento, ainda que insu-ficiente, para identificar, quantificar e manejar a dor em crianças. No entanto, eles reiteraram que esse tema não foi incluso de forma consistente em curso de gra-duação, nos cursos técnicos e de auxiliares de Enfer-magem, e nem em programas de educação em serviço. Houve lacunas na formação básica e continuada, que dificultaram a comunicação efetiva com a crian-ça, com sua família e entre a equipe multidisciplinar. Houve também dificuldades relativas à infraestrutura e à organização do serviço, que comprometeram a as-sistência à criança com dor real ou potencial.

Esta revisão apontou para a necessidade de se investigarem e construírem estratégias educativas e gerenciais para os enfermeiros identificarem as neces-sidades formativas da equipe de Enfermagem atuante em serviços com crianças hospitalizadas, bem como aquelas relativas ao planejamento da assistência com essa finalidade.

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