1 DISCURSO DO SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DO AMBIENTE
Conferência “Potencialidades de Um Concelho... Vila do Bispo num dia” Câmara Municipal de Vila do Bispo
Vila do Bispo 18 janeiro 2016
Cumprimentar todos na pessoa do
Presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, o meu bom amigo Adelino Soares
É um enorme prazer estar cá de novo, agora noutras funções. Esta é a minha primeira visita oficial a um município e fiz questão que fosse aqui em Vila do Bispo por várias razões.
Porque gosto do Algarve e gosto de Vila do Bispo. Estive cá em diversas ocasiões quer enquanto vice-reitor da Universidade do Minho, quer por lazer a título pessoal.
E percebi que existe nesta ponta de Portugal uma forma de fazer política pública que considero exemplar. E se dúvidas houvesse, a Conferência que aqui teve lugar ao longo do dia é bem demonstrativa de um conceito de desenvolvimento inovador, que assenta nos valores locais e que não se limita a fazer o mesmo que os outros.
Agradeço pois o amável convite e a oportunidade de estar aqui entre vós, nesta importante conferência.
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Há seis meses atrás e ainda na qualidade de presidente da UM-Cidades presidi ao júri que atribuiu a Vila do Bispo o título de Município do Ano, Recordo bem aquilo que disseram os jurados. Este é um município que não enjeita as vantagens comuns que partilha com os restantes municípios do Algarve, mas que vai mais além. Identifica, integra e valoriza as suas especificidades, para desenhar uma aposta mais diferenciada.
Vila do Bispo não é só mar e praia. Apresenta hoje uma proposta de valor múltipla e menos dependente da sazonalidade. Aliás, a conferencia de hoje releva bem os seus ativos endógenos.
Refiro-me aos 110 km protegidos que fazem da Costa Vicentina uma das mais bem preservadas de toda a Europa. Às cerca de 1000 plantas referenciadas, das quais destaco, por serem únicas, o Tojo-de-Sagres ou a Violeta-de-Sagres.
Recordo também os sítios arqueológicos, sobretudo o património menírico que é sem dúvida uma marca com expressão assinalável no município, como bem o demonstra a sua carta arqueológica.
As praias, essas, são sempre especiais, em particular para aqueles que gostam dos desportos náuticos. Sagres é uma das capitais nacionais do surf e o município revela estar bem atento a esse estatuto. Mas não são só as praias classificadas, são também as ditas praias selvagens, cuja beleza nos convoca para a contemplação em qualquer época do ano.
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Depois existem os trilhos da Costa Vicentina, as rotas, os charcos, as escarpas, as grutas, enfim todo um mosaico de oportunidades.
Não posso deixar de referir a biologia marinha e as rotas migratórias das aves, as quais são um dos mais interessantes atrativos turísticos do município. Tive já ocasião de testemunhar, fora da época balnear, a valorização destes ativos e a sua capacidade de atração de entusiastas, turistas da natureza, vindos de todo o mundo. O Festival de Observação de Aves e de Atividades de Natureza de Sagres é um ícone nacional que está a ser trabalhado de forma excecional, onde a Câmara teve a inteligência de criar toda uma rede de atores que dá escala ao evento.
Por tudo isto, o município está de facto de parabéns.
A valorização das pessoas e dos territórios é uma marca indelével do Programa do XXI Governo Constitucional.
Portugal atravessou um período difícil, que não está ainda afastado. Sem querer fazer juízos de valor sobre as políticas dos últimos anos, impõe-se hoje implementar um caminho contra-cíclico, que nos ponha a salvo de espirais que nos encurralam em longos ciclos de baixo ou nenhum crescimento, com consequências negativas no emprego, nos apoios sociais, na emigração e no desenvolvimento de base territorial.
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Sabemos que a fragilização da sociedade, ao nível da educação, da saúde e da segurança social, penaliza fortemente as regiões mais periféricas. É por essa razão que o Governo aposta no reforço do poder local. Assim, o enquadramento dos municípios, das áreas metropolitanas e das comunidades intermunicipais, e também das Comissões de Coordenação, será revisitado no sentido de fortalecer as suas competências e a sua legitimidade democrática.
Para quem, como eu, que foi sempre um municipalista, tutelar as políticas das cidades e das áreas urbanas, a mobilidade e os transporte, a reabilitação e a habitação é uma oportunidade única de articular com as câmaras municipais na promoção do desenvolvimento de base territorial.
Não basta transferir competências para os municípios. É preciso transferir também os recursos. E, mais do que isso, não permitir que o Estado Central atue como contrapoder do poder local. Sabemos todos que a burocracia central é, com demasiada frequência, o inimigo da iniciativa.
No caso de Vila do Bispo, que faz uma aposta forte baseada nos seus ativos
ambientais, os projetos de desenvolvimento dependem muito de
licenciamentos e autorizações diversas, normalmente na esfera da administração central. Não é admissível que esses controlos se constituam como barreiras, para coisas tão simples como o licenciamento de instalações de apoio nas praias ou a viabilização de um pequeno parque de estacionamento numa área protegida.
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Consciente destes problemas, o Governo recuperou o Programa Simplex, que esteve abandonado nos últimos quatro anos, e vai introduzir uma nova geração de procedimentos desmaterializados que permitirão circuitos de decisão mais simples e mais rápidos, também no Ambiente.
Desenvolvimento e Ambiente são como duas faces da mesma moeda. Uma sem a outra compromete o valor de ambas. Este é o lema do Ministério do Ambiente. Se tivesse que escolher um verbo para caracterizar o meu ministério, esse verbo seria “descarbonizar”. Descarbonizar a economia. Descarbonizar os territórios.
Ora isto tem tudo a ver com Vila do Bispo. Independentemente de se tratar de um município pequeno em dimensão e população, tem a visão, o potencial e a vontade para continuar a trilhar um caminho que o levará longe.
Senhor Presidente, minhas senhoras e meus senhores...
Permitam-me lançar um desafio. Depois da conquista do reconhecimento regional e nacional, através do título Município do Ano Portugal 2015, porque não procurar o reconhecimento internacional?
O conhecimento que adquiri sobre esta terra faz-me acreditar que é possível transformar Vila do Bispo e a sua marca Sagres numa referência internacional, um lugar onde o turismo e o estilo de vida saudável se combinam num ambiente descarbonizado.
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Acredito que Vila do Bispo tem condições para desenvolver um programa de intercâmbio internacional, incluindo geminações seletivas, que pode resultar numa profícua partilha de experiências.
O governo está a preparar programas estratégicos para os modos suaves – sobretudo a bicicleta – e para a mobilidade elétrica. Estas são, a meu ver, peças que encaixam bem na estratégia do município. No que depender do Secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, a porta estará sempre aberta naquilo que for útil.
Reitero o meu agradecimento pelo convite e os meus parabéns ao município e à liderança do senhor Presidente da Câmara por esta magnífica iniciativa de reflexão.
Muito obrigado!
José F. G. Mendes
