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Acórdão do Tribunal da Relação de Évora

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Acórdão do Tribunal da Relação de

Évora

Processo: 1878/08-1

Relator: MARTINHO CARDOSO Descritore s: ARMA PROIBIDA Data do Acordão: 16-12-2008 Votação: UNANIMIDADE Texto Integral: S Meio Processua l: RECURSO PENAL Decisão: PROVIDO

Sumário: Uma bengala feita de “fibra animal”, que se sabe ter sido originariamente criada para vergastar o lombo dos animais na condução dos mesmos pelos campos e ainda como amparo ao caminhar do pastor (tal como a sua homónima de pau ou o cajado), mas a qual, pela curiosidade do material de que é feita e o aspecto que tem, foi sendo também progressivamente erigida como curioso objecto de artesanato característico de algumas zonas sobretudo do interior centro e norte do país continental e até objecto de decoração (independentemente do bom ou mau gosto da mesma, com o qual ninguém tem nada a ver) – o que justifica a respectiva posse –, podendo embora ser utilizada como meio de agressão, não pode ser havida como arma.

Martinho Cardoso Decisão

Texto Integral:

I

Acordam, em conferência, na Secção Criminal do Tribunal da Relação de Évora:

Nos presentes autos de Processo Comum com intervenção de tribunal singular n.º --- o arguido A. … foi, na parte que agora interessa ao recurso, condenado pela prática de um crime de detenção de arma proibida, p. e p. pelos art.º 275.º, n.º 3, do Código Penal, e 3.º, n.º 1 al.ª f), do Decreto-Lei n.º 207-A/75, de 11-4, na pena de 120 dias de multa à taxa diária de € 10,00, no quantitativo global de € 1.200,00.

#

Inconformado com o assim decidido, o arguido interpôs o presente recurso, apresentando as seguintes conclusões:

1° - O Recorrente foi condenado pela prática, em autoria material, de um crime de detençãode arma proibida, previsto e punido pelo artigo 275°, n° 3 do Código Penal, na pena de 120 dias de multa, à taxa diária de € 10,00, que perfaz o montante global de € 1200, o que equivale a 80 dias de prisão subsidiária, nos termos do artigo 49°, n° 1 do C.P..

2° - O Tribunal a quo considerou provada a seguinte matéria de facto:

" O Arguido não justificou a posse daquele objecto naquele momento e local, nem posteriormente, nem o mesmo tem qualquer aplicação definida."

"Ao assim proceder, o Arguido agiu de forma deliberada, livre e consciente, bem sabendo que a bengala — picha de boi, trazia consigo é considerada uma arma proibidae que, por isso, não podia nem devia detê-la."

" Sabia, ainda, o Arguido que a sua conduta era proibidae criminalmente punida."

3° – O Tribunal a quo formou a sua convicção, relativamente aos factos transcritos, no auto de apreensão de fls. 8, assim como do auto de exame directo de fls. 12, no depoimento da testemunha R--- e no depoimento dos dois agentes da PSP, ---, referindo que os meus mesmos, "no âmbito das suas funções (...) viram o arguido em discussão com uma senhora de nacionalidade brasileira, estando aquele a empunhar a bengala apreendida nos autos".

4° – Salvo o devido respeito, o Tribunal a quo julgou incorrectamente os factos provados acima identificados.

5° - As declarações do arguido, o depoimento prestado pelas testemunhas --- impunham que o facto " O Arguido não justificou a posse daquele objecto naquele momento e local, nem

posteriormente, nem o mesmo tem qualquer aplicação definida", tivesse sido dado por não provada 6° - O arguido no seu depoimento, disse que adquiriu aquele objecto na Serra da Estrela, numa altura em que tinha ido de férias com a família, tendo-o adquirido numa loja de artesanato.

7° - Tendo dito, também, que nessa loja existiam vários objectos idênticos à venda.

Acórdão do Tribunal da Relação de Évora

quinta-feira, 15 de Dezembro de 2011 15:10

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7° - Tendo dito, também, que nessa loja existiam vários objectos idênticos à venda.

8° - Afirmou ainda, que adquiriu esse objecto como recordação de lá, nunca pensando que esse objecto pudesse ser ilegal ou proibido.

9° – O referido objecto foi colocado por detrás da porta da cozinha que dá para o balcão do restaurante, segurado por um prego, portanto, em lugar visível a qualquer pessoa.

10°–Tendo ficado exposto por vários anos.

11° – O depoimento da testemunha ----, confirmou as declarações prestadas pelo arguido.

12° - A testemunha ---, confirmou que o arguido tinha adquirido a bengala como objecto decorativo, tendo afirmado que o arguido deu esse fim ao objecto, ao dizer que o mesmo esteve vários anos pendurados numa porta.

13° - A testemunha…., confirmou que sempre viu a bengala por detrás da porta, confirmando as declarações do arguido.

14° – O referido facto devia ter sido dado como não provado, em virtude do arguido ter justificado a posse do objecto.

15° – A aquisição e posse da bengala nunca teve como fim a agressão.

16° - Pelo simples facto de ter sido visto, com ele, em sua casa, não alterou a sua posse. 17° – O arguido justificou a sua posse perante o tribunal.

18°- Além disso, dizer que a bengala apreendida em fls. 8 dos autos, não tem qualquer aplicação definida, com o douto respeito que merece a decisão do tribunal a quo, mas tal interpretação não é correcta.

19° - A bengala é um objecto que pode ser aplicado a vários fins específicos e que são do conhecimento geral, mas nunca nenhum deles pode ser o da agressão.

20°- De acordo, com os depoimentos das testemunhas e do próprio arguido acima transcritos, uma bengala pode ter várias aplicações definidas, pode servir de apoio a uma pessoa como pode servir elemento decorativo,

21° - Nenhuma das testemunhas arroladas, viu o arguido agredir ou usar de forma ilícita a bengala. 22° — O referido facto devia ter sido dado como não provado, existindo assim, um erro na apreciação dos referidos depoimentos,

23° — Devendo, por isso, o arguido ser absolvido do crime em que foi condenado. 24° — Além disso, devia ter sido dado como provado que:

- O arguido adquiriu a bengala na Serra da Estrela, numa loja de artesanato; - Que na referida loja existiam várias bengalas à venda;

- Que adquiriu-a como recordação dessa viagem;

- E que teve a bengala pendurada, por um prego, na porta da cozinha, no lado que dá para o balcão do restaurante, exposta ao público.

25° — Os factos "Ao assim proceder, o Arguido agiu de forma deliberada, livre e consciente, bem sabendo que a bengala — picha de boi, trazia consigo é considerada uma arma proibidae que, por isso, não podia nem devia detê-la" e "Sabia, ainda, o Arguido que a sua conduta era proibidae criminalmente punida", também, deviam, também, ter sido dados como não provados.

26° — O depoimento das testemunhas --- e das próprias declarações do arguido resulta, que o arguido nunca equacionou que o objecto pudesse constituir um crime de detençãode arma proibida. 27° – A testemunha ---, que estava com arguido no momento da compra, disse que no estabelecimento de artesanato onde foi adquirida, haviam mais bengalas à venda.

28° — Ora, qualquer pessoa podia ter adquirido, sem alguma vez pensar que a mesma pudesse ser considerada ilegal.

29° — Mesmo que se considere a bengala como arma proibida, o arguido nunca a representou como tal, face à forma como a adquiriu e à posse que exerceu durante todos estes anos, conforme decorre do depoimento das testemunhas ---- e das declarações do arguido.

30° - Neste caso, nunca poderia ser condenado por estar em erro sobre a ilicitude, nos termos do n° 1 do artigo 17° do Código Penal, devendo neste caso ser absolvido, porque esse erro não lhe ser censurável.

31° - A douta decisão do Tribunal a quo também não fez boa apreciação do depoimento prestado pela testemunha ----.

32° - O Mmo. Juiz do Tribunal a quo, com o douto respeito que merece, não fez boa apreciação do referido depoimento ao concluir do mesmo, que ambos os agentes viram no restaurante "...." a arguido em discussão com uma senhora de nacionalidade brasileira, estando aquele a empunhar a bengala apreendida nos autos.

33° - A testemunha --- quando chegou ao local, constatou que não existia nenhuma discussão, não tendo presenciado qualquer discussão ou desacato.

34º - A testemunha disse apenas que tinha havido uma discussão mas não disse, nem foi questionado, se tinha visto o arguido a empunhar a bengala contra alguém.

35º Existiu, assim, um erro na apreciação do depoimento da testemunha ---.

36° - Aliás. a testemunha --- também nunca disse que o arguido empunhou a bengala contra alguém ou enquanto discutia.

37° Existindo assim um erro na apreciação deste depoimento.

38° - O objecto apreendido nos autos fls. 8, trata-se de uma bengala, que, com o douto respeito que merece a decisão do Tribunal a quo, não pode ser considerada como arma proibida.

39° - Não podendo integrar o crime de detençãode arma proibida, previsto no artigo 86°, n° 1, d) da Lei5/2006, de Fevereiro, nem o conceito de arma proibidaprevisto na anterior legislação, artigo 3°, n° 1, f) do DL. 207-A/75, de 17 de Abril.

40 ° - A bengala ou outro objecto para se considerar como armatem que, na utilização que lhe é dada, afastar-se de forma grave das finalidades possíveis que possam ser dadas ao objecto, criando um perigo letal para a vida, maior do que já representava.

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um perigo letal para a vida, maior do que já representava.

41° - Caso contrário, entramos no campo da arbitrariedade, podendo qualquer objecto integrar o conceito de arma proibida.

42° - O objecto em causa trata-se de uma bengala, que é feita de fibra animal, objecto do quotidiano das pessoas para ajudar a caminhar, mas, como, também, lhe pode ser utilizado para outros fins lícitos, como o de objecto decorativo ou ser objecto de colecção.

43° - No campo das hipóteses, mesmo que, alguém seja agredido com uma bengala não vai a mesma converter-se em arma proibida, porque esse perigo de ser utilizada como tal já existia.

44° - Neste sentido, tem-se pronunciado a jurisprudência:

- Acórdão da Relação de Lisboa, de 4 de Dezembro de 2001,que considerou que "O uso e porte de uma folha de serrote não integra o crime de detençãode arma proibida", "não integra tal crime um instrumento com aplicação definida, em abstracto, mesmo que possa ser usado como armaletal de agressão e que, no lugar e no momento em que é trazido, não tenha utilização lícita e o portador não justifique a sua posse";

- Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 22 de Janeiro de 2008, "A punir aquela detenção, então todas as pessoas que comprem um guarda chuva, longo, de ponta aguçada e em metal ou madeira e que o usem para resguardar da chuva mas que também admitam que andar com ele lhes dá segurança como meio de defesa em caso de ataque de alguém contra si ou aqueles que utilizem no seu trabalho objectos de uso profissional(chaves de fenda, facas, bastões, martelos, black and decker etc.) e pensem que os mesmos também poderão ser utilizados em defesa como armade agressão,

cometerão o crime que o recorrente pretende seja imputado ao arguido.

Tal interpretação ultrapassa os limites do bom senso, da exigibilidade de intervenção do direito penal e dos limites da necessidade da aplicação de penas, como foi salientado, e muito bem, quer no plano doutrinal quer jurisprudencial, pela decisão recorrida."

- Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 18 de Janeiro de 2007, considerou que "II – A amplitude da letra do conceito(arma) impõe uma interpretação se não restritiva, pelo menos declarativa, sob pena de todo e qualquer objecto se poder transformar em arma.

III – A caracterização de um objecto como armaterá, pois, a ver com as suas características e com a utilização ou afectação normal dela, com idoneidade dessa utilização ou afectação normal como meio de agressão.

IV – O uso desviado das propriedades do objecto não pode servir como critério para definir como arma. Assim, uma bengala, podendo embora servir para uma agressão, não é seguramente uma arma."

45° - Ora, a bengala que consta nos autos fls. 8, é uma bengala, é de fibra animal com cerca de 92 cm de comprimento, com extremo inferior protegido por borracha e envolto em fita adesiva preta, independentemente do nome que lhe queiram chamar é uma bengala como tantas outras.

46° - A decisão proferida pelo Tribunal a quo, com o douto respeito, violou o disposto nos artigos 275° n° 3 do Cód. Penal que remete para o artigo 3°, n° 1, al. f) do Decreto-Lein.º 207-A/75, de 17 de Abril, actualmente previsto no artigo 86°, n° 1 d) da Lei5/2006, de 23 de Fevereiro, por integrar o objecto apreendido como arma proibida.

47° - A douta decisão recorrida, com todo respeito que merece, ao interpretou subjectivamente a previsão do crime de detençãode arma proibida, incorporando no conceito de arma proibida

qualquer tipo de instrumento que tivesse propensão para a agressão, como se de urna norma penal em branco se tratasse.

48° - Ora, a bengala que consta nos autos, não pode ser interpretada como integrando o conceito de arma proibida.

49° - Foram, assim, violados os princípios da legalidade, previsto no art.1 do Cod. Penal e o princípio da necessidade, previsto no artigo 18° n° 2 da CRP.

50° - A prova produzida nos presentes autos impunha ao tribunal a quo uma decisão oposta à que resulta do acórdão recorrido, considerando que o recorrente justificou a posse da bengala, nunca tendo representado para o mesmo que a posse da bengala pudesse alguma vez constituir crime, além disso, nunca agrediu ninguém com a bengala.

51° - Desta forma, o Tribunal a quo violou, entre outros: - art.º 32.º, n.º 2 (princípio "in dubio pro reo") CRP; - art.º 97º, n.º 4; 127º; 340º e 374º, n.º 2, todos do C.P.P..

52 ° - Não obstante e admitindo-se, por mera hipótese, que a posse do objecto apreendido (bengala) ao arguido não foi justificada e que o mesmo constitui arma proibida, a decisão do Tribunal a quo devia ter considerado a circunstância do objecto ter sido apreendido na habitação do arguido e não em local público.

53° - Que o arguido não agrediu ninguém com a bengala.

54° - As circunstâncias de aquisição do objecto e onde o mesmo esteve exposto, também, deviam ter sido levadas em conta

55° - E, por fim, continuando na hipótese da bengala ser integrada como arma proibida, o perigo que ela representa, só por si, é diminuto devido às suas características.

56° - Todos estes elementos ponderados, mereciam uma decisão diferente por parte do Tribunal a quo, com o douto respeito que a mesma merece.

57° - A pena de 120 dias de multa à taxa diária de 10 Euros, perfazendo, no total, 1200 Euros, revela-se excessiva.

58° - O tribunal a quo, com o douto respeito que merece, violou os arts. 40° e 71°, ambos do C. Penal 59° - Em virtude de não ter atendido a todas as circunstâncias que, não fazendo parte do crime, depuseram a favor do agente, em consequência, não observou o preceituada

60° - Assim sendo, na hipótese de Vªs. Exªs. considerarem que o referido objecto constitui crime de detençãode arma proibida, previsto no artigo 275°, n.º 3, C.P., ponderados todos os elementos,

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detençãode arma proibida, previsto no artigo 275°, n.º 3, C.P., ponderados todos os elementos, conforme o disposto no artigo 71° do C.P., deve a mesma não ser superior a 100 dias a taxa diária de 5 Euros, perfazendo no global 500 Euros.

Em suma, nos presentes autos, não só ficou cabalmente provado que o recorrente não praticou o crime em que foi condenado, como foi criada uma claríssima dúvida razoável quanto ao facto pelo qual vem acusado e quanto à sua culpa, pelo que deve ser absolvido do crime em que foi condenado. #

O Ex.mo Procurador Adjunto do tribunal recorrido respondeu, concluindo da seguinte forma:

I. Em causa nos autos está um objecto que, no entender do arguido é uma bengala - e que assim ficou consignado nos factos provados por assim também ter sido descrito ao longo dos autos pelo militar que o examinou — mas que, na realidade, no local onde é utilizado (no campo) serve para conduzir animais, chicoteando-os, ou seja, é um chicote feito de fibra animal com cerca de 92 em de

comprimento, com extremo inferior protegido por borracha e fita adesiva isoladora e o extremo superior envolto no mesmo tipo de fita, que vulgarmente se dá o nome de "picha de boi".

II. Ao contrário do que alega e transcreve parcialmente o recorrente quanto ao cita o sumário do Ac STJ de 18/01/2007 até ao seu ponto IV, "V. A lei, no citado art. 4.° do DL 48/95 admite, porém, uma extensão do conceito de armaa outro tipo de objectos, por meio da expressão "ainda que de aplicação definida".VI - Essa expressão parece contemplar objectos cuja "aplicação definida" não seja a de meio de agressão, mas que, subtraídos ao contexto normal da sua utilização, podem ser integrados no conceito de arma. Será esse o caso das facas de cozinha, por exemplo. Nestes casos (e no caso das "bengalas" que não servem para amparar, mas antes para chicotear os animais na sua condução, acrescentamos nós), a perigosidade dos objectos é evidente e só a sua integração no contexto espacial da sua utilidade é que lhes retira as características de arma. VII - Assim, armanão é (talvez seja preferível definir o conceito negativamente, por exclusão) o objecto que, podendo excepcionalmente ser aproveitado para praticar uma agressão, não foi fabricado com essa finalidade nem é essa a sua utilidade normal" — sublinhado e acrescento sem itálico nosso.

III. Por outro lado, o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 19-03-2003, in www.dgsi.pt, que confirmou um acórdão proferido na 1.ª' instância onde, para além do mais, constavam os seguintes factos provados que foram considerados suficientes para manter a condenação do arguido/recorrente por detençãode arma proibida: "Os elementos da GNR procederam ainda .." à apreensão de " (...) uma bengala, que tinha a extremidade posterior curvada e na anterior tinha uma protecção em tubo de ferro, com cerca de 11,5 cm, pertença daquele" (o arguido); e que " o arguido sabia que (…) e a bengala, com as características das que lhe foram apreendidas podiam ser usadas como armasletais de agressão e não tinha qualquer justificação para as deter;

IV. São relevantes os factos que interessem à discussão da causa e se "relacionem directamente com a. conduta em apreciação" - Acórdão do STJ de 17 de Fevereiro de 2005, publicado no site www.dgsi.pt. V. Dispõe o art. 374.°, n.º 2 do CPP que "Ao relatório segue-se a fundamentação, que consta da enumeração dos factos provados e não provados, bem como de uma exposição tanto quanto possível completa, ainda que concisa, dos motivos, de facto e de direito, que fundamentam a decisão, com indicação e exame crítico das provas que serviram para formar a convicção do tribunal."

VI. "A impugnação da decisão, por violação do dever geral de fundamentação, contido no art.° 374º, n.° 2 do CPP, conformando a nulidade da al. a) do n.° 1, do art.° 379, assenta, essencialmente, no facto de a fundamentação de facto da sentença omitir factos alegados pela defesa, na contestação e resultantes da discussão da causa, não os tendo levado nem ao elenco dos factos provados nem os discriminando como não provados" — neste sentido, vide Acórdão da Relação do Porto de 16 de Fevereiro de 2005, publicado no site já citado e que seguiremos de perto.

VII. Analisadas as declarações do arguido e das testemunhas, incluindo de defesa, , vê-se que a mesma ou passa, numa primeira fase, pela negação da prática dos factos nos termos descritos na acusação e do seu contexto (o empunhar do referido objecto durante uma discussão entre o arguido e uma mulher), depois, por questionar a qualificação jurídica atribuída a tais factos em virtude do uso decorativo que o arguido alega dar à referida bengala/chicote.

VIII. Ora, o Tribunal ao dar como provados os factos da acusação — que o arguido detinha uma bengala feita de fibra animal com cerca de 92 cm de comprimento, com extremo inferior protegido por borracha e fita adesiva isoladora e o extremo superior envolto no mesmo tipo de fita, que vulgarmente se dá o nome de ―picha de boi‖ não justificou a sua posse, nem qualquer aplicação definida e não provados quaisquer outros com relevo para a boa decisão da causa - tornou posição de forma expressa quanto à matéria fáctica trazida aos autos, ou seja, na sua livre convicção, não acreditou na versão do arguido (de que o objecto servia para decoração), porque contraposta com a das

testemunhas (não só da acusação, os militares, como inclusive a de defesa,…., que declarou ter visto o arguido com a bengala/chicote em punho para uma pessoa).

IX. É óbvio que se o Tribunal considerou a matéria da acusação provada e a matéria da defesa não provada, isto dispensa-o de se pronunciar acerca de outros factos que estão associados de forma indirecta à sua versão, tais que as testemunhas/militares haviam sido chamados ao local em virtude de uma briga entre o arguido e uma senhora brasileira (que o próprio arguido acabou por confirmar) para quem era empunhado a bengala/chicote.

X. "A exigência legal de na sentença se fazer a descrição dos factos provados e não provados refere-se aos que são essenciais à caracterização do crime e às suas circunstâncias juridicamente relevantes, o que exclui os factos inócuos, irrelevantes para a qualificação do crime ou para a graduação da responsabilidade do arguido, mesmo que descritos na acusação ou na contestação", como se retira do Acórdão do STJ de 15 de Janeiro de 1997, CJ, Acs do STJ, V, Tomo I, 181 e Acórdão do STJ de 06 de Fevereiro de 2004, publicado no site www.dgsi.pt.

XI. O Tribunal a quo não ignorou a versão apresentada pelo arguido na audiência, quando ele justifica a detençãoda bengala/chicote com os motivos decorativos, apenas não acreditou nela e,

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justifica a detençãoda bengala/chicote com os motivos decorativos, apenas não acreditou nela e, nessa medida, considerou-a irrelevante para a boa decisão da causa.

XII. O Tribunal motivou a sua convicção de forma clara, convicta, sem dúvidas, indicando os testemunhos relevantes e credíveis que sustentaram a decisão tomada.

XIII. (...)Não se exige que o julgador exponha pormenorizada e completamente todo o raciocínio lógico que se encontra na base da sua convicção de dar como provado um determinado facto" ou de dar outro como não provado. — Vide Acórdão do STJ de 29 de Junho de 1995, CJ, Acs. do STJ, III, Tomo II, 254.

XIV. Neste contexto, o Tribunal investigou os factos que lhe cumpria e com relevo para a decisão, estando os mesmos inseridos num processo lógico, sendo que a fundamentação de facto na sentença, quanto à enumeração dos factos provados e não provados, satisfaz a exigência legal contida no art. 374.°, n.° 2, do CPP.

XV. O recorrente levanta uma inconstitucionalidade por violação do princípio do contraditório, nos termos do art. 18.°, n.° 2 da CRP.

XVI. Não vislumbramos em que medida é que tal violação possa ter ocorrido, já que o recorrente não concretiza a mesma.

XVII. O "erro notório na apreciação da prova" constitui uma insuficiência que só pode ser verificada no texto e no contexto da decisão recorrida, quando existam e se revelem distorções de ordem lógica entre os factos provados e não provados, ou que traduza uma apreciação manifestamente ilógica, arbitrária, de todo insustentável, e por isso incorrecta, e que, em si mesma, não passe despercebida imediatamente à observação e verificação comum do homem médio. – Vide, Acórdão do STJ de 17 de Março de 2004, publicado no site www.dgsi.pt. (por nós sublinhado).

XVIII. Desde já se adianta, que entendemos não existir qualquer incongruência na fundamentação pugnada na sentença recorrida.

XIX. Por último, invoca que a prova é insuficiente para manter a condenação do recorrente com o enquadramento jurídico pugnado pelo tribunal, pois permite a criação de dúvidas e incertezas, devendo antes prevalecer-se do principio do in dubio pro reo constitucionalmente consagrado no art. 32.° da CRP.

XX. Dúvida insanável a motivar uma decisão pro reo é a "que há-de levar o tribunal a decidir pro reo, tem de ser uma dúvida positiva — que se apoia em fortes argumentos - , uma dúvida racional que ilida a certeza contrária; (...) uma dúvida que impeça a convicção do tribunal"- neste sentido, Acórdão do STJ de 17 de Fevereiro de 2005, publicado no site www.dgsi.pt.

XXI. "A convicção objectivável e motivável existirá quando e só quando (...) o tribunal tenha logrado convencer-se da verdade dos factos para além de toda a dúvida razoável. Não se tratará, pois, na convicção, de uma mera opção "voluntarista" pela certeza de um facto e contra a dúvida, (...) mas sim de um processo que só se completará quando o tribunal, por uma via racionalizável, ao menos, a posteriori, tenha logrado afastar qualquer dúvida para que pudessem ser dadas razões, por pouco verosímil ou provável que ela se apresentasse". — Vide Prof. Figueiredo Dias citado no referido Acórdão.

XXII. Daí que se entenda que "quanto aos factos duvidosos, o princípio da livre convicção não fornece, nem pode fornecer, qualquer critério decisório". — Acórdão já citado.

XXIII. Transpondo tais considerações para a sentença recorrida, temos que quanto à fundamentação da prova o Tribunal atentou nos depoimentos da testemunha arrolada pelo arguido … e nos

depoimentos dos militares e, em parte, no depoimento do próprio arguido.

XXIV. O tribunal não ficou com dúvidas algumas sobre o acontecido, pelo que, entendemos não haver violação alguma do princípio em causa nem foi violado o princípio da livre apreciação, como contraponto daquele.

XXV. Em sede de medida concreta da pena foram consideradas todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo, depunham a favor e contra o arguido – as necessidades de prevenção, o dolo, os antecedentes criminais e as condições pessoais e económicas - pelo que a decisão recorrida não merece, também nesta parte reparo.

XXVI. Em consequência, entendemos que o despacho recorrido deverá ser mantido e o presente recurso ser declarado improcedente.

#

Nesta Relação, a Ex.ma Procuradora-Geral Adjunta emitiu parecer no sentido da improcedência do recurso.

Cumpriu-se o disposto no art.º 417.º, n.º 2, do Código de Processo Penal. Procedeu-se a exame preliminar.

Colhidos os vistos e realizada a conferência, cumpre apreciar e decidir. II

Na sentença recorrida e em termos de matéria de facto, consta o seguinte: -- Factos provados:

No dia 15 de Setembro de 2005, cerca das 00h30m, junto à porta do restaurante …, o Arguido foi abordado pelo agente da PSP…., que constatou que o Arguido trazia consigo o seguinte objecto: - Uma bengala de cor castanha, de fibra animal, com cerca de 92 cm de comprimento, com o extremo inferior protegido por borracha e fita adesiva isoladora de cor preta e extremo superior envolto no mesmo tipo de fita objecto habitualmente denominado de ―picha de boi‖.

O Arguido não justificou a posse daquele objecto naquele momento e local, nem posteriormente, nem o mesmo tem qualquer aplicação definida.

Ao assim proceder, o Arguido agiu de forma deliberada, livre e consciente, bem sabendo que a bengala – picha de boi, trazia consigo é considerada uma arma proibidae que, por isso, não podia nem devia detê-la.

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Sabia ainda o Arguido que a sua conduta era proibidae criminalmente punida.

Do certificado de registo criminal do arguido constante de fls. 123 e 124 consta uma condenação pela prática de um crime de ofensas à integridade física simples praticado em 04 de Março de 2005 e um crime de dano comum praticado em 19 de Julho de 2005.

O Arguido é gerente numa empresa de construção civil, actividade que lhe rende mensalmente, a quantia de € 1.500,00.

Vive em casa própria sendo que paga a quantia mensal de € 600,00 de empréstimo bancário. #

-- Factos não provados:

Para além dos factos referidos supra não se provaram quaisquer outros com relevância para a boa decisão da causa.

#

Fundamentação da convicção:

O Tribunal formou a sua convicção com base na análise e valoração da prova produzida e examinada em audiência de discussão e julgamento, designadamente, no auto de apreensão de fls. 8, assim como do auto de exame directo de fls. 12, autos estes os quais serviram para que o Tribunal se

consciencializasse de que tipo de objecto nos reportamos nos autos, assim como qual a data da apreensão do mesmo.

Para além do mais, é de referir o depoimento dos dois agentes da PSP os quais descreveram qual a circunstância de tempo, modo e lugar em que os factos referidos supra se verificaram.

Assim, por ambos foi referido que foram chamados a uma ocorrência sita no ―…‖, no âmbito das suas funções e que, nesse local viram o Arguido em discussão com uma senhora de nacionalidade

brasileira, estando aquele a empunhar a bengala apreendida nos autos.

Tal situação foi também reiterada pela testemunha arrolada pelo Arguido, nomeadamente …., o qual, apesar de ter, em tempos, tido uma relação de quase parentesco para com o Arguido, não o impediu de responder com verdade e isenção às questões que lhe foram colocadas.

Aliás, é de mencionar que o próprio Arguido refere o facto de ter ocorrido uma discussão naquela noite, com a dita senhora brasileira.

Porém, o Tribunal não atendeu à sua versão dos factos, tendo em consideração que esta, e no que respeita à passividade do Arguido em empunhar o objecto apreendido nos autos, contrastou com todas as restantes testemunhas inquiridas, inclusive com a testemunha por si arrolada.

III

De acordo com o disposto no art.º 412.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, o objecto do recurso é definido pelas conclusões formuladas pelo recorrente na motivação e é por elas delimitado.

De modo que as questões postas ao desembargo desta Relação são as seguintes:

1.ª – Que foi por ter avaliado mal a prova testemunhal produzida em julgamento que o tribunal a quo deu como provados os factos constantes dos 3.º, 4.º e 5.º parágrafos da matéria de facto assente como provada da sentença recorrida;

2.ª – Que uma bengala feita daquilo que habitualmente é denominado de “picha de boi”, com cerca de 92 cm de comprimento, não deve ser considerada como sendo uma arma proibi da, nos termos e para os efeitos do disposto ou no art.º 275.º, n.º 3, do Código Penal, e 3.º, n.º 1 al.ª f), do Decreto-Lein.º 207-A/75, de 11-4, ou no art.º 86.º, n.º 1 al.ª d), da Lein.º 5/2006, de 23-2; e

3.ª – Que, de qualquer modo, a pena aplicada é exagerada. #

Começaremos pela abordagem da 2.ª das questões postas, pois que se a mesma for decidida em sentido favorável à pretensão do arguido, escusado será abordar as demais.

Pretende pois o arguido que uma bengala feita daquilo que habitualmente é denominado de “picha de boi”, com cerca de 92 cm de comprimento, não é uma arma proibida, nos termos e para os efeitos do disposto ou no art.º 275.º, n.º 3, do Código Penal, e 3.º, n.º 1 al.ª f), do Decreto-Lei n.º 207-A/75, de 11-4, ou no art.º 86.º, n.º 1 al.ª d), da Lein.º 5/2006, de 23-2.

Atendendo a que os factos remontam a 15 de Setembro de 2005, temos que a legislação que então se aplicava ao caso era constituída pelos art.º 275.º, n.º 1 e 3, do Código Penal, e 3.º, n.º 1 al.ª f) do Decreto-Lein.º 207-A/75, de 17-4, na redacção conferida pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23-9. Posteriormente, passou a ser regida pelo art.º 86.º, n.º 1 al.ª d), da Lein.º 5/2006, de 23-2. Estabelece aquele art.º 275.º, n.º 1 e 3:

1. Quem importar, fabricar, guardar, comprar, vender, ceder ou adquirir a qualquer título, transportar, distribuir, detiver, usar ou trouxer consigo engenho ou substância explosiva (…) fora das condições legais ou em contrário das prescrições das autoridades competentes, é punido (…).

3. Se as condutas referidas no n.º 1 disseram respeito a armas proibidas (…) o agente é punido (…). Postula, por sua vez, o art. 3º, n.º 1 al.ª f), do Decreto-Lei n.º 207-A/75, de 17-4, na redacção conferida pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23-9:

1. É proibida(…) a detenção, uso e porte (…) :

f) (…)instrumentos sem aplicação definida, que possam ser usados como armaletal de agressão, não justificando o portador a sua posse.

O art. 4.º do Decreto-Lein.º n.º 48/95, de 15-3, consagrou que “para efeito do disposto no Código Penal, considera-se armaqualquer instrumento, ainda que de aplicação definida, que seja utilizado como meio de agressão ou que possa ser utilizado para tal fim”.

No entanto o que aí se estabelece não é a definição típica do crime de detençãode arma proibida, mas antes e apenas um conceito genérico de arma utilizado em outros tipos de crime (cfr. também o art. 204º n.º 2, f), do C.P.).

Na verdade nem o Decreto-Lein.º 400/82, de 23-9, que aprovou o Código Penal de 1982, nem o Decreto-Lein.º 48/95, de 21-3, que procedeu à sua revisão, revogaram o art. 3º do Decreto-Lei n.º 207-A/75, de 17-4, que define o que são armas proibidas.

(7)

207-A/75, de 17-4, que define o que são armas proibidas.

Tal normativo só veio a ser revogado pelo art.º 118.º, al.ª c), da já citada Lein.º 5/2006, em cujo art.º 86.º, n.º 1 al.ª d), se pode ler:

1. Quem, sem se encontrar autorizado, fora das condições legais ou em contrário das prescrições da autoridade competente, detiver, (…) guardar, comprar, adquirir a qualquer título ou por qualquer meio (…) usar ou tiver consigo:

d) (…) instrumentos sem aplicação definida que possam ser usados como arma de agressão e o seu portador não justificar a sua posse (…) é punido (…)

Numa primeira análise, a referida alínea f) do n.º 1 do art.º 3.º, do Decreto-Lein.º 207-A/75, de 17-4, apresenta dois conceitos distintos de armas(em sentido lato): de um lado, as armas brancas e de fogo com disfarce; e, de outro, os demais instrumentos sem aplicação definida, que possam ser usados como armaletal de agressão. Exigindo-se, em ambos os casos, que o agente não justifique a sua posse. Procurando encontrar um traço comum nos dois conceitos verifica-se que se traduz, para além da vocação e capacidade para atentar com gravidade contra a vida ou integridade física das pessoas, na dissimulação dessa aptidão e objectivo, criando nas vítimas (potenciais ou efectivas) o efeito de surpresa e de se encontrarem indefesas pela aparência de objectos “inofensivos” - pelo disfarce ou por, sendo objectos sem aplicação definida, não se apresentarem como instrumentos de agressão.

Contudo, a amplitude do conceito de arma proibi da impõe uma interpretação se não restritiva, pelo menos declarativa, sob pena de todo e qualquer objecto se poder transformar em arma.

A caracterização de um objecto como arma terá, pois, a ver com as suas características e com a utilização ou afectação normal delas, com a idoneidade dessa utilização ou afectação normal como meio de agressão. Mas o uso desviado das propriedades do objecto não pode servir como critério para o definir como arma. Um cinto, podendo embora ser brandido de forma a com ele se infringirem danos físicos severos, decerto ninguém o considerará uma arma. Mesmo uma navalhinha de bolso, daquelas de descascar maçãs, não é “promovida” a arma por haver a possibilidade de ser utilizada como instrumento ofensivo. E um guarda-chuva, pode ser aproveitado como instrumento de agressão, quiçá mortal, se utilizada a sua ponteira metálica, sem que seguramente ninguém defenda que é uma arma. Também assim uma bengala, podendo embora servir para uma agressão (as famosas

“bengaladas” dos romances de Eça), não é seguramente uma arma.

A lei, no citado art. 4º do DL nº 48/95, admite, porém, uma extensão do conceito de arma a outro tipo de objectos, por meio da expressão “ainda que de aplicação definida”. Essa expressão parece

contemplar objectos cuja “aplicação definida” não seja a de meio de agressão, mas que, subtraídos ao contexto normal da sua utilização, podem ser integrados no conceito de arma. Será esse o caso das facas de cozinha, por exemplo. Nestes casos, a perigosidade dos objectos é evidente e só a sua integração no contexto espacial da sua utilidade é que lhes retira as características de arma.

Poderemos então concluir que arma não é (talvez seja preferível, definir o conceito negativamente, por exclusão) o objecto que, podendo excepcionalmente ser aproveitado para praticar uma agressão, não foi fabricado com essa finalidade nem é essa a sua utilidade normal.

Posto isto, entendemos que uma bengala feita de “picha de boi”, que se sabe ter sido originariamente criada para vergastar o lombo dos animais na condução dos mesmos pelos campos e ainda como amparo ao caminhar do pastor (tal como a sua homónima de pau ou o cajado), mas a qual, pela curiosidade do material de que é feita e o aspecto que tem, foi sendo também progressivamente erigida como curioso objecto de artesanato característico de algumas zonas sobretudo do interior centro e norte do país continental e até objecto de decoração (independentemente do bom ou mau gosto da mesma, com o qual ninguém tem nada a ver) – o que justifica a respectiva posse –, podendo embora ser utilizada como meio de agressão, não pode ser havida como arma.

#

Aqui chegados, não é pois necessário conhecer das duas demais questões postas no recurso, pois que uma delas era a da medida da pena, que o recorrente, se improcedessem as demais objecções, tinha por exagerada, e a outra era a de que foi por ter avaliado mal a prova testemunhal produzida em

julgamento que o tribunal a quo deu como provados os factos constantes dos 3.º, 4.º e 5.º parágrafos da matéria de facto assente como provada da sentença recorrida, sendo que nestes parágrafos ficara consignado o seguinte:

O Arguido não justificou a posse daquele objecto naquele momento e local, nem posteriormente, nem o mesmo tem qualquer aplicação definida.

Ao assim proceder, o Arguido agiu de forma deliberada, livre e consciente, bem sabendo que a bengala – picha de boi, trazia consigo é considerada uma arma proibidae que, por isso, não podia nem devia detê-la.

Sabia ainda o Arguido que a sua conduta era proibidae criminalmente punida.

Como esta Relação chegou à conclusão de que o mencionado artefacto não é uma arma, pouco importará agora saber em que moldes de apreciação da prova testemunhal produzida em julgamento se baseou o tribunal "a quo" para dar como provados aqueles factos.

IV

Termos em que se concede provimento ao recurso e, em consequência, se absolve o arguido. Não é devida tributação.

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Évora, 16-12-2008

(elaborado e revisto pelo relator) Martinho Cardoso

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Ins erido a partir de

<http://www.dgsi.pt/jtre.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e04b45daed5ecfc18025756900561276? OpenDocument&Highlight=0,lei,armas,deten%C3%A7%C3%A3o,arma,proibida>

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