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Batom e pistola 40: as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA BRUNA PAOLA MICHELON ALVES

BATOM E PISTOLA .40:

As implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis

Palhoça 2012

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BRUNA PAOLA MICHELON ALVES

BATOM E PISTOLA .40:

As implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Orientadora TCC I: Juliane Viecili, Drª Orientadora TCC II: Carolina Bunn Bartilotti, Drª

Palhoça 2012

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AGRADECIMENTOS

Após esses longos cinco anos, faz-se necessário agradecer algumas pessoas que foram muito importantes nessa jornada que por vezes foi dolorosa, difícil e sofrida, mas que em geral foi muito prazerosa, divertida e que trouxe para além do saber técnico de uma das mais belas profissões, aprendizados novos, impossíveis de serem descritos.

Aos meus pais Vitor e Jane, que sempre me apoiaram e acreditaram que eu era capaz. Obrigada pelos ensinamentos, com certeza não tornaram a vida mais fácil, mas fizeram com que a reflexão fizesse parte de todas as minhas decisões. Desculpem a ausência, mas foi por uma boa causa. Amo muito vocês!

Ao meu companheiro Henrique, ser humano fantástico que sempre esteve e estará ao meu lado. Sei que não foi nada fácil entender as longas horas estudando e a vontade de ajudar o mundo, sempre. Mas sei que sabes que essa é a minha razão de viver. Te amo muito, príncipe!

Aos meus amigos, que são a minha família. Sei que em algumas ocasiões não pude estar compartilhando a vida com vocês, mas amiga (quase) psicóloga é assim. Obrigada amigos maravilhosos. Amo vocês!

Aos meus bebês (bichinhos), meus companheirinhos de todas as horas. Alguns de vocês tiveram que ir durante a minha jornada, mas sempre vão estar comigo (no meu coração). Obrigada meus amores!

Aos meus colegas de faculdade, tantas histórias e confidências naquele campus da Pedra Branca. Foi um prazer inenarrável ter estado com vocês! Poucos sei que continuarão fazendo parte do meu caminho, outros, sei que as circunstâncias da vida irão nos separar, mas foi muito bom ter estado com vocês. Parabéns!

As minhas orientadoras Juliane e Carol, obrigada por ajudarem a construir este trabalho que foi a realização de um sonho! Mais que orientadoras e exemplos de profissionais, vocês serão mulheres que levarei em meu coração para sempre!

A minha banca de TCCI Maria Cristina e Vanderlei, profissionais incríveis que ajudaram a melhorar este trabalho. Muito obrigada pela disponibilidade (dentro e fora da banca)! Serei eternamente grata a vocês! Agradeço também ao professor Iúri, por ter aceitado prontamente participar da minha banca de TCCII, sei que sua contribuição será essencial!

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A Polícia Civil de Santa Catarina, Instituição que desde o início do curso aprendi a entender e admirar. Durante cinco anos, grande parte dos meus estudos foi ligado a esta e pelos próximos anos assim será, pois sei que a maior parte das pessoas esquece de olhar para quem as protege.

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Sweet dreams are made of this. Who am I to disagree? I traveled the world and the seven seas. Everybody's looking for something. Sweet Dreams (Are Made Of This) – Eurythmics

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RESUMO

Com a intensificação da entrada das mulheres no mercado de trabalho a partir da década de 1970, as mulheres passaram a ocupar cargos antes exclusivamente ligados ao homem. Em relação à inserção de mulheres na polícia civil estas realizam uma função onde são exigidas habilidades que são geralmente remetidas à natureza do homem, tais como a coragem e a proteção. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis, estas relacionadas à rotina de trabalho, relações familiares e sociais bem como em sua auto-imagem e saúde. Por haver poucas publicações relacionadas ao tema, a pesquisa classifica-se como exploratória, delineamento estudo de campo, além disso, caracteriza-se como uma pesquisa de corte transversal e natureza quantitativa. Para que os objetivos pudessem ser respondidos foi desenvolvido um questionário, sendo este entregue em onze delegacias de comarca da Grande Florianópolis, bem como no SAER e na DEIC. Pode-se perceber que as participantes consideram o trabalho de policial estressante, porém afirmam que conseguem realizar atividades que gostam em seus dias de folga. Além disso, foi possível observar que as mulheres da pesquisa mesmo tendo uma dupla jornada (trabalhar na instituição policial e cuidar do lar), afirmam ainda terem tempo de cuidarem de sua aparência. Outro aspecto a ser destacado diz respeito ao bom relacionamento com seus colegas, ou seja, elas afirmam manterem uma boa relação com os mesmos e não percebem que são tratadas de forma diferente pela sociedade por serem mulheres policiais.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 – Percepções negativas acerca do trabalho de policial para mulheres policiais civis

(n=41) ... 40

Gráfico 2 – Percepções positivas acerca do trabalho de policial para mulheres policiais civis (n=41) ... 41

Gráfico 3 – Motivos pelos quais mulheres policiais civis trabalham (n=41) ... 43

Gráfico 4 – Fatores de risco da profissão (n=41) ... 45

Gráfico 5 – Sintomas físicos percebidos pelas mulheres policiais civis (n=41) ... 47

Gráfico 6 – Sintomas psicológicos percebidos pelas mulheres policiais civis (n=41) ... 47

Gráfico 7 – Relacionamento com os colegas de trabalho das mulheres policiais civis (n=41)... 50

Gráfico 8 – Relacionamentos de amizade das mulheres policiais civis (n=41) ... 50

Gráfico 9 – Relacionamento com a família (n=41) ... 52

Gráfico 10 – atividades realizadas pelas mulheres policiais civis nos dias de folga (n=41)... 53

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Caracterização do cargo e da jornada de trabalho das participantes da pesquisa (n=41)... 36 Tabela 2 – Caracterização sócio-demográfica das participantes da pesquisa (n=41) ... 37 Tabela 3 – Equipamentos de trabalho utilizados pelas mulheres policiais civis (n=41) ... 38

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 10 1.1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA ... 11 1.2 OBJETIVOS ... 18 1.2.1 Objetivo Geral: ... 18 1.2.2 Objetivos Específicos: ... 19 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 20

2.1 A INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO ... 20

2.2 TRABALHO NA INSTITUIÇÃO POLICIAL E A INSERÇÃO DA MULHER ... 26

3 MÉTODO ... 30

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ... 30

3.2 PARTICIPANTES ... 30

3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ... 31

3.4 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS ... 32

3.5 SITUAÇÃO E AMBIENTE ... 32

3.6 PROCEDIMENTO DE COLETA ... 32

3.6.1 Seleção de local de coleta ... 33

3.6.2 Seleção dos participantes ... 33

3.6.3 Procedimento de contato com os participantes ... 34

3.7 PROCEDIMENTO DE REGISTRO DE DADOS ... 34

3.8 PROCEDIMENTO DE ORGANIZAÇÃO E TRATAMENTO DE DADOS ... 34

4 ANÁLISE DOS DADOS ... 35

4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES ... 35

4.2 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DA MULHER POLICIAL: ... 39

4.3 RELACIONAMENTO INTERPESSOAL E ATIVIDADES DE LAZER ... 49

4.4 SER MULHER E POLICIAL ... 55

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REFERÊNCIAS ... 61

APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO ... 66

APÊNDICE B – DECLARAÇÃO DE CIÊNCIA E CONCORDÂNCIA DAS INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS ... 71

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho de Conclusão de Curso é um dos requisitos obrigatórios para a obtenção do título de Psicólogo da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL. O presente trabalho foi elaborado no primeiro e segundo semestres de 2012.

A partir da oitava fase o aluno do curso de Psicologia deve optar entre o Núcleo Orientado de Psicologia e Saúde ou o Núcleo Orientado de Psicologia e Trabalho Humano. Ambos desenvolvidos através de estágios obrigatórios na nona e décima fases do curso. A autora da pesquisa optou pelo Núcleo Orientado de Psicologia e Trabalho Humano, mais especificamente o projeto de Desenvolvimento Humano nas Organizações, para a realização do estágio curricular, onde são trabalhadas questões ligadas ao trabalho humano no contexto das organizações.

A presente pesquisa foi desenvolvida a partir das duas temáticas que mais prazerosas foram de estudar durante a jornada na universidade para a autora: gênero (principalmente a inserção da mulher no mercado de trabalho) e a psicologia jurídica (em especial o trabalho da polícia civil). Estas duas ocorreram, devido às experiências acadêmicas que a autora vivenciou, tais como, estágio voluntário em uma Delegacia de Comarca da Grande Florianópolis e a participação em um Projeto de Extensão (oferecido pela Unisul) que realizava atendimento a mulheres em situação de violência doméstica, dentre outras atividades. A autora decidiu pesquisar sobre os servidores com quem conviveu nestas experiências – os policiais, mais especificamente as mulheres policiais civis. Este desejo de pesquisar sobre as mulheres policiais civis deu-se também pelos questionamentos que surgiram ao longo de sua jornada acadêmica, tais como: De que forma estas mulheres percebem-se em um ambiente de trabalhado cercado por atributos socialmente associados ao universo masculino como crimes, armas, atendimento a suspeitos, uso de armas e força física dentre outros aspectos? Como estas mulheres vivenciam sua rotina de trabalho e conciliam esta com os diversos papéis que desenvolvem (mãe, companheira, amiga)? Desta forma a presente pesquisa busca caracterizar as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis.

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1.1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA

O trabalho é um fator constitutivo na vida do sujeito, pois através deste o sujeito se realiza e é autor de mudanças no ambiente em que está inserido. Mais especificamente em relação às mulheres estas sempre trabalharam, porém essa atividade não era considerada trabalho, pois socialmente elas não eram percebidas como agentes de mudança (PROBST,2007). A partir da entrada da mulher no mercado de trabalho, ela mantém a função de cuidadora dos filhos e do lar e ainda adquire a função de realizar um trabalho externo. Em relação a mulheres policiais civis estas realizam uma função onde são exigidas habilidades que são geralmente remetidas à natureza do homem, tais como a coragem e a proteção. E ainda devem demonstrar que são capazes de desempenhar as mesmas funções que seus colegas de trabalho do sexo masculino. Sendo assim de que forma esta atividade laboral implica nas relações familiares? E nas relações sociais? Como esta mulher percebe sua auto-imagem constituída a partir destas diversas funções que desempenha? Qual é a noção de trabalho delas? Qual sua rotina de trabalho?

A vida do sujeito é permeada desde sua infância pelo trabalho. A criança vivencia a rotina de trabalho de seus pais e desde muito cedo aprende que o trabalho faz parte do cotidiano do indivíduo. Mas afinal, o que é trabalho? De acordo com Ribeiro (s/d) trabalho é uma atividade central na vida dos sujeitos, pois ocupa grande parte do espaço e do tempo de sua vida e de todos ao seu redor, como a criança que percebe que todos os dias, das oito da manhã às dezoito da noite, seus pais não estão em casa, pois estão trabalhando. Vale ressaltar que a atividade laboral não é apenas a troca de trabalho por uma remuneração, pois é no trabalho que o sujeito se reconhece, reconhece o outro e pode realizar trocas sociais a partir disso. Além disso, o trabalho traz um reconhecimento social para este sujeito. Por exemplo, ao se apresentar a alguém, em geral o sujeito diz seu nome e sua ocupação - meu nome é Maria e eu sou professora - pois é dessa forma que ele se reconhece e é reconhecido socialmente. Sendo assim, a partir do trabalho o indivíduo pode desenvolver suas potencialidades, o que poderá lhe trazer auto realização, pois ele irá se reconhecer no produto final de seu trabalho (CODO, 1985).

Durante sua trajetória profissional, o sujeito está exposto a diversas variáveis relacionadas ao trabalho, tais como metas a serem cumpridas, carga horária de trabalho, uso de uniformes ou roupas adequadas ao cargo, dentre outras. Podendo estas trazerem

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implicações positivas ou negativas à vida do sujeito estabelecendo assim a identidade profissional. É por meio do trabalho que o sujeito se realiza, ou seja, sua escolha profissional e o desempenho de seu trabalho podem trazer para o homem satisfação de realizar aquela atividade, criando então uma identidade profissional. Mas o que é identidade profissional? Segundo Luna e Baptista (2001), identidade profissional é a representação que o sujeito cria dele e que a sociedade lhe atribui, referente ao trabalho que este indivíduo realiza que interfere diretamente nos outros âmbitos da vida. Sendo assim, qual é a representação que mulheres policiais civis fazem de si e de sua identidade profissional?

Segundo o artigo 3º do Estatuto da Policia Civil, compete a estes profissionais “I - prevenir, reprimir e apurar os crimes e contravenções, na forma da legislação em vigor; II - coordenar e executar as atividades relativas à Polícia Administrativa e Polícia Técnica e Científica” (SANTA CATARINA, 1986). Ou seja, estes profissionais têm o dever de proteger a sociedade contra crimes e contravenções. Para além das atribuições do cargo, quais as motivações apresentadas para realizar este trabalho? Mais especificamente no trabalho de mulheres policiais, Calazans (2005) aponta que as motivações pelas quais estas ingressam na profissão estão ligadas ao sentimento de ajudar a sociedade, algo que está relacionado ao estereótipo da mulher como cuidadora. Além disso, estas mulheres descrevem ter um sentimento de poder, pois as funções desempenhadas por elas denotam um poder sobre os sujeitos. Outro sentimento descrito por elas na pesquisa da autora (CALAZANS, 2005) é o de estar realizando um trabalho útil para a sociedade, pois através de seu trabalho, podem trazer proteção. Além disso, as mulheres policiais afirmaram sentirem-se em um papel de heroína, o que parece indicar a proteção e o cuidado como aspectos que elas acreditam fazerem parte de seu trabalho e o que corrobora com o papel social da mulher: de cuidado dos filhos e do lar. Outro aspecto que colabora com a entrada da mulher na policia é a estabilidade de estar em um cargo público, onde a chance de ser demitida ou exonerada é baixa (CALAZANS, 2005). Ou seja, estas mulheres se inserem em uma profissão que traz respeito e força, pois se trata de uma ocupação que denota autoridade sobre o outro.

Muitas vezes o trabalho traz implicações negativas para a vida do sujeito, fazendo com que este ofício torne-se algo aversivo, gerador de sofrimento. De acordo com a Previdência Social do Brasil, no ano de 2009, 723.452 sujeitos foram acometidos a doenças ou acidentes de trabalho. Vale ressaltar que este número não inclui os trabalhadores autônomos e as empregadas domésticas, que estão fora do controle da Previdência Social. Destes trabalhadores, 623.026 tiveram que se ausentar de seus postos de trabalho devido a adoecimentos ou acidentes ligados ao trabalho (BRASIL, 2012). Mais especificamente no

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trabalho de policial, este sofrimento pode aparecer devido às atribuições da profissão. Segundo Müller (2010) no período de 2007 a 2009 foram concedidas 1914 licenças a 1001 policiais civis de Santa Catarina, para tratamento de saúde. De acordo com a autora (MÜLLER, 2010), as doenças mais comuns as quais os policiais são acometidos são: estresse, depressão, ansiedade, dependência química, alcoolismo, distúrbios na sexualidade e distúrbios psiquiátricos. Essas doenças podem ser apresentadas por policiais, pois os mesmos apontavam que apresentavam desmotivação para o trabalho, abandono do serviço público e desestruturação familiar (MÜLLER, 2010). Sendo assim, Müller sugere que os policiais percebiam implicações na sua vida privada e em sua psique e isso repercutia em seu trabalho como servidor público. Sendo assim, faz-se importante pesquisar sobre as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis. Desta forma se poderá ter clareza sobre quais são as motivações destas mulheres para trabalhar, pois com a queda da produtividade destas profissionais, a segurança pública pode ser prejudicada. O policial que trabalha desmotivado tem sua produtividade diminuída, fazendo com que seu trabalho não seja desenvolvido de forma adequada.

Tendo em vista que a profissão de policial é essencial para a sociedade, pois este cargo tem como função prevenir, reprimir e apurar os crimes e contravenções, a responsabilidade exigida destes trabalhadores é grande. Este aspecto pode fazer com que o trabalho deste sujeito possa se tornar algo estressante ou desmotivador, pois lhe é exigido um bom desempenho de seu trabalho (assim como em outras profissões), trazendo assim riscos para a segurança pública. Afinal, além de diminuir o efetivo da Instituição, devido o afastamento para tratamento ou por aposentadoria, estes trabalhadores, quando permanecem em seus postos de trabalho, muitas vezes não desenvolvem suas tarefas de forma adequada. É possível perceber esta afirmação na reportagem apresentada no jornal ClickRbs Itajaí (2012), onde um delegado de policia agride um camelô de rua, sendo que este estava desarmado e sendo segurado por outro policial. O que leva um policial apresentar este tipo de comportamento?

De acordo com Souza et al. (2007), a partir da década de 1980, a violência no Brasil teve um aumento. Desta forma, os trabalhadores da segurança pública foram sobrecarregados fisicamente e psicologicamente, pois sua carga de trabalho aumentou consideravelmente. Além disso, com o aumento da violência, a instituição policial passou a ter uma maior visibilidade social, por meio de notícias divulgadas pela mídia. Assim, a sociedade passou a se preocupar mais com o trabalho do policial, pois é a policia que combate e investiga os crimes que ocorrem. Essa maior visibilidade social pode gerar uma sobrecarga ainda maior a estes trabalhadores, fato que pode trazer sofrimento aos mesmos e levar ao adoecimento. Por

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isso, faz-se necessário entender quais são as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis.

As mulheres são as trabalhadoras que mais sofrem com adoecimentos ligados a atividade laboral, pois além de seu cotidiano de trabalho, essas trabalhadoras devem se preocupar com a família e as tarefas do lar (ROCHA e DEBERT- RIBEIRO, 2011; ABRAMO 2007). Ou seja, após a sua jornada de trabalho, estas mulheres devem cuidar dos filhos e da casa. De acordo com dados fornecidos pela Policia Civil de Santa Catarina1, 0,82% dos policiais do sexo masculino estão afastados por Licença para Tratamento de Saúde, já o percentual de mulheres policiais civis afastadas pelo mesmo motivo é de 2,1%. Tendo em vista que o número de policias no estado é de 3305, sendo destes 999 mulheres, ou seja, 30,2% do efetivo, percebe-se que proporcionalmente a maioria de sujeitos afastados dos seus postos de trabalho, por motivos de saúde são mulheres.

Outro aspecto que pode colaborar com o sofrimento destas trabalhadoras é o fato de que mulheres policiais têm um menor apoio social, visto que a profissão de policial é sempre ligada ao homem, pois denota força física, proteção e controle, atributos ligados ao masculino e às mulheres, confere-se os atributos de delicadeza e cuidado. Desta forma, com o pouco apoio social somado com as preocupações do cuidado com o lar e dos filhos, estas variáveis podem possibilitar que estas mulheres apresentem um sofrimento e conseqüentemente adoecimento (SOUZA et al, 2007).

Diante disso, pesquisar sobre as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis poderá suscitar reflexões destas profissionais acerca das implicações de seu trabalho tanto no âmbito familiar, social e até mesmo em relação a sua auto-imagem.

Na Policia Civil de Santa Catarina nos anos de 2007 a 2009, a Instituição contava com um efetivo de 2944 profissionais ativos, deste total 1997 policiais eram do sexo masculino e 947 do sexo feminino, o que demonstra um maior número de homens na Instituição (MÜLLER, 2010). De que forma este maior número de homens na Instituição pode influenciar no trabalho destas mulheres? Calazans (2005) aponta que muitas vezes a mulher policial tende lidar com um ambiente de trabalho desconfortável, devido a piadas machistas referente à dúvida sobre a boa atuação da mulher dentro da Instituição, ou seja, por vezes os colegas homens desvalorizam o trabalho da mulher pelo temor de que esta desenvolva de maneira mais eficaz as atribuições do cargo, denotando então uma disputa de poder

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Vale destacar que o número de afastamentos devido a Licença para Tratamento de Saúde diz respeito a data da pesquisa (29 de maio de 2012), ou seja, este número pode ter variação

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(CALAZANS, 2005). Em contrapartida, a convivência dos sexos dentro da instituição policial trouxe

uma redefinição da forma de agir e de pensar o agente policial. Os policiais ressignificam suas identidades num reconhecimento de si e de suas ações pelo outro - tornando possível a construção de uma nova identidade (CALAZANS, 2005, p.98).

A convivência de homens e mulheres dentro de uma Instituição tradicionalmente masculina faz com que muitos (pré) conceitos sejam repensados pelos sujeitos. A idéia de que a mulher é tida como sexo frágil, pois tem menos força física e mais limitações físicas, podem ser repensadas. Sendo assim, esta visão social da mulher como frágil, cuidadora e do lar não está consolidada, ela pode se modificar nas relações que estes sujeitos vão estabelecendo. Dentro destas contradições, de que forma a mulher policial civil percebe a sua auto-imagem?

Para que se pudesse investigar o tema, foram realizadas buscas em base de dados e sites relacionados. Desta forma foram selecionadas as seguintes literaturas: Sobre a entrada da mulher no mercado de trabalho mundial e mais especificamente no Brasil, foram encontrados os estudos de Cristina Bruschini (s/d); Lais Wendel Abramo (2007 e 2011) e Elisiana Renata Probst (s/d). O estudo de Bruschini (s/d) intitulado “O trabalho da mulher nas décadas recentes” relata sobre a intensificação na entrada da mulher no mercado de trabalho que ocorre a partir da década de 1970, devido à necessidade econômica que fez com que estas mulheres procurassem uma atividade laboral e as transformações sociais que estas mulheres trabalhadoras trouxeram para a sociedade. No trabalho de Abramo, “A inserção da mulher no mercado de trabalho: Uma força de trabalho secundária?” (2007) a autora problematiza a noção de mulher como dona de casa, bem como a entrada da mulher no mercado de trabalho, na década de 1960, que só ocorre quando o homem não consegue mais prover o sustento do lar sozinho. Abramo (2007), ainda traz que a partir da década de 1970, a entrada da mulher no mercado de trabalho é intensificada. Em outra pesquisa da mesma autora “A situação da mulher latino-americana: o mercado de trabalho no contexto da reestruturação” (ABRAMO, 2011), a autora descreve a situação da mulher no mercado de trabalho entre os anos de 1970 e 1990. No trabalho de Probst (s/d), a pesquisadora relata sobre dados históricos relacionados à entrada da mulher no mercado de trabalho em todo mundo e no Brasil. Descreve ainda de que forma o trabalho feminino vem se constituindo ao longo dos anos e as conseqüências deste para as mulheres. Além disso, traz dados comparativos entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

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Os estudos de Maria Cândida dos Anjos Bahia e Maria Aparecida Viviane Ferraz (2000) e de Mônica Carvalho Alves Capppelle e Marlene Catarina de Oliveira Lopes (2012) relatam sobre as implicações do trabalho nas relações familiares de policiais. No estudo de Bahia e Ferraz (2000) intitulado “Entre a exceção e a regra: A construção do feminino na Policia Civil Baiana”, as autoras investigam a auto-percepção da mulher policial civil baiana, bem como de que forma o trabalho interfere em sua vida e nos seus relacionamentos conjugais e com seus filhos, além de explorar as dificuldades apresentadas em função do seu cargo dento da Instituição. Tendo como foco a questão da escolha profissional e as questões de gênero. Já o trabalho de Capelle e Lopes (2012) relata sobre o trabalho de mulheres policiais militares na 8ª região da Policia Militar de Minas Gerais. Onde foi possível perceber que o cotidiano de trabalho destas mulheres é marcado por relações de poder e gênero, sendo relatado por estas mulheres casos de assedio moral/sexual e abuso de poder de seus superiores. Além disso, essas mulheres relatam que para se manterem na ativa é preciso negociar com seus familiares, para que o trabalho possa ser conciliado com a rotina da casa. A pesquisa de Almeida e Pinho (2008) descreve a influencia dos pais na escolha profissional, onde estes exercem uma forte influência na escolha da carreira de seus filhos

Relacionado às relações de gênero no mercado de trabalho, bem como profissões ditas de homens e mulheres, foram utilizados os trabalhos de: Mônica Carvalho Alves Capppelle e Marlene Catarina de Oliveira Lopes (2012), citado anteriormente; Geórgia Neuza dos Santos (2011); Edinilsa Ramos de Souza, Letícia Gastão Franco e Camila de Carvalho Meireles (2007). No Trabalho de Conclusão de curso de Santos (2011) a pesquisadora teve como objetivo compreender o processo de escolha profissional de mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas. A autora relata que as participantes de sua pesquisa iniciaram sua trajetória profissional em profissões ditas femininas e depois optaram por outras profissões que em geral são masculinas, porém não foi possível afirmar que o gênero foi algo determinante nas escolhas destas mulheres. Afirma ainda que estas mulheres sofrem preconceito por parte dos homens, pois no imaginário social ainda há a idéia de que hajam profissões que são masculinas e outras femininas. No estudo de Souza et al (2011), intitulado “Sofrimento psíquico entre policiais civis: uma análise sob a ótica de gênero”, estudou-se o sofrimento psíquico apresentado por policiais civis sob a ótica de gênero. Observou-se aspectos como o nível socioeconômico destes sujeitos, as condições de trabalho e a qualidade de vida dos mesmos. Discutiu-se de que forma o trabalho de policia poderia implicar nos diversos âmbitos da vida dos policiais. As autoras perceberam que para que tivessem o mesmo reconhecimento dos homens, as mulheres precisavam assumir característica do

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universo masculino e isto faz com que haja um sofrimento, pois estas mulheres precisam lidar com estas características para serem reconhecidas e devem ter ainda o papel da mãe, esposa e etc.

Nos estudos que dizem respeito a mulheres na polícia civil, apresentam-se as literaturas de Jaqueline Siqueira do Sacramento (2007) e Márcia Esteves de Calazans (2005, 2004). O trabalho “Polícia e gênero no contexto das reformas policiais” (CALAZANS, 2005) teve como objetivo contextualizar a historia da policia no Brasil e no mundo. Relacionado à inserção da mulher nesta profissão a autora aponta que muitas vezes mulheres policiais incorporem adjetivos tais como virilidade, masculinidade e violência, como forma de enfrentamento para que possam continuar na instituição policial. Já no estudo de Sacramento (2007) intitulado “Escolha profissional e gênero: Um estudo sobre mulheres que exercem profissões tradicionalmente masculinas”, a pesquisa teve como objetivo investigar a percepção de delegados de ambos os sexos sobre o trabalho de mulheres policiais civis. A autora concluiu que com a participação de mulheres na Instituição, práticas mais democráticas estão sendo tomadas, sendo devido à convivência de homens e mulheres no ambiente de trabalho.

Nas literaturas relacionadas ao trabalho, utilizou-se Wanderlei Codo (1985) e Carla Vaz dos Santos Ribeiro (s/d). O texto “O que é Alienação” de Codo (1985), relata de que forma o trabalho influencia a vida do homem, bem como as implicações que a alienação deste trabalho pode trazer implicações para a vida do sujeito. Já no estudo de Ribeiro (s/d), intitulado “As relações entre trabalho e saúde em tempos de reestruturação produtiva”, a autora buscou investigar as relações entre o trabalho e a sociedade na atualidade, descrevendo o que é o trabalho e de que forma este implica na vida do sujeito, bem como, os significados da atividade laboral. Além disso, buscou articular a saúde com o sofrimento ligado ao trabalho.

Para descrever sobre a escravidão no Brasil, foi utilizado o trabalho de Aloiza Delurde Reali de Jesus (2006). A autora descreve de que forma ocorria o trabalho escravo no Brasil, as atividades que estes trabalhadores desenvolviam e as conseqüências sociais deste trabalho. Já o site Escola Brasil e o trabalho de Renata Gierus (2006), descrevem sobre a vinda dos imigrantes ao Brasil, na época da abolição da escravatura e os impactos desta nova forma de trabalho na país, inclusive para as mulheres, que apesar de trabalharem não tinham direitos.

No que diz respeito à saúde dos policiais foram utilizados os textos de Souza (s/d) que teve como objetivo avaliar a existência de depressão entre os policiais homens da Polícia

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Civil de Minas Gerais que fazem uso bebida alcoólica. Na pesquisa de Rosetti et al (2008) é aplicado O inventário de sintomas de stress para adultos de Lipp (ISSL) em servidores da polícia federal de São Paulo e discutidos os resultados, percebeu-se que as participantes femininas apresentam mais estresse que os homens e a maior parte estava na fase de resiliência. Na pesquisa de Siqueira et al (2009), o autor descreve sobre duas visões diferentes sobre o bem estar subjetivo dos sujeitos no ambiente de trabalho. Sobre a Síndrome de Burnout, utilizou-se os estudos de Tironi et al (2009).

Relacionada aos riscos apresentados na profissão, foi utilizada a pesquisa de Michelle Natividade (2009) que descreve os riscos da profissão de bombeiros militares, bem como a pesquisa de Yone Caldas Silva (2000) que discute a importância do preparo psicológico de profissionais que trabalham em profissões que apresentem riscos. A autora desenvolvou seu estudo em uma Refinaria localizada no estado do Rio de Janeiro.

Após a leitura dos textos acima citados percebeu-se que em nenhuma das literaturas encontradas o tema as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis, foi pesquisado, por isso a presente pesquisa justifica-se importante para o conhecimento de algumas questões, tais como: Qual é a rotina de trabalho de mulheres policiais civis? Quais são as implicações do trabalho de mulheres policiais civis nas relações familiares? Quais são as implicações do trabalho de mulheres policiais civis nas relações sociais? De que forma se constitui a auto-imagem de mulheres policiais civis?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral:

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1.2.2 Objetivos Específicos:

1 Identificar a rotina de trabalho de mulheres policiais civis.

2 Identificar os motivos pelos quais as mulheres policiais civis trabalham 3 Caracterizar as implicações do trabalho de mulheres policiais civis nas

relações familiares.

4 Caracterizar as implicações do trabalho de mulheres policiais civis nas relações sociais.

5 Caracterizar a auto-imagem de mulheres policiais civis.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para caracterizar as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis, é necessário aprofundar os estudos sobre temáticas relacionadas ao assunto. Sendo assim a pesquisa está dividido em dois capítulos: A inserção da mulher no mercado de trabalho e Trabalho de policial e a entrada da mulher na Instituição policial.

2.1 A INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

Com o passar do tempo, o significado do trabalho foi se modificando. Inicialmente o trabalho era visto como algo ruim, causador de sofrimento, porém com o passar do tempo isso foi se modificando e o trabalho transformou-se em uma variável motivacional para o sujeito e constituinte do mesmo.

A origem da palavra trabalho está ligada a sofrimento, pois descende do latim tripalium, que era um instrumento de tortura usado na Roma antiga como forma de punição dos escravos, consistia em três estacas de madeira presas ao chão onde os sujeitos eram amarrados (OLIVEIRA, 2003). Ou seja, a origem da palavra remete a algo ruim e punitivo, onde quem tinha o poder podia decidir sobre a vida daqueles que eram destituídos de autonomia. Segundo o Dicionário (MICHAELIS, 2009) trabalho significa:

1 Ato ou efeito de trabalhar. 2 Exercício material ou intelectual para fazer ou conseguir alguma coisa; ocupação em alguma obra ou ministério. 3 Esforço, labutação, lida, luta. 4 Aplicação da atividade humana a qualquer exercício de caráter físico ou intelectual. 5 Psicol Tipo de ação pelo qual o homem atua, de acordo com certas normas sociais, sobre uma matéria, a fim de transformá-la”.

Dentre outras definições apresentadas no Dicionário, é possível perceber que o trabalho está ligado à atividade laboral, onde há uma atividade física e intelectual. Ainda de acordo com o Dicionário, onde diz respeito à Psicologia, o mesmo apresenta uma definição ligada à transformação da matéria. Porém, afirma também que para tanto o sujeito deve agir de acordo com normas sociais. Ou seja, para que este trabalho possa ser desenvolvido o

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sujeito não está totalmente livre para agir de acordo com seu desejo, mas deve respeitar o coletivo.

De acordo com Malvezzi (2004), o trabalho possibilita a sobrevivência (financeira) e a realização do sujeito, além disso, por meio do trabalho o sujeito percebe sua dependência e seu poder sobre a natureza, transformando as matérias primas dela extraídas. Por meio do trabalho o sujeito pode demonstrar suas habilidades e conhecimentos que interferem na economia, cultura e política do local em que está inserido. O sujeito se transforma, pois percebe o resultado de seu trabalho e vivencia no seu cotidiano a troca de experiências com o grupo que com ele compõe sua equipe de trabalho, por exemplo. Desta forma, ao realizar uma atividade laboral, vivencia uma relação mutua onde o individuo transforma a natureza e se transforma.

Codo (1985) afirma que a noção de trabalho está socialmente ligada a produção de mercadoria e recebimento de salário, pois uma dona de casa, por exemplo, não é reconhecida como trabalhadora, afinal esta mulher não tem uma carga horária de trabalho fixa e não recebe salário. Sendo assim, fica evidente que a noção de trabalho popularmente confunde-se com o conceito de emprego. Vale ressaltar que emprego está relacionado a uma carga horária fixa, vínculo empregatício e remuneração (ESTEVES, 2002). Já de acordo com Codo (1985, p. 12) “trabalho é uma relação de dupla transformação entre o homem e a natureza, geradora de significado”. Desta forma, trabalho é uma atividade humana onde há transformação da natureza e a partir desta, o homem também se transforma. O autor ainda fala sobre a tríade sujeito, trabalho e objeto que geram significado, onde o sujeito transforma o objeto de seu trabalho e esta transformação faz com que o trabalho do sujeito produza um sentido.

E a mulher, que posição ocupa nesse espaço de transformação social e individual? E no mercado de trabalho? No início do século XIX, as mulheres tinham o dever de cuidar dos filhos e manter a ordem da casa, por isso não precisariam ter um emprego, ou seja, apenas o homem deveria manter o sustento da família, salvo os casos de viúvas sem recursos financeiros que deveriam manter seu sustento ou de mulheres de classes menos abastadas que trabalhavam como doceiras, ou davam aulas de pinturas, porém sem qualquer valorização social ou direito trabalhista (PROBST, 2007). Nesse contexto, a mulher realizava atividades relativas ao cuidado dos filhos e do lar.

No final do século XIX, a partir da Revolução Industrial, o trabalho se dividiu na esfera doméstica e na produção. As mulheres tinham seus empregos nas indústrias onde a carga horária poderia chegar a dezoito horas diárias e em casa, em atividades como, manter a limpeza, comprar e preparar os alimentos, prover saúde e educação dos filhos, dentre outras

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atividades. (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 1984; PROBST, 2007 e RAMOS, s/d). Desta forma, a mulher passa a ter sua inserção no mercado de trabalho e com isso sua jornada de trabalho é ampliada, pois além das horas de trabalho nas indústrias, deveriam manter o trabalho de cuidado da casa.

Durante a I e II guerra mundial, as mulheres tiveram que tomar frente das atividades ditas masculinas, em decorrência da ida a guerra dos chefes de família. Mesmo com o fim da guerra muitos homens morreram ou retornaram mutilados dos campos de batalha, o que impossibilitou à volta dos mesmos a atividade laboral que realizavam (MENEZES-FILHO, 2006; PROBST e RAMOS, s/a; SCARPARO, 1996). Assim, as mulheres tiveram que ocupar o mercado de trabalho, deixando de serem apenas donas de casa que cuidavam dos filhos e do lar. Nesse momento, a mulher assume uma dupla jornada, cujas novas obrigações são desempenhadas por elas, não por uma escolha de ingressar no mercado de trabalho, mas sim por uma necessidade de sustento da casa e da família.

No Brasil pode-se entender a inserção da mulher no mercado de trabalho a partir do século XVI, com o trabalho escravo, onde para além das atividades desenvolvidas nas fazendas dos senhores do café, como cuidar do plantio e manter a segurança das terras, os escravos também realizavam atividades no meio urbano, realizando trabalhos ligados a alfaiataria, sapataria, carpintaria, dentre outros. Destacam-se também os trabalhos domésticos (JESUS, 2006). As mulheres por terem menor força física, em geral eram designadas a desenvolverem estes trabalhos domésticos onde realizavam atividades como limpar a casa, cozinhar, bem como alimentar e cuidar das crianças filhas de seus donos. Vale lembrar o trabalho das amas de leite, que tinham como obrigação amamentar as crianças de seus senhores. Apesar de serem trabalhadoras, estas mulheres eram desprovidos de direitos. Afinal os escravos não eram considerados cidadãos.

Existia também outra modalidade de trabalho escravo no Brasil, alguns escravos eram alugados, ou seja, realizavam trabalhos em diferentes locais e diferentes funções. Uma parcela destes trabalhadores alugados era obrigada a se prostituir para adquirir a quantia financeira exigida pelos seus senhores. Pode-se entender então que estes trabalhadores realizavam atividades autônomas, pois alugavam seus serviços em troca de bens materiais (JESUS, 2006). Obviamente o lucro retirado era passado para os seus senhores. Desta forma, destaca-se o trabalho da mulher escrava em diferentes funções, tal como a prostituição.

Pouco antes da abolição da escravatura no Brasil, a partir do ano de 1870, a imigração de estrangeiros teve sua intensificação. Estes trabalhadores passaram a desenvolver atividades semelhantes aos dos escravos, porém seu trabalho seria remunerado (SOUSA s/d),

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substituindo-os. Para além das atividades no campo, de costura e de bordado, as mulheres imigrantes tinham atividades domésticas nas casas de seus patrões, onde deviam realizar as atividades de cuidado do lar e das crianças. Vale destacar que além de cuidar da casa de seus patrões, estas mulheres deveriam cuidar de seus próprios lares e filhos (GIERUS, 2006). Pode-se afirmar então, que em diferentes contextos e épocas, desde o início da história do Brasil o trabalho da mulher sempre esteve presente e mesmo que não fosse valorizado, estas atividades ajudavam a movimentar a economia nacional.

Ainda no Brasil, em 1º de maio de 1943, foi sancionada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), assinada pelo então presidente Getúlio Vargas. A partir da criação da CLT, as mulheres conquistaram direitos legais, tais como: Art. 391 –“ Não constitui justo motivo para a rescisão do contrato de trabalho da mulher o fato de haver contraído matrimônio ou de encontrar-se em estado de gravidez” (BRASIL, 1943). Além disso, a CLT assegura à trabalhadora o direito a licença maternidade de 120 dias e a garantia de não poder ser despedida por este motivo. Segundo o artigo 389, “§ 1º - Os estabelecimentos em que trabalharem pelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16 (dezesseis) anos de idade terão local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus filhos no período da amamentação” (BRASIL, 1943). Este artigo garantiu que as empresas deveriam ter um local adequado para a amamentação e o cuidado dos filhos das trabalhadoras no ambiente de trabalho.

A partir da década de 1970, a entrada da mulher no mercado de trabalho foi intensificada, devido à industrialização no Brasil que cresceu neste período (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 1984 MENEZES-FILHO, 2006; PROBST e RAMOS, s/d). De acordo com Bruschini (s/d), neste mesmo período o número de estudos referentes a esta temática (inserção da mulher no mercado de trabalho) cresceu, desta forma, possibilitou que o espaço de trabalho tradicionalmente ocupado por homens se modificasse com o ingresso das mulheres. De acordo com Abramo (2011), “entre 1960 e 1990, o número de mulheres economicamente ativas mais que triplicou, aumentando de 18 para 57 milhões, enquanto o número de homens nessa condição não chegou a duplicar, aumentando de 80 para 147 milhões”. Segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE nas seis maiores capitais do país, o percentual de mulheres com uma ocupação subiu de 43% em 2003 para 44,9% em 2010 e para 45,3% em 2011, demonstrando assim, que a participação da mulher no mercado de trabalho vem crescendo (IBGE, 2012). Os dados do IBGE (2012) indicam que no ano de 2010 o percentual de homens que tinham uma ocupação era de 63,4% este número em 2011, aumentou para 63,9%, demonstrando que o número de mulheres que tinham uma ocupação

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aumentou mais em relação ao público masculino. Estes dados demonstram um crescimento significativo do número de mulheres que ingressam no mercado de trabalho. Porém, é possível perceber que mesmo com este crescimento que vem ocorrendo há aproximadamente quarenta anos, o imaginário social ainda tem a mulher como dona de casa responsável pelo cuidado dos filhos e do lar, bem como uma figura frágil e delicada.

No imaginário social, a idéia da entrada da mulher no mercado de trabalho, esta ligada ao fracasso do homem como aquele que promove o sustento(ABRAMO, 2007, p.13). Desta forma, a mulher procura um emprego externo para auxiliar ou manter as finanças da casa. Por vezes pode-se perceber então que o homem sente-se inferiorizado, pois mostra-se incapaz de cumprir a sua função de provedor e a mulher assume este papel para assegurar que as necessidades básicas da família sejam garantidas. A autora (ABRAMO, 2007) ainda afirma que por vezes o homem enfrenta dificuldades ou impossibilidades em contribuir para a renda familiar devido a fatores como o desemprego, falecimento, separação do casal, ou ainda a queda da remuneração recebida pelo mesmo. De qualquer forma, a inserção desta mulher no mercado de trabalho é desmerecida socialmente, pois em geral os salários pagos às mulheres são mais baixos e a cobrança social é grande (ABRAMO, 2007). Isso ocorre, pois exige-se que mesmo que esta tenha um emprego, os afazeres domésticos sejam realizados de maneira correta, mantendo a casa em ordem e os filhos cuidados. Sendo assim, no imaginário social estão associados à mulher trabalhos mais delicados e de cuidado, por isso a profissão de policial está remete ao masculino, pois está vinculada a uma ocupação que exige força e autoridade. Dentro destas contradições as mulheres policiais civis vão constituindo sua subjetividade e torna-se importante, então, pesquisar como estas mulheres se percebem. Qual é a auto-imagem delas?

Outro aspecto importante a ser destacado, diz respeito à diferença salarial apresentada entre homens e mulheres. De acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE (2012) em seis grandes capitais brasileiras, entre os anos de 2010 e 2009, as mulheres ganhavam o correspondente a 70,8% do rendimento dos homens, porém no ano de 2011, este número subiu para 72,3%, o que demonstra um aumento na proporção salarial recebido pelas mulheres brasileiras. Em contrapartida, o número de mulheres que se mantêm ativas é maior em relação ao sexo oposto (IBGE, 2012). Sendo assim, em geral, mulheres têm salários menores em relação aos pagos aos homens, mesmo desenvolvendo mais atividades que os homens, já que além de trabalharem em casa, possuem um emprego e mesmo assim, a cobrança social permanece. Entretanto, essa realidade vem mudando, principalmente na classe média, onde o homem divide as tarefas do lar e o cuidado dos filhos com a mulher.

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No Brasil,o número de mulheres aumentou de 86.270.539 em 2000 para 97.348.809 em 2010. Sendo que para cara 100 mulheres há 96 homens. Quanto ao número de filhos por mulher a média nacional é de 1,86 filhos, por mulher. Porém na região Sul este número cai para 1,75 filhos, por mulher. Entre 2000 e 2010 a taxa de fecundidade nesta mesma região teve uma redução de -21, 7% (IBGE, 2012). Ou seja, as mulheres estão tendo menos filhos, possivelmente pela sua entrada no mercado de trabalho o que pode ter como conseqüência menos tempo para as atividades ligadas ao lar ou ainda essas mulheres priorizaram sua carreira profissional.

Abramo (2011), afirma que mesmo com esta intensificação da entrada da mulher no mercado de trabalho, as profissões que são culturalmente ligadas ao homem ainda apresentam um número maior deste nessas áreas de atuação. Ainda de acordo com a autora (ABRAMO, 2011), na década de 1990, mais da metade das mulheres que estavam no mercado de trabalho, encontravam-se em treze ocupações diferentes:

(...) professoras de ensino fundamental e médio, enfermeiras, funcionárias públicas de nível universitário, auxiliar de escritório, agente administrativo, auxiliar de contabilidade ou caixa, secretária, recepcionista, vendedora, trabalhadora em conservação de edifícios, cozinheira e costureira (CACCIAMALI & PIRES, 1995 apud ABRAMO, 2011 p.78)

Ao analisar as profissões indicadas, pode-se perceber que em sua maioria estas profissões estão ligadas ao cuidado do outro. Trabalhadoras em conservação de edifício, costureira e cozinheira, denotam ocupações realizadas em casa, no cuidado do lar. Já as profissões de professora e enfermeira estão vinculadas ao cuidado do outro. Mesmo as ocupações de auxiliar de escritório e auxiliar contábil, podem remeter a atividades caseiras, pois muitas vezes a mulher é responsável pelo cuidado das finanças e administração do lar. Já na profissão de policial a mulher pode desenvolver atividades não só administrativas dentro das delegacias, mas também trabalhos externos como a realização de operações policiais, o que pode gerar para a família da policial preocupações acerca de sua segurança. Sendo assim, quais são as implicações que o trabalho de policial pode trazer para as relações familiares de mulheres policiais civis?

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2.2 TRABALHO NA INSTITUIÇÃO POLICIAL E A INSERÇÃO DA MULHER

De acordo com CALAZANS (2005); MINAYO (2005) apud MÜLLER, (2010); MARCINEIRO, 2009 (apud MÜLLER, 2010) a policia civil brasileira tem sua origem em 1808, com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, estes fugiam de sua terra natal devido à invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão. Desta forma, ao chegar ao Brasil, a Família Portuguesa contribui com a divisão da Guarda Real e no Rio de Janeiro surge a primeira Policia Civil. Com o crescimento do Brasil, foi necessário dividir o poder da policia em cada estado.

Mais especificamente no estado de Santa Catarina, em maio de 1835, o presidente da Província, instituiu a Força Policial, que no seu inicio contava com um efetivo de 52 homens que trabalhavam na proteção social, ou seja, no controle dos crimes. Em 1904, o então governador do estado Felipe Schmidt, cria a primeira delegacia do estado, nomeada Delegacia de Policia de Florianópolis. Posteriormente subdelegacias foram sendo criadas, para que as demandas que surgiam com o crescimento do estado pudessem ser atendidas. Já em setembro de 1919, o então governador Hercílio Luz, reorganizou a Policia Civil, dividindo o estado em sete regiões para facilitar a organização da mesma. Por fim, em 1964 foram instituídas Diretorias dentro da Instituição, sendo elas: Polícia Civil; de Veículos e Trânsito Público; de Polícia Técnico Científica; de Censura e Diversões Públicas; de Fiscalização de Armas e Munições; de Controle de Registro de Estrangeiros; de Administração; Escola de Polícia (GEVOVEZ, s/d).

A polícia tem como objetivo manter a ordem e a proteção da população, sendo assim é concedido aos profissionais desta instituição o uso da força física, ou ameaças (CALAZANS, 2005), demonstrando assim sua função no controle social, combate e prevenção de crimes. Desta forma, fica evidente que o papel policial está ligado a defesa do cidadão.

De acordo com a Legislação vigente no país (BRASIL, 1988):

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis;

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Este artigo da Constituição demonstra de que forma a polícia divide-se no país. É importante destacar que cada órgão policial tem funções, deveres e locais de atuação diferentes. Por exemplo, a policia militar e civil atuam em prol do estado, já a polícia federal trabalha em função dos interesses do governo federal (BRASIL, 1988).

O estado de São Paulo foi o pioneiro em relação à inserção da mulher na policia, em 1955, pela primeira vez no país haviam mulheres no quadro da Instituição. A partir da década de 1970, foram criadas campanhas para a inserção da mulher na policia e em 1980, houve um aumento considerável do número de mulheres ingressas na policia (CALAZANS, 2004). Dados que corroboram com o aumento do número de mulheres que entraram no mercado de trabalho a partir da década de 1970. Percebe-se então que a instituição policial acompanhou as transformações que foram ocorrendo no país ao longo das décadas.

Com a entrada da mulher na Policia Civil, as concepções de gênero tiveram que ser repensadas bem como, a desconstrução de estereótipos, para que ambos os sexos pudessem conviver na Instituição de forma pacífica (CALAZANS, 2005). Ou seja, o espaço masculino dentro da instituição policial foi sendo revisto, pois foi-se percebendo que as mulheres estavam capacitadas a realizar as mesmas atividades que os homens. Porém as mulheres que ingressam na polícia em geral realizam atividades ligadas à área administrativa e relações públicas (CAPELLE e MELO, 2010). Fato que pode demonstrar uma dificuldade de alocar mulheres nos vários setores da instituição. Sacramento (2007) aponta que este menor número de mulheres na “linha de frente” da policia pôde ocorrer, pois o homem tido como forte e com o dever de proteger, assume uma postura protetora da policial mulher tida como frágil (SACRAMENTO, 2007). Postura que interfere no trabalho e que pode por em risco a vida de ambos. Por exemplo, durante uma operação policial o homem coloca-se como defensor da mulher, isso pode fazer com que esta mulher não consiga desempenhar bem o seu trabalho e o homem se exponha à situações de perigo. Isso faz com que a representação social da mulher como frágil se mantenha, pois julga-se que ele não seja capaz de se defender.

A Instituição policial foi criada por homens e por isso as regras em geral são ligadas ao masculino, desta forma, algumas mulheres que entram na polícia assumem uma postura masculinizada com o objetivo de criarem uma identificação como policial (SACRAMENTO, 2007). Sendo assim, estas mulheres modificam sua identidade, para se adequarem a realidade do local em que estão inseridas. Este fato pode fazer com que as mulheres policiais precisem repensar a sua auto-imagem, não só como policial, mas como mulher. Por isso, pesquisar sobre a auto-imagem de mulheres policiais civis faz-se importante.

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O trabalho pode ser um fator positivo na vida do sujeito, trazendo satisfação e contentamento, porém pode ocasionar o adoecimento, quando o trabalhador é exposto a situações de risco constantemente. No trabalho de policial os fatores de risco são inerentes a profissão, ou seja, estar exposto a situações de rico, faz parte do dia a dia destes profissionais (Caldas Silva, 2000; Natividade, 2009) , porém muitas vezes estas situações podem gerar no sujeito o adoecimento do mesmo. De acordo com Müller (2010), as patologias mais apresentadas pelos policiais são: estresse, depressão, ansiedade, dependência química, alcoolismo, distúrbios na sexualidade e distúrbios psiquiátricos. Segundo Lipp (1996, p. 20):

Stress é definido como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite, ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz [...] No momento em que a pessoa é sujeita a uma fonte de estresse, um longo processo bioquímico instala-se, cujo início manifesta-se de modo bastante semelhante, com o aparecimento de taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, boca seca e a sensação de estar alerta.

Pode-se entender então que o estresse se desenvolve quando o sujeito é exposto constantemente à situações que podem trazer riscos a sua saúde, ou danos a sua vida. Essas reações podem culminar em sintomas físicos ou psíquicos. No caso dos policiais pode-se pensar em situações tais como: o uso de armas de fogo, a convivência com suspeitos de crime, o atendimento ao público, dentre outros.

A depressão também é uma patologia que pode ser apresentada por profissionais que desempenham um cargo onde haja contato com situações estressoras. De acordo com Souza (s/d) os sintomas apresentados por sujeitos acometidos por esta são: humor deprimido (sentimento de tristeza, choro constante), diminuição do prazer ou interesse em realizar atividades cotidianas, cansaço, diminuição da capacidade de concentrar-se, agitação ou lentidão psicomotora, sentimentos de inutilidade ou culpa, dentre outros. Além disso, as mulheres são mais propícias a desenvolverem depressão, principalmente quando expostas a situações que possam apresentar um desgaste psíquico (SOUZA s/d) sendo assim, as mulheres policiais civis podem desenvolver a depressão mais facilmente que homens, pois estão em contato com situações que podem expo-las a riscos.

Outra patologia muito comum em policiais é a Síndrome de Burnout, de acordo com Sobrinho et al (2009)

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A definição mais divulgada de burnout compreende este fenômeno como uma síndrome psicológica, decorrente da tensão emocional crônica, vivenciada pelos profissionais cujo trabalho envolve o relacionamento intenso e frequente com pessoas que necessitam cuidados e/ou assistência

Desta forma os policiais podem ser acometidos pelo Burnout, pois a função que desempenham está ligada ao cuidado da população, além disso, estes trabalhadores lidam com situações estressoras constantemente.

Pode-se concluir então que o trabalho de policial pode trazer um maior desgaste físico e emocional para os sujeitos que desenvolvem tal atividade. Isso ocorre, pois os trabalhadores estão diariamente em contanto com situações que podem desencadear diversas patologias. Além disso, diariamente estão expostos a situações que colocam suas vidas em risco.

Vale destacar que estas patologias foram descritas, pois são as mais apresentadas por policiais. Além disso, estão agrupadas de acordo com os transtornos psicológicos que podem ser apresentadas por sujeitos de qualquer classe social, gênero, ou profissão. Por isso, no presente trabalho não se tem a intenção de diagnosticar patologias nas participantes ou em qualquer outro grupo.

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3 MÉTODO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Com o objetivo de caracterizar as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis, o presente trabalho classifica-se como uma pesquisa exploratória. De acordo com Gil (1989, p.45). “este tipo de pesquisa é realizado quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis”. Por terem sido encontradas poucas publicações que tratem de temáticas semelhantes, a natureza exploratória da mesma justifica-se. A pesquisa apresenta como delineamento o estudo de campo que tem como objetivo entender de maneira mais concisa uma realidade específica de um grupo de indivíduos através de instrumentos de coleta de dados (GIL, 2008). Desta forma, para responder o problema de pesquisa, foi-se ao campo que foram as delegacias para que se pudesse aplicar o instrumento de coleta de dados a um grupo específico de mulheres policiais civis. Além disso, a mesma caracteriza-se como uma pesquisa de corte transversal, pois apresenta uma mostra da população pesquisada. A natureza quantitativa apresenta-se devido ao fato de ter sido utilizado como instrumento de pesquisa um questionário para que se pudesse abranger uma maior parte da população.

3.2 PARTICIPANTES

Tinha-se como objetivo entregar os instrumentos de coleta de dados para 116 mulheres policiais civis (número total de mulheres locadas nos locais escolhidos para coleta de dados), porém, devido a troca dos locais para a entrega dos mesmos e a possibilidade de variações do número de policiais, pois podem ter ocorrido acordos internos, afastamentos , férias, dentre outros motivos. Foram entregues 87 instrumentos de coleta de dados e destes 47 foram respondidos, porém seis tiveram que ser descartados, pois não estavam de acordo com os critérios estabelecidos pela pesquisa: Ser mulher , policial civil, tendo como cargo agente de polícia ou escrivã de polícia. Desta forma, utilizou-se 41 questionários para a análise, ou

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seja, aproximadamente 47,1% da população respondeu à pesquisa e estavam de acordo com os critérios (tais critérios são especificados na análise de dados).

3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Para que o problema de pesquisa fosse respondido utilizou-se um questionário em forma de escala com questões fechadas como instrumento de coleta de dados. De acordo com Gil (1989, p.124):

pode se definir questionário como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões, apresentado por escritos por às pessoas tendo como objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas e etc.

Questionário com questões fechadas significa dizer que o mesmo foi composto por perguntas nas quais as possibilidades de respostas já são disponibilizadas para escolha. Apenas o quadro de identificação das participantes continha questões abertas. Para que as questões pudessem ser elaboradas, realizou-se a decomposição de variáveis, com o objetivo de conhecer melhor os fenômenos a serem investigados. Essa decomposição foi feita a partir dos objetivos específicos. O questionário apresentava 4 bloco de questões. Sendo o primeiro composto por dados de caracterização da participante, tais como idade, naturalidade, estado civil, dentre outras. O segundo que dizia respeito à rotina de trabalho, onde foi questionado se a participante trabalhava em regime de plantão ou expediente e a divisão das horas de trabalho no caso do plantão. O terceiro bloco está relacionada aos equipamentos de trabalho, ou seja que equipamentos a trabalhadora utiliza em seu cotidiano de trabalho (arma, celular, helicóptero, cachorro e etc). O quarto é composto por afirmativas relacionadas ao trabalho, família e sociedade, bem como sua auto-imagem e o ultimo, relacionados à saúde. As participantes deveriam assinalar uma das alternativas com as opções de resposta: discordo totalmente, discordo, concordo e concordo totalmente. No último bloco das afirmativas as opções de resposta eram: sempre, às vezes, raramente e nunca. Conforme pode ser observado no Apêndice A.

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3.4 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS

Foram utilizados: computador para a tabulação e análise dos dados e papel para a confecção do instrumento de coleta de dados.

3.5 SITUAÇÃO E AMBIENTE

Não há controle sobre essa variável, pois a pesquisadora não teve contado direto com as participantes.

3.6 PROCEDIMENTO DE COLETA

Para que a pesquisa pudesse ser realizada, foi solicitado previamente ao Delegado Geral da Polícia Civil, a concordância para a execução da mesma na Instituição (conforme Apêndice B). Após a aprovação da pesquisa, a pesquisadora enviou ao Cômite de Ética em Pesquisa (CEP- Unisul) à pesquisa para o aceite da mesma (Apêndice C). Desta forma foi-se às delegacias previamente selecionadas (os critérios de seleção dos locais são descritos no item 3.6.1), solicitar aos delegados responsáveis a possibilidade de realizar a aplicação dos questionários, após foi perguntado ao delegado quantas mulheres estavam lotadas na delegacia. Por fim, foi pedido que os delegados entregassem os questionários às mulheres policias civis e após o preenchimento os instrumentos foram devolvidos. A pesquisadora acordou o prazo de uma semana para o recolhimento dos questionários.

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3.6.1 Seleção de local de coleta

Quanto ao critério de escolha das delegacias, ocorreu da seguinte forma: Na região da Grande Florianópolis existem vinte e três Delegacias de Comarca. Devido ao grande número de Delegacias de Comarca e o tempo para a realização do presente trabalho os questionários foram aplicados em todas as nove Delegacias de Comarca de Florianópolis e na DEIC, que foi substituída pela Delegacia Geral da Policia Civil, no SAER (Serviço Aeropolicial Civil), além dessas, foram aplicados na Delegacia da Comarca de Palhoça e na Delegacia da Comarca de Santo Amaro da Imperatriz. Foram selecionadas todas as Delegacias de Comarca de Florianópolis, pois acredita-se que o efetivo das mesmas seja maior, além dessas, foi selecionada a DEIC (Diretoria Estadual de Investigações Criminais), devido à natureza do trabalho que é desenvolvido, pois investiga casos de maior abrangência. O SAER foi selecionada, pois as policias que trabalham nesta unidade são as únicas no país que desenvolvem este tipo de atividade. As Delegacias de Santo Amaro da Imperatriz e Palhoça foram escolhidas devido ao fato de que a cidade de Santo Amaro da Imperatriz é considerada uma cidade de interior e por isso possui costumes diferentes das grandes cidades. Contudo a Delegacia da Comarca de Santo Amaro da Imperatriz pertence à Delegacia Regional de Palhoça e por isso a Delegacia da Comarca de Palhoça também foi inclusa na pesquisa.

3.6.2 Seleção dos participantes

Foi solicitado para os delegados responsáveis de cada delegacia que indicasse todas as mulheres policiais civis, que estivessem lotadas naquela comarca. Desta forma, todas as mulheres policiais civis que aceitaram participar foram incluídas na amostra.

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3.6.3 Procedimento de contato com os participantes

Não houve contato direto com as participantes da pesquisa, exceto nos locais em que o delegado solicitou que alguma policial ficasse responsável pelo recolhimento dos questionários.

3.7 PROCEDIMENTO DE REGISTRO DE DADOS

Os dados foram coletados através de questionário.Após a entrega dos mesmos nas delegacias, as participantes da pesquisa tiveram o prazo de uma semana para que os questionários fossem entregues preenchidos. Não foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, pois conforme consta no item 9.8 do Manual Operacional para Comitês de Ética em Pesquisa (BRASIL, 2002, p.38): “Em pesquisas com questionário anônimo, o fato de responder o questionário seria tido como consentimento e os procedimentos para o devido esclarecimento dos sujeitos devem ser descritos para apreciação do CEP”. Desta forma, não houve a necessidade da entrega do Termo para as participantes.

3.8 PROCEDIMENTO DE ORGANIZAÇÃO E TRATAMENTO DE DADOS

Após a aplicação dos questionários, os dados coletados foram organizados de acordo com os objetivos específicos, em um banco de dados construídos pelo programa PhpmyAdmin e para tratá-los foi utilizada a estatística descritiva, que transforma os dados coletados em tabelas e gráficos com medidas e percentil (BARBETA, 1998), para que estes pudessem ser trabalhados a posteriori.

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4 ANÁLISE DOS DADOS

Para responder ao problema de pesquisa, neste capítulo, demonstrar-se-á a caracterização das participantes da pesquisa, bem como a análise dos dados coletados. Para que possa ser analisada as implicações do trabalho de policial para mulheres policiais civis. A análise se divide em quatro subcapítulos: O primeiro apresenta a Caracterização das Participantes; O segundo capítulo demonstra as Características do Trabalho da Mulher Policial; Já o terceiro capítulo versa sobre Relacionamento Interpessoal e Atividades de Lazer; Por fim o quarto capítulo diz respeito a Ser Mulher e Policial.

Vale destacar que todos os gráficos serão apresentados da mesma forma, ou seja, o eixo Y diz respeito às afirmativas apresentadas no questionário, o eixo X demonstra o percentual de mulheres que responderam as afirmativas considerando as possibilidades de resposta: concordo totalmente, concordo, discordo e discordo totalmente. Exceto os Gráficos 5 e 6 que tem como possibilidades de resposta: sempre, as vezes, raramente e nunca.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES

Neste capítulo será demonstrada a Rotina de trabalho das Participantes; as Características das Mulheres Policiais Civis Participantes da Pesquisa; Características sócio demográficas das Mulheres Policiais Civis; bem como os Equipamentos de Trabalho Utilizados pelas Mulheres Policiais Civis.

A Tabela 1 apresenta as características da rotina de trabalho das participantes. Na primeira parte do mesmo são apresentados os cargos - Escrivã de Polícia ou Agente de Polícia, a quantidade de participantes e a porcentagem das mesmas. Já na segunda parte do quadro é apresentada a Jornada de trabalho- plantão ou expediente, bem como a quantidade de mulheres e em seguida a porcentagem.

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Tabela 1 – Caracterização do cargo e a jornada de trabalho das participantes da pesquisa (n=41)

Cargo das Policiais Pesquisadas

Cargo Quantidade Porcentagem

Escrivã de Polícia 11 26,8%

Agente de Polícia 30 73,2%

Jornada de Trabalho das Policiais Pesquisadas

Jornada de Trabalho Quantidade Porcentagem

Expediente 29 70,7%

12x24 / 12x48 4 9,8%

24x48 1 2,4%

Outros 6 14,6%

Não Informado 1 2,4%

Fonte: Elaborado pela autora, 2012

É possível perceber que 73,2% das participantes é agente de polícia, ou seja a maioria da amostra. De acordo com dados fornecidos pelo setor de Recursos Humanos da Polícia Civil de Santa Catarina há um maior número de agentes de polícia. No mês de novembro de 2012 foi contabilizado na Instituição 2429 agentes de polícia e 587 escrivães de polícia.

Quanto à jornada de trabalho percebe-se que 70,7% das participantes trabalham em regime de expediente, este fato ocorre, pois como a maior parte das participantes realiza trabalhos mais administrativos e burocráticos, como nos cartórios da Instituição. Outro dado relevante diz respeito ao cargo, onde 73,% das participantes indicam serem agentes de polícia. Vale destacar que o cargo de escrivão tem como descrição sumária “lavrar e subscrever os autos e termos de sua competência, adotados na atividade de polícia judiciária, de forma contínua, providenciando sua tramitação normal, sob orientação do Delegado de Polícia” (SANTA CATARINA, 2009). Já o cargo de agente de polícia, tem como descrição sumária “executar os serviços de polícia judiciária e investigativa ou administrativa, sob a direção da autoridade policial ou do superior imediato, além de todas as atividades previstas em lei, inerentes ao exercício de seu cargo” (SANTA CATARINA, 2009). Outro dado importante a ser destacado, diz respeito a média de tempo de trabalho das participantes que é de 13 anos e 11 meses.

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A Tabela 2 apresenta as características sócio-demográficas das participantes, ou seja, o Estado de nascimento, a escolaridade, o estado civil, bem como o número de filhos das participantes. Na segunda e terceira coluna é demonstrada a quantidade e a porcentagem das respostas.

Tabela 2 – Caracterização sócio-demográfica participantes da pesquisa (n=41)

Estado de Nascimento das Policiais Pesquisadas

Estado Quantidade Porcentagem

SC 31 75,6% DF 1 2,4% MT 1 2,4% PR 4 9,8% RJ 1 2,4% RS 1 2,4% SP 1 2,4% Não Informado 1 2,4%

Escolaridade das Policiais Pesquisadas

Escolaridade Quantidade Porcentagem

Médio Completo 3 7,3% Superior Incompleto 4 9,8% Superior Completo 18 43,9% Pós Graduação 13 31,7% Mestrado 1 2,4% Não Informado 2 4,9%

Estado Civil das Policiais Pesquisadas

Estado Civil Quantidade Porcentagem

Solteira 18 43,90% Casada 13 31,70% União Estável 4 9,80% Divorciada 3 7,30% Separada 2 4,90% Viúva 1 2,40%

Número de Filhos das Policiais Pesquisadas

Referências

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