LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE
MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO
ANDRÉ LUIZ NASCIMENTO VILELA
GOVERNANÇA CORPORATIVA EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR
PRIVADA: UM ESTUDO DE CASO.
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
em Sistemas de Gestão da Universidade
Federal Fluminense como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de
Gestão. Área de Concentração: Organizações
e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de
Gestão da Responsabilidade Social e
Sustentabilidade
Orientador:
Letícia Helena Medeiros Veloso, Ph.D.
Niterói, RJ
2016
Ficha catalográfica: Sanny Catheriny Gregorio Borges – CRB-06/3058
V695g Vilela, André Luiz Nascimento.
Governança corporativa em uma instituição de ensino superior privada: um estudo de caso /André Luiz Nascimento Vilela. – 2016. 116 f. : enc.
Orientadora: Letícia Helena Medeiros Veloso.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense, Escola de Engenharia.
Referências: f. 65-70
1. Governança Corporativa. 2. Gestão no Ensino Superior. 3. Responsabilidade Social. 4. Sustentabilidade Econômica I. Título. II. Veloso, Letícia Helena Medeiros. III. Universidade Federal Fluminense, Escola de Engenharia.
Aos meus pais, Benedito Pereira Vilela e Rosângela
Nascimento Vilela, por desde a minha infância enfatizarem
que a educação é o melhor caminho para conseguir alcançar
todos os seus sonhos.
A toda minha família pelo incentivo e em especial a minha esposa Mariella e meu
filho Noah pelos inúmeros finais de semana ausentes.
Aos amigos de sala de aula que sempre me incentivaram e apoiaram nos momentos de
dificuldades.
Ao meu mentor Prof. Stefano Barra Gazzola pelo apoio, incentivo e também ao Grupo
Educacional Unis.
Aos professores do LATEC, em especial minha orientadora Prof.ª Drª. Leticia Veloso.
E aquela que sempre estava presente nas dúvidas e que sempre trazia a melhor
solução, Bianca Feitosa.
I Have a Dream(Eu tenho um sonho).
I Have a Dream que tenhamos um país mais justo.
I Have a Dream que a educação brasileira seja prioridade.
I Have a Dream de vivermos num país sem corrupção.
I Have a Dream que nossa saúde seja igual para todos.
I Have a Dream que o professor brasileiro tenha seu salário
igual ao do Presidente do Brasil.
I Have a Dream que nossas crianças possam nadar em lagos e
cachoeiras como um dia nós fizemos.
I Have a Dream que nossos políticos trabalhem pela
sociedade e não por interesse próprio.
A Governança Corporativa é um tema muito estudado em todo o mundo, prevalecendo,
porém, os estudos referentes à área empresarial abrangendo tanto empresas privadas quanto
públicas. Organizações que possuem uma melhor coordenação conseguem se diferenciar das
demais, pois elas possuem melhores condições, ferramentas de análise de sua gestão e
eficácia, e assim elas logram de competências diversas frente aos demais concorrentes. Parece
correto afirmar que algumas organizações no Brasil necessitam de modelos de gestão que
contemplem os princípios da Governança Corporativa, bem como as instituições de ensino
superior, e que consequentemente, garantam os interesses de todos, da sociedade, do Estado.
Neste trabalho, considerando as instituições educacionais como organizações, parte-se do
princípio de que, para estas entidades, o modelo de governança corporativa, também pode ser
utilizado, pois tal uso poderia provocar uma nova forma de gestão e, além disso, possibilitar a
estas organizações adquirir vantagens competitivas e diferenciando-as das demais. Tal
questão se revela ainda mais importante porque o mercado brasileiro de ensino superior passa
por mudanças, como fusões e aquisições entre as instituições de ensino superior privadas,
entrada de grupos internacionais, escassez dos recursos financeiros, diminuição pela procura
por cursos superiores e o aumento da competição dentro deste mercado. Portanto, após os
estudos realizados numa instituição de ensino superior privada, pode-se chegar à conclusão
que, apesar dela não possuir um sistema de governança corporativa estruturada, ela possui
vários indicadores que se aproximam deste sistema, à grande maioria do corpo diretivo da
instituição possui conhecimento destes indicadores e suas aplicações. Alguns membros do
grupo diretivo da IESP credita que através destes indicadores, as atividades relacionadas à
gestão foram impactadas positivamente, foi proporcionado assim o aperfeiçoamento dos
mecanismos de gestão, a transformação no processo de ensino e na aprendizagem, através
destes indicadores pode-se averiguar a melhoria na qualidade da educação desta instituição de
ensino superior privada.
Palavras-chave: Governança Corporativa, Gestão no Ensino Superior, Responsabilidade
Corporate governance is a topic widely studied around the world, prevailing, however, the
studies on the business area covering both private companies and public. Organizations that
have better coordination can differentiate themselves from the others, because it has better
conditions, analysis tools of their management and effectiveness, and so it manages several
front skills to other competitors. It seems fair to say that some organizations in Brazil require
management models that address the principles of Corporate Governance, as well as higher
education institutions, and thus ensure the interests of all of society, the state. In this paper,
considering the educational institutions as organizations, we assume that for these entities, the
corporate governance model, can also be used, as such use could cause a new form of
management and, in addition, enable these organizations acquire competitive advantages and
differentiating the others. This question is revealed even more important because the Brazilian
market for higher education undergoes changes, such as mergers and acquisitions among
private higher education institutions, international groups entry, limited financial resources,
decrease the demand for higher education and increasing competition within this market.
Therefore, after the studies in a private higher education institution, one can conclude that,
although it does not have a structured corporate governance system, it has several indicators
that approaches this system, the vast majority of the governing body of the institution You
have knowledge of these indicators and their applications. Some members of the steering
group of IESP credits that through these indicators, the activities related to management were
positively impacted thus was provided the improvement of management mechanisms, the
transformation in the teaching and learning through these indicators can determine the
improvement in the quality of education of this private higher education institution.
Keywords: Corporate Governance, Management in Higher Education, Social Responsibility,
Figura 01 – Metodologia do trabalho ...22
Figura 02 - Tipos de instituições de ensino superior ... 26
Figura 03 – Estrutura de GC utilizada mundialmente pelas organizações ... 34
Figura 04 – Modelo de Governança Corporativa no Brasil ...39
Figura 05 – Evolução do modelo de governança corporativa no Brasil ... 40
Gráfico 01 - Os principais benefícios percebidos da Governança ... 24
Gráfico 02 – Evolução do número de matrículas de graduação, por categoria administrativa 29
Gráfico 03 – Você possui conhecimento do que é governança corporativa ... 52
Gráfico 04 – A IES utiliza os princípios da governança corporativa ... 53
Gráfico 05 – Que grau você atribui aos mecanismos de transparência na IES ... 54
Gráfico 06 – Sobre o princípio da prestação de contas, qual a forma utilizada pela IES ... 55
Gráfico 07 – A responsabilidade corporativa, que é a sustentabilidade, as ações ligadas a área
ambiental, social, estão presentes nas decisões e no planejamento estratégico da IES ... 56
Gráfico 08 - Os conselheiros ou dirigentes da IES já tiveram alguma capacitação sobre
governança corporativa ... 57
Gráfico 09 - O Sistema de governança corporativa está implantado na IES ... 58
Gráfico 10 - Você acredita que os princípios de transparência, prestação de contas, equidade
entre as partes interessadas e responsabilidade corporativa são utilizadas na sua IES ... 59
Gráfico 11 - Existe algum tipo de indicador que mensura estes tópicos, transparência,
prestação de contas, equidade entre as partes interessadas e responsabilidade corporativa ... 60
Gráfico 12 - A IES tem o interesse em continuar utilizando as ferramentas do sistema de
Governança Corporativa ... 61
Quadro 01 - Perfil da IES, segundo a Característica mais frequente no Brasil ... 29
Quadro 02 – Dados da instituição pesquisada ... 48
Tabela 01 - Evolução do Número de Instituições de Educação Superior... 17
Tabela 02 - Evolução do Número de Instituições de Educação Superior ... 27
Tabela 03 - Número de Instituições de Educação Superior ... 28
Tabela 04 - Códigos de Governança Corporativa de 1992 à 2007... 32
Tabela 05 - Códigos de Governança Corporativa de 2008 à 2015... 33
BOVESPA –Bolsa de Valores de São Paulo
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CC – Conselho Curador
CVM – Comissão de Valores Mobiliários
ECGI - European Corporate Governance Institute
FEPESMIG – Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas
FIES – Fundo de Financiamento Estudantil
GC – Governança Corporativa
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IES – Instituição de Ensino Superior
IESPs - Instituição de Ensino Superior Privadas
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
IPGC – Índice de Práticas de Governança Corporativa
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC – Ministério da Educação
MPE – Ministério Público Estadual
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
PIB – Produto Interno Bruto
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PROUNI – Programa Universidade para Todos
SEMESP – Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São Paulo
SOX – Lei Sarbanes Oxley
1. INTRODUÇÃO ... 15
1.1 Contextualização ... 15
1.2 Situação Problema ... 17
1.3 Objetivo Geral ... 19
1.3.1 Objetivos Específicos ... 19
1.4 Pergunta da Pesquisa ... 19
1.5 Justificativa e Relevância da pesquisa ... 20
1.6 Delimitação da Pesquisa ... 21
1.7 Estrutura do Trabalho ... 22
2. REVISÃO DA LITERATURA ... 23
2.1 PANORAMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA ... 25
2.2 BASE TEÓRICA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA ... 30
2.3 GOVERNANÇA CORPORATIVA NO MUNDO ... 31
2.4 GOVERNANÇA CORPORATINA NO BRASIL ... 37
2.5 GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS IES ... 40
3. METODOLOGIA ... 44
4. ESTUDO DE CASO ... 47
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 50
6. CONCLUSÃO ... 63
6.1 Recomendações para futuros trabalhos ... 64
REFERÊNCIAS ... 65
APÊNDICES ... 71
1. INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A Governança Corporativa é um tema muito estudado em todo o mundo, prevalecendo
porém, os estudos referentes à área empresarial abrangendo tanto empresas privadas quanto
públicas.
De acordo com Carvalho (2003), Governança Corporativa é o conjunto de
mecanismos instituídos para fazer com que o controle atue de fato em benefício das partes
envolvidas que tenham direitos legais sobre a empresa, minimizando a possibilidade de se
estabelecer certo oportunismo.
Organizações que possuem uma melhor coordenação conseguem se diferenciar das
demais, pois possuem melhores condições, ferramentas de análise de sua gestão e eficácia, e
assim logram de competências diversas frente aos demais concorrentes.
Segundo o Código do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015),
as boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações
objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de
longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade
da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum.
Mindlin (2009) especifica que os modelos de governança são espécies de
monitoramentos para que os administradores tomem decisões baseadas também nos interesses
dos stakeholders da fundação, visando uma maior segurança desse grupo.
O International Finance Corporation (2016), salienta que a governança corporativa é
definida como as estruturas e os processos pelos quais as empresas são dirigidas e
controladas. A boa governança corporativa ajuda as empresas a operarem com mais
eficiência, melhorarem o acesso ao capital, reduzirem riscos e se protegerem contra a má
gestão.
Segundo Florez-Parra, et al. (2014), o sistema de governança corporativa traz
mecanismos com a finalidade de gerar uma melhor organização da empresa, bem como o
equilíbrio das forças nas tomadas de decisão; é um controle institucional a fim de atingir os
objetivos traçados pela corporação.
As citações acima se referem à Governança Corporativa como um sistema de forças
que equilibram o poder entre os proprietários (shareholders), representados por acionistas
controladores e minoritários, e os (stakeholders), representados por gerentes, empregados,
governo e comunidade.
Parece correto afirmar que algumas organizações no Brasil necessitam de modelos de
gestão que contemplem os princípios da Governança Corporativa, bem como as instituições
de ensino superior, e que consequentemente, garantam os interesses de todos, da sociedade,
do Estado.
Conforme Teixeira et al. (2015), hoje as grandes empresas que atuam no Brasil
querem consolidar-se no mercado mundial beneficiando-se de ideias e tecnologias. Entretanto
ao se deparar com o mercado brasileiro, tem-se uma decepção ao detectar a falta de uma mão
de obra qualificada e especializada, principalmente em áreas como saúde, engenharia e
mecânica, bem como as dificuldades encontradas em questões ligadas às instituições de
governança, em que as carências notadas são qualitativas, como ciências jurídicas, contábeis e
administrativas.
Neste trabalho, considerando as instituições educacionais como organizações, parte-se
do princípio de que, para estas entidades, o modelo de governança corporativa, também pode
ser utilizado, pois tal uso poderia provocar uma nova forma de gestão e, além disso,
possibilitar a estas organizações adquirirem vantagens competitivas, diferenciando-as das
demais.
Tal questão se revela ainda mais importante porque o mercado brasileiro de ensino
superior passa por mudanças, como fusões e aquisições entre as instituições de ensino
superior privadas, entrada de grupos internacionais, escassez dos recursos financeiros,
diminuição pela procura por cursos superiores e o aumento da competição dentro deste
mercado.
De acordo com Trivelli (2015), uma série de operações financeiras entre as empresas
do setor educacional vem acontecendo. As operações de maior impacto vieram em 2007,
envolvendo instituições como Anhanguera Educacional, Estácio de Sá, Kroton Educacional e
o Sistema Educacional Brasileiro. De 2001 a 2008, a movimentação de capitais no mercado
educacional passou de R$ 10 bilhões para R$ 90 bilhões de reais.
É neste contexto que a presente dissertação investiga em que medida a governança
corporativa pode apresentar melhorias na gestão das IESP – Instituições de Ensino Superior
Privadas. Através de um estudo de caso, será analisado se esta instituição de ensino superior
possui os princípios básicos ou indicadores de um sistema de governança corporativa e se
realmente eles estão incorporados à gestão.
A escolha da IESP se deu mediante grande abertura da instituição em participar da
pesquisa quando procurada, por ser uma instituição conhecida e já consolidada na região do
Sul de Minas, com 50 anos de existência, e a proximidade entre o pesquisador e os dirigentes
da IESP.
O Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC foi a ferramenta
de apoio para o estudo, bem como a referência no mapeamento dos indicadores básicos para
um sistema de governança corporativa, após esse mapeamento foram apontados os
indicadores - Transparência, Equidade, Prestação de Contas (accountability), e
Responsabilidade Corporativa. Os presentes indicadores abordados acima foram utilizados
como base de estudos nesta dissertação.
1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA
Segundo Lakatos, Marconi (1985), o problema é uma dificuldade teórica ou prática,
no conhecimento de alguma coisa de real importância, para qual se deve encontrar uma
solução.
Conforme Asti Vera (1988), o ponto de partida da pesquisa é, pois, a existência de um
problema que se deverá definir, examinar, avaliar e analisar criticamente para, em seguida, ser
tentada uma solução.
O cenário da educação superior brasileira em 2015 mostra que este segmento da
sociedade estava em fase de ajustes, tanto em números de alunos matriculados nas instituições
de ensino superior, quanto em abertura de IES. Segundo o último Censo da Educação
Superior, observa-se o fechamento de algumas IES, houve uma diminuição de 25 IES entre os
anos de 2012 e 2013.
Tabela 01: Evolução do Número de Instituições de Educação Superior, segundo a
Categoria Administrativa – Brasil – 2010 - 2013.
Coloca-se assim em questão a real necessidade na busca de um padrão de qualidade no
ensino superior; em resumo, de um avanço nos índices relacionados a educação superior
brasileira.
Considerando-se que esta não pode ser pautada somente no crescimento das
universidades, mas também na qualidade do que tem sido ensinado a estes jovens em sala de
aula, bem como na capacitação e preparação do corpo docente das IES.
Um pressuposto deste trabalho é que, em toda sociedade moderna, percebe-se que a
alavanca do desenvolvimento e do progresso também passa pela educação, e por isso ela é de
extrema importância para toda a população.
Neste sentido é que se insere o presente estudo, cuja proposta foi verificar se os
indicadores básicos do sistema de governança corporativa, segundo o código das melhores
práticas do IBGC, estão sendo utilizados nas IESP – a partir do estudo de caso aqui proposto,
e se o uso destes indicadores tem possibilitado ganhos na gestão da instituição, melhorias da
qualidade do seu ensino.
Com os avanços na sociedade brasileira, a profissionalização da gestão nas
universidades se torna essencial. Desta forma, através de uma melhor gestão, pode-se
caminhar para um padrão de excelência e qualidade da educação superior brasileira. Parte-se
aqui do princípio de que, somente através da eficiência da gestão é que o país conseguirá
elevar seu padrão de educação.
Portanto, se as instituições não tiverem uma gestão eficiente, profissional, capaz de
garantir um padrão de qualidade, sua perenidade será interrompida em um curto espaço de
tempo, pois o mercado educacional no Brasil se encontra bastante acirrado, particularmente
com a chegada ao país de grandes grupos financeiros, os quais estão por trás de algumas
instituições educacionais.
A sociedade brasileira não pode ficar com uma educação superior estagnada.
Precisam-se cada vez mais de indicadores que possam elevar a qualidade acadêmica,
priorizando-se a qualificação dos professores e destas instituições. Tal proposição se torna
ainda mais relevante uma vez que se percebe a presença de grandes fundos de investimentos
interessados somente em rendimentos, deixando de lado os principais pilares da educação que
são o ensino, a qualidade educacional e o avanço de uma sociedade.
Segundo Sguissardi (2008), as principais críticas referem-se ao grau de
mercantilização do ensino oferecido, à não interferência do Estado na atuação pedagógica dos
cursos de graduação, à falta de regulação sobre a participação das IESPs (Instituições de
Ensino Superiores Privadas) no mercado financeiro, e aos modelos de incentivo de expansão
por meio do Programa Universidade para Todos (PROUNI) e do Fundo de Financiamento
Estudantil (FIES), bem como à falta de regras sobre os programas curriculares nos cursos de
graduação das IESPs.
A proposta de utilização dos indicadores básicos de um sistema de governança
corporativa se torna de grande utilidade, pois acredita-se que com este modelo, será possível
contribuir para melhoria da gestão, da qualidade educacional desta instituição pesquisada.
1.3 OBJETIVO GERAL
O presente estudo analisa, através de um estudo de caso em uma Instituição de Ensino
Superior Privada, se os indicadores básicos de um sistema de governança corporativa estão
sendo aplicados à sua gestão.
1.3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Mapear os indicadores básicos do sistema de governança corporativa, tendo como
base o código das melhores práticas do IBGC.
Verificar se estes indicadores básicos da governança corporativa estão sendo
utilizados na instituição pesquisada.
Analisar e explicar estes indicadores, com base no estudo de caso, e como eles
poderão proporcionar alguma melhoria na gestão, bem como na qualidade educacional
desta instituição.
Verificar a eficácia na utilização destes indicadores na gestão desta instituição de
ensino superior privada.
1.4 PERGUNTA DA PESQUISA
Este estudo analisou se os indicadores básicos de um sistema de governança
corporativa estão sendo aplicados na gestão de uma instituição de ensino superior privada, a
partir de um olhar detalhado sobre uma única instituição, e se estes indicadores de gestão têm
proporcionado melhorias na qualidade educacional desta IES. Poder-se-ia, assim, atestar a
eficácia destes indicadores quando utilizados numa instituição de ensino superior privada.
1.5JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DA PESQUISA
Com o crescimento da educação superior no Brasil torna-se de extrema necessidade
uma gestão profissional e eficiente para administrar estas organizações.
Devido à diversidade de ferramentas e indicadores de gestão utilizados pelas mais
diversas instituições de ensino superior, a proposta de utilização dos indicadores de
governança corporativa se apresenta como uma alternativa útil, pois acredita-se que, com os
indicadores deste sistema, será possível contribuir para a melhoria da qualidade educacional
da instituição pesquisada.
Um dos desafios enfrentados pelas instituições de ensino superior privadas no país é a
dificuldade de se adaptarem a mecanismos de gestão apropriados a sua especificidade, no
caso, instituições de ensino. No atual momento em que o ensino superior encontra-se diante
de mudanças, como manter e aumentar a qualidade desse ensino? Para além da excelência da
formação dos docentes, por exemplo, ou da infraestrutura adequada dos espaços, a
necessidade de se combinar qualidade acadêmica com uma gestão também de qualidade se
coloca como desafio central. É neste sentido que o presente estudo pretende oferecer uma
contribuição.
Falar de governança corporativa implica pensar nas instituições educacionais, nesse
caso, as que lidam com a educação superior, como organizações num sentido mais amplo, e
este debate ainda não está bem desenvolvido na sociedade atual. Pelo contrário, pensa-se
comumente a educação como um setor à parte, regido por regras próprias que não as das
organizações, num sentido mais geral.
O senso comum muitas vezes imagina a educação, e talvez principalmente a educação
superior, como guiada puramente por ideais alheios ao mundo dos negócios; supõe-se que as
estruturas e mecanismos mais modernos e eficazes da gestão não se aplicam facilmente a
essas organizações. No entanto, qualquer gestor de uma instituição saberá avaliar a
importância e, até, a urgência de se estabelecerem melhores práticas na sua governança.
Segundo Teixeira et. al. (2015), a educação superior do Brasil anda dissociada do
mercado de trabalho, não pela falta de interesse dos alunos, professores e pesquisadores, mas
pela própria natureza da gestão, estratégia de crescimento e incentivo dos órgãos reguladores
que fomentam o ensino superior brasileiro.
Portanto, este trabalho propõe um novo olhar teórico sobre as bases mesmas de uma
instituição de ensino superior privada. Assim, torna-se viável e adequado utilizar a literatura
sobre organizações, sistemas de gestão, qualidade educacional e neste sentido este trabalho irá
contribuir para tal reflexão teórico-conceitual: ao analisar os princípios básicos da governança
corporativa e verificar a aplicação deste modelo de governança nas IESP, propõe-se também
um olhar sobre essas instituições que seja moldado pela literatura na área organizacional.
Finalmente, ao pensar as IES como organizacionais e estudá-las a partir da literatura
organizacional, contribui-se também para repensar uma questão muito mais ampla, que é a da
qualidade no ensino superior brasileiro: toda a discussão sobre governança corporativa
aplicada tanto às organizações em geral, quanto às IES, em particular, pressupõe uma busca
por padrões de qualidade na gestão organizacional, o que, neste caso, se traduz numa
discussão sobre potenciais e esperados avanços de uma educação superior que seja pautada
por esses modelos.
As instituições de ensino superior brasileiras privadas tiveram em 2011 faturamento
totalizando R$ 33 bilhões, o equivalente a 1% do PIB do país (SEMESP, 2013). Portanto, a
preocupação com sua sustentabilidade é de extrema importância, dentre outros motivos,
porque além de atender a milhares e milhares de alunos, estas instituições empregam quase
800 mil profissionais, entre professores e administrativos.
Diante deste fato, este estudo acadêmico procurou demonstrar a aplicabilidade de um
modelo de gestão já conhecido pelas organizações de capital aberto e pela literatura
acadêmica da área, que é a governança corporativa, embora a mesma não seja utilizada por
todas as instituições de ensino superior brasileiras; na verdade, o tema ainda é pouco
conhecido no meio e são relativamente poucas as instituições que o utilizam.
Assim, este trabalho irá avançar o debate acadêmico-científico sobre os temas,
transparência, equidade, prestação de contas (accountability) e responsabilidade corporativa,
bem como sobre os limites e possibilidades da governança corporativa e sua aplicabilidade
nas instituições de ensino superior, quanto para uma gestão universitária eficiente baseada
nestes indicadores de gestão.
1.6 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
Devido ao vasto número de IES no Brasil e a complexidade de se analisar
territorialmente todas as organizações, esta pesquisa limitar-se-á a atuar dentro do munícipio
de Varginha – MG, analisando especificamente a Fepesmig – Fundação de Ensino e Pesquisa
do Sul de Minas, mantenedora do Grupo Educacional UNIS -- através de um estudo de caso.
1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO
Esta dissertação está estruturada em seis capítulos.
O primeiro capítulo apresenta as ideias iniciais que fomentaram o estudo, revelando o
contexto da pesquisa, a situação problema, os objetivos a serem alcançados e as questões
norteadoras, bem como a justificativa, a relevância e a delimitação da pesquisa.
O segundo capítulo traz o referencial teórico que fundamenta esta dissertação, ou seja,
a governança corporativa.
O terceiro capítulo descreve a metodologia utilizada, em particular quanto à análise
bibliográfica sobre as publicações acerca do tema em governança corporativa.
No quarto capítulo é apresentado o estudo de caso, as entrevistas e as suas
contribuições.
O quinto capítulo traz os resultados obtidos no estudo de caso, bem como na literatura
levantada.
E no sexto e último capítulo as conclusões e as recomendações para estudos futuros.
Figura 01. Metodologia do trabalho
11
A figura 01 e as demais figuras, tabelas, gráficos e quadros que não possuírem citação especifica são de
2. REVISÃO DA LITERATURA
Segundo Bogoni et. al. (2010), umas das questões-chave para uma boa gestão nas
instituições de ensino superior é possuir uma administração profissional capaz de conduzir a
organização ao sucesso, garantindo assim a sua sustentabilidade perante a sociedade. A
Governança Corporativa propõe o uso eficiente dos recursos, bem como o uso de mecanismos
de transparência e prestação de contas.
Conforme Neto (2014), o ensino superior brasileiro vem experimentando rápida
expansão, seja no âmbito público, seja no privado. No momento encontra-se entre os maiores
mercados potenciais do mundo, sendo o maior da América Latina. Atualmente, estão em
funcionamento mais de 2.300 instituições de ensino superior, mantendo mais de seis milhões
de alunos matriculados.
Pode-se dizer, então, que em termos quantitativos a educação no país avançou
bastante. Resta, agora, o desafio de se elevar a qualidade dessa educação. Diante deste cenário
é fundamental um sistema de gestão que auxilie o administrador educacional em suas funções,
objetivando a construção de um padrão de excelência educacional, possibilitando um ensino
de qualidade.
Parte-se aqui do princípio de que somente através da eficiência na gestão é que o país
conseguirá elevar seu padrão de educação. Portanto, se as instituições de ensino não tiverem
uma gestão eficiente, profissional, capaz de garantir sua excelência, sua longevidade será
interrompida num curto espaço de tempo.
Com os avanços na sociedade brasileira, a profissionalização de gestão nas
universidades se torna essencial. Somente desta forma, através de uma melhor gestão, pode-se
caminhar para um padrão de excelência e qualidade da educação superior brasileira.
Segundo Lapworth
2(2004, tradução nossa), hoje a lenta deliberação prejudica a
capacidade de uma instituição para responder a um ambiente externo em rápida mutação e
isso levanta a tensão entre o desejo cultural para consulta e consenso, com a necessidade de
tomada de decisão rápida e complexa.
Uma vez que não possui-se ainda um modelo específico de gestão para as instituições
de ensino superior, esta dissertação se propõe a discutir o modelo da Governança Corporativa.
2
Today, the slow deliberation of Senates and Faculty Boards hinders an institution’s ability to respond to a
rapidly changing external environment and this raises tension between a cultural desire for consultation and
consensus, and the necessityof speedy and complex decision-making.
Referente a este modelo, a dissertação argumenta vir a ser um caminho, ou mesmo uma base,
para a melhoria da gestão, bem como a qualidade da educação.
A governança corporativa é utilizada em grandes organizações -- várias delas sendo
multinacionais, outras nacionais -- muitas delas bem gerenciadas. Na verdade, este modelo de
gestão é aplicável a qualquer tipo de organização, sendo ela pequena, média ou grande, de
capital aberto ou fechado.
Através do IBGC e a Booz&Company (2010), foi realizado um segundo estudo sobre
o panorama da Governança Corporativa no Brasil, frente ao primeiro estudo realizado em
2003, o estudo consistia em verificar qual o panorama atual da G.C, suas principais
dimensões, à evolução recente e as principais oportunidades de melhoria. Foram analisadas
empresas de controle nacional selecionadas entre as 500 maiores do País, com faturamento
superior a R$ 200 milhões por meio da coleta de informações via questionários e entrevistas.
Gráfico 01 - Os principais benefícios percebidos da Governança estão associados à
transparência, imagem e gestão das empresas.
Fonte: IBGC/Booz&Co –(2010).
Conforme Ribeiro (2012), a Governança Corporativa vem ganhando cada vez maior
notoriedade, sendo vista como detentora de um conjunto de melhores práticas, capazes de
fomentar a imagem de muitas organizações no cenário dos negócios.
As maiores referências em governança corporativa e que influenciaram pesquisadores
da atualidade se deram através dos estudos e publicações de Adolf Berle e Cardiner Means,
em 1932, Ronald Coase, em 1937, John Kenneth Galbraith em 1967 e Adrian Cadbury, 1992.
2.1 - PANORAMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA
A grande transformação na educação superior brasileira ocorreu com a promulgação
da Constituição Federal de 1988.
Na Constituição Federal de 1988 foi instituído o princípio da autonomia
universitária. Ele flexibilizou e agilizou o processo para universidades e centros
universitários criarem novos cursos. Com isso, entre 1985 e 1996, o número de
universidades privadas saltou de 20 para 64, em contraponto ao número de
faculdades (que não gozam da autonomia dada pela Constituição Federal de 1988)
que diminuiu (TRIVELLI, 2015, p. 18).
Com a alteração do texto em 2006 na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
ocorrem algumas transformações na educação superior do Brasil, como: um enorme
crescimento de matrículas, criação de instituições de ensino superior e a principal delas, a
mais impactante para o setor, a liberação destas instituições de ensino para atuar com fins
lucrativos.
Segundo Sampaio (2011), antes de 1996, as organizações de ensino básico e superior
eram proibidas de ter finalidade lucrativa. Em contrapartida, contavam com subsídios e
incentivos governamentais.
Segundo Schwarfzman (2002), as normas gerais que regem o ensino superior
brasileiro, tanto público como privado, constam de dois instrumentos legais principais, a
Constituição Federal de 1988 (artigos 207, 208, 213 e 218) e a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei 9394/1996). Além destes instrumentos principais, existe um grande
número de Medidas Provisórias, Decretos, Resoluções e Pareceres do Conselho Nacional de
Educação, Conselhos Profissionais e outros órgãos e Portarias Ministeriais que são
promulgadas com grande freqüência, visando regulamentar e implementar as normas
constitucionais e da LDB.
As instituições de ensino superior no Brasil possuem diferentes tipos de estruturas
acadêmicas e também características administrativo/pedagógicas distintas.
UNIVERSIDADES
FACULDADES
CENTROS UNIVERSITÁRIOS
Conforme decreto nº 5.773/06 às instituições de ensino superior brasileiras serão
organizadas desta forma (figura 02), o referido decreto é o documento legal que estabelece as
normas de criação, supervisão, fiscalização e funcionamento da educação superior brasileira.
Figura 02 – Tipos de IES
Além das estruturas básicas abordadas acima, temos outros tipos de organizações da
educação superior:
a) Universidades
b) Universidades especializadas
c) Centros Universitários
d) Institutos Superiores de Educação
e) Centros de Educação Tecnológica ou Técnica
f) Faculdades Isoladas
De acordo com o último Censo da Educação Superior -- 2013 disponibilizado em 2015
o Brasil possui as seguintes instituições de ensino superior, conforme gráfico.
Tabela 02–Número de instituições de educação superior, por organização acadêmica,
segundo as faixas do número de matrículas – Brasil – 2013.
Fonte: Censo da Educação Superior (2015).
Quanto à organização acadêmica atualizada das instituições, notam-se as seguintes
definições:
- Faculdade - categoria que inclui institutos e organizações equiparadas, nos termos do
Decreto n° 5.773, de 2006;
- Centro Universitário - dotado de autonomia para a criação de cursos e vagas na sede, está
obrigado a manter um terço de mestres ou doutores e um quinto do corpo docente em tempo
integral;
- Universidade - dotada de autonomia na sede, pode criar campus fora de sede no âmbito do
Estado e está obrigada a manter um terço de mestres ou doutores e um terço do corpo docente
em tempo integral;
- Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia para efeitos regulatórios, equipara-se a
universidade tecnológica;
- Centro Federal de Educação Tecnológica - para efeitos regulatórios, equipara-se a centro
universitário.
Quanto às questões de gestão, administração, estas organizações podem ser caráter de
pública ou privada, nas privadas elas podem ter ou não a característica sem fins lucrativos.
As Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras mantidas pelo Poder Público, na
forma (i) Federal, (ii) Estadual ou (iii) Municipal, são financiadas pelo Estado, sendo assim
elas não cobram matrícula ou mensalidade.
As instituições privadas sem finalidade de lucro são as: comunitárias, que incluem em
sua entidade mantenedora representantes da comunidade; confessionais, que atendem a
determinada orientação confessional e ideológica; e filantrópicas, que prestam serviços à
população, em caráter complementar às atividades do Estado (art. 20 da LDB). E as com fins
lucrativos - instituição mantida por ente privado, com fins lucrativos.
Percebe-se que com o passar dos anos a educação superior no Brasil tende ainda a
crescer, de acordo com (Sampaio, 2011), ainda existe um contingente de quase 70% dos
egressos do ensino médio fora das cadeiras universitárias no Brasil.
A educação superior brasileira tem crescido com o passar dos anos, isso mostra que a
população tem acessado cada vez mais a educação superior, vejamos conforme tabela do
censo da educação superior.
Tabela 03 - Evolução do número de matrículas de graduação, segundo a organização
acadêmica – Brasil – 2010 - 2013.
Fonte: Censo da Educação Superior. (2015).
Ainda que na atual conjuntura o Governo Federal se esforce para expandir o número
de matrículas e instituições no sistema federal de ensino superior, grande parte deste universo
se encontra nas instituições privadas conforme constata-se no gráfico.
Gráfico 02 – Evolução do número de matrículas de Graduação, por Categoria
Administrativa – Brasil – 2009-2013.
Fonte: Censo da Educação Superior. (2015).
No que se refere à forma de organização acadêmica das IES, o Censo mostrou o
predomínio das faculdades privadas, que são instituições que atuam em um número reduzido
de áreas do saber, não possuindo autonomia para criar programas de ensino e cursos, e seu
corpo docente pode ter titulação, no mínimo, de pós-graduação lato sensu.
Quadro 01 - Perfil da IES, segundo a Característica mais frequente - Brasil – 2013.
Fonte: Censo da Educação Superior. (2015).
Os resultados apontados ao longo desta dissertação, conforme dados do Censo da
Educação Superior, confirmam a tendência histórica de que as IES brasileiras são em sua
maioria, pertencentes à rede privada.
2.2 – BASE TEÓRICA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA
Muitas são as denominações atualmente para a governança corporativa, sendo uma das
primeiras abordagens aquela proposta por Adolf Berle e Gardiner Means, quando da
publicação do livro The Modern Corporation and Private Property, (BERLE e MEANS,
1932). Tal abordagem foi o alicerce para fundamentação do que hoje é a governança
corporativa.
Exclusivamente no continente americano, uma legislação específica foi oficializada e
que influenciou diversas mudanças no sistema de governança corporativa daquele país.
Em 30 de julho de 2002 a Lei Sarbanes Oxley foi assinada pelo então Presidente dos
Estados Unidos, George Bush, a fim de regular, melhorar os mecanismos de fiscalização do
mercado acionário, comitês de auditoria e penalidades para crimes de fraudes e do colarinho
branco. O texto na íntegra referente à lei SOX consta no anexo 02. (ESTADOS UNIDOS,
2002).
Outras bases teóricas da governança corporativa são as obras de Ronald Coase, --
principalmente aquela intitulada de The Nature of the Firm, (1937), que evidencia o papel da
firma como engrenagem na orientação da economia -- John Kenneth Galbraith, com o livro
The Industrial State (1967), que abordada as questões relacionadas à estrutura de poder e
gestão, e Adrian Cadbury, que em 1992 elaborou o primeiro código de governança
corporativa denominado Relatório Cadbury.
Segundo o Cadbury Report
3(1992, tradução nossa), a governança corporativa é o
sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e controladas.
A definição de governança corporativa seria o sistema utilizado pelos stakeholders
como forma de controlar os administradores.
Numa definição mais ampla, "governança corporativa" refere-se às instituições
privadas e públicas, incluindo disposições legais, regulamentares e práticas
comerciais aceitas, que juntos reger o relacionamento, em uma economia de
mercado, entre gestores de empresas e empresários ("corporate insiders"), por um
lado e aqueles que investem os recursos na empresa, por outro. Os investidores
podem incluir fornecedores de financiamento do capital próprio (acionistas),
fornecedores de financiamento da dívida (credores), fornecedores de capital humano
a empresa (funcionários) e fornecedores de outros ativos tangíveis e intangíveis que
as empresas podem utilizar para operar e crescer. (OECD, 2001, p. 13).
Segundo o Código do IBGC (2015), os principais objetivos da Governança
Corporativa são: preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos
e contribuindo para sua longevidade.
Segundo Lodi (2000), o movimento da Governança Corporativa se originou nos
Estados Unidos, no início dos anos 90, em decorrência de necessidades específicas de
administradores de fundos de pensão, que sentiam uma necessidade de maior segurança nos
investimentos realizados com dinheiro dos mutuários, os quais se caracterizavam, na grande
maioria, como acionistas minoritários e que sofriam com a falta de informações objetivas e
transparentes para orientar suas decisões de investimento.
Segundo Wright et al.(2000), a Governança Corporativa refere-se a um sistema de
gestão no qual as estratégias da empresa são monitoradas pelo Conselho de Administração
para garantir a efetividade da administração e um maior retorno para os acionistas, zelando
pelos direitos dos sócios minoritários, principalmente após a ocorrência de alguns escândalos
financeiros.
Segundo Carvalho (2003), Governança Corporativa é o conjunto de mecanismos
instituídos para fazer com que o controle atue de fato em benefício das partes envolvidas com
direitos legais sobre a empresa, minimizando o oportunismo.
Os autores mencionados referem-se à Governança Corporativa como forças que
equilibram o poder entre os proprietários (shareholders), representados por acionistas
controladores e minoritários, e os (stakeholders), representados por diversos públicos
interessados.
Na maioria dos sistemas e organizações que possuem como modelo de gestão a
Governança Corporativa, sua estrutura está caracterizada pela separação entre proprietários e
administradores.
2.3 – GOVERNANÇA CORPORATIVA NO MUNDO
Em grande parte dos sistemas de governança corporativa a base organizacional está
configurada na separação entre propriedade e gestão. Vários autores como Fontes Filho
(2004) defendem uma estrutura de governança corporativa baseada em dois conjuntos, sendo
eles: o modelo shareholder ou financeiro, onde o interesse principal é para o acionista e o
modelo stakeholders ou de públicos de interesses.
Segundo Duarte (2007), os sistemas básicos em governança corporativa mais
encontrados pelo mundo podem ser divididos entre 03 modelos: o anglo-saxão ou de proteção
legal, vigente nos Estados Unidos (EUA) e no Reino Unido; o modelo nipogermânico,
baseados em grandes investidores e em bancos da Europa, predominante na Europa
Continental, Alemanha e Japão; e o baseado na propriedade familiar, prevalecente no restante
do mundo.
Embora os modelos de governança existentes ao redor do mundo se baseiem em três
sistemas básicos, atualmente existe mais de 430 países que possuem códigos das melhores
práticas de governança corporativa.
Conforme as tabelas 04 e 05 pode-se perceber que a criação do primeiro código de
boas práticas se deu em 1992 pelo Reino Unido e somente em 1999 foi redigido o primeiro
código brasileiro, portanto são informações e práticas recentes na cultura empresarial tanto no
Brasil quanto em outros países.
Tabela 04–Códigos de Governança Corporativa de 1992 a 2007.
Tabela 05 – Códigos de Governança Corporativa de 2008 a 2015.
Fonte: European Corporate Governance Institute. (2015).
Em grande parte das organizações que já utilizam o modelo de governança
corporativa, sua estrutura organizacional está baseada em Acionistas, Conselho de
Administração e Presidente.
Segundo Waack (2002), este modelo tem sido utilizado mundialmente nas estruturas
que possuem o sistema de governança corporativa, veja na figura 04.
Figura 03 – Estrutura de GC utilizada mundialmente pelas organizações.
Fonte: WAACK, (2002).
Segundo Serafim et al. (2010), o tema governança corporativa tornou-se conhecido
mundialmente na década de 1980 nos Estados Unidos (EUA), após grandes escândalos
financeiros ganharem notoriedade em todo o mundo, como o caso Texaco
4.
Outros casos conhecidos de empresas americanas em 2001 foram Enron, Arthur
Andersen e Worldcom.
Com os acontecimentos na economia americana, o governo dos Estados Unidos se viu
numa encruzilhada e teve que intervir com medidas legislativas que pudessem restaurar a
confiança perdida pelo mercado. Sendo assim várias ações foram tomadas como a criação de
procedimentos fiscalizadores, a criação em 2002 da Lei Sarbanes-Oxley responsável por
4