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O AGRONEGÓCIO DE GRÃOS NO SUDOESTE DO PIAUÍ E NOVAS DINÂMICAS

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Academic year: 2021

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AS NOVAS FACETAS DO AGRONEGÓCIO DE GRÃOS NO PIAUÍ

Manuela Nunes Brito Leal Universidade Estadual do Piauí

manunlgeo1@hotmail.com INTRODUÇÃO

O presente trabalho teve por objetivo analisar a produção do espaço piauiense diante da territorialização do agronegócio de grãos e sua complexa cadeia produtiva, evidenciando suas tendências. A reestruturação produtiva nas fazendas tem ampliado a produção de grãos, possibilitando a atração de novos capitais de investimentos vinculados à cadeia produtiva como empresas de consultoria, agronegócio de frango, mineradoras, novas fazendas, empresas de fertilizantes, bem como uma série de prestadores de serviços. Tais negócios ganham forma no campo e nas cidades da região produtora. As cidades demandaram a provisão de serviços e infraestrutura necessários para concretude do ciclo produtivo do agronegócio.

O campo do sudoeste do Piauí foi propalado como propício à modernização da agricultura, o que gerou inúmeras transformações socioespaciais como a ocupação de novas áreas, elaboração de programas de governo prol desenvolvimento, alterações na estrutura fundiária, bem como no uso e ocupação das terras.

A pesquisa utilizou como encaminhamento metodológico a revisão bibliográfica livros, revistas, dissertações e teses que versam sobre as categorias de análise: espaço agrário, modernização da agricultura, reestruturação produtiva, valorização do espaço, agronegócio e cadeia produtiva. Tais leituras serviram como aporte para auxiliar na coleta de dados secundários em órgãos como: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Sistema IBGE de Recuperação Automática –SIDRA e Fundação Centro de Pesquisa econômica e sociais do Piauí (CEPRO), entre outros. Os dados e informações sistematizadas neste trabalho evidenciam as novas tendências decorrentes do agronegócio de grão e sua cadeia produtivas.

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A cadeia produtiva de grãos no Piauí tem ampliado e diversificado suas relações em diferentes escalas acarretando transformações socioespaciais na região produtiva. Os fluxos de capital, grãos, informação refletem a ampliação dos negócios já existentes e a materialização de novos empreendimentos.

Tal materialização do agronegócio de grãos e sua reestruturação produtiva promovem mudanças espaciais nessa região. São novas fazendas e suas formas espaciais com armazéns, silos, sede, escritórios, empresas da cadeia produtiva, prestadoras de serviços, etc. Toda essa estrutura é possível mediante as novas técnicas e o meio técnico científico e informacional cujo acesso está vinculado ao grande capital das fazendas, das multinacionais de alimentos e posteriormente as granjas e fábricas de ração.

Além dessas formas espaciais existe, ainda, a logística, ou seja, a infraestrutura necessária para esse ciclo produtivo, através de estradas, ferrovias, portos, etc. Por tanto para a materialização do ciclo é fundamental os sistemas de engenharia para garantir a entrada dos insumos nas fazendas e para comercialização dos grãos. No Piauí produção de grão tem como principal destino o mercado externo a partir das Tradings ou mercado de futuros e o mercado interno para agroindústrias nos Estados do Piauí, Ceara e Pernambuco para produção de óleo, manteiga, ração entre outros (Figura 01).

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Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

As cidades vão sendo modeladas com as novas demandas por moradia e terra urbana para novos empreendimentos o que desencadeia a construção de novos loteamentos, construção de novas residências e, consequentemente, a especulação imobiliária e fundiária, onerando progressivamente o valor do solo urbano. São novos agentes promotores do espaço como as imobiliárias, agentes fundiários, novos detentores dos meios de produção.

A dinamização da economia urbana desencadeia mudanças espaciais, são novas construções, empreendimentos, loteamentos na região produtora da soja, conformando uma produção do espaço para garantir a reprodução do capital do agronegócio. Na região chamada de nova Uruçuí localizada próximo ao entroncamento das rodovias que interligam Uruçuí, Sebastião Leal, Ribeiro Gonçalves e Baixa Grande do Ribeiro, encontra-se grande posto de combustível do Grupo Cacique, no seu entorno existe mecânicas e casas de peças para automóveis. Sua localização é estratégica por ficar próximo da BUNGE alimentos, onde o fluxo de caminhões e automóveis é constante.

Esses agentes vêm produzindo e promovendo mudanças socioespaciais nas cidades da região produtora da soja, com destaque para Uruçuí e Bom Jesus. Além disso, novas funções urbanas aparecem para atender as novas demandas da população que passa a ter maior renda. É a consolidação desta atividade e todo seu ciclo produtivo a responsável pelo atual modelado no cerrado piauiense.

Destino da Produção da soja dos Produtores visitados no trabalho de Campo Mercado Externo: Tradings ou Mercado de Futuros Mercado Interno: BUNGE, Fábrica de Rações PI, PE e CE

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A presença dos agentes imobiliários na cidade de Uruçuí vem contribuindo para a transformação do urbano. Foram identificadas nove imobiliárias na cidade de Uruçuí todas nos seguimentos de vendas e aluguéis de casas, apartamentos e fazendas com anúncios com atrativos para a produção de soja na região (Figura 02).

Algumas das imobiliárias oferecem inclusive Serviço de preparação de terreno, cultivo e colheita, obras de terraplenagem, Serviços de cartografia, topografia e Geodésia, para a instalação de novas fazendas. Outra atuação destes agentes é construção de estrutura para funcionamento das fazendas como armazéns, silos, escritório, refeitórios e residências (Figura 03).

Além disso, empresas vinculadas ao agronegócio de frango e ração têm sido atraídas pela oferta de matéria prima, terra com preço acessível se comparadas a valores de outras regiões do país, bem como incentivos fiscais. Empresas nacionais dos setores de alimentos e de rações para animais têm realizado pesquisas referentes ao mercado e logística para investir no território piauiense.

Uma tendência na região produtora é a reestruturação das fazendas exigentes com ampliação da área colhida, maior rendimento da produção por hectare, investimentos em tecnologia em maquinário e produtos utilizados na produção.

Figura 02: Quadro das Imobiliárias com atuação no município de Uruçuí 2015

BAIRRO NÚMERO DE

IMOBILIÁRIAS

NOMES DAS IMOBILIÁRIAS

Aeroporto 1 Base K Imóveis LTDA

Bela Vista 1 Guimarães Imóveis LTDA

– ME

Centro 4

Imobiliária Sul Brasil – Sul Brasil Imóveis LTDA – ME

Imobicaixa - Imobiliária Luiz Ceara LTDA – ME Tche Imóveis LTDA – ME Via Rural LTDA – EPP

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Nova Canaã 1 Jv Empreendimentos Canaã - ME

Novo Uruçuí 1

Empreendimentos

Imobiliários Campo Belo LTDA

Portal Dos Cerrados 1 Central Logística e

Participações LTDA – ME Fonte: Empresas do Brasil.

http://empresasdobrasil.com/empresas/urucui-pi/imobiliarias-compra-e-venda-de-imoveis. Acesso em 3 de janeiro de 2015. Figura 03: Fotografia da Máquina de limpeza da soja e silo

Fonte: Trabalho de Campo, 2012.

Outra dinâmica é a atração de capitais do agronegócio de grãos para municípios próximos à Teresina tendo como moveis o acesso à terra, mão de obra e oportunidade de negócios com empresas da capital piauiense, além da proximidade do porto de Itaqui no Maranhão. Pesquisas com outros cultivares de grãos adaptadas às condições climáticas têm auxiliado na atração de novos grupos e empresários do setor para outros municípios. O mais recente incentivo foi o decreto de nº 8.447 de 06/05/2015 que dispõe sobre o Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba (PDA-Matopiba), cujo objetivo é prover políticas públicas para desenvolvimento econômico centrado em atividades agrícolas e pecuárias em municípios dos Estados da Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins.

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A cadeia produtiva de grãos e sua reprodução em franca expansão têm atraído empresas do agronegócio da carne. Já se encontra em atividade no setor do agronegócio da carne uma empresa paraibana, BOM TODO do grupo Guaraves, no município de Uruçuí. A referida empresa já iniciou a construção de uma granja, construiu um silo de recebimento de grãos, irá construir uma fábrica de ração e posteriormente um abatedouro de frango. Um funcionário da empresa afirma que a instalação no Piauí se deve aos seguintes motivos:

é a fronteira mais próxima da Paraíba, antiga matriz, porém dá 1.200 km daqui lá e da Bahia dá 1.900 então, um dos motivos foi esse e a gente veio no ano de 2000 aqui dá uma volta na região e viu que a região realmente ia crescer. Então, apostamos e viemos para região. Hoje é uma realidade todo mundo vem pra cá tá vendo que as empresa tão tudo vindo pra Uruçuí por isso que a gente apostou em vir pra cá. (Empresa da cadeia produtiva);

No discurso dos gestores locais e estadual, o Piauí é um novo mercado para o agronegócio de carne vinculado ao de grãos. Essa afirmação de local propício a receber tais investimentos condiz com as ideias de Milton Santos sobre a guerra entre lugares, ou seja, os gestores municipais já disputam para sediar tais empresas e propalam as benesses de novos empregos. Tal proposta de geração de emprego já vem inserida nas falas dos funcionários das empresas quando afirmam que:

A empresa é paraibana e hoje tem filial na Paraíba, Pernambuco, Piauí, Ceará onde empregam 2.000 a 2.300 funcionários. Hoje a gente tem um abatedouro que abate 80.000 frango por dia na capacidade de 120.000 diário. Assim a empresa veio pra o Piauí, na fronteira mais próxima agrícola. A fronteira mais próxima antes era a Bahia e hoje é o Piauí. (Empresa da cadeia produtiva).

A consolidação do agronegócio da soja e os demais grãos e sua cadeia produtiva atraíram novos investimentos e promovem mudanças significativas no campo e na cidade dessa região produtora. Além das empresas já citadas um novo grupo empresarial se instala no Piauí, o grupo Tomazini.

Portanto, a cadeia produtiva da soja no Piauí tem ampliado os setores, a montante e a jusante do ciclo produtivo, acarretando transformações sócio espaciais na região produtiva da soja, bem como na sua área de influência, pois os fluxos são intensos entre

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a unidade gestora das empresas que se instalaram no Piauí e as empresas e fazendas de capital local e regional. Os fluxos indicam as correlações de forças, informações, relações de poder, e migração de pessoas em busca de trabalho e novos empreendimentos. O Piauí vem ampliando sua produção, atraindo várias empresas e a expansão para novos setores do agronegócio, no caso, o algodão e a carne.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O agronegócio de grãos no Piauí tem ampliado e sinaliza a materialidade de novos capitais de investimentos vinculados a cadeia produtiva. As novas fazendas, empresas de consultoria, fabricas de ração, mineradoras, empresas de fertilizantes, agronegócio da carne de frango, agronegócio do eucalipto e vários prestadores de serviços se territorializam na região produtora.

A chegada dos produtores, consultorias, agroindústrias, empresas responsáveis pela comercialização de insumos e defensivos promovem transformações no espaço. Parte da cadeia produtiva da soja se instala nas cidades, no urbano dos municípios, no caso, os serviços da pré-porteira e o da pós-porteira, ficando no campo as fazendas produtoras de grãos.

Os dados e informações sistematizadas neste trabalho evidenciam as novas tendências decorrentes do agronegócio de grãos e sua cadeia produtiva. Tais reflexões apontam para necessidade de novas pesquisas como o papel do pequeno produtor, os conflitos por terra e água entre fazendeiros e posseiros e os impactos socioespacais decorrentes destas novas dinâmicas no estado do Piauí.

BIBLIOGRÁFIA

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Referências

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