Registro: 2018.0000490829
ACÓRDÃO
Vistos,
relatados
e
discutidos
estes
autos
de
Apelação
nº
0134222-13.2011.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante GOOGLE
BRASIL INTERNET LTDA, é apelado CLARISSE NASCIMENTO CHAVES
KNEBLEWSKI.
ACORDAM, em 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São
Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PAULO
ALCIDES (Presidente sem voto), JOSÉ ROBERTO FURQUIM CABELLA E ANA
MARIA BALDY.
São Paulo, 28 de junho de 2018.
Eduardo Sá Pinto Sandeville
RELATOR
VOTO Nº: 26.511
APEL.Nº: 0134222-13.2011.8.26.0100
COMARCA: SÃO PAULO FORO CENTRAL CÍVEL 9ª VARA CÍVEL
JUIZ : RODRIGO GALVÃO MEDINA
APTE. : GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA.
APDO. : CLARISSE NASCIMENTO CHAVES KNEBLEWSKI
Responsabilidade civil Perfil falso em rede social Não comprovada a manutenção da página na rede social depois de notificado o provedor Provedor de hospedagem que não pode ser obrigado a realização de censura prévia das publicações Inexistência de ato ilícito Ação improcedente Recurso provido.
Ação cominatória c.c. indenização por danos materiais e morais julgada procedente pela r. sentença de fls. 641/650, de relatório adotado, para confirmar a liminar que determinou a retirada do perfil objeto da demanda e para condenar a ré a pagar R$ 25.000,00 a título de indenização por danos morais, com correção monetária do arbitramento e juros de mora do evento danoso.
Recorre a vencida, forte na alegação de que o perfil objeto da lide foi devidamente excluído quando da notificação extrajudicial enviada pela apelada.
Argumenta ainda que é necessária a indicação da URL para o cumprimento da obrigação de retirada de página da internet, como determinou o C. STJ em recurso nos presentes autos e que a rede social em discussão já não existe mais. Subsidiariamente, busca o afastamento da multa cominatória ou sua redução.
Ademais, sustenta a inexistência de qualquer ofensa à imagem da apelada por sua parte, a ausência de nexo causal e de responsabilidade do provedor pelo conteúdo inserido por usuários de seus serviços e, em caráter subsidiário, pugna pela redução do valor condenatório e pela aplicação de juros de mora desde seu arbitramento.
Recurso preparado (fls. 698/699) e respondido (fls. 726/743).
É o relatório.
Cuida-se de ação de indenização por meio da qual busca a autora a remoção de perfil falso em que figura sua fotografia e seu nome e associação com terceiro que não é seu cônjuge (fls. 24) e o pagamento de indenização por danos morais.
Aduz que notificou a requerida extrajudicialmente (fls. 25/28), porém nada foi feito, daí o ajuizamento da lide, julgada ao final procedente pela r. sentença.
Inconformada, recorre a ré. Com razão.
De fato, no agravo de instrumento de nº 2081486-85.2014.8.26.0000, referente aos presentes autos, esta 6ª Câmara apontou a desnecessidade da indicação de url específica para a remoção de conteúdo da rede mundial de computadores e considerou válido o pleito da autora.
Ocorre que, como noticiado pela apelante, foi interposto o recurso especial nº 1.595.389-SP, provido pelo E. Min. Relator Ricardo Villas Bôas Cueva para consignar que “a responsabilidade dos
provedores de hospedagem e de conteúdo depende da indicação, pelo autor, do respectivo URL (Universal Resource Locator) em que se encontra o material de cunho improprio”.
Nesse quadro, em que pese meu posicionamento pessoal, em atenção ao entendimento daquele Tribunal sob essa perspectiva analiso os fatos objeto da lide.
Com efeito, a única url constante dos autos é a
constante da petição inicial, qual seja:
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=11311655789268724112 .
Esse endereço eletrônico foi objeto da notificação extrajudicial de fls. 25/28, trazida pela apelante cópia de resposta às fls. 140/141.
As posteriores manifestações da apelada sobre o tema sustentam que persistia a existência do material ilícito, porém deixaram de mencionar qualquer url, informação que também não consta de nenhum dos documentos acostados.
Não comprovada, dessa forma, a existência de ato ilícito por parte da apelante a justificar sua condenação.
Isso porque, mesmo antes do advento do Marco Civil da Internet já se havia assentado majoritariamente na jurisprudência o entendimento de que não cabia aos provedores de hospedagem de redes sociais promover controle prévio dos conteúdos disponibilizados pelos usuários.
veiculação de conteúdos selecionados pelos próprios usuários, os provedores não respondiam, em princípio, pelos danos morais advindos da ofensividade das publicações.
O dever de indenizar, nessa situação, nasce quando o provedor, notificado a proceder a retirada do material evidentemente ilícito, queda-se inerte e não impede a permanência e propagação da informação ofensiva.
Neste sentido:
“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL - CRIAÇÃO DE PERFIL FALSO EM SÍTIO DE RELACIONAMENTO (ORKUT) - AUSÊNCIA DE RETIRADA IMEDIATA DO MATERIAL OFENSIVO - DESÍDIA DO RESPONSÁVEL PELA PÁGINA NA INTERNET - SÚMULA N. 7 DO STJ - DECISÃO
MONOCRÁTICA NEGANDO PROVIMENTO AO
RECURSO - INSURGÊNCIA DA RÉ.
1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que "o dano moral decorrente de mensagens com conteúdo ofensivo inseridas no site pelo usuário não constitui risco inerente à atividade dos provedores de conteúdo, de modo que não se lhes aplica a responsabilidade objetiva prevista no art. 927, parágrafo único, do CC/02"
(REsp 1308830/RS, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
08/05/2012, DJe 19/06/2012). Contudo, o
provedor de internet responderá solidariamente com o usuário autor do dano se não retirar imediatamente o material moralmente ofensivo inserido em sítio eletrônico.
2. Revela-se impossível o exame da tese fundada na inexistência de desídia da recorrente ao não retirar o perfil denunciado como falso e com conteúdo ofensivo, porque demandaria a reanálise de fatos e provas, providência vedada a esta Corte em sede de recurso especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
3. Agravo regimental desprovido” (AgRg no AREsp
308.163/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª Turma, j. em 14.05.2013)
Ressalta-se que a grande dificuldade a ser enfrentada, nestes casos, é a capacidade destes provedores em realizar o controle repressivo de conteúdos, ou seja, se seriam legítimos julgadores
da ilicitude e ofensividade de materiais disponibilizados por seus usuários. Sobre este tema, merece transcrição a lição do i. Des. Francisco Loureiro:
“Claro que se pode questionar como poderia a ré tomar a si o papel de fiscal da lei, retirando conteúdos que em tese podem expressar a liberdade de manifestação e pensamento de internautas. O exame há de ser feito levando em conta as circunstâncias do caso concreto, especialmente o grau de ilicitude da mensagem, se aferível prima facie, ou subordinada a prévia averiguação, o interesse público de sua permanência da rede e a gravidade da lesão que pode provocar a interesses alheios.
Nessa esteira se manifestou Marcel Leonardi: '...haverá
responsabilidade quando o provedor de conteúdo, notificado a bloquear o acesso ou remover a informação ilegal disponibilizada por terceiros em seu web site, não o faz, incorrendo, assim, em omissão voluntária. Nesse contexto, o provedor de conteúdo não será responsável por ato ilícito cometido por terceiro até que tenha conhecimento de sua existência. Apenas então é que deverá tomar as providências necessárias para impedir a continuidade da prática, sob pena de ser responsabilizado solidariamente com o autor da informação'” (Responsabilidade Civil dos provedores de Serviços de
Internet - ed. Juarez de Oliveira - p. 182)” (Apelação nº
0000031-23.2008.8.26.0169, j. em 29.04.2010)
Dessa forma, não se configura nos autos falha na prestação dos serviços da apelante, não demonstrada a manutenção de material abusivo na rede mundial de computadores depois de notificada extrajudicialmente a retirá-lo.
Inexistente ato ilícito, fica revogada a liminar concedida, prejudicada a discussão quanto às condenações relativas à multa e aos danos morais.
De rigor assim a reforma da r. sentença para julgar improcedente a lide. Invertida a sucumbência, a autora deve arcar com as custas, despesas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 15% do valor da causa, nos termos do art. 85, §§ 2º e 11, do CPC.
Diante do exposto, dou provimento ao recurso.