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O modelo LES e as ferramentas de geração de turbulência nas condições de contorno de entrada

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QU´IMICA E DE PETR ´

OLEO

BRUNA WENDHAUSEM ENNE

GABRIEL GUISCAFR´

E MACHADO

O MODELO LES E AS FERRAMENTAS DE

GERAC

¸ ˜

AO DE TURBULˆ

ENCIA NAS

CONDIC

¸ ˜

OES DE CONTORNO DE ENTRADA

Niter´

oi

1/2020

(2)

BRUNA WENDHAUSEM ENNE

GABRIEL GUISCAFR´

E MACHADO

O MODELO LES E AS FERRAMENTAS DE GERAC

¸ ˜

AO

DE TURBULˆ

ENCIA NAS CONDIC

¸ ˜

OES DE CONTORNO

DE ENTRADA

Projeto Final apresentado ao Curso de Gra-dua¸c˜ao em Engenharia Qu´ımica, oferecido pelo departamento de Engenharia Qu´ımica e de Petr´oleo da Escola de Engenharia da Universi-dade Federal Fluminense, como requisito par-cial para obten¸c˜ao do Grau de Bacharel em Engenharia Qu´ımica.

Orientador: Prof. Ph.D. Roger Matsumoto Moreira

Coorientador: M.Sc. Thiago Ferreira Bernardes Bento

Niter´

oi

1/2020

(3)

Ficha catalográfica automática - SDC/BEE Gerada com informações fornecidas pelo autor

Bibliotecário responsável: Sandra Lopes Coelho - CRB7/3389

M149m Machado, Gabriel Guiscafré

O Modelo LES e as Ferramentas de Geração de Turbulência nas Condições de Contorno de Entrada / Gabriel Guiscafré Machado, Bruna Wendhausem Enne ; Roger Matsumoto Moreira, orientador ; Thiago Ferreira Bernardes Bento, coorientador. Niterói, 2020.

63 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Química)-Universidade Federal Fluminense, Escola de Engenharia, Niterói, 2020.

1. Fluidodinâmica computacional. 2. Escoamento turbulento. 3. Produção intelectual. I. Enne, Bruna Wendhausem. II. Moreira, Roger Matsumoto, orientador. III. Bento, Thiago Ferreira Bernardes, coorientador. IV. Universidade Federal Fluminense. Escola de Engenharia. V. Título.

(4)
(5)

-Agradecimentos

Bruna e Gabriel

Agradecemos ao Prof. Roger Moreira e ao Me. Thiago Bento pela orienta¸c˜ao nesse trabalho e em muitos outros realizados no Laborat´orio de Fluidodinˆamica Computacional da Universidade Federal Fluminense;

aos professores Jo˜ao Felipe Mitre e Gabriel Nascimento, por aceitarem prontamente participar da banca examinadora;

`

a Universidade Federal Fluminense e a todos os professores com os quais tivemos a oportunidade de aprender ao longo dessa jornada;

`

a Petrobras, pelo incentivo financeiro e por colaborar para a escolha do tema;

ao Jos´e Mantovani, pelo aux´ılio e pelo esclarecimento de todas as nossas d´uvidas sobre a utiliza¸c˜ao do modelo LES;

a todos os amigos que fizemos nos ´ultimos cinco anos, em especial `a Gabriela, ao Fernando, ao Luiz Guilherme, `a Ana Carolina, `a ˆAngela, `a Tain´a, `a J´ulia, `a Bruna Pimentel, ao Pedro, `a Isabela e ao Matheus.

Bruna

Agrade¸co primeiramente aos meus pais, Ana Beatriz e Luiz Eduardo, aos meus irm˜aos, Daniel e Eduardo, e `a minha cunhada, Kathelen, que foram fundamentais para o desenvol-vimento desse trabalho em tempos de pandemia;

aos meus av´os, Terezinha, Maria L´ucia, Lena e Antˆonio Jos´e, cujos exemplos me inspiram diariamente;

ao meu namorado, Daniel Pimentel, obrigada pelo companheirismo e por todas as revis˜oes feitas a esse texto;

`

a minha tia Ana L´ucia, pela paciˆencia ao me explicar normas t´ecnicas pelo telefone; `

a ´Erica Nogueira, por todos os anos de conv´ıvio engajados na extens˜ao universit´aria, crucial para a minha forma¸c˜ao;

e a toda a minha fam´ılia e amigos, pelo apoio e pelos momentos compartilhados que me permitiram chegar at´e aqui.

Gabriel

Agrade¸co `a minha fam´ılia e aos meus amigos por sempre me apoiarem, em especial `a minha m˜ae, Maria Madalena, ao meu pai, Carlos Leandro e ao meu irm˜ao, Carlos Eduardo.

(6)

Resumo

O alto custo computacional do modelo Large Eddy Simulation (LES) torna, para muitas geometrias, invi´avel atingir a dimens˜ao ou a dura¸c˜ao necess´arias para um regime plenamente turbulento. ´E, portanto, crucial que a turbulˆencia seja imposta j´a na entrada do dom´ınio. A condi¸c˜ao de contorno do inlet deve ser fiel `a realidade, sem, no entanto, ser complexa demais para ser resolvida. Seus componentes precisam variar estocasticamente, inclusive nas escalas inferiores `a filtragem realizada pelo LES, sendo ainda compat´ıveis com as equa¸c˜oes de Navier-Stokes. S˜ao diversas as t´ecnicas dispon´ıveis para a gera¸c˜ao de tais condi¸c˜oes de contorno. Nos m´etodos de simula¸c˜ao precursora, os fenˆomenos de turbulˆencia s˜ao computados anteriormente ou paralelamente `a simula¸c˜ao principal e, em seguida, introduzidos ao dom´ınio na regi˜ao de entrada, podendo ainda serem redimensionados. Os m´etodos de s´ıntese, no entanto, n˜ao necessitam de simula¸c˜oes anexas, pois os fenˆomenos de turbulˆencia s˜ao gerados pelo pr´oprio inlet, como uma esp´ecie de flutua¸c˜ao aleat´oria combinada ao escoamento m´edio. O presente trabalho pretende realizar uma revis˜ao te´orica acerca dos m´etodos de gera¸c˜ao de turbulˆencia na entrada do dom´ınio dispon´ıveis no ANSYS Fluent para tubula¸c˜oes. Inicialmente, uma revis˜ao na literatura foi realizada com o objetivo de efetuar uma compila¸c˜ao te´orica para as t´ecnicas de turbulˆencia, adicional ao Guia Te´orico disponibilizado pela ANSYS. Em seguida, como complementa¸c˜ao, uma geometria simples de uma tubula¸c˜ao foi simulada utilizando o LES com trˆes componentes de entrada distintos: No Perturbations (sem perturba¸c˜oes), Spectral Synthesizer (baseado na T´ecnica de Fourier) e Vortex Method (baseado no M´etodo dos V´ortices). Por fim, diferentes respostas para os campos de velocidades foram obtidas para se¸c˜oes distintas da tubula¸c˜ao de acordo com as t´ecnicas de gera¸c˜ao de turbulˆencia empregadas nas condi¸c˜oes de contorno de entrada. O Vortex Method apresentou maior mudan¸ca nos perfis de velocidade com rela¸c˜ao a um ponto espec´ıfico ao longo da tubula¸c˜ao, al´em de uma curva de flutua¸c˜oes mais pr´oxima `a esperada para uma simula¸c˜ao com Direct Numerical Simulation (DNS) em compara¸c˜ao `as outras duas abordagens. Nessas, houve menor desenvolvimento da turbulˆencia no dom´ınio estudado, evidenciando um perfil de velocidade na regi˜ao de sa´ıda semelhante ao inserido na entrada.

Palavras-chave: Fluidodinˆamica Computacional; Large Eddy Simulation; Turbulˆencia; Condi¸c˜oes de Contorno de Entrada.

(7)

Abstract

Large Eddy Simulation model’s exacerbated computational cost turns it challenging for many geometries to reach the length or the duration needed for a fully turbulent flow. In those cases, turbulence needs to be inserted at the domain inflow. The inlet boundary condition must be as accurate as possible, without being too complex to be solved. Its components must be stochastically varying, including on scales down to the filter scale provided by LES, and also be compatible with the Navier–Stokes equations. There are plenty of available techniques that generate these boundary conditions. In the Precursor Simulation methods, the turbulent phenomena are computed previously or in parallel to the main simulation, scaled, and then introduced at the domain through the inlet. The Synthesised Turbulence methods, however, do not need any attached simulations, because the turbulent phenomena are generated by the inlet, as a kind of random fluctuation combined with the mean flow. This paper intends to analyze the inlet turbulence generation methods available at ANSYS Fluent for pipes. Firstly, by conducting a literature review, a theoretical compilation of the turbulence generation techniques available in Fluent was written. Secondly, to support the review, a simple pipe geometry was simulated using LES with three distinct inlet components: No Perturbations, Spectral Synthesizer (based on the Fourier Technique), and Vortex Method. Finally, different results for the velocity field were obtained for distinct pipe sections, according to the inlet turbulence generation techniques. The Vortex Method showed a greater change in the velocity profiles between points throughout the pipe and also a fluctuation curve more similar to the expected from a DNS simulation compared to the other two approaches. In those, there was a poorer turbulence development in the studied domain, revealing a velocity profile similar in both inlet and outlet planes.

Keywords: Computational Fluid Dynamics; Large Eddy Simulation; Turbulence; Inlet Con-ditions.

(8)

Lista de ilustra¸c˜

oes

Figura 1 – Decomposi¸c˜ao da velocidade em regime turbulento . . . 16

Figura 2 – Um estiramento na dire¸c˜ao z produz estiramentos menores nas dire¸c˜oes x e y, que produzem estiramentos ainda menores nas dire¸c˜oes vizinhas . . . 18

Figura 3 – Volume de controle para as Leis de Conserva¸c˜ao . . . 19

Figura 4 – Fluxo de massa atrav´es do volume de controle . . . 20

Figura 5 – Representa¸c˜ao das for¸cas aplicadas na dire¸c˜ao x para um volume de controle 22 Figura 6 – Espectro de energia em fun¸c˜ao do n´umero de onda . . . 27

Figura 7 – Esquema espacial da malha de corte, no qual ∆ ´e equivalente ao tamanho da malha computacional . . . 28

Figura 8 – Similaridade de Escala . . . 32

Figura 9 – Tens˜oes turbulentas na regi˜ao submalha e na regi˜ao de teste . . . 33

Figura 10 – Ap´os atingir um estado de turbulˆencia, um perfil de velocidade em um plano da simula¸c˜ao auxiliar ´e copiado e inserido na corrida principal . . . 39

Figura 11 – Modelos espectrais de energia . . . 42

Figura 12 – Esquema do M´etodo dos V´ortices . . . 46

Figura 13 – Velocidade instantˆanea na dire¸c˜ao do escoamento (a) com M´etodo dos V´ortices no inlet, (b) com M´etodo dos V´ortices no outlet e (c) com uma simula¸c˜ao precursora peri´odica . . . 49

Figura 14 – Perfil de velocidade m´edia . . . 50

Figura 15 – Perfil de velocidade RMSE . . . 51

Figura 16 – Disposi¸c˜ao da malha na face de entrada o dom´ınio . . . 52

Figura 17 – No Perturbations: perfil de velocidade instantˆanea no inlet (esquerda), na metade do comprimento do trecho reto (centro) e no outlet (direita) . . . 52

Figura 18 – No Perturbations: perfil de velocidade m´edia na dire¸c˜ao do escoamento . 53 Figura 19 – No Perturbations: perfil de velocidade RMSE . . . 54

Figura 20 – Vortex Method : perfil de velocidade instantˆanea no inlet (esquerda), na metade do comprimento do trecho reto (centro) e no outlet (direita) . . . 54

Figura 21 – Vortex Method : perfil de velocidade m´edia na dire¸c˜ao do escoamento . . 55

Figura 22 – Vortex Method : perfil de velocidade RMSE . . . 55

Figura 23 – Spectral Synthesizer : perfil de velocidade instantˆanea no inlet (esquerda), na metade do comprimento do trecho reto (centro) e no outlet (direita) . 56 Figura 24 – Spectral Synthesizer : perfil de velocidade m´edia na dire¸c˜ao do escoamento 57 Figura 25 – Spectral Synthesizer : perfil de velocidade RMSE . . . 57

(9)

Lista de abreviaturas e siglas

CFD Computational Fluid Dynamics

DNS Direct Numerical Simulation

DSRFG Discretizing and Synthesizing Random Flow Generation EDP Equa¸c˜ao Diferencial Parcial

LES Large Eddy Simulation

RANS Reynolds-averaged Navier-Stokes

RFG Random Flow Generation

RMSE Root-mean-square Error

(10)

Lista de s´ımbolos

Aij Tensor de transforma¸c˜ao ortogonal Cd Constante de Smagorinsky dinˆamica

Cs Constante de Smagorinsky

Cw Constante do Modelo WALE

Cε, Ck Constantes do Modelo Dinˆamico de Energia Cin´etica e Taxa de dissipa¸c˜ao no filtro de teste

E N´umero de elementos na face de entrada

E(k) Espectro de energia

fi Contribui¸c˜oes das for¸cas de campo

k Energia Cin´etica Turbulenta (por unidade de massa) kc N´umero de onda de corte

kSGS Energia cin´etica turbulenta de submalha kteste Energia cin´etica de teste

kn

j Vetores de n´umero de onda

L Comprimento caracter´ıstico do escoamento

Lm Escala de comprimento

Ls Comprimento de mistura para escalas de submalha Lij Tens˜oes turbulentas das escalas resolvidas

N N´umero de v´ortices na face de entrada p Press˜ao instantˆanea

P Press˜ao m´edia

(11)

p0 Flutua¸c˜ao de press˜ao

Re N´umero de Reynolds

Recrit Reynolds cr´ıtico

Rij Tensor anisotr´opico de turbulˆencia

sij Componentes da taxa de deforma¸c˜ao linear no volume de controle Sij Taxa de deforma¸c˜ao

Tij Tens˜oes para a ´area de teste

ui Componente da velocidade na dire¸c˜ao i = {x, y, z}

u, v, w Componentes de velocidade instantˆanea nas dire¸c˜oes x, y e z U, V, W Componentes da velocidade m´edia nas dire¸c˜oes x, y e z

ui Componente da velocidade m´edia ou da velocidade filtrada na dire¸c˜ao i = {x, y, z}

u, v, w Componentes da velocidade m´edia ou da velocidade filtrada nas dire¸c˜oes x, y e z

u0, v0, w0 Componentes da flutua¸c˜ao de velocidade nas dire¸c˜oes x, y e z U + Velocidade m´edia adimensional

u0+ Flutua¸c˜ao de velocidade adimensional y+ Distˆancia adimensional da parede

Γi Circula¸c˜ao (referente a uma part´ıcula)

∆, ∆ Tamanho da submalha

e

∆ Tamanho do filtro de teste

δij Delta de Kronecker

ε Taxa de dissipa¸c˜ao da energia cin´etica turbulenta

(12)

εijm S´ımbolo de Levi-Civita

η Fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao espacial

κ Constante de von K´arm´an

λ Fator de deforma¸c˜ao volum´etrica λ(n) Fator de redimensionamento

µ Viscosidade dinˆamica

µSGS Viscosidade turbulenta de submalha

ν Viscosidade cinem´atica

νt Viscosidade cinem´atica turbulenta

ρ Massa espec´ıfica

τii Tens˜oes normais

τij Tens˜oes de cisalhamento τSGS

ij Tens˜oes de Reynolds da submalha

τ Tamanho da escala de tempo

φ Potencial de velocidade

ψ Vetor potencial

ψ Fun¸c˜ao de corrente

Ωij Tensor taxa de rota¸c˜ao

ω Vorticidade

(13)

Sum´

ario

1 INTRODUC¸ ˜AO . . . 13 1.1 Motiva¸c˜ao . . . 14 1.2 Objetivo . . . 15 2 O REGIME TURBULENTO . . . 16 2.1 Principais Caracter´ısticas . . . 16

2.2 Equa¸c˜oes Governantes . . . 19

2.2.1 Volume de Controle . . . 19

2.2.2 Conserva¸c˜ao de Massa . . . 20

2.2.3 Conserva¸c˜ao de Quantidade de Movimento . . . 21

2.2.4 Equa¸c˜oes de Navier-Stokes . . . 22

2.2.5 O Problema de Fechamento . . . 23

2.2.6 Modelos de Turbulˆencia . . . 24

3 LARGE EDDY SIMULATION . . . 27

3.1 Escalas de Submalha . . . 28

3.2 Modelos de Submalha no Fluent . . . 30

3.2.1 Modelo Smagorinsky-Lilly . . . 30

3.2.2 Modelo Smagorinsky-Lilly Dinˆamico . . . 32

3.2.3 Modelo WALE . . . 34

3.2.4 Modelo Dinˆamico de Energia Cin´etica . . . 35

4 M´ETODOS DE GERAC¸ ˜AO DE TURBULˆENCIA NAS CONDIC¸ ˜OES DE CONTORNO DE ENTRADA . . . 37

4.1 M´etodo de Simula¸c˜ao Precursora . . . 37

4.2 M´etodo de S´ıntese . . . 40

4.2.1 T´ecnica de Fourier . . . 40

4.2.2 M´etodo dos V´ortices . . . 43

5 RESULTADOS E DISCUSS ˜OES . . . 48

6 CONCLUS ˜AO . . . 58

(14)

13

1 Introdu¸c˜

ao

A existˆencia do regime de escoamento turbulento foi inicialmente notada no s´eculo XIX. Naquela ´epoca, mesmo com a predominˆancia existente do escoamento turbulento em rela¸c˜ao ao laminar, os fenˆomenos produzidos pela turbulˆencia, os eddies1, n˜ao eram detecta-dos, devido `a ineficiˆencia dos instrumentos de observa¸c˜ao e medi¸c˜ao.

Apenas em 1930, os instrumentos foram capazes de perceber as flutua¸c˜oes existentes nesse regime (WHITE, 2011).

Devido `a complexidade matem´atica do escoamento turbulento, somente na segunda metade do s´eculo XX, com o advento dos computadores, foi poss´ıvel resolver as equa¸c˜oes diferenciais por meio de aproxima¸c˜oes num´ericas (CHUNG, 2002), para as quais foram de-senvolvidos diversos m´etodos.

A abordagem mais precisa, denominada Direct Numerical Simulation (DNS), ´e capaz de resolver equa¸c˜oes de Navier-Stokes transientes sem aproxima¸c˜oes al´em de discretiza¸c˜oes num´ericas. Logo, os casos resolvidos com DNS possuem erros poss´ıveis de serem estimados e controlados.

Nessas simula¸c˜oes, todo o escoamento turbulento e todas as suas flutua¸c˜oes de velo-cidade s˜ao computados. Para tal, ´e necess´ario assegurar que a escala do dom´ınio f´ısico seja suficientemente refinada para conter as estruturas de turbulˆencias e a dissipa¸c˜ao de energia cin´etica turbulenta, al´em de um intervalo de tempo suficientemente pequeno para abranger as flutua¸c˜oes mais r´apidas (VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007).

No entanto, esse m´etodo apresenta um alto custo em termos de recursos computacio-nais, tornando-se inadequado para simula¸c˜oes industriais.

Nesses casos, ´e frequentemente utilizada a abordagem Reynolds-averaged Navier-Stokes (RANS), na qual as equa¸c˜oes s˜ao exclusivamente focadas no escoamento em quest˜ao e nos efeitos da turbulˆencia nas propriedades desses escoamentos. Assim, a simula¸c˜ao torna-se menos custosa, devido `a modelagem dos fenˆomenos de turbulˆencia.

Entretanto, as equa¸c˜oes das m´edias das flutua¸c˜oes de velocidade geram novas vari´aveis desconhecidas, que precisam ser determinadas por modelos de turbulˆencia para resolver o Problema de Fechamento. Dentre eles, destaca-se o modelo de duas equa¸c˜oes k − ε, que vem sendo usado mais frequentemente para escoamentos incompress´ıveis e isotr´opicos, mas apresenta dificuldade em capturar fenˆomenos de turbulˆencia mais complexos (CHUNG, 2002).

1 Adotamos o termo “eddy”, plural “eddies”, para expressar as estruturas t´ıpicas criadas pelo escoamento

em regime turbulento. Tal recurso foi utilizado pela dificuldade de se encontrar tradu¸c˜oes na literatura que fossem capazes de expressar o significado pertinente para esse trabalho.

(15)

Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao 14

Por ´ultimo, o Large Eddy Simulation (LES) se mostra como uma abordagem inter-medi´aria entre as anteriores. Esse m´etodo realiza uma filtragem nas equa¸c˜oes transientes de Navier-Stokes, resolvendo os fenˆomenos de turbulˆencia superiores `a dimens˜ao do filtro e rejeitando os inferiores, que ser˜ao modelados. Logo, devido `as flutua¸c˜oes caracter´ısticas do regime turbulento, espera-se que o LES seja mais adequado do que o RANS para descrever es-coamentos em que as estruturas turbulentas transientes de grande escala sejam significativas (POPE, 2000).

Em casos nos quais deseja-se avaliar a intera¸c˜ao fluido-estrutura, por exemplo, as flutua¸c˜oes de press˜ao s˜ao determinantes, pois se apresentam como uma das principais fontes de excita¸c˜ao da estrutura (BENTO, 2019). Logo, uma simula¸c˜ao num´erica com RANS para essas condi¸c˜oes seria deficit´aria, devido `a utiliza¸c˜ao do valor m´edio das flutua¸c˜oes. Assim, nesses casos, recomenda-se a resolu¸c˜ao via Large Eddy Simulation.

As condi¸c˜oes de contorno, que nas equa¸c˜oes RANS eram em sua maioria constantes, no modelo LES, passam a possuir componentes vari´aveis no tempo. Esses componentes, denominados estoc´asticos por possu´ırem um padr˜ao indeterminado, afetam todas escalas de tempo e de comprimento do escoamento. Faz-se necess´ario recorrer a m´etodos de gera¸c˜ao de flutua¸c˜oes estoc´asticas no inlet, ou seja, na regi˜ao de entrada de fluido, para que a simula¸c˜ao seja pr´oxima da realidade. As flutua¸c˜oes devem se assemelhar `as geradas pelo escoamento turbulento, sem, todavia, serem complexas demais para serem resolvidas.

1.1

Motiva¸c˜

ao

Conforme visto anteriormente, uma caracter´ıstica determinante para a qualidade do escoamento com a ferramenta LES ´e a abordagem utilizada para tratar as condi¸c˜oes de entrada do fluido. Devido ao seu custo computacional elevado, ´e, muitas vezes, invi´avel realizar uma simula¸c˜ao com dura¸c˜ao ou dimens˜oes necess´arias para que se atinja um perfil plenamente turbulento.

Para alcan¸car a simplifica¸c˜ao necess´aria, torna-se crucial o uso de m´etodos de gera¸c˜ao de inlets turbulentos, pois o comportamento turbulento do escoamento ´e fortemente influ-enciado por tais condi¸c˜oes de contorno (CASTRO; PAZ; SONZOGNI, 2011). Devido `a sua importˆancia, estudos mais aprofundados vˆem sendo desenvolvidos para aprimoramento dessas ferramentas, que podem ser divididas em duas categorias: m´etodos de simula¸c˜ao precursora e m´etodos de s´ıntese (TABOR; BABA-AHMADI, 2010). Ambas as metodologias possuem vantagens e desvantagens e podem ser aplicadas de diferentes formas, em diferentes casos.

O primeiro m´etodo prop˜oe que sejam realizadas simula¸c˜oes pr´evias ou concomitantes. O perfil de entrada do escoamento pode ser obtido atrav´es de um processo c´ıclico com um pequeno trecho do dom´ınio, no qual os dados ser˜ao obtidos com base em um perfil retirado

(16)

Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao 15

de um ponto mais a jusante do fluxo, ou at´e de outra simula¸c˜ao s´ıncrona utilizando uma geometria mais simplificada. Pode-se tamb´em estimar o inlet por meio de bibliotecas de dados j´a existentes.

O m´etodo de s´ıntese, no entanto, envolve a gera¸c˜ao de um campo de flutua¸c˜oes de velocidade pseudo-aleat´orio. Tais estruturas podem ser sobrepostas ao escoamento m´edio entrando no dom´ınio. Dentre os diversos m´etodos dessa categoria, a T´ecnica de Fourier e o M´etodo dos V´ortices recebem destaque pela disponibilidade no software ANSYS Fluent, ferramenta em foco no presente trabalho.

O Theory Guide do software ANSYS Fluent, que prevˆe o embasamento te´orico por tr´as do programa (ANSYS, 2015), fornece apenas um pequeno desenvolvimento matem´atico para o Vortex Method (baseado no M´etodo dos V´ortices), al´em de abordar brevemente o Spectral Synthesizer (m´etodo proveniente da T´ecnica de Fourier).2

1.2

Objetivo

O presente trabalho se prop˜oe a compilar as bases te´oricas dos m´etodos de gera¸c˜ao de turbulˆencia nas condi¸c˜oes de contorno de entrada dispon´ıveis no software ANSYS Fluent.

Em seguida, como complementa¸c˜ao, pretende-se analisar e comparar a utiliza¸c˜ao des-ses m´etodos em uma simula¸c˜ao realizada com um trecho reto de uma tubula¸c˜ao e em dados obtidos na literatura.

2 Optamos por manter os termos no idioma original, quando referentes `as op¸oes de condi¸ao de contorno

de entrada encontradas no software ANSYS Fluent. Entre parˆenteses, est˜ao em Portuguˆes as t´ecnicas utilizadas como base para o desenvolvimento dessas mesmas op¸c˜oes.

(17)

16

2 O Regime Turbulento

2.1

Principais Caracter´ısticas

A maioria dos escoamentos com significˆancia para a engenharia s˜ao turbulentos. Com vasta aplicabilidade, ´e crescente o interesse dos pesquisadores sobre os fenˆomenos de tur-bulˆencia, al´em da busca por ferramentas que tornem vi´avel a representa¸c˜ao desse regime.

Devido `a dificuldade de se determinar uma defini¸c˜ao para o escoamento turbulento, existe a possibilidade de se enumerar algumas de suas caracter´ısticas, que, segundo Tennekes e Lumley (1972) e Davidson (2015), s˜ao:

• Todos os escoamentos turbulentos s˜ao transientes e irregulares. Suas propriedades, quando em fun¸c˜ao do tempo, apresentam flutua¸c˜oes, comportamento aparentemente aleat´orio. Tal caracter´ıstica torna sua solu¸c˜ao dependente de m´etodos estat´ısticos.

Figura 1 – Decomposi¸c˜ao da velocidade em regime turbulento

Fonte: Versteeg e Malalasekera (2007, p. 41)

A velocidade exemplificada na Figura 1 ´e decomposta em uma velocidade m´edia es-tacion´aria, U ou u, e em um componente de flutua¸c˜ao, u0(t). Esse procedimento ma-tem´atico, denominado Decomposi¸c˜ao de Reynolds, caracteriza as propriedades do es-coamento em fun¸c˜ao de suas vari´aveis m´edias (como U , V , W , P etc.) e de fun¸c˜oes estat´ısticas de suas flutua¸c˜oes (como u0, v0, w0, p0 etc.).

(18)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 17

As Decomposi¸c˜oes de Reynolds referentes `as propriedades de velocidade e press˜ao, respectivamente, podem ser escritas da seguinte forma:

u(t) = U + u0(t) (2.1)

p(t) = P + p0(t) (2.2)

• Em escoamentos turbulentos, h´a um aumento da difusividade, sendo essa a principal causa do aumento da transferˆencia de momentum, calor e massa, atrav´es da mistura de fluido. Essa movimenta¸c˜ao ´e respons´avel pela gera¸c˜ao de fenˆomenos turbulentos, denominados eddies. Tais estruturas, influenciadas pela caracter´ıstica aleat´oria do es-coamento, acabam adotando propriedades distintas entre si, o que dificulta considera-velmente seu estudo.

• O n´umero de Reynolds ´e um parˆametro adimensional decisivo para a determina¸c˜ao do regime no qual se encontrar´a o escoamento de um fluido, podendo ser obtido pela raz˜ao entre as for¸cas inerciais e as for¸cas viscosas. De uma forma geral, ´e escrito pela equa¸c˜ao:

Re = ρU L

µ (2.3)

onde ρ ´e a massa espec´ıfica do fluido, µ ´e a viscosidade dinˆamica, U ´e a velocidade m´edia do escoamento e L ´e o comprimento caracter´ıstico do escoamento.

Conforme aumenta-se o n´umero de Reynolds, o regime laminar torna-se mais inst´avel, devido `a intera¸c˜ao das for¸cas viscosas e as for¸cas de in´ercia. Em seguida, tem-se um regime de transi¸c˜ao, que passa a ser mais turbulento na medida em que cresce o n´umero adimensional. Por fim, um escoamento turbulento pode ser caracterizado por altos n´umeros de Reynolds.

O valor cr´ıtico, Recrit, ´e um parˆametro apropriado para determinar o regime do escoa-mento, dependendo diretamente da caracter´ıstica do mesmo no caso em quest˜ao. Para tubula¸c˜oes com escoamento interno plenamente desenvolvido, por exemplo, o valor de Recritaproxima-se de 2300, enquanto que, para a camada limite, Recrit ' 5·105. Assim, valores de Reynolds superiores aos valores cr´ıticos atestam o regime turbulento. • O escoamento turbulento ´e sempre rotacional e tridimensional. Mesmo em casos em

que as velocidades e as press˜oes variem em uma ou duas dimens˜oes, as flutua¸c˜oes de tur-bulˆencia tamb´em tˆem caracter´ıstica espacial tridimensional. Os eddies s˜ao estruturas

(19)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 18

tridimensionais que retiram energia do escoamento principal e a transferem para estru-turas de escalas menores atrav´es de um mecanismo denominado estiramento (SOUZA et al., 2011). Devido a um aumento da velocidade de rota¸c˜ao, ocorre um estiramento da estrutura em uma dire¸c˜ao, causando uma redu¸c˜ao da escala de comprimento nas dire¸c˜oes adjacentes, conforme indica a Figura 2. Assim, as dire¸c˜oes secund´arias se tornar˜ao nova fonte de propaga¸c˜ao do estiramento e assim por diante.

Figura 2 – Um estiramento na dire¸c˜ao z produz estiramentos menores nas dire¸c˜oes x e y, que produzem estiramentos ainda menores nas dire¸c˜oes vizinhas

Fonte: Souza et al. (2011, p. 24)

• Devido aos efeitos viscosos, a redu¸c˜ao dos gradientes de velocidade acarreta tamb´em em uma diminui¸c˜ao da energia cin´etica turbulenta. Assim, o escoamento turbulento ´

e dissipativo e a energia cin´etica turbulenta dos menores eddies ´e transformada em energia t´ermica.

Esses menores eddies recebem a energia cin´etica de turbulˆencia dos eddies maiores, que a recebem de outros ainda maiores, e assim por diante, atrav´es de mecanismos de transferˆencia de energia como o estiramento, evidenciado no item anterior. A rela¸c˜ao energ´etica entre as escalas maiores e menores, assim como sua transmiss˜ao, ´e denomi-nada Cascata de Energia de Kolmogorov.

Estatisticamente, os eddies mais energ´eticos s˜ao os que mais contribuem para o trans-porte turbulento, sendo, portanto, os mais relevantes para a qualidade das simula¸c˜oes num´ericas.

• O escoamento turbulento pode ser considerado um meio cont´ınuo, pois mesmo as me-nores escalas turbulentas s˜ao maiores do que a escala molecular. Logo, as leis que governam a mecˆanica dos fluidos podem ser aplicadas para esse regime.

(20)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 19

2.2

Equa¸c˜

oes Governantes

As equa¸c˜oes governantes do escoamento do fluido s˜ao representadas pelas leis de con-serva¸c˜ao da F´ısica. Sendo assim, assume-se que a massa, a energia e o momentum s˜ao conservados (VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007).

Tais equa¸c˜oes podem ser classificadas como EDPs (Equa¸c˜oes Diferenciais Parciais) e s˜ao, em sua maioria, de segunda ordem.

2.2.1

Volume de Controle

O fluido, conforme visto anteriormente, pode ser considerado um meio cont´ınuo, in-clusive em regime turbulento. Logo, o comportamento das propriedades do escoamento pode ser determinado em termos de propriedades macrosc´opicas, como velocidade, press˜ao ou massa espec´ıfica. ´E poss´ıvel dividir o fluido em elementos, os quais devem possuir a me-nor dimens˜ao suficiente para que tais propriedades macrosc´opicas sejam independentes das influˆencias exercidas pelas mol´eculas individuais.

Figura 3 – Volume de controle para as Leis de Conserva¸c˜ao

Fonte: Versteeg e Malalasekera (2007, p. 10)

O menor elemento de fluido considerado, conforme indicado na Figura 3, possui a forma de um cubo infinitesimal de lados δx, δy e δz. No centro do volume de controle, na posi¸c˜ao (x, y, z), a massa espec´ıfica ´e determinada por ρ e a velocidade, por u = uˆi+ vˆj + wˆk. Devido ao tamanho do elemento, as propriedades do fluido podem ser expressas com precis˜ao

(21)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 20

Figura 4 – Fluxo de massa atrav´es do volume de controle

Fonte: Versteeg e Malalasekera (2007, p. 11)

por meio dos dois primeiros termos de uma s´erie de Taylor. Assim, sabendo a distˆancia das faces W e E ao centro como 12δx, por exemplo, pode-se expressar a press˜ao nessas faces como

p ± δp δx

1

2δx (2.4)

2.2.2

Conserva¸c˜

ao de Massa

Da mesma forma, a Lei de Conserva¸c˜ao de Massa estabelece que a taxa do fluxo de massa atrav´es da superf´ıcie de controle somada `a taxa de varia¸c˜ao de massa dentro do volume de controle deve ser nula, conforme observado na Figura 4.

Portanto, conclui-se que ∂ρu ∂x + ∂ρv ∂y + ∂ρw ∂z + ∂ρ ∂t = 0 (2.5) Em nota¸c˜ao vetorial, ∂ρ ∂t + ∇ · (ρu) = 0 (2.6)

(22)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 21

A Equa¸c˜ao 2.6 representa a Equa¸c˜ao de Conserva¸c˜ao de Massa, ou Equa¸c˜ao da Con-tinuidade, para um fluido compress´ıvel, transiente e tridimensional. Para um fluido incom-press´ıvel, ou seja, com massa espec´ıfica constante, assume-se:

∇ · u = 0 (2.7)

Sabe-se que nenhum fluido ´e verdadeiramente incompress´ıvel. No entanto, supor massa espec´ıfica, ρ, constante, independentemente do tempo ou do espa¸co, ´e uma simpli-fica¸c˜ao consider´avel para aplica¸c˜oes em engenharia e resulta em um erro desprez´ıvel para a maioria dos casos (BIRD; STEWART; LIGHTFOOT, 2002).

2.2.3

Conserva¸c˜

ao de Quantidade de Movimento

Aplicando-se a segunda Lei de Newton em um elemento de fluido infinitesimal, obt´ em-se a Equa¸c˜ao da Conserva¸c˜ao da Quantidade de Movimento em sua forma diferencial, que ´e a igualdade entre a taxa de gera¸c˜ao de momentum e a soma das for¸cas na part´ıcula do fluido. Logo, somando-se as for¸cas de contato normais (de press˜ao, p) e tangenciais (tens˜oes de cisalhamento, τij) `as quais o fluido est´a sujeito, explicitadas na Figura 5 para a dire¸c˜ao x, tem-se a seguinte Equa¸c˜ao de Conserva¸c˜ao de Quantidade de Movimento:

ρDu Dt = ∂(−p + τxx) ∂x + ∂τyx ∂y + ∂τzx ∂z + fx (2.8)

Tal desenvolvimento pode ser facilmente expandido para as dire¸c˜oes y e z. Nesse caso, seus componentes podem ser escritos da seguinte forma:

ρDv Dt = ∂τxy ∂x + ∂(−p + τyy) ∂y + ∂τzy ∂z + fy (2.9) ρDw Dt = ∂τxz ∂x + ∂τyz ∂y + ∂(−p + τzz) ∂z + fz (2.10)

onde fx, fy e fz s˜ao contribui¸c˜oes das for¸cas de campo.1 Essas for¸cas s˜ao geradas por campos externos, como o campo gravitacional ou o campo magn´etico, e s˜ao aplicadas em toda a extens˜ao do elemento, n˜ao apenas em suas faces.2

1 Do inglˆes body forces, regularmente traduzido para for¸cas de campo. Ver Bird, Stewart e Lightfoot (2002),

p. 111.

2 Para casos em que o escoamento seja dado como incompress´ıvel, n˜ao h´a dependˆencia entre as equa¸oes

de conserva¸c˜ao de energia, massa e momentum. Pode-se, portanto, resolver o sistema, utilizando apenas as equa¸c˜oes de conserva¸c˜ao de massa e momentum. Para os fins desse trabalho, optamos por suprimir dedu¸c˜oes relacionadas `a Equa¸c˜ao de Conserva¸c˜ao de Energia, devido `a escolha de abordar exclusivamente casos incompress´ıveis. Ver Versteeg e Malalasekera (2007), p. 21.

(23)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 22

Figura 5 – Representa¸c˜ao das for¸cas aplicadas na dire¸c˜ao x para um volume de controle

Fonte: Versteeg e Malalasekera (2007, p. 14)

2.2.4

Equa¸c˜

oes de Navier-Stokes

Em escoamentos tridimensionais com fluidos newtonianos, podemos definir a tens˜ao viscosa τij como uma rela¸c˜ao proporcional entre a taxa de deforma¸c˜ao linear e a taxa de deforma¸c˜ao volum´etrica.

Assumindo o escoamento isotr´opico, tˆem-se nove componentes de taxa de deforma¸c˜ao linear no volume de controle, trˆes normais e seis cisalhantes, denotados por sij.

sxx = ∂u ∂x syy = ∂v ∂y szz = ∂w ∂z (2.11) sxy = syx = 1 2  ∂u ∂y + ∂v ∂x  sxz = szx= 1 2  ∂u ∂z + ∂w ∂x  syz = szy = 1 2  ∂v ∂z + ∂w ∂y  (2.12) Para a taxa de deforma¸c˜ao volum´etrica, tem-se:

∂u ∂x + ∂v ∂y + ∂w ∂z = ∇ · u (2.13)

Assim, escrevendo a rela¸c˜ao utilizando as Equa¸c˜oes 2.12 e 2.13, ´e poss´ıvel determinar os nove componentes da tens˜ao viscosa, descritos nas Equa¸c˜oes 2.14 e 2.15, conforme proposto por Boussinesq. Para tal, duas constantes de proporcionalidade foram utilizadas. A primeira,

(24)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 23

µ, referente `a tens˜ao viscosa devido `as deforma¸c˜oes lineares e a segunda, λ, `a deforma¸c˜ao volum´etrica. τxx = 2µ ∂u ∂x + λ∇ · u τyy = 2µ ∂v ∂y + λ∇ · u τzz = 2µ ∂w ∂z + λ∇ · u (2.14) τxy = τyx = µ  ∂u ∂y + ∂v ∂x  τxz = τzx= µ  ∂u ∂z + ∂w ∂x  τyz= τzy = µ  ∂v ∂z + ∂w ∂y  (2.15) A substitui¸c˜ao das tens˜oes (Equa¸c˜oes 2.14 e 2.15) na Equa¸c˜ao de Conserva¸c˜ao do Momentum em seu componente x (Equa¸c˜ao 2.8) resulta em:

ρDu Dt = − ∂p ∂x+ ∂ ∂x  2µ∂u ∂x + λ∇ · u  + ∂ ∂y  µ ∂u ∂y + ∂v ∂x  + ∂ ∂z  µ ∂u ∂z + ∂w ∂x  +fx (2.16) A hip´otese de Stokes discute a influˆencia do fator λ. Segundo Stokes, esse termo pode ser relacionado ao termo viscoso µ pela seguinte equa¸c˜ao:

λ = −2

3µ (2.17)

Assim, o n´umero de propriedades f´ısicas necess´arias para se caracterizar as tens˜oes reduz de duas para uma, tanto para fluidos compress´ıveis quanto para incompress´ıveis. Re-arranjando os termos de tens˜ao viscosa e expandindo a equa¸c˜ao para os componentes nas trˆes dire¸c˜oes, tˆem-se as Equa¸c˜oes de Navier-Stokes.

ρDu Dt = − ∂p ∂x + ∇ · (µ∇u) + fx (2.18a) ρDv Dt = − ∂p ∂y + ∇ · (µ∇v) + fy (2.18b) ρDw Dt = − ∂p ∂z + ∇ · (µ∇w) + fz (2.18c)

2.2.5

O Problema de Fechamento

As Equa¸c˜oes de Navier-Stokes 2.18a, 2.18b e 2.18c, juntamente com a Equa¸c˜ao da Continuidade 2.6, formam um problema fechado de quatro equa¸c˜oes com quatro vari´aveis (u, v, w e p).

Todavia, para casos em que o regime ´e turbulento, devido `a Decomposi¸c˜ao de Reynolds e `a adi¸c˜ao de novos termos ao sistema, tem-se o Problema de Fechamento. Isso ´e, o problema assume mais vari´aveis do que equa¸c˜oes, tornando necess´aria uma abordagem num´erica atrav´es do desenvolvimento de modelos de turbulˆencia.

(25)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 24

2.2.6

Modelos de Turbulˆ

encia

As solu¸c˜oes num´ericas dos problemas turbulentos podem ser obtidas atrav´es de diver-sas aproxima¸c˜oes de acordo com o modelo escolhido.

Para casos em que n˜ao s˜ao necess´arios os detalhes das flutua¸c˜oes turbulentas, utiliza-se o modelo Reynolds-averaged Navier-Stokes (RANS), que utiliza-se bautiliza-seia em informa¸c˜oes m´edias no tempo para as propriedades do escoamento. Conforme visto anteriormente nas Equa¸c˜oes 2.1 e 2.2, os parˆametros do escoamento turbulento s˜ao tidos como uma sobreposi¸c˜ao de seu valor m´edio e do componente de flutua¸c˜ao.

Assim, pode-se definir matematicamente o valor m´edio de uma propriedade no tempo, f , como: f = 1 T Z T +to to f dt (2.19)

onde T ´e um per´ıodo m´edio suficientemente mais longo do que os per´ıodos das flu-tua¸c˜oes.

Retomando a Equa¸c˜ao 2.1 da Decomposi¸c˜ao de Reynolds e substituindo-a na Equa¸c˜ao 2.19, tem-se o valor m´edio das flutua¸c˜oes e seu quadrado como:

f0 = 1 T Z T +to to (f − f ) dt = f − f = 0 (2.20) (f0)2 = 1 T Z T +to to (f0)2dt > 0 (2.21)

Substituindo os resultados obtidos nas Equa¸c˜oes 2.19, 2.20 e 2.21, introduz-se novos termos m´edios `a Equa¸c˜ao de Navier-Stokes (2.18a, 2.18b e 2.18c) e `a Equa¸c˜ao da Continuidade (2.6) para fluidos incompress´ıveis.

ρ ∂u ∂t + ∇ · u u  = −∂p ∂x + ∇ · (µ∇u − ρu 0u0) + f x (2.22a) ρ ∂v ∂t + ∇ · v u  = −∂p ∂y + ∇ · (µ∇v − ρv 0u0) + f y (2.22b) ρ ∂w ∂t + ∇ · w u  = −∂p ∂z + ∇ · (µ∇w − ρw 0u0) + f z (2.22c) ∇ · u = 0 (2.23)

Os termos −ρu0u0, −ρv0u0 e −ρw0u0 comp˜oem o tensor de Reynolds e abrigam as flutua¸c˜oes turbulentas do escoamento. Esses termos precisam ser modelados para a resolu¸c˜ao do Problema de Fechamento.

(26)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 25

Da mesma forma, a energia cin´etica turbulenta por unidade de massa pode ser dada por:

k = 1 2



u0 2+ v0 2+ w0 2 (2.24)

Os principais modelos de turbulˆencia RANS s˜ao classificados de acordo com a quan-tidade de equa¸c˜oes de transporte adicionadas para prever os termos restantes para o fecha-mento.

Os modelos de comprimento de mistura tentam descrever as tens˜oes com f´ormulas alg´ebricas simples para a viscosidade turbulenta como fun¸c˜ao do espa¸co. O modelo de Prandtl relaciona o tensor de Reynolds com uma escala de velocidade e uma de comprimento, Lm, tal que: τxy = τyx = ρL2m ∂u ∂y 2 (2.25) Por outro lado, o modelo k−ε ´e uma escolha adequada para simula¸c˜oes incompress´ıveis e isotr´opicas. Esse modelo adiciona duas novas equa¸c˜oes governantes: a equa¸c˜ao de transporte de energia cin´etica turbulenta (k) e de dissipa¸c˜ao de energia cin´etica turbulenta (ε).

O RANS, no entanto, n˜ao consegue abranger toda a gama de escalas de turbulˆencia presentes no escoamento, devido `a sua abordagem m´edia, adotando um ´unico modelo de turbulˆencia para todas as escalas.

Enquanto os menores eddies s˜ao mais isotr´opicos e menos dependentes de interferˆencias do escoamento, os grandes eddies, respons´aveis pelo transporte de momentum, massa e ener-gia, s˜ao mais anisotr´opicos e fortemente afetados pelas condi¸c˜oes de contorno, pela geometria e pelas for¸cas de campo atuantes no escoamento (VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007). Assim, torna-se imposs´ıvel modelar com assertividade o efeito de todos os fenˆomenos em escoamentos em que seus comprimentos sejam muito distintos entre si .

Para tal, o modelo denominado Direct Numerical Simulation (DNS), extremamente mais preciso que o RANS para solu¸c˜ao de escoamentos turbulentos, prop˜oe-se a resolver todas as estruturas turbulentas, sejam elas grandes ou pequenas.

O DNS ´e uma ferramenta de solu¸c˜ao num´erica direta, no qual nenhuma modelagem ´e realizada. Para tal, ´e necess´ario que sua malha seja extremamente refinada, com o objetivo de que sejam resolvidas todas as escalas de fenˆomenos de turbulˆencia e capturada toda a dissipa¸c˜ao de energia cin´etica turbulenta. Estima-se que o n´umero de elementos necess´arios seja proporcional a Re9/4, assim como o custo computacional seja proporcional a Re3 (PIO-MELLI, 2001). Outra limita¸c˜ao ´e a utiliza¸c˜ao dos esquemas de alta ordem, demasiadamente precisos para mitiga¸c˜ao dos erros, mas pouco pr´aticos para geometrias complexas e condi¸c˜oes de contorno.

(27)

Cap´ıtulo 2. O Regime Turbulento 26

Por fim, o modelo Large Eddy Simulation (LES), intermedi´ario aos dois anteriores, apresenta-se como ferramenta promissora para o futuro de simula¸c˜oes que tˆem como obje-tivo capturar mais detalhadamente os fenˆomenos de turbulˆencia e ser´a mais detalhadamente discutido no cap´ıtulo a seguir.

(28)

27

3 Large Eddy Simulation

O Large Eddy Simulation (LES) ´e uma ferramenta para solu¸c˜ao de escoamentos com geometrias ou problemas f´ısicos complexos de maneira mais eficiente.

Conforme visto no cap´ıtulo anterior, o escoamento turbulento ´e caracterizado pela pre-sen¸ca de eddies de tamanhos diversos e caracter´ısticas tamb´em diversas, que n˜ao conseguem ser abrangidas em sua totalidade por um ´unico modelo de turbulˆencia, conforme proposto pelo RANS.

O modelo LES tem como objetivo resolver equa¸c˜oes instantˆaneas de Navier-Stokes para as escalas mais energ´eticas do escoamento, os grandes eddies, enquanto que os pequenos, com comportamento universal, continuam a ser modelados, conforme exibido na Figura 6. Nela, est˜ao relacionados o logaritmo do espectro de energia, E(k), e o logaritmo do n´umero de onda, k. Assim como na t´ecnica DNS, o LES trabalha com discretiza¸c˜oes espaciais e temporais bastante refinadas.

Figura 6 – Espectro de energia em fun¸c˜ao do n´umero de onda

(29)

Cap´ıtulo 3. Large Eddy Simulation 28

3.1

Escalas de Submalha

Deve-se, portanto, escolher uma fun¸c˜ao que realize uma filtragem para separar as maiores escalas das chamadas escalas de submalha,1 o que ocorrer´a na subfaixa inercial. Figura 7 – Esquema espacial da malha de corte, no qual ∆ ´e equivalente ao tamanho da

malha computacional

Fonte: Sagaut (2006, p. 11)

Conforme ilustrado na Figura 7, o tamanho da submalha, ∆, pode ser definido pela raiz c´ubica do volume da c´elula da malha, dado pelo produto entre o comprimento ∆x, a altura ∆y e a profundidade ∆z.

∆ = (∆x∆y∆z)1/3 (3.1)

O n´umero de onda de corte, de acordo com o espectro de energia visto no cap´ıtulo anterior (Figura 6), pode ser dado como:

kc= π

∆ (3.2)

Logo, para n´umero de onda abaixo de kc todos os fenˆomenos de turbulˆencia ser˜ao modelados por um modelo alg´ebrico, denominado modelo de submalha.

(30)

Cap´ıtulo 3. Large Eddy Simulation 29

A filtragem espacial pode ser definida por meio de uma rela¸c˜ao com uma matriz de convolu¸c˜ao, G∆, associada ao tamanho da submalha, ∆. Para a velocidade, por exemplo, tem-se:

u(x, t) = Z

u(x0, t)G∆(x − x0)dx0 (3.3)

Para qualquer propriedade f , escalar ou vetorial, pode-se escrever:

f (x, t) = Z

f (x0, t)G∆(x − x0)dx0 = Z

f (x − x0, t)G∆(x0)dx0 (3.4) onde f (x, t) ´e a fun¸c˜ao filtrada e f (x0, t) ´e a fun¸c˜ao original.

O termo u n˜ao deve ser confundido com a m´edia temporal de Reynolds, descrita anteriormente. Nesse caso, a nota¸c˜ao da barra representa qualquer propriedade filtrada.

As matrizes de convolu¸c˜ao mais comuns para simula¸c˜oes tridimensionais no modelo LES, segundo Versteeg e Malalasekera (2007), s˜ao:

• Filtro de Caixa: G∆=    1/∆3 |x − x0| ≤ ∆/2 0 |x − x0| > ∆/2 (3.5) • Filtro Gaussiano: G∆=  γ π∆2 3/2 exp  −γ|x − x 0|2 ∆2  (3.6) sendo comumente γ = 6

• Filtro de Corte Espectral:

G∆= 3 Y i=1 sin[(xi − x0i)/∆] (xi− x0i) (3.7)

No software ANSYS Fluent, programa em foco no presente trabalho, utiliza-se exclu-sivamente o Filtro de Caixa (ANSYS, 2015).

Assim, a Equa¸c˜ao da Continuidade para escoamentos incompress´ıveis (2.6), em sua forma filtrada, pode ser expressa como:

(31)

Cap´ıtulo 3. Large Eddy Simulation 30

Aplicando-se, em seguida, um filtro para as Equa¸c˜oes de Navier-Stokes (2.18a, 2.18b e 2.18c), tem-se: ρ∂ui ∂t + ∂ ∂xj (ρuiuj) = − ∂p ∂xi + ∂ ∂xj  µ∂ui ∂xj  (3.9) Para o segundo termo do lado esquerdo da Equa¸c˜ao 3.9, ´e verdadeira a seguinte rela¸c˜ao: ∂ ∂xj (ρuiuj) = ∂τij ∂xj + ∂ ∂xj (ρuiuj) (3.10)

Substituindo a Equa¸c˜ao 3.10 em 3.9, pode-se reescrever a Equa¸c˜ao de Navier-Stokes como: ρ∂ui ∂t + ∂ ∂xj (ρuiuj) = − ∂p ∂xi − ∂τ SGS ij ∂xj + ∂ ∂xj  µ∂ui ∂xj  (3.11) em que τSGS

ij ´e o tensor de Reynolds da submalha. O ´ındice SGS ´e referente ao termo em inglˆes sub-grid scale, ou escala de submalha. O tensor pode ser definido da seguinte forma:

τijSGS = ρ(uiuj − uiuj) (3.12)

Os tensores de submalha resultantes da equa¸c˜ao de filtragem s˜ao desconhecidos e, portanto, demandam modelagem. H´a, novamente, um problema de fechamento, com mais inc´ognitas do que equa¸c˜oes. Para tal, diversos modelos vˆem sendo desenvolvidos e alguns deles ser˜ao descritos a seguir.

3.2

Modelos de Submalha no Fluent

3.2.1

Modelo Smagorinsky-Lilly

O primeiro modelo de submalha desenvolvido, e tamb´em o mais comumente utilizado, foi o proposto por Smagorinsky (1963), unicamente dissipativo.

Assim como no modelo RANS, as escalas de submalha podem ser consideradas isotr´opicas, permitindo tamb´em a utiliza¸c˜ao da Hip´otese de Boussinesq (ANSYS, 2015). Logo, as tens˜oes de submalha locais s˜ao tidas como proporcionais `a taxa local de deforma¸c˜ao.

τijSGS− 1 3τ

SGS

(32)

Cap´ıtulo 3. Large Eddy Simulation 31

sendo τSGS

ij o tensor de Reynolds de submalha, µSGS a viscosidade turbulenta de submalha e Sij definido como:

Sij = 1 2  ∂ui ∂xj + ∂uj ∂xi  (3.14) O termo τSGS

kk pode ser facilmente desprezado para escoamentos incompress´ıveis, con-forme segue:

τijSGS ≈ −2µSGSSij (3.15)

Assim, Smagorinsky (1963) propˆos que a viscosidade dinˆamica turbulenta do modelo de submalha fosse baseada no modelo de comprimento de mistura de Prandtl (Equa¸c˜ao 2.25), j´a visto no cap´ıtulo anterior. Tal rela¸c˜ao foi desenvolvida para modelar turbulˆencia tridimen-sionalmente e consegue assumir um comportamento bem pr´oximo `a Cascata de Energia de Kolmogorov (LESIEUR, 2008).

µSGS = ρL2s|S| (3.16)

onde Ls ´e o comprimento de mistura para escalas de submalha e |S| = q

2SijSij.

Ls= min(κd, Cs∆) (3.17)

onde κ ´e a constante de von K´arm´an, d ´e a distˆancia da parede mais pr´oxima e Cs ´e a constante de Smagorinsky. O operador min() apresenta-se ´util especialmente pr´oximo `as paredes, onde o comprimento de mistura, κd, pode tornar-se menor do que o tamanho da submalha, ∆.

Quando em altos n´umeros de Reynolds, ´e poss´ıvel assumir que escalas na subfaixa inercial aderem `as leis dessa regi˜ao e, portanto, tem-se um valor ´unico para o coeficiente Cs, independente do tamanho do filtro (LILLY, 1966).

Essa constante, no entanto, n˜ao ´e universal e apresenta varia¸c˜oes de acordo com as diversas propriedades do escoamento, os filtros utilizados, as discretiza¸c˜oes espaciais e tem-porais realizadas, entre outros. Um valor aceit´avel para uma grande parte dos escoamentos, Cs = 0.1, foi apropriado como padr˜ao no ANSYS Fluent.

O modelo tamb´em se mostra adequado para estruturas em malhas muito refinadas (dentro da subfaixa inercial), pois, independentemente do valor da constante, Lsse mostrar´a insignificante para valores baixos de ∆.

Por outro lado, o tensor de submalha n˜ao ´e preciso, devido `a hip´otese de que existem apenas fenˆomenos dissipativos. N˜ao ´e poss´ıvel, por exemplo, prever a ocorrˆencia de uma

(33)

Cap´ıtulo 3. Large Eddy Simulation 32

escala reversa de energia, na qual eddies menores transferem energia para os maiores, deno-minada backscatter (GERMANO et al., 1991). Al´em disso, o modelo Smagorinsky tamb´em n˜ao possui previs˜ao assertiva na regi˜ao da parede, visto que a contribui¸c˜ao da viscosidade turbulenta nessa regi˜ao deve ser nula, sendo necess´aria, em muitos casos, a adi¸c˜ao de leis de parede (PITTARD, 2003).

3.2.2

Modelo Smagorinsky-Lilly Dinˆ

amico

O modelo dinˆamico, proposto por Germano et al. (1991) e aprimorado por Lilly (1992), prevˆe, antecipadamente, o valor mais adequado para o Cs. Essa modifica¸c˜ao pode ser utili-zada para resolver diversas deficiˆencias do modelo regular ao calcular localmente a viscosidade turbulenta em escoamentos laminares, de transi¸c˜ao e na regi˜ao viscosa pr´oxima `a parede, por exemplo (POPE, 2000). Tamb´em ´e poss´ıvel, por meio do modelo dinˆamico, considerar o backscatter.

Essa t´ecnica se baseia no princ´ıpio da similaridade de escalas. Conforme ilustrado na Figura 8, pode-se assumir que, para a subfaixa inercial, a menor escala resolvida numerica-mente ´e compat´ıvel `a maior escala a ser modelada.

Figura 8 – Similaridade de Escala

Fonte: Poinsot e Veynante (2005, p. 167)

Para capturar escalas maiores, ´e necess´ario utilizar um segundo filtro, mais extenso, denominado “filtro de teste”, com tamanho usual de e∆ ≈ 2∆ (NETZER, 2019).

´

E ent˜ao assumida uma identidade alg´ebrica que relaciona as tens˜oes turbulentas em n´ıveis de filtro submalha distintos com as tens˜oes turbulentas resolvidas, conforme evidenci-ado na Figura 9. Isso ´e realizado por meio da apropria¸c˜ao de informa¸c˜oes retiradas da menor escala resolvida, seguida da utiliza¸c˜ao desses dados para modelar as escalas de submalha.

(34)

Cap´ıtulo 3. Large Eddy Simulation 33

Figura 9 – Tens˜oes turbulentas na regi˜ao submalha e na regi˜ao de teste

Fonte: Poinsot e Veynante (2005, p. 168)

Quando aplicado o filtro G, tem-se o termo de tens˜ao de submalha, τij. Entretanto, se empregado o filtro composto, eG, obt´em-se, atrav´es da Equa¸c˜ao de Navier-Stokes, o tensor Tij para a ´area de teste. Al´em disso, Lij pode ser dado como a tens˜ao turbulenta das escalas resolvidas.

τij = ρ(uiuj− uiuj) (3.18a)

Tij = ρ(ugiuj−ueiuej) (3.18b)

Lij = Tij −eτij (3.18c)

Por fim, de acordo com Germano, a constante de Smagorinsky dinˆamica, Cd, pode ser definida por: Cd= − 1 2 hLijSiji e ∆ 2 h|eS|eSijSiji − ∆ 2 h|eS|eSijSiji (3.19) sendo: e Sij = 1 2 ∂uei ∂xj + ∂uej ∂xi ! e |eS| = q 2eSijSeij (3.20)

(35)

Cap´ıtulo 3. Large Eddy Simulation 34

3.2.3

Modelo WALE

Esse modelo ´e representado por um acrˆonimo para o termo em inglˆes Wall Adaptative Large Eddy. Foi inicialmente proposto por Nicoud e Ducros (1999) para abordar simula¸c˜oes Large Eddy Simulation para geometrias complexas, nas quais n˜ao ´e simples determinar a distˆancia `a parede.

Diferentemente do modelo Smagorinsky, no qual apenas a influˆencia da taxa de de-forma¸c˜ao ´e contabilizada, para o modelo WALE, tanto a taxa de deforma¸c˜ao quanto a rota¸c˜ao s˜ao capazes de produzir a turbulˆencia. Isso implica que, al´em do termo Sij, evidenciado na Equa¸c˜ao 3.14, tamb´em haver´a o componente rotacional Ωij.

Ωij = 1 2  ∂ui ∂xj − ∂uj ∂xi  (3.21) Assim, com base na Equa¸c˜ao 3.16 do modelo Smagorinsky, pode-se assumir a vis-cosidade de submalha para o modelo WALE com a modifica¸c˜ao do operador para que este capture corretamente o comportamento na parede. S˜ao criados ent˜ao dois novos operadores, conforme segue:

µSGS = ρL2sOP1 OP2

(3.22)

Ls = min(κd, Cw∆) (3.23)

onde Cw ´e a constante do modelo WALE, OP1 ´e um operador espacial que retorna um comportamento assint´otico (y3) pr´oximo `a parede e OP2 ´e o operador utilizado para redimensionar as unidades de OP1. OP1 = SijdS d ij 3/2 (3.24) OP2 = SijSij 5/2 + SijdSijd5/4 (3.25)

Logo, substituindo as Equa¸c˜oes 3.24 e 3.25 em 3.22, tem-se:

µSGS = ρ(Cw∆)2 Sd ijSijd 3/2 SijSij 5/2 + Sd ijSijd 5/4 (3.26)

Por fim, o termo Sd

ij pode ser definido em fun¸c˜oes da taxa de deforma¸c˜ao e de rota¸c˜ao. Sijd = SikSkj + ΩikΩkj−

1

(36)

Cap´ıtulo 3. Large Eddy Simulation 35

Para o modelo WALE, o tensor turbulento τij ´e exprimido como j´a evidenciado para utiliza¸c˜ao no modelo Smagorinsky e pode ser encontrado na equa¸c˜ao 3.13.

No ANSYS Fluent, o valor padr˜ao da constante ´e Cw = 0.325, que resulta em da-dos satisfat´orios para diversos escoamentos (ANSYS, 2015). Todos os outros valores s˜ao os mesmos usados no modelo Smagorinsky.

3.2.4

Modelo Dinˆ

amico de Energia Cin´

etica

Este ´e um modelo tamb´em dinˆamico, alternativo ao modelo dinˆamico Smagorinsky-Lilly. Nesse caso, a turbulˆencia da submalha tende a ser melhor modelada, devido `a in-corpora¸c˜ao do transporte da energia cin´etica turbulenta de submalha (ANSYS, 2015). No ANSYS Fluent, esse modelo ´e disposto de acordo com o proposto por Kim e Menon (1997). Atrav´es de uma contra¸c˜ao do tensor de submalha (Equa¸c˜ao 3.12), ´e poss´ıvel encontrar a energia cin´etica turbulenta de submalha, conforme segue:

kSGS = 1

2(ukuk− ukuk) (3.28)

A energia cin´etica turbulenta, kSGS, ´e obtida atrav´es da solu¸c˜ao de sua equa¸c˜ao de transporte, na qual est˜ao contidas a produ¸c˜ao, difus˜ao e dissipa¸c˜ao de kSGS.

∂ρkSGS ∂t + ui ∂ρkSGS ∂xi = −τij ∂ui ∂xi − ρεSGS + ∂ ∂xi  µSGS ∂kSGS ∂xi  (3.29) A partir da energia cin´etica turbulenta, consegue-se obter o termo de dissipa¸c˜ao, εSGS, a viscosidade turbulenta de submalha, µSGS, e o tensor de submalha, τij.

εSGS = Cε kSGS3/2 ∆ (3.30) µSGS = ρCk∆ p kSGS (3.31) τij = 2 3ρkSGSδij − 2ρCk∆ p kSGSSij (3.32)

sendo Ck e Cε dois coeficientes que devem ser especificados dinamicamente (KIM; MENON, 1997).

Para tal, utilizou-se tamb´em um filtro de teste, com princ´ıpio idˆentico ao j´a eviden-ciado no item 3.2.2. Assim, a energia cin´etica de teste, kteste, associada `as escalas presentes entre o filtro de teste e o filtro de submalha, pode ser definida como:

kteste = 1 2  ] ukuk−eukeuk  (3.33)

(37)

Cap´ıtulo 3. Large Eddy Simulation 36

Da mesma forma, a tens˜ao turbulenta das escalas resolvidas, Lij, ´e dada por:

Lij = ρ(ugiuj−euieuj) (3.34) Assim, conforme descrito por Kim e Menon (1997), a energia cin´etica turbulenta na malha de teste, kteste, ´e produzida nas maiores escalas por −Lij(∂uei/∂xj) e, nas menores escalas, dissipada por:

e = (ν + νt) ^ ∂ui ∂xj ∂ui ∂xj − ∂eui ∂xj e ui ∂xj ! (3.35) sendo (ν + νt) a representa¸c˜ao da dissipa¸c˜ao por ambas as viscosidades molecular e turbulenta.

Liu, Meneveau e Katz (1994) sugerem a existˆencia de uma correla¸c˜ao significativa entre o tensor de submalha, τij, e a tens˜ao turbulenta das escalas resolvidas, Lij, resultando na seguinte rela¸c˜ao no n´ıvel de teste:

Lij = 1

3δijLkk− 2ρCk∆e p

ktesteSeij (3.36)

Para determinar a constante Ck, resta utilizar o seguinte m´etodo:

Ck= 1 2 Lijσij σijσij (3.37) onde

σij = − e∆pktesteSije (3.38)

Para a taxa de dissipa¸c˜ao, εSGS, determinada na Equa¸c˜ao 3.29 para a submalha, tem-se uma similaridade para a regi˜ao de teste, representada por e, que possui rela¸c˜ao direta com a constante de dissipa¸c˜ao.

e = Cεk 3/2 teste

e

∆ (3.39)

Por fim, evidenciando a constante Cεe substituindo a Equa¸c˜ao 3.35 em 3.39, obt´em-se:

Cε = ∆(ν + νe t) k3/2teste ^ ∂ui ∂xj ∂ui ∂xj − ∂eui ∂xj e ui ∂xj ! (3.40)

(38)

37

4 M´etodos de Gera¸c˜

ao de Turbulˆencia nas

Condi¸c˜

oes de Contorno de Entrada

Devido ao elevado custo computacional do modelo LES, na tentativa de se reduzir a dura¸c˜ao ou as dimens˜oes necess´arias para que se atinja um perfil plenamente turbulento, torna-se crucial a utiliza¸c˜ao de m´etodos de gera¸c˜ao de inlets estoc´asticos. Especifica¸c˜oes pre-cisas das condi¸c˜oes de entrada s˜ao determinantes quando se trata da qualidade da simula¸c˜ao, pois o comportamento turbulento do escoamento ´e fortemente influenciado por tais condi¸c˜oes de contorno (CASTRO; PAZ; SONZOGNI, 2011).

As caracter´ısticas necess´arias para se obter uma entrada adequada, segundo Tabor e Baba-Ahmadi (2010), de acordo com a ordem de importˆancia e complexidade, devem ser:

• Variar estocasticamente, inclusive em escalas inferiores `a filtragem (temporal e espaci-almente);

• Ser compat´ıvel com as Equa¸c˜oes de Navier-Stokes; • Possuir aspecto de turbulˆencia;

• Fornecer informa¸c˜oes precisas acerca das caracter´ısticas do escoamento e de suas pro-priedades de turbulˆencia;

• Ser de f´acil implementa¸c˜ao e adaptabilidade para casos distintos.

Essas ferramentas de gera¸c˜ao de turbulˆencia se encaixam em duas categorias, tamb´em definidas por Tabor e Baba-Ahmadi (2010): m´etodos de s´ıntese e m´etodos de simula¸c˜ao precursora. Ambos apresentam vantagens e desvantagens, a serem apresentadas a seguir.

4.1

M´etodo de Simula¸c˜

ao Precursora

Nos m´etodos de simula¸c˜ao precursora uma forma de turbulˆencia ´e computada antes do c´alculo principal e ´e introduzida ao dom´ınio no inlet. Uma grande vantagem dessa ferramenta ´

e que os dados utilizados s˜ao obtidos de simula¸c˜oes reais de turbulˆencia e, portanto, est˜ao de acordo com certos requisitos fundamentais, como as flutua¸c˜oes temporais e espaciais ou o espectro de energia (TABOR; BABA-AHMADI, 2010).

No m´etodo do Dom´ınio C´ıclico, o escoamento recircula atrav´es do mesmo dom´ınio, ou seja, um perfil retirado a jusante ´e reinserido na entrada in´umeras vezes at´e que se alcance um

(39)

Cap´ıtulo 4. M´etodos de Gera¸c˜ao de Turbulˆencia nas Condi¸c˜oes de Contorno de Entrada 38

estado plenamente desenvolvido. Esse m´etodo ´e comumente utilizado para realizar estudos em pequenas se¸c˜oes, conforme exemplificado por Kim, Moin e Moser (1987) em um canal utilizando DNS. ´E importante notar que a distˆancia entre a entrada e o plano deve ser sufici-entemente grande, permitindo que a turbulˆencia se desenvolva nas condi¸c˜oes de escoamento estipuladas. A velocidade m´edia torna-se constante em uma distˆancia de aproximadamente 40D do inlet, sendo D o diˆametro de uma tubula¸c˜ao, enquanto que os componentes da tens˜ao de Reynolds tendem a adquirir comportamento invariante mais a jusante no escoamento (TA-BOR; BABA-AHMADI, 2010).

Al´em do perfil de velocidade, outras propriedades variantes tamb´em podem ser atribu´ıdas ao inlet, conforme indicado por Baba-Ahmadi e Tabor (2008), como for¸cas de corpo axiais e tangenciais e termos de corre¸c˜ao de velocidade. Tais termos aprimoram a turbulˆencia, pois permitem um controle preciso para que sejam obtidas as condi¸c˜oes desejadas na simula¸c˜ao.

´

E importante notar que outra varia¸c˜ao existente nos estudos de Baba-Ahmadi e Tabor (2008) ´

e a n˜ao utiliza¸c˜ao de um plano de entrada para reinserir seus dados, mas sim uma regi˜ao de entrada para atingir os perfis de turbulˆencia e velocidade adequados.

A turbulˆencia gerada por esse m´etodo n˜ao pode ser considerada perfeita, devido ao comportamento c´ıclico dos dados. Os erros gerados ser˜ao perpetuados ao se reinserir o perfil na entrada e possuem a ordem de L/u, sendo L o comprimento do dom´ınio c´ıclico e u a velocidade m´edia do escoamento (TABOR; VILLIERS, 2004).

Outra modifica¸c˜ao poss´ıvel ´e a gera¸c˜ao de uma biblioteca de dados turbulentos em uma geometria auxiliar, mais simples, conforme realizado por Spalart (1988). Como ilustrado pela Figura 10, ap´os a utiliza¸c˜ao do m´etodo do Dom´ınio C´ıclico no dom´ınio auxiliar, as propriedades de um plano a jusante s˜ao extra´ıdas e, em seguida, reinseridas como condi¸c˜ao de contorno no inlet principal. Tal pr´atica pode ser realizada previamente `a simula¸c˜ao principal ou concomitantemente, em paralelo.

N˜ao ´e necess´ario, por exemplo, que propriedades caracter´ısticas do escoamento, como o n´umero de Reynolds e a configura¸c˜ao da malha, sejam idˆenticas em ambos os dom´ınios, pois os dados podem ser redimensionados para se adequarem `a geometria principal (LUND; WU; SQUIRES, 1998; FERRANTE; ELGHOBASHI, 2004). Tal modifica¸c˜ao pode ser realizada para a velocidade em uma tubula¸c˜ao de acordo com a seguinte equa¸c˜ao (WANG; BAI, 2004):

uin = uin+ (ure− ure) u0in u0

re

(4.1) sendo ()in referente `as propriedades a serem inseridas no inlet e ()re, `as propriedades que ser˜ao recicladas.

Com rela¸c˜ao ao n´umero de time steps, no entanto, h´a um impasse referente ao custo computacional. Simular e salvar no modelo precursor uma quantidade de steps equivalente

(40)

Cap´ıtulo 4. M´etodos de Gera¸c˜ao de Turbulˆencia nas Condi¸c˜oes de Contorno de Entrada 39

Figura 10 – Ap´os atingir um estado de turbulˆencia, um perfil de velocidade em um plano da simula¸c˜ao auxiliar ´e copiado e inserido na corrida principal

Fonte: Ferrante e Elghobashi (2004, p. 373)

`

a utilizada na simula¸c˜ao principal pode levar a uma grande demanda pela capacidade de armazenamento, dependendo da dimens˜ao dos dados que comp˜oem a biblioteca.

Entretanto, uma simula¸c˜ao mais extensa do que a biblioteca pr´e-computada implica na introdu¸c˜ao de um comportamento peri´odico na mesma, o que pode afetar significantemente os resultados. Para um caso em que o n´umero de time steps da simula¸c˜ao exceda o dispon´ıvel na biblioteca, tem-se que ser˜ao inseridos novamente os dados atribu´ıdos aos steps iniciais (WANG; BAI, 2004).

´

E poss´ıvel eliminar a periodicidade com a introdu¸c˜ao de transforma¸c˜oes aleat´orias, o que traz uma maior dificuldade ao processo. Conforme estudado por Chung e Sung (1997), pode-se manipular e destruir essa tendˆencia, inserindo ru´ıdos nas fun¸c˜oes, alterando os dados temporais.

Por fim, Li et al. (2018) prop˜oem outro m´etodo de gera¸c˜ao de uma biblioteca de dados a partir de um experimento real. Por meio da velocimetria por imagem de part´ıculas (PIV), uma t´ecnica ´optica n˜ao invasiva, ´e poss´ıvel detectar as estruturas de turbulˆencia no escoamento para, em seguida, incorpor´a-las na condi¸c˜ao de contorno. Os dados s˜ao diretamente inseridos no dom´ınio com UDF (User Defined Functions) para cada time step.

(41)

mostram-Cap´ıtulo 4. M´etodos de Gera¸c˜ao de Turbulˆencia nas Condi¸c˜oes de Contorno de Entrada 40

se mais precisos quando comparados aos m´etodos de s´ıntese. No entanto, desenvolver um escoamento com turbulˆencia desejada (plenamente desenvolvida ou n˜ao) pode ser uma tarefa dif´ıcil quando utilizados m´etodos precursores, em raz˜ao de sua caracter´ıstica c´ıclica, com resistˆencia `a adapta¸c˜ao por mudan¸cas repetidas nas condi¸c˜oes de entrada.

4.2

M´etodo de S´ıntese

Os M´etodos de S´ıntese geram esp´ecies de flutua¸c˜oes aleat´orias na entrada do dom´ınio, que s˜ao combinadas com o escoamento m´edio na regi˜ao de entrada.

O m´etodo mais simples de gera¸c˜ao de estruturas turbulentas na entrada de um dom´ınio ´

e a sobreposi¸c˜ao de perturba¸c˜oes gaussianas randˆomicas na velocidade m´edia do escoamento. Entretanto, esses ru´ıdos ignoram que h´a rela¸c˜ao entre componentes de velocidade, como no tensor de Reynolds, e n˜ao possuem coerˆencia no espa¸co (VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007). Assim, acabam sendo destru´ıdos quando aplicada a Equa¸c˜ao de Navier-Stokes.

Outras t´ecnicas mais avan¸cadas de gera¸c˜ao de eddies tˆem como foco o desenvolvimento de condi¸c˜oes de contorno mais realistas e que possam ser parametrizadas e ajustadas de acordo com o desejado (TABOR; BABA-AHMADI, 2010). Logo, deve ser introduzida uma correla¸c˜ao espacial e/ou temporal. Tais formas facilitam a especifica¸c˜ao dos parˆametros de turbulˆencia pretendidos, al´em de serem r´apidos e de f´acil modifica¸c˜ao. Por outro lado, podem ser bastante imprecisos e podem necessitar de uma se¸c˜ao de desenvolvimento das flutua¸c˜oes aleat´orias em real turbulˆencia.

De acordo com ANSYS (2015), est˜ao dispon´ıveis trˆes alternativas na interface gr´afica do software ANSYS Fluent. A primeira, identificada como “No Perturbations”, ignora a presen¸ca de componentes estoc´asticos na velocidade da condi¸c˜ao de contorno de entrada, sendo utilizada para geometrias em que a turbulˆencia n˜ao tenha contribui¸c˜ao consider´avel. Pode ser determinado, nesse caso, o perfil de velocidade no plano de entrada com base no perfil de velocidade obtido em uma simula¸c˜ao RANS previamente realizada.

Os dois outros m´etodos, denominados Spectral Synthesizer e Vortex Method, ser˜ao discutidos a seguir.

4.2.1

ecnica de Fourier

Inicialmente proposta por Kraichnan (1970) e modificada por Smirnov, Shi e Celik (2001), a Random Flow Generation Technique (RFG), ou Spectral Synthesizer no ANSYS (2015), utiliza a T´ecnica de Fourier para criar um campo de flutua¸c˜oes de velocidade aleat´orio e relativamente simples. Esse campo pode ser utilizado para gera¸c˜ao de estruturas

(42)

turbulen-Cap´ıtulo 4. M´etodos de Gera¸c˜ao de Turbulˆencia nas Condi¸c˜oes de Contorno de Entrada 41

tas com coerˆencia espacial em escoamentos n˜ao-homogˆeneos, com divergˆencia quase nula e anisotr´opicos (SMIRNOV; SHI; CELIK, 2001).

Smirnov, Shi e Celik (2001) prop˜oem um algoritmo de trˆes etapas para obten¸c˜ao do campo de flutua¸c˜oes de velocidade. Para tal, basta que sejam fornecidos o tensor de Reynolds e as escalas de tempo e de comprimento (VASATURO et al., 2018).

O primeiro passo do m´etodo implica na diagonaliza¸c˜ao do tensor anisotr´opico de turbulˆencia, Rij, por meio de um tensor de transforma¸c˜ao ortogonal, Aij.

Rij = u0iu 0

j (4.2)

AmiAnjRij = δmnλ2(n) (4.3)

AikAkj = δij (4.4)

onde λ(n)atua como uma representa¸c˜ao das flutua¸c˜oes de velocidade u0ino novo sistema de coordenadas produzido por Aij (SMIRNOV; SHI; CELIK, 2001).

O passo seguinte implica na gera¸c˜ao de um campo transiente tridimensional inter-medi´ario por meio do m´etodo apresentado por Kraichnan (1970), que representa as flutua¸c˜oes turbulentas por uma s´erie de Fourier em sua forma harmˆonica, como uma soma de senos e cossenos com fases e amplitudes randˆomicas (TABOR; VILLIERS, 2004). A utiliza¸c˜ao dessas fun¸c˜oes peri´odicas fornece coerˆencia espacial e temporal na regi˜ao de entrada.

vi0(x, t) = r 2 N N X n=1 [pincos(ekjnxej + ωnet) + qinsin(ekjnxej + ωnet)] (4.5) onde e xj = xj ∆, et = t τ, c = ∆ τ , ek n j = k n j c λ(j) (4.6) pni = εijmζjnk n m, q n i = εijmξjnk n m (4.7)

sendo pni e qin a amplitude das fun¸c˜oes harmˆonicas, εijm o sinal Levi-Civita para permuta¸c˜oes e: ζin, ξin, ωn ∈ N (0, 1), kin∈ N  0,1 2  (4.8) em que um caso gen´erico N(M, σ) denota uma vari´avel aleat´oria sob uma distribui¸c˜ao normal com m´edia M e desvio padr˜ao σ (WANG et al., 2015).

(43)

Cap´ıtulo 4. M´etodos de Gera¸c˜ao de Turbulˆencia nas Condi¸c˜oes de Contorno de Entrada 42

Figura 11 – Modelos espectrais de energia

Fonte: Huang, Li e Wu (2010, p. 601)

Al´em disso, kn

j e ωn representam, respectivamente, um conjunto de n vetores de n´umero de onda e de n frequˆencias temporais do espectro de energia, expressado por:

E(k) = 16 r

2 πk

4exp(−2 k2) (4.9)

Por fim, a ´ultima etapa ´e composta pelo redimensionamento e pela transforma¸c˜ao ortogonal do campo v0i (Equa¸c˜ao 4.5), resultando em um campo de flutua¸c˜oes de velocidade sint´etico, aqui denotado por ue0i.

e

u0i = Aikλ(k)v(k)0 (4.10)

no qual λ(k) ´e um fator para redimensionamento, enquanto que v(k)0 ´e o vetor que representa as flutua¸c˜oes de velocidade dependentes no tempo a serem transformadas pelo tensor Aij.

Uma desvantagem dessa abordagem ´e que as varia¸c˜oes temporais e espaciais das flu-tua¸c˜oes de velocidade concordam apenas com uma distribui¸c˜ao gaussiana, conforme repre-sentado na Figura 11.

Desse modo, outros m´etodos foram desenvolvidos com o objetivo de aprimorar a T´ecnica de Fourier. Huang, Li e Wu (2010), com base nos estudos que o precederam, de-senvolveram a DSRFG (Discretizing and Synthesizing Random Flow Generation Technique).

(44)

Cap´ıtulo 4. M´etodos de Gera¸c˜ao de Turbulˆencia nas Condi¸c˜oes de Contorno de Entrada 43

Nesse m´etodo, o campo de flutua¸c˜oes pode satisfazer uma ampla gama de modelos, o que ´e particularmente ´util em escoamentos nos quais a energia da subfaixa inercial n˜ao pode ser desprezada (CASTRO; PAZ; SONZOGNI, 2011).

4.2.2

etodo dos V´

ortices

O M´etodo dos V´ortices se baseia em tratamentos lagrangianos bidimensionais de v´ortices. Seu funcionamento implica na gera¸c˜ao de v´ortices dependentes no tempo atrav´es de um campo de vorticidade bidimensional, normal ao escoamento, por onde s˜ao inseridos ao dom´ınio.

Inicialmente proposto por Sergent (2002), esse m´etodo apresenta uma vantagem quando comparado `a T´ecnica de Fourier, pois necessita de um comprimento menor do dom´ınio a ju-sante do inlet para desenvolver uma turbulˆencia realista (TABOR; BABA-AHMADI, 2010). Matematicamente, o vetor vorticidade, ω, pode ser definido pelo rotacional da velo-cidade:

ω = ∇ × u (4.11)

Aplicando-se o rotacional `as Equa¸c˜oes de Navier-Stokes (2.18a, 2.18b e 2.18c), ´e poss´ıvel escrever a equa¸c˜ao bidimensional de transporte de vorticidade.

∂ω

∂t + (u.∇)ω = ν∇

2ω (4.12)

Na Equa¸c˜ao 4.12, o vetor velocidade, u, pode ser decomposto da seguinte forma:

u = ∇ × ψ + ∇φ (4.13)

no qual ψ = (ψ, 0, 0) ´e o vetor potencial e φ, o potencial de velocidade (CAVAL-CANTI, 2001). Adotando essa nota¸c˜ao simplificada, podemos representar o componente de vorticidade ω na dire¸c˜ao do escoamento por:

ω = −∇2ψ (4.14)

Utilizando a fun¸c˜ao de Green para dom´ınios bidimensionais, aplicada para solucionar equa¸c˜oes diferenciais por meio da adi¸c˜ao de operadores integrais, ´e poss´ıvel resolver a Equa¸c˜ao 4.14 em termos de fun¸c˜ao de corrente.

ψ(x) = − 1 2π

Z Z

R2

Referências

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