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Eixo Temático – Movimentos Sociais e Políticas Públicas - sala nº 09

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XV ERIC – (ISSN 2526-4230)

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XV ERIC – (ISSN 2526-4230)

O PT E A EDUCAÇÃO: ANÁLISE DA PROPOSTA EDUCATIVA PRESENTE NOS DOCUMENTOS E AÇÕES DO PARTIDO NAS ATIVIDADES LEGISLATIVAS.

Suzane Meneses Caetano Prof. Dr. Marco Antonio de Oliveira Gomes

Universidade Estadual de Maringá - UEM

RESUMO

Este projeto tem como objetivo analisar a concepção de educação do Partido dos Trabalhadores em Maringá, por intermédio de ações de seus representantes no Legislativo municipal. Sabemos que hoje é muito comum nos depararmos com alguns conceitos que encontram-se diluídos sob a sociedade, e principalmente, sob o eixo da comunidade escolar. Os principais termos usados são: formação para cidadania, gestão democrática, educação emancipadora, etc. No entanto, tais proposições têm assumido diferentes significados na arena social. Estudar as propostas legislativas, nesse sentido, pode ajudar-nos a compreender a organização do sistema escolar e como ele relaciona-se com os interesses expressos pelo Partido em questão na elaboração de políticas públicas. Nesse sentido, haverá uma recuperação do contexto histórico de luta do PT, seu surgimento, do alçamento da consciência de classe pelos trabalhadores, e ao final a análise das propostas legislativas do PT para a educação maringaense.

Palavras-chave: Partido dos Trabalhadores, Propostas Educacionais, consciência

de classe.

INTRODUÇÃO

Nos últimos decênios muito se tem falado sobre educação, cidadania, consciência social, participação, entre outros termos dirigidos fundamentalmente aos filhos da classe trabalhadora. São expressões que apontam para determinados projetos políticos, objetivando uma série de encaminhamentos e ações no âmbito da sociedade. Essas ações nos remetem em muitos casos aos princípios presentes no discurso liberal presente no ideário revolucionário francês do século XVIII, mas que ainda hoje não se materializou: “igualdade, liberdade e fraternidade”.

Sabemos que hoje parece nos ser um desafio compreender o processo histórico de transformação da sociedade e as formas de consciência que o homem adquire sobre seu papel na produção da existência. Os intelectuais identificados com a preservação da ordem procuram naturalizar o modelo estabelecido e negar a existência da luta de classes. No entanto, apesar de seus esforços, as tensões

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sociais não podem ser abolidas por decreto, pois a divisão da sociedade em classes continua viva. Conforme Haddad (1997, p. 98):

Com efeito, rigorosamente falando, o conceito de classe social em sentido pleno é definido, dentro do discurso de Marx, pelas relações de distribuição que são expressão imediata das relações de produção. Isto significa que quando Marx se refere às três grandes classes, a dos trabalhadores assalariados, a dos capitalistas e a dos proprietários fundiários, não está ele querendo dizer que existam outras "pequenas camadas" dignas do nome "classe". Embora Marx use esta denominação para se referir a outros grupos distintos dos "três grandes", tudo leva a crer que, do ponto de vista da dinâmica do sistema, a ele só interessava estudar as tendências relativas ao comportamento daqueles grupos imediatamente ligados ao processo de reprodução material da sociedade. De resto, esta é a única posição compatível com um materialismo histórico fundado no paradigma da produção. Esse é o motivo pelo qual Marx, por exemplo, apesar de prever (como veremos) o aumento numérico relativo dos serviçais domésticos ou dos funcionários de Estado, não lhes dedica atenção especial. Se a palavra "grande" da expressão "grandes classes" dissesse respeito ao aspecto numérico da questão, este grupo, decerto maior do que o grupo dos capitalistas ou proprietários fundiários, mereceria uma maior consideração

O interesse imediato de Marx vincula-se ao estudo dos grupos imediatamente vinculados ao processo de produção da sociedade. Ora, é evidente que a classe operária estudada por Marx não é a mesma que encontramos na sociedade contemporânea. Porém, que aqueles que precisam vender sua força de trabalho, pois são despossuídos dos meios de produção, constituem a “classe que vive do trabalho”. Nesse sentido, uma pergunta se coloca para aqueles que buscam a superação da ordem burguesa: como ocorre o processo de formação da consciência de classe?

O movimento de expressão da classe operária passa por momentos entre consentimento e negação. Sob a gênese do pensamento marxista encontra-se a fenomenalidade histórica, a qual, é produto de formação da consciência e serve como base para a organização da vida social dos indivíduos, seja em relação a sua subjetividade ou frente ao coletivo. Sob tal perspectiva apontaremos aqui uma onda de insurreição do movimento popular da década de 1980.

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O Partido dos Trabalhadores (PT), que nasceu das lutas sindicais do final dos anos 1970, mas que também foi forjado por quadros oriundos do movimento de resistência contra ditadura, segmentos identificados com os setores progressistas da Igreja Católica e de intelectuais do meio acadêmico, adquiriu uma veloz notoriedade nas capitais. Nas menores cidades, as mais interioranas do país, a ideologia do Partido é alavancada como um instrumento muito maior do que o de contestação, assim se constrói um dos movimentos de maior relevância para o país. Iasi (2012, p. 375), salienta a importância do movimento sindical petista como uma retomada da consciência da classe trabalhadora.

Neste sentido a criação do PT em 1980 só pode ser explicada como um movimento de emergência das lutas sociais que encontrou na retomada da luta sindical e operária um ponto de fusão da classe, cuja expressão política foi a formação de um partido que buscava representar os setores que naquele momento se levantavam em lutas específicas e que confluíram finalmente para uma questão maior ao se contraporem à ditadura, mudando, assim, o caráter de abertura restrita e sob o controle que estava nas intenções iniciais dos militares.

Nesses termos, as propostas de educação presentes no partido expressam as lutas e contradições presentes no interior da sociedade. O movimento inclinado à formação de um partido político não deve ser entendido como um fato isolado na história da sociedade, e sim, como um reflexo das relações que compunham o plano prático-ideológico do período: os grupos de interesse, a conjuntura política, os conflitos político-sociais, etc. Portanto, o quadro de formação de um partido político exige a cooperação de forças que exprimam a aquisição e/ou aproximação de um objeto de desejo. Nesse sentido, o partido político torna-se porta-voz de uma doutrina, assim como afirma Conceição (2000).

As atividades expressas por um partido político podem influir de maneira direta na realidade dos indivíduos. A dimensão cognitiva, afetiva, cultural, e a capacidade social, tornam-se contornos a serem delineados pelas políticas públicas. É no recorte histórico da criação do PT (1980) até 7º Encontro Nacional (1990), que analisaremos as ideias que fundamentam a ideologia do partido. Findado o processo de historicização, iremos coletar as propostas educacionais do Partido dos

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Trabalhadores (PT) para o município de Maringá, no período compreendido entre 2013 a 2016. Trata-se de uma pesquisa documental. E o acesso a esses documentos foi possível mediante apresentação do projeto junto ao Vereador Carlos Mariucci atual presidente do partido em Maringá.

A natureza do processo de formação da consciência tem início a partir do momento em que os indivíduos se enxergam para além de si. O estado de consciência ao qual nos referimos leva os indivíduos de determinado grupo, cultura, ou origem, à aquisição da capacidade de abstração para criação do novo. Assim enquanto importante fator de atividade produtiva, a consciência, conta em seu interior com um movimento dialético. Em uma forma elementar, Iasi (1999, p. 13) afirma:

Partindo de uma compreensão marxista, o processo de consciência é visto, de forma preliminar e introdutória, como um desenvolvimento dialético, onde cada momento traz em si os elementos de superação, onde as formas já incluem contradições que ao amadurecerem remetem a consciência para novas formas e contradições, de maneira que o movimento se expressa num processo que contem saltos e recuos.

Ainda partindo de uma leitura de Iasi (1999), a consciência não pode ser entendida como um movimento pronto, mas sim, como um processo particular e dinâmico. Tal qual sofre influências objetivas (1) -, da realidade material dos indivíduos em concomitância ao tempo histórico vivido por cada um, das relações de produção, e substancialmente das relações sociais. Ainda no tocante da consciência nos deparamos com as influências subjetivas (2) -, onde o processo de consciência acontece no fluir da intra-subjetividade. Assim a psicogênese humana corresponde à particularidade do ser ao ponto que também é mediada pelas relações sociais, de modo, que o contato com a realidade externa se traduz na produção de uma representação mental.

A consciência de classe que nos interessa neste trabalho não pode ser outra, senão, a consciência da classe trabalhadora. No curso da história, o homem se diferencia dos animais precisamente pelo processo de formação da consciência, cuja, prerrogativa parte da produção dos meios de existência que por sua vez incitam a produção indireta da vida material. De acordo com Marx e Engels (2001, p. 10):

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A maneira como os homens produzem seus meios de existência depende, antes de mais nada, da natureza dos meios de existência já encontrados e que eles precisam reproduzir. Não se deve considerar esse modo de produção sob esse único ponto de vista, ou seja, enquanto reprodução da existência física dos indivíduos. Ao contrário, ele representa, já, um modo determinado da atividade desses indivíduos, uma maneira determinada de manifestar sua vida, um modo de vida determinado. A maneira como os indivíduos manifestam sua vida reflete exatamente o que eles são. O que eles são coincide, pois, com sua produção, isto é, tanto o que eles produzem, quanto, a maneira como produzem. O que os indivíduos são depende, portanto das condições materiais de sua produção.

Ao encontro da perspectiva marxista entendemos que todo e quaisquer fenômenos devem ser vinculados à realidade prática dos indivíduos, ou seja, na mais pura e cruel condição a ser vista pelo proletariado, a materialidade. A burguesia, enquanto classe dominante sucumbe o proletariado a condições de miserabilidade tornando-os gradualmente mais amoldados ao capitalismo na tentativa de manter condições adequadas de governabilidade e neutralizar proporcionalmente à luta de classes. O modo operante da ideologia burguesa carrega consigo a perspectiva da naturalização de suas ideias, da apresentação daquilo que é particular para o universal assim a história da sociedade só pode ser a sua história, a sua forma de família só pode ser o tipo de família burguesa.

O nascimento do PT no início na década de 1980 foi produto da expressão política da classe trabalhadora, e considerado como uma retomada da consciência de classe. O movimento foi exaltado como uma novidade no cenário político-social e compreendido pelo quadro acadêmico como uma espécie de intentona. Assim, o mesmo deveria ser representado, idealizado e concretizado essencialmente pelos trabalhadores. Como uma afronta aos domínios de uma economia predatória de mercado, o terceiro setor se rebela através da organização dos movimentos de base e sindical. Nesse sentido, o proletariado passa construir formas de negação ao processo de ultrageneralização da consciência e expressa convictamente através de sua luta a negação de uma lógica imposta que visa garantir e reproduzir as relações que estão na base de uma classe sobre a outra.

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Para compreender o movimento que propiciou o surgimento da consciência de classe, entrando numa perspectiva da consciência para além de si, que surtiu na união dos trabalhadores que se rebelaram contra o patronato nas greves do final da década de 1970 é preciso retomar as transformações que ocorreram no cenário popular, tratamos aqui da mudança de perspectiva entre velho e novo sindicalismo.

Conforme Zanetti (1993), o velho sindicalismo está apoiado no curso da história no período compreendido entre 1930 a 1945, na Era Vargas. O que representa a simbologia “velho” sob as bases sindicais? O velho sindicalismo tratava-se de uma prática corporativa que buscava prevenir/conciliar e/ou neutralizar as relações de instabilidade do Estado versus trabalhador, portanto, buscava tornar clara a relação de conciliação entre as classes e não de enfrentamento. Trata-se de um sindicalismo que nega à participação dos trabalhadores em suas ações, nesse sentido, quando nega a participação nega também a capacidade de autonomia dos trabalhadores. Tais aspirações foram fidedignamente alcançadas através da Lei de Sindicalização de 1931, elaborada no governo Vargas, a qual, dispunha que os sindicatos funcionassem sob apenas uma unidade de representação por categoria profissional. Aos sindicatos que atendiam essa determinação ainda restava uma condicionalidade, a apresentação da plataforma ao governo. Na medida em que fossem aprovados eles continuariam a existir. Isso funcionava como uma permissão não, era algo consensual. Nesse sentido é extinta a pluralidade de sindicatos já na primeira fase da Era Vargas.

Ainda seguindo a linha histórica estabelecida por Zanetti (1993) foi em 1973/74 que as bases sindicais passaram a retomar suas atividades ainda que discretamente, visto, tamanha amplitude da operação limpeza idealizada pelos militares naqueles anos. A operação limpeza tinha como objetivo cessar grupo a grupo, indivíduo a indivíduo que pudesse causar algum tipo de risco a àquele sistema. Portanto, estudantes, intelectuais, trabalhadores que se virarão num ato de resistência contra os militares tiveram a violência como forma de resposta. Enquanto os sindicatos no Brasil pareciam estar ressurgindo pouco a pouco, a política global evidenciava a maior crise de Petróleo (1973) já presenciada. Essas características somadas ao fracasso do Milagre Econômico elevaram as divisões dentro da própria classe dominante, o que refletia diretamente na falta de representatividade. A

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pseudo vitória do ARENA nas eleições só reafirmava o clima de instabilidade. Em 1977, os trabalhadores dão início à luta pela reposição das perdas salarias. Junto das expressões de greve de 1977/1978 reaparece o movimento sindical, menos sereno que em 1973, e mais autêntico do que nunca. Essa tendência mobilizou aquilo que chamamos de novo sindicalismo, agora ele é mentor da ação produtiva dos trabalhadores, ao qual, deve manter o compromisso de romper o laço entre poder político e movimento sindical. De fato, esse era o princípio de uma abertura à autonomia baseada na participação dos trabalhadores. O novo sindicalismo nascia do pátio da fábrica. Iasi (2012, p. 362) explica que a retomada da consciência trabalhadora partiu da própria materialidade das relações.

[...] Às vezes a realidade é didática. Ao encontrar a produção fabril capitalista como negação de seu ser (e isso só pode ocorrer na mediação particular e concreta da cotidianidade), uma negação particular pode se dar em movimento de generalização universal, na medida em que representa em sua particularidade o universal que se desenha em determinado momento histórico; no caso, o colapso da ditadura militar e seu modelo econômico.

Assim, as trajetórias que são particulares a cada indivíduo e são sentidas também de maneira subjetiva encontram-se fundidas a uma questão maior, “a impossível capacidade de vivenciar a impossibilidade”, assim como cita Iasi (2012). Portanto, é nesse momento que os trabalhadores se unem aos sindicatos. As razões pelas quais elevaram à luta dos trabalhadores à uma política, sobretudo, para a formação do PT, foram: o combate ao arrocho salarial e a superexploração do trabalho. O resultado das mediações do sindicato dos metalúrgicos nas greves de 1977/1978 era demonstrado pela classe trabalhadora como satisfatória.

A trajetória histórica do Partido dos Trabalhadores, o que inclui as mudanças de posicionamentos sobre a sociedade brasileira, até mesmo de suas posições programáticas e estratégicas, só pode ser corretamente compreendida se levarmos em conta as lutas de classes existentes na sociedade, que em última instância atravessaram o partido. Tais embates podem ser visualizados nas diferentes correntes e tendências políticas presentes aos debates, Encontros e Congressos.

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A ideologia petista já em sua Carta de Princípios (1979) é posta à frente dos demais partidos políticos da época. Compreendida por seus membros como algo inovador à realidade prática-social a tese “anticapitalista” é inserida no programa do jovem PT. Somada a teoria “anticapitalista” se funde o caráter classista1. O novo partido credita suas forças em um movimento inclinado sob o olhar dos trabalhadores, assim toda e quaisquer ação realizada para superação das condições impostas deveria ser provida pela participação decisiva dos trabalhadores no mundo real. A Carta de Princípios do PT (1979) contextualiza onde o partido pretendia chegar, parafraseando Marx, os petistas dirão: “O Partido dos Trabalhadores entende que a emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores”.

O caráter de classe ao qual o PT se refere em sua abertura não restringiu à participação do operariado rural, urbano, e demais classes de assalariados - desde que sejam parte do domínio dos explorados. A ideologia do Partido dos Trabalhadores em sua gênese contempla as necessidades do plano material daqueles trabalhadores que também são reais, os trabalhadores que se encontram alheios à sua espécie, acometidos por alienação, e que fundamentalmente buscam uma maneira de se livrar das relações pragmáticas capitalistas exploratórias. Ainda na Carta de Princípios do PT (1979) salienta-se o caráter de combate à exploração do homem pelo homem. O Partido afirma seu compromisso com as massas. Um governo exercido com participação direta do povo culminaria também em melhores condições de vida para o coletivo, portanto, o PT em sua gênese contava com uma visão que o aproximava de alternativas socialistas. Visão esta que será melhor delineada a partir de 1981 com o 1º Encontro Nacional, porém não exposta em seu Manifesto de Fundação de 1980.

1 Para Iasi (2012, p. 378): É diante da unidade dos patrões e seu poder político que os trabalhadores são levados à necessidade de unificação e de criação de um partido político. Tinha razão Lenin ao dizer que um dos elementos pedagógicos mais eficientes na criação de uma consciência de classe entre os trabalhadores é a polícia. A repressão ao movimento grevista de 1978/1979 foi essencial ao desenvolvimento da constatação da “necessidade objetiva”, nos termos da própria Carta de Princípios, de criação de uma organização política própria dos trabalhadores. É neste sentido que o caráter anticapitalista se fez acompanhar de uma outra característica inicial do partido que surgia: o caráter classista.

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Embora sejam inegáveis as evidências que comprovem tendências socialistas no interior do partido é certificado a contramão aspectos que levam o mesmo partido a uma tendência social-democrata principalmente a partir dos anos 90. O Partido dos Trabalhadores já no seu início contava no interior de seu programa com divergentes visões. Exatamente, aqueles que divergiam do pensamento ideológico petista seguiram sua formação política no MDB, e depois PMDB partido político assumidamente social-democrata. Ressalta-se que embora as condições acima citadas tivessem importância para o desenvolvimento do partido e para a construção de uma nova política, o PT tem como seu expoente principal as emergentes lutas sociais ampliadas pelo cenário contraventor a uma ditadura militar. O Manifesto de Fundação do Partido (IASI, 2012, p. 384 apud Manifesto de Fundação do Partido dos Trabalhadores 1980, p. 65) reitera o motivo pelo qual surge, e por âmago o que deve combater.

O Partido dos Trabalhadores nasce da vontade de independência política dos trabalhadores, já cansados de servir de massa de manobra para os políticos e os partidos comprometidos com a manutenção da economia, social e política. Nasce, portanto, da vontade de emancipação das massas populares. Os trabalhadores já sabem que a liberdade nunca foi e nunca será dada de presente, mas será obra de seu próprio esforço coletivo.

Retomando o processo de criação do PT (1980), outras questões tornam-se pautas do processo de emancipação do partido. O 1º Encontro Nacional de 1981 é um dos eventos que marcam a historicidade do PT, aqui, fora retomada com maior ênfase a meta socialista. Através do discurso de seu maior expoente, Lula, é possível observar que a criação do partido é fruto das lutas sociais e suas decisões não podem ser outras, senão, as da classe trabalhadora. No intuito de não só melhorar as relações entre capital e trabalho, o partido estabelece sua máxima, que é através da política proporcionar aos trabalhadores que seja possível a tomada dos meios de produção e de seu trabalho. Conforme Iasi (2012), o socialismo petista deveria ser construído no seio de sua sociedade, ou seja, nem burocrático, nem europeu, seria legítimo e fruto das lutas populares. Portanto, um socialismo à moda brasileira algo jamais escrito em toda a história.

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alçamento de uma vida política do PT, houve a apresentação da Plataforma Eleitoral Nacional e da Carta Eleitoral. As metas socialistas seguem sendo reafirmadas, e o partido declara não fazer coligação política. Assim como um alicerce é preciso distanciar o PT dos demais partidos políticos, nesse sentido, se afasta o risco de contaminação de diferentes ideologias. Em 1984 é realizado o 3º Encontro Nacional, o qual, revela a grande aceitação do partido entre a classe trabalhadora de todo o país. Agora, com um maior número de adeptos o partido direciona suas ações para a criação de um Regimento Interno. Ainda no mesmo evento são elencadas as diferenças entre governo versus chegada ao poder2, e acúmulo de forças3.

Destarte, que o Brasil a partir de 1985 vive um cenário conturbado pelos intensos entraves políticos. Os militares sofriam densamente com as investidas dos sindicalistas e da fortificação dos movimentos de base. Em uma perspectiva dialética, o movimento sindical de um lado lutava pelos direitos trabalhistas, e do outro tentava equilibrar as tentativas das fábricas de irromper com o país, conforme Antunes (1988). Um fato marcante a ser elencado sob este cenário é a greve da transnacional da GM em São Bernardo do Campo, a fábrica preferia abandonar sua sede de montagem a ceder às exigências dos trabalhadores. Em paralelo a tais acontecimentos, ainda havia o levante contra a prorrogação do mandato do presidente José Sarney. No tocante das políticas econômicas havia também um forte movimento de resistência contra o Fundo Monetário Internacional (FMI).

No ano de 1986 ocorre o 4º Encontro Nacional, diga-se de passagem, o mais incisivo no tratamento das metas socialistas as quais já pontuavam as discussões do partido desde o 1º Encontro (1981). Segundo Iasi (2012), esse evento marca uma análise profunda realizada pelo partido acerca do estágio de desenvolvimento do capitalismo brasileiro, sua estruturação de classes, concentração de renda, e a densa desigualdade entre as regiões brasileiras. É constatada tal conformação 2 Para Iasi (2012, p. 393), não há apenas uma diferenciação na forma conceitual dos termos, mas sim, na forma de aplicá-los. Assim, também se constitui uma diferença clara entre os métodos. Enquanto a chegada ao “poder” pode ser compreendida como um estado de posse, e que não necessariamente implica transformações. Chegar ao “governo”, na linguagem dos petistas, significa construir novas perspectivas e isso só pode ser possível com a participação decisiva dos trabalhadores.

3 O acúmulo de forças refere-se a uma política de crescimento. O acúmulo de forças deveria unir toda a classe trabalhadora em torno de um projeto histórico comum com vistas a construção de um socialismo.

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através do discurso dos petistas expresso nas linhas abaixo (Iasi 2012, p. 358 apud Resoluções do 4º Encontro Nacional 1986, p. 151):

Como conclusão desta análise é possível dizer que o capitalismo no Brasil se desenvolve de maneira desigual e subordinada ao imperialismo, com uma burguesia e um Estado burguês modernos, organizados e aparelhados em luta contra uma classe trabalhadora em diferentes graus de organização: a classe média, de contornos ambíguos e híbridos, semiorganizada, e o proletariado urbano e rural em crescente organização, embora ainda frágil4.

O 5º Encontro Nacional ocorre em dezembro de 1987. Esse evento marcou a preocupação dos petistas frente à organização de seu partido. Aqui, são criados alguns documentos que passam a delinear um melhor plano estratégico do PT, como: a Resolução sobre o Movimento Sindical, Resolução para os Movimentos Populares e a Resolução de Funcionamento do Partido. Numa perspectiva de equacionar os problemas internos e fundamentar o objeto de luta do partido, o PT começa a encontrar problemas naquilo que deveria ser entendido como sua máxima, o dever com o socialismo. Entre um socialismo ainda remoto no plano prático-ideológico versus um programa democrático popular, o partido encontrava-se em desequilíbrio. Para Iasi (2012, p. 442):

O 5º Encontro havia lançado as bases para uma estratégia em parte definida como identidade do partido perante forças externas, em parte acertando as contas internamente com os setores identificados como “vanguardistas”. O resultado geral é uma formulação que ficou conhecida como a metáfora da “pinça”, por analogia com as garras de um caranguejo: dada a correlação de forças e as condições gerais da conjuntura, assim como certo caráter do desenvolvimento do capitalismo no Brasil, não estariam colocadas para curto prazo mudanças revolucionárias. Seria necessário um longo processo de acúmulo de forças no qual seriam desenvolvidas duas ações fundamentais: uma ação de massas, principalmente fundada na construção da CUT “por meio de um movimento sindical classista” e dos movimentos populares; e a ocupação de espaços institucionais mediante disputa eleitoral.

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O 6º Encontro Nacional ocorreu em 1989, ano turbulento à conformação histórico-social do país dentre os acontecimentos, destacam-se: o insucesso da economia de capital, a ilegitimidade do governo Sarney, a execução do falho plano cruzado, e a insurgência da participação das massas no processo que culminaria na redemocratização do país. Conforme Iasi (2012), nesse momento, o posicionamento político da direita conservadora encontrava-se fragmentado após a queda do regime militar, e os partidos que já haviam construído sua plataforma política ainda não eram confiáveis aos eleitores, como é o caso do PSDB. Em tautocronismo, o movimento de esquerda se colocava num projeto concreto e ascendente à presidência (1990).

A eleição presidenciável tinha de um lado, Fernando Collor de Melo, governador do Estado de Alagoas, representante do bloco conservador. Do outro, Luís Inácio da Silva, o Lula, expoente do movimento sindicalista e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (1980). A base conservadora buscava através de suas ações formar novos eixos políticos, e, sobretudo, tentar manter-se em uma condição hegemônica como ocorreu na Ditadura Militar. Já, o Partido dos Trabalhadores apostava em uma candidatura que contava com o acúmulo de forças. O 7º Encontro Nacional de 1990 colocou o Partido dos Trabalhadores sob uma inflexão moderada, conforme Iasi (2012). Nesse sentido, há uma nítida mudança quanto à perspectiva apresentada no início da década de 1980. As metas socialistas que eram tomadas pelo partido como centro de um projeto tornam-se quase invisíveis. Levados pelo desmonte do bloco socialista combinado ao golpe sofrido no segundo turno das eleições presidenciáveis que levaram a derrota do petista, Lula, o PT torna-se alvo de questionamentos internos. Embora, o caráter anticapitalista ainda tenha o feito como revolucionário à estrutura nacional, o partido agora se encontrava inclinado pela busca a tendências socialdemocratas, como uma inversão de valores.

Conforme Iasi (2012), o discurso petista tornou-se gradualmente mais amoldado ao logo dos anos. A inflexão moderada do PT é um fato marcante e que prevalece até os dias atuais. Em suma, as premissas socialistas foram já ao fim da década de 1980 substituídas por plena democracia, que posteriormente foram adequadas a um projeto nacional desenvolvimentista. A tese anticapitalista do PT no

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governo FHC tornou-se antineoliberal. As estratégias dentro do partido com o passar dos anos demonstravam progressivamente uma alternativa para chegada ao poder, no entanto, pareciam colidir dialeticamente com os objetivos traçados na fundação do partido.

O PT nos anos 2000 decide criar uma base política de renovação, para isso houve uma rearticulação de três eixos importantes para o alçamento da vitória presidencial e a aplicação de políticas públicas no período pós vitória. Agora, nacional, social e democrático, o partido deveria buscar formas de unir a população em torno de um novo tipo de política, o de ampla inclusão social, mas como fazer isso? A partir do contrato social selado com a burguesia. O mesmo partido que se negava na década de 1980 a realizar alianças agora sela um pacto com a burguesia na tentativa de promoção do desenvolvimento.

O Projeto Político do PT pode não ser entendido por muitos que viveram o auge do partido, no entanto, deve ser considerado pela classe trabalhadora como uma espécie de fio condutor para um futuro melhor, especialmente, no governo de Lula (2003 -2011).

As propostas educacionais contempladas por esta análise compreendem os anos de 2013 a 2016, sob a jurisdição petista, o Vereador Carlos Mariucci se posicionou frente às propostas abordadas aqui como Vereador-Autor. Assim sob a Câmara Municipal de Maringá, do Estado do Paraná, serão elencados os Projetos de Lei, sob os números: 12.961/2013, 12.960/2013. Dos quais realizar-se-á uma abordagem mais detalhada abaixo, com referencial teórico apoiado sob a teoria marxista, em colaboração com teóricos que confluem as mesmas ideias, como: István Mészáros, em Educação para além do Capital; no trabalho realizado por Dermeval Saviani em Pedagogia Histórico-Crítica.

Comecemos nossa discussão com as palavras de Marx, em Teses sobre Feuerbach (1845, p. 100):

III

A doutrina materialista que pretende que os homens sejam produtos das circunstâncias e da educação, e que, consequentemente, homens transformados sejam produtos de outras circunstâncias e de uma educação modificada, esquece que são precisamente os homens que transformam as circunstâncias e que o próprio educador precisa ser educado. É

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por isso que ela tende inevitavelmente a dividir a sociedade em duas partes, uma das quais está acima da sociedade (por exemplo, em Robert Owen).

A coincidência da mudança das circunstâncias e da atividade humana ou automudança só pode ser considerada e compreendida racionalmente como práxis revolucionária.

O excerto acima trata da construção da dimensão cognitiva consciente elaborada sob um modelo de práxis que busca emancipar os seres humanos e sobretudo levá-los à fuga do sistema capitalista industrial por meio de uma ação coletiva que não poderia ser outra, senão, a capacidade revolucionária criada a partir da consciência de classe. As palavras de Marx (1845), denotam a educação como uma das partes da dimensão social, que se apresenta aos homens através de uma ação inclinada, e substancialmente não agrega mais-valia. A educação como uma esfera do trabalho não material, não pode ser separada da ideia de produto e produtor, porque, ambos acontecem no fluir da atividade. Segundo Saviani (1994, p. 12):

[...] É na segunda modalidade do trabalho não material que se situa a educação. Podemos, pois, afirmar que a natureza da educação se esclarece a partir daí. Exemplificando: se a educação não se reduz ao ensino, é certo, entretanto, que o ensino é educação e, como tal, participa da natureza própria do fenômeno educativo. Assim, a atividade de ensino, a aula, por exemplo, é alguma coisa que supõe, ao mesmo tempo, a presença do professor e a presença do aluno. Ou seja, o ato de dar aula é inseparável da produção desse ato e de seu consumo. A aula é, pois, produzida e consumida ao mesmo tempo (produzida pelo professor e consumida pelos alunos).

Assim, a educação como parte da organização social pode revelar tendências reificadas, passivas e acríticas. Nas palavras de Mészáros (2008, p. 45):

[...], fica bastante claro que a educação formal não é a força ideologicamente primária que consolida o sistema do capital; tampouco ela é capaz de, por si só, fornecer uma alternativa emancipadora radical. Uma das funções principais da educação formal nas nossas sociedades é produzir tanta conformidade ou “consenso” quanto for capaz, a partir de dentro e por meio dos seus próprios limites institucionalizados e legalmente sacionados. Esperar da sociedade mercantilizada

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uma sanção ativa – ou mesmo mera tolerância – de um mandato que estimule as instituições de educação formal a abraçar plenamente a grande tarefa histórica do nosso tempo, ou seja, a tarefa de romper com a lógica do capital no interesse da sobrevivência humana, seria um milagre monumental. É por isso que, também no âmbito educacional, as soluções “não podem ser formais; elas devem ser essenciais”. Em outras palavras, eles devem abarcar a totalidade das práticas educacionais da sociedade estabelecida.

Diante das considerações de Mészáros, não é possível pensar em uma educação emancipadora sob a égide do capital. Diante da correlação de forças, quais seriam as possibilidades de avanço de uma educação popular no quadro de uma educação mantida pelo município?

Nesses termos, o Projeto de Lei nº 12.960/2013 é uma típica ideia de reformulação da educação em prol do capital, e não um abalo que designaria uma mudança radical nas relações propostas no interior da escola. O Projeto institui o Dia dos Diretores e Diretoras da Escola da Rede Pública Municipal de Ensino, e conta com 5º Artigos dos quais tratam a comemoração da data sob a forma de eventos com integração ao calendário oficial do município na esfera educacional somado à entrega de diplomas de mérito em ato público.

É preciso compreender que a escola é por natureza o local onde é transmitido o saber sistematizado, nesse sentido, existe uma responsabilidade para com a socialização do saber, principalmente, para os filhos da classe trabalhadora que essencialmente necessitam daquela forma de cultura para ascender à participação política autônoma, consciente, crítica e livre. Claramente, a sociedade capitalista estabelece um contraponto a essa questão, quando educa os trabalhadores em doses homeopáticas, assim como afirma Saviani (2011). O tipo de educação que presenciamos dá ênfase a elaboração do saber, e não a produção do saber. Saviani explica a distinção entre os dois conceitos (2011, p. 67):

[...] A produção do saber é social, ocorre no interior das relações sociais. A elaboração do saber implica expressar de forma elaborada o saber que surge na prática social. Essa expressão elaborada supõe o domínio dos instrumentos de elaboração e sistematização. Daí a importância da escola: se a escola não permite o acesso a esses instrumentos, os trabalhadores ficam bloqueados e impedidos de ascender ao

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nível de elaboração do saber, embora continuem, pela sua atividade prática real, a contribuir para a produção do saber. O saber sistematizado continua a ser propriedade privada a serviço do grupo dominante.

Sabemos que Professores, Diretores, e Profissionais de educação precisam de uma melhor remuneração, um plano de carreira adequado, e sobretudo, de capacitação para o exercício da ação pedagógica, assim, propor uma comemoração anual aos profissionais é uma ideia reformista que em nada acrescenta à mudança consciente, mas sim, funciona de maneira inversa quando legitima o princípio de mérito em uma sociedade altamente desigual. É preciso transformar verdadeiramente a ação da escola e da sociedade, já que uma depende da outra, o processo de internalização dessa ideia só pode acontecer pela via do conhecimento, ou seja, pelo domínio. Portanto, elencar uma data comemorativa dentro do calendário curricular educacional significa priorizar ações secundárias em detrimento de ações essenciais, que no caso trata-se da transmissão do conhecimento sistematizado. É preciso romper com a lógica do capital. Mesmo que pareça democrática, a proposta é cultivada sob o enfoque reformista.

Já o Projeto de Lei nº 12.961/2013 dispõe sobre a instituição do Serviço Social Escolar em escolas municipais e particulares, entidades filantrópicas, organizações da sociedade civil de interesse público – OSCIPS, organizações não governamentais – ONGS, fundações e afins, cuja atividade principal seja o provimento da educação. Encontram-se dispostos 5 Artigos no decorrer da proposta, dos quais, competem a escola o levantamento de dados sobre a natureza socioeconômica e familiar da comunidade estudantil, criação e inserção da escola em outros programas de proteção social ampla do município, executar sempre que possível visitas domiciliares aos estudantes na tentativa de conhecer melhor sua realidade. Assim, como já mencionamos esse tipo de proposta acaba por descaracterizar a função da escola, e fundamentalmente cai em uma perspectiva voluntarista. Ainda que se pareça democrática, a proposta promove a segregação ao caracterizar socioeconomicamente seu público. É preciso compreender que esta tentativa de democracia acontece de uma maneira mais opressiva do que igualitária na prática. Para Mészáros (2008) as estratégias reformistas não só defendem o

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capitalismo, mas representam a face mistificadora dos discursos dos ideólogos que essencialmente sobrepõe as manifestações graduais à profunda libertação do capitalismo. Assim, como se realizasse a remoção de problemas específicos de maneira fragmentada sem desnaturalizar a condição econômica.

Considerações Finais

Compreendemos que a natureza da educação passa pela compreensão da natureza humana, nesse sentido, a fenomenologia que cerca a especificidade do ser individual é colocada diretamente em exposição na relação que se tem com os meios de produção. Se o homem quando estabelece relação com a natureza desenvolve sua intersubjetividade, posteriormente, é na relação com os demais mediada pelo trabalho que surge, com efeito, a interpretação de mundo. O bojo das relações históricas determina tendências a serem adotadas pelo âmbito educacional.

O cenário neoliberal, o qual, vivenciamos evidencia a consolidação de um sistema conservador burguês que automaticamente se imposta aos trabalhadores como caráter homogêneo na tentativa de diluir à luta de classes e a capacidade de enfrentamento. Se para a burguesia é possível que se tenha outras formas de educação que não as de natureza pública, já o proletariado possui uma condição de dependência com essa mesma educação. Assim os filhos da classe trabalhadora sentem na pele o desmantelamento da escola pública e o esvaziamento de sua função social: a aprendizagem. Nesse contexto, os interesses da classe dominante não só definem a ideia de civilização, mas igualmente os meios de produção intelectual, assim como afirma Schlesener (2015).

Como resultado deste trabalho devemos destacar que o Partido dos Trabalhadores no Município de Maringá de 2013 a 2016, sob a base dos estudos realizados, não pretendia construir teses que rompessem com a ordem capitalista. É importante salientar que o Partido nas eleições municipais do ano de 2012 só conseguiu eleger 3 membros dentre as 15 cadeiras, sendo um deles autor das propostas analisadas.

Maringá é uma cidade que entre os anos de 1991 a 2010 demonstrou uma queda considerável no número de pessoas pobres. A pesquisa realizada pelo IPEA, PNUD e FJP considera que a renda, a pobreza e a desigualdade no município

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correspondem a: 1,32% de pessoas em situação de extrema pobreza em 1991 para 0,29 em 2010, já as pessoas pobres correspondem a 9,24% em 1991 para 1,39% em 2010. Já o índice de Gini, instrumento que contabiliza o grau de concentração de renda sendo que 0 representa a situação total de igualdade e 1 representa o maior índice de desigualdade de renda, apresenta 0,51% em 1991 para 0,49% em 2010.

Podemos observar que embora as taxas evidenciem a queda do número de pessoas pobres e extremamente pobres no município, o índice Gini demonstra um percentual de mudança pequeno, levamos a considerar então que essa mudança não chegou aos que mais precisam, àqueles que possuem concentração de renda continuam com o passar dos anos tendo-a, nesse sentido, o poder de capital durante todo esse tempo não mudou de mãos. Nesse sentido, a desigualdade social torna-se um espectro que ronda à cidade, se os pobres são o menor número, quais grupos fazem parte da classe média e alta? E quanto totalizam de riqueza? Qual o impacto desse tipo de configuração social na elaboração de políticas públicas na cidade? Acreditamos que esse modelo de sociedade emprega fatores importantes para o realinhamento do conformismo e a naturalização da ideologia burguesa entre a classe trabalhadora. Nós, os marxistas, acreditamos que o conhecimento pode se tornar uma força material revolucionária, no sentido, em que eleva as capacidades do indivíduo como um todo. É na aproximação de um projeto que viabilize educação e trabalho, sem separá-los, que dedicamos nossos esforços.

REFERÊNCIAS

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: aproximações / Dermeval Saviani – 11. ed. rev. – Campinas, SP: Autores Associados, 2011. – (Coleção educação contemporânea)

ANTUNES, Ricardo. A rebeldia do trabalho: o confronto operário no ABC paulista: as greves de 1978-1980 / Ricardo Antunes. – São Paulo: Ensaio: Campinas, SP: Editora da

Universidade Estadual de Campinas, 1988.

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital / István Mészáros; [tradução Isa Tavares]. – 2. Ed. – São Paulo: Boitempo, 2008. – (Mundo do trabalho)

IASI, Mauro L. As metamorfoses da consciência de classe (o PT entre a negação e o consentimento) / Mauro Luis Iasi – 2.ed. – São Paulo: Expressão Popular, 2012.

IASI, Mauro. L. Processo de consciência/ Mauro Luis lasi. São Paulo: CPV, 1999. SCHLESENER, Anita H. Marx e a Educação: Observações acerca de A IDEOLOGIA

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Salvador, v.7, n.2, p.163-175, dez. 2015.

HADDAD, Fernando. Trabalho e classes sociais. Tempo Social Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 9(2): 9

ZANETTI, Lorenzo. O “novo” sindicalismo brasileiro: características, impasses

e desafios. 1993. Tese (Mestrado) – Fundação Getúlio Vargas, Instituto de Estudos

Avançados em Educação. Rio de Janeiro, 1993.

Disponível em: https// <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/maringa_pr> Acesso em: 21 de março de 2019.

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XV ERIC – (ISSN 2526-4230)

50 ANOS EM 5: A SAÚDE NO GOVERNO DE JK (1956-1960)

Jaqueline Paggi Dias Orientador: Prof. Dr. Bruno Sanches Mariante da Silva Comunicação Oral

Introdução

Historicamente, a saúde brasileira não foi muito organizada desde seus primórdios. Anteriormente à vinda da família real portuguesa, a saúde resumia-se aos médicos de família, pessoas de elite que atendiam outros membros da elite.

A partir da chegada da família real, começaram as primeiras medidas acerca da saúde pública como habilitar e fiscalizar o registro de quem se dedicava ao exercício de cura, além de fiscalizar navios para impedir a chegada de novas doenças.

Com a independência, essas tarefas ficaram com os municípios que realizavam a vacinação antivariólica nos períodos de epidemia, controlavam os escravos doentes e expulsavam os que eram livres, mas contraíam a doença e purificavam o ambiente. Nesse período, também, surgem as primeiras faculdades e agremiações médicas.

A Junta Central de Higiene Pública é criada (sec. XIX), uma espécie de ministério, a qual cabia as seguintes ações: coordenação de atividades políticas sanitárias, vacinação antivariólica, fiscalização do exercício da medicina, inspetoria de saúde nos portos que eram as principais entradas do país. A atuação do Estado ficava em internar doentes graves nos lazarentos (expressão não mais utilizada) e enfermarias e internar loucos no hospício criado pelo imperador.

O Ministério da Saúde brasileira acabou desenvolvendo-se de forma súbita e de acordo com as necessidades, levando em conta que foi separado do ministério da educação e a pasta foi inflada com tarefas que não pertenciam a ela.

O presente estudo visa analisar a saúde pública brasileira no período do governo de Juscelino Kubitschek, que ocorreu entre 1956 e 1961. A pesquisa foi baseada no jornal “Correio da Manhã” do Rio de Janeiro que, historicamente, foi oposição a todos os presidentes do país e, com JK, não foi diferente. Fazendo duras críticas sobre a saúde e o Ministério visto como ‘mal governado’ pelo primeiro ministro da saúde do governo, Mauricio Medeiros.

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Desenvolvimento

O médico mineiro Juscelino Kubistchek de Oliveira tomou posse como 21º Presidente do Brasil em 31 de janeiro de 1956, depois de ter sido Prefeito de Belo Horizonte (1940-1945); Deputado Federal por Minas Gerais (1946-1951) e Governador de Minas Gerais (1951-1955). JK assumiu o posto mais elevado da política nacional após o suicídio de Getúlio Vargas em um período de grande instabilidade política, no qual o Brasil teve três presidentes em um ano e meio. Ele levaria ao cenário nacional seu modo de governo – que já havia realizado em Minas Gerais –, isto é uma administração caracterizada pela defesa do desenvolvimento nacional, por meio da modernização industrial e da integração do território brasileiro. O plano de governo de JK ficou conhecido como “50 anos em 5”, isto é, fazer o Brasil crescer 50 anos em apenas 5 anos de mandato. Seu “Programa de Metas” estava dividido em 30 metas, arranjadas entre setores da energia (metas 1 a 5), transporte (metas 6 a 12), alimentação (metas 13 a 18), indústria de base (metas 19 a 29) e educação (meta 30). E, por fim, havia a meta-síntese, de número 31: a construção de uma nova capital para o Brasil, em meio ao Planalto Central. As questões econômicas do plano de JK já foram bastante exploradas pela historiografia, cabendo ao escopo deste trabalho um olhar mais atento às questões que dizem respeito à saúde e assistência.

A saúde não fazia, de modo explícito, parte do Programa de Metas de JK, mas, segundo Renato da Silva (2008), ela estaria implicitamente em todo o projeto de desenvolvimento do governo. Esta posição seria assumida em alguns discursos de Juscelino, quando ele afirmara que não haveria progresso econômico enquanto as doenças de massa acometiam as classes trabalhadoras (SILVA, 2008). Ficou a cargo do médico sanitarista, Mario Pinotti, então diretor do Serviço Nacional de Malária, o desenvolvimento da proposta de governo para a saúde do candidato à Presidência da República, Juscelino Kubitschek.

Seu programa de governo dava voz a uma nova e entusiástica condição de ser brasileiro que poderia contribuir para reparar as injustiças de uma herança histórica de miséria e desigualdades profundas e serviria para abrir as portas da modernidade. A chave para construir esse novo país chamava-se

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“desenvolvimentismo” e defendia a ideia de que nossa sociedade, defasada e dependente dos países mais avançados, repartia-se em duas: uma parte do Brasil ainda era atrasada e tradicional; a outra já seria moderna e estava em franco desenvolvimento. Ambas, o centro e a periferia, conviveriam no mesmo país, e essa era uma dualidade que se devia resolver pela industrialização e pela urbanização. (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p.417)

Elegendo Juscelino Kubitscheck, o Brasil elegia também o seu modo de governo. JK era muito simpatizante do ‘desenvolvimentismo’ que consistia em desenvolver o país economicamente baseado na indústria a fim de que o país superasse sua condição de subdesenvolvimento. Na área da saúde, o desenvolvimentismo fica evidente pela quantidade de ações contra doenças que deixavam o cidadão incapaz de trabalhar e, consequentemente, incapaz de cooperar para o desenvolvimento econômico do país. No plano de metas de JK não existia um projeto muito claro para a saúde. Mas suas ideias ficavam implícitas já que “a saúde do brasileiro era entendida em sua relação com trabalho e produtividade. ” (MUNIZ, 2013, p.29).

Quando chegou ao Ministério, Maurício Medeiros encontrou uma certa desorganização. Ele levou cerca de quinze dias para fazer um levantamento sobre as verbas e seus destinos e só a partir de então começar a trabalhar, enfrentando dificuldades e mesmo assim o ministério começava já a alcançar alguns êxitos. Existia uma grande eficácia na melhoria das condições de saúde da população e, no panorama sanitário, grandes feitos aconteceram como a extinção da malária. A febre amarela também estava praticamente erradicada. Já a mortalidade infantil, teve uma queda considerável com a criação dos postos de puericultura e profissionais melhor capacitados que baixaram a mortalidade da primeira infância.

A cerca da lepra, Medeiros deixava bem claro que além de ser um grande problema, ela era ainda vergonhosa pois a cura nas formas iniciais eram feitas através do uso de sulfonas e a BCG (usada até os dias atuais) imunizaria as demais pessoas da sociedade.

Em declaração ao jornal Correio da Manhã (RJ) sobre os recursos do Ministério, o ministro mostra que o campo de atividade é imenso e por isso a necessidade de um orçamento alto, mas não acha ruim que isso aconteça “[...] aquilo que se gastar hoje em defesa da saúde das populações ganhar-se-á no futuro pelo rendimento do

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trabalho de uma população livre dos males que hoje a definham. ” (Correio da manhã, ed.19297, 1956 p. 7).

Existia um outro problema que atacava a saúde da população que deveria ser erradicado: as endemias rurais. Em 1956, o senado aprovou o projeto que criou o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu) cujo objetivo era organizar e executar serviços de investigação e combate a doenças como a malária e a bouba. Em setembro de 1956, é inaugurado em Belo Horizonte (MG) o Instituto de Endemias Rurais. O instituto passa a existir para estudo e pesquisa das doenças de massa. Segundo Pinotti, em esclarecimento à imprensa, este não era mais um instituto comum, mas sim uma instituição representada por unidades em todo o país. Que seriam aumentados ainda mais conforme as necessidades. (Correio da Manhã, 1956, ed. 19483, p. 2).

Além de estudos e pesquisas, o instituto teve cursos de endemias rurais que, ainda segundo Pinotti, precisava formar médicos polivalentes, médicos que sabiam mais que a profilaxia da doença em questão. Os médicos do DNERu deveriam conhecer além da profilaxia, a terapêutica da doença. Ou melhor, de treze doenças que acometiam a população: malária, doença de chagas, leishmaniose, peste brucelose, bouba, febre amarela, tracoma, esquistossomose, filariose, ancilostomose, hidatidose, e bócio endêmico. (Correio da Manhã, 1956, ed. 19483, p. 2).

Pelo nome é possível compreender que as doenças aconteciam apenas na zona rural, mas de antemão, na lei de criação do departamento já está especificado que o DNERu deveria combater as doenças em todo o território nacional quando houvesse necessidade. Além disso, os combates contra a malária, peste e febre amarela passam a fazer parte da pasta.

Um programa do governo que também chamou muita atenção foi uma aliança entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Aeronáutica, o chamado Serviço Sanitário Volante que consistia em fazer o caminho inverso: levar o médico até o paciente até as regiões mais longes e isoladas do país. Para isso, ficavam à disposição do serviço três aviões do Correio Aéreo Nacional para o cumprimento da tarefa. A assistência médica começaria a chegar a doentes terminais que exigiria a necessidade de médicos especializados. Ofereceria vacinas e assistência permanente à população.

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Em outra amostra do seu desenvolvimentismo, JK analisou que a maior parte das vilas, aldeias e cidadezinhas do interior não tinham exigências econômicas mínimas para manter um médico, um dentista, um laboratório e um raio-x. Para desfazer essa falha, criaram-se os Comandos Sanitários Aéreos. Os comandos consistiam em colocar em um avião tudo que faltava nos lugares menos favorecidos e levar até eles. Levando assistência médico-dentária, cadastro torácico e vacinando em massa os habitantes locais contra as endemias que mais acometem sua saúde de acordo com as incidências. Vale ressaltar que este serviço ia até as regiões mais remotas desde que possuíssem campos de pouso.

JK aprovou um orçamento de 308 milhões de cruzeiros ao DNERu para uma intensa campanha de combate à malária, doença de chagas, filariose, esquistossomose, peste, tracoma, febre amarela, bouba, ancilostomose, hidatidose, leishmaniose e bacio endêmico. Dos 308 milhões, 100 foram para a campanha da malária e outros 100 para a esquistossomose. O restante foi dividido entre as outras doenças citadas. Segundo Mario Pinotti, diretor do DNERu, todas as endemias eram graves e necessitam de controle e redução. (Correio da Manhã, 1956, ed. 19352, p. 10)

Os objetivos das campanhas foram traçados pelo próprio presidente da república e planejado pelo ministro da saúde, Mauricio Medeiros. O objetivo mais ousado era o de erradicar a malária, que segundo Pinotti não era um mal que preocupava muito. Mas a necessidade de verba alta era justamente para erradicação. E, deixando ainda mais clara sua simpatia com o desenvolvimentismo, também a linha de JK, Pinotti diz que em cinco anos de trabalhos muito intensos, podiam e deviam solucionar alguns problemas endêmicos e controlar outros. (Correio da Manhã, 1956, ed. 19358, p. 3)

Em uma aula inaugural no Centro de Pesquisas Biológicas, no Clube de Engenharia da cidade do Rio de Janeiro, Mario Pinotti relatou a todos os presentes o êxito sobre a malária no sul do Brasil. O transmissor da doença tem costumes parecidos em todas as regiões com exceção do transmissor sulista. (Correio da Manhã, 1956, ed. 19361, p. 2)

O Kerstesia, transmissor da malária, em geral costuma por suas larvas em águas terrestres, estagnadas ou de fraca correnteza, porém no Sul, fazia o contrário, depositava suas larvas nos gravatás, muito frequentes nas florestas sulistas. O

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gravatá, geralmente, floria no alto das arvores e isso resultou na modificação de métodos de combate ao transmissor. A primeira tentativa foi a de destruir os gravatás manualmente, incinerando as plantas aos montes, mas o método se mostrou arriscado e foi substituído pelo desmatamento acompanhado de replantio que também não deu certo. Finalmente, utilizou-se o lançamento de herbicidas por meio de aviões e bombas propulsoras. Fazendo assim, um milhão de habitantes se viu livre da malária.

O presidente JK sancionou lei para abrir ao Ministério da Saúde um crédito de 2,5 milhões de cruzeiros para os trabalhos de pesquisa do art. 3º, §§ 1º e 2º da lei 1944/1953 que obriga a iodar do sal de cozinha nas regiões bocígenas (que produz bócio). A área ganhava status de região bocígena era necessária a endemia superior a 15% de meninos contaminados e 25% de meninas. O bócio endêmico é uma doença que se deve à falta ou insuficiência de iodo alimentar, constituía uma das maiores endemias brasileiras principalmente nos estados do Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Maranhão.

Em meados de janeiro de 1957, começa a produção de sal iodado, que se destina ao combate do bócio endêmico. De acordo com a legislação aprovada em agosto do ano que passou, 1956, o sal iodado passou a ser obrigatório. Todas as refinarias do Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro só poderão entregar sal para o consumo humano devidamente iodado.

Em um simpósio em outubro de 1958, o ministro da saúde Mario Pinotti, disse que antes da campanha contra o bócio endêmico começar, em 1956, chegava a 12 bilhões o número de pessoas com a doença. A incidência da doença era maior nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste que tinha cerca de 60% de toda a população do país. A ocorrência nessas regiões chegava, anteriormente ao início da campanha do sal iodado, a 35% das pessoas em idade escolar de ambos os sexos. Ele ainda identificou que o bócio caracterizava um problema de saúde pública importante e por isso era essencial fazer uma campanha contra a endemia com o sal iodado, campanha que já conseguiu atingir cerca de 62% da população exatamente nas áreas de mais incidência. (Correio da Manhã, 1958, ed. 20108, p. 12).

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Ainda no simpósio, disse com alegria, que já existia uma melhora na incidência da doença. No início da campanha foi registrado cerca de 21,5% das pessoas em idade escolar e após 18 meses da introdução do sal iodado esse percentual caiu para 10%, mostrando a indiscutível eficácia da campanha. (Correio da Manhã, 1958, ed. 20108, p. 12).

Em entrevista à Voz do Brasil, em 22 de maio de 1956, o ministro Medeiros disse que pretende seguir na política adotada pelo ministério que é multiplicar pela extensão territorial do Brasil os postos de saúde e de puericultura. Além disso, contratar aos poucos médicos para o interior fixando um salário mínimo com a obrigação do profissional fixar residência na cidade para onde for. (Correio da Manhã, 1956, ed. 19372, p. 2).

O sr. Erlindo Salzano, então diretor do Departamento Nacional de Saúde expôs no jornal Correio da Manhã (RJ), em 27 de novembro de 1956, que existiam cerca de 720 cidades sem assistência médica e que só em Minas Gerais haviam cerca de 200 delas. Ele ainda propôs uma ajuda ao Ministério da Saúde, que consistia em 10 mil cruzeiros e mais 10 mil em médicos e medicamentos. (Correio da Manhã, 1956, ed. 19533, p. 4).

No fim de 1957, foi aprovada uma verba de 50 milhões de cruzeiros para mandar um médico para cada município desprovido de tal profissional. O programa entraria em vigor já no início de 1958. (Correio da Manhã, 1957, ed. 19838, p. 1).

Maurício Medeiros, em entrevista à Voz do Brasil, em maio de 1956, deixou ainda um fio de esperança ao dizer que até o fim do governo JK a bouba e o tracoma poderiam não ser mais um grave problema de saúde pública e, ao mesmo tempo, o ataque a esquistossomose que era de difícil erradicação, além da doença de chagas e o bócio que enfraquecia a população. (Correio da Manhã, 1956, ed. 19372, p. 2). Em janeiro de 1957, o presidente da república autorizou o ministério da fazenda a conceder 30 milhões de cruzeiros para a continuidade dos trabalhos de profilaxia e combate a diversas doenças. A medida objetiva era o não colapso nas atividades importantes do DNERu, deixando em destaque a malária, a bouba, a esquistossomose e o tracoma.

Essas doenças não podiam sofrer nenhuma queda na intensidade de seu combate sem que isso gerasse grandiosos riscos para as regiões atingidas e sem dar

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prejuízos, daí a necessidade do investimento. Dos 30 milhões, 10 seriam destinados para a malária, 8 para a esquistossomose, outros 5 para a bouba e os 7 restantes para o tracoma.

A campanha de combate a bouba se intensificou em Minas Gerais, por meio do DNERu. O tratamento foi feito com rigoroso cadastro predial e de censo populacional de casa em casa, doente em doente.

Até o fim de março de 1957 o programa contra a bouba apresentou os seguintes dados: 96.789 prédios cadastrados, 440.824 pessoas examinadas, 234.713 pacientes medicados destes 124.377 doentes e 110.336 contados, apenas em Minas Gerais. Em todo o país eram 920.667 prédios cadastrados, 3.769.209 pacientes examinados e 599.500 medicados. (Correio da Manhã, 1957, ed.19683, p. 4).

O Serviço Sanitário Volante, também chamado de Unidade Sanitária Aérea, realizou no ano de 1956 quatro viagens visitando 8 localidades, algumas das regiões nunca tinham tido a presença de um médico. Em 104 dias de serviço efetivo, foram prestados seis serviços para as populações visitadas: cadastro torácico, vacinação BCG, antivariólica, antiamarílica, exames diversos, assistência dentaria e ocular. Os Serviços de Unidades Sanitárias Aéreas (SUSA) em quase dois anos de existência, o atendimento geral chega a 220 mil pessoas nas regiões mais diversas do país e de fato tem levou notório serviço a todos. Esse serviço ainda conseguiu constatar o problema da bouba em mais de uma dezena de estados do país. Através das unidades volantes as pessoas conseguem informações acerca da doença, medicação e tratamento. Por ter sido encontrada em muitos lugares o DNERu teve interesse em intensificar o combate a esta endemia o que é feito através da penicilina. Os médicos precisam passar de casa em casa para fazer a procura dos doentes, essas medidas deram muitos resultados com curas em larga escala. (Correio da Manhã, 1958, ed. 19969, p. 38).

No cadastro em andamento no ano de 1958, 500 mil pessoas estavam cadastradas como recebendo tratamento; 1.280.000 de casas foram visitadas e 6,5 milhões de pessoas examinadas. Segundo Pinotti, nos 12 anos anteriores a 1958 apenas 60 mil enfermos haviam sido assistidos em todo território nacional. (Correio da Manhã, 1958, ed. 19969, p. 38).

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O Ministério da Saúde em convênio com a administração de cooperação internacional (EUA) travou uma guerra contra a malária que iria durar, mais ou menos, sete anos. Uma das armas a serem utilizadas pelo DNERu e o Dr. Mario Pinotti era o sal cloroquinado que foi mandado para a Amazônia nos estados do Amazonas, Pará, Rondônia e pela região do Rio Branco. (Correio da Manhã, 1958, ed. 19901, p. 2).

A partir do meio do ano de 1958, as populações passaram a ingerir 30mg por dia de cloroquina que impediria o parasita da malária no sangue das pessoas. Segundo Pinotti, os parasitas alojados não sobreviviam mais que quatro anos e com o uso do sal por esse espaço de tempo, a malária será extinta da região amazônica e no restante das regiões do brasil a erradicação seria feita por inseticidas. (Correio da Manhã, 1958, ed. 19901, p. 2)

O diretor do Instituto Brasileiro de Sal, sr. Dioclécio Duarte, retornou de viagem de inspeção na Amazônia, em agosto de 1960 e informou que o sal cloroquinado obteve uma ótima aceitação haja vista que a população foi esclarecida a respeito por órgãos de divulgação e pelo rádio. (Correio da manhã, 1960, ed. 20684, p. 4).

Segundo Pinotti, o Brasil tinha o maior programa de controle de malária das américas e um dos maiores do mundo e os esforços estavam sendo compensados pois em 1940 com a população de 40 milhões de habitantes ao menos 8 milhões estavam infectados. Já em 1958, com 60 milhões de habitantes estimava-se que 200 mil habitantes estariam infectados. (Correio da Manhã, 1958, ed. 19901, p. 14). O Brasil não estava sozinho na luta contra a malária, a erradicação da malária nas américas fazia parte dos programas da Organização Mundial da Saúde, do Ponto IV e da Oficina Sanitária Pan – Americana. Os governos americanos trabalham em conjunto para fazerem uma junção de informações, técnicos e recursos pois a malária ainda amedrontava países como EUA e Uruguai que já a tinham erradicado. O Ponto IV entregou a Pinotti mais 500 mil dólares, a contribuição americana para a erradicação da malária no brasil. O tamanho do país é mais um obstáculo para a erradicação. (Correio da Manhã, 1958, ed. 19901, p. 14).

Em outro acordo o Ministério da Saúde, juntamente com a superintendência do plano de valorização econômica da Amazônia, firmou um convênio para o combate de todos os males endêmicos que atacavam a população rural. A divisão da verba

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se fará com um planejamento do Ministério da Saúde, visando o combate de 7 doenças: malária, filariose, doença de chagas, esquistossomose, ancilostomose, oxiurose e bouba. (Correio da Manhã, 1958, ed. 19944, p. 7).

A aliança Brasil – Estados Unidos na erradicação de doenças continuou firme em 1959. O governo estadunidense, por meio do antes chamado Ponto IV e em 1959 chamado de International Cooperation Administration, liberou ao Brasil 2 milhões de dólares para a campanha de erradicação da malária. A verba seria destinada para aquisição de veículos, quimioterápicos, inseticidas e outros materiais dos mais variados tipos a fim de que a campanha tivesse execução integral no ano de 1959. (Correio da Manhã, 1959, ed. 20222, p. 3).

“Estou absolutamente certo de que, com a ajuda financeira do Ponto IV, dentro de sete anos teremos erradicado por completo a malária em território brasileiro. ” Essa declaração foi do então ministro Mario Pinotti durante a assinatura da renovação do convênio com o Ponto IV para a erradicação da malária. Para a campanha de 1960 a contribuição foi de 400 milhões de cruzeiros do Brasil e 4 milhões de dólares por parte dos EUA. (Correio da Manhã, 1960, ed. 20491, p. 2).

O estado de São Paulo fechou, no ano de 1958, convênios importantes com o Ponto IV e a Repartição Sanitária Pan-Americana para o combate da malária em seu território. Ao estado cabia as obrigações de tratar do problema, avaliar resultados obtidos, estabelecer um sistema de vigilância para que os resultados fossem consolidados e ainda prever a ocorrência de novos casos, para isso precisava capacitar pessoal, técnicos e auxiliares com os métodos mais modernos de combate à malária. A São Paulo ainda cabia a erradicação completa da doença em no máximo quatro anos, precisava vigiar e prevenir a reinfestação de vetores. (Correio da Manhã, 1958, ed. 20006, p. 14).

O ministro da saúde, Mauricio Medeiros, não representava mais a bancada do PSP, partido que o colocou no Ministério e por estarem descontentes, houve a decisão de trocar o ministro. Os primeiros nomes a aparecerem para a substituição foram: Benjamin Farah, Mário Pinotti, Erlindo Salzano e Mourão Filho, os três primeiros médicos e o último militar.

No dia 04 de julho de 1958 o Dr. Mario Pinotti foi empossado como novo Ministro da Saúde. Após muitos esforços de Mauricio Medeiros em sua competência absoluta,

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