• Nenhum resultado encontrado

Felicidade, políticas públicas e choques positivos de renda : uma abordagem econômica

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Felicidade, políticas públicas e choques positivos de renda : uma abordagem econômica"

Copied!
104
0
0

Texto

(1)

ALEXANDRE PAIVA DAMASCENO

FELICIDADE, POLÍTICAS PÚBLICAS E CHOQUES POSITIVOS DE RENDA: UMA ABORDAGEM ECONÔMICA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Economia de

Empresas da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do Título de Doutor em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Adolfo Sachsida

(2)

D155a Damasceno, Alexandre Paiva

Felicidade, políticas públicas e choques positivos de renda: uma abordagem econômica / Alexandre Paiva Damasceno, 2009.

104 f.: il.; 30 cm

Tese (doutorado) – Universidade Católica de Brasília, 2009. Orientação: Adolfo Sachsida

1. Economia - Felicidade. 2. Qualidade de vida – políticas públicas – Distrito Federal. 3. Renda – Felicidade. I. Sachsida, Adolfo, orient. III.Título.

CDU 33:17.023.34

(3)

Tese de autoria de Alexandre Paiva Damasceno, intitulada “FELICIDADE, POLÍTICAS PÚBLICAS E CHOQUES POSITIVOS DE RENDA: UMA ABORDAGEM ECONÔMICA”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Economia de Empresas da Universidade Católica de Brasília, em 15/12/2009, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

Prof. Dr. Adolfo Sachsida Orientador

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Economia - UCB

Prof. Dr. Alexandre Xavier Ywata Carvalho Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas - IPEA

Prof. Dr. Roberto Ellery

Departamento de Economia da Universidade de Brasília - UNB

Prof. Dr. Rogério Boueri Miranda

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Economia - UCB

Prof. Dr. Tito Belchior S. Moreira

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Economia - UCB

(4)
(5)

AGRADECIMENTOS

A conclusão desta Tese de Doutorado marca o fechamento de mais uma importante etapa de meu crescimento profissional e acadêmico, que não poderia ter sido alcançada sem a orientação, colaboração e compreensão de meus ilustres professores, colegas de curso e familiares. Vencido um período de trabalho tão intenso, mais do que comemorar essa conquista, faz-se necessário o reconhecimento de todo o apoio recebido, o que me leva a externar sinceros agradecimentos a todos os que contribuíram, de modo direto ou indireto, para que os objetivos deste trabalho fossem atingido.

Minha gratidão a Deus, por tantas bênçãos e graças recebidas ao longo da vida, e, de modo especial, neste ano – em que sua presença se fez ainda mais evidente na superação de problema de saúde de extrema gravidade enfrentado em minha família.

Meus agradecimentos a minhas filhas, minha mulher, meus pais, irmãos, sobrinho e demais familiares, que, com seu carinho, atenção e compreensão, me deram a força necessária à superação das dificuldades associadas ao cumprimento de um desafio pessoal deste porte.

Agradecimentos sinceros ao meu orientador, Prof. Dr. Adolfo Sachsida, mestre de incontestáveis competência, seriedade, dedicação e compromisso, sem o quê jamais teria sido possível - em tão curto espaço de tempo e com tão significativos resultados - desenvolver a investigação que deu origem a esta Tese.

Aos demais ilustres Professores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Economia de Empresas da Universidade Católica de Brasília e aos Professores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da mesma IES, por

todos os ensinamentos, trocas de experiências e incentivos que deles recebi.

A todos os colegas de turma, de modo especial à amiga Cynthia Alexandra, pela convivência amiga, enriquecedora e produtiva que tivemos ao longo de tantos semestres.

(6)

“Para a nossa avareza, o muito é pouco; para a nossa necessidade, o pouco é muito.”

(7)

RESUMO

Referência: DAMASCENO, Alexandre, P. Felicidade, Políticas Públicas e Choques

Positivos de Renda: uma abordagem econômica. 2009. 114 páginas. Tese de Doutorado

apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Economia de Empresas da

Universidade Católica de Brasília, Brasília – DF, 2009.

Por representar o próprio objetivo da vida para a maioria das pessoas, a felicidade representa um dos objetos de maior interesse para a humanidade. Nos últimos anos, muitas ciências tem se dedicado a seu estudo, procurando identificar os elementos subjetivos determinantes do menor ou maior grau de felicidade das pessoas, medir sua real influência sobre a felicidade humana, conhecer a forma como os mesmos se correlacionam e os impactos que podem causar sobre a vida de cada um. No caso da economia, o grande número de pesquisas associadas à felicidade, desenvolvidas na última década, gerou o crescimento da literatura e dos bancos de dados disponíveis associados à satisfação e felicidade dos indivíduos, ampliando as fronteiras do conhecimento na área. Muitos avanços já ocorreram e muitos resultados importantes foram obtidos, entretanto, muito ainda precisa ser feito para preencher as grandes lacunas ainda existentes nessa área, especialmente porque, na maioria dos países, nenhum esforço significativo vem sendo feito nesse sentido. Nesse contexto, este trabalho foi elaborado com fim específico de desenvolver um estudo no âmbito do Distrito Federal, tendo como objeto central de pesquisa o nível de felicidade declarado pelas pessoas entrevistadas, que foi avaliado sob a luz das diversas variáveis levantadas. Para tanto, foram aplicados questionários junto a 1.521 pessoas, entre os dias 31/08/2009 e 28/10/2009, gerando uma base de dados atual, ampla e consistente, capaz de viabilizar diversos estudos científicos sobre a felicidade no âmbito do Distrito Federal. Ao longo do trabalho foi avaliada, de modo especial, a hipótese de os relacionamentos pessoais de cada indivíduo, associados a seu número de relações e parceiros sexuais, possuírem correlação importante com seu nível felicidade, tendo sido analisada também, com a mesma profundidade, a possibilidade de poder haver significativa influência de choques positivos de renda sobre os mesmos elementos. Por acreditar-se que o desenvolvimento de pesquisas dessa natureza é lastro essencial para que possam ser definidos e tomados caminhos mais eficientes e seguros para que se chegue à melhoria do nível de felicidade das pessoas – função primordial das políticas públicas a serem implementadas pelos governos, espera-se que os resultados gerados por esta pesquisa sejam amplamente divulgados e utilizados, para que possam representar um dos primeiros passos em direção ao aumento da qualidade de vida de cada uma das pessoas que buscam essa conquista.

(8)

ABSTRACT

Reference: DAMASCENO, Alexandre P. Happiness, Public Policies and Positive Income

Shocks: an economic approach. 2009. 114 pages. PhD thesis presented to the Post-graduate

programs in economics from the Catholic University of Brasilia, Brasilia - DF - Brazil, 2009.

Happiness is one of the greatest interest objects to humanity and represents the main purpose of life for most people. In recent years, many sciences have studied this subject by identifying the subjective elements that determine people’s happiness degree, as an attempt to know how they interrelate, to identify their influence on happiness and to measure the possible impacts over human being lives. A large number of researches exploring the link between happiness and economy has been developed in the last decade, resulting in the growth of literature and available databases associated with satisfaction and happiness of individuals, expanding the frontiers of knowledge in the area. Important results were obtained and great progress has been made, however, much remains to be done to fill the large gaps that still exist in this area, since no significant effort has being made accordingly in most countries. Therefore, the purpose of this work is to develop a study in the Federal District of Brazil, having the people happiness level as the survey central object, assessed in light of the different studied variables. To make this possible, 1521 questionnaires were applied between 08-31-2009 and 10-28-2009, generating a current and wide database, capable of supporting several other scientific studies on happiness in the Federal District. The study focused mainly on the personal relationships, the number of sexual relations, the number of sexual partners and on the influence of positive income shocks on happiness. We believe that the development of researches like this is essential for the definition of more efficient and safe ways to reach the improvement of people's happiness - primary role of public policies to be implemented by governments. We expect that the results generated by this research can be widely disseminated and used so that they can represent a first step towards improving the quality of life of each person seeking happiness.

(9)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Estatísticas descritivas ...58

Tabela 2 - Nível de felicidade dos entrevistados ...59

Tabela 2A – Significado de felicidade ...60

Tabela 2B – Prazer a partir do fracasso dos outros ...60

Tabela 3 - Renda e felicidade...61

Tabela 4 - Felicidade e duração da jornada semanal de trabalho...62

Tabela 5 - Felicidade e proteção pelas leis trabalhistas...63

Tabela 6 - Nível de felicidade e características do empregador...64

Tabela 7 - Felicidade e idade com que se começa a trabalhar ...64

Tabela 8 - Felicidade e gênero...65

Tabela 9 - Felicidade e raça...65

Tabela 10 - Felicidade e estado civil ...66

Tabela 11 - Felicidade e filhos...66

Tabela 12 - Felicidade e nível de escolaridade ...67

Tabela 13 - Felicidade e religiosidade...67

Tabela 14 - Felicidade e frequência sexual...68

Tabela 15 - Felicidade e número de parceiros sexuais nos últimos 12 meses ...68

Tabela 16 - Felicidade e idade ...69

Tabela 17 - Pessoas que permaneceriam com o mesmo parceiro ...69

Tabela 18 - Pessoas dispostas a trocar de parceiro – por gênero ...70

Tabela 19 - Pessoas dispostas a trocar de parceiro – por estado civil...70

Tabela 20 - Pessoas dispostas a trocar de parceiro – por renda ...71

Tabela 21 - Pessoas dispostas a trocar de parceiro – por escolaridade ...72

Tabela 22 - Pessoas dispostas a trocar de parceiro – por nível de felicidade...72

Tabela 23 - Pessoas dispostas a trocar de parceiro – por religiosidade ...73

Tabela 24 - Pessoas dispostas a trocar de parceiro – por frequência sexual ...73

Tabela 25 - Pessoas dispostas a trocar de parceiro – por número de parceiros...74

Tabela 26 - Frequência sexual semanal ...75

Tabela 27 - Frequência sexual dos homens ...75

Tabela 28 - Frequência sexual das mulheres...76

Tabela 29 - Frequência sexual por faixa etária ...76

(10)

Tabela 31 - Frequência sexual dos casados e solteiros...77

Tabela 32 - Frequência sexual e escolaridade...78

Tabela 33 - Número de parceiros nos últimos 12 meses ...78

Tabela 34 - Número de parceiros sexuais por gênero e estado civil...79

Tabela 35 - Número de parceiros por faixa etária e renda ...80

Tabela 36 - Número de parceiros sexuais e escolaridade ...80

Tabela 37 - Regressões por MQO para a Variável Dependente Felicidade* ...82

(11)

S U M Á R I O

1 INTRODUÇÃO ...13

2 REVISÃO DA TEORIA...19

2.1 O ESTUDO DA FELICIDADE...19

2.1.1 Como entender o conceito de felicidade ...19

2.1.2 Dimensões e percepção da felicidade...21

2.2 A FELICIDADE NO CONTEXTO DA ECONOMIA ...22

2.2.1 A evolução dos estudos da felicidade no âmbito da economia ...22

2.2.2 O direcionamento das pesquisas na área ...23

2.3 A ECONOMIA CONTEMPORÂNEA E O ESTUDO DA FELICIDADE ...25

2.3.1 A inversão da tendência dos estudos econômicos...26

2.3.2 A economia e a ampliação das pesquisas associadas à felicidade ...28

2.3.3 O efeito da renda e a nova visão das pesquisas econômicas...30

2.3.4 Importância e contribuição dos estudos na área ...33

2.4 O DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS VOLTADAS À FELICIDADE...34

2.4.1 A abordagem subjetiva como mecanismo de levantamento de dados...34

2.4.2 Dificuldades encontradas na realização das investigações...38

2.4.3 A percepção da felicidade sob a ótica econômica...41

2.4.4 As políticas públicas e o estudo da felicidade ...43

2.4.5 Progressos verificados e resultados obtidos pelos estudos da área ...44

3 PARTICULARIDADES, MATERIAIS E MÉTODOS ...47

3.1 A COLETA DE DADOS REALIZADA ...47

3.2 DETALHAMENTO DO QUESTIONÁRIO APLICADO ...50

3.2.1 Dados profissionais – primeiro bloco...50

3.2.2 Dados pessoais – segundo bloco...52

3.2.3 Questões a responder de próprio punho – terceiro bloco...55

4 ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS...57

4.1 RESULTADOS REFERENTES À FELICIDADE...57

4.2 RESULTADOS REFERENTES À MEGA-SENA ...69

4.3 RESULTADOS REFERENTES À FREQUÊNCIA SEXUAL ...74

4.4 RESULTADOS REFERENTES AO NÚMERO DE PARCEIROS ...78

5 RESULTADOS ECONOMÉTRICOS PARA FELICIDADE ...81

(12)
(13)

1 INTRODUÇÃO

Ao longo da história a felicidade vem sendo um dos objetos de maior interesse para a humanidade. Sua busca representa, para a maioria das pessoas, o próprio objetivo da vida, despertando, por força da enorme influência que o tema causa ao longo da existência da maior parte dos indivíduos, o interesse de diversas áreas da ciência – fazendo com que pesquisadores do mundo inteiro se debrucem de modo continuado sobre o assunto.

Apesar de a psicologia reunir as principais iniciativas voltadas ao estudo da felicidade, outras ciências, em maior ou menor grau, têm igualmente se preocupado com o tema - na tentativa de melhor compreender os mecanismos envolvidos em sua busca e manutenção.

No caso particular da economia, é importante notar que, ao longo do tempo, a felicidade teve, alternadamente, momentos de maior e de menor importância - desde a economia neoclássica até os dias de hoje.

Tendo apresentado, inicialmente, viés que apontava a importância do estudo dos fatores mais subjetivos da vida das pessoas, no segundo quarto do século XX verificou-se nessa área uma tendência de abandono a esse tipo de abordagem – passando-se a trabalhar prioritariamente com base na observação de fatores mais objetivos (como a preferência dos indivíduos e seus mecanismos de escolha) durante o desenvolvimento de pesquisas econômicas de diversas naturezas.

(14)

econômicos traziam para suas vidas interiores, o emprego de tanta objetividade passou a ser questionado fortemente no meio acadêmico.

A despeito da significativa evolução observada no período em tela, estudos científicos realizados no último quarto do século XX comprovaram que, apesar do ambiente de significativo crescimento econômico iniciado na década de 1970, verificado em quase todos os países do mundo (que teve como consequência direta a melhoria das condições econômicas das pessoas), observava-se, com grande frequência, o aumento de indicadores como tristeza e depressão. Ao mesmo tempo, observou-se que também se reforçava a importância dos relacionamentos interpessoais e de outras variáveis de natureza mais subjetiva, ficando evidenciada, assim, a necessidade de nova inversão na tendência dos estudos econômicos desenvolvidos.

Deve-se lembrar, por oportuno, que a constatação da importância de novamente se “humanizar” a abordagem dada aos estudos econômicos derivou-se principalmente do ambiente de grandes mudanças enfrentado a partir da segunda metade da década de 1960, quando foram registradas não apenas mudanças importantes nos indicadores econômicos da maioria dos países, mas principalmente significativas alterações no comportamento individual e social das pessoas.

Dessa forma, ao longo da década de 1970, a maneira como os estudos econômicos vinham sendo desenvolvidos sofreu ajustes, tendo passado a admitir a necessidade de retomar a observação atenta de aspectos de natureza subjetiva - capazes de identificar de que modo e com que profundidade as variáveis envolvidas impactam a vida das pessoas em seus aspectos mais emocionais.

(15)

Justificam-se assim, sobejamente, novas investigações voltadas à felicidade humana, uma vez que maior e mais profundo conhecimento acerca desse universo pode vir a representar um dos primeiros passos na direção da melhoria da qualidade de vida das populações. Deve-se levar em conta, na oportunidade, que trabalhos desenvolvidos com esse objetivo podem vir a apontar caminhos mais eficientes e seguros, até então pouco explorados ou não conhecidos, para que se chegue à melhoria do nível de felicidade das pessoas.

Quando se trata de avaliar a viabilidade da realização de estudos dessa natureza, não se pode deixar de alertar para o fato de que existem diversas dificuldades associadas ao cumprimento dos mesmos, tanto no que se refere à disponibilidade de dados quanto no que diz respeito a sua fidedignidade. Note-se que as dificuldades de ambas as naturezas podem vir a gerar importantes vieses nos estudos a serem desenvolvidos, entretanto, esse problema tende a ser minorado ou eliminado com o aumento da quantidade e melhoria da qualidade das observações realizadas, ou seja, aumentando o volume de dados disponíveis – providência ao alcance dos pesquisadores.

Na esteira da necessidade de ampliar as pesquisas nessa área assenta-se esta investigação. Tendo sido elaborado com fim específico de desenvolver um estudo associado ao Distrito Federal, este trabalho tem como objeto central de pesquisa o nível de felicidade declarado pelas pessoas entrevistadas, que foi avaliado sob a luz das diversas variáveis levantadas com o objetivo de se identificar os possíveis determinantes desse grau informado e a forma como as mesmas se correlacionam.

A importância da realização desta pesquisa, voltada para o estudo dos aspectos de natureza social e emocional associados à felicidade – no âmbito do Distrito Federal - foi reforçada, entre outros motivos, pela total ausência de estudos realizados nessa área na respectiva unidade da Federação.

(16)

No que se refere aos dados ora referenciados, deve-se lembrar que tratam-se de dados de natureza subjetiva que, quando associados aos dados de natureza mais subjetiva (também levantados durante este trabalho), podem, com maior profundidade e precisão, apontar os efetivos pesos e impactos de cada uma das variáveis estudadas na vida das pessoas, trazendo a importante abertura de uma nova fronteira para essa área do conhecimento na região estudada.

Assim, um dos pressupostos assumidos durante planejamento deste trabalho, por tratar-se de condição essencial à sua realização, foi a imperiosa necessidade de criar uma base de dados atual, ampla e consistente, capaz de viabilizar estudos científicos sobre a felicidade no âmbito do DF.

A pesquisa ocupou-se, então, necessariamente, da aplicação de questionários junto a 1.521 (um mil, quinhentas e vinte e uma) pessoas, entre os dias 31/08/2009 e 28/10/2009, coletando diversos dados acerca dos indivíduos entrevistados, tais como jornada de trabalho, renda, sexo, raça, estado civil, idade, número de filhos, região onde mora, escolaridade, hábitos pessoais, conceitos associados à felicidade, nível declarado de felicidade, possíveis reações acerca de práticas ilegais verificadas com grande frequência nos países em desenvolvimento, possível reação sob um significativo choque positivo de renda e comportamento sexual, entre outros.

A partir da disponibilização da base de dados referenciada, necessária à investigação pretendida, tornou-se viável a etapa associada ao estudo dos dados propriamente dito. A esse respeito deve-se observar que, dentre as diversas análises efetuadas, a possibilidade de os relacionamentos pessoais, o número de parceiros sexuais no último ano e a atividade sexual de cada indivíduo possuírem correlação importante com seu nível felicidade foi avaliada de modo particularmente profundo, tendo sido avaliada, com igual rigor, a possibilidade de haver significativa influência de choques positivos de renda sobre esses mesmos relacionamentos – notadamente no que se refere à lealdade entre os parceiros.

(17)

parte do mundo, qualquer registro de outros estudos que tenham tentado identificar alguma correlação entre esses elementos – atualmente tão presentes na vida e na mente das pessoas.

Abordando ainda a contribuição a ser dada por esta investigação, deve-se notar que, apesar de ter como pano de fundo a identificação dos principais fatores determinantes do grau de felicidade dos habitantes do Distrito Federal, dirigindo foco especial para alguns dos dados levantados junto aos entrevistados, este trabalho também tem, como objetivo complementar, disponibilizar uma base de conhecimentos sobre os quais possam ser assentadas políticas públicas capazes de ir ao encontro da necessidade de aumentar a felicidade das pessoas, ficando apontados, também, às instituições privadas, sinalizadores de possíveis caminhos para facilitar a conquista e manutenção de clientes.

Sobre os indicadores que poderão servir de base para a definição de políticas públicas a serem adotadas, faz-se necessário destacar que conhecer os caminhos certos não implica necessariamente a solução dos problemas que levam as populações a um menor nível de felicidade, uma vez que a adoção de um deles exigirá de todos, pessoas e instituições, quer sejam públicas ou privadas, um conjunto de novas posturas e atitudes, tanto no que se refere à disposição para investir de modo continuado em pesquisas na área quanto no que diz respeito aos esforços necessários à implementação das medidas voltadas ao aumento das possibilidades de se obter, de modo isolado ou coletivo, o desejado aumento do nível de felicidade.

Assim, este trabalho, voltado ao estudo da felicidade humana, que tem como foco o levantamento e análise de dados, tanto individuais quanto coletivos, vinculados a aspectos sociais e econômicos (natureza objetiva) e a aspectos afetivos e emocionais (natureza subjetiva), chega, de modo natural, à reflexão sobre a possibilidade e importância de se ajustar as políticas públicas desenvolvidas no país – de modo que possam contribuir fortemente na busca da ampliação do bem-estar dos indivíduos. Para tanto, sua apresentação, materializada por meio deste documento, é feita por meio de outros cinco capítulos, que dão seguimento a este primeiro – que se incumbe de sua introdução.

(18)
(19)

2 REVISÃO DA TEORIA

2.1 O ESTUDO DA FELICIDADE

A felicidade sempre foi objeto de grande interesse para a humanidade, sendo vista como o objetivo central da vida para a maioria das pessoas. Este pensamento é corroborado por Frey e Stutzer (2000), quando afirmam que a felicidade é, de modo generalizado, o objetivo central da vida, pois todas as pessoas, de uma maneira ou de outra, gostariam de ser felizes.

Para Shikida e Rodrigues (2004), segundo a filosofia clássica, o conceito de felicidade nasceu na Grécia antiga, onde Tales considerava felizes as pessoas que fossem fisicamente fortes e sadias – e que também tivessem alma evoluída e de sucesso.

Assim, da Grécia antiga até os dias de hoje, estudiosos do mundo inteiro, em diversas áreas do conhecimento, vêm continuamente se debruçando sobre o tema, na tentativa de melhor compreender os mecanismos envolvidos na busca e manutenção desse “estado de espírito”.

2.1.1 Como entender o conceito de felicidade

(20)

especificá-lo de forma consistente e abrangente uma tarefa muito difícil de ser cumprida com êxito.

A despeito das dificuldades intrínsecas a essa tarefa, faz-se necessário definir, de algum modo, os possíveis entendimentos para o vocábulo, de modo que sua compreensão não fuja ao contexto definido no âmbito desta pesquisa. Com esse objetivo, pode-se recorrer a Blanchflower e Oswald (2002), que abordam a felicidade como o grau com o qual cada indivíduo classifica sua própria vida - no que se refere a ela ser “mais” ou “menos” favorável àquilo que ele gostaria de estar vivendo.

Complementarmente, Blanchflower e Oswald (2004), assumem como definição objetiva de felicidade o grau com que cada indivíduo julga a qualidade de sua vida - de modo amplo. Vale destacar, na oportunidade, que o termo “amplo” se refere a não se fixar, durante esse julgamento, em um ou outro aspecto particular da vida do indivíduo, mas na sua avaliação global.

Caminhando na mesma direção, Corbi e Menezes-filho (2006), declaram que uma das formas de compreender o termo felicidade, para efeitos de estudos científicos desta natureza, é não associá-lo a eventos específicos da vida, atribuindo ao mesmo um valor global relacionado à existência de cada pessoa.

Dessa forma, tomando-se como base os conceitos definidos acima, fica evidenciado o modo pelo qual o termo felicidade deve ser entendido ao longo deste trabalho, entretanto, faz-se necessário, ainda, esclarecer uma aproximação de idéias importantíssima quando se trata do estudo da felicidade humana. Trata-se da associação direta entre felicidade, satisfação e bem-estar.

(21)

2.1.2 Dimensões e percepção da felicidade

Dado o entendimento necessário à compreensão do termo felicidade, torna-se essencial o conhecimento das dimensões a partir das quais esse vocábulo precisa ser observado e avaliado - sob a ótica da economia. Trata-se das dimensões objetivas e subjetivas, que, olhadas conjuntamente, permitem entendimento mais amplo do assunto abordado.

A dimensão objetiva da felicidade repousa nos fatores que, apesar de poderem ser declarados pelos próprios indivíduos sob investigação, também podem ser observados e aferidos por “alguém de fora”, ou seja, pelos observadores. São fatores de mais fácil verificação, geralmente atrelados a escalas numéricas cujos valores são de imediata atribuição, tais como renda individual, renda per capita, condições de habitação e jornada de trabalho, entre outras.

Para Corbi e Menezes-filho (2006), a dimensão objetiva da felicidade pode ser apurada de forma pública, a partir da observação e tomada de medidas externas, podendo, assim, ser refletida por meio de indicadores numéricos.

Por outro lado, a dimensão subjetiva da felicidade reflete as percepções internas de cada indivíduo sobre determinados itens, que somente podem ser coletadas, de modo mais legítimo, a partir das declarações feitas pelos mesmos. Entre esses itens se encontram o nível de satisfação com suas próprias vidas, sua identificação com o tipo de atividade profissional que desenvolvem e sua avaliação quanto ao nível de felicidade experimentado por eles próprios, entre outros.

Observe-se que, para Corbi e Menezes-filho (2006), a dimensão subjetiva da felicidade é função da experiência de cada indivíduo, correspondendo aos juízos feitos por ele próprio acerca da vida que tem levado.

(22)

Para reforçar esse entendimento, pode-se recorrer a Michalos (2007), para quem a qualidade de vida ou bem-estar de um indivíduo - ou comunidade - é uma função das atuais condições de sua vida e o que a pessoa - ou comunidade - consegue fazer a partir dessas mesmas condições. Isso mostra, na verdade, que a forma como são percebidas as condições a que alguém está submetido é mais importante do que a situação objetiva propriamente dita.

2.2 A FELICIDADE NO CONTEXTO DA ECONOMIA

Apesar de as principais iniciativas voltadas ao estudo da felicidade em sua maioria estarem na área da psicologia, outras ciências, entre as quais a economia, também têm se preocupado com esse tema, em maior ou menor grau, notadamente ao longo dos últimos anos.

2.2.1 A evolução dos estudos da felicidade no âmbito da economia

No caso particular das Ciências Econômicas, é importante destacar que um olhar sobre a economia neoclássica comprova, de modo incontestável, o fato de que, logo em seus primeiros passos, a economia abordou a questão da felicidade humana. A fase de vida desta ciência, ora referenciada, incluía diversos elementos subjetivos em seu campo de estudo - merecendo destaque a felicidade dos indivíduos e sua satisfação com a própria vida.

(23)

se refere às análises econômicas, de modo mais amplo, uma tendência de abandono a esse tipo de abordagem, passando a trabalhar prioritariamente com base na observação de fatores mais objetivos, como a preferência dos indivíduos e seus mecanismos de escolha.

Foi exatamente esse direcionamento, dado às investigações realizadas no âmbito das Ciências Economias na primeira metade do século XX, o elemento que permitiu uma inquestionável evolução nas metodologias utilizadas nos estudos desta área. Os ganhos científicos nessa etapa foram inquestionáveis – notadamente por força do grande volume de pesquisas viabilizadas pela maior objetividade com que os estudos eram realizados.

Para Frey e Stutzer (2000), a fase mais objetiva da economia baseou-se principalmente nas escolhas feitas pelos indivíduos, apoiando-se no fato de a utilidade para cada pessoa depender principalmente de bens e serviços tangíveis – influenciados diretamente pela renda.

Deve-se destacar, entretanto, que por deixar de lado os porquês de cada um dos fenômenos/eventos investigados, e dos sentimentos ou posições particulares dos indivíduos, essa estratégia trazia, em contrapartida, o que para alguns representava importantes perdas qualitativas.

2.2.2 O direcionamento das pesquisas na área

(24)

ambiente de significativo crescimento econômico verificado a partir da década de 1970 em quase todos os países do mundo.

Durante esse esforço investigativo, mostrou-se que, apesar da melhoria das condições econômicas das pessoas, observava-se, com grande frequência, o aumento de indicadores como tristeza e depressão – ao mesmo tempo em que era reforçada pelas mesmas a importância dos relacionamentos interpessoais e de outras variáveis de natureza mais subjetiva. É importante observar, na oportunidade, que essa realidade não se verificava em períodos anteriores.

Graham (2005) reforça essas afirmações, declarando que as pequenas (ou nenhuma) variações verificadas no nível de felicidade ante um aumento do nível de renda foram estudadas inicialmente por Richard Easterlin, que, na década de 1970, constatou que, em diversos países, há uma grande coincidência entre as formas com as quais as pessoas gastam a maior parte de seu tempo, qual seja, trabalhar para garantir o sustento de suas famílias. Easterlin observou, também que o aumento de felicidade declarado pelas pessoas não cresce necessariamente quando há uma variação positiva de renda. Esse efeito ficou conhecido como “Easterlin paradox”.

Buscando melhor entendimento para esse conceito, pode-se recorre a Di Tella e MacCulloch (2005), para quem o Easterlin paradox se refere ao fato da

felicidade se manter inalterada a despeito de um aumento de renda, o que, para esses autores, desmonta a teoria de que a renda dos indivíduos é a única variável da função utilidade.

Reforçando esse entendimento, Clark, Frijters e Shields (2008), afirmam que o fato de o nível de felicidade estar se mantendo constante apesar do crescimento da renda per capita é explicado pelo fato da renda possuir influência limitada na vida das pessoas.

(25)

aumento de renda gerar maior nível de felicidade a partir de camadas sociais que ultrapassam determinada faixa de renda.

Acerca dessa discussão, é importante observar que os debates não ficaram restritos aos pesquisadores da área econômica. Como afirmam Di Tella e MacCulloch (2005), um significativo número de observadores sociais apontou um grande crescimento da renda nas democracias industriais ao longo do século passado, sem que se verificasse o correspondente crescimento do nível de felicidade das pessoas – como poderia ser esperado.

A realidade visualizada, bastante distinta do que se imaginava à época, mostrou claramente que não mais se poderia esperar que o nível de satisfação dos indivíduos, acerca de suas próprias vidas, variasse somente com a renda individual ou familiar.

Dessa forma, concluiu-se ser de grande importância que o estudo dos fatores de natureza econômica relacionados à vida das pessoas passasse a ocorrer de modo distinto daquele por meio do qual vinha se desenvolvendo, ou seja, não mais sob a ótica dos números – de modo exclusivo. Ficava reforçada, assim, a necessidade de ajuste nessa forma de desenvolver pesquisas na área.

2.3 A ECONOMIA CONTEMPORÂNEA E O ESTUDO DA FELICIDADE

(26)

2.3.1 A inversão da tendência dos estudos econômicos

Pelo fato de a perspectiva anteriormente adotada (até o início da década de 1970) pelos estudos econômicos parecer, para alguns pesquisadores, uma simplificação excessiva da realidade, passou-se a admitir a necessidade de retomar, em estudos de natureza econômica, a observação mais profunda de aspectos de natureza mais subjetiva, capazes de identificar de que modo e com que profundidade todas essas variáveis impactavam a vida o indivíduo – em seus aspectos mais emocionais.

Essa tendência materializou-se, na prática, já na década de 1970 (embora de modo inicialmente incipiente), marcando, de modo definitivo, o reinício das pesquisas empíricas acerca da felicidade humana no âmbito das Ciências Econômicas.

Nesse contexto, parece natural que se procure identificar, com maior profundidade, o porquê de ter se voltado a enfatizar o estudo das posições e reações particulares dos indivíduos – tendência abandonada desde a primeira metade do século XX. Surge, assim, a natural reflexão acerca do que poderia ter ocorrido (ou estar ocorrendo) de excepcional nas últimas três ou quatro décadas, a ponto de fazer ressurgir nos pesquisadores, notadamente da área econômica, o interesse por esse tipo de abordagem.

(27)

Fatores como o aumento da expectativa de vida da população humana, as mudanças no comportamento individual, as inovações nos arranjos sociais, o acelerado progresso da ciência, o rápido desenvolvimento da tecnologia disponível e, de modo especial, a inquestionável evolução dos meios de comunicação, trouxeram profundas transformações à vida das pessoas, gerando consequências diretas em seu bem estar.

Considerando que essas mudanças tendiam (e ainda tendem) a se tornar a cada dia mais frequentes, rápidas e profundas, acreditou-se (e ainda acredita-se) que a vida das pessoas será continuamente exposta a um crescente número de fatores – cada vez menos sujeitos a seu próprio controle. Dessa forma, levando em conta que o dia-a-dia dos indivíduos sempre será afetado por esse ambiente, em constante mutação, impôs-se (e ainda impõe-se), assim, a necessidade de melhor conhecer as variáveis e cenários aí envolvidos – o que só pode ser materializado a partir da realização de estudos específicos nessa área.

É importante notar que essa evolução se deu, em certa medida, de forma atípica, uma vez que a economia tradicionalmente se comporta de modo muito estável e conservador. Para Frey (2008), é muito rara a ocorrência de desenvolvimentos revolucionários na economia, pois o conservadorismo na área e a grande aceitação dos conhecimentos já consolidados tornam muito difícil a introdução de novas linhas de pesquisa, entretanto, o estudo da felicidade vem mostrando potencial para mudar substancialmente essa ciência, por poder ser considerado revolucionário em diversos aspectos.

(28)

2.3.2 A economia e a ampliação das pesquisas associadas à felicidade

A partir do início dos anos 1970, pesquisadores de diversas áreas, entre as quais a economia, vem ampliando seus esforços, de modo isolado ou conjunto, no sentido de melhor estudar o bem-estar e a felicidade em suas diversas perspectivas. Essa firmação é corroborada por Blanchflower e Oswald (2002), que afirmam que uma das coisas que atualmente unem diferentes cientistas sociais é o interesse em compreender as forças que afetam o bem-estar das pessoas.

Desde então foi retomado, de modo crescente, o desenvolvimento de estudos com as novas características assumidas pela economia, entre os quais a ênfase nos aspectos emocionais e sociais dos indivíduos. A partir dessa mudança, vem sendo produzido um importante e novo conjunto de conhecimentos – cujas fronteiras se expandem em grande velocidade até o presente. A felicidade, nesse contexto, passa a ser entendida e estudada como um composto que envolve variáveis de natureza tanto objetiva quanto subjetiva – conforme detalhamento anterior.

Nesse ambiente, muitos pesquisadores da área Econômica vem adotando, de modo especial nos últimos dez anos, posição que leva seus estudos ao encontro da necessidade de melhor conhecer o comportamento de algumas das variáveis envolvidas na vida dos seres humanos, o modo como se correlacionam e quais as principais consequências trazidas por esses fatores à vida de cada um.

Com o objetivo de ratificar essa afirmação, pode-se recorrer a Clark, Frijters e Shields (2008), que destacam que o estudo das causas e assuntos correlacionados à felicidade humana tem se tornado um dos “temas quentes” nos estudos da área econômica na última década, tendo a correspondente literatura crescido a taxa exponencial, tanto no que se refere ao volume quanto no que diz respeito à profundidade com que aborda o tema.

(29)

psicólogos, economistas e pesquisadores de outras áreas. Outros autores reforçam de modo significativo essa idéia, entre os quais Ballas e Dorling (2007), que afirmam que, mais recentemente, muitas áreas (entre as quais a neurociência, psicologia, psiquiatria, economia e políticas sociais) tem registrado numerosas tentativas de quantificar a felicidade - em vários contextos.

Assim, considerando que parte dos esforços dos estudiosos, inclusive de outras áreas, tem se voltado para os aspectos de natureza social e emocional associados à felicidade, percebe-se que um maior volume de dados com esse caráter vem sendo coletado e estudado, servindo de base para os diversos estudos na área. Deve notar que, esses dados, quando associados aos dados de natureza mais econômica, tradicionalmente trabalhados, podem, com maior profundidade e precisão, apontar os efetivos pesos e impactos de cada uma das variáveis estudadas na vida das pessoas, trazendo a importante ampliação das fronteiras do conhecimento até recentemente assumidas na área.

Blanchflower e Oswald (2002), a esse respeito, destacam que existem algumas bases de dados sobre bem-estar coletadas ao longo do tempo, que foram intensivamente utilizadas pelos psicólogos, um pouco exploradas por sociólogos e cientistas políticos e até recentemente amplamente ignoradas pelos economistas, entretanto, esse quadro vem mudando. Para Frey e Stutzer (2000), os economistas acordaram para o fato de que a felicidade é um conceito interessante e empiricamente relevante para sua área de trabalho.

Tomando essa mesma direção, Shikida e Rodrigues (2004), por sua vez, destacam que “o número de pesquisadores que estão tentando medir o quanto vale a felicidade, no sentido de sua relação com a economia, vem aumentando nos últimos anos”.

(30)

2.3.3 O efeito da renda e a nova visão das pesquisas econômicas

Apesar da mudança verificada na perspectiva a partir da qual os estudos econômicos passaram a ser desenvolvidos a partir dos anos 1970, já abordada, é ainda nítido o forte atrelamento dos mesmos ao fator renda. Atualmente já é fartamente conhecido o fato de que os indivíduos não estão concentrados exclusivamente no seu nível absoluto de renda, entretanto, a mudança dos paradigmas consolidados ao longo de tantas décadas ainda está em curso.

As pessoas quase sempre vêem a renda de modo comparativo, ou seja, estão sempre, na maioria das vezes, fazendo algum tipo de comparação. A principal dessas comparações é entre a realidade objetiva vivida pelo próprio indivíduo e a situação que ele gostaria de estar vivendo - que sempre muda ao longo do tempo. Não se pode deixar de levar em consideração, entretanto, a comparação que os seres humanos geralmente fazem entre a situação de suas vidas – notadamente de sua renda - e a situação da vida das demais pessoas de seu círculo de relacionamentos.

Reforçando esse ponto de vista, verifica-se que, para Kõszegi e Rabin (2008), a felicidade é uma ótima coisa – e é um excelente tópico para pesquisas sociais de natureza científica, mas, sem dúvida alguma, durante os estudos realizados, o foco geralmente empregado tem sido entender como o comportamento econômico e as instituições afetam o bem-estar, observando, para isso, as preferências e as escolhas das pessoas.

Nesse contexto é igualmente bastante ilustrativo citar Hudson (2006), para quem o ponto de partida para este tipo de pesquisa é a renda, pois imagina-se, de início, que a felicidade varia em função dela – embora espere-se também um impacto marginal decrescente.

(31)

esse paradigma – embora demonstrem a tendência de também valorizar as variáveis mais recentemente introduzidas nesse tipo de estudo.

Nesse contexto, torna-se essencial citar Becchetti, Bedoya e Trovato (2006), para quem a literatura empírica acerca dos determinantes da felicidade, apesar de ainda estar em seu início, traz consigo importantes contribuições. Os mesmo autores destacam, entretanto, que o foco central dessas pesquisas está nos impactos que as alterações na renda geram sobre a felicidade, mas não escondem o fato de que outros elementos importantes vêm sendo introduzidos nesses estudos, como o impacto dos relacionamentos pessoais, educação e saúde.

Outros pesquisadores também se deixam apanhar como vítimas do mesmo fenômeno que associa a felicidade à renda. Para Hayo e Becker (2007), a perspectiva da felicidade é o principal fator motivador da vida das pessoas, devendo-se obdevendo-servar, entretanto, que na maioria das culturas os indivíduos atribuem grande valor à renda durante a busca desse estado de espírito.

A despeito disso, alguns posicionamentos de outros pesquisadores da área demonstram um progresso importante na tentativa de não mais estarem muito presos aos paradigmas do passado. Para Mcbride (2007), a última década testemunhou um grande crescimento no interesse pelos estudos científicos sobre a felicidade, tanto por parte dos estudiosos quanto do público em geral. Ainda segundo o autor, é importante fazer um destaque: estando inicialmente apoiados na idéia de que se busca a conquista de recursos econômicos como prioridade de vida, os pesquisadores vem concluindo que um crescimento de renda (que inicialmente provoca um crescimento no nível de felicidade dos indivíduos) vem quase sempre seguido de uma redução nas aspirações de consumo (que provocam redução no aumento da felicidade inicialmente observada).

Buscando a validação desse ponto de vista, observa-se que, da mesma forma, para Hayo e Becker (2007), o efeito positivo do aumento da renda tende a ser rapidamente neutralizado, uma vez que as pessoas se acostumam com um novo padrão de vida com grande facilidade – efeito conhecido como formação de hábito.

(32)

ampliação da visão adotada pelas pesquisas da área – notadamente no que se refere à forma com que a felicidade é abordada. Observe-se que essa afirmação é reforçada também por Gul e Pesendorfer (2007), quando destacam que o bem estar, e por consequência a felicidade, pode ser avaliado sob diferentes prismas.

A evolução ora abordada reside principalmente na forma como é percebido o comportamento econômico de cada indivíduo, pois, diferentemente do que ocorria há algumas décadas, esse aspecto da vida de cada pessoa não é mais olhado apenas em função de suas escolhas de consumo.

Buscando outras contribuições a esse respeito, observa-se que, para Praag (2007), pode-se assumir que o comportamento econômico do indivíduo consiste em fazer escolhas entre as alternativas disponíveis, motivado pela maximização da utilidade, satisfação, bem-estar ou felicidade. Reforçando esse entendimento, deve-se lembrar que, para Hudson (2006), atualmente espera-deve-se também que a felicidade varie com outras variáveis sócio-econômicas.

Outros importantes pesquisadores também vêm ao encontro dessa perspectiva mais abrangente, demonstrando a nítida ampliação de visão verificada na área, que podem inclusive envolver variáveis macro-econômicas. Para Frey e Stutzer (2000), no nível macro, as políticas econômicas lidam com trade-offs,

especialmente aqueles que envolvem o desemprego e a inflação.

(33)

2.3.4 Importância e contribuição dos estudos na área

O desenvolvimento de pesquisas científicas não se justifica senão pelo potencial de contribuição que as mesmas podem trazer à humanidade – quer de modo direto ou indireto. Buscando identificar, preliminarmente, a importância desta pesquisa, em particular, pode-se recorrer a Corbi e Menezes-filho (2006), que textualmente afirmam que “um estudo desse tipo pode ser útil de diversas maneiras. Políticas sociais, por exemplo, implicam custos para alguns indivíduos e, dessa forma, faz-se necessária uma avaliação dos efeitos líquidos dessas ações em termos de utilidades individuais (felicidade)”.

No que se refere à validade e potencial de emprego dos conhecimentos gerados a partir de pesquisas associadas ao tema central deste trabalho, Praag (2007) destaca que, depois de ser ignorada pelos economistas por muito tempo, a felicidade está se tornando objeto de pesquisas econômicas sérias no século XXI, chegando-se ao ponto de, nos últimos anos, as ciências econômicas estarem passando por uma revolução por força da adoção desse tema – que tem se tornado importante tanto para a economia quanto para as políticas públicas.

Do mesmo modo, a visão acerca da empregabilidade dos conhecimentos oriundos desse tipo de estudo para a vida das pessoas e para a ciência, notadamente na área de políticas sociais e economia, é reforçada por Blanchflower e Oswald (2007), para quem, para que se assegure a efetividade das políticas sociais e econômicas, é necessário que os formuladores das mesmas conheçam as medidas do bem-estar dos seres humanos.

(34)

De modo complementar, para Corbi e Menezes-filho (2006), esse tipo de pesquisa “pode também contribuir para a resolução de paradoxos empíricos que a teoria econômica convencional tem dificuldades para explicar”, como por exemplo, a aparente contradição entre o grande aumento de renda verificado em muitos países após a Segunda guerra e a manutenção (e até queda em alguns casos) do nível de bem-estar das pessoas durante o mesmo período – já abordada anteriormente.

2.4 O DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS VOLTADAS À FELICIDADE

Por tratar-se de uma área de estudo profundamente influenciada por fatores de natureza subjetiva, o estudo do bem-estar e da felicidade humana – esforço indiscutivelmente complexo - precisa ser cercado de cuidados e significativa atenção, especialmente por possuir grande potencial de gerar importantes impactos sobre a vida dos indivíduos. Para Blanchflower e Oswald (2007), avaliar o bem-estar psicológico é, de modo geral, uma tarefa complicada.

2.4.1 A abordagem subjetiva como mecanismo de levantamento de dados

O desenvolvimento de pesquisas implica a adoção de um conjunto de métodos, técnicas e procedimentos adequados a cada tipo de investigação científica. Nesse contexto, para Corbi e Menezes-filho (2006), Não se pode medir a felicidade do mesmo modo como se apuram valores correspondentes a variáveis objetivas como altura, peso, etc.

(35)

ser minorados com a ampliação da amostra coletada. Para Frey e Stutzer (2000), a felicidade e a satisfação dos indivíduos com suas vidas somente pode ser capturada por meio de grandes pesquisas. Observe-se que esses complicadores, por sua importância, serão abordados no item 2.4.2 deste trabalho.

Os mecanismos para que, com base em uma pesquisa como esta, se possa chegar às conclusões desejadas acerca da felicidade humana são conceitualmente muito simples. A partir da observação sistemática dos indivíduos que compõem determinada população, identificam-se, entre os diversos fatores associados à vida de cada pessoa, aqueles que, separada ou conjuntamente, podem ser considerados os maiores determinantes da felicidade individual.

Deve-se observar, entretanto, que apesar dessa aparente simplicidade, os métodos utilizados para a coleta desse tipo de dados, embora já sejam fartamente aceitos pela comunidade científica, ainda enfrentam questionamentos. Faz-se necessário respeitar opiniões contrárias a esses mecanismos, entretanto, não se pode desconhecer que não é conhecida qualquer outra forma mais concreta de aferir o nível de felicidade das pessoas.

Para Corbi e Menezes-filho (2006), a maneira pela qual os estudos associados à felicidade vem sendo desenvolvidos (baseada em questionários e entrevistas) gera muitas dúvidas acerca do emprego desse tipo de metodologia que não são, entretanto, suficientes para desqualificar estudos dessa natureza.

É fato que as discussões acerca da utilização desse tipo de metodologia de coleta de dados ainda existem, mas, apesar disso, é inegável a necessidade de seu emprego. Afirmações de diversos pesquisadores reforçam essa idéia, fazendo-se interessante destacar que, para Blanchflower e Oswald (2004), apesar do risco de existirem vieses nos dados subjetivos coletados junto a respondentes, não seria plausível a idéia de que se poderia compreender a felicidade sem ouvir o que as pessoas dizem sobre suas próprias vidas e seus níveis de felicidade.

(36)

realização de estudos com essas características é exatamente a obtenção de dados e informações empíricas confiáveis, uma vez que essa fidedignidade depende diretamente da avaliação própria de cada indivíduo, entretanto, os mesmos autores acreditam que as pessoas são os melhores avaliadores possíveis de sua própria felicidade.

O ponto de vista a partir do qual se acredita que as pessoas são capazes de fazer correto juízo das coisas subjetivas que as afetam, usando de toda a subjetividade possível, é igualmente defendido por outros autores. Para Frey e Stutzer (2000), a visão subjetiva da utilidade adotada nos dais de hoje reconhece que cada pessoa possui suas próprias opiniões sobre a felicidade e sobre o que considera uma boa vida – o que torna o comportamento observado um indicador incompleto para o bem-estar.

O reforço à idéia de que os próprios respondentes são suficientemente preparados para avaliar sua própria felicidade vem também de outros pesquisadores da área. Verifica-se, nesse contexto, que, para Praag (2007), atualmente os levantamentos de dados subjetivos já são aceitos de modo generalizado, tanto porque a maioria dos respondentes está apta a responder adequadamente às questões formuladas quanto porque a similaridade das respostas encontradas em circunstâncias semelhantes, em tempo e/ou localidade distintos, aponta a coerência das mesmas.

Observa-se, assim, que o número de estudiosos que atualmente não colocam qualquer restrição à coleta de dados subjetivos junto à população estudada já é bastante grande. Aos pontos de vista anteriores, soma-se também a visão de Di Tella e MacCulloch (2005), para quem pode-se acreditar na habilidade dos indivíduos de formular suas próprias opiniões sobre aquilo que lhe é perguntado, inclusive sobre seu bem estar, pois eles possuem plenas condições de associar todas as informações relevantes para essa atividade.

(37)

alguns vieses. Apesar disso, segundo o mesmo autor, isso faz com que não se possa considerar esses valores para comparações absolutas entre os indivíduos, entretanto, nada impede que os mesmo possa ser utilizados para a identificação dos fatores determinantes da felicidade.

Deve-se observar que, no caso de investigações como a que dá origem a esta tese, amplamente dependentes de dados que carregam consigo grande subjetividade, é natural o receio de que as declarações feitas pelos respondentes pudessem trazer riscos à qualidade dos estudos feitos. É importante destacar, entretanto, que a despeito dessa subjetividade, já existem motivos suficientes para tranquilizar os pesquisadores envolvidos, pois, além das colocações feitas nesse sentido por diversos autores, já apresentadas, ao longo do tempo vem sendo registrada grande similaridade entre as respostas dadas por pessoas entrevistadas em lugares e oportunidades distintas – submetidas a condições de vidas semelhantes. Esse fato fortalece a validade da utilização desse tipo de dado em estudos como este.

(38)

2.4.2 Dificuldades encontradas na realização das investigações

Conforme sinalizado anteriormente, desenvolver pesquisas em novas áreas de estudo, nas quais os dados a serem coletados mostram grande subjetividade, traz consigo complicadores adicionais ao longo do processo.

No caso particular deste trabalho, por ser associado diretamente ao estudo da felicidade, o primeiro complicador identificado se refere à baixa disponibilidade de dados associadas à satisfação e/ou felicidade dos indivíduos. Essa base de dados ainda é relativamente pequena – mesmo quando considerado todo o “acervo” disponível nos diversos países onde há algum tipo de registro com esse direcionamento. Note-se, por oportuno, que quando se trata do acervo agora referenciado nem sempre se está tratando de dados coletados com a finalidade específica de viabilizar estudos associados à felicidade humana – o que pode lhes conferir, em alguns casos, uma adequação a esse tipo de estudo não muito significativa.

O problema retro mencionado é inquestionável, mas não é forte o suficiente para que essas bases de dados sejam simplesmente desconsideradas. Para Blanchflower e Oswald (1999), apesar de haver óbvias limitações nas estatísticas correspondentes ao nível de felicidade das pessoas, há razões para se considerar para fins científicos as bases de dados associadas ao nível de bem-estar, pois já é evidente a convergência das informações contidas nas mesmas. Entre essas razões se encontram a existência de correlação entre eventos observáveis e a felicidade genuína, a existência de correlação entre níveis de felicidade reportados e alguns valores obtidos em testes psiquiátricos e de estresse mental, assim como a similaridade entre as estruturas das equações de bem-estar definidas em países distintos em diferentes períodos.

(39)

não existiam dados que pudessem vir a ser aproveitados para fins de estudos desta natureza.

Um segundo aspecto complicador deste tipo de pesquisa, a ser destacado, se refere à obtenção de dados confiáveis acerca da dimensão subjetiva do bem-estar e da felicidade dos indivíduos. Observe-se que, por depender diretamente da qualidade das declarações feitas pelas pessoas ouvidas, essa fidedignidade fica sujeita à influência de diversos fatores fora do controle do pesquisador, como humor do entrevistado, sua disponibilidade de tempo e sua disposição em colaborar com a pesquisa, entre outras. Esses problemas, por si só, já são suficientes para dar a essa tarefa um elevado grau de dificuldade.

Observa-se que a dificuldade gerada pela possibilidade de alguns dos dados a serem utilizados não possuírem toda a fidedignidade desejada é convalidada por vários autores, entretanto, mesmo para os que declaram a existência desse problema, a forma pelas quais os dados a serem trabalhados vem sendo levantados não gera qualquer questionamento. Para Blanchflower e Oswald (2002), por exemplo, há nítidas limitações nas estatísticas disponíveis acerca do bem-estar humano, notadamente por força da falta de controle do pesquisador sobre a fidedignidade dos dados levantados, mas é improvável compreender a felicidade humana sem ouvir o que dizem as pessoas.

Na oportunidade deve-se destacar, de modo especial, que as dificuldades associadas à disponibilidade e fidedignidade dos dados passíveis de serem levantados, ora em análise, podem vir a gerar importantes vieses nos estudos a serem desenvolvidos, entretanto, faz-se imperioso frisar que esses vieses tendem a ser minorados ou totalmente eliminados com o aumento da quantidade e melhoria da qualidade das observações realizadas, ou seja, a partir do aumento do volume de dados coletados, da melhoria dos instrumentos de coleta e da melhor preparação dos indivíduos responsáveis pela realização das entrevistas.

(40)

respostas, entre outros), destacam de modo ímpar que esses problemas podem ser minorados com a utilização de um grande número de observações.

Além da ampliação do volume de dados a serem coletados, a certeza quanto à utilização segura desse tipo de dados vem sendo trazida também pela validação empírica dos levantamentos feitos. Para Di Tella, MacCulloch e Oswald (2003), um determinado conjunto de características pessoais vem mostrando aproximadamente a mesma influência no nível de felicidade declarada, independente de onde as pesquisas tenham sido feitas. Em outra oportunidade, Di Tella e MacCulloch (2005), afirmaram que os dados subjetivos associados aos aspectos pessoais do bem-estar, levantados junto às pessoas, vem sendo de alguma maneira reforçados pelos depoimentos de membros de suas famílias. Tudo isso traz, facilmente, segurança adicional a todos os que vem coletando dados dessa natureza por meio de levantamentos de campo.

Concluindo a análise das dificuldades enfrentadas ao longo do processo sob análise, é importante notar que, mesmo levando-se em conta que já existem muitas experiências bem sucedidas voltadas à coleta de dados com essas características, e que esse método já possui o necessário reconhecimento da comunidade científica, alguns autores apontam dificuldades adicionais inerentes a esse processo – que devem servir de reflexão para todos os que assumem o desafio de desenvolver pesquisas associadas à felicidade. Para Blanchflower e Oswald (2004), por exemplo, outra dificuldade associada ao levantamento de dados nessa área é que não é possível fazer experimentos controlados - o que torna a identificação da correlação entre felicidade e fatores internos dos indivíduos uma atividade bastante difícil.

Por força dessa realidade, os cuidados com o planejamento e execução do estudo são absolutamente necessários, entretanto, as dificuldades abordadas não podem ser usadas como motivo para que se abandonem as iniciativas voltadas às pesquisas na área. Mesmo estando sujeitos a problemas das naturezas já abordadas, os pesquisadores precisam enfrentar o necessário processo de levantamento ou coleta de dados exigidos por suas investigações – sem o que nenhum avanço na área teria sido possível até o presente.

(41)

precisa incluir, no rol de dados a serem levantados para posterior análise, elementos que possam representar uma evolução na área pesquisada. Observe-se que esses elementos inovadores geralmente correspondem aos fatores de diferenciação e contribuição científica adicional de cada trabalho - no que se refere a seu objeto de pesquisa.

2.4.3 A percepção da felicidade sob a ótica econômica

O fato de a felicidade ser alvo de estudos desenvolvidos por distintas áreas faz com que o entendimento desse vocábulo e a percepção dos entrevistados acerca do mesmo possam variar de caso para caso. Essas variações estão sujeitas a vários fatores, entre os quais o modo como as questões são elaboradas, as alternativas de respostas oferecidas para cada questão, a maneira como os respondentes são abordados, e, de modo especial, a percepção do entrevistado acerca da possível exposição a que poderá ser submetido a partir das respostas dadas, entre outros.

O receio de que uma possível exposição venha efetivamente a se materializar deriva diretamente dos freios sociais verificados na comunidade onde o indivíduo se encontra inserido, sendo que, em alguns casos, esses freios não existem de fato – são impostos pelos respondentes a si mesmos de maneira inconsciente e injustificada. Observe-se que, para Di Tella e MacCulloch (2005), a literatura da área da psicologia tem considerado a possibilidade de as pessoas serem influenciadas por aquilo que acreditam ser a resposta mais “socialmente aceita” quando são entrevistadas.

(42)

A esse respeito, deve-se notar que, apesar da aparente complexidade intrínseca ao processo de coleta de informações acerca do nível de felicidade de uma pessoa, alguns pesquisadores tratam de simplificar a tarefa – oferecendo maior tranquilidade aos envolvidos na coleta de dados. Nesse contexto, para Praag (2007), o princípio da economia da felicidade é conceitualmente simples, pois, para se saber o quanto uma pessoa se sente feliz com alguma coisa, deve-se perguntar a esse indivíduo qual seu nível de felicidade a esse respeito, ou seja, o quanto está satisfeito com isso.

A despeito da simplicidade com a qual o processo de levantamento de dados acerca da felicidade pode ser encarado, faz-se necessário trazer à tona a discussão sobre o atual entendimento dado a esse termo pelo prisma econômico – e como é na prática percebido quando do desenvolvimento de pesquisas nessa área.

Assim, é interessante destacar que, para Di Tella, MacCulloch e Oswald (2003), pode-se assumir que as medidas de felicidade são percebidas de maneira muito próxima das sensações de utilidade percebidas pelas pessoas em uma decisão econômica qualquer.

Na mesma direção caminham Hayo e Becker (2007), para quem as decisões tomadas pelas pessoas estão diretamente associadas à maximização de sua felicidade, destacando, ainda, que a partir desse entendimento fica clara a similaridade entre maximizar a felicidade e maximizar a utilidade.

(43)

2.4.4 As políticas públicas e o estudo da felicidade

O desenvolvimento de maior volume de estudos associados à felicidade humana, voltados ao levantamento e análise de dados, tanto individuais quanto coletivos, vinculados a aspectos sociais e econômicos (de natureza objetiva), e a aspectos afetivos e emocionais (de natureza subjetiva), de modo associado, traz consigo a valiosíssima oportunidade de melhor conhecer os sentimentos e os desejos dos indivíduos.

Nesse contexto, é inegável que o maior e mais profundo conhecimento acerca desse universo oferece à humanidade – e de modo especial a seus líderes – a oportunidade de refletir, sobre bases mais sólidas, acerca da possibilidade e importância de se caminhar em busca da ampliação do bem-estar dos indivíduos, buscando não apenas a melhoria de suas condições econômicas e/ou financeiras, mas principalmente sua felicidade.

Para reforçar essa visão, é muito oportuno recorrer a Clark, Frijters e Shields (2008), para quem o desenvolvimento econômico não deve ser necessariamente o objetivo principal das macro-políticas de um país, pois a busca da felicidade de seus cidadãos deve ser o principal foco da ação governamental.

Abordando-se, sob essa ótica, os potenciais ganhos objetivos advindos de pesquisas como esta, observa-se que, a partir da identificação dos principais fatores determinantes do grau de felicidade dos indivíduos da sociedade sob análise, bem como das mudanças que podem vir a influenciar a percepção dos mesmos acerca desse estado, torna-se possível identificar um rol de políticas públicas que podem vir ao encontro do desejo e necessidade de aumentar a felicidade das pessoas, ficando sinalizados, também, às instituições privadas, os possíveis caminhos para facilitar a conquista de seus clientes.

Para Becchetti, Bedoya e Trovato (2006), pesquisadores que também caminham ao encontro desse entendimento, os estudos econômicos sempre implicam um ranking implícito ou explícito de prioridades que compõem uma função

(44)

Deve-se lembrar, na oportunidade, que o fato de os caminhos passíveis de serem trilhados na busca do aumento da felicidade humana passarem a ser conhecidos não assegura necessariamente a existência de uma base mais sólida sobre a qual as pessoas possam construir sua felicidade. Transformar um dos caminhos definidos a partir dos resultados apontados por estudos dessa natureza exigirá, de todas as pessoas e instituições envolvidas, um novo conjunto de atitudes e posturas direcionadas a isso. Entre essas posturas merecem destaque a disposição de continuar a investir em pesquisas nesta área e o interesse de materializar as medidas necessárias ao aumento das chances de se obter o desejado aumento do nível de felicidade – tanto no nível individual quanto no nível coletivo.

Levar a cabo esse desafio pode vir a representar um dos primeiros passos em direção à melhoria da qualidade de vida de cada uma das pessoas que buscam essa conquista, pois o desenvolvimento de pesquisas dessa natureza é o lastro principal para que caminhos mais eficientes e seguros para que se chegue à melhoria do nível de felicidade das pessoas possam ser visualizados.

2.4.5 Progressos verificados e resultados obtidos pelos estudos da área

Por força do surgimento relativamente recente desse campo de pesquisas, ainda existem algumas dúvidas a respeito de como se deve classificar as iniciativas associadas a essa área, mas, para Shikida e Rodrigues (2004), considerando o aspecto acadêmico das investigações no campo da economia e felicidade, as pesquisas dessa natureza se enquadram na área denominada comportamento de mercado.

(45)

essa vertente da economia já responde por um significativo número de investigações - baseadas no novo direcionamento tomado à época.

Os resultados já obtidos mostram, de modo evidente, que vem se tornando crescente a influência dos elementos externos, de natureza subjetiva, sobre a vida de cada indivíduo – o que tem gerado reflexos cada vez mais diretos e decisivos sobre seu estado físico e psicológico.

Nesse contexto, como forma de destacar alguns dos novos conhecimentos derivados dos esforços de investigação envidados pela economia da felicidade, torna-se importante relacionar uma pequena parte dos resultados obtidos ao longo dessas quase quatro décadas em que se desenvolveram pesquisas na área, formatando uma pequena linha do tempo.

Destaca-se, preliminarmente, que Frey e Stutzer (2000) identificaram que os desempregados são significativamente menos felizes do que os que se encontram empregados, tendo ficado evidente, também, que um aumento na renda atinge a felicidade de uma forma limitada.

No que se refere ao potencial de geração de satisfação que as atividades em geral podem levar às pessoas, faz-se essencial frisar que, para Blanchflower e Oswald (2004), os seres humanos naturalmente se interessam por sexo, fato que se justifica a partir de pesquisas realizadas, a partir das quais fica comprovado que a atividade sexual é a que produz o maior nível de felicidade nas pessoas. No lado oposto da lista das dezenove atividades pesquisadas pelos autores, o trabalho é aquela que produz o menor nível de bem-estar psicológico.

Avaliando um rol maior de variáveis, na mesma esteira, faz-se essencial lembrar que, para Di Tella e MacCulloch (2005), a felicidade é positivamente afetada com a renda absoluta, com o bem estar e com a expectativa de vida, devendo-se notar que está negativamente correlacionada com o aumento do número de horas trabalhadas, com a degradação do meio ambiente, com crimes, inflação e desemprego.

(46)

categoricamente, declaram que, em condições normais, homens e mulheres, em ambos os lados do Atlântico, atingem seu mais baixo nível de bem-estar ao longo da quinta década de vida.

Quando se olha a questão sob a perspectiva da evolução dos movimentos sociais associados ao gênero, deve-se lembrar que, para Stevenson e Wolfers (2007), paradoxalmente o bem-estar relativo das mulheres vem declinando em muitos países pesquisados, revertendo a situação verificada na década de 1970 (quando reportavam níveis de bem-estar acima dos declarados pelos homens), o que leva a questionamentos acerca da contribuição dos movimentos feministas para com o bem-estar das mulheres.

Associar a escolaridade à melhoria do padrão de vida das pessoas não representa novidade, entretanto, também ligada a essa inquestionável vantagem trazida pela educação e por outras condições de vida que afetam os indivíduos, segundo Blanchflower (2008), já foram encontradas vários sinalizadores de que o sentimento de felicidade é maior entre os mais escolarizados, entre as pessoas casadas, entre os de maior renda e entre os brancos, enquanto é mais baixo entre os desempregados.

No que se refere aos relacionamentos afetivos dos indivíduos, para Waite, Alisa e Lewin (2008), pessoas que se divorciam ou que passam por uma experiência de separação sofrem uma redução no seu nível de bem-estar comparativamente àquelas que permanecem casadas.

Os resultados ora relacionados não representam, obviamente, um volume significativo de tudo que já se produziu nessa área nos principais centros de pesquisas do mundo, entretanto, ilustram, de forma importante, as conclusões a que os estudos na área chegaram, dando uma precisa noção de todas as indicações que essas informações podem levar aos que estudam o comportamento humano – de modo particular àqueles que se ocupam da definição e implementação de políticas públicas por todos os continentes.

(47)

3 PARTICULARIDADES, MATERIAIS E MÉTODOS

A realização de um trabalho de natureza científica geralmente implica significativas inovações, que podem ser viabilizadas a partir de um eventual novo contexto em que se dá a pesquisa associada, de inovadores objetivos - geral e específicos – buscados, ou até mesmo a partir de novos materiais e métodos utilizados. Dessa forma, no que se refere a este estudo, torna-se importante conhecer de modo mais detalhado esses itens, para que os resultados obtidos possam ser observados pela ótica correta.

3.1 A COLETA DE DADOS REALIZADA

Para que o desenvolvimento desta investigação fosse viabilizado, o trabalho foi planejado tendo como um de seus objetivos específicos a geração de uma base de dados atual, ampla e consistente, capaz de viabilizar estudos científicos sobre a felicidade no âmbito do Distrito Federal. Nesse contexto, uma das etapas cumpridas ocupou-se da aplicação de questionários junto a 1.521 (um mil, quinhentas e vinte e uma) pessoas.

Imagem

Tabela 1 - Estatísticas descritivas
Tabela 2 - Nível de felicidade dos entrevistados
Tabela 3 - Renda e felicidade
Tabela 4 - Felicidade e duração da jornada semanal de trabalho  Jornada Semanal  Muito
+7

Referências

Documentos relacionados

Entretanto, é evidenciado uma menor quantidade de células CD4+ e CD8+ nos pulmões dos animais P2X7RKO infectados com a cepa Beijing 1471 em relação àqueles dos camundongos

A prevalência global de enteroparasitoses foi de 36,6% (34 crianças com resultado positivo para um ou mais parasitos), ocorrendo quatro casos de biparasitismo, sendo que ,em

Alteração geométrica no teto a jusante de comporta do sistema de en- chimento e esvaziamento para eclusa de na- vegação: simulação numérica do escoamento e análise das pressões

Um tratamento de câncer infantil em que os cui- dadores são acompanhados pelo serviço de psicologia, pode tornar o tratamento um processo menos ambiva- lente de se vivenciar,

regression, in which the secretion of progesterone declines abruptly and structural regression, in which there is physical involution of the CL and regression of luteal tissue 37.

Pag.. para aprimoramento dos processos, etc. Observou-se que, quando as pessoas sentem-se parte integrante dos processos e da empresa, elas procuram participar mais,

Isto porque acreditamos que este estudo pode servir para a compreensão do papel da LM na aula de língua portuguesa como língua segunda e que pode também

dois gestores, pelo fato deles serem os mais indicados para avaliarem administrativamente a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, bem como a estruturação