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O efeito da renda e a nova visão das pesquisas econômicas

2.3 A ECONOMIA CONTEMPORÂNEA E O ESTUDO DA FELICIDADE

2.3.3 O efeito da renda e a nova visão das pesquisas econômicas

Apesar da mudança verificada na perspectiva a partir da qual os estudos econômicos passaram a ser desenvolvidos a partir dos anos 1970, já abordada, é ainda nítido o forte atrelamento dos mesmos ao fator renda. Atualmente já é fartamente conhecido o fato de que os indivíduos não estão concentrados exclusivamente no seu nível absoluto de renda, entretanto, a mudança dos paradigmas consolidados ao longo de tantas décadas ainda está em curso.

As pessoas quase sempre vêem a renda de modo comparativo, ou seja, estão sempre, na maioria das vezes, fazendo algum tipo de comparação. A principal dessas comparações é entre a realidade objetiva vivida pelo próprio indivíduo e a situação que ele gostaria de estar vivendo - que sempre muda ao longo do tempo. Não se pode deixar de levar em consideração, entretanto, a comparação que os seres humanos geralmente fazem entre a situação de suas vidas – notadamente de sua renda - e a situação da vida das demais pessoas de seu círculo de relacionamentos.

Reforçando esse ponto de vista, verifica-se que, para Kõszegi e Rabin (2008), a felicidade é uma ótima coisa – e é um excelente tópico para pesquisas sociais de natureza científica, mas, sem dúvida alguma, durante os estudos realizados, o foco geralmente empregado tem sido entender como o comportamento econômico e as instituições afetam o bem-estar, observando, para isso, as preferências e as escolhas das pessoas.

Nesse contexto é igualmente bastante ilustrativo citar Hudson (2006), para quem o ponto de partida para este tipo de pesquisa é a renda, pois imagina-se, de início, que a felicidade varia em função dela – embora espere-se também um impacto marginal decrescente.

Essas afirmações mostram que, inquestionavelmente, a vinculação da renda à felicidade, durante os estudos realizados na área, é muito forte. Mesmo os pesquisadores que destacam a importância da nova roupagem dada aos estudos empíricos e o inestimável valor da recente literatura associada ainda se prendem a

esse paradigma – embora demonstrem a tendência de também valorizar as variáveis mais recentemente introduzidas nesse tipo de estudo.

Nesse contexto, torna-se essencial citar Becchetti, Bedoya e Trovato (2006), para quem a literatura empírica acerca dos determinantes da felicidade, apesar de ainda estar em seu início, traz consigo importantes contribuições. Os mesmo autores destacam, entretanto, que o foco central dessas pesquisas está nos impactos que as alterações na renda geram sobre a felicidade, mas não escondem o fato de que outros elementos importantes vêm sendo introduzidos nesses estudos, como o impacto dos relacionamentos pessoais, educação e saúde.

Outros pesquisadores também se deixam apanhar como vítimas do mesmo fenômeno que associa a felicidade à renda. Para Hayo e Becker (2007), a perspectiva da felicidade é o principal fator motivador da vida das pessoas, devendo- se observar, entretanto, que na maioria das culturas os indivíduos atribuem grande valor à renda durante a busca desse estado de espírito.

A despeito disso, alguns posicionamentos de outros pesquisadores da área demonstram um progresso importante na tentativa de não mais estarem muito presos aos paradigmas do passado. Para Mcbride (2007), a última década testemunhou um grande crescimento no interesse pelos estudos científicos sobre a felicidade, tanto por parte dos estudiosos quanto do público em geral. Ainda segundo o autor, é importante fazer um destaque: estando inicialmente apoiados na idéia de que se busca a conquista de recursos econômicos como prioridade de vida, os pesquisadores vem concluindo que um crescimento de renda (que inicialmente provoca um crescimento no nível de felicidade dos indivíduos) vem quase sempre seguido de uma redução nas aspirações de consumo (que provocam redução no aumento da felicidade inicialmente observada).

Buscando a validação desse ponto de vista, observa-se que, da mesma forma, para Hayo e Becker (2007), o efeito positivo do aumento da renda tende a ser rapidamente neutralizado, uma vez que as pessoas se acostumam com um novo padrão de vida com grande facilidade – efeito conhecido como formação de hábito.

Pelo exposto, embora a visão da economia até certo ponto ainda esteja presa ao fantasma da influência da renda sobre a felicidade, mostra-se inquestionável a

ampliação da visão adotada pelas pesquisas da área – notadamente no que se refere à forma com que a felicidade é abordada. Observe-se que essa afirmação é reforçada também por Gul e Pesendorfer (2007), quando destacam que o bem estar, e por consequência a felicidade, pode ser avaliado sob diferentes prismas.

A evolução ora abordada reside principalmente na forma como é percebido o comportamento econômico de cada indivíduo, pois, diferentemente do que ocorria há algumas décadas, esse aspecto da vida de cada pessoa não é mais olhado apenas em função de suas escolhas de consumo.

Buscando outras contribuições a esse respeito, observa-se que, para Praag (2007), pode-se assumir que o comportamento econômico do indivíduo consiste em fazer escolhas entre as alternativas disponíveis, motivado pela maximização da utilidade, satisfação, bem-estar ou felicidade. Reforçando esse entendimento, deve- se lembrar que, para Hudson (2006), atualmente espera-se também que a felicidade varie com outras variáveis sócio-econômicas.

Outros importantes pesquisadores também vêm ao encontro dessa perspectiva mais abrangente, demonstrando a nítida ampliação de visão verificada na área, que podem inclusive envolver variáveis macro-econômicas. Para Frey e Stutzer (2000), no nível macro, as políticas econômicas lidam com trade-offs, especialmente aqueles que envolvem o desemprego e a inflação.

É importante notar, na oportunidade, que os aspectos abordados neste item, associados ao aumento de renda, se referem exclusivamente às possibilidades de crescimento de renda mais corriqueiramente verificadas, não estando associados a choques positivos de renda – cuja abordagem em nível científico não foi identificada ao longo de toda a revisão de literatura associada à felicidade - feita ao longo do desenvolvimento desta investigação.