• Nenhum resultado encontrado

Dificuldades encontradas na realização das investigações

2.4 O DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS VOLTADAS À FELICIDADE

2.4.2 Dificuldades encontradas na realização das investigações

Conforme sinalizado anteriormente, desenvolver pesquisas em novas áreas de estudo, nas quais os dados a serem coletados mostram grande subjetividade, traz consigo complicadores adicionais ao longo do processo.

No caso particular deste trabalho, por ser associado diretamente ao estudo da felicidade, o primeiro complicador identificado se refere à baixa disponibilidade de dados associadas à satisfação e/ou felicidade dos indivíduos. Essa base de dados ainda é relativamente pequena – mesmo quando considerado todo o “acervo” disponível nos diversos países onde há algum tipo de registro com esse direcionamento. Note-se, por oportuno, que quando se trata do acervo agora referenciado nem sempre se está tratando de dados coletados com a finalidade específica de viabilizar estudos associados à felicidade humana – o que pode lhes conferir, em alguns casos, uma adequação a esse tipo de estudo não muito significativa.

O problema retro mencionado é inquestionável, mas não é forte o suficiente para que essas bases de dados sejam simplesmente desconsideradas. Para Blanchflower e Oswald (1999), apesar de haver óbvias limitações nas estatísticas correspondentes ao nível de felicidade das pessoas, há razões para se considerar para fins científicos as bases de dados associadas ao nível de bem-estar, pois já é evidente a convergência das informações contidas nas mesmas. Entre essas razões se encontram a existência de correlação entre eventos observáveis e a felicidade genuína, a existência de correlação entre níveis de felicidade reportados e alguns valores obtidos em testes psiquiátricos e de estresse mental, assim como a similaridade entre as estruturas das equações de bem-estar definidas em países distintos em diferentes períodos.

Tratando ainda dessa pequena disponibilidade de dados passíveis de serem trabalhados, deve-se destacar que, no que se refere ao Brasil, país onde as condições para a realização de coleta de dados em série ainda são significativamente precárias, até o desenvolvimento desta investigação, praticamente

não existiam dados que pudessem vir a ser aproveitados para fins de estudos desta natureza.

Um segundo aspecto complicador deste tipo de pesquisa, a ser destacado, se refere à obtenção de dados confiáveis acerca da dimensão subjetiva do bem-estar e da felicidade dos indivíduos. Observe-se que, por depender diretamente da qualidade das declarações feitas pelas pessoas ouvidas, essa fidedignidade fica sujeita à influência de diversos fatores fora do controle do pesquisador, como humor do entrevistado, sua disponibilidade de tempo e sua disposição em colaborar com a pesquisa, entre outras. Esses problemas, por si só, já são suficientes para dar a essa tarefa um elevado grau de dificuldade.

Observa-se que a dificuldade gerada pela possibilidade de alguns dos dados a serem utilizados não possuírem toda a fidedignidade desejada é convalidada por vários autores, entretanto, mesmo para os que declaram a existência desse problema, a forma pelas quais os dados a serem trabalhados vem sendo levantados não gera qualquer questionamento. Para Blanchflower e Oswald (2002), por exemplo, há nítidas limitações nas estatísticas disponíveis acerca do bem-estar humano, notadamente por força da falta de controle do pesquisador sobre a fidedignidade dos dados levantados, mas é improvável compreender a felicidade humana sem ouvir o que dizem as pessoas.

Na oportunidade deve-se destacar, de modo especial, que as dificuldades associadas à disponibilidade e fidedignidade dos dados passíveis de serem levantados, ora em análise, podem vir a gerar importantes vieses nos estudos a serem desenvolvidos, entretanto, faz-se imperioso frisar que esses vieses tendem a ser minorados ou totalmente eliminados com o aumento da quantidade e melhoria da qualidade das observações realizadas, ou seja, a partir do aumento do volume de dados coletados, da melhoria dos instrumentos de coleta e da melhor preparação dos indivíduos responsáveis pela realização das entrevistas.

Faz-se interessante observar, nesse contexto, o posicionamento de Di Tella, MacCulloch e Oswald (2003), pois esses autores, apesar de concordarem que as respostas às questões sobre bem-estar podem ser influenciadas por fatores externos (estrutura do questionário, número de questões e de alternativas de

respostas, entre outros), destacam de modo ímpar que esses problemas podem ser minorados com a utilização de um grande número de observações.

Além da ampliação do volume de dados a serem coletados, a certeza quanto à utilização segura desse tipo de dados vem sendo trazida também pela validação empírica dos levantamentos feitos. Para Di Tella, MacCulloch e Oswald (2003), um determinado conjunto de características pessoais vem mostrando aproximadamente a mesma influência no nível de felicidade declarada, independente de onde as pesquisas tenham sido feitas. Em outra oportunidade, Di Tella e MacCulloch (2005), afirmaram que os dados subjetivos associados aos aspectos pessoais do bem-estar, levantados junto às pessoas, vem sendo de alguma maneira reforçados pelos depoimentos de membros de suas famílias. Tudo isso traz, facilmente, segurança adicional a todos os que vem coletando dados dessa natureza por meio de levantamentos de campo.

Concluindo a análise das dificuldades enfrentadas ao longo do processo sob análise, é importante notar que, mesmo levando-se em conta que já existem muitas experiências bem sucedidas voltadas à coleta de dados com essas características, e que esse método já possui o necessário reconhecimento da comunidade científica, alguns autores apontam dificuldades adicionais inerentes a esse processo – que devem servir de reflexão para todos os que assumem o desafio de desenvolver pesquisas associadas à felicidade. Para Blanchflower e Oswald (2004), por exemplo, outra dificuldade associada ao levantamento de dados nessa área é que não é possível fazer experimentos controlados - o que torna a identificação da correlação entre felicidade e fatores internos dos indivíduos uma atividade bastante difícil.

Por força dessa realidade, os cuidados com o planejamento e execução do estudo são absolutamente necessários, entretanto, as dificuldades abordadas não podem ser usadas como motivo para que se abandonem as iniciativas voltadas às pesquisas na área. Mesmo estando sujeitos a problemas das naturezas já abordadas, os pesquisadores precisam enfrentar o necessário processo de levantamento ou coleta de dados exigidos por suas investigações – sem o que nenhum avanço na área teria sido possível até o presente.

A esse respeito, é importante notar que, embora alguns fatores a serem observados se mostrem mais frequentes em estudos desse tipo, cada investigação

precisa incluir, no rol de dados a serem levantados para posterior análise, elementos que possam representar uma evolução na área pesquisada. Observe-se que esses elementos inovadores geralmente correspondem aos fatores de diferenciação e contribuição científica adicional de cada trabalho - no que se refere a seu objeto de pesquisa.