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Rev. Estud. Fem. vol.21 número1

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Academic year: 2018

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Estudos Feministas, Florianópolis, 21(1): 424, janeiro-abril/2013

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Copyright  2013 by Revista Estudos Feministas.

Este novo volume da Revista Estudos Feministas aparece em um momento sui generis do Brasil. Se vivemos uma prosperidade econômica antes não vista no país, com grande visibilidade internacional, embora persistam elevados níveis de desigualdades malgrado os recentes investimentos em políticas sociais, por outro lado nos deparamos ainda com grandes desafios políticos. A superação da corrupção e a construção de uma nova cultura política para o país parecem eludir todos os esforços. Questões como a disputa entre o crime organizado em torno das redes de tráfico de drogas e o sistema policial, judiciário e prisional, que tem afetado tão gravemente o estado de Santa Catarina, e a violência contra as mulheres e os/as homossexuais, que se concretiza em atentados frequentes em todo o Brasil, continuam a desafiar a sociedade e a provocar os debates que certamente serão importantes ao longo deste ano. Neste primeiro número de 2013, nossa satisfação maior é destacar o Seminário Internacional Fazendo Gênero 10, que mais uma vez acontecerá na UFSC, entre os dias 16 e 20 de setembro. A concepção geral do evento considera que, apesar dos avanços obtidos por meio das inúmeras lutas travadas pelas mulheres, muitos obstáculos persistem e alguns se re-configuram, exigindo o debate em torno dos Desafios Atuais dos Feminismos. Estes desafios incluem a baixa participação das mulheres nas instâncias de poder político; as desigualdades de gênero no âmbito do trabalho e da distribuição de renda; as dificuldades enfrentadas no âmbito das lutas pelo direito ao aborto; as violências domésticas e institucionais de gênero; a grave situação das mulheres, principalmente de baixa renda, nos contextos pós-coloniais e transmodernos; as iniquidades em saúde; as contramarchas nas lutas pelos direitos LGBT e contra os efeitos de subordinação das interseções de gênero, classe, gerações, raça/ etnia e deficiência; as assimetrias de gênero no âmbito da participação das mulheres na produção do conhecimento científico; a inserção significativa das mulheres nas mobilidades contemporâneas, entre outros temas.

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incentivar a participação de estudantes de graduação e de pós-graduação nas discussões travadas no campo dos estudos feministas e de gênero, para produzir conhecimentos que possam resultar em material bibliográfico a ser publicado em livros e periódicos sobre o tema.

Neste número a revista apresenta uma seção de artigos com diversas temáticas que giram em torno das ideias feministas; do debate sobre a pornografia; cultura e literatura a partir de perspectivas feministas e, ainda, a questão das migrações.

O artigo de Breno Cypriano, “Construções do pensamento feminista latino-americano”, nos traz uma reflexão sobre a constru-ção de um sujeito político, “a mulher do Terceiro Mundo”, e de um pensamento feminista criado em torno desse sujeito. O autor estabelece uma relação entre os movimentos sociais de mulheres e o pensamento feminista construído na academia na América Latina.

O movimento feminista no período da Primeira República no Brasil é o objeto do trabalho de Alcileide Cabral do Nascimento no artigo “O bonde do desejo: o Movimento Feminista no Recife e o debate em torno do sexismo (1927-1931)”. A autora investiga o uso da imprensa e de uma série de publicações específicas (livros, revistas) pelas feministas daquele período no Recife com o intuito de conquistar direitos políticos. Trata-se de um artigo muito consistente que contribui sobremaneira para o debate sobre os inícios do Feminismo no Brasil, assunto ainda relativamente pouco estudado.

Izadora Xavier do Monte, em “O debate e os debates: abordagens feministas para as relações internacionais”, apresenta as recentes abordagens feministas na área de Relações Internacionais a partir da aplicação do gênero como categoria de análise para as relações no contexto do que convencionou chamar de “terceiro debate em RI”. Essa aplicação, segundo a pesquisadora, está intimamente ligada às críticas às teorias convencionais de RI.

No campo da Ciência Política, Flávia Biroli apresenta sua reflexão sobre “Autonomia, opressão e identidades: a ressignificação da experiência na teoria política feminista”, a partir dos conceitos de “corpo vivido” e “conhecimento vivido” e como eles se articulam com a noção de experiência para constituir identidades em situações, como a vivida pelas mulheres, de relações de poder desiguais.

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O ensaio de Ramayana Lira, “Meta(no)morfoses lésbicas em Cassandra Rios”, apresenta a literatura dessa autora como um campo de batalha de forças que tanto constroem como fazem ruir a ideia de um ser lésbica como algo estável. A escrita sutil, subterrânea e errática, desestabiliza a estabilidade em nome de uma fluidez subjetiva que posterga a definição de uma identidade, e traz à tona transformações linguísticas e diegéticas.

Sob uma perspectiva sociopolítica, Júlio César Casarin Barroso Silva, em “Liberdade de expressão, pornografia e igualdade de gênero”, expõe a discussão sobre a repressão estatal a material pornográfico no contexto estadunidense. Liberais tendem a ver na demanda feminista uma reedição moralista e antiliberal. Parte do movimento feminista, por sua vez, coloca o tema como um problema de ordem político-igualitária, sob o argumento de que a pornografia é uma indústria de conteúdo misógino e uma ameaça concreta à igualdade entre homens e mulheres.

Em “Estereotipos, identidades, y nichos económicos de las migrantes brasileñas en Madrid”, Menara Lube Guizardi apresenta pesquisa sobre a feminização migratória brasileira na Espanha e sua inserção econômica. A autora observa que nesse contexto a maioria das mulheres tem de se dedicar a setores menos qualificados com baixa remuneração, relacionados a serviços domésticos ou à prostituição, sendo em muitos casos associadas a estereótipos de hiperssexualidade.

Marcia Tiburi faz uma análise de uma das mais emblemá-ticas personagens de Guimarães Rosa em “Diadorim: biopolítica e gênero na metafísica do Sertão”, a partir de leitura feminista de Diadorim como parte de uma história arquetípica, do topos da mulher/morta. O cruzamento de feminismo e biopolítica procura mostrar que a função da textualidade no patriarcado é tanto gozar sobre o corpo morto de uma mulher, quanto devolvê-la à sua suposta natureza doméstica e antipolítica. O artigo de Marcia Tiburi antecipa as complexidades que atravessam os temas e vivências das dicotomias de gênero, de que tratam as seções seguintes deste número da revista, especialmente aquela de artigos temáticos dedicados à questão das masculinidades.

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enfatizando sua condição de socióloga cujas reflexões se relacionam a um intenso e dedicado trabalho de pesquisa empírica. A entrevistada relata sua participação na Nova Esquerda nos anos 60-70 e o desenvolvimento dos estudos pioneiros sobre masculinidades na sociologia australiana. Ressalta sua persistente preocupação, nas relações de um mundo pós-colonial globalizado, com a visibilização da produção do conhecimento em Ciências Sociais nos países do Sul, em função da dominância da teoria produzida no Norte – Europa e Estados Unidos. Raewyn Connell, falando sobre transsexualidade, enfatiza ainda a importância da emergência das teorias queer para os estudos e vivências de gênero.

Tendo a REF já publicado importantes artigos sobre masculinidades, como os de Pedro Paulo de Oliveira (1998), Daniel Welzer-Lang (2001), Benedito Medrado e Jorge Lyra (2008), para citar apenas três, este é o segundo número da revista que dedica uma de suas seções ao tema. O número 2 do volume 6, publicado em 1998, acompanhando o crescente interesse pela temática nos estudos de gênero, trouxe o dossiê Masculinidade, organizado por Maria Luiza Heilborn e Sérgio Carrara, que intitularam sua apresentação com um sugestivo “Em cena, os homens...”.

A presente seção de artigos temáticos foi constituída a partir da tradução do artigo de Robert W. Connell, em coautoria com James W. Messerschmidt, “Masculinidade hegemônica: repensando o conceito”, e de outros artigos recebidos recentemente pela revista, cujos/as autores/as tematizam os estudos de masculinidades sob um ponto de vista feminista e trazem também estudos sobre a homossexualidade masculina. A seção nos permite visualizar um panorama atualizado e o debate sobre questões-chave em torno do tema das masculinidades na sociedade contemporânea, que incluem os paradigmas da masculinidade hegemônica e da dominação masculina, a vivência do “armário” ou as estratégias da homossexualidade masculina não declarada publicamente e a questão da homofobia

As resenhas deste número trazem mais uma vez publicações recentes e importantes para o campo de estudos de gênero, apresentadas criticamente sob o olhar de pesquisadoras/es e estudiosas/os da área, apontando sempre para um vir a ter, um vir a ler.

Referências

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