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Embargos de terceiro com pedido liminar de manutenção de posse

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Academic year: 2021

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emBArgos De terceiro com PeDiDo liminAr De mAnutenção De Posse

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da Comarca de ...

(nome da empresa), firma comercial destinada ao comércio agropecuário em geral, CNPJ n.º ..., localizada na Fazenda ..., município de ..., Estado de ..., por seu advogado in fine assinado, ut instrumento de procuração em anexo (doc. n.º 01 – instrumento de procuração e contrato social), vem, respeitosamente, promover os presentes EMBARGOS DE TERCEIRO COM PEDIDO LIMINAR DE MANUTENÇÃO DE POSSE (CPC, arts. 1.046 e segs.) contra a ..., instituição financeira sob a forma de empresa pública, CNPJ n.º..., sito à rua ..., bairro ..., nesta capital, mediante as razões de fato e direito adiante articuladas:

OS FATOS

1. A embargante na data de ... adquiriu do Sr. ... o imóvel constituído “um quinhão de terras, lo- calizado no lugar denominado FAZENDA ..., no município de ..., com a área de ..., cravado à margem do Córrego ...

2. Tal imóvel encontra-se registrado na matrícula n.º ... do Cartório de Registro de Imóveis de ...

3. O preço desta compra e venda foi de ..., pagos da seguinte forma:

– A quantia de ..., através de 04 (quatro) imóveis rurais de propriedade da então compradora (ora embargante) e,

– a quantia de..., representados por 100 (cem) novilhas nerole, que foram entregues e recebidas pelo vendedor, Sr. ...

4. Também restou estabelecido no contrato particular de compra e venda que a escritura do imóvel adquirido pelo ora embargante seria passada diretamente do ex-proprietário, Sr. ... para o comprador (embargante), com interveniência e garantia do vendedor, Sr. ... (doc. n.º 02 – contrato particular de compra e venda de imóvel).

5. Na data de ... lavrou-se a ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA do imóvel adquirido pelo embargante, constando no texto da referida escritura como vendedor o Sr. ... e interveniente garantidor o Sr. ... (doc. n.º 03 – escritura pública de compra e venda).

6. Em ... foi registrada perante a matrícula n.º ... a escritura pública de compra e venda do imóvel ad- quirido pelo embargante (doc. n.º .... 04 – registro imobiliário, matrícula n.º ... – Cartório de Registro de Imóveis de ...).

7. Na data em que se lavrou a escritura pública de compra e venda ... – bem como na data do registro

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no cartório imobiliário da escritura – ... – NÃO SE ENCONTRAVA REGISTRADO NENHUM GRAVAME OU ÔNUS NA MATRÍCULA DO IMÓVEL QUE PUDESSE IMPEDIR O REGISTRO OU SE TER CONHECIMENTO DA EXISTÊNCIA DE QUALQUER EXECUÇÃO CONTRA O SR. ...

8. Aliás, NÃO EXISTIA NEM AO MENOS PENHORA recaída sobre este imóvel na execução apen- sada, processo n.º ...

9. A propósito, nesta execução, em ... (data da lavratura da escritura pública), A EXECUÇÃO ES- TAVA GARANTIDA PELA PENHORA DE OUTROS IMÓVEIS, a saber: ...

10. 0 Sob o premissa da necessidade de se ampliar a penhora, a embargada requereu ao d. juízo fosse estendida a penhora ao imóvel objeto destes embargos de terceiro. E somente em ... foi lavrada a penhora com a intimação do ...e de sua esposa ...

IMPORTANTE REGISTRAR, que o executado ..., negou-se a assinar como DEPOSITÁRIO do referido imóvel, o mesmo sucedendo com sua esposa, traduzindo à evidência seu conhecimento de que há muitoteria vendido o imóvel para o Sr. ... este para o ora embargante (doc. n.º 07 – auto de penhora e depósito do bem objeto destes embargos de terceiro).

11. Através da r. decisão proferida nos autos da execução, o d. juízo a princípio entendeu ter ocorrido

“fraude à execução” ante fato da alienação do imóvel in quaestio concretizada pelo executado quando já citado para a execução, “não se cogitando da boa ou má fé do adquirente. Basta que, ao tempo do ajuizamento, o devedor já se tenha tornado insolvente; o terceiro adquirente responde pela sua impre- vidência e falta de cuidados elementares” (sic – doc. n.º 08 – decisão determinando o cancelamento do registro e o posterior registro da penhora).

12. Este o sumário dos fatos.

O DIREITO

PROCEDÊNCIA DOS EMBARGOS DE TERCEIRO - IMÓVEL ADQUIRIDO POR TERCEIRO DE BOA-FÉ – COMPRA E VENDA DE OUTRO QUE NÃO O EXECUTADO - INEXISTÊNCIA DE PENHORA OU QUALQUER GRAVAME OU ÔNUS SOBRE O IMÓVEL NA ÉPOCA DA COMPRA E VENDA REALIZADA - PRESERVAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ DO TER- CEIRO E DA IDONEIDADE DOS REGISTROS PÚBLICOS – NOVA REDAÇÃO DO ARTIGO 659 § 4.

o

DO CPC – POSIÇÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL – ENTENDIMENTO ESPOSADO PELO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA -

13. Ab initio, três considerações hão de ser colocadas. Primeiro, que o embargante adquiriu o imóvel do Sr. ... e que na época que a negociação foi realizada, não havia nenhum gravame ou ônus recaídos sobre a “Fazenda ...”; segundo, que na época da compra pelo embargante não havia sequer penhora sobre o imóvel e terceiro, que o embargante não tinha ciência do processo de execução promovida nesta capital pela embargada contra o Sr. ...

14. Rogata venia, a fundamentação do r. decisum que deu pela fraude à execução não mais vigora no

figurino legal vigente, diante da nova regra prevista no § 4.

o

do art. 659 do Código de Processo Civil

(vigente desde o ano de 1.994 com a alteração introduzida pela Lei 8.953/94), que impõe ao exequente

a incumbência de registrar a penhora no cartório de imóveis competente.

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15. Muito ao contrário do asseverado na decisão proferida na execução, rogata vênia, doravante, com o advento da novel legislação, portanto a partir de 1.994, a fraude apenas se configura com o registro da penhora (observação: não existia penhora na época que o embargante adquiriu o imóvel e tão pouco quando proferido o despacho dando pela fraude à execução).

16. O embargante promoveu TODAS as diligências necessárias para saber se teria algum gravame ou ônus recaído sobre o imóvel e NADA encontrou no registro de imóveis que pudesse evidenciar qualquer impedimento. E não se encontrando a averbação da execução ou da penhora (art. 167 n.º 5 da Lei n.º 6.015/73 – a Lei de Registro Público a torna obrigatória: “serão feitos...o registro”), impossível ao em- bargante supor da existência de uma execução contra o ex-proprietário do imóvel, data maxima venia.

17. Agiu o embargante com boa-fé, adquirindo o imóvel na forma pública, com escritura e registro realizados imediatamente.

18. E não foi só. Na qualidade de proprietário do imóvel, acresceu-o no seu patrimônio e passou a declarar regularmente no seu IMPOSTO DE RENDA, desde o ano de ... (ano-base ...), e vem assim fazendo até os dias atuais, consoante provam as declarações de renda ora anexadas (doc. n.º 09 – declarações de imposto de renda).

19. Imperioso afirmar, até pelo que estatui o art. 240 da Lei de Registro Público, que somente o registro da penhora faz prova quanto à fraude de qualquer transação posterior. No mesmo sentido a conclusão do VI Encontro Nacional dos Tribunais de Alçada – ENTA, tese n.º 09: “Necessidade de registro da penhora para surtir efeitos frente a terceiros de boa fé”.

20. In casu, a alienação do bem sucedeu por terceiro para o embargante, e na época desta alienação SEQUER HAVIA PENHORA e o embargante desconhecia por completo a existência da execução promovida pela embargada, além de que, como dito, não havia nenhum gravame averbado no registro imobiliário.

21. Assim, não se pode falar em “fraude à execução”, pois a exigência prevista no § 4º do artigo 659, introduzido pela Lei n.º 8.953/94, impõe ao embargado/credor, provar que o embargante tinha conhe- cimento acerca da execução — nem se diga em penhora, pois ela não existia na época da compra pelo embargante ocorrida em ...”.

22. Tornou-se exigível, além do ajuizamento da demanda executiva com citação válida, ao tempo da alienação, e dos indícios da insolvência o devedor, que a penhora seja devidamente inscrita no registro imobiliário, de modo a mostrar-se eficaz o ato constritivo perante terceiros de boa-fé.

23. Urge destacar que nos autos da execução já existia penhora de outros bens dos executados. E a penhora do imóvel de propriedade do embargante só sucedeu na fase de “ampliação da penhora”, e isto em ..., enquanto o embargante adquiriu o imóvel em ... — data da escritura pública de compra e venda — registrada na matrícula n.º ... em ... (vide registro imobiliário e escritura pública de compra e venda).

Só por isso, seria o suficiente para descaracterizar qualquer visualização de fraude à execução, conforme se posiciona o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

PROCESSUAL – FRAUDE À EXECUÇÃO – INOCORRÊNCIA. PENDÊNCIA DE EXECUÇÃO (CPC, art. 593,II). EXISTÊNCIA DE BENS PENHORADOS. Não há fraude

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se a venda malsinada efetivou-se quando a execução já se encontrava segura por penhora incidente sobre outros bens do devedor. (REsp. 101.472/RJ, rel. Min. HUMBERTO GO- MES DE BARROS, Corte Especial, DJU 15-10-01).

24. Ora, a exigência da inscrição da penhora trazida no mundo jurídico processual pelo § 4.º do art. 659 do Estatuto Processual foi exatamente prestigiar o instituto da boa-fé, que no dizer de VON THUR, é o elemento (a boa-fé) que informa, estrutura e vivifica as relações.

25. A penhora realizada pela embargada 03 (três) anos APÓS ter o embargante adquirido o imóvel em discussão, regularmente extraído escritura pública de compra e venda registrada no cartório imobiliário competente, evidencia a impossibilidade da figura jurídica de fraude à execução ou de qualquer ilegalidade.

26. O ato processual da penhora acarreta apenas a vinculação aos litigantes da contenda judicial, não possuindo, entretanto, qualquer eficácia perante outrem (aqui o embargante), enquanto não inscrita no Registro Imobiliário, porquanto é exatamente o registro que outorga a publicidade a terceiros e, na sua ausência, presume-se a boa-fé do adquirente da coisa posteriormente penhorada, sendo o objetivo fundamental da regra introduzida pela Lei n.º 8.953/94 o de possibilitar que a execução ocorra sobre bens comprovadamente de propriedade do devedor, evitando possíveis constrições de bens alheios.

27. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA preconiza que se a penhora não tiver sido registrada, o onus probandi de que o adquirente tinha ciência do gravame é do credor:

Inexistindo registro da citação (hipóteses dos incs. I e II do art. 593, CPC) ou do gravame judicial, ao credor cabe o ônus de provar a ciência pelo terceiro, adquirente ou beneficiário, da existência da demanda ou do gravame. A publicidade do processo não gera presunção da ciência de terceiros dos atos nele praticados. (Cód. Proc. Civil Anotado, ed. Saraiva, 7.ª ed., p. 459)

28. Ensina ERNANE FIDÉLIS DOS SANTOS:

(...) se houver inscrição, há presunção absoluta de fraude; se não houver, há presunção relativa, cabendo ao credor provar o consilium fraudis. A participação consciente do adquirente ou de quem onera o bem, no entanto, é dispensável, pois a fraude, na realidade, quando nela presente terceiro de boa-fé, é praticada contra ele não contra a atividade jurisdicional. (Manual de Pro- cesso Civil, ed. Saraiva, vol. 2, p. 88)

29. Nesse sentido, não existindo a penhora e consequentemente o seu registro, e não havendo prova de que o embargante à época da compra, tivesse ciência da “execução” — não se há de falar em pe- nhora, insista-se, pois ela não existia —, impõe-se, ao caso, a prevalência da boa-fé do embargante, devendo-se, pois, ser considerada eficaz a escritura pública de compra e venda e o registro imobiliário, desconstituindo-se, por conseguinte, a penhora realizada sobre o imóvel objeto dos presentes embargos de terceiro.

30. No caso em tela, deve-se considerar que o embargante É TERCEIRO DE BOA-FÉ, ADQUIRIU

O IMÓVEL DE TERCEIROS SEM TER CONHECIMENTO DA EXECUÇÃO. A documentação do

imóvel se encontrava perfeita e desembaraçada à época da compra por parte do embargante, permitindo

a realização da compra, mesmo porque ainda não havia sido realizada a penhora, insista-se.

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31. Acrescente-se que nunca houve qualquer ligação escusa entre o embargante-comprador de boa fé e o executado, denotando-se a saciedade a boa-fé reinante no negócio.

32. O egrégio TRIBUNAL DE ALÇADA DE MINAS GERAIS, tem pensamento único sobre a im- possibilidade de se considerar fraude à execução, se na época da compra e venda não havia no registro imobiliário nenhuma averbação anunciado qualquer gravame sobre o imóvel, valendo V. Exa. examinar nas íntegras dos acórdãos ora anexados a parte de fundamentação dos votos condutores, ilustradas por inúmeros julgados RECENTES do colendo Superior Tribunal de Justiça sobre o tema:

EMBARGOS DE TERCEIRO. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL PENHORADO. ALEGAÇÃO DE FRAUDE À EXECUÇÃO. AUSÊNCIA DE REGISTRO DA PENHHORA JUNTO AO CARTÓRIO COMPETENTE. ÔNUS DA PROVA DE RESPONSABILIDADE DO CREDOR. Na falta do registro da penhora junto ao Cartório competente, cabe ao credor provar que o adquirente, terceiro de boa-fé, possuía, ao tempo da aquisição, conhecimento de algum óbice legal, para caracterizar a fraude à execução. (Apelação Cível n.º 348.455.5, 6.ª C. Cível, j. 19-12-01).

EMBARGOS DE TERCEIRO. VENDA DOS IMÓVEIS PENHORADOS. GRAVAME NÃO REGISTRADO NO CARTÓRIO DO REGISTRO IMOBILIÁRIO. INOCORRÊN- CIA DA FRAUDE À EXECUÇÃO. Após o advento da Lei n.º 8.953/94, que acrescentou, ao artigo 659 do CPC, o parágrafo quarto, o registro da penhora não é mais um requisito de va- lidade e, sim, um requisito de eficácia para oponibilidade contra terceiros de boa-fé. Assim, não se pode falar em fraude à execução antes do registro da penhora, ressalvando-se aqueles casos em que ficar provado que o terceiro atuava de má-fé. (Apelação Cível n.º 360.527.0, 4.ª C. Cível, j. 08-05-02).

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. FRAUDE. ALIENAÇÃO DE BEM IMÓVEL. TRANS- FERÊNCIA TERCEIRO QUE ADQUIRIU O BEM DIRETAMENTE DO DEVEDOR CITADO POR EDITAL. TUTELA DA BOA-FÉ. É contrário ao direito lesionar terceiro de boa-fé que se encontra na posse e propriedade do bem adquirido, notadamente havendo alienação, sem registro anterior à penhora. Tratando-se de bens imóveis, para efeito de carac- terização de fraude de execução, a alienação se considera feita na data do contrato translativo e não da transcrição. No caso de oneração, porém, a constituição do direito real, para qual- quer efeito, só se dá com o registro. O reconhecimento da existência de fraude de execução, havendo alienações sucessivas, dependeria de registro da penhora ou de prova de má-fé do terceiro que adquiriu o bem de quem o comprou do devedor. (Agravo de Instrumento n.º 361.056.0, 4.ª C. Cível, j. 22-05-02).

FRAUDE DE EXECUÇÃO. AUSÊNCIA DE REGISTRO DA PENDÊNCIA DE DEMAN- DA. DESCONFIGURAÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIRO. ESCRITURA DE COMPRA E VENDA NÃO REGISTRADA. Para caracterizar a fraude de execução, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem exigido o registro da penhora ou de pendência de deman- da no cartório competente, o que no caso, não foi feito. Assim, inexistente o registro, cabe ao credor provar que os terceiros adquirentes teriam ciência da pendência de demanda capaz de reduzir o executado à insolvência. Ausente tal prova, deve ser prestigiada a presunção de boa-fé dos terceiros adquirentes. Nos embargos de terceiro, a escritura de compra e venda, mesmo não registrada, é suficiente para demonstrar a posse do adquirente, desde que não existam provas em sentido contrário, sendo aplicável analogicamente o enunciado 84 da Sú- mula do Superior Tribunal de Justiça. (Apelação Cível n.º 338.301.9, 4.ª C. Cível, j. 14-11-01).

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33. O ínclito SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA é contundente ao prestigiar a boa-fé ao terceiro adquirente de imóvel que foi objeto de penhora sem inscrição no registro imobiliário, não tendo o credor demonstrado o conhecimento ou o consilium fraudis entre o devedor e o embargante.

Na hipótese sub Exa.mine, com muito mais vigor não se há de ventilar em fraude à execução, posto que:

– o embargante adquiriu em ... o imóvel NÃO do executado, mas sim do Sr. ..., que inclusive com- pareceu na escritura pública como “interveniente” na escritura pública de compra e venda;

– na época em que o embargante adquiriu o imóvel questionado, NÃO havia sequer a penhora deste bem;

– quando o embargante comprou o imóvel discutido, NÃO havia qualquer restrição no cartório de registro de imóvel da comarca de ...;

– o embargante NÃO tinha conhecimento do processo de execução apensado e JAMAIS soube da existência da execução aparelhada pela embargada.

34. Firme o repositório do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA em proclamar o respeito à boa-fé do terceiro, além do que não se pode exigir do comprador do bem imóvel que em suas diligências percorra por todos os fóruns do país para verificar a existência de execução contra o vendedor, sua condição de insolvente e a existência de penhora recaída sobre determinado imóvel, data máxima venia (JTACivSP, Lex, 150/73).

Com a palavra o Ministro CESAR ASFOR ROCHA, remarcando em seu voto quando do julgamento do REsp. 235.201/SP, j. 25-06-02:

...milita em favor do adquirente a presunção de que ele desconhecia, quando da aquisição, a existência da ação, razão pela qual deve o exequente arrostar com o ônus de provar o con- trário. É que, não havendo, no cartório imobiliário, nenhum registro da existência da ação, não se pode imputar ao adquirente nenhuma obrigação de ter ciência desse fato, sendo até impossível disso com segurança ele saber (salvo se obtivesse certidões negativas de todos os cartórios de distribuição por esse Brasil afora), por isso mesmo não lhe cabe provar a sua ignorância quanto a tanto, pois a sua boa-fé, que é presumida, há de ser preservada, até prova em contrário. Não estou dizendo aqui que a má-fé do comprador seja elemento indispensável para a caracterização da fraude à execução. Apenas estou afirmando que, não tendo o regis- tro imobiliário recebido a notícia da existência da ação, a presunção de licitude da alienação milita em favor do comprador. Entendimento contrário geraria intranquilidade nos atos ne- gociais, conspiraria contra o comércio jurídico e atingiria a mais não poder a confiabilidade nos registros públicos.

35. Eis os acórdãos do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA amparando a tese trazida pelo embar- gante:

EMBARGOS DE TERCEIRO. BEM PENHORADO. AUSÊNCIA DE REGISTRO. HIPÓ- TESE ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI 8.953/94. Não registrada a penhora, a ineficácia da venda, em relação à execução depende de se demonstrar que o adquirente, que não houve o bem diretamente do executado, tinha ciência da constrição. Prevalência da boa-fé. (REsp.

225.091-GO, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 29-06-00).

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PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. FRAUDE DE EXECUÇÃO. PENHO- RA NÃO INSCRITA NO REGISTRO IMOBILIÁRIO. É da doutrina e da jurisprudência que não revelada a litispendência ou litigiosidade da coisa constritada, via inscrição da penhora no registro imobiliário, legítimo é o reclamo de terceiro, um dos adquirentes sucessivos do bem litigioso, de livra-lo da constrição, quando de boa-fé o comprou. Recurso conhecido e provido.

(REsp. 68.212.6 - SP, rel. Min. Waldemar Zveiter, DJU 15-0496).

PROCESSO CIVIL. FRAUDE À EXECUÇÃO. Não ocorrência. Recurso especial conhe- cido e provido. O acórdão reconheceu que este ignorava a existência de execução proposta conta o primeiro proprietário do veículo. Nesta hipótese, a só existência de citação válida não bastava para que tomasse conhecimento da demanda. Além disso, a exigência de que fosse a penhora registrada é inoperante, já que a esta altura, o bem já pertencia ao embar- gante. Por outro lado, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou-se no sentido da necessidade de se proteger o terceiro de boa-fé – circunstância reconhecida no acórdão – mormente quando o bem é comprado de outra pessoa, que não o devedor. (REsp.

175.831 - SP, rel. Min. Ari Pargendler, j. 07-11-02).

Havendo penhora no processo de execução que corria contra o vendedor, não se pode reconhecer fraude de execução na alienação de outro bem, se inexistem elementos para caracterizar a insolvência e o conhecimento que dela deveria ter o comprador. (REsp.

215.914 - MG, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU 14-02-00).

PROCESSUAL CIVIL. FRAUDE À EXECUÇÃO. ART. 593,II DO CPC. INOCORRÊN- CIA. Para que se tenha por fraude à execução a alienação de bens, de que trata o inciso II do art. 593 do Código de Processo Civil, é necessária a presença concomitante dos seguintes elementos: a) que a ação já tenha sido aforada; b) que o adquirente saiba da existência da ação, ou por já constar no cartório imobiliário algum registro dando conta de sua existência (presunção juris et de jure contra o adquirente), ou porque o exequente, por outro meios, provou que do aforamento da ação o adquirente tenha ciência; c) que a alienação ou a onera- ção dos bens seja capaz de reduzir o devedor à insolvência, militando em favor do exequente a presunção juris tantun. Inocorrente, na hipótese, pelo menos o segundo elemento suprain- dicado, não se configurou a fraude à execução. Entendimento contrário geraria intranquili- dade nos atos negociais, conspiraria contra o comércio jurídico e atingiria a confiabilidade nos registros públicos. (REsp. 235.201-SP, rel. Min. César Asfor Rocha, j. 25-02-02).

EMBARGOS DE TERCEIRO. FRAUDE DE EXECUÇÃO PRECEDENTES DA CORTE.

1. Precedente da Corte assentou que não há ‘fraude de execução na aquisição feita por ter- ceiro de boa-fé, que compra o bem de outro que não o executado, antes da penhora, sem que houvesse inscrição da distribuição do processo de execução e sem prova de que o adquirente sabia da existência da demanda capaz de levar o primitivo proprietário à insolvência. Nesse caso, a declaração da ineficácia da primeira venda não atinge o terceiro subadquirente de boa-fé. 2. Recurso especial não conhecido. (REsp. 298.558-RJ, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 12-06-01).

Não há fraude de execução na aquisição feita por terceiro de boa-fé, que compra o bem de outro que não o executado, antes a penhora, sem que houvesse inscrição da distribuição do processo de execução e sem prova de que o adquirente sabia da existência da demanda capaz de levar o primitivo proprietário à insolvência. Nesse caso, a declaração da ineficácia da primeira venda não atinge o terceiro subadquirente de boa-fé. (REsp. 246.625-MG, rel. Min.

Ruy Rosado de Aguiar, DJU 28-08-00).

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EMBARGOS À EXECUÇÃO. FRAUDE DE EXECUÇÃO. TERCEIRO ADQUIRENTE DE BOA-FÉ. PRECEDENTES DA CORTE. 1. Já assentou a Corte que não registrada a pe- nhora, a ineficácia da venda, em relação à execução, depende de se demonstrar que o adqui- rente, que não houve o bem diretamente do executado, tinha ciência da constrição (REsp.

n.º 225.091-GO, Relator o Senhor Ministro Eduardo Ribeiro, DJ de 28-08-00). Recurso es- pecial conhecido e provido. (REsp. 401.937-MG, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito).

No mesmo sentido: REsp. 172.354-SP, DJU 13-10-98; REsp. 77.161-SP, DJU 30-03-98; REsp. 145.371, DJU 24-11-97; REsp. 145.296-SP, DJU 20-03-0; AGA 132.496-MG, DJU 31-08-98 e EREsp. 114.415- MG, DJU 16-02-98 dentre tantos outros.

36. Por estes motivos, impõe-se a procedência dos presentes embargos de terceiro para afastar a fraude à execução, decretando-se eficaz a compra e venda realizada pelo embargante.

III – DOS PEDIDOS

PEDIDO DE LIMINAR DE MANUTENÇÃO DE POSSE

37. De chofre há de ser considerado que a penhora realizada se encontra absolutamente irregular, pois não há depositário do bem constritado no auto de penhora do imóvel questionado, o que desatende à regra do art. 665 inciso IV do CPC.

38. Noutra senda, no imóvel sub cogitatione o embargante tem lá criação de gado e pecuária, e dele necessita para as suas atividades comerciais, sem o que não haverá condições da sobrevivência da própria empresa.

39. Atrelado a tudo isto, os documentos carreados nesta oportunidade traduzem a seriedade e a intenção inarredável do embargante ter de volta o domínio do imóvel por ele adquirido, não se afigurando em nenhum quadrante a menor possibilidade ou intenção de fraude.

40. Com estes fundamentos, com base no art. 1.051 do Código de Processo Civil, REQUER seja-lhe deferido initio lide a LIMINAR DE MANUTENÇÃO DE POSSE, até decisão final dos presentes embargos de terceiro.

PROCEDÊNCIA DOS EMBARGOS DE TERCEIRO E OUTROS PEDIDOS 41. Ex positis, o embargante requer:

a) sejam JULGADOS PROCEDENTES OS PRESENTES EMBARGOS DE TERCEIRO para afastar a apreensão judicial da penhora recaída sobre o imóvel de sua propriedade, constituído por “um qui- nhão de terras, localizado no lugar denominado FAZENDA ..., no município de ..., com a área de ... cravado à margem do ..., registrado na matrícula n.º... do Cartório de Registro de Imóveis de ...”, e via de consequência expedindo-se carta precatória para a Comarca de ..., determinando o cancelamento das Averbações números ... e .... recaídas sobre a matrícula n.º... relativas ao cancela- mento do registro da alienação realizada em nome do embargante e da penhora recaída sobre o imóvel;

b) a condenação da embargada ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,

(9)

c) a citação da embargada na pessoa de seu advogado, para querendo, contestar no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de revelia (CPC, art. 1.053);

d) proceda-se à suspensão do processo de execução em relação ao imóvel objeto deste pedido, obede- cendo-se ao comando do art. 1.052 do CPC;

e) a distribuição por dependência à execução n.º ... (CPC, art. 1.049);

f) a produção de provas documental, testemunhal e pericial.

Dá-se à causa o valor de ...

Pede Deferimento.

(local e data)

(assinatura e n.º da OAB do advogado)

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