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IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DESENCADEANTES DA DEPRESSÃO NO PÓS- PARTO IDENTIFICATION OF TRIGGERING FACTORS OF POSTPARTUM DEPRESSION

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1 IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DESENCADEANTES DA DEPRESSÃO NO PÓS-

PARTO

IDENTIFICATION OF TRIGGERING FACTORS OF POSTPARTUM DEPRESSION

Brenda Souza PIRES 1 , Luisa Carolina Colhado MACHADO 2 , Gabriela Rossi FERREIRA 3 , Rodrigo Itaboray FRADE 4 , Miriam de Oliveira Alves RIBEIRO 5 .

Resumo

A depressão é uma doença multifatorial causada por fatores genéticos, biológicos e ambientais.

O termo depressão pós-parto (DPP) é utilizado para designar qualquer episódio depressivo que ocorra até um ano após o parto, trata-se de uma patologia delicada, pois afeta diretamente a relação do binômio, mãe e filho. O profissional de enfermagem exerce papel importante em situações de DPP, pois permanece 24 horas ao lado da paciente estabelecendo vínculo de confiança com a mesma, facilitando possíveis diagnósticos. O presente artigo objetivou evidenciar os fatores desencadeadores da DPP. Trata-se de uma revisão integrativa de literatura que buscou identificar os fatores desencadeadores da depressão pós-parto. Para abordagem dos resultados e discussão do tema foram utilizados 11 artigos. Vários fatores promotores foram citados, esses fatores foram tabulados, utilizando de frequência absoluta e relativa. Existem fatores predominantes no estabelecimento da DPP, todavia, existem meios que podem amenizar ou até mesmo evitar o surgimento da doença. Embora seja um tema frequente no cotidiano, ainda são necessários maiores estudos a fim de viabilizar a prevenção da doença.

Descritores: Período pós-parto; Depressão reativa; Depressão pós-parto; Fatores Desencadeadores.

1 Acadêmica de Enfermagem pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.

brenda.souza0309@gmail.com

2 Acadêmica de Enfermagem pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.

luisa.colhado@yahoo.com.br

3 Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde pelo Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte (EPSC-BH). Especialista em Nefrologia (FCM-MG) e Oncologia (EPSC-BH) Docente do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Coordenadora de Cursos de Aperfeiçoamento em Enfermagem. gabirossi23@yahoo.com.br

4 Físico (UFMG) e Pedagogo (UNIUBE), Mestre em Educação Tecnológica (CEFET-MG).

Docente do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. itaboray78@gmail.com

5 Enfermeira. Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais pela Fundação Educacional de Divinópolis (FUNEDI). Especialista em Saúde da Família (UFMG) e Saúde Coletiva (UNAERP).

Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem e Docente do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. miriam.ribeiro@izabelahendrix.metodista.br

Revista NBC - Belo Horizonte – vol. 10, nº 20, dezembro de 2020.

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Abstract

Depression is a multifactorial disease caused by genetic, biological and environmental factors.

The term postpartum depression (PPD) is used to refer to any depressive episode that occurs up to one year after delivery, it is a delicate pathology, since it directly affects the relationship between the binomial, mother and child. Nursing professionals play an important role in PPD situations, as they stay 24 hours with the patient, establishing a trusting relationship with them, facilitating possible diagnoses. This article aimed to highlight the triggering factors of PPD.

This is an integrative literature review that sought to identify the triggering factors of postpartum depression. To approach the results and discuss the theme, 11 articles were used.

Several promoter factors were cited, these factors were tabulated using absolute and relative frequency. There are predominant factors in the establishment of PPD, however, there are ways that can alleviate or even prevent the onset of the disease. Although it is a frequent theme in daily life, further studies are needed to enable the prevention of the disease.

Keywords: Postpartum depression; Triggering factors; Depressive symptoms.

INTRODUÇÃO

O termo depressão pós-parto (DPP), é utilizado para designar qualquer episódio depressivo que ocorra até um ano após o parto. Trata-se de uma patologia delicada, pois envolve o binômio, mãe e filho, aonde além de a puérpera ter sua saúde prejudicada durante o tempo que durar a depressão, terá também os laços afetivos com a criança interrompidos por esse tempo. Consiste em um grave problema de saúde pública, devido impacto e aumento da incidência nos últimos anos (MENDOZA; SALDIVIA, 2015).

Entende-se que pode ser diagnosticada e tratada em nível primário, no entanto poucas puérperas têm acesso adequado ao tratamento. O impacto da DPP sobre a saúde das crianças é proporcional à severidade e duração do episódio depressivo, e se agrava em cenários de adversidade pessoal ou social (BERMAN; LÓPEZ, 2016).

O quadro depressivo inicia-se geralmente entre as primeiras semanas após o parto, atentando para os sinais do humor deprimido: perda de prazer e interesse nas atividades, alteração de peso e/ou apetite, alteração de sono, agitação ou retardo psicomotor, sensação de fadiga, sentimento de inutilidade ou culpa, dificuldade para concentrar-se ou tomar decisões e até pensamentos de morte ou suicídio (CANTILINO et al., 2010).

As puérperas que se encontram nesta situação carecem de atenção especial, de olhar clínico mais apurado, atentando para os sinais apresentados, visando tratamento específico, a fim de, obter bons resultados por meio do tratamento, evitando agravos na saúde da mãe e filho, (GONÇALVES et al.,2018). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão pós-parto acomete mais de 25% das mães no Brasil, além de existir casos não diagnosticados devido à falta de orientação e/ou observação dos profissionais da área da saúde com a puérpera (BRASIL, 2016).

Alguns fatores podem desencadear a depressão pós-parto como: violência obstétrica, falta de

acompanhamento médico durante a gestação e a situação socioeconômica. Diante disso,

podemos enfatizar a importância de a equipe de enfermagem saber identificar e registrar

quaisquer uns dos fatores que podem desencadear a DPP (CANTILINO et al., 2010). Dessa

forma, o conhecimento dos fatores promotores pode contribuir significativamente, a partir de

ações que vislumbrem reduzi-los. Tendo essa como premissa, este artigo objetivou investigar

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3 os fatores desencadeadores da DPP com a finalidade de propor condutas almejando a redução e/ou neutralização destes fatores.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica descritiva, com abordagem quantitativa. Através do tema referenciado, a escolha dos dados foi feita por meio de busca de artigos no banco de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), nas Bases de Dados em Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Na busca de dados foram utilizados os descritores combinados: 1- depressão pós-parto AND fatores desencadeadores; 2- depressão pós-parto AND enfermagem; 3- depressão pós-parto AND diagnóstico.

As publicações foram selecionadas utilizando-se os filtros do sistema da BVS, tendo como parâmetros de inclusão dos artigos: publicados em português e espanhol, texto integral disponível gratuitamente, recorte temporal de 2014 a 2019, que abordavam a temática pesquisada; e, como fatores de exclusão: artigos em duplicidade nas bases pesquisadas e os que não abordavam o tema de interesse deste estudo.

Assim, o número de publicações encontradas, após refinamento dos dados, foi de 11 artigos, dos quais: 1- depressão pós-parto AND fatores desencadeadores, 2 artigos; 2 - depressão pós- parto AND Enfermagem, 3 artigos; 3- depressão pós-parto AND diagnóstico, 6 artigos.

DEPRESSÃO PÓS-PARTO

O parto e o pós-parto são períodos marcantes na vida da mulher, considerando que geram experiências essenciais, as quais elaboram o significado de ser mãe, para auxiliar em diagnósticos e condutas, o período pós-parto pode ser definido didaticamente em: Imediato, do 1° ao 10 ° dia; tardio, 11° ao 42° dia; e remoto, a partir do 43 ° dia (MESTIERI et al., 2005). O puerpério imediato é marcado por intensas modificações fisiológicas, psicológicas e sociais, sendo necessária a presença de uma equipe multiprofissional nesse momento (STRAPASSON;

NEDEL, 2010).

O período imediato tem início logo após a expulsão da placenta, onde os sinais vitais se estabilizam devido às contrações uterinas, é neste momento que ela tende a ter sensações mais intensas e grande alteração hormonal, devido ao aumento da secreção de corticosteroide e a queda repentina dos níveis hormonais. No período tardio o corpo continua passando por mudanças para retornar ao seu estado natural e no período remoto a ovulação retorna (MESTIERI; MENGUETTE; MENGUETTE, 2005).

Nos últimos 20 anos foi reconhecido que a gravidez, para algumas mulheres, é uma fase de completa sobrecarga por transtornos do humor. Dentre os transtornos de humor que acometem as mulheres no período pós-parto, está em alta prevalência a depressão pós-parto que se caracteriza por surgimento de sintomas depressivos entre a quarta e oitava semana após o parto, podendo se estender ainda dentro do mesmo ano (SCHWENGBER; PICCININI, 2003).

O nascimento de um bebê, principalmente sendo o primeiro filho, tem sido considerado por

diversos autores um evento propício para distúrbios emocionais, pois a mulher terá de mudar

sua identidade para assumir um novo papel. Há poucas evidências de que a presença da

depressão pós-parto esteja associada somente a fatores biológicos, como a diminuição de níveis

hormonais. Sendo assim, uma combinação de fatores biológicos, obstétricos, sociais e

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psicológicos, podem estar envolvidos na etiologia da depressão pós-parto (SCHWENGBER;

PICCININI, 2003).

Evidências apontam a relação da DPP com o pouco suporte oferecido pelo parceiro ou pelas pessoas que a puérpera possui contato, o não planejamento da gestação, o nascimento prematuro ou a morte do bebê, a dificuldade em amamentar ou dificuldades no parto e sensação de baixa autoestima, além de problemas de saúde da criança, dificuldade em retornar ao trabalho e adversidades socioeconômicas (SCHWENGBER; PICCININI, 2003).

Alguns fatores que acarretam maior risco de desenvolvimento de DPP são: puérperas sem parceiros fixos, que gestaram ainda adolescentes ou tiveram complicações obstétricas, outro fator questionável e considerado de risco é a insatisfação relacionada aos cuidados prestados na maternidade (SCHWENGBER; PICCININI, 2003).

Os sintomas da DPP são característicos de uma depressão maior, mas com influência do recém- nascido. A puérpera apresenta como sintomas: irritabilidade, sentimento de desamparo, desesperança, falta de energia e motivação, desinteresse sexual, alterações alimentares e do sono, sensação de ser incapaz e de lidar com a nova situação (ter um filho) e queixas psicossomáticas como, cefaleia, lombalgia e erupções vaginais (SCHMID et al., 2005).

Estima-se que de 25 a 35% das mulheres apresentam sintomas depressivos na gravidez, e que até 20% podem preencher os critérios para depressão (SANTOS; SOUZA, 2016). A depressão pós-parto é uma condição que afeta de 10% a 15% das mulheres, elevando-se esta taxa de prevalência para 25 % para aquelas que já tiveram histórico de depressão em pós-partos anteriores (SCHMID et al., 2005).

O diagnóstico da DPP é realizado por meio dos sinais e sintomas que a puérpera apresenta, citados anteriormente, no entanto, um instrumento muito utilizado e totalmente valido para o rastreio da DPP é o Escore de Edimburgo. No qual pontuação maior ou igual a 12 é indicativa de depressão pós-parto, devendo o diagnóstico ser confirmado por profissional qualificado para tal. O período ideal para o rastreio é entre duas semanas a seis meses após o parto (IBIAPINA et al., 2010).

O tratamento é realizado por meio da psicoterapia, tratamento antidepressivo, terapia hormonal, atividade física e em casos extremos a eletroconvusoterapia. O uso de psicofármacos tem contraindicações no puerpério, devido ao aleitamento materno, e a mulher deve ser assistida com cuidado (SILVA; BOTTI, 2005).

A abordagem psicoterapeuta é essencial e utilizada como primeira opção, envolve os familiares, já que a participação destes contribui para a adesão ao tratamento da paciente. A eletroconvusoterapia é indicada em casos extremos, quando a puérpera não corresponde à terapia medicamentosa antidepressiva (SILVA; BOTTI, 2005).

A DPP E A INTERAÇAO BINÔMIO MÃE/FILHO

A formação do vínculo afetivo entre binômio se inicia antes mesmo da gravidez, com o desejo da maternidade, e perpetua-se com a gestação e o nascimento da tão esperada criança. É importante ter uma equipe multiprofissional preparada para todas as situações adversas, incluindo obstetra, pediatra, anestesista, enfermeiro, técnico em enfermagem, assistente social e psicólogo (LUCA, 2005).

Ainda, é necessário ressaltar a importância da equipe de enfermagem para a puérpera, pois a

mesma se encontra 24 horas ao lado da mãe e auxilia em todas as dúvidas pertinentes ao cuidar

de um recém-nascido (RN), orientando troca de fralda, amamentação, banho e possíveis eventos

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5 que podem surgir no bebê após a alta como a icterícia. Além disso, a equipe de enfermagem encoraja, fortalece e aumenta a autonomia da mãe. Caso essa atenção não seja dada de forma adequada pode ocorrer o estresse pós-traumático, onde a mãe culpará o bebê por todo o sofrimento pelo qual teve de passar (LUCA, 2005).

A duração da DPP relaciona-se com redução na afetividade e cuidados direcionados à criança, resultando em prejuízo no desenvolvimento cognitivo e social no primeiro ano de vida. Existe associação entre DPP e problemas posteriores do desenvolvimento das crianças incluindo, transtornos de conduta, comprometimento da saúde física e episódios depressivos. Os sintomas de depressão interferem em todas as relações interpessoais, especialmente no desenvolvimento da interação entre a mãe e seu bebê (SCHMID et al., 2005).

Crianças de mães com depressão pós-parto são descritas como mais ansiosas e menos felizes, são menos responsivas nas relações interpessoais e sua atenção é menor, quando comparadas com as crianças de mães não depressivas. Essas crianças apresentam também menos sorrisos, menor interação corporal, além de maiores dificuldades nutricionais e de sono. Puérperas com DPP têm estilo de apego considerado inseguro, em relação às mães que não a apresentam, assim como veem seus filhos como mais difíceis de lidar, mais lentos, exigentes e não adaptados (MARTINS; SANTANA, 2013).

Na relação das puérperas com seus filhos, as puérperas com DPP mostraram níveis de hostilidade maior, apresentando maior rejeição, negligência e agressividade com seus filhos. A interrupção da amamentação também apresenta maior prevalência nessa população (SCHMIDT; PICCOLOTO; MULLER, 2005).

É de suma importância que o profissional de enfermagem tenha conhecimento cientifico acerca da depressão puerperal, pois o mesmo acolhe a paciente, cabendo-lhe realizar devidas orientações e alerta-la sobre a importância da adesão ao tratamento. Ao identificar um fator de risco que pode desencadear a DPP, o enfermeiro pode realizar o direcionamento adequado da puérpera, trabalhando na prevenção deste transtorno mental, salientando que, promover a saúde mental é um dever dos profissionais envolvidos no cuidado (SILVA; BOTTI, 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra constou de 23 referências. Para abordagem dos resultados e discussão do tema foram utilizados 11 artigos.

Os fatores desencadeadores da DPP foram tabulados. Os determinantes para o desenvolvimento

da DPP citados pelos autores analisados apareceram em diferentes frequências de acordo com

a tabela 1, frequência absoluta; e figura 1, frequência relativa.

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Tabela 1- Relação da Frequência absoluta (FA) e relativa (FR) dos fatores promotores/desencadeadores

Fatores Promotores/desencadeadores FA FR

Antecedentes de doenças mentais 6 13,6%

Falta de apoio familiar e social 6 13,6%

Violência 5 12,4%

Condição socioeconômica 4 9%

Falta de suporte psicológico 4 9%

Uso de substâncias psicoativas 4 9%

Inadequação ao papel de mãe 4 9%

Complicações na gestação ou parto e Morbidades 2 4,5%

Idade precoce ou tardia 2 4,5%

Problemas conjugais 2 4,5%

Histórico de DPP em gestações anteriores 1 2,2%

Baixa escolaridade 1 2,2%

Estado civil 1 2,2%

Tipo de parto 1 2,2%

Gestação não planejada 1 2,2%

Fonte: Dados do estudo.

Figura 1 - Frequência relativa dos fatores promotores/desencadeadores apresentados.

13,6% 13,6%

Fonte: Dados do estudo

12,4%

9% 9% 9% 9%

4,5% 4,5% 4,5%

2,2% 2,2% 2,2% 2,2% 2,2%

Antecedente de doenças mentais correspondem a 14% dos fatores etiológicos citados. Sendo

esse um fator que pode favorecer a instalação da DPP. No entanto, um pré-natal que investigue

condições pregressas da gestante, permite o direcionamento de cuidados para prevenir e/ou

tratar precocemente a DPP.

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7 De acordo com Jordão et al. (2017), muitas mulheres com algum grau de sofrimento mental não são diagnosticadas corretamente, especialmente na atenção primária. O que pode estar associado com a assistência que lhes é prestada durante o pré-natal que, por vezes, está focada apenas nos aspectos fisiológicos da gestação e do pós-parto, o que dificulta o profissional de saúde mensurar os sintomas, sobretudo quando estão relacionados com a psique humana.

Segundo Romero et al. (2017), é recomendado que os especialistas apliquem a escala de depressão pós-parto de Edimburgo (EPDS) durante o acompanhamento do pré-natal, pois a presença de sintomas depressivos na gravidez pode favorecer a presença de sintomas depressivos no pós-parto.

Com 14% de frequência neste estudo está o apoio familiar e social, que quando fraco ou ineficaz é considerado um fator desencadeador, devido ao grande estresse físico e psicológico que uma gestação pode gerar, que por vez, quando enfrentados sem apoio pode gerar desesperança, frustação e sentimento de incapacidade. Andrade et al. (2017), afirmam que as puérperas com DPP que não possuíam suporte familiar, apresentaram maiores pontuações para DPP e para uso de álcool, além de frequência de relatos de violência e falta de um suporte psicológico.

De acordo com Romero et al. (2017), momento da gestação e o “ser mãe” é exclusivo e deve ser compreendido por familiares como uma experiência única. O não envolvimento e falta de apoio nesse momento, contribui para gatilhos que podem levar ao desenvolvimento da depressão. Segundo Jordão et al. (2017), a sociedade cria uma imagem da mãe perfeita, mas nem sempre condiz com a realidade vivenciada na maternidade. A mulher enfrenta responsabilidades que exigem diversas readaptações, sobretudo nas dimensões psíquicas.

A violência foi citada por 5 dos 11 autores como fator desencadeador da DPP. Neste aspecto pode-se analisar a violência física, psicológica sexual e conjugal, situação delicada, especialmente quando analisada a dependência emocional relacionada ao parceiro ou medo de represálias (ANDRADE et al.,2017).

As mulheres abusadas por seus parceiros sofrem, em maior medida, com problemas de saúde mental comparado com aquelas que não foram agredidas (LAFAURIE-VILLAMIL et al., 2015). Berman e López (2016) ressaltam que, problemas de infertilidade, mortalidade fetal ou neonatal associados com a violência conjugal durante a gestação, são fatores relevantes para o desenvolvimento da DPP.

Citado com 9% de frequência, as condições socioeconômicas podem favorecer a instalação da DPP. Mulheres de baixa renda, com problemas financeiros se tornam propensas para o surgimento da DPP, muitas vezes por ter que enfrentar situações precárias. De acordo com Andrade et al. (2017), existe forte associação entre a DPP e a falta de suporte familiar e social, além de baixo nível socioeconômico, frequências de brigas com o parceiro e abuso de substâncias. Isso se confirma ao observarmos Hartmann et al. (2017), que relatam em seu estudo que mulheres com perfil socioeconômico baixo, apresentaram alto índice de sintomas depressivos.

Existe maior prevalência de depressão entre os grupos sociais menos privilegiados, deixando em evidência a importante iniquidade existente e demonstrando a necessidade de implantar medidas que possam reduzir esta diferença (HARTMANN et al., 2017). González et al. (2016), relatam que a incidência da DPP está acima do limite esperado, justificado pela alta vulnerabilidade socioeconômica.

A falta de suporte psicológico, foi citada por 4 dos 11 autores consultados. Mulheres que não

apresentam apoio psicológico apresentam maior predisposição para desenvolver DPP,

conforme estudo apresentado por Andrade et al. (2017). Berman e López (2016) evidenciam

que a prevalência da DPP é maior em puérperas que apresentam vulnerabilidade econômica e

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social, associada a problemas com o parceiro, transtornos de ansiedade e falta de estrutura emocional para assumir o papel da maternidade. Ainda citado pelos autores Mendonza e Saldivia (2015), o pobre apoio social e familiar é considerado um fator desencadeador importante.

O uso de substâncias psicoativas foi citado por 4 dos 11 autores como fator promotor da DPP.

O mecanismo de ação destas substâncias está diretamente ligado ao sistema de recompensa no SNC, o que a torna dependente, além disso, a substância tende a ultrapassar a barreira transplacentária, chegando ao feto. Hartmann et al. (2017), apontam associação entre o uso de tabaco durante a gravidez e depressão, o uso de tabaco aumenta em 26% o risco de desenvolvimento da DPP.

A inadequação ao papel de ser mãe, citado com frequência de 9%, é um fator que atinge diretamente o binômio. A gestante idealiza o momento da maternidade de sua forma, mas com o viver na realidade e com descobertas contínuas acaba se frustrando com aquilo que tanto almejava. Segundo Hartmann et al. (2017) em seu estudo, resultados apontaram que o planejamento da gestação foi um fator de proteção para depressão, diminuindo cerca de 30% o risco de a puérpera desenvolver a doença. Compreende que planejar a gestação pode possibilitar à mãe maior aceitação da gravidez, colaborando para a diminuição dos riscos de desenvolver depressão.

As complicações na gestação ou parto e morbidades, foram citados por 2 dos 11 autores consultados. Mulheres que apresentam alguma complicação clínica durante a gravidez, tem maior probabilidade de desenvolver depressão, muitas vezes devido a maior fragilidade em que a mulher se encontra ao enfrentar problemas de saúde durante a gestação (HARTMANN et al., 2017).

A idade precoce ou tardia representa 5% de frequência dos fatores etiológicos apresentados na amostra. Quando comparadas a mães adultas, as mães adolescentes caracterizam-se por viver em situação de menor renda econômica, não ter parceiro e ter menores níveis de escolaridade.

Mães adolescentes dispõem de menor rede de suporte social e possuem maior prevalência de depressão puerperal do que mães adultas (CARDILLO et. al., 2016).

Os problemas conjugais foram citados por 2 dos 11 autores. Durante o momento da gestação ou puerpério é esperado o apoio do parceiro para enfrentar a nova etapa que se estabelece, mas algumas puérperas não contam com este aparato de apoio, desta forma, se apresentam mais predispostas ao desenvolvimento da DPP (BROCCHI; BUSSAB; DAVID, 2015). É de suma importância o apoio do companheiro, não somente pelo o suporte físico, mas emocional também, sua presença contribui muito para a minimização das angustias, devido às mudanças dessa fase (BERMAN; LÓPEZ, 2016). Jordão et al. (2017), destacam que o apoio do companheiro reflete positivamente no desempenho do papel, pois promove autopercepção positiva, maior conhecimento acerca da paternidade, diminuição do estresse e dos episódios depressivos.

O histórico de depressão pós-parto em gestações anteriores, na amostra deste estudo foi citada por apenas 1 autor, ao contrário da literatura apresentada na construção deste artigo, todavia, este fator pode contribuir para o surgimento da DPP. Foi identificado a relação entre sintomas depressivos em puérperas que já passaram por problemas depressivos durante a gestação, ou antes, (ROMERO et al., 2015).

A baixa escolaridade, representada por frequência de 2%, pode se relacionar a DPP. A

escolaridade é considerada fator de proteção, sendo que, quanto maior o número de anos

completos de estudos, maior é a proteção para depressão (HARTMANN et al., 2017). Jordão

et al. (2017), em concordância evidenciam que o baixo nível de escolaridade materna é

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9 considerado fator que reduz a resiliência da mulher, autoestima e confiança em si mesma para realizar o seu papel, além de estar associado ao baixo nível de conhecimento da mãe.

Também com 2% de frequência, é citado o estado civil, Romero et. al. (2015), relatam ter associação com estado depressivo da puérpera. Uma maior porcentagem de mulheres com DPP relataram ser solteiras, sem vínculo com o pai da criança, onde coloca a mulher em desvantagem perante a maternidade.

Ao contrário do que se esperava, o tipo de parto, citado em apenas 1 dos 11 trabalhos, não parece tão significativo na instalação da DPP. Entende-se que o tipo de parto não tem relevância com a DPP. A prevalência de DPP foi 23,3% e não se observou associação com o tipo de parto, relataram Biscegli et al. (2017), em seu estudo.

A gestação não planejada, também citada por 1 dos 11 estudos que compuseram a amostra deste artigo. Brocchi, Bussab e David (2015), citam em seu estudo que, ter uma gestação não planejada ou não desejada é um grande contribuidor para o aparecimento dos sintomas depressivos.

CONCLUSÃO

A depressão pós-parto é entendida como uma patologia multifatorial, embora apresente fator genético como contribuição, existe outros vários fatores desencadeadores relevantes.

Durante a discussão dos resultados deste estudo, foram apresentados fatores predominantes como antecedentes de doenças mentais, falta de apoio social ou familiar e violência. É importante salientar que cada fator é particular para cada mulher, sendo imensurável o impacto de cada um em sua vida.

Existem meios que podem amenizar ou até mesmo evitar o surgimento da DPP. Realizar um pré-natal bem estruturado, com acolhimento de qualidade, ter conhecimento científico em relação à doença, saber utilizar a ferramenta para o rastreamento dos sinais e sintomas, e a utilização de escala de depressão pós-parto de Edimburgo (EPDS).

São necessários mais estudos sobre o tema, para abranger o conhecimento científico dos profissionais de enfermagem e avaliar os indicadores clínicos para mensurar o diagnóstico da DPP, permitindo melhores procedimentos profiláticos e melhores terapêuticas à puérpera nos casos de DPP.

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Referências

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