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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS

Autoria: Ivan Álvaro dos Santos

Jamile Delagnelo Fagundes da Silva

(2)

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, n

o

1.040, Bairro Benedito

Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da

Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz

Prof.ª Izilene Conceição Amaro Ewald Prof.ª Jociane Stolf

Revisão de Conteúdo: Prof. Gilberto Poncio Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2011

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

374

S237d Santos, Ivan Álvaro dos

Didática do Educador de EJA / Ivan Álvaro dos Santos e Jamile Delagnelo Fagundes da Silva. Indaial : Uniasselvi, 2011. 119 p. : il.

Inclui bibliografia.

ISBN 978-85-7830-493-5 1. Educação de Adultos.

I. Centro Universitário Leonardo da Vinci

(3)

Ivan Álvaro dos Santos

Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Regional de Blumenau (FURB);

licenciado em Matemática pelo Centro Universitário de Jaraguá do Sul (UNERJ); Especialista em Gestão e Metodologia do Ensino, pela Faculdade Dom Bosco do Paraná e Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB).

Atua como professor em escolas públicas e privadas há dez anos, sete dos quais na modalidade Educação de Jovens e Adultos.

Participou da elaboração da “Série Educação para a Nova Indústria – Elevação da Escolaridade na Indústria” - guia de estudos desenvolvido pelo SESI (Serviço Social da Indústria), com o objetivo de orientar a ação de professores no desenvolvimento de currículos de educação básica de jovens

e adultos contextualizados a diferentes setores industriais.

Também participou com apresentação oral de artigos em renomados eventos nacionais, dentre eles o VI

Congresso Internacional de Educação: Educação e Tecnologias: sujeitos (des)conectados? (UNISINOS – São Leopoldo-RS); IX Congresso Nacional

de Educação (EDUCERE – Curitiba-PR) e XV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino

(ENDIPE – Belo Horizonte-MG), tendo como foco a Educação de Jovens e Adultos e os

recursos tecnológicos aplicados à educação.

(4)

Jamile Delagnelo Fagundes da Silva

Possui graduação em PEDAGOGIA pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (2002) e MESTRADO pela mesma Universidade (2009).

É especialista em Educação de Jovens e Adultos pela Escola Aberta do Brasil e em Pedagogia Gestora com Ênfase em Supervisão, Administração e Orientação Escolar pela Associação Catarinense de Ensino.

Atua como Professora na Educação de Jovens e Adultos e desenvolve pesquisas na área da Educação, atuando principalmente nos temas relacionados à Educação de Jovens e Adultos e Formação Docente. Participa do Grupo de Pesquisa Educação e Saúde, com pesquisas e estudos na Linha Educação Intercultural. Também participou, com comunicação oral, de renomados eventos, dentre estes: III Congresso

Internacional de Educação: Educação na América Latina nestes Tempos de Império ( São Leopoldo), Oitavo Círculo

de Estudos Linguísticos do Sul (Porto Alegre), I Congresso Internacional da Cátedra Unesco de Educação de Jovens e Adultos (Paraíba), VII Congresso Internacional de

Educação ( São Leopoldo), socializando pesquisas realizadas na área de Educação de Jovens e

Adultos. Participou também da Reunião Anual da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em

Educação - ANPED (Natal), no GT de Didática.

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Sumário

APRESENTAÇÃO ...07

CAPÍTULO 1

As Relações entre Cultura e Educação ... 11

CAPÍTULO 2

A Educação de Jovens e Adultos e a Didática ...43

CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4

O Processo Educativo na EJA ...67

A Docência na Educação de Jovens e Adultos ...91

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APRESENTAÇÃO

Caro(a) pós-graduando(a):

Você já teve a oportunidade, na disciplina de Fundamentos da EJA, de compreender e refletir sobre o que se entende hoje no Brasil por EJA e como essa modalidade educativa se constitui na história da educação brasileira.

Relembraremos alguns aspectos históricos dessa trajetória, pois as concepções pedagógicas que marcaram cada período estão intimamente ligadas ao processo de ensino aprendizagem na EJA e à prática docente nessa modalidade.

Observa-se que, historicamente, o direcionamento dado à EJA é baseado nos conflitos, nas tendências políticas, sociais e econômicas de cada época, o que faz com que as concepções pedagógicas dessa modalidade sejam resultado desses conflitos e tendências. Por muito tempo a EJA assumiu no Brasil um caráter de suplência, caracterizada pela existência de campanhas imediatistas, não existindo como uma política pública.

No Brasil, essa concepção de ensino supletivo foi modificada com a Lei de Diretrizes e Base da Educação- LDBEN, sob o número 9.394, do ano de 1996, que passou a tratar a EJA como uma modalidade da Educação Básica, de caráter permanente (ao longo da vida), a serviço do pleno desenvolvimento do educando.

Vale ressaltar que a LDBEN (Lei 9.394/96), apesar de modificar a concepção de EJA, suprimindo a expressão “ensino supletivo”, manteve os termos “cursos” e

“exames supletivos”, embora compreendidos dentro dos novos referenciais relatados anteriormente. Nesse sentido, a EJA, passou a ser reconhecida como direito público subjetivo, adquirindo identidade própria dentro do contexto da Educação Básica ao ser compreendida como mais uma modalidade de ensino.

Pinto (1982, p. 82) já havia chamado a atenção para essa questão quando afirmou que

A educação de adultos não é uma parte complementar,

extraordinária do esforço que a sociedade aplica em educação

(supondo-se que o dever próprio da sociedade é educar à

infância). É parte integrante desse esforço, parte essencial,

que tem indispensavelmente que ser executada paralelamente

com a outra, pois do contrário esta última não terá o rendimento

que dela se espera. Não é um esforço marginal, residual,

de educação, mas um setor necessário do desempenho

pedagógico geral, ao qual a comunidade se deve lançar.

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Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais apontadas pelo Parecer CEB nº 11/2000 para a EJA apontam, em consonância com a LDBEN (Lei 9.394/96), três funções como de responsabilidade dessa modalidade de educação: função reparadora, equalizadora e qualificadora.

De acordo com a Diretriz (BRASIL, 2000, p. 651), “[..]a função reparadora da EJA, no limite, significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano.”

A função equalizadora da EJA diz respeito à oportunidade do restabelecimento da trajetória escolar. Essa função vem

[...] dar cobertura a trabalhadores e a tantos outros segmentos sociais como donas de casa, migrantes, aposentados e encarcerados. A reentrada no sistema educacional dos que tiveram uma interrupção forçada, seja pela repetência ou pela evasão, seja pelas desiguais oportunidades de permanência ou outras condições adversas, deve ser saudada como uma reparação corretiva, ainda que tardia, de estruturas arcaicas, possibilitando aos indivíduos novas inserções no mundo do trabalho, na vida social, nos espaços da estética e na abertura dos canais de participação. (BRASIL, 2000, p.653).

A função qualificadora da EJA tem a “tarefa de propiciar a todos a atualização de conhecimentos por toda a vida, é a função permanente da EJA [...].

Mais do que uma função, ela é o próprio sentido da EJA.” (BRASIL, 2000, p.655).

Diante desse contexto, a EJA adquiriu uma concepção fundamentada nos direitos humanos, possibilitando o reconhecimento das diferenças e a participação de todos os sujeitos envolvidos no processo. Como consequência, emerge a necessidade de que os educadores da EJA acompanhem a modificação de tal concepção repensando e redimensionando constantemente as práticas pedagógicas e nelas inserindo os estudantes como artífices do processo de construção de seus conhecimentos.

Cabe salientar que o trabalho docente é uma das atribuições específicas da prática educativa que não pode ser restrita somente ao espaço da sala de aula. Nesse sentido, você deve lembrar que temos uma Ciência que investiga a teoria e prática na Educação: a Pedagogia. Dentre os ramos em que se divide a Pedagogia, encontra-se a Didática, que investiga e estuda os objetivos, os conteúdos, as estratégias e as condições do processo de ensino e aprendizagem.

De acordo com Libâneo (2001, p.2),

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[...] didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa. Ela ajuda o professor na direção e orientação das tarefas do ensino e da aprendizagem, fornecendo-lhe segurança profissional.

Repensar a Didática como ramo que vai subsidiar as formas de atuação de acordo com a singularidade do público a que essa modalidade de educação se destina passa a ser uma forma de oportunizar a todos os estudantes o acesso aos conhecimentos científicos que são trabalhados na escola. Assim, iniciaremos este Caderno de Estudos, no Capítulo 1, com a discussão sobre como os meios socioculturais influenciam a Educação e a formação integral do indivíduo. Julgamos importante, para não dizer imprescindível, conhecer e reconhecer os processos educativos que se dão para além dos muros da escola, para então poder planejar as melhores maneiras de se trabalhar dentro da escola, valorizando assim as experiências obtidas pelos estudantes em “seu mundo”. Assim, nesse capítulo, faremos uma discussão referente às diferenças entre a Educação informal e a Educação escolar, buscando as convergências e a complementaridade que entre ambas se estabelecem na constituição do indivíduo. Encerramos o capítulo discutindo a questão do analfabetismo, suas causas e implicações na vida do indivíduo e a questão do letramento como nova possibilidade de leitura crítica do mundo.

No capítulo 2 nos concentramos nas contribuições que a Pedagogia, por meio de seus pensadores, oferece ao assunto. Inicialmente, dedicamo-nos à Didática em geral e, em um segundo momento, nos concentramos na Didática dirigida à EJA, buscando revisitar as teorias tradicionais, críticas e pós-críticas e compreender suas relações com essa modalidade de educação. O fechamento desse capítulo se dá com a abordagem da importância do desenvolvimento, pelos estudantes da educação de jovens e adultos, da habilidade de converter informação em conhecimento. Para tanto, buscamos diferenciar essas duas entidades psicológicas e oferecer maneiras para que o estudante possa, em sala de aula, selecionar as informações importantes e verdadeiras frente ao mar de informações a que tem acesso no momento atual, e convertê-las em conhecimento.

No terceiro capítulo desse caderno de estudos procuramos discutir os

componentes fundamentais do processo de ensino e aprendizagem empregado

na EJA, buscando as contribuições que a teoria histórico-cultural pode oferecer

a essa modalidade de educação. Elementos como os conceitos espontâneos

(conhecimentos prévios) e a mediação entre os pares são discutidos a partir do

ponto de vista do apoio que podem oferecer aos estudantes na ascensão aos

conceitos científicos que são trabalhados na escola.

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Finalizamos o caderno de estudos, já no capítulo 4, dialogando e repensando especificamente a figura do professor como mediador do processo de ensino e aprendizagem na EJA. Nesse capítulo, discutiremos as competências que o professor da EJA deve observar na relação ensino–aprendizagem, a importância de sua constante formação, assim como a necessidade do planejamento e da clareza nas formas de avaliar a aprendizagem dos estudantes e todo o processo desencadeado na modalidade.

Os autores.

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C APÍTULO 1

As Relações entre Cultura e Educação

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

� Compreender e analisar as relações entre sociedade, cultura e as interações socioculturais desenvolvidas entre os sujeitos presentes na EJA.

� Refletir sobre a construção do currículo e a prática docente na EJA na relação com os processos educativos formais e informais.

� Compreender as implicações da alfabetização na vida do indivíduo e o letramento como possibilidade de acesso à leitura crítica do mundo

� Refletir e debater criticamente sobre alfabetização e letramento, na perspectiva

de Soares, além de suas implicações na EJA.

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

Contextualização

As finalidades e funções específicas da modalidade de ensino destinada aos jovens e adultos “indicam que em todas as idades e em todas as épocas da vida, é possível se formar, se desenvolver e constituir conhecimentos, habilidades, competências e valores que transcendam os espaços formais da escolaridade e conduzam à realização de si e ao reconhecimento do outro como sujeito” (BRASIL, 2000, p.11). A partir dessa concepção de educação na modalidade EJA, abre- se um novo campo de discussões e reflexões sobre as concepções pedagógicas vigentes na educação brasileira e na formação dos docentes que atuam/atuarão nessa área.

São constantes os desafios impostos à prática docente nessa modalidade.

Logo, para que possamos identificar e compreender as principais características norteadoras das práticas docentes voltadas para a EJA, nesse capítulo abordaremos as concepções construídas para cultura e educação, enfatizando as relações que entre elas se estabelecem no âmbito das sociedades humanas.

Consideramos importante analisar previamente as características que abarcam o termo cultura e que o designam como elemento restrito à espécie humana, para então chegar à educação como mecanismo de transmissão e de perpetuação da cultura entre indivíduos de uma mesma sociedade e entre indivíduos de sociedades distintas no espaço e no tempo.

A partir desses pontos, discutiremos os conceitos de educação formal e informal, destacando as suas diferenças, salientando a importância isolada de cada uma delas no desenvolvimento do indivíduo e, sobretudo, buscando identificar as evidências que apontam para a necessidade da convergência e da complementaridade entre elas, de forma a propiciar a formação integral do indivíduo.

Por fim, conheceremos as implicações da alfabetização na vida do indivíduo e o letramento como mais uma possibilidade de acesso à leitura crítica do mundo.

Mais do que o zelo à necessidade de elucidar os conceitos sobre os quais nos

apoiamos, compreendemos a importância de trazê-los ao foco dessas discussões

iniciais, para que as reflexões propostas posteriormente possam ser construídas

em bases sólidas de argumentações, respaldadas pela teoria científica e por

reflexões dela oriundas.

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

Educação e Educação de Jovens e Adultos: uma Breve Reflexão

A Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional - LDBEN - Lei n° 9.394/96 (BRASIL, 2004, p. 40) estabelece, no artigo 37, que “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. Ou seja, por meio dessa modalidade de estudos, são possibilitados ao indivíduo jovem ou adulto diferentes caminhos e maneiras de pertencimento ao mundo, além de novas formas de compreender esse mundo e os acontecimentos que dele fazem parte.

A docência na Educação de Jovens e Adultos (EJA) surge como um desafio ao professor, no sentido de compartilhar o regresso do indivíduo ao papel de estudante, de fazer parte de um momento histórico em que esse indivíduo reencontra a oportunidade de conhecer o mundo pelos olhos dos conhecimentos que a escola pode lhe oferecer.

Estar presente nessa etapa de vida do estudante, como professor, implica não somente em dominar os conteúdos das ciências inerentes às áreas específicas em que se atua profissionalmente. Implica, sobretudo, em desenvolver e se utilizar das habilidades necessárias às formas de trabalhar tais conteúdos com aqueles que possuem uma grande quantidade de conhecimentos prévios, construídos em sua vida social, no convívio com os seus pares em casa, no bairro, no trabalho e nos mais diversos locais que frequentam. São conhecimentos apropriados principalmente a partir de suas experiências cotidianas e, por esse motivo, construídos por vias muitas vezes distintas daquelas utilizadas na educação formal apresentada pela escola. Pinto (1982, p. 84) assevera que

[...] não compete ao educador transferir mecanicamente para o educando adulto suas próprias concepções [...]. O que compete ao educador é praticar um método crítico de educação de adultos que dê ao aluno a oportunidade de alcançar a consciência crítica instruída de si e de seu mundo. Nestas condições ele descobrirá as causas de seu atraso cultural e material e as exprimirá segundo o grau de consciência máxima possível em sua situação. [...] Não importa que esta expressão esteja abaixo da compreensão crítica do educador. [...] a ação do educador tem que consistir em encaminhar o educando adulto a criar por si mesmo sua consciência crítica, passando de cada grau ao seguinte, até equiparar-se à consciência do professor e eventualmente superá-la.

A docência na Educação de Jovens e Adultos (EJA) surge como

um desafio ao professor, no sentido

de compartilhar o regresso do indivíduo ao papel

de estudante, de fazer parte de um momento histórico

em que esse indivíduo reencontra

a oportunidade de conhecer o mundo pelos olhos dos conhecimentos que

a escola pode lhe

oferecer.

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

Essas ideias entram em acordo com o que afirma Freire (1996, p. 23) ao salientar que “não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.

Ou seja, é proposto o posicionamento do professor como alguém propenso a ensinar e a aprender, como um articulador dos conhecimentos prévios dos alunos com os conhecimentos científicos, fazendo com que os conteúdos trabalhados tenham um sentido prático e que motivem a aprendizagem dos estudantes.

Da mesma forma, é de suma importância que se observe o regresso do indivíduo à escola não unicamente como a busca da conclusão dos estudos como um fim em si mesmo, na conquista do diploma e da legitimação de um título. Muito mais do que isso, o professor pode fazer com que o estudante compreenda a oportunidade, a partir de uma leitura crítica do mundo, de acessar aos conhecimentos científicos, da compreender as formas contemporâneas de linguagem e de desenvolver novas habilidades, para que sejam possíveis a ele a leitura e a inferência no mundo em que vive. Nesse contexto, a inter-relação entre os conhecimentos que o aluno já possui e os conhecimentos científicos adquiridos na escola deve ser o objetivo principal sobre os qual os estudantes devem se debruçar. O diploma vem como consequência dos novos horizontes que se abrem por meio do conhecimento científico, assim vislumbrando oportunidades e conquistas.

Sociedade e Cultura

Ao compreendermos a sociedade como um grupo de indivíduos que vivem em comum em determinado espaço-tempo, em razão de certas afinidades e consoante algumas regras, podemos facilmente perceber que a sociabilidade não é algo exclusivo à espécie humana. As mais variadas espécies animais se mostram sociáveis a partir de características próprias de convívio entre os seus membros e em relação a membros de outros grupos e de outras espécies, mesmo sendo desprovidas de cultura.

No entanto, o homem demonstra que a forma como concebe o mundo, e a

convivência social que nele estabelece com os seus pares, assume um nível de

complexidade e de profundidade distinto daquele desfrutado por outros grupos de

animais, ao emergir a inteligência e a consciência como elementos norteadores

dos princípios que regem os seus grupos sociais. Como afirmou Freire (1996),

a partir do momento em que a vida, para o ser humano, tornou-se existência, o

suporte em que os outros animais continuam converteu-se, para ele, em mundo. No

suporte, o comportamento e as relações que se estabelecem entre os indivíduos

têm sua explicação muito mais na espécie a que pertencem do que neles mesmos

enquanto indivíduos. Por outro lado, com a inteligência e a consciência dos seus

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

atos, o homem é capaz de construir e de reconstruir o mundo, agregar história a sua estadia no mundo, que passa assim a ter uma continuidade, um porvir. Os dias isolados vividos por outras espécies são, na vida do ser humano, o dia a dia, o ontem, o hoje e o amanhã que, unidos, constituem sua história particular, que se insere na história da sociedade a qual pertence. Assim, o homem constrói sua história particular e se constrói como indivíduo dentro de uma história social, influenciando e sofrendo influência do meio social em que vive. Freire (1980, p.

108) já abordou tal ideia, afirmando que

[...] os homens podem tridimensionar o tempo (passado- presente-futuro) que, contudo, não são departamentos estanques, sua história, em função de suas mesmas criações vai se desenvolvendo em permanente devir, em que se concretizam suas unidades espocais. Estas, como o ontem, o hoje e o amanhã, não são como se fossem seções fechadas e intercomunicáveis do tempo, que ficassem petrificadas e nas quais os homens estivessem enclausurados. Se assim fosse, desapareceria uma condição fundamental da história:

sua continuidade. As unidades espocais, pelo contrário, estão em relação umas com as outras na dinâmica da continuidade histórica.

Dessa forma, a história pessoal que o indivíduo constrói ao longo do tempo em que participa da história social não morre com ele, como acontece com a história dos animais. Os acontecimentos, as descobertas, os conhecimentos acumulados pelo homem durante sua vida permanecem para aqueles que ficam, como um legado, uma herança, uma parte da cultura que o indivíduo ajudou a construir ao longo do tempo em que participou da história do mundo. Logo, ao mesmo tempo em que o ser humano é tocado e influenciado pelo meio social ao qual pertence, também contribui e aporta características, conhecimentos, formas de pensar e de agir nesse meio. Quanto a isso, Vygotsky (1998, p.

76) assevera que “a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da psicologia humana; e a base do salto quantitativo da psicologia animal para a psicologia humana”. Assim, o ser humano, distintamente de outras espécies animais, é um ser histórico e cultural, pois é capaz de criar e preservar sua história e sua cultura.

Assim, o conjunto de criações atribuídas ao homem toma parte de um todo chamado cultura. De acordo com Santos (2011, p. 59), cultura é “a pluralidade de criações do ser humano, concretas (tangíveis) ou não, que conduzem o jeito de ser e de viver de um determinado grupo social, que norteiam a sua estada e inferência no mundo e indicam as coisas em que acredita”. Logo, a interação social existe independentemente da presença ou não de cultura. A cultura, por sua vez, se faz presente apenas na espécie humana, sendo, assim, uma unidade menor, Os acontecimentos,

as descobertas, os conhecimentos

acumulados pelo homem durante sua

vida permanecem para aqueles que ficam, como um legado, uma herança, uma parte

da cultura que o indivíduo ajudou a construir ao longo do tempo em que participou da história

do mundo.

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

mais restrita, que assume variadas formas e distintas representações dentro de um contexto social bem mais amplo e abrangente.

Inserindo-se nessa seara e ao pensar sobre a cultura em relação ao processo de ensino e aprendizagem desencadeado na escola, Pinto (1982, p. 116) afirma que “[...] o saber só se converte em instrumento de cultura quando é ele mesmo fecundo, ou seja, incorpora na consciência daquele que o possui a compreensão de sua origem, e se destina a frutificar em novas obras de cultura”. Dessa forma, fica claro na afirmação de Pinto (1982), bem como na de Vygotsky (1998), que ao mesmo tempo em que o indivíduo recebe a cultura do meio social em que vive, também participa ativamente dessa cultura, oferecendo-lhe outros conhecimentos que poderão se tornar parte do todo cultural.

Cultura é “a pluralidade de criações do ser humano, concretas (tangíveis) ou não, que conduzem o jeito de ser e de viver de um determinado grupo social, que norteiam

a sua estada e inferência no mundo

e indicam as coisas em que acredita”.

SANTOS (2011, p.

59).

Sirgado (2000), ao discutir as ideias de Vygotsky sobre as diferenças e as relações existentes entre sociedade e cultura, afirma, fazendo um paralelo com as Ciências Biológicas, que o campo do social poderia ser comparado a um gênero e o campo da cultura a uma espécie. Assim, “‘tudo o que é cultural é social’, o que faz do social um gênero e do cultural, uma espécie. Isso quer dizer que o campo do social é bem mais vasto que o da cultura, ou seja, que nem tudo o que é social é cultural, mas tudo o que é cultural é social”

(SIRGADO, 2000, p. 53).

Nas Ciências Biológicas, as principais categorias taxonômicas, em ordem decrescente de abrangência, são: Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie (FAVARETTO E MERCADANTE; 2003).

A origem biológica de um indivíduo influi até certo ponto em sua constituição

como sujeito. No entanto, é fundamentalmente dos resultados das experiências

sociais vivenciadas por esse sujeito e das características da cultura em que vive

que emergirão a sua forma de ser, de pensar e de agir. A Teoria Histórico-Cultural

fundamenta essa ideia ao oferecer uma explicação sobre a maneira como a mente

humana se constrói. Segundo Vygotsky (1998), cada ser humano se constitui por

meio da interação de dois fatores centrais em sua existência: o fator biológico e o

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

O fator biológico é responsável pelo que Vygotsky (1998) chama de funções psicológicas elementares, que expressam as características genéticas do indivíduo, como reações automáticas, instinto sexual e de sobrevivência, para citar algumas. Essas funções elementares são comuns a outras espécies animais e estão presentes no indivíduo humano desde tenra idade. No entanto, o que diferencia substancialmente o homem adulto dos animais de outras espécies é o que Vygotsky (1998) chama de funções psicológicas superiores, de natureza sociocultural, que consistem em funções psicológicas de ordem bem mais complexa e estruturada que as elementares, como a memória consciente e voluntária, as reações programadas, as ações intencionais, o planejamento de tarefas. Essas funções são desenvolvidas pelo indivíduo no decorrer de suas vivências no meio sociocultural do qual faz parte e surgem como resposta às necessidades que são desencadeadas na convivência social.

Kluckhohn (1972, p. 30) faz um relato sobre uma experiência sua que demonstra que os fatores culturais se sobressaem sobremaneira aos biológicos e interferem na formação integral de qualquer indivíduo humano:

Há alguns anos, conheci em Nova York um jovem que não falava uma palavra de inglês e estava evidentemente perplexo com os costumes americanos.

Pelo ‘sangue’, era tão americano como qualquer outro, pois seus pais eram de Indiana e tinham ido para a China como missionários. Órfão desde a infância, fôra criado por uma família chinesa numa aldeia perdida.

Todos os que o conheceram o acharam mais chinês do que americano. O fato de ter olhos azuis e cabelos claros impressionava menos que o andar chinês, os movimentos chineses dos braços e das mãos, a expressão facial chinesa, e os modos chineses de pensamento. A herança biológica era americana, mas a formação cultural fôra chinesa. Ele voltou para a China.

Esse exemplo do jovem inglês que foi criado na China nos ajuda a refletir sobre

as diferenças existentes entre as questões biológicas e as questões socioculturais

que compõem a existência de um indivíduo. Assim, a cultura e o meio social, com

suas características próprias, influenciam diretamente os indivíduos que dele fazem

parte e, da mesma forma, são por eles influenciados e recriados. A educação

emerge como forma de compartilhar algumas das características que compõem a

cultura de determinado grupo social com os indivíduos mais jovens e com indivíduos

de outros grupos. E é à educação que nos dedicaremos no próximo tópico.

(19)

As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

Atividade de Estudos:

Vamos refletir um pouco sobre as questões trazidas nesse tópico:

1) Em uma folha de papel, enumere cinco características físicas que você possui e cinco características de sua personalidade (formas de pensar, de agir, de se vestir, crenças, valores, objetivos, etc.).

Características Físicas Características da personalidade 1_________________________ 1_________________________

2_________________________ 2_________________________

3_________________________ 3_________________________

4_________________________ 4_________________________

5_________________________ 5_________________________

2) Agora, tente imaginar como você seria e como seria sua vida levando em consideração a seguinte situação: você é descendente da mesma família que é a sua agora na vida real, porém, foi criado em outro país (por exemplo, algum país do Oriente Médio), com outra religião e mediante outros valores sociais. Verifique e grife, dentre as 10 características enumeradas na questão 1, aquelas que permaneceriam e aquelas que seriam alteradas na situação imaginada.

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

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3) Responda:

a) Das características enumeradas na questão anterior, quais permaneceriam de forma mais abundante: as físicas ou as de personalidade?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

b) Por que você acha que essas características permaneceriam e as outras não?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

4) Você acha que as condições socioculturais são decisivas na constituição do jeito de ser, de viver e de pensar das pessoas?

Por quê?

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____________________________________________________

5) O estudante da Educação de Jovens e Adultos possui uma sólida formação cultural que foi oferecida pelo meio social de onde ele veio e pela convivência com as pessoas que fizeram parte de sua vida. De que forma você percebe que essa formação já possuída deve ser levada em consideração no momento em que esse estudante está em sala de aula, em relação aos conhecimentos científicos trabalhados na escola? Escreva uma frase que resuma as suas ideias.

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A Educação como Meio de Transmissão Cultural

No convívio que se estabelece no interior dos grupos sociais humanos emerge a necessidade de um elemento fundamental à perpetuação da herança cultural: a educação. Ao fazer parte de um Ao fazer parte de

um grupo social, o indivíduo está, a todo momento, recebendo os conhecimentos

inerentes ao seu grupo de pertença, ou seja,

está recebendo

educação.

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

grupo social, o indivíduo está, a todo momento, recebendo os conhecimentos inerentes ao seu grupo de pertença, ou seja, está recebendo educação. Segundo Brandão (1995, p. 7),

[...] ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação.

Nesse sentido, concordamos com Oliveira (1999) quando complementa a ideia acima afirmando que a educação é uma das atividades básicas de todas as sociedades humanas, que se utilizam dos meios que julgam mais apropriados para transmitir aos indivíduos mais jovens as maneiras de ser e de pensar do grupo, suas crenças e seus valores. Logo, adotamos como concepção para educação aquela que Santos (2011, p. 62) nos oferece quando menciona que

todas as maneiras utilizadas pelo indivíduo para apropriar-se dos conhecimentos, costumes, crenças, valores, modos de ser, de pensar e de agir, assim como o próprio ato de apropriar-se desses elementos, são considerados educação. Aprender a cantar uma música ou conhecer a história de um lugar, lavrar a terra e plantar sementes, construir uma casa ou portar-se adequadamente num jantar elegante, cumprimentar pessoas ou ler um jornal constituem atos de educação. Desde o conhecimento das normas estabelecidas dentro de uma casa até as regras de trânsito numa grande cidade, os rituais de fé de dada religião ou as leis que compõem a constituição de um país são exemplos de educação.

Além disso, é por meio da educação que as peculiaridades de um meio social podem ser sistematizadas e transmitidas às novas gerações. (SANTOS, 2011, p. 62).

Dessa forma, ao inserir o indivíduo nas características culturais do grupo social, nas práticas sociais estabelecidas e ao transmitir-lhe os valores e os conhecimentos instituídos no interior da cultura, as pessoas que compõem esse grupo social fazem educação. Assim, a transmissão da cultura existente dentro de um grupo social se dá nos momentos e nos espaços formais ou informais, de forma sistemática ou difusa, de maneira intencional ou despercebida (SANTOS, 2011), fazendo com que muitos conhecimentos da bagagem cultural construída, reconstruída e aperfeiçoada desde os primórdios da humanidade até o momento presente sejam oferecidos às novas gerações.

Assim, a educação tornou-se fundamental para o desenvolvimento dos

mais diversos grupos sociais a partir da consciência que o ser humano teve da

necessidade de transmitir os seus conhecimentos às novas gerações que, por sua

vez, consideraram-se capazes de aprendê-los. O despertar dessa consciência

favoreceu o desenvolvimento contínuo da espécie humana, que se beneficiou

constantemente das conquistas que, a cada contexto histórico, puderam ser

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

A supremacia da espécie humana sobre as demais espécies não se deve simplesmente ao fato de o homem ter inventado a roda, por exemplo, mas principalmente pelo fato de, tendo-a inventado, não ter de reinventá-la a cada nova geração, e sim aperfeiçoá- la e ressignificá-la ao longo dos tempos em novas aplicações. Em decorrência da consciência da capacidade de aprender, o homem se deu conta da possibilidade e da necessidade de ensinar.

Segundo Freire (1996, p.23-24), foi no convívio social que,

“[...] historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo do tempo mulheres e homens perceberam que era possível – depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar”. Já Pozo (2005, p. 12) afirma que a capacidade que o ser humano tem de conhecer “é produto das formas específicas a partir das quais aprendemos, que, por sua vez, são resultado de nossa capacidade de conhecermos a nós mesmos e, através de nós, conhecermos o mundo”.

CULTURA: CADA UM POSSUI A SUA

Há muitos anos, nos Estados Unidos, Virgínia e Maryland assinaram um tratado de paz com os Índios das Seis Nações. Ora, como as promessas e os símbolos da educação sempre foram muito adequados a momentos solenes como aquele, logo depois os seus governantes mandaram cartas aos índios para que enviassem alguns de seus jovens às escolas dos brancos. Os chefes responderam agradecendo e recusando. A carta acabou conhecida porque, alguns anos mais tarde, Benjamin Franklin adotou o costume de divulgá-la aqui e ali. Eis o trecho que nos interessa:

“[...] Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração.

Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações

têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa.

[...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros.

Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão, oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens”.

Fonte: BRANDÃO, C. R. O que é educação. 33. ed.

São Paulo: Brasiliense. 1995, p.05.

Por meio desse exemplo relatado por Brandão (1995), mais uma vez podemos compreender a importância que o meio social tem para o indivíduo, ao transmitir- lhe a cultura pertinente ao grupo do qual faz parte. É importante, também, a compreensão de que a cultura que faz parte de determinado grupo social pode não ser útil aos demais. Logo, ensinar o seu legado a certos indivíduos pode não ter a mesma utilidade que terá para outros, dependendo de uma série de fatores relacionados aos modos de vida de tais indivíduos. Assim, os conhecimentos que os índios acumularam ao longo dos tempos e que transmitem às novas gerações são fundamentais àqueles que vivem na tribo, na selva, mas não o são para aqueles que vivem na cidade, onde os modos de vida são distintos. Da mesma maneira, os conhecimentos que os jovens das cidades recebem não teriam muita utilidade caso fossem transmitidos aos jovens índios, que muito pouco poderiam aplicá-los na vida na selva e, logo, são desnecessários àquela realidade.

Por outro lado, podemos considerar que a pluralidade cultural não somente é

importante como faz parte da realidade das sociedades humanas. O intercâmbio

de aspectos culturais, de novas descobertas, de maneiras distintas de tratamento

a determinados assuntos e situações enriquece as populações dos mais diversos

países. Conhecer e até incorporar à própria cultura certos elementos culturais de

localidades distintas não significa abdicar de sua identidade ou menosprezá-la.

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

Pelo contrário, manter-se leal a sua cultura mesmo conhecendo culturas distintas é prova da força, da riqueza e do valor que um povo exprime às suas raízes. De acordo com as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p.117),

O grande desafio da escola é reconhecer a diversidade como parte inseparável da identidade nacional e dar a conhecer a riqueza representada por essa diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, investindo na superação de qualquer tipo de discriminação e valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade.

Neste sentido, uma proposta para a educação escolar seria desenvolver processos capazes de respeitar as diferenças e de “integrá- las” em uma unidade que não as anule e que ative o potencial de cada sujeito no envolvimento do processo.

Neste sentido, uma proposta para a educação escolar seria desenvolver processos capazes

de respeitar as diferenças e de

“integrá-las” em uma unidade que não as anule e que

ative o potencial de cada sujeito no

envolvimento do processo.

Atividade de Estudos:

Veja alguns fragmentos da letra da música Aquele Abraço, de Gilberto Gil. Por meio dessa música, vamos refletir sobre a importância que a cultura local tem para os indivíduos de determinado meios sociais e que não tem para outros.

AQUELE ABRAÇO (Gilberto Gil)

O Rio de Janeiro continua lindo O Rio de Janeiro continua sendo O Rio de Janeiro, fevereiro e março

Alô, alô, Realengo - aquele abraço!

Alô, torcida do Flamengo - aquele abraço!

[...]

Alô, alô, seu Chacrinha - velho palhaço [...]

Todo mundo da Portela - aquele abraço!

Todo mês de fevereiro - aquele passo!

Alô, Banda de Ipanema - aquele abraço!

Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço A Bahia já me deu régua e compasso

[...]

Todo o povo brasileiro - aquele abraço!

Fonte: Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/gilberto-gil/aquele-

abraco.html#ixzz1MRxt20IE>. Acesso em: 10 dez. 2011.

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

Procure pensar e responder:

1) Na frase Todo mês de fevereiro - aquele passo, o compositor está se referindo ao Samba e ao Carnaval – ritmo e festa extremamente populares na cidade do Rio de Janeiro, cidade- tema central da música. Na região onde você mora, o Samba e o Carnaval possuem a mesma popularidade que no Rio de Janeiro?

Por quê?

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2 Que festas são populares em sua região e qual o motivo dessa popularidade?

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3) Você conhece alguma música que retrate a cultura e os costumes de sua região?

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

4) Em relação ao trecho Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço / A Bahia já meu deu régua e compasso, responda:

a) qual a mensagem que você acha que o compositor quis passar?

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b) Por que ele se referiu à Bahia se a música fala sobre o Rio de Janeiro?

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c) Você acha possível fazer uma analogia entre o trecho da música e o ditado popular Quem tem boca vai à Roma? Como e por quê?

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Por meio dessa atividade, podemos perceber que, em determinada localidade, dentro de um bairro, cidade, estado ou país, pode haver uma diversidade cultural bastante ampla. Essa pluralidade pode ser ainda maior em um país com dimensões territoriais tão vastas como o Brasil e que sofreu influências culturais tão diversas na constituição de seu povo. Por esse motivo, a própria LDBEN – Lei n°9.394/96 (BRASIL, 1996, p. 9), no artigo 26, institui que:

Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter

uma base nacional comum, a ser complementada, em cada

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.

Logo, essa diversidade cultural que pode existir em um mesmo local e entre as diferentes localidades exige conteúdos distintos a serem compartilhados com as novas gerações, assim como maneiras também diversas de compartilhar tais conhecimentos. De igual maneira, dentro de um mesmo grupo social podem existir pessoas que possuem mais acesso aos conhecimentos do que outras, sobretudo acesso aos conhecimentos científicos.

De acordo com Vygotsky (1989), os conceitos científicos, são aqueles oriundos de estudos científicos realizados em determinada área do conhecimento, sendo assim reconhecidos pela comunidade científica e possuindo como característica a sistematização e a organização. Além disso, os conceitos científicos são adquiridos de forma consciente pelo indivíduo. Por outro lado, os conceitos espontâneos são aqueles que o sujeito constrói na informalidade dos momentos de sua experiência cotidiana, sem uma sistematização e sem a consciência dessa construção. São baseados nas experiências que o sujeito estabelece no meio social onde vive e com as pessoas e elementos que dele fazem parte.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre a Teoria Histórico- Cultural proposta por Vygotsky e conhecer suas contribuições para o processo de ensino e aprendizagem na escola, sugerimos dois livros:

BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar.

Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo:

Scipione, 1997.

Vygotsky (1989) complementa essas ideias afirmando que o estudo dos

conceitos científicos deve apoiar-se nos conceitos espontâneos para serem

apreendidos pelo indivíduo. É preciso que o desenvolvimento de um conhecimento

espontâneo tenha alcançado certo nível para que o indivíduo possa absorver um

conhecimento científico correlato. É nessa profunda relação que se estabelece

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

entre os conceitos científicos e os conceitos espontâneos que reside a importância da valorização daquilo que o estudante já sabe, para que o professor faça a mediação com novos conhecimentos. As vivências cotidianas que todo indivíduo possui servem como ponto de partida para novas aprendizagens. Pinto (1982, p.

109) já havia discutido essa questão ao afirmar que

a sociedade deseja ver compendiados e transmitidos regularmente às novas gerações os conhecimentos que lhe são úteis, que expressam seu grau de avanço cultural e de domínio das forças da natureza, dentro de uma determinada ordem de relações produtivas. A educação escolar, da infância ou de adultos é, portanto, a formalização da educação espontânea (dada pela consciência social), enriquecida dos conteúdos de saber que os sábios e os artistas dessa sociedade têm produzido ou adquirido. Deve-se entender como a ordenação do saber e não como passagem a um plano de vida social distinto. Por isso continua a possuir a mesma significação humana e social.

Logo, o respeito e a valorização dos conhecimentos que os estudantes da EJA possuem é tão importante quanto os conceitos científicos apresentados na escola, podendo deste modo ser o ponto de partida para a aprendizagem requerida e estimulada na educação escolar.

Atividade de Estudos:

1) Vygotsky (1989), nos remete à reflexão sobre a profunda relação que existe entre os conhecimentos espontâneos e os conhecimentos científicos. Você concorda que é a partir de conhecimentos construídos nos momentos informais de seu cotidiano que o sujeito consegue construir os conhecimentos científicos correlatos? Por quê?

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2) Tente imaginar que você trabalha em uma turma de EJA e

que nessa turma haja um estudante que seja trabalhador

exercendo uma profissão específica, como padeiro, balconista

ou mecânico. Eleja um conteúdo de sua disciplina de formação

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

e tente imaginar como você poderia trabalhar tal conteúdo a partir de conhecimentos que provavelmente esse estudante- trabalhador tenha adquirido em seu local de trabalho. Faça um relato detalhado dos passos que você adotaria para trabalhar tal conteúdo, estabelecendo os objetivos, a contextualização do assunto e a descrição detalhada das atividades propostas.

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3) Escreva sobre como você percebeu esse planejamento de uma aula em que os conhecimentos espontâneos foram valorizados no trabalho com os conceitos científicos.

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Da Educação Informal à Escola

No início dos tempos, o intercâmbio de conhecimentos realizados pela educação dava-se de forma assistemática, isto é, o indivíduo os obtinha por meio do aprendizado das tarefas peculiares ao seu grupo social, na convivência com os seus pares e a partir das experiências vivenciadas em seu cotidiano. Não havia um local nem horários específicos para a aprendizagem do que era importante para viver em determinado meio social.

Com a evolução das organizações sociais, o homem sentiu a necessidade

de determinar uma maneira específica de transmissão de conhecimentos, de

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

organização desses conhecimentos em categorias sob alguns critérios que facilitassem o seu aprofundamento e a sua disseminação. Para tanto, foram criadas, também, outras necessidades, como as de instituir um espaço delimitado, um horário específico, um padrão “adequado”, uma sequência “lógica” e pessoas

“legitimadas” pela sociedade como encarregadas de promover o conhecimento entre os indivíduos jovens daquele local. Foi o advento da educação formal concretizado por meio da instituição escola. Segundo Oliveira (1999, p. 167),

Considerada como uma reunião de indivíduos com objetivos comuns, num processo de interação contínua, a escola é um grupo social. Mas pode também ser vista como uma instituição, ou seja, um conjunto de normas e procedimentos padronizados altamente valorizados pela sociedade, cujo objetivo principal é a socialização do indivíduo, a transmissão de aspectos determinados da cultura. [...] Como grupo social, a escola pode ser vista como um conjunto de alunos, professores e funcionários que desenvolvem um processo contínuo de cooperação, com o objetivo primordial de transmitir cultura.

É na escola que, além das características culturais locais, os indivíduos entram em contato com os conhecimentos estabelecidos em âmbito global e legitimados pela comunidade científica. Portanto, a escola é o local que, entre outras funções, prepara formalmente os indivíduos para intervirem no meio social do qual fazem parte. Conforme Leontiev e Luria (apud VYGOTSKY, 1998, p.

174), o processo de educação escolar é qualitativamente distinto do processo educacional como um todo, em sentido geral, já que na escola o indivíduo “[...]

está diante de uma tarefa particular: entender as bases dos estudos científicos, ou seja, um sistema de concepções científicas”.

Gadotti (2005, p. 25) contribui com essa discussão salientando que “Todos precisamos de escolas. Mas a escola não é um espaço físico. É, acima de tudo, um modo de ser, de ver. Ela se define pelas relações sociais que desenvolve.

Educar é estabelecer relações; e não trocar objetos”. É esse mesmo autor que complementa a ideia afirmando que o papel da escola é fazer tanto as crianças quantos os jovens e os adultos passarem da cultura primeira (que fazendo um paralelo com Vygotsky chamaríamos de conceitos espontâneos) à cultura elaborada (conceitos científicos).

Logo, da mesma forma que o indivíduo tem a oportunidade de entrar em

contato com os conhecimentos que circundam o seu meio social por meio da

convivência com os seus pares, na escola ele tem a possibilidade de apropriar-

se dos conhecimentos científicos. No entanto, os conhecimentos construídos nos

momentos informais, fora da escola, não serão abandonados e sim relacionados

aos conhecimentos trazidos pela escola.

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

Atividade de Estudos:

Observe com atenção as duas charges abaixo:

Figura 1 - Aula de Geografia Figura 2 - Evolução

1) Na charge 1, que aspectos sobre cultura e educação que estudamos até agora você consegue perceber?

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2) Na charge 2, é feita uma comparação entre a Teoria da Evolução e a evolução que se pode alcançar por meio do conhecimento.

Você concorda com tal comparação? Comente.

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3) Que relações você percebe entre as duas charges? Pense no que estudamos até o momento para fundamentar a sua resposta.

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

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4) Crie uma charge que retrate a importância dos conhecimentos prévios para a ascensão aos conhecimentos científicos na EJA.

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Alfabetização é Letramento:

Compreensões a Partir da Perspectiva de Soares

Você já parou para pensar como foi alfabetizado? Foi na escola?

O que é ser alfabetizado? O que é ser analfabeto? É possível saber ler e não saber escrever ou vice-versa? Por que aprendemos a ler e escrever?

Até pouco tempo na história da humanidade, a arte de ler e escrever era um

privilégio da elite, sendo que a grande maioria da população ganhava a vida sem

a habilidade da leitura e escrita. Porém, com o desenvolvimento das sociedades,

a necessidade dessa habilidade passou a fazer parte das demais classes da

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

população, tornando-se requisito fundamental para acessar o conhecimento científico.

Vale lembrar que, já no início, esse acesso foi ofertado para uma minoria da população e na maioria das vezes foi limitado a suprir a necessidade imediata de apenas decodificar sinais, escrever e contar.

O Brasil ainda possui um número significativo de pessoas que não tiveram acesso à leitura e à escrita como bens sociais, na escola ou fora dela. De acordo com o Parecer CEB nº 11/2000 (BRASIL 2000, p. 649), “ser privado desse acesso é, de fato, a perda de um instrumento imprescindível para uma presença significativa na convivência social contemporânea.”

Entretanto, é fundamental ressaltar que a ausência da escolarização não pode e nem deve justificar uma visão preconceituosa do analfabeto, relacionado- os com tarefas e funções desqualificadas no mercado. É preciso considerar a rica cultura que essas pessoas adquirem, baseada na oralidade, nos diversos meios em que vivem. Conforme afirma a autora Magda Soares (2004, p.24),

[...] um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado social e economicamente, mas, se vive em um meio em que a leitura e a escrita têm presença forte, se se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por um alfabetizado, se recebe cartas que outros lêem para ele, se dita cartas para que um alfabetizado as escreva, ..., se pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum lugar, esse analfabeto é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita, envolve- se em práticas sociais de leitura e de escrita.

Diante desse contexto, a autora ainda ressalta a importância de compreendermos o conceito de analfabeto. Soares (2004, p. 30), chama a atenção para a composição escrita da palavra:

a(n) + alfabet + ismo

O prefixo a indica negação, já o sufixo ismo indica um modo de proceder.

Então, Soares (2004, p.30) afirma que: “Analfabeto é aquele que é privado do

alfabeto, a que falta o alfabeto, ou seja, aquele que não conhece o alfabeto, que

não sabe ler e escrever”. Sendo assim, Analfabetismo é “um estado, uma condição,

o modo de proceder daquele que é analfabeto” (SOARES, 2004, p.30).

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DIDÁTICA DO EDUCADOR DA EJA

Observe com atenção a charge:

Figura 3 - Mafalda na sala de aula

Fonte: Quino, 1999, p. 54.

Atividade de Estudos:

1) Você consegue perceber o que a professora estava querendo ensinar aos alunos?

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2) Por que Mafalda faz este questionamento à professora? Socialize com os colegas a sua opinião. Para isso, você também pode utilizar o ambiente virtual de aprendizagem.

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3) Durante sua trajetória escolar, você já vivenciou alguma situação parecida e em sua atuação docente?

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As Relações entre Cultura e Educação Capítulo 1

Agora que você já concluiu a atividade e socializou fatos do seu processo de escolarização, vamos resgatar a fala de Mafalda para prosseguir com nossas reflexões:

- Professora, agora nos ensine coisas importantes.

Quando Mafalda afirma que quer aprender coisas importantes, ela aponta a necessidade de aprender algo que seja articulado com suas necessidades e interesses, com o meio em que ela vive. Parece que o esforço da professora em alfabetizar, neste momento, não passa de uma visão restrita da leitura e da escrita, exigindo dos alunos apenas um conjunto de habilidades motoras e técnicas.

Mas como sugere Mafalda nas entrelinhas de sua fala, de que adianta esse conhecimento se não soubermos aplicá-lo em nosso dia a dia?

Neste sentido Soares (2004, p.39) afirma que

um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o individuo letrado (...) não é só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente as demandas sociais de leitura e de escrita.

A autora ainda conclui afirmando que “Letramento é o estado ou condição de quem se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e escrita”. (SOARES, 2004, p. 44).

Mas, afinal, onde surgiu o termo Letramento?

A palavra letramento deriva de literacy que, etimologicamente, vem

do latim littera (letra), com o sufixo cy, que denota qualidade, condição, estado, fato de ser. Ou seja, literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. “A escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprende a usá-la.” (SOARES, 2004, p.17)

“Letramento é o estado ou condição de quem se envolve

nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e escrita”. (SOARES,

2004, p. 44).

Referências

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