PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS E FORMAÇÃO INTEGRADA ESPECIALIZAÇÃO EM FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA
Carina de Oliveira Lima Amorim
Os benefícios do tratamento hidroterapêutico na Esclerose lateral amiotrófica- revisão de literatura
GOIÂNIA 2015
Artigo apresentado ao curso de Especialização em Fisioterapia Neurológica do Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada, chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC- Goiás).
Orientadora: Prof.ª Dra. Thereza Cristina Abdalla Veríssimo
Os benefícios do tratamento hidroterapêutico na esclerose lateral amiotrófica- revisão de literatura
The benefits of hydrotherapeutic treatment in amyotrophic lateral sclerosis literature review
Carina de Oliveira Lima Amorim
1, Thereza Cristina Rodrigues Abdalla Veríssimo
2RESUMO
Introdução: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurológica, a qual possui um caráter degenerativo, progressivo e incapacitante. Durante a progressão da doença o paciente tem a motricidade dos membros, a fala, a deglutição e a respiração comprometidas, sendo considerada como uma doença de natureza fatal. A hidroterapia vem a ser um recurso que promove efeitos terapêuticos e fisiológicos importantes no paciente com ELA. Objetivo:
O presente estudo tem por objetivo analisar os benefícios e efeitos terapêuticos promovidos pela hidroterapia em pacientes com ELA e a sua importância na qualidade de vida desses pacientes. Métodos: Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de estudos e artigos indexados na base de dados: Lilacs, Scielo, Bireme e Pubmed, realizados entre os anos de 1988 a 2014. Resultados e conclusão: foi constatada uma grande escassez de estudos que abordem os benefícios da hidroterapia na ELA, sendo, no entanto, evidenciado que a hidroterapia pode ter resultados positivos a esses pacientes os quais além de experimentarem uma melhora física, se beneficiam no aspecto psicológico.
Descritores: Esclerose lateral amiotrófica, hidroterapia, reabilitação, efeitos terapêuticos, qualidade de vida.
ABSTRACT
Background: Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS) is a neurological disease, which has a degenerative, progressive and disabling character. During the progression of the disease the patient has the motor skills of the members, speech, swallowing and breathing compromised and is considered as a fatal disease nature. Hydrotherapy becomes a resource that promotes therapeutic and physiological effects important in patients with ALS. Objective: This study aims to analyze the benefits and therapeutic effects promoted by hydrotherapy in patients with ALS and their importance in the quality of life of these patients. Methods: We conducted a literature review through studies and articles indexed in the database Lilacs, Scielo, Bireme and Pubmed, carried out between the years 1988-2014. Results and conclusion: we observed a severe shortage of studies that address the benefits of hydrotherapy in ALS, being however shown that the hydrotherapy can have positive outcomes for these patients which in addition to experience a physical improvement, benefit from the psychological aspect.
Keywords: Amyotrophic lateral sclerosis, hydrotherapy, rehabilitation, therapeutic effects, quality of life
1 Fisioterapeuta pós-graduanda em Fisioterapia Neurológica pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás)
2 Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Neurológica pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC- Goiás), Professora Orientadora no Ceafi Pós-Graduação e Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER)
INTRODUÇÃO
A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurológica, a qual possui um caráter degenerativo, progressivo e incapacitante, causando paralisia em praticamente todos os músculos esqueléticos. Conhecida também como Doença de Lou Gehrig ela se caracteriza pela lesão dos neurônios motores do córtex, tronco cerebral e medula espinhal podendo levar a amiotrofia, fasciculações e espasticidade.
1,2É uma doença do neurônio motor, com grande abrangência, permitindo o estudo de todas as outras doenças deste grupo, sendo que a forma mais persistente é conhecida como forma clássica e se caracteriza por apresentar sinais referentes à lesão de neurônio motor inferior (amiotrofia), neurônio motor superior (espasticidade) e bulbo (disartria/disfagia).
3Durante a progressão da doença, o paciente tem a motricidade dos membros, a fala, a deglutição e a respiração comprometidas, sendo considerada como uma doença de natureza fatal.
2,3O processo degenerativo é geralmente restrito ao sistema motor, sendo afetados os tratos cortico bulbares e cortico espinhais (provavelmente outras vias motoras descendentes) junto com núcleos motores de nervos cranianos e células do corno anterior. Há uma combinação de sinais clínicos do neurônio motor superior e inferior, sendo o inferior mais predominante nos últimos estágios terminais da doença.
4Segundo pesquisa a prevalência de ELA é de 0,4 a 2,4 casos por 100.000 pessoas no mundo inteiro. Em 5 a 10 % das pessoas com ELA, a doença é herdada como um traço dominante autossômico, sendo conhecida como ELA Familiar. Em 90 a 95% das pessoas com ELA, não há histórico familiar da doença, denominando-se ELA esporádica, onde a causa ainda não é completamente determinada, acredita-se que a etiologia seja multifatorial, pois vários estudos têm mostrado associação entre fatores genéticos individuais e ambientes externos.
5A hidroterapia vem a ser um recurso complementar ao tratamento dos pacientes com
ELA que traz uma gama de efeitos terapêuticos relevantes. O objetivo deste estudo, portanto,
é de explorar a importância e os benefícios da hidroterapia no tratamento da Esclerose lateral
amiotrófica e como esse recurso pode melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
FISIOPATOLOGIA
A Esclerose Lateral Amiotrófica é classificada como uma das doenças do motoneurônio, tanto superior como inferior, fazendo parte de um grupo variado de patologias neurológicas, caracterizada por fraqueza muscular além de outros sinais e sintomas resultantes da perda de motoneurônios no córtex cerebral, tronco encefálico ou medula espinhal.
2,6A fisiopatologia da ELA (esclerose lateral amiotrófica) ocorre quando a medula espinhal apresenta grave degeneração e perda de células do corno anterior em todos os níveis, ocorre também à degeneração tanto do feixe corticoespinhal lateral como no anterior, na mielina ocorre uma mudança em sua coloração sendo observada uma palidez.
7As raízes ventrais que se originam da medula espinhal demonstram grave perda das fibras grossas mielinizadas, o que representa à destruição de forma seletiva dos motoneurônios alfa, sendo preservados os motoneurônios gama, as funções neuromusculares já se apresentam anormais.
7,6Durante muitos anos a ciência busca explicações acerca dos fatores que causam a ELA, porém tudo caminha ao redor de teorias ainda não se sabe a causa exata, pois atualmente a principal teoria menciona etiologias multifatoriais
8. O diagnóstico clínico da ELA é obtido através de um exame clínico chamado Eletroneuromiografia, o qual é realizado por meio de captação e análise do potencial evocado, produzido por estímulos sobre pontos superficiais das estruturas nervosas e sensitivas, sendo que em situações patológicas de degeneração das fibras musculares o estado de excitabilidade das membranas se apresenta alterado, ocorrendo à despolarização os quais é traduzida na tela do eletromiógrafo.
7Por meio deste trabalho será realizada a análise da literatura buscando os efeitos advindos da imersão através da hidroterapia e quais benefícios esta terapia pode proporcionar aos pacientes com ELA.
Material e métodos
Atualmente existem inúmeros estudos com relação a meios de tratamento em
pacientes portadores de Esclerose Lateral Amiotrófica, porém no que diz respeito à
reabilitação, especialmente quanto ao uso da terapia aquática há uma grande escassez de
estudos relacionados aos benefícios do mesmo. A presente revisão de literatura foi fundamentada em trabalhos escritos na língua portuguesa ou inglesa, obtidos por meio de artigos indexados nas bases de dados: Lilacs, Scielo, Bireme e PubMed tendo sido realizada uma vasta leitura dos mesmos e utilizando por referência artigos entre os anos de 1988 a 2014. Palavras chaves utilizadas foram: Esclerose lateral amiotrófica, hidroterapia, reabilitação, efeitos terapêuticos, qualidade de vida. Foram considerados critérios de inclusão estudos nos idiomas português e inglês que abordassem a hidroterapia no tratamento dos portadores de ELA, foram excluídos artigos que não apresentaram clareza com relação à utilização da hidroterapia e seus benefícios.
O objetivo deste estudo foi de abordar a utilização e os benefícios da hidroterapia em pacientes portadores de Esclerose Lateral Amiotrófica e a sua importância na qualidade de vida.
Reabilitação na ELA
O tratamento fisioterapêutico é de extrema importância para o portador de ELA, e a abordagem se realiza durante toda a evolução da doença. A conduta é realizada com base na prevenção e no quadro clínico atual do paciente e apesar do tratamento ser específico e individualizado, é possível se estabelecer diversas diretrizes gerais para a reabilitação.
9, 10O principal propósito da fisioterapia motora é fazer com que permaneça o maior grau de independência possível com mobilidade funcional e a realização das atividades diárias.
Dentre os objetivos secundários pode-se compreender a minimização das deficiências através de adaptações, educar o paciente e seus familiares, prescrever exercícios específicos, prevenir as complicações relacionadas à imobilidade e eliminar ou prevenir a dor, contribuindo para melhor qualidade de vida
11.
O fisioterapeuta tem por objetivo avaliar e prescrever exercícios para a manutenção da amplitude de movimento, a fim de aprimorar a função muscular ainda existente e para prevenir as complicações decorrentes de desuso e da lesão, para a manutenção do tônus muscular, e ainda prevenir possíveis quadros álgicos e edemas.
9No paciente com ELA, a fisioterapia deve ser realizada de acordo com as necessidades
particulares de cada indivíduo, sendo considerado o grau de força muscular dos membros
superiores e inferiores, o tônus muscular, o padrão da marcha e o gasto de energia que a
atividade requer do paciente. Havendo necessidade e dependendo da fase da ELA em que o
paciente se encontra, o fisioterapeuta deverá fazer a prescrição de dispositivos auxiliares para marcha a fim de garantir a independência funcional
11.
RESULTADO E DISCUSSÃO
A hidroterapia vem sendo um recurso da fisioterapia de grande importância, que utiliza a água como agente externo, abrangendo e aplicando exercícios terapêuticos em meio aquático, em piscina aquecida, a qual auxilia na reabilitação de várias patologias, inclusive nas doenças neuromusculares, sendo o objetivo principal, trazer maior qualidade de vida ao paciente
4.
É um recurso que vem ganhando prestígio, especialmente na reabilitação de pacientes portadores de doenças neurológicas através de métodos e técnicas hidroterapêuticas
9.
A hidroterapia é uma forma de terapia realizada em piscina aquecida, com a temperatura variando entre 32 a 34 °C. A piscina terapêutica deve oferecer toda uma estrutura visando segurança, devendo ser adaptada com rampas, escadas, corrimões que ofereçam profundidades diferentes, assim como uma boa acessibilidade para os pacientes portadores de deficiências físicas
9.
Devido às propriedades físicas que a água possui, a mesma proporciona diversos efeitos terapêuticos no tratamento do paciente com ELA, tais como: alívio da dor, relaxamento, manutenção e melhora das amplitudes de movimento, minimização da perda de massa muscular, melhora das condições funcionais da marcha, ocorre o estímulo de movimentos não realizados fora da água e o incentivo ao equilíbrio, tendo o calor da água proporcionando efeitos fisiológicos favoráveis a terapia
7, 9. Com relação aos efeitos psicológicos pode se destacar o sucesso e sentimento de realização, liberdade de movimentos, desenvolvem a independência, oportunidade de expor a criatividade e extravasamento emocional, sociabilização e sensação de bem-estar
9.
A água possui propriedades físicas que explicam seu valor terapêutico, dentre elas a
literatura aborda a densidade relativa da água, que tem como característica a relação entre sua
massa e seu volume. A gravidade específica, já, é explicada como sendo à relação entre a
densidade de uma substância ou objeto com a densidade da água. Pelo fato da gravidade
específica da água ser igual a 1, todo objeto ou corpo que for colocado no ambiente aquático,
apresentando uma densidade menor do que a da água, flutuará
12. Ao contrario, se a densidade
do corpo for maior do que a da água, o mesmo afundará. A densidade relativa do corpo humano é de aproximadamente 0,97, o que vai ser crucial na flutuação do corpo
12, 13.
A flutuação é definida como uma força (empuxo) o qual age contra a gravidade estando relacionado com o volume de água que é deslocado pelo corpo submerso. Na água a gravidade pode ser relativamente anulada e consequentemente promover uma menor descarga de peso, tal fato ocorre devido à flutuação
12.
Na pressão hidrostática tendo a água como substância líquida, a mesma irá exercer uma pressão em todas as direções sendo que, quanto maior a profundidade maior a pressão exercida, realizando assim uma compressão nos vasos sanguíneos, auxiliando no retorno venoso e na redução de edemas
12, 13.
A propriedade da viscosidade demonstra o atrito que o líquido pode exercer em um corpo quando este se movimenta, representando uma medida importante quando se fala em resistência ao movimento
12.
Quanto ao fluxo, o corpo ou objeto que está em movimento na água, fica sujeito a algumas particularidades de fluxo do líquido os quais são determinados através da velocidade, oscilação e o formato do corpo. No que diz respeito ao movimento que é produzido dentro da água, o mesmo pode ser classificado como fluxo laminar sendo caracterizado como movimentos suaves e lentos ao redor do objeto, pois as moléculas da água movimentam-se de forma paralela e não se cruzam, enquanto no fluxo turbulento os movimentos são mais rápidos e o fluxo se apresenta de forma desigual formando-se cruzamentos e oscilações entre as moléculas
12, 13.
O torque irá representar a capacidade de rotação de uma força se esta for aplicada sobre um sistema de alavanca. A aplicação deste princípio em ambiente aquático poderia ser demonstrada por meio da interação entre a força de empuxo e a posição do corpo na água
12.
No caso dos pacientes portadores de ELA, a monitoração da capacidade vital é muito importante, pois havendo perda acima de 50% da capacidade vital, a hidroterapia já é considerada contra indicada devido à pressão hidrostática ocasionada na caixa torácica o que causa desconforto respiratório. Faz-se necessário um trabalho em conjunto com o médico e a equipe da fisioterapia respiratória para a devida monitoração da capacidade vital
9, 14.
Em diversos estudos a literatura explica que os efeitos da água sobre o sistema
neurológico podem provocar influência sobre os níveis de dor através de um mecanismo de
redução de sensibilidade das terminações nervosas livres, ocorrendo também um efeito de
relaxamento do tônus muscular que pode ser devido à vasodilatação e diminuição da
sobrecarga corporal sendo benéfico nos casos de espasticidade ou tensão muscular elevada
13,15