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A TRAJETÓRIA DE UM MITO

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Academic year: 2021

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Ernesto foi uma criança levada, um aluno brilhante e belo homem. Desde pequeno destacou entre os demais pela capa- cidade de liderar

Ernesto Guevara de la Serna nasceu na Argentina, em 14 de maio de 1928, às 3h15 da ma- nhã, na cidade de Rosário. Mas foi registrado um mês depois, no mesmo dia e na mesma hora.

Isso porque sua mãe Célia de la Serna casou-se grávida de três meses e Ernesto foi tido como prematuro de 7 meses. Ernestito, como era chamado, nunca sou- be disso. Aos dois anos de ida- de contraiu asma crônica, doen- ça que o seguiu por toda a vida.

Seu pai, Ernesto Guevara Lynch, era bisneto de um dos homens mais ricos da América do Sul. Estudou arquitetura e en- genharia abandonando antes de se formar para fazer sua própria

dando após a doença da avó para medicina. De acordo com Jon Lee Anderson (autor de sua mai- or biografia), no mesmo mês em que sua avó morreu, ele matri- culou-se em medicina na Uni- versidade de Medicina de Buenos Aires. Mais tarde, ini- ciou especialização em alergia, provavelmente para estudar e entender sua doença.

Em 11de abril de 1953, fez seus últimos exames. Assim que soube que havia passado ele co- municou aos pais que faria uma nova viagem.

A TRAJETÓRIA DE UM MITO

fortuna com a herança deixada pelo pai. Célia, sua mulher, estudou em um colégio católico da elite Argentina. Autên- tica sangue azul da no- breza espanhola, órfã de pai e mãe desde cedo, herdou uma gran- de fortuna aos 21 anos.

Ernestito foi o primogênito, mas o ca- sal teve ainda mais três filhos. Ele herdou da mãe a cultura e a intre- pidez que fez dele um líder. Sua mãe foi a pri- meira a dirigir o próprio carro, a usar calças compridas e a fumar cigarros (coisas que para época eram desafios às normas da sociedade). Ernesto foi uma criança levada e, apesar da do- ença, nada o impedia de sempre fazer o que queria. Estudioso, adorava história, filosofia e des- de pequeno lia Marx e Engels.

Adorava escrever em diários, hábito que levou por toda sua vida.

Sempre foi bom aluno e bom amigo. Cresceu numa boa casa em Alto Gracia, na Argentina.

Seus amigos eram meninos po- bres que moravam na favela pró- xima. Daí, talvez, dele ter adqui- rido o jeito desleixado de andar.

Decidiu ser engenheiro, mu-

Por Guilene Matos

Che ainda um menino

Graças a essas viagens que fez, uma em companhia de Alberto Granado e outra com Calos Ferrer, ele conheceu as misérias da América Latina e re- solveu iniciar uma nova carrei- ra, a de guerrilheiro.

Época da faculdade de medicina

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O nascimento do apelido “Che”

“Che” não suportou ficar na revolução apenas como médico, ali nascia não só o apelido eterno, mas o revolucionário

Ao lado do amigo Alberto Granado, viajou de bicicleta pela América Latina para conhecer seus habitantes e suas condições de vida, história e geografia. Na Guatemala, junta-se às milícias populares que defendiam o governo popular de Jacob Arbénz contra uma invasão orquestrada pela CIA.

Após a queda do governo Arbenz, exilou-se no México. Lá, conheceu o grupo de Fidel Castro, também exilado como punição pelo assalto ao quartel Moncada. Desse encontro nasceu o apelido de Che, pelo seu sotaque argentino de falar a interjeição "che" a toda hora. Cas- tro preparava uma invasão à Cuba e Guevara juntou-se aos guerrilhei- ros como médico.

Ainda no México, Che conhe- ce Raúl Castro (irmão de Fidel).

Dois anos depois é apresentado ao próprio Fidel Castro. Sobre

ele Che escreveu em seu diário:

“Um acontecimento político foi ter conhe- cido Fidel Castro, o revolucionário cuba- no, um homem moço, inteligente, muito se- guro de si e de uma audácia extraordiná- ria. Acho que há uma simpatia mútua en- tre nós.” (ANDERSON:1997:203)

Em dezembro de 1958, o então médico "dr. Guevara" fez a esco- lha que mudou sua história. O de- sembarque em Cuba fora descober- to pelo governo do ditador Fulgêncio Batista e os guerrilhei- ros foram recebidos por um inten- so bombardeio. Durante o tiroteio, Guevara tinha a seus pés o carre- gador de munição e a sacola cheia de medicamentos. Seria impossível carregar as duas, (ele escolheu a munição). Mostrou ali, qual era sua verdadeira vocacação. Em 1°

de janeiro de 1959 eles entraram triunfantes em Havana.

Ainda em 1959, Che se divor- ciou de Hilda Gadea, três anos de- pois que se casou, quando ela esta- va grávida. Sobre a paternidade Che escreveu: “Passou-se muito tem- po e se produziram novos acontecimento.

Anotarei apenas o mais importante: a par- tir de 15 de fevereiro de 1956, sou pai, Hilda Beatriz é a primogênita.

Che e sua primogênita Hilda Beatriz (Hildita)

O amigo Fidel Castro

(ANDERSON:1997:234)

Após a separação Che casou- se novamente com Aleida March, e teve outros quatro fi- lhos. Nesse período Che foi no- meado por Fidel Castro a Minis- tro da Economia de Cuba.

A pequena Hildita Por Guilene Matos

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A foto que revelou Che ao mundo

A imagem mais reproduzida do mundo foi ti- rada em 5 de março de 1960, pelo fotógrafo cubano Alberto Korda

A imagem do guerri- lheiro argentino com olhar distante, de cabelos longos debaixo de uma boina com uma estrela, virou ícone popular. Além de ser uma das imagens mais reproduzidas do mundo, a foto de Che se tornou uma das mais usadas em publi- cidade de produtos dos mais variados.

Essa foto foi tirada quando centenas de pesso- as prestavam homenagem às vítimas de explosões do cargueiro francês "La Couble" que chegava car- regando armas para o go- verno cubano.

Alberto Korda, na época fo- tógrafo do jornal Revolución, estava lá para cobrir o evento e foi o responsável pela imagem que celebrizou Che no mundo inteiro. A partir dela, Guevara assumiu a identidade de mito popular.

Atualmente, sua estampa está em ímãs de geladeira, camise- tas, bonés, lataria de carros,em faixas de protestos, na bandeira da torcida do Cruzeiro de Belo Horizonte, no bíceps flácido de

De todos os atributos conhe- cidos: a valentia, o rosto belo, a barba que lhe emprestou um as- pecto entre poeta romântico e um Cristo rebelado, nenhuma delas marcaram tanto o mito Che Guevara como a persistên- cia e ousadia. Talvez, isso se deva o fato de sua perpetualidade.

Num mundo de heróis efêmeros e celebridades reco-

nhecidamente medíocres, sua durabilidade é um verdadeiro assombro.

Haja vista, ter despertado a imaginação dos estudantes parisienses, na revolta ocorrida em maio de 1968 (apenas um ano após sua morte). Assim, essa fotografia, definitivamente, ficou associada a lutas organi- zadas, além de ter virado sím- bolo de revolta passando por vá- rias gerações.

Por Guilene Matos

Diego Maradona e na barriga de Mike Tyson, e até em biquinis de grifes famosas.

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Por não ter se adaptado à buro- cracia castrista, Che deixou o car- go de Ministro da Economia de Cuba, em 1965. Pois "outros paí- ses do mundo clamavam por revo- luções". Na Bolívia isolado em ter- ritório desconhecido e sem apoio do partido comunista local, foi per- seguido pelo exército e levado para o povoado de La Higuera, onde foi assassinado no dia seguinte.

Depois de intenso tiroteio, com sua arma avariada e com a perna ferida por uma bala, Che Guevara rendeu-se. Naquelas alturas a apa- rência dele era assustadora. Pare- cia um mendigo, magro, sujo e es- farrapado. Levaram-no para um ca- sebre em La Higuera que servia como escola rural. Lá, ele tinha a companhia dos cadáveres de dois jovens guerrilheiros cubanos. Ali

passou sua última noite.

Foi interrogado pelo tenente André Selich, quem arrancou de Che a frase "eu fracassei, está tudo terminado e é por essa razão que me vê neste estado". Depois de muitas tentativas de interrogatório do Coronel Joaquin Zenteno Anaya e do agente cubano-americano da CIA, Félix Rodrigues, chega então pelo rádio, ao meio-dia e meia, a ordem final do General René Barrientos, do alto comando boli- viano de La Paz, que segundo Selich a mensagem era: proceder a eliminação do sr. Guevara.

Apesar de nenhum deles con- cordarem com a execução, pois Che valia muito mais vivo do que morto, já que, ao expor derrotado podiam exigir de Cuba uma inde-

nização para cobrir os gastos dei- xados pelas guerrilhas e colaborar com os familiares de bolivianos mortos. Mas, a ordem teve de ser cumprida. Mário Terán o homen que executou Che disse que as úl- timas palavras dele foram "É me- lhor assim (...). Eu nunca deveria ter sido capturado vivo."

(ANDERSON:1997, 847)

A única ordem dada a Terán so- bre a execução foi de livrar o rosto e que só atirasse do pescoço para baixo. Terán puxou o gatilho e ati- rou nos braços e nas pernas e en- quanto Che se contorcia de dor e mordia os pulsos na tentativa de evitar gritar, uma outra rajada foi disparada. A bala fatal penetrou no tórax de Che, era 13h10, quando Rodriguez olhou no relógio ao ou- vir o último disparo. Che morreu no dia 09 de outubro de 1967, aos 39 anos de idade, com 11 tiros.

Che foi jogado no concreto de uma lavanderia com a cabeça apoi- ada na pia e os olhos abertos. Dois dias depois jogaram seu corpo com as mãos decapitadas numa cova se- creta próximo a Vallegrande. Ele e mais outros sete foram enterrados nesse lugar num segredo que dura- ria quase três décadas. O exército boliviano temia que se o sepultas- sem seu túmulo virasse centro tu- rístico devido à fama que Guevara tinha na América Latina.

Desde então, em Cuba, o dia 8 de outubro (data da sua captura) é considerado o "Dia do Guerrilhei- ro Heróico". Nesse dia são presta- das homenagens ao guerrilheiro e amigo de Fidel, Che Guevara.

O DIA QUE CHE NÃO ESCREVEU NO DIÁRIO

Che Guevara com a sua famosa boina e seu charuto cubano

Che conquistou ao longo dos anos inúmeros adeptos. Foi o responsável pela independência de muitos vilarejos. Mas foi em uma dessas revoluções que sua verdadeira história começou a ser escrita

Por Guilene Matos

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Túmulo de Che foi descoberto três décadas após sua morte

Antropólogos encontraram seu cadáver em uma vala comum, em Vallegrande na Bolívia

Por Guilene Matos

Vários foram os boatos que cerca- ram a execução de Che Guevara e le- vantaram dúvidas sobre a identidade do guerrilheiro. A confusão culminou no desaparecimento dos seus restos mortais, encontrados apenas em 1997 (30 anos depois) sob o terreno do ae- roporto de Vallegrande. O corpo esta- va sem as mãos, que fora amputadas para reconhecimento poucos dias de- pois de morrer.

Em 1967, com a sua morte o sonho de ampliar a Revolução Cubana à Amé- rica Latina foi interrompido. Mas não impediu que seus ideais continuassem a gozar de popularidade entre a esquer- da. Em 17 de outubro de 1997, Che foi enterrado com honras na cidade cu- bana de Santa Clara (onde liderou uma batalha decisiva para a derrubada de Batista). Estavam presentes, a família e o amigo Fidel Castro.

Em Vallegrande o palco final da

frustrada epopéia boliviana da vida do médico-guerrilheiro, argentino-cuba- no, Ernesto “Che” Guevara, ganhou ca- pítulos inusitados em companhias pou- co comuns.

Lá , Che passou a ser beatizado pela população, e a se chamar San Ernesto de La Higuera. Agora, além de herói, é alvo de devoção, tido como santo e

Por mais que as autoridades e o Exército tenham tentado, durante mui- tos anos, desestimular quaisquer reve- rências à sua memória, seu mito cres- ceu na clandestinidade, espraiando-se como rastilho de pólvora. Embora seus ideais sejam românticos aos olhos de um mundo globalizado, ele se trans- formou num ícone na história das re- voluções do século XX, e num exem- plo de coerência política. Sua morte de- terminou o nascimento de um mito, até hoje símbolo de resistência para os países latino-americanos.

Seu túmulo, agora fica no Memorial Co- mandante Ernesto Che Guevara, é um dos mais visitados do mundo, chegando a, cerca de, 2,5 milhões de pessoas desde sua inauguração, em 1988. Emvida fez re- voluções. Em morte sua história.

protetor. Assim, os sete mil habitantes de Vallegrande convivem com a pre- sença do guerrilheiro desde o dia da sua morte.

Corpo de Che junto aos seus executadores

Che morto

Túmulo de Che

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Para conhecer mais sobre Che Guevara

Jon Lee Anderson, 52 anos, jornalista norte-americano de prestígio interna- cional, levou cinco anos para completar essa que vem a ser a mais completa obra biografica de Che Guevara, com 920 páginas.

Aleida March, segunda mulher de Che, e seus quatro filhos com ela, Aleidita, Célia, Ernesto e Camilo

Todas as informações dos textos foram tiradas do livro:

“Che Guevara uma biografia”

Che em família

Referências

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