• Nenhum resultado encontrado

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 0347/18

Data do Acordão: 18-04-2018

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: ANTÓNIO PIMPÃO

Descritores: PROCESSO DE INSOLVÊNCIA

PROCESSO ESPECIAL DE REVITALIZAÇÃO

Sumário: I - Com o despacho judicial de nomeação do administrador

provisório [cfr. art. 17.º-C, n.º 3, alínea a) do CIRE] determina- se o prosseguimento do PER e, simultaneamente, «durante todo o tempo em que perdurarem as negociações», obsta-se à instauração de quaisquer acções para cobrança de dívidas contra o devedor e suspendem-se, quanto ao devedor, as acções em curso com idêntica finalidade, acções que se extinguem logo que seja aprovado e homologado plano de recuperação, salvo quando este preveja a sua continuação (cfr.

art. 17.º-E, n.º 1, do CIRE).

II - No caso de ter sido aprovado plano de recuperação, os referidos efeitos suspensivos só cessam com o trânsito em julgado da decisão judicial que homologar, ou não, esse plano.

Nº Convencional: JSTA000P23192 Nº do Documento: SA2201804180347 Data de Entrada: 02-04-2018

Recorrente: A..., SA

Recorrido 1: AT - AUTORIDADE TRIBUTÁRIA E ADUANEIRA

Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo

Tribunal Administrativo:

*

1.1. A………, S.A., reclamou, nos termos do artigo 276.º do CPPT, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, do

despacho de indeferiu o pedido de suspensão de todos os processos executivos em que figura como responsável solidária, proferido em 11/08/2017 pelo Chefe do Serviço de Finanças de Sintra-4, peticionando a sua anulação.

*

1.2. Aquele Tribunal, por sentença de 25/10/2017 (fls.65/74) concluiu o seguinte:

«Pelo exposto, não se conhece do mérito da presente reclamação, pelo que, após trânsito, deverão os presentes autos ser remetidos ao órgão de execução fiscal, com vista ao prosseguimento dos mesmos, devendo subir oportunamente este Tribunal se necessário for.».

*

1.3. A reclamante recorreu dessa decisão para o Supremo

(2)

Tribunal Administrativo que, por acórdão de 10/01/2018 (fls.99/111), entendeu «conceder provimento ao recurso,

revogar a decisão recorrida e ordenar que os autos regressem à 1.ª instância, a fim de aí ser apreciada a reclamação, se tal nada mais obstar.».

*

1.4. Nesta sequência, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, por sentença de 08/02/2018 (fls.125/136), julgou improcedente a reclamação.

*

1.5. É dessa decisão que a recorrente vem interpor o presente recurso, terminando as suas alegações com o seguinte quadro conclusivo:

«A) A Meritíssima Juiz “a quo” entendeu, na Douta Sentença ora recorrida de que “não é a decisão judicial de homologação ou não do acordo que marca o fim” das restrições previstas nos artigos 17º F nº 1 e 17º G nº 1 do CIRE “mas sim a conclusão das negociações” e assim, “mostrando-se concluídas as negociações referentes ao plano de revitalização, a

Administração Tributária pode fazer prosseguir a execução contra a devedora, (…) tanto mais que não subscreveu o plano de revitalização”.

B) Não tem aplicabilidade “in casu” nem o artigo 17° F nº 1 nem tão pouco o artigo 17º G nº 1 do CIRE, mas sim o artigo 17° F nº 1 do mesmo Código e, dispõe este preceito que “A decisão do nº 4 do artigo 17º C obsta à instauração de quaisquer acções para cobrança de dívida contra a empresa e, durante todo o tempo em que perdurarem as negociações, suspende, quanto à empresa, as acções em curso com idêntica finalidade, extinguindo-se aquelas logo que seja aprovado e homologado plano de recuperação, salvo quando este preveja a sua

continuação”.

C) A suspensão dos processos perdura até ao momento da aprovação e homologação do plano, momento em que estes se extinguem.

D) Pelo raciocínio da Meritíssima Juiz “a quo”, as

acções/execuções suspendem-se até ao final das negociações, reactivam-se e, ulteriormente, extinguem-se com a

homologação do plano de recuperação, o que não se pode aceitar.

E) O Legislador pretendeu suspender as acções/execuções a partir do momento em que o Juiz emite o Despacho inicial até ao encerramento do processo, tal qual se encontra previsto na actual redação do artigo 17º J do CIRE ou seja, após o trânsito em julgado da decisão de homologação do plano de

recuperação, data na qual se extinguem.

F) Este entendimento, que parece inequívoco, resulta

igualmente do Acórdão proferido no âmbito destes autos por

(3)

esse Venerando Tribunal a 10.01.2018, o qual refere a folhas 11 que “estando aprovado um plano de recuperação da sociedade ora Recorrente, o qual aguarda decisão homologatória,

quaisquer pagamentos à margem desse plano poderão fazer perigar a homologação” e daí a existência do artigo 17º E nº 1 do CIRE.

G) Parece ainda resultar da Douta Sentença ora recorrida de que assistiria legitimidade em a Administração Tributária prosseguir com a sua execução pelo facto de, alegadamente, não ter subscrito o plano de revitalização.

H) Em abono da verdade, para além da Autoridade Tributária ter votado favoravelmente o plano de recuperação apresentado pela Recorrente omitiu a Meritíssima Juiz “a quo” o disposto no artigo 17º F nº 10 do CIRE o qual dispõe que a decisão

homologatória “vincula a empresa e os credores, mesmo os que não hajam reclamado os seus créditos ou participado nas negociações, relativamente aos créditos constituídos à data em que foi proferida a decisão prevista no nº 4 do artigo 17º C…”.

I) Acresce que, conforme resulta inequivocamente do supra mencionado Douto Acórdão desse Venerando Tribunal, não estamos a lidar, na presente lide, com créditos tributários e assim, com a indisponibilidade que deles decorre, mas com meros créditos de natureza privada.

J) Desta forma, não havendo dúvida de que o crédito em causa se encontra devidamente incorporado e reconhecido no âmbito do processo especial de revitalização a que a Recorrente

recorreu, tal como decorre dos pontos C) e I) da matéria provada, este crédito apenas pode ser liquidado como um normal crédito comum, em sede de implementação do plano de recuperação, pois caso contrário existe um manifesto e

injustificado privilégio de credores, o qual é proibido pelas normas do CIRE, designadamente pelo artigo 194º, que estabelece o princípio da igualdade dos credores bem como pelo artigo 229º do Código Penal.

K) Importa ainda salientar de que, no decurso da tramitação da presente lide, o plano de recuperação apresentado pela

Recorrente foi homologado por Douta Sentença que transitou em julgado no passado dia 28.11.2017, cuja certidão judicial electrónica se requer a junção aos presentes autos ao abrigo do disposto nos artigos 425º e 651º nº 1 do C.P.C., pelo facto de se destinar a provar factos ulteriores aos articulados e

porque se revela necessária a sua exibição face ao julgamento de Primeira Instância.

L) Requer a Recorrente a extinção de todos os processos executivos que se encontrem pendentes relativos aos créditos da sociedade “B………….., Lda.” de acordo com o preceituado no artigo 17º E nº 1 do CIRE, pelo facto do crédito que a ele subjaz não ser tributário e assim, indisponível.

(4)

M) A Meritíssima Juiz “a quo” violou o disposto nos artigo 17º E nº 1, 17º F nº 10, 17º J e 194º nº 1 todos do CIRE, bem como o artigo 229º do Código Penal.

Termos em que, revogando a Douta Sentença ora recorrida e substituindo-a por Douto Acórdão que ordene que a extinção de todo os processos executivos instaurados pela Autoridade

Tributária contra a Recorrente decorrente dos créditos da sociedade “B………….”, estarão V. Exas. a fazer a tão habitual e costumada Justiça.».

*

1.6. O Ministério Público emitiu a seguinte pronúncia:

«A recorrente, A………….., SA, vem sindicar a sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, de 08/02/2018,

exarada a fls. 125/136, que indeferiu pedido de anulação do ato do Chefe do SLF de Sintra 4 (Queluz), que havia indeferido pedido de suspensão de todos os processos de execução em que a recorrente figura como responsável solidária, no

entendimento de que é o fim das negociações relativas ao PER que assinala a remoção das restrições referentes à instauração ou prossecução das ações e não a respetiva homologação, pelo que considerando-se as negociações encerradas com a aprovação do PER, ocorrida em 16/01/2016, à data em que foi proferido o ato sindicado (11/08/2017) a ação já podia

prosseguir sem qualquer violação do disposto no artigo 17.º-E/1 do CIRE.

A nosso ver o recurso merece provimento.

Vejamos.

Antes de mais convém analisar a natureza do crédito em causa nos autos.

Como resulta do probatório, a recorrente reconheceu que a devedora dos tributos em execução coerciva, …………., LDA, era titular de um crédito, corresponde a um seu débito, no montante de € 33.676,14.

No seguimento desse reconhecimento o OEF procedeu à penhora de tal crédito e, uma vez que a recorrente não procedeu ao seu depósito, o OEF executou a recorrente, no próprio PEF, ao abrigo do estatuído no artigo 233º/a) do CPPT.

Portanto, o crédito penhorado e que a recorrente não depositou à ordem do PEF, embora vise o pagamento de crédito tributário não tem natureza tributária e, como tal, são-lhe aplicáveis as regras do PER (artigos 17.º-A a 17.º-I do CIRE, nomeadamente as normas do artigo 17.º-E/1 e 17.º-F/6 (acórdão do STA, de 15/03/20l7-P.0135/17, acessível em www.dgsi.pt).

E assim, sendo não se vê como não censurar a sentença

recorrida quando sustenta que a suspensão (e instauração) das ações apenas ocorre durante todo o tempo em que perdurarem as negociações, nos termos do disposto no artigo 17.°-E/1 do CIRE.

(5)

De facto, como sustenta o já citado acórdão do STA, de que foi relator o Exmo. Conselheiro Francisco Rothes, cujo discurso fundamentador se subscreve e cujo sumário nos permitimos transcrever:

“I - Com o despacho judicial de nomeação do administrador provisório [cfr. art. 17.º-C, n.º 3, alínea a) do CIRE] determina- se o prosseguimento do PER e, simultaneamente, «durante todo o tempo em que perdurarem as negociações», obsta-se à instauração de quaisquer ações para cobrança de dívidas contra o devedor e suspendem-se, quanto ao devedor, as ações em curso com idêntica finalidade, ações que se extinguem, logo que seja provado e homologado plano de recuperação, salvo quando este preveja a sua continuação (cfr.

art. 17.º-E, n.º1, do CIRE).

II - No caso de ter sido aprovado plano de recuperação, os referidos efeitos suspensivos só cessam com o trânsito em julgado da decisão judicial que homologar, ou não, esse plano.

III - Esta conclusão não só se harmoniza com a letra da lei - que não restringe aqueles efeitos suspensivos apenas ao período em que decorre ou podem decorrer as negociação entre o devedor e os credores -, como é a única que respeita a ratio legis que preside à concessão desses efeitos e que não a frustra”.

Ora, quando em 07/08/2017, foi requerida a suspensão dos processos executivos pendentes contra a recorrente o PER já havia sido aprovado em 16/01/2016, aguarda sentença

homologatória que, segundo aquela informa nas suas

alegações de recurso, já teria sido proferida e transitado em julgado em 28/11/2017.

Portanto, é certo que se verificavam os pressupostos de suspensão das ações executivas pendentes contra a

recorrente, nos termos do estatuído no artigo 17.º-E/ 1 do CIRE e 17.º-F/6, do CIRE, pelo que o ato sindicado do OEF está eivado de vício de violação de lei, por erro sobre os

pressupostos de direito.

A sentença recorrida fez um errado julgamento de direito, pelo que merece censura.

Termos em que deve dar-se provimento ao presente recurso jurisdicional e revogar-se a sentença recorrida, anulando-se o ato de indeferimento do pedido de suspensão das execuções pendentes contra a recorrente e nessa medida.».

*

1.7. Não foram apresentadas alegações pela recorrida FP.

*

1.8. Sem vistos, atenta a natureza urgente do processo, cabe decidir.

*

2. A decisão recorrida deu como provada a seguinte matéria de

(6)

facto:

«A) Em 03.03.2010 foi instaurado contra a sociedade

B………., LDA., o processo de execução fiscal (PEF) n.º 3166- 2010/01017616, a que foram apensados outros PEF’s, sendo este identificado como processo principal – cfr.

informação de fls. 6/7 e fls. 1 e seguintes do PEF apenso.

B) Em 12.10.2012 foi instaurado também contra a sociedade B………….., LDA., o PEF n.º 3166-2012/011982896 – cfr.

informação de fls. 6/7 e fls. 112 e seguintes do PEF apenso.

C) Em 08.11.2010 a ora Reclamante, em resposta de “Penhora de Crédito” reconheceu, via internet, um crédito da sociedade B…………., LDA., no valor de € 33.676,14, conforme extrato de conta de fornecedores – cfr. fls. 7/8, 36, 73 e 76 do PEF apenso e por acordo.

D) Em 12.11.2010 no âmbito do PEF n.º 3166-2010/01104527, apenso do PEF identificado em A), foi efetuada a penhora do crédito que antecede – cfr. fls. 9, 73 e 76 do PEF apenso.

E) Em 25.05.2012, por via do ofício n.º 7159 de 23.05.2012, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido, a ora Reclamante foi citada no processo de execução fiscal n.º 3166-2010/01017616 e apensos, e notificada da penhora que antecede e para proceder ao depósito do valor em causa no prazo de 30 dias, com a advertência de que “caso o depósito não seja efectuado nestas condições será essa Entidade executada pela respectiva importância no processo supra de conformidade com o disposto na alínea a) do artº 233º do CPPT […] – cfr. fls. 10 a 12 do PEF apenso.

F) Em 17.12.2012 a ora Reclamante foi novamente notificada para proceder ao depósito do valor em causa no prazo de 10 dias “sob pena de não o fazendo, ser executado no próprio processo de execução fiscal pelo valor respectivo, sem prejuízo do procedimento criminal, artigo 233º al. a) do CPPT” – cfr. fls.

36 a 38 do PEF apenso.

G) Em 19.12.2012 a sociedade aqui Reclamante comunicou ao órgão de execução fiscal, além do mais, que «apesar da

sociedade “A…………., S.A.” ter reconhecido o crédito na data mencionada, em 2010/11/08, o mesmo não [poderia] ser

objecto de pagamento, por não reclamado no âmbito do PER»

– cfr. fls. 39 a 41 do PEF apenso.

H) No âmbito do PER n.º 5405/16.2T8VNF, que corre termos no tribunal da Comarca de Braga – Vila Nova de Famalicão – J2, foi aprovado em 16.01.2016 o respetivo plano de revitalização, que se encontra a aguardar sentença homologatória, onde se encontra reconhecido o crédito da Executada identificado em C) – cfr. doc. 3 junto com a reclamação.

I) O crédito identificado em C) integra a lista provisória de créditos apresentada no processo que antecede e cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido — cfr. doc. 4 junto

(7)

com a reclamação.

J) Em 02.08.2017 a ora Reclamante, dirigiu ao Serviço de Finanças requerimento, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido, do qual se destaca, com maior relevo para o caso, o seguinte:

“…

- Em 31.07.2017 teve a ACF conhecimento de que penderiam contra si, na qualidade de contribuinte solidário, processos de execução fiscal movidos contra a sociedade B……….

(Documento anexo: “Listagem Processos Contribuinte B Solidários”;

- Consultados os arquivos da ACF, conclui-se que o SF de Sintra 4 notificou, com receção em 23 de Maio de 2013, a ACF para se declarar sobre a Notificação de penhora de créditos […]; tendo a ACF respondido, dentro do prazo, que tais créditos estariam compreendidos nos Créditos comuns reconhecidos à sociedade B……… no âmbito do Processo Especial de Revitalização n.º 3695/l2.9TBRG, [...] desconhecendo-se, assim, e nos termos da lei, a obrigação de pagamento de tais créditos à Autoridade Tributária […];

- Conclui-se, também, que a Autoridade Tributária não efetuou mais diligências sobre a questão, tendo a ACF concluído de forma legítima que a resposta fora compreendida e

internalizada pela AT;

[...]

Neste contexto, vem a A………, S.A. que, nos termos do CIRE, seja cancelada a condição imposta de Contribuinte

B/Solidário com a maior brevidade possível, pois tal constitui grave constrangimento à sua revitalização, potencial causador de irreparáveis danos e sem acolhimento nos termos da lei. – cfr. fls. 115/116 do PEF apenso.

K) Em 07.08.2017 a ora Reclamante, representada pelo

respetivo Administrador Judicial, dirigiu ao Serviço de Finanças requerimento, cujo teor aqui se dá por integralmente

reproduzido, onde termina pedindo que sejam “suspensos todos os processos executivos existentes, nos termos do art.

17º-E do CIRE, até ser homologado o plano de recuperação, após o que serão efetuados os pagamentos” – cfr. fls. 118/119 do PEF apenso.

L) Ato reclamado: Por despacho de 11.08.2017, exarado sobre a informação de serviço da mesma data, e cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido, o Chefe do Serviço de Finanças de Sintra 4 decidiu sobre o requerimento apresentado pelo Administrador Judicial da ora Reclamante, a que faz referência a alínea que antecede, nos seguintes termos:

“[…] indefiro a petição porquanto, “in casu”, o momento determinante na presente execução, ocorre em 29/10/2010, com o despacho do órgão de execução fiscal, com o

(8)

reconhecimento do crédito do crédito em 08/11/2010 e términos da entrega de valores em 08/12/2010, sendo que às datas referidas, não se verificava a existência de qualquer pedido de

“P.E.R.” pela entidade ora executada, sendo de realçar que a dívida em questão não é uma dívida própria mas sim de Terceiros.

- Assim, não se verificando qualquer facto suspensivo legalmente admitido nos autos de execução fiscal e não podendo a A.T. conceder moratórias no pagamento das obrigações tributárias, deverão os autos prosseguir os seus termos, tendo em vista a boa cobrança dos créditos tributários.

[…]” – cfr. doc. 1 junto com a reclamação.

M) A decisão que antecede foi notificada à Reclamante em 22.08.2017 – cfr. doc. 1 junto com a reclamação.

N) A Reclamação deu entrada no órgão de execução fiscal em 01.09.2017 – cfr.

fls. 8 dos autos.».

*

3.1. Do probatório resulta que a reclamante e ora recorrente A………….., SA, reconheceu que era devedora da inicial

executada, …………., LDA, tendo esta sobre aquela um crédito de € 33.676,14.

Que após o reconhecimento de tal crédito o OEF procedeu à penhora deste e, porque a recorrente não procedeu ao

respetivo depósito, o OEF executou a recorrente ACF, no mesmo PEF, nos termos do artigo 233º a) do CPPT, no âmbito da sua responsabilidade como depositário.

*

3.2. A sentença recorrida, fls. 125/136, entendeu que era de indeferir o pedido de anulação do ato do Chefe do SLF de Sintra 4 (Queluz), que não atendeu ao pedido de suspensão de todos os processos de execução em que a recorrente é

responsável solidária.

Que é o fim das negociações relativas ao PER que levanta as restrições relativas à instauração ou prossecução das ações e que elimina a suspensão das mesmas ações, quanto ao

devedor, e não a homologação, nos termos do artigo 17.º-E/1 do CIRE.

Que considerando-se as negociações encerradas, com a aprovação do PER, ocorrida em 16/01/2016, à data em que foi proferido o ato em apreciação, 11/08/2017, a ação já podia prosseguir, sem violação do disposto no artigo 17.º-E 1 do CIRE.

É questão controvertida a de saber até quando se mantém a suspensão da execução fiscal determinada, nos termos do artigo 17.º-E, n.º 1, do CIRE, pelo despacho liminar em sede de PER, se até ao termo da fase das negociações, como sustenta a sentença em apreciação, se até ao trânsito da decisão que

(9)

homologar ou não o plano de revitalização aprovado, como defende a recorrente.

*

3.3. Este STA já teve oportunidade de apreciar a controvertida questão em 15-03-2017, proc. 135/17.

Por merecer a nossa total concordância passaremos a transcrever a parte relevante onde se escreveu o seguinte:

“…

Feito este considerando inicial, vejamos então até quando se mantém a suspensão da acção executiva determinada, nos termos do art. 17.º-E, n.º 1, do CIRE, pelo despacho liminar em sede de PER: se até ao termo da fase das negociações, como sustenta a Recorrente, se até ao trânsito da decisão que

homologar ou não o plano de revitalização aprovado, como decidiu a sentença.

Aparentemente, a letra da lei daria apoio à tese da Recorrente, apoiada pelo Procurador-Geral Adjunto junto deste Supremo Tribunal Administrativo.

Mas, a nosso ver, só prima facie se poderá sustentar essa tese.

Diz o art. 17.º-E, n.º 1, do CIRE: «A decisão a que se refere a alínea a) do n.º 3 do artigo 17.º-C obsta à instauração de

quaisquer acções para cobrança de dívidas contra o devedor e, durante todo o tempo em que perdurarem as negociações, suspende, quanto ao devedor, as acções em curso com idêntica finalidade, extinguindo-se aquelas logo que seja aprovado e homologado plano de recuperação, salvo quando este preveja a sua continuação».

Note-se que a decisão a que se refere o art. 17.º-C, n.º 3,

alínea a), do CIRE, é o despacho liminar proferido no PER, com a nomeação do administrador judicial provisório.

É com base no trecho do citado n.º 1 do art. 17.º-E que refere

«durante todo o tempo em que perdurarem as negociações»

que a Recorrente sustenta que, estando já finda a fase das negociações, nada obsta ao prosseguimento das acções que se suspenderam nos termos daquele preceito legal.

Mas, salvo o devido respeito, contrariamente ao que sustentam a Recorrente e o Procurador-Geral Adjunto neste Supremo Tribunal Administrativo, a suspensão da execução determinada nos termos do n.º 1 do art. 17.º-E do CIRE – o efeito stand still – não se restringe à fase das negociações. Aliás, afastando desde já a argumentação que assenta exclusivamente no elemento literal e na presunção de que o legislador soube exprimir o seu pensamento em termos adequados (cfr. art. 9.º, n.º 3, do Código Civil), diremos que, a ser essa a intenção do legislador (e, como vermos adiante, não é nem faria sentido que fosse), então por certo o texto da lei incluiria, antes da expressão «durante todo o tempo em que perdurarem as negociações» um advérbio (v.g., apenas, só, exclusivamente)

(10)

em ordem a deixar claro, não só que a suspensão se mantinha enquanto durassem as negociações, mas também que cessava necessariamente com o termo das mesmas.

Vejamos:

Nenhuma dúvida existe de que o efeito suspensivo das acções executivas se manterá enquanto durarem as negociações. É o que resulta da letra da lei e da ratio legis, que é a de obviar a que durante essa fase de negociações entre o devedor e os credores as possibilidades de recuperação da empresa sejam comprometidas pela procedência de uma acção de cobrança de dívida.

Também se nos afigura que não haverá obstáculo à

prossecução da execução contra o devedor quando o PER terminar sem que exista a aprovação do plano de recuperação.

Tal acontece quer quando o devedor ou a maioria dos credores prevista no n.º 3 do art. 17.º-F concluírem antecipadamente não ser possível alcançar o acordo, quer quando seja ultrapassado o prazo para as negociações, previsto no art. 17.º-D, n.º 5 (Esse prazo é de dois meses, após o termo do prazo para as impugnações, prorrogável uma só vez e pelo período de um mês (cfr. art. 17.º-D, n.º 5, do CIRE).). A estas razões, previstas no n.º 1 do art. 17.º-G, acresce, ainda, a hipótese do n.º 5 do mesmo artigo, que prevê que o devedor pode pôr termo às negociações a todo o tempo, independentemente da causa, desde que comunique tal pretensão.

As dúvidas suscitam-se, a nosso ver, nos casos, como o sub judice, em que as negociações tenham concluído com a aprovação de plano de recuperação e quanto ao período que medeia entre o fim das negociações e o trânsito em julgado da decisão judicial de homologação ou não desse plano.

A seguir-se a tese da Recorrente, não haveria impedimento legal ao prosseguimento, durante esse período, das execuções que houvessem sido suspensas ao abrigo do n.º 1 do art. 17.º-F do CIRE. Esse resultado surge como manifestamente

desajustado aos propósitos prosseguidos pelo PER e o

legislador não o pode ter querido. É que, nos termos da mesma norma legal, as execuções extinguem-se «logo que seja

aprovado e homologado plano de recuperação, salvo quando este preveja a sua continuação», motivo por que a prossecução da execução nesse período não só não faria sentido, como poderia comprometer, até decisivamente, a possibilidade da recuperação.

Resulta, pois, evidente que a ratio que preside à suspensão das acções para cobrança de dívida no período correspondente «a todo o tempo em que perdurarem as negociações» impõe que se estenda esse período até ao trânsito em julgado da decisão que homologue ou não o plano de recuperação.

E também a letra da lei dá cobertura a esse entendimento. Não

(11)

só porque, como deixámos já referidos, o art. 17.º-E, n.º 1, não restringe os referidos efeitos suspensivos a esse período – sendo abusiva, salvo o devido respeito, a conclusão constante da 2.ª parte da conclusão IX, de que «resulta expressamente deste normativo, quer o obstáculo à instauração de acções para cobrança de dívidas contra o devedor, quer a suspensão de acções já instauradas com idêntica finalidade, apenas perdura enquanto se mantiverem as negociações entre o devedor e os credores» (sublinhado nosso) –, mas também porque, como bem salientou a Juíza do Tribunal a quo, resulta do art. 17.º-G, n.º 2, que «o encerramento do processo especial de

revitalização acarreta a extinção de todos os seus efeitos».

…”.

Do exposto resulta que, quando em 07/08/2017, foi requerida a suspensão dos processos executivos pendentes contra a

recorrente o PER já havia sido aprovado em 16/01/2016.

Aguardava, como sustenta a recorrente, sentença

homologatória que até, como informa a recorrente, nas suas alegações de recurso, e é observado pelo MP, já teria sido proferida e transitado em julgado em 28/11/2017.

É, por isso, de concluir que se verificavam os pressupostos de suspensão das ações executivas pendentes contra a

recorrente, nos termos dos artigos 17.º-E/ 1 e 17.º-F/6, do CIRE.

Como refere o MP o ato sindicado do OEF está, por isso, eivado de vício de violação de lei, por erro sobre os

pressupostos de direito pelo que a sentença recorrida fez um errado julgamento de direito devendo por isso ser revogada merecendo provimento o presente recurso jurisdicional sendo de anular o ato de indeferimento do pedido de suspensão das execuções pendentes contra a recorrente.

*

I - Com o despacho judicial de nomeação do administrador provisório [cfr. art. 17.º-C, n.º 3, alínea a) do CIRE] determina- se o prosseguimento do PER e, simultaneamente, «durante todo o tempo em que perdurarem as negociações», obsta-se à instauração de quaisquer acções para cobrança de dívidas contra o devedor e suspendem-se, quanto ao devedor, as acções em curso com idêntica finalidade, acções que se extinguem logo que seja aprovado e homologado plano de recuperação, salvo quando este preveja a sua continuação (cfr.

art. 17.º-E, n.º 1, do CIRE).

II - No caso de ter sido aprovado plano de recuperação, os referidos efeitos suspensivos só cessam com o trânsito em julgado da decisão judicial que homologar, ou não, esse plano.

*

4. Termos em que acordam os juízes deste Supremo Tribunal Administrativo, em conferência, em conceder provimento ao

(12)

recurso, revogar a sentença recorrida anular o despacho reclamado.

Custas pela recorrida neste STA, sem taxa de justiça, por não ter alegado, e, ainda, na 1ª instância.

Lisboa, 18 de abril de 2018. – António Pimpão (relator) – Francisco Rothes – Aragão Seia.

Referências

Documentos relacionados

Essa página modelo não será usada no site, entretanto ela serve de modelo para construir as ou- tras páginas do site. O intuito é duplicá-la para não perdermos tempo construindo

As empresas fornecerão refeição aos empregados abrangidos pela presente Norma Coletiva de Trabalho, nos mesmos termos e condições da refeição existente no acordo,

Há autores que acreditam que uma boa democracia deveria promover a participação proporcional de todos os segmentos que pretende representar e cuja natureza social pode

Obs.: os conteúdos e os instrumentos de avaliação poderão sofrer alterações de acordo com a necessidade de cada turma..

Para responderes aos itens de associação/correspondência, escreve, na folha de respostas: • o número do item;.. • o número que identifica cada afirmação e a letra que identifica

No caso português tiveram curso três teorias: a que postulava que o português era uma corrupção do latim; a que defendia a sua porção de divindade, enraizando-o no hebraico

Por fim, foi criada a Coordenação Geral de Educação em Direitos Humanos (CGEDH), que recebeu a missão de implementar ações do PNEDH, que estabeleceu como

De acordo com a morfologia interna visualizada nas radiografias, as sementes foram classificadas em quatro categorias: sementes perfeitas, sementes com pequenos danos (menos