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SUBMISSION OF GRADUATE PROGRAM PROTOCOLS TO THE BRAZILIAN RESEARCH ETHICS NORMS

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UBMISSÃO DE PROTOCOLOS DE UM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ÀS NORMAS BRASILEIRAS DE ÉTICA EM PESQUISA

Fabiano MaluF,1 João Geraldo buGarin Jr,2 JorGe Cordón3e Volnei GarraFa4

1 Cirurgião-dentista, mestre em Ciências da Saúde. Hospital das Forças Armadas, Brasília, DF, Brasil

2 Cirurgião-dentista, doutor em Ciências da Saúde. Professor titular da Universidade Paulista (UNIP), Brasília, DF, Brasil

3 Cirurgião-dentista, doutor em Ciências da Saúde. Professor adjunto da Universidade de Brasília. Pesquisador da Cátedra Unesco e do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil

4 Cirurgião-dentista, pós-doutor em Bioética. Professor titular da Universidade de Brasília. Pesquisador da Cátedra Unesco e do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil

Correspondência: Cátedra Unesco de Bioética. Faculdade de Ciências da Saúde. Universidade de Brasília, caixa postal 04451, CEP 70.904-970, Brasília, DF, Brasil. Internet: maluffabiano@bol.com.br.

Recebido em 15-6-2010. Aceito em 10-12-2010.

Introdução. A avaliação de protocolos por Comitês de Ética em Pesquisa é instrumento de controle social que

previne abusos e estimula o respeito à dignidade dos sujeitos participantes.

Objetivo. Avaliar a submissão de pesquisas de programa de pós-graduação aos comitês de ética.

Método. Avaliaram-se as pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da

Universidade de Brasília a um comitê de ética em pesquisa, no período de agosto 1996 a dezembro 2006. Usou-se como referência teórica a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados. Foi constatado que 73,7% das dissertações e 80% das teses que envolviam seres humanos como

sujeitos de pesquisa foram submetidos ao Comitê no período estudado. Observou-se, ainda, um salto quantitativo ocorrido no ano de 2001 das dissertações e, no ano 2000, das teses, prevalecendo a partir desses anos uma percen-tagem significativamente superior de trabalhos encaminhados.

Conclusão. No processo de desenvolvimento do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, houve

crescente conscientização dos mestrandos, doutorandos e orientadores quanto à importância da avaliação ética, mos-trando-se a relevância da construção de postura bioética necessária para a formação acadêmica e profissional dos egressos.

Palavras-chave. Ética em pesquisas com seres humanos; comitês de ética em pesquisa; programa de

pós-graduação; dissertações; teses; bioética. RESUMO

SUBMISSION OF GRADUATE PROGRAM PROTOCOLS TO THE BRAZILIAN RESEARCH ETHICS NORMS

Introduction. The evaluation of protocols by Research Ethics Committees is an instrument of social control that

prevents abuse and encourages respect for the dignity of participants as subjects.

Objective. The study aimed to evaluate the submission of graduate program researches to the ethics committees. Method. Researches developed in the Graduate Program in Health Sciences of the University of Brasilia were

evaluated, in the period from August 1996 to December 2006, using as a theoretical reference the Resolution 196/96 of the National Health Council.

Results. It was found that 73.7% of dissertations and 80% of the thesis involving human beings as research

subjects were submitted to the Research Ethics Committees within the studied period. It was also noticed a quantita-tive jump occurred in 2001 for dissertations and in 2000 for thesis, prevailing from these years a significantly higher percentage of papers submitted.

Conclusion. In the process of Graduate Program in Health Sciences development, there was a growing

aware-ness by the master degree’s students, doctor degree’s students and advisors on the importance of ethical evaluation, demonstrating the relevance of building a bioethics posture required for the academic and professional formation of egresses.

Key words. Research ethics with human beings; research ethics committees; graduate program; dissertations;

thesis; bioethics.

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INTRODUÇÃO

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unca se pesquisou tanto como nos últimos 35 anos. A quantidade de pesquisadores cresce ver-tiginosamente cada ano1,2 com implicações práticas e

morais refletidas no cotidiano de homens e mulheres em todo o mundo. Nessa perspectiva, a proteção ao ser humano se tornou obrigatória na pauta científica da atualidade. A cobrança por soluções e respostas equilibradas e justas é grande e nem sempre há tempo suficiente para a formação de um juízo de valor capaz de esclarecer os dilemas oriundos da rapidez com que tantos avanços ocorrem, sem a garantia de que os benefícios obtidos alcancem o maior número de pessoas possível, sem iatrogenias e sem ameaças à qualidade de vida das pessoas e das comunidades.3

É imperativo, portanto, o controle ético sobre as pes-quisas desenvolvidas em seres humanos.4

No Brasil, o primeiro documento que trata do controle ético para as pesquisas em sujeitos huma-nos surgiu em 1988. O Ministério da Saúde publi-cou, por meio do Conselho Nacional de Saúde, a Resolução 01/88. No entanto, sua pouca aceitação e operacionalidade deram lugar à Resolução 196/96, atualmente em vigor, que estipula as diretrizes e nor-mas regulamentadoras para as pesquisas em seres humanos no País.5 Essa Resolução, bastante ampla e

abrangente, passa a ser gradativamente aceita, então, como o documento de referência a ser observado em todo tipo de investigação em seres humanos e não somente naquelas do campo da saúde.

A Resolução 196/96 traz as diretrizes para aná-lise ética e estabelece que toda pesquisa que envolva o ser humano como sujeito deve ser aprovada, antes de ser iniciada, por um comitê independente do pes-quisador, exigindo, assim, uma reflexão quanto a riscos e benefícios.6 Determina, também, a criação

de Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) nas insti-tuições que realizam pesquisas, define como devem ser constituídos e cria a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), para acompanhar e coordenar todo o processo.

Desse modo, o Brasil, por meio dos CEPs e da Conep, aperfeiçoou o controle social sobre as práti-cas científipráti-cas, qualificando-as do ponto de vista da ética. Isso previne indução, imposição, exploração dos mais vulneráveis, abusos, exposição a riscos inú-teis e, acima de tudo, danos previsíveis.7 Além disso,

todo esse processo reforçou a missão de garantir e resguardar a integridade, os direitos e liberdades fundamentais dos voluntários participantes da pes-quisa, assegurando à sociedade que a pesquisa estará

sendo feita de forma eticamente correta e que o inte-resse e o bem-estar do ser humano prevalecerá sobre o interesse da sociedade e da ciência.8

Em 2009, passou a ser elaborada a proposta de substituição do Sistema Nacional de Ética em Pesquisa – Sisnep, que estava sendo usado como base de dados desde o início dos anos 2000 – por um novo modelo, ainda em fase de implantação, cha-mado Plataforma Brasil, criado pela Conep em par-ceria com o Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, a base de dados do Sistema Único de Saúde (Datasus) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O novo sistema é formado por uma base de dados com quatro fontes primárias: pesquisadores, CEP, Conep e o público em geral, com mecanismos de busca que objetivam permitir a análise retrospectiva das pesquisas em andamento no País. Em seguida, foram adicionadas outras fontes, visando a criar futura interação com agências regulatórias e de fomento às pesquisa, às instituições internacionais e aos editores científicos.9

A preocupação com a ética nas pesquisas em seres humanos no âmbito da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB) remonta ao período final da década de 1980. Em 1987, foi constituída a primeira Comissão Institucional Permanente de Orientação Ético-Científica na ins-tituição, formada predominantemente por médicos. Após a divulgação da Resolução 01/88, com regula-mentação das pesquisas em seres humanos no País, a referida comissão passou a seguir essas normas.10

Em 1995, foi constituído o primeiro Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília e, em março de 1997, já tendo sido aprovada a Resolução 196/96, foi constituída a primeira comis-são com a denominação e atribuição específica de Comissão de Ética em Pesquisa, que passou a ser multidisciplinar e englobou membros de diversas áreas e profissões.10 A partir dessa data, o Comitê

da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB se man-teve em funcionamento contínuo, sofrendo apenas mudanças naturais de coordenador e substituição de membros por término de mandato. Nos anos 2001 a 2002, por seu funcionamento regular e pela ava-liação positiva que tinha da Conep, serviu como primeiro modelo de teste para o Sisnep, que então estava sendo implantado no País.

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da Saúde (PPGCS) da Universidade de Brasília – no período de agosto de 1996 a dezembro de 2006 – e que, especificamente, envolviam sujeitos humanos no procedimento metodológico, utilizando-se como referência teórica as diretrizes da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), já mencio-nada, e seu embasamento (bio)ético.

MÉTODO

O método de investigação utilizado, de caráter quantitativo, partiu de um estudo de caso explora-tório. De acordo com Pereira,11 este tipo de estudo

é empregado para avaliação inicial de um pro-blema ainda mal conhecido cujas características ou variações naturais não foram convenientemente detalhadas.

Na lista da produção do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, foram encon-tradas 373 dissertações de mestrado e 112 teses de doutorado no período estudado. Cinco dissertações foram excluídas por terem passado pelo processo de validação, ou seja, tratava-se de projetos realizados em outras universidades e, portanto, não desenvolvi-dos pelo próprio Programa.

Em seguida, foi realizada uma busca, na secre-taria do Programa, para identificar a participação ou não de sujeitos humanos nas pesquisas, aqui incluí-dos o manejo de material biológico (biópsias), partes ou órgãos do corpo (dentes, ossos), fluidos corporais (sangue, saliva, fezes, urina, leite) e de exames de diagnósticos por imagem, bem como o uso de ques-tionários e ou entrevistas. Para a concretização dessa etapa, buscou-se a leitura do resumo e do procedi-mento metodológico – de dissertações e teses – com o intuito de comprovar as informações.

Posteriormente, foram levantados os trabalhos que tinham sido submetidos ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (CEP-FS-UnB) ou a outros comitês. Esse levantamento consistiu na verifica-ção do parecer do CEP anexado – ou não – junto às dissertações e teses. Nos casos em que o parecer não estivesse anexado, foi verificado se os trabalhos mencionaram, no procedimento metodológico, a submissão do projeto a um comitê.

Como não estivesse anexado, nem mencionada a preocupação com o parecer, foi realizada uma busca para verificar se havia algum registro de envio do projeto nos arquivos do CEP-FS-UnB, do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (CEP-FM-UnB) e do

Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (CEP-SES-DF). A escolha desses três comitês ocorreu, por serem estes os que têm relação mais direta com o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UnB.

Para identificar os trabalhos – dissertações e teses – que tiveram o título modificado quanto ao protocolo de pesquisa apresentado ao Comitê, foi feita a identificação entre o projeto e o trabalho final por meio da verificação dos autores, orientando ou orientador, no período estudado. Todos os resulta-dos foram descritos em daresulta-dos numéricos por meio de frequência absoluta e frequência relativa, dispos-tos em tabelas separadas de acordo com o nível do trabalho analisado.

RESULTADOS

O levantamento dos dados constatou que 274 dissertações (74,4%) e 90 teses (80,3%) tinham, durante a realização do trabalho, o envolvimento direto e ou indireto de seres humanos como sujeitos de pesquisa.

As tabelas 1 e 2 mostram as dissertações e as teses sobre pesquisas em seres humanos, respecti-vamente, que foram submetidas, como protocolos de pesquisa, na amostra do presente estudo, à apre-ciação de um Comitê de Ética em Pesquisa. Nestas, se pode verificar que 202 dissertações foram sub-metidas a parecer do Comitê no período estudado (73,7%) e 72 não foram (26,3%). Com relação às teses, 72 foram apresentadas ao Comitê (80%) e 18 não foram (20%).

Tabela 1. Distribuição de dissertações sobre pesquisas em seres humanos defendidas no Programa de Pós-Graduação em Ciên-cias da Saúde da Universidade de Brasília, com parecer de Comitê de Ética em Pesquisa ou não, no período de agosto de 1996 a dezembro de 2006

Variáveis Número %

Com parecer do CEP 202 73,7

Sem parecer do CEP 72 26,3

Total 274 100

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Tabela 2. Distribuição de teses envolvendo pesquisas em seres humanos defendidas no Programa de Pós-Graduação em Ciên-cias da Saúde da Universidade de Brasília com parecer de Comitê de Ética em Pesquisa ou não, no período de agosto de 1996 a dezembro de 2006

Variáveis Número %

Com parecer do CEP 72 80

Sem parecer do CEP 18 20

Total 90 100

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

As figuras 1 e 2 expõem a evolução anual das dissertações e das teses investigadas, respectiva-mente, com o parecer do Comitê ou não, durante o período estudado. Tomando-se os anos 2000 e 2006 como referências, por exemplo, pode-se verificar na figura 1 que, em 2000, apenas nove dissertações foram encaminhadas ao Comitê, em confronto com dezessete não encaminhadas, enquanto em 2006 nada menos que 29 foram submetidas, e somente duas não foram submetidas. Com relação às teses, em consulta aos mesmos anos na figura 2, em 2000 foram apresentadas sete teses ao Comitê em con-fronto com três não apresentadas e, em 2006, foram apresentadas vinte teses em comparação com apenas uma não apresentada.

Figura 1. Comparação entre a quantidade de dissertações envol-vendo pesquisas em seres humanos, defendidas no programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade de Brasí-lia com parecer de Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) ou não, no período de agosto de 1996 a dezembro de 2006

Figura 2. Comparação entre a quantidade de teses envolvendo sujeitos humanos defendidas no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade de Brasília com parecer de Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) ou não, no período de agosto 1996 a dezembro de 2006

DISCUSSÃO

Os resultados apresentados mostram o grande envolvimento de sujeitos humanos nos trabalhos desenvolvidos, o que perfaz aproximadamente três quartos da produção total do Programa. Tal fato enseja, pois, um olhar ampliado acerca dos cuidados éticos e da proteção dispensada aos participantes da pesquisa pelos pesquisadores, orientandos e orienta-dores, da instituição.

A experimentação em seres humanos, realizada ao longo dos séculos, contribuiu para o progresso da ciência e, sobretudo, para a melhora da qualidade de vida das pessoas. Contudo, é necessário corrigir um erro ao se falar sobre pesquisas em seres humanos. O equívoco está na tendência em achar que elas ocor-rem quase exclusivamente na área biomédica, em especial naqueles setores voltados para a terapêutica medicamentosa, que incluem o modo de administra-ção, as doses e os efeitos, inclusive aqueles indese-jáveis ou colaterais.

A Resolução 196/96 deixa claro a amplitude da dimensão humana, no item II.2, ao definir pesquisa como aquela que “individual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações ou materiais”. Assim, a experimenta-ção em seres humanos se dá não apenas na área bio-médica e nas demais profissões da área da saúde,12

mas também em outras áreas como a educação, a sociologia, a antropologia, a psicologia.

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biomédica como aquelas do campo das ciências sociais devem estar sujeitas ao mesmo tipo de exi-gências éticas recomendadas pelas Resoluções que regulam as pesquisas em seres humanos, mesmo que elas sejam diferentes em seus materiais e méto-dos.13 No Programa de Pós-Graduação em Ciências

da Saúde da UnB foram encontradas dissertações e teses que utilizaram questionários e ou entrevistas no procedimento metodológico para a confirmação de suas hipóteses. O uso desses instrumentos meto-dológicos é frequente quando se deseja estudar o comportamento e as impressões das pessoas acerca da realidade dos fatos.

As diretrizes estabelecem as exigências éticas e científicas fundamentais para a garantia dos direitos dos sujeitos de pesquisa e considera que toda pes-quisa envolve riscos, quer físicos ou psicológicos, individuais ou coletivos, e que deve haver controle para a preservação da saúde física, mental ou social dos envolvidos.12

O dano físico pode ser mensurado por meio de procedimentos invasivos, quer sejam cirúrgicos quer não. Já o dano psicoemocional pode ser aferido por meio da aplicação de questionários e entrevis-tas, nos quais se tem a possibilidade de trabalhar as opiniões dos participantes.14 O perigo reside no fato

de que essas técnicas, muitas vezes, acabam mere-cendo pouca atenção ética do pesquisador e prescin-dindo do mesmo rigor científico adotado em outros trabalhos teoricamente mais invasivos.

A adoção desses métodos merece atenção, pois não é possível fazer uso aleatório deles. Há uma jus-tificativa lógica para optar sobre os vários tipos de questionários e modelos de entrevista.15 Este aspecto

é relevante, pois o fato de aplicar questionários e ou entrevistas não exime o pesquisador do compro-misso e da responsabilidade do envio do projeto para apreciação por um Comitê de Ética em Pesquisa.

A Resolução 196/96, no item VII, afirma: “Toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa”, antes de ser iniciada, por meio dos pro-tocolos elaborados pelo pesquisador, independente-mente da área do conhecimento a que pertençam. Ao exigir o protocolo de pesquisa, garante-se uma ação que reforça tanto a cientificidade do projeto como sua eticidade.

Embora a metodologia usada na presente pes-quisa tenha proporcionado resultados considerados apenas exploratórios, o estudo apontou uma tendên-cia de crescimento no número proporcional de casos

de dissertações e teses encaminhados para aprecia-ção de um Comitê no período analisado.

Os resultados da pesquisa evidenciaram que 73,7% das dissertações e 80% das teses defendi-das no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – UnB no período de agosto de 1996 a dezem-bro de 2006 tiveram parecer de aprovação por um Comitê de Ética em Pesquisa. Por outro lado, os resultados refletem, também, a percentagem de dis-sertações (26,3%) e teses (20%) sem o parecer ou mesmo sem a menção de envio e avaliação do projeto por um Comitê. É considerável o resultado obtido, principalmente por se tratar de futuros pretendentes ao título de mestre ou doutor que se tornarão forma-dores de opinião, multiplicaforma-dores de conhecimento e muito provavelmente docentes e orientadores de pesquisas em universidades. Some-se a isso a possi-bilidade de ocupar cargos com inserção em organis-mos governamentais, bem como os de gestão, públi-cos ou privados, com poder controlador e decisório sobre pesquisas em seres humanos, podendo origi-nar, como se pode depreender, sérios problemas. O crescimento gradativo do número de dissertações e teses submetidas a um Comitê, no período estudado, podem ser claramente percebidas nas figuras 1 e 2.

Além do reconhecimento público crescente na época acerca do Sistema CEP-Conep, um dos moti-vos de ser encontrada uma resposta significativa-mente crescente se deve à ampliação do debate ético acerca das pesquisas em seres humanos nos mais diversos espaços, graças, entre outros aspectos, à consolidação da Bioética como disciplina, capaz de ser o elo moral entre a ciência e a ética.

De acordo com Caponi,16 a Bioética se estrutura

como um espaço de saber autônomo e independente a partir do momento em que a sociedade se defronta com a existência de experimentações abusivas com seres humanos e com a necessidade de estabelecer limites claros entre o que pode e o que não pode ser admitido.

É oportuno destacar o salto quantitativo das dis-sertações ocorrido no ano de 2001 e das teses no ano 2000. Prevaleceu, a partir dessas datas, número muito superior de trabalhos com parecer de Comitê. Muitos são os motivos que justificam esse aspecto.

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de acordo com as diretrizes da referida resolução. O mesmo aconteceu com o CEP-SES-DF. Desse modo, o processo de conscientização dos pesquisadores começou de forma tímida e lenta, porém gradativa.

À medida que o assunto passou a fazer parte da pauta acadêmica e as resistências iniciais de pes-quisadores mais antigos começaram a ser vencidas, constatou-se a procura acentuada por pareceres de Comitê de Ética em Pesquisa.

Associado a esses fatores, um segundo aspecto que merece ser considerado está na exigência para a liberação dos recursos financeiros pelos órgãos de fomento à pesquisa (especialmente CNPq e Capes), à apreciação prévia por um Comitê, dos projetos que envolvam experimentos em seres humanos. Além disso, a necessidade de inclusão do parecer de um Comitê dentre as normas estipuladas de submissão de artigos à publicação passa a ser obrigatória nos principais periódicos científicos nacionais.

Um fato marcante ocorrido no PPGCS-FS-UnB contribuiu de forma decisiva para a crescente sub-missão de protocolos de pesquisa e demanda por pareceres de um Comitê. A existência de seminários com frequência obrigatória programados aos alunos, no período de 1999 a 2001, colaborou para a cons-cientização da comunidade acadêmica da FS-UnB. Em dois anos consecutivos, esses seminários – que tinham a frequência obrigatória dos alunos – foram abertos com conferências específicas sobre o tema da ética na pesquisa em seres humanos e a necessi-dade de submissão dos protocolos a comitês inde-pendentes. Além disso, desde seu início – em 1996 – o Programa conta com a disciplina Bioética no seu currículo, como uma das mais procuradas, referen-ciadas e bem avaliadas do Programa por alunos e orientadores.

É oportuno ressaltar o esforço não somente do CEP-FS-UnB como especialmente do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Bioética da UnB (a partir de 2004, denominado Cátedra Unesco de Bioética) – sediado na própria FS – no sentido de alertar ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, por meio da oferta de outras disciplinas, cursos, conferências, seminários e mesmo diálogos manti-dos com as diferentes Coordenações do Programa, desempenhando o papel educativo que a Resolução atribui a esses atores.

É necessário deixar registrado que o regula-mento da Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UnB, quando regido pela Resolução 059/1993 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da

Universidade, não determinou que as dissertações e teses que envolviam experimentos em seres humanos deviam conter a apreciação do projeto por um CEP; apenas recomendavam. Esse regulamento vigorou até o fim de 2006. Para os estudantes que ingres-saram no Programa a partir do primeiro semestre de 2007, contudo, um novo regulamento entrou em vigor, agora regido pela Resolução 091/2004, publi-cada pelo mesmo Conselho, que passou a determi-nar a obrigatoriedade da submissão e do parecer de apreciação do projeto por um Comitê de Ética em Pesquisa.

Entretanto, os dados encontrados na pesquisa revelam que, entre os pesquisadores, orientandos ou orientadores, a não obrigatoriedade de submissão do protocolo da pesquisa ao Comitê teve pouca rele-vância quanto aos aspectos éticos, durante o perí-odo estudado (1996–2006). Em 73,7% e 80% dos trabalhos respectivamente analisados, prevaleceu a disseminação consciente e a incorporação crítica da importância do respeito à integridade e dignidade do sujeito de pesquisa e da necessidade de legitimidade ética do trabalho ao ser submetido a um Comitê.

Fica claro, no entanto, que até o ano 2000, quando o processo de conscientização e obrigato-riedade ainda era incipiente dentro da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB, o número de projetos envolvendo pesquisas em seres humanos que não foram submetidos ao Comitê foi bem mais elevado do que nos anos seguintes, demonstrando, portanto, a necessidade de um período educativo inicial para consolidação definitiva do processo CEP-Conep aqui discutido.

A exigência do cumprimento de normas emana-das de códigos, declarações, resoluções e diretrizes não deve ser encarada como o melhor instrumento de divulgação e cobrança dos preceitos éticos a serem seguidos na condução de pesquisas em seres humanos. Prova disso foram os abusos cometidos em diferentes partes do mundo mesmo após a divul-gação do Código de Nüremberg e da Declaração de Helsinque.

A existência de diretrizes e normas para delimi-tar critérios éticos na prática de pesquisa nem sem-pre fornece a garantia requerida de que estes serão adotados e cumpridos na íntegra. Infelizmente, regras e normas por elas mesmas não são capazes, e, provavelmente, nunca serão suficientes e nem o melhor meio de tornar uma pesquisa justa, equânime e relevante.17

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a sua publicação, o conteúdo e as recomendações contidas na Resolução 196/96 não podem mais ser entendidas como processo burocrático a ser cum-prido e vencido dentre tantos outros. É necessária sua incorporação consciente como parte impres-cindível do processo de formação profissional e do reconhecimento do sujeito de pesquisa como seme-lhante e, portanto, digno de respeito.

É oportuno destacar que os resultados do pre-sente estudo permitem inferir sobre o papel de res-ponsabilidade que cabe aos orientadores e à própria coordenação dos Programas de Pós-Graduação, como co-responsáveis pela formação dos alunos. A ética nas pesquisas em seres humanos, em diferentes setores, é um processo que requer especial preocu-pação e vigilância constante, tornando imperativo o envolvimento de distintos atores dispostos a colabo-rar com o processo.

Dos orientadores, espera-se uma atualização contínua e dinâmica capaz de acompanhar a evolu-ção que a ciência impõe, muito além dos aspectos técnicos. O orientador tem sua parcela de responsa-bilidade ao deixar de compartilhar com o orientando o compromisso necessário para a condução de uma pesquisa que envolva experimentos em seres huma-nos dentro dos princípios éticos.

As universidades, por meio de seus Programas de Pós-Graduação, necessitam enfatizar que, con-comitantemente aos aspectos técnicos, se valorizem também os aspectos atitudinais e éticos, essenciais à formação acadêmica e profissional.

Como considerações finais, os resultados encon-trados neste estudo permitem inferir o cumprimento temporalmente crescente da submissão dos proto-colos de pesquisa envolvendo sujeitos humanos do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UnB a algum Comitê de Ética em Pesquisa, cumprindo-se as recomendações normativas da Resolução 196/96.

Os dados revelam que a utilização de sujeitos humanos em pesquisas, na área da saúde, é alta diante da necessidade de comprovação científica e devido à impossibilidade de substituição do modelo, refletindo esses aspectos no meio acadêmico. Vale destacar o predomínio de quantidade superior de dissertações com parecer de Comitê a partir do ano 2001 e de teses desde o ano 2000. Os resultados – 73,7% das dissertações e 80% das teses – com parecer de Comitê no período histórico estudado, permitem inferir que houve crescente assimilação e incorporação crítica das recomendações existentes na Resolução 196/96.

O cumprimento de preceitos éticos, aqui eviden-ciado e de acordo com os dados expostos, mostra o crescente nível de maturidade atitudinal alcançado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Tal resultado possibilita vislumbrar, num futuro próximo, que a totalidade de trabalhos envolvendo sujeitos humanos passará a ser submetida a parecer de Comitê. Desse modo, a universidade alcançará o tripé indispensável à boa formação dos futuros profissionais a ela con-fiados, ou seja, além de propiciar aos seus estudantes os conhecimentos e as habilidades indispensáveis, estará incorporando atitudes éticas cidadãs à forma-ção de seus egressos.

CONFLITOS DE INTERESSES Nenhum declarado.

REFERÊNCIAS

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RESUMO DE ARTIGO

Dilemas sobre o fim-da-vida: informações sobre a prática médica nas UTIs

O objetivo desta pesquisa foi coletar informações acerca do conhecimento, da opinião e da conduta dos médicos intensivistas sobre questões a respeito das decisões em pacientes com doenças em fase terminal. Neste estudo descritivo, de corte transversal, foi aplicado um questionário aos médicos que trabalham em UTIs e semi-UTIs de cinco hospitais em Salvador, BA. Pode-se perceber que existe tendência de os médicos que lidam com pacientes terminais assumir condutas para fornecer conforto, deixando inclusive de introduzir um mecanismo de suporte de vida. Entretanto, a maioria dos médicos participantes admitiu que omite informações no prontuário por receio de punições pelo código de ética e ou pelo código penal. Essa insegurança pode estar relacionada com a falta de informações por parte dos profissionais, bem como a ausência de legislação clara e objetiva sobre o assunto. Portanto, amplas discussões multidisciplinares acerca dessas questões são necessárias no ambiente hospitalar.

Referências

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