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COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA

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PROJETO DE LEI N

o

78, DE 2015

Institui a reabilitação criminal de

ofício e dá outras providências.

Autor: Deputado POMPEO DE MATTOS

Relator: Deputado SERGIO SOUZA

I - RELATÓRIO

O projeto de lei nº 78, de 2015, de autoria do Deputado

Pompeo de Mattos, cuida de alterar o instituto da reabilitação criminal,

modificando os seus requisitos e determinando a atuação de ofício do

Judiciário para a sua declaração.

Ao presente projeto não se encontram apensadas outras

propostas.

Por despacho proferido pelo Presidente desta Câmara

dos Deputados, esta proposição, que está tramitando sob o regime ordinário,

foi distribuída para análise e parecer a esta Comissão de Constituição e Justiça

e de Cidadania (mérito e art. 54, RICD), sujeitando-se à apreciação conclusiva

pelas comissões.

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II - VOTO DO RELATOR

O projeto de lei nº 78, de 2015, encontra-se

compreendido na competência da União para legislar sobre direito penal,

sendo legítima a iniciativa e adequada a elaboração de lei ordinária para tratar

da matéria nele versada (Constituição da República: Art. 22, caput e inciso I;

Art. 24, caput e inciso I; Art. 48, caput; e Art. 61, caput). Vê-se, pois, que a

proposição obedece aos requisitos constitucionais formais exigidos para a

espécie normativa. Além disso, não se vislumbram, no texto do projeto de lei,

vícios pertinentes aos aspectos de constitucionalidade material e juridicidade.

A técnica legislativa, todavia, não foi devidamente

observada na elaboração da proposição, tendo em vista que, nos termos do

art. 7º da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, o primeiro artigo

do projeto deveria indicar o objeto e o âmbito de aplicação da lei, o que não foi

feito.

No mérito, entendemos que o projeto não merece

prosperar, por não se mostrar conveniente e oportuno.

Com efeito, o Projeto de Lei em análise pretende, em um

primeiro momento, que a reabilitação criminal seja determinada de ofício pelo

juízo criminal, com a consequente declaração padronizada de que “O

REQUERENTE SE REGENEROU E NADA DEVE À JUSTIÇA

”. Propõe, ainda,

que os juízes determinem anualmente a revisão dos arquivos, para a

consequente emissão das declarações de reabilitação.

Ocorre, porém, que tal alteração geraria uma obrigação a

mais para o Poder Judiciário, já abarrotado de processos aguardando

julgamento. É dizer: um enorme esforço, que poderia ser canalizado para a

resolução de processos criminais em andamento, seria utilizado para a revisão

dos numerosos arquivos e para a emissão de declarações de reabilitação.

E mais: seria um esforço que não acarretaria

consequências relevantes, já que

essas “declarações de reabilitação” não

possuem utilidade prática de grande relevância.

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contexto social, apagando os registros de sua falta

1

. Ou seja, o principal

efeito da reabilitação é assegurar “ao condenado o sigilo dos registros sobre o

seu processo e condenação

” (art. 93, caput, do Código Penal).

Ocorre, todavia, que, nos termos do art. 202 da Lei de

Execução Penal, “cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida,

atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da

Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir

processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em

lei

”. Percebe-se, portanto, que o sigilo da condenação, nos termos da LEP,

já é garantido logo após o cumprimento ou extinção da pena, não sendo

sequer necessário aguardar os dois anos exigidos para a reabilitação.

Não se desconhece, é verdade, que a reabilitação

também consiste em uma declaração de que a pena foi cumprida ou extinta, e

de que o bom comportamento posterior daquele que fora condenado o habilita

para a reintegração social. Todavia, é evidente que a obtenção dessa

declaração não é o que move os interessados a requererem a reabilitação, mas

sim o interesse de que os registros de seu passado desonroso sejam

apagados.

Nesse sentido é a lição de Fernando Galvão

2

:

“É possível perceber que a concepção da reabilitação pecou pela excessiva ingenuidade. Ao condenado não interessa uma

declaração judicial de que já cumpriu sua pena. Interessa-lhe apenas assegurar a total ausência de referências ao seu passado

desonroso, sem formalidades ou burocracia”.

Por esse motivo, inclusive, a reabilitação tem sido muito

pouco utilizada, conforme bem ensina Jair Leonardo Lopes

3

:

“Segundo a Exposição de Motivos, que acompanhou o Projeto de Reforma da Parte Geral do Código, ‘a reabilitação não tem,

apenas, o efeito de assegurar o sigilo dos registros sobre o processo e a condenação do reabilitado, mas consiste, também, em declaração judicial de que o condenado cumpriu a pena imposta ou esta foi extinta, e de que, durante dois anos após o cumprimento ou extinção da pena, teve bom comportamento e ressarciu o dano causado, ou não o fez porque não podia fazê-lo. Tal declaração judicial reabilita o condenado, significando que ele está em plenas condições de voltar ao convívio da sociedade, sem nenhuma restrição ao exercício de seus direitos’ (item 83, da Exposição de Motivos).

Há de convir-se em que nenhum condenado quererá sujeitar-se a chamar a atenção sobre a própria condenação, depois de dois

1 GALVÃO, Fernando. Direito Penal: parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 885. 2 GALVÃO, Fernando. Direito Penal: parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 885. 3

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anos do seu cumprimento ou depois de extinta a punibilidade, quando já vencidos os momentos mais críticos da vida do egresso da prisão, que são, exatamente, aqueles dois primeiros anos de retorno à sociedade, durante os quais teria enfrentado as maiores dificuldades e talvez a própria rejeição social, se dependesse da reabilitação, e não lhe tivesse sido assegurado o sigilo da condenação por força do art. 202 da LEP.

É ilusório supor que haja alguém interessado em ser declarado, com toda pompa e circunstância, judicialmente reabilitado, como se isso lhe fosse acrescentar, moralmente, qualquer valor, quando, apenas, revelaria que já cumpriu uma pena, o que não dignifica ninguém.

Do ponto de vista íntimo, o que pode ser gratificante é a exibição de uma folha corrida, atestado ou certidão limpos, sem referencia à condenação cumprida, da qual o que se quer mesmo é o esquecimento. Daí, não existir qualquer interesse na reabilitação, para os fins que lhe foram atribuídos na Exposição de Motivos. Se alguém se der ao luxo de pesquisar em qualquer Comarca, Tribunal, ou mesmo nos repertórios de jurisprudência, qual o número de pedidos de reabilitação julgados, terá confirmação da total indiferença pela declaração judicial

preconizada

Também compartilha desse entendimento o penalista

Guilherme de Souza Nucci

4

:

“[O instituto da reabilitação], tal como foi idealizado e de acordo com o seu alcance prático, trata-se, em verdade, de instituto de pouquíssima utilidade. Suas metas principais são garantir o sigilo dos registros sobre o processo e a condenação do sentenciado, bem como proporcionar a recuperação de direitos perdidos por conta dos efeitos da condenação. Ocorre que, no art. 202 da Lei de Execução Penal, consta que, ‘cumprida ou extinta a pena, não constarão da

folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei’. Portanto, o sigilo já

é assegurado pela referida norma, logo após o cumprimento ou extinção da pena. Por outro lado, poder-se-ia argumentar com a recuperação de direitos perdidos em virtude dos efeitos da condenação, mas o próprio Código reduz a aplicação ao art. 92, III (‘inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso’). Os autores da Reforma Penal de 1984 buscam justificar a importância da reabilitação dizendo que vai além do preceituado no art. 202 da LEP, pois restaura a ‘dignidade,

ofendida pela mancha da condenação, restaurando ao condenado o seu prestígio social’. Com a devida vênia, nem o condenado tem interesse nessa declaração de reinserção social, que quase nenhum efeito prático possui, como também dificilmente o prestígio social é recuperado, pelos próprios costumes da sociedade e diante da atitude neutra e, por vezes, hostil do Estado frente ao condenado. Pode até ser que seja resgatado, mas não será por intermédio da reabilitação e sim pela nova postura adotada pelo sentenciado após o cumprimento de sua pena.”

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(5)

Portanto, não entendemos oportuno que o Poder

Judiciário seja obrigado a atuar de ofício para emitir uma declaração que, em

verdade, não possui grande relevância prática (razão pela qual tem sido

pouco requerida pelos interessados).

O Projeto pretende, também, alterar os requisitos para a

reabilitação, impondo como condição apenas a de o interessado não ter sido

indiciado, pelo período de 02 (dois) anos após o cumprimento ou extinção da

pena, pela prática de qualquer outro ilícito penal.

Ocorre, porém, que os requisitos hoje exigidos (domicílio

no país durante o prazo de dois anos; demonstração efetiva e constante de

bom comportamento público e privado; e ressarcimento do dano) possuem

razão de ser, conforme demonstra a doutrina

5

:

“Domicílio no país durante o prazo de dois anos. É requisito para a concessão do benefício que o requerente tenha mantido domicílio no país durante 2 (dois) anos, a contar da extinção da punibilidade. A comprovação da satisfação do requisito pode ser feita por qualquer meio de prova admitida em Direito, como documentos e declarações de testemunhas. A permanência do condenado no país presta-se a facilitar o conhecimento de possíveis atos desabonadores por ele praticados. O requisito de manter domicílio no país não significa qualquer restrição ao direito de ir e vir do condenado. O condenado é livre e pode manter domicílio onde quiser. No entanto, se pretender ser declarado judicialmente reabilitado deverá residir no país durante 2 (dois) anos, para que o juiz possa ter notícias sobre seu comportamento e avaliar se houve ou não a reabilitação. Como seria possível declarar reabilitado o condenado que reside em outro país? O juiz não teria como proceder a uma avaliação adequada da reinserção social do condenado. Se o condenado deixar o país e pretender ser reabilitado, deverá retornar e manter domicílio no país por período mínimo de 2 (dois) anos.

Demonstração efetiva e constante consoante bom comportamento público e privado. Também é requisito para a

concessão do benefício que o condenado demonstre bom comportamento posteriormente à condenação. Bom comportamento não significa ausência de notas desabonadoras, mas existência de concretas ações consideradas socialmente adequadas por parte do condenado. O exame sobre o bom comportamento, na verdade, não pode restringir-se aos 2 (dois) anos posteriores à extinção da punibilidade. Se o condenado levou mais tempo para requerer a reabilitação, deverá ter demonstrado bom comportamento durante todo o tempo que se verificou posteriormente à condenação. O inc. II do art. 94 menciona bom comportamento durante esse tempo, sugerindo tratar-se do tempo mencionado no caput, ou seja, 2 (dois) anos. Acontece, porém, que 2 (dois) anos é o prazo mínimo para requerer-se a reabilitação. O período de exame do comportamento do condenado tem um parâmetro mínimo, mas não máximo. Se o condenado requereu o benefício após decorridos mais de 2 (dois) anos, durante todo esse tempo deverá ter demonstrado bom

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comportamento. Não se pode entender reabilitado aquele que, após a condenação, voltou a praticar condutas socialmente inadequadas e, posteriormente, manteve bom comportamento nos 2 (dois) últimos anos. Esse requisito pode ser comprovado por atestados ou declarações de bom comportamento prestado por pessoas ligadas ao condenado.

Ressarcimento do dano. Conforme o inc. III do art. 94 do

CP, é ainda necessário que o condenado tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de fazê-lo, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida. A imposição desse requisito pressupõe a ocorrência de dano. Se, no caso concreto, não houver dano a ressarcir, não se apresentará o requisito. Se o dano produzido atingir bem jurídico difuso ou coletivo, o mais correto será exigir-se do condenado a comprovação de uma prestação em favor do bem jurídico. É o caso de condenação por crime ambiental, em que não se vislumbra uma vítima imediata. O condenado deverá prestar uma medida compensatória pelo dano causado ao meio ambiente.

Como alternativa ao ressarcimento do dano, pode o condenado demonstrar a absoluta impossibilidade de fazê-lo. Em regra, a impossibilidade que autoriza a concessão do benefício é a que se materializa na incapacidade financeira do condenado. Também autoriza a concessão do benefício a composição civil firmada entre as partes. Entretanto, não se pode admitir considerar impossível reparar os danos porque a vítima não procurou o condenado para reclamar sua reparação. Não se pode impor à vítima o ônus de buscar a reparação. A sincera demonstração de readaptação social exige que o condenado procure amenizar os efeitos de sua prática delitiva, procurando efetivamente reparar os danos.”

Aliás, a exigência, para fins de reabilitação, de

ressarcimento do dano causado pelo crime representa uma das poucas

hipóteses em que o Código Penal demonstra preocupação com a vítima do

delito, não se mostrando prudente a sua extirpação.

Por estas razões, não vislumbramos conveniência ou

oportunidade nas alterações propostas pelo Projeto em análise.

Deste

modo,

votamos

pela

constitucionalidade,

juridicidade, pela inadequada técnica legislativa e, no mérito, pela rejeição do

Projeto de Lei n.º 78, de 2015.

Sala da Comissão, em de de 2015.

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