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As mobilizações populares na criação da área de proteção ambiental Parque e Fazenda do Carmo na cidade de São Paulo - Brasil

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Academic year: 2023

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIDADES INTELIGENTES E SUSTENTÁVEIS

RODOLFO VALENTINO FULGÊNCIO

AS MOBILIZAÇÕES POPULARES NA CRIAÇÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL PARQUE E FAZENDA DO CARMO NA CIDADE DE

SÃO PAULO - BRASIL

SÃO PAULO 2022

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AS MOBILIZAÇÕES POPULARES NA CRIAÇÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL PARQUE E FAZENDA DO CARMO NA CIDADE DE

SÃO PAULO - BRASIL

POPULAR MOBILIZATIONS IN THE CREATION OF THE PARQUE E FAZENDA DO CARMO ENVIRONMENTAL PROTECTION AREA IN THE CITY OF

SÃO PAULO - BRAZIL

SÃO PAULO 2022

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cidades Inteligentes e Sustentáveis da Universidade Nove de Julho – UNINOVE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis.

Profª. Drª. Cíntia E. de Castro Marino

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Fulgêncio, Rodolfo Valentino.

As mobilizações populares na criação da área de proteção ambiental parque e fazenda do Carmo na cidade de São Paulo - Brasil. / Rodolfo Valentino Fulgêncio. 2022.

95 f.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Nove de Julho - UNINOVE, São Paulo, 2022.

Orientador (a): Profª. Drª. Cíntia E. de Castro Marino

1. Movimento social. 2. Mobilização. 3. Meio ambiente. 4.

Área de proteção ambiental.

I. Marino, Cíntia E. de Castro. II. Título.

CDU 711.4

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AS MOBILIZAÇÕES POPULARES NA CRIAÇÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL PARQUE E FAZENDA DO CARMO NA CIDADE DE

SÃO PAULO - BRASIL

São Paulo, 13 de dezembro de 2022.

___________________________________________________________

Presidente Profª. Drª. Cíntia E. de Castro Marino – Orientadora UNINOVE

___________________________________________________________

Membro Profº. Drº. Diego de Melo Conti, PUC/CAMPINAS

___________________________________________________________

Membro Profº. Drº. Cristiano Quaresma, UNINOVE

São Paulo 2022

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cidades Inteligentes e Sustentáveis da Universidade Nove de Julho – UNINOVE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis, pela Banca Examinadora, formada por:

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Dedico este trabalho a todas as pessoas que acreditam e trabalham para manter um meio ambiente equilibrado e sustentável, tanto para a atual como para as futuras gerações, e aos diversos pesquisadores brasileiros que, com muito sacrifício, produzem ciência em nossa nação.

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Meus sinceros agradecimentos, em primeiro lugar, a Deus, galardoador da existência humana, que todos os dias tem derramado sua abundante Graça e Misericórdia sobre minha vida; à minha esposa Raquel e filha Bianca, que durante todo o período de minha pesquisa sempre foram o apoio e o incentivo necessários nos momentos difíceis; à minha orientadora, professora Cíntia Marino, que nunca desistiu de acreditar em minha capacidade de realizar esta pesquisa, em um período com muitas orientações e correções, reescrevendo e sempre avançando na produção científica; a todos os demais professores, que contribuíram de maneira singular na construção e aperfeiçoamento de minhas habilidades enquanto pesquisador; aos meus colegas de turma, que sempre quando precisei foram solícitos; aos líderes da mobilização popular que culminou com a criação da APA do Carmo, subsidiando dados e informações fundamentais para a presente pesquisa; aos colaboradores do PNMF do Carmo, com destaque ao grande parceiro Eduardo Dallastella Camargo.

E, finalmente, não poderia jamais esquecer da pessoa que, antes de mim mesmo, acreditou que eu seria capaz de participar do processo seletivo do PPG-CIS em condições de ser aprovado e concluir o curso: agradeço ao meu nobre Comandante Geral da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo, inspetor superintendente Agapito Marques.

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“Só sei que nada sei, e o fato de saber isso me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.”

Sócrates

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Esta pesquisa teve como objetivo investigar como se desenvolveu e quais foram as etapas da mobilização constituída por uma associação de moradores que reivindicou junto ao poder público municipal e estadual a preservação de uma área, tendo como desdobramento a criação da Área de Proteção Ambiental Parque e Fazenda do Carmo (APA do Carmo). A metodologia utilizada no presente trabalho consistiu em um estudo de caso e foi efetuada mediante análise das discussões fomentadas pelo referencial teórico, baseado em uma revisão de literatura sobre os movimentos e as mobilizações sociais, os quais se enquadram nesse processo analítico de característica qualitativa. O levantamento de dados ocorreu por intermédio de entrevistas com lideranças do movimento à época dos fatos, ocorridos entre os anos de 1985 e 1993, com coleta de informações, como documentos da sociedade civil organizada e da administração pública, que tramitaram no período. A relevância da pesquisa consiste no ineditismo sobre a mobilização social na criação desta área de proteção ambiental, agregando valor às questões ambientais atuais, tema de mobilizações sociais da contemporaneidade em prol da sociedade. Os resultados foram obtidos através das discussões das entrevistas com dados analisados à luz do referencial teórico, avaliando a sua assertividade, desde o caminho percorrido nas reuniões domiciliares e eclesiais, nos corredores dos órgãos públicos, até seu efetivo êxito, com a criação da APA do Carmo. A discussão busca entender o dinamismo da mobilização social como instrumento para a defesa dos interesses coletivos frente à gestão pública.

Palavras-chave: Movimento Social, Mobilização, Meio Ambiente, Área de Proteção Ambiental.

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This research aimed to investigate how it developed and what were the stages of the mobilization constituted by the association of residents who demanded, together with the municipal and state public authorities, the preservation of an area, resulting in the creation of the Parque e Fazenda do Carmo Environmental Protection Area. (APA do Carmo). The methodology used in this work consisted of a case study, carried out through an analysis based on discussions fostered by the theoretical framework based on a literature review on social movements and mobilizations, which fit into this analytical process of qualitative nature. Data collection took place through interviews with leaders of the movement, at the time of the facts that occurred between the years 1985 to 1993, with the collection of information such as documents from organized civil society and documents from the public administration that were processed in the period. The relevance of the research lies in the originality of social mobilization in the creation of this area of environmental protection, adding value to current environmental issues that are themes of contemporary social mobilizations in favor of society. The results were obtained through discussions of the interviews with data analyzed in the light of the theoretical framework, evaluating its assertiveness, from the path taken in home and ecclesial meetings, in the corridors of public bodies, to its effective success with the creation of the APA do Carmo. The discussion seeks to understand the dynamism of social mobilization as an instrument for the defense of collective interests in the face of public management.

Keywords: Social Movement, Mobilization, Environment, Environmental Protection Area.

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Quadro de síntese - Mobilizações sociais ... 40

Figura 1 – Mapa da APA do Carmo ... 43

Figura 2 – APA do Carmo – Vista da Av. Aricanduva ... 48

Figura 3 – Av. Afonso de Sampaio e Souza – Lado esquerdo, sentido Itaquera ... 49

Figura 4 – Portão 1 do Parque do Carmo ... 50

Figura 5 – Pet Shop Aquarius ... 51

Figura 6 – SESC Itaquera – Entrada principal ... 52

Figura 7 – SESC Itaquera entrada Estrada Fazenda do Carmo ... 53

Figura 8 – Sede do PNMF do Carmo ... 54

Figura 9 – Acampamento de moradores em frente ao aterro “Lixão” ... 57

Figura 10 – Acampamento em frente ao aterro em 1985 ... 58

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Tabela 1 – Zoneamento da APA do Carmo ... 46

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ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ACP – Ação Civil Pública

ALEP – Assembleia Legislativa do Paraná ALESP – Assembleia Legislativa de São Paulo APA – Área de Proteção Ambiental

APAMC – Área de Proteção Ambiental Estadual de Macaé de Cima APAMP – APA Morro da Pedreira

APARB – Área de Proteção Ambiental Municipal do Rio Bonito APARIS – APA Raimundo Irineu Serra

CBPO – Companhia Brasileira de Projetos e Obras CCPA – Companhia Comercial, Pastoril e Agrícola CEBs – Comunidades Eclesiais de Base

COHAB – Companhia Habitacional Metropolitana de São Paulo CONSEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiente

CTA – Tecnologias Alternativas da Zona da Mata DEPAVE – Departamento de Parques e Áreas Verdes DRP – Diagnóstico Rural Participativo

INEMA – Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais MDVA – Movimento em Defesa do Vale do Aricanduva MP – Ministério Público

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil ONG – Organização Não-Governamental

PESB – Parque Estadual da Serra do Brigadeiro PL – Projeto de Lei

PMSP – Prefeitura do Município de São Paulo

PNMFC – Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo PPP – Parceria Público-Privada

REMC – Reserva Ecológica de Macaé de Cima RESEX – Reservas Extrativistas

SAB – Sociedades de Amigos de Bairro

SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

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SESC – Serviço Social do Comércio

STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais SVMA – Secretaria do Verde e Meio Ambiente TJ – Tribunal de Justiça

UC – Unidade de Conservação

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1 INTRODUÇÃO ... 14

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ... 14

1.2 OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS ... 15

1.3 JUSTIFICATIVA ... 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 17

2.1 MOBILIZAÇÕES SOCIAIS: UMA APROXIMAÇÃO TEÓRICA ... 17

2.2 MOBILIZAÇÕES SOCIAIS DE INTERESSE AMBIENTAL ... 17

2.3 MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS ... 24

2.4 MOBILIZAÇÕES SOCIAIS ... 32

2.5 ATORES ... 34

2.6 PERTENCIMENTO ... 35

2.7 REDES E REPERTÓRIOS ... 37

3 O CASO ANALISADO: ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL PARQUE E FAZENDA DO CARMO NA CIDADE DE SÃO PAULO – BRASIL ... 42

3.1 SOBRE O SISTEMA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ... 42

3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TERRITÓRIO ... 44

3.3 DO ZONEAMENTO DA APA DO CARMO ... 45

3.4 LIMITES TERRITORIAIS DA APA DO CARMO ... 48

3.5 DA ORIGEM DA MOBILIZAÇÃO PARA A CRIAÇÃO DA APA DO CARMO ... 54

3.6 TRAJETÓRIAS E TÁTICAS DE MOBILIZAÇÃO ... 55

3.7 LIMITAÇÕES E DESDOBRAMENTO ... 68

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 70

REFERÊNCIAS ... 73

APÊNDICE A ... 78

ANEXO A ... 81

ANEXO B ... 83

ANEXO C ... 84

ANEXO D ... 85

ANEXO E ... 86

ANEXO F ... 87

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1 INTRODUÇÃO

A pesquisa proposta é sobre o processo de participação social através das mobilizações populares para a criação da Área de Proteção Ambiental Parque e Fazenda do Carmo (APA do Carmo), uma grande área verde remanescente da Mata Atlântica, considerada por seus defensores ambientais como o “pulmão” da Zona Leste paulistana.

A APA do Carmo, muito antes de ser implementada, era um grande latifúndio denominado fazenda Caguaçu. Por cerca de duzentos anos, essas terras foram administradas pela Ordem dos Carmelitas, mediante os padres da Igreja Católica Apostólica Romana, e também pertenciam ao aldeamento de São Miguel. No início do século XX, a região sofreu mudanças significativas devido ao processo de urbanização da cidade de São Paulo (DELI, 2010).

O território onde hoje se localiza a APA do Carmo havia sofrido ameaças de grilagens, as quais não se concretizaram. Entretanto, durante todo esse período, os limites territoriais da fazenda Caguaçu foram, de certa forma, preservados, contribuindo com o remanescente da Mata Atlântica na região. Esse registro histórico e a importância ambiental que a região possui foram motivos que desencadearam a mobilização popular que lutou pela proteção da região por meio da criação da APA do Carmo (DELI, 2010).

A referida mobilização popular já era visionária no ano de 1985, quando seus participantes entenderam que o meio ambiente, no caso o da região onde residiam, deveria ser preservado de modo permanente, beneficiando não apenas aquela geração de moradores, mas também as posteriores.

A conscientização coletiva do dever de manter um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, preservando-o para a presente e as futuras gerações, só seria consagrada no artigo 225 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), três anos depois da mobilização dos moradores que já trabalhavam pela APA do Carmo.

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Como se deram as mobilizações populares que resultaram na criação da APA do Carmo, considerando o cenário político e a ausência de uma gestão de políticas públicas voltadas à preservação do meio ambiente?

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1.2 OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS

O objetivo geral desta pesquisa é investigar como se desenvolveu e quais foram as etapas do processo de mobilização constituído pela associação de moradores que reivindicaram junto aos órgãos públicos, tanto na esfera municipal quanto estadual, a preservação de uma área, tendo como desdobramento a criação da APA do Carmo.

Objetivos específicos: I - entender o cenário sociopolítico à época; II - identificar os atores envolvidos; III - caracterizar o repertório de atuação e descrever os caminhos percorridos até a criação da APA do Carmo; IV - explicar a importância da APA do Carmo.

1.3 JUSTIFICATIVA

A justificativa desta pesquisa teve como ponto de partida o trabalho de dissertação denominado “Da Fazenda Caguaçu à Área de Proteção Ambiental: a APA do Carmo no cerne da Zona Leste Paulistana”, de autoria de Fernando Rodrigues Deli, defendida em 2010, na Universidade de São Paulo. Neste trabalho o autor aborda toda a origem histórica da APA do Carmo, registra a mobilização popular que criou a Unidade de Conservação (UC), porém não detalha esse movimento. Surgiu, então, uma lacuna, que esta pesquisa buscou preencher investigando detalhadamente e aprofundando todo o desenvolvimento da mobilização, inicialmente formada pelos moradores da região. A relevância sobre o fenômeno da mobilização social na criação desta área de proteção ambiental contribui com as questões ambientais atuais, tema de mobilizações sociais da contemporaneidade em prol do meio ambiente. A discussão buscou entender o dinamismo da mobilização como instrumento para a defesa dos interesses coletivos de natureza social frente à gestão pública.

O recorte desta pesquisa compreende o período quando uma mobilização popular da Zona Leste da cidade de São Paulo convergiu forças, em 1985, para a desativação de um aterro sanitário, realizando um grande acampamento que perdurou por dezessete dias em tempo integral, impedindo a entrada de caminhões de lixo ao aterro. Esse fato pode ser considerado um marco para a efetivação do fechamento do aterro, o que levou essa mesma mobilização a despertar um interesse de responsabilidade socioambiental, originando várias ONGs, dentre elas o MDVA (Movimento em Defesa do Vale do Aricanduva) e a SAL (Sociedade Ambiental Leste),

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que trabalharam pela criação da APA do Carmo e sua regulamentação no ano de 1993 (DELI, 2010).

A metodologia do presente trabalho consiste em um estudo de caso, mediante uma análise com interpretação a partir das discussões fomentadas pelo referencial teórico, baseado em uma revisão de literatura sobre os movimentos e as mobilizações sociais, os quais se enquadram nesse processo analítico de característica qualitativa.

Para a realização desta investigação científica, foi necessária uma visão holística, a qual resultou em uma descrição ampla dos atores sociais e públicos envolvidos.

O processo de pesquisa de campo ocorreu por meio de levantamento de dados, através de pesquisa documental no banco de dados da ONG (SAL), com documentos da reunião ordinária do CONSEMA, consulta ao diário oficial do governo estadual de São Paulo, observação direta em campo, registro fotográfico do local e entrevistas mediante um questionário elaborado com base no referencial teórico com quatro membros da liderança dos movimentos sociais das comunidades que protagonizaram essas ações, ocorridas entre os anos de 1985 e 1993. Os nomes foram omitidos, a fim de preservar a identidade dos sujeitos entrevistados.

As discussões ocorreram a partir das narrativas dos entrevistados, que discorreram sobre os acontecimentos na época em que a sociedade civil organizada trabalhou junto à administração pública para a elaboração da legislação que criou a APA do Carmo, analisados com base no referencial teórico.

A estrutura da dissertação apresenta: I - capítulo um, introdução; II - capítulo dois, referencial teórico; III - capítulo três, procedimentos metodológicos, o caso da APA do Carmo e seu contexto ambiental na região, com discussões e resultados; IV - capítulo quatro, considerações finais; V - capítulo cinco, referências.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MOBILIZAÇÕES SOCIAIS: UMA APROXIMAÇÃO TEÓRICA

Um movimento social é resultado da interação das pessoas. No decorrer do desenvolvimento humano, desde as sociedades mais antigas, evidencia-se que esses movimentos sempre estiveram, de uma forma ou de outra, presentes, não derivando do acaso. Na prática, são um mover coletivo, uma força que une as pessoas em prol de um interesse coletivo, isto é, um objetivo comum. Como o próprio nome diz, são atuações de cunho social, de formação plural, nunca de modo isolado ou individual, de constituição das diversas camadas sociais, políticas ou culturais. Dependendo dos canais e da forma como os movimentos se apresentam publicamente para a sociedade e os governos, eles podem causar impactos que variam de inexpressivos a expressivos (GOHN, 2011).

2.2 MOBILIZAÇÕES SOCIAIS DE INTERESSE AMBIENTAL

No decorrer da cronologia histórica em nossa contemporaneidade, pesquisadores, professores, estudantes, ambientalistas, dentre outros membros da sociedade civil, conseguiram, através de muitas reivindicações e mobilizações sociais, criar espaços territoriais onde se pudessem preservar a fauna e a flora, ou seja, ecossistemas que fossem protegidos da predação humana, resultando na criação das Unidades de Conservação (UC). Para proteger um conjunto totalizando dez UCs, somando-se, ainda, mais quatro parques estaduais e um nacional, foi criada a Área de Proteção Ambiental (APA) Escarpa Devoniana, localizada no estado do Paraná, no Brasil (ANTIQUEIRA; PICANÇO; BERTONI, 2021).

A extensão territorial da referida APA Escarpa Devoniana engloba um conglomerado de treze municípios, consistindo em uma área de 392 mil hectares.

Entretanto, com a finalidade de atender interesses econômicos do agronegócio, foi proposto o Projeto de Lei (PL) 527/2016, que determinava a remarcação da APA Escarpa Devoniana, reduzindo seu atual território em mais de 65%, limitando-a a aproximadamente 125 mil hectares. Diante desse fato, houve grande insatisfação por parte de vários setores da sociedade civil, resultando em uma significativa mobilização social, com uma ampla campanha protestando contra o progresso do PL através de vários meios de comunicação (ANTIQUEIRA; PICANÇO; BERTONI, 2021).

Houve um parlamentar que afirmou à reportagem que havia retrocedido em apoiar o projeto, pois tinha ouvido a “voz das ruas”, entendendo que a redução da

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APA não teria apoio da opinião pública. Perante a intensificação dos protestos e a repercussão negativa que a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) teria caso promulgasse uma legislação contrária aos anseios sociais, o Legislativo paranaense não teve outra opção a não ser o arquivamento do PL (ANTIQUEIRA;

PICANÇO; BERTONI, 2021).

Na região Centro-Sul de Minas Gerais há uma UC de responsabilidade administrativa da União, denominada APA Carste de Lagoa Santa. A legislação que a criou estabeleceu, dentre suas finalidades, a preservação do paisagismo e da cultura local. Mesmo sob proteção legal, as UCs não estão livres das ameaças do capital financeiro. Sob a alegação do desenvolvimento da infraestrutura regional, uma parceria público-privada (PPP) envolvendo o governo estadual pretendia construir uma “aerotrópolis” (região territorial focada no desenvolvimento econômico através das atividades de transporte de passageiros e de cargas de aeronáuticos) (BARBOSA, 2021).

Conforme Barbosa (2021), a proteção da grande diversidade do patrimônio da APA Carste não pode estar somente nas mãos do poder público, sem a participação efetiva da opinião pública, acompanhando os desdobramentos das sugestões de alterações no local, mesmo sob a argumentação do desenvolvimento econômico da região. De modo isolado ou individual, a sociedade não consegue medir forças ou ser ouvida pelas autoridades competentes. Apenas grupos organizados, como os movimentos sociais, podem representar setores da sociedade como seus “porta- vozes”. Somente a gestão da UC com a participação de atores interessados, como os moradores da região, pode acompanhar os investimentos público-privados na APA, certificando-se sobre a garantia da sustentabilidade com progresso econômico na região.

Quando a temática em relação aos movimentos sociais vem à discussão, é necessário compreender que eles são constituídos por pessoas que muitas vezes se sentem injustiçadas e compartilham com outros atores essa insatisfação, encontrando nos movimentos a liberdade de poderem manifestar sua opinião a ponto de organizarem uma mobilização coletiva. Para uma ação específica que pretende defender o interesse coletivo em um meio ambiente ecologicamente sustentável para a presente e posteriores gerações, está se falando necessariamente de um movimento que possui em seu repertório os valores ambientais (TORQUATO et al., 2020).

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Para os autores, a atuação de vários agentes da sociedade, dentre pescadores, ONGs, moradores e lideranças, foi fundamental para a criação da APA do Manguezal da Barra Grande do município de Icapuí, no estado do Ceará. Conforme a mobilização se desenvolvia, crescia em torno dela uma rede de apoiadores da causa, que era a preservação do manguezal, demonstrando, na prática, uma cidadania aplicada à causa ambiental (TORQUATO et al., 2020).

O envolvimento ativo dos habitantes, que de modo tradicional em uma determinada localidade estejam engajados nas reivindicações de seus interesses de cunho ambiental, tem sua legitimidade garantida, por se tratar de interesse de justiça e sobrevivência social. Entretanto, o crescimento ou desenvolvimento sustentável não é algo distante de ser concebido, a partir do momento em que os movimentos sociais, devidamente e legitimamente representados no caso em questão, relacionados aos locais de extrativismo, sejam atendidos em suas pautas (SOUSA; RIBEIRO, 2022).

Para Sousa e Ribeiro (2022), as ações dos movimentos sociais foram fundamentais para dar conhecimento à opinião pública sobre a intenção da implementação das Reservas Extrativistas Marinhas (RESEX) de São João da Ponta e de Mãe Grande de Curuçá, na região amazônica. A organização eficiente dos movimentos demonstrou diversas etapas e avanços que foram coordenados dentro da realidade histórica do movimento.

A regulamentação fundiária é uma realidade em muitos lugares no Brasil. A necessidade de moradia por parte da população em relação à oferta de habitação por meio do poder público, visando equacionar essa realidade social, não se sustenta e não poupa nem mesmo o meio ambiente. Muitas regiões de reservas florestais têm suas matas suprimidas para a construção de moradias irregulares devido à crescente demanda das pessoas em terem seu próprio “teto” para morar. Depois de um grande esforço conjunto da sociedade organizada para a defesa ambiental de um território na cidade de Rio Branco, no estado do Acre, surgiu a APA Raimundo Irineu Serra (APARIS) (PUPIM; MORAIS, 2021).

Pupim e Morais (2021) argumentam que a implementação dessa UC foi resultado de uma grande mobilização social. Muitos debates em várias “arenas públicas” com interesses difusos tiveram que chegar a um denominador comum, onde pudessem encontrar uma sustentação representativa para a propositura de uma legislação que criasse a APA APARIS, cuja finalidade é evitar tanto a especulação

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imobiliária como a supressão da vegetação nativa para construções civis, ambas de natureza irregular.

A relação entre sustentabilidade ambiental e a necessidade de moradia para grande parcela da sociedade brasileira é conflituosa, não sendo exclusividade de lugares específicos no Brasil. A fuga dos grandes centros urbanos para áreas periféricas das cidades, em busca de melhores preços nos aluguéis, ou até mesmo para evitar essa despesa, com a construção de imóveis irregulares em regiões de matas, é uma realidade constatada. Somado a esse déficit habitacional, que possui efeitos colaterais ambientais, temos por vezes a questão da religiosidade, que pode comprometer reservas de preservação ambiental de proteção integral, considerando que a interação humana pode alterar esses biomas. É o caso da APA das Lagoas e Dunas do Abaeté, na capital baiana (RODRIGUES; COPQUE, 2020).

Rodrigues e Copque (2020) afirmam que essa UC estava com seu lençol freático sendo contaminado devido à falta de tratamento do esgoto humano, resultado da interação humana na região, tanto por motivos habitacionais, quanto de ordem religiosa. O poder público, através do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), pertencente ao governo estadual, idealizou a implementação de uma obra objetivando o saneamento básico da região. Contudo, o Conselho Gestor (CG) da UC protagonizou uma mobilização social para que as obras só fossem levadas a cabo depois de um profundo estudo para entender quais seriam os impactos ambientais que supostamente poderiam ocorrer com o projeto. Portanto, revelou-se a importância ímpar da mobilização social na defesa do interesse coletivo.

Um dos mecanismos utilizados para a preservação ambiental é a criação de UCs. Quando se pensa em atribuição ou competências ambientais, verifica-se que ambas estão fundamentadas no direito administrativo comum, isto é, a União, os Estados e os Municípios têm o dever de proteger o meio ambiente em suas respectivas jurisdições de atuação. A formalização de uma UC é resultado de uma grande vontade coletiva, que entende que determinado local possui uma riqueza natural em seu bioma, sujeita ao risco do desaparecimento devido ao interesse humano, geralmente de teor econômico. A necessidade de preservar é a fundamentação do princípio legal da legitimidade. Por sua vez, no transcorrer do processo de mobilização social, ou seja, quando o poder público ouve as reivindicações coletivas sobre a necessidade de preservar, temos o princípio legal da

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legalidade, sobre a proteção ao local desejado, conforme delimitado pela instrumentação da lei (DIAS et al., 2018).

Uma grande mobilização social surgiu no ano de 2001 para a criação da RESEX-mar de Canavieiras, no Sul do estado da Bahia. A população local, favorável à criação da UC, trabalhou por sua implementação, contra interesses que tinham como finalidade a exploração econômica da região, sem avaliar os impactos ambientais, principalmente relacionados ao desmatamento da região, após sua criação legal nos anos 2010 e 2011. Entretanto, a população defensora da UC impetrou vários mandados de segurança para garantir a permanência da UC, sendo os ativos em todos os fóruns abertos à opinião popular, em conformidade com o procedimento legal (DIAS et al., 2018).

As mobilizações populares podem ter um grande número de participantes.

Mobilizações grandiosas geralmente são constituídas por diversos atores oriundos das camadas sociais que integram uma sociedade, dependendo da causa ou motivação defendida. Adicionando a essa causa uma publicidade que gere considerável visibilidade, multidões de vários locais podem juntar forças para o fortalecimento de qualquer mobilização social. Entretanto, quando se analisa a gênese de um movimento social, percebe-se que seu desenvolvimento é quase embrionário, isto é, não surge instantaneamente, com o alistamento de várias pessoas ou de uma multidão (SANCHO-PIVOTO, 2019).

Para Sancho-Pivoto (2019), não importa a quantidade de pessoas no início de qualquer movimento social; o importante será o corpo que ele irá desenvolver.

Dependendo da motivação dos membros que se alistam voluntariamente, a causa pode até mesmo gerar dentro do grupo um processo de criatividade para o movimento, como slogans que chamem atenção da opinião pública. Esse foi o caso que resultou na criação da APA Morro da Pedreira (APAMP), no distrito de Serra do Cipó, no estado de Minas Gerais. Tratou-se de uma mobilização inicialmente com um número pequeno de membros, a qual cresceu e desenvolveu um slogan, o que garantiu a preservação da biodiversidade, inclusive com a região que abrange o Parque Nacional da Serra do Cipó. Houve muita resistência à adesão inicial de movimentos sociais expressivos.

Não obstante, a articulação com ONGs, defensores ambientalistas e a representação política do deputado Fábio Feldman, dentre outros, fez com que a mobilização crescesse e culminasse na criação da referida UC.

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Belo Horizonte é a capital do estado de Minas Gerais. No ano de 2009, o interesse da administração pública municipal entrou em conflito com o interesse dos munícipes, quando o Museu de Artes e Ofícios, de gestão privada, ganhou o direito, por concessão pública, de se estabelecer nas dependências de um prédio tombado como patrimônio cultural. Durante a execução das obras, a prefeitura decretou a proibição de qualquer evento ou aglomeração de pessoas na praça onde ficariam as instalações do museu. Surgiu, então, um movimento de contestação desse ato da administração pública, denominado Praia da Estação. Foi um movimento que não abriu mão do direito de desfrutar do espaço público em questão. As diversas instâncias de poder foram acionadas, ocorrendo audiências públicas com discussões acaloradas, dentre outros eventos, culminando na adequação do espaço público de maneira satisfatória para as partes envolvidas (BOSREDON; CARSALADE, 2020).

No estado do Espírito Santo, foi apresentado o resultado de um estudo voltado a explicar quais seriam os tipos de obstáculos para a criação de UCs Marinhas. No caso em tela, comparou-se todo o processo de criação da APA Costa das Algas e Reserva de Vida Silvestre de Santa Cruz. O resultado da pesquisa demonstrou os diversos interesses socioeconômicos, que, de certa forma, beneficiariam alguns em detrimentos de outros. Uma vez identificados os interesses díspares dos atores envolvidos, a comunidade científica e política fomentou a discussão do tema através de redes sociais, possibilitando pressão por parte dos grupos sociais ambientalistas (SANTOS, Bis, 2021).

Para Santos (2021), quando as demandas sociais passam a ter publicidade, mediante os debates e discussões sobre a relevância do meio ambiente, a possibilidade de obtenção de seus objetivos é maior. A publicidade das atuações coletivas e dos movimentos sociais foi influenciada negativamente, de maneira direta, no período de 1940 a 2000, potencializada pelo regime de exceção que governou o Brasil no período de 1965 a 1985. A redemocratização trouxe de volta ao cenário público temas relevantes à população brasileira, os quais anteriormente não podiam ser defendidos. O estado capixaba foi pioneiro no trabalho de proteger territórios, visando a preservação ambiental.

No estado de Minas Gerais, tendo como finalidade, dentre outras, a preservação da extensa Mata Atlântica que percorre o estado, iniciou-se um processo de criação da UC denominada Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB).

Todavia, sua criação chamou atenção do setor agropecuário da região, pois uma vez

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estabelecida a UC, várias famílias de agricultores pertencentes a nove municípios deveriam ser realocadas para outro território, considerando as características da UC.

Para que não houvesse prejuízo para as pessoas envolvidas, segmentos da sociedade civil participaram na implementação do PESB, dentre eles a ONG Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), onde foi realizado um Diagnóstico Rural Participativo (DRP), que vislumbrou uma suposta disputa na região (MAGNO, 2020).

Ainda para Magno (2020), a partir destes grupos de trabalho instituídos, iniciou- se um intenso processo social, identificando os conflitos entre as partes interessadas e o surgimento de uma mobilização social que desejava alterações na demarcação da PESB. Todos os instrumentos legais utilizados para se chegar a um denominador comum para a implementação da UC resultaram de intensos debates envolvendo a sociedade civil na esfera pública, sendo considerados mecanismos de suma importância para a inclusão social de caráter ambiental na gestão de uma UC no Brasil.

Pesquisas apontam que a preservação ambiental não se restringe à atualidade.

Existem registros históricos desde a Antiguidade informando que já no ano 400 a.C., na Índia, e 550 a.C., no Império Persa, havia áreas reservadas com a finalidade de preservação, ou seja, muito antes da criação do famoso Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos da América. Portanto, em todas as épocas as sociedades moldaram a maneira como lidariam com a natureza, dependendo de sua visão em relação à mesma. No que concerne ao Brasil, somente depois da segunda metade do século XX (1979) houve um trabalho de articulação para trabalhar um

“Plano do Sistema de Unidades de Conservação no Brasil” (BOAS; MATTOS, 2021).

Segundo Boas e Mattos (2021), na criação da UC, situada no estado do Rio de Janeiro, denominada Área de Proteção Ambiental Estadual de Macaé de Cima (APAMC), os laços de proximidade entre os moradores (pequenos proprietários) e os pesquisadores da região foram essenciais para a institucionalização da Associação Macaé de Cima. Essa associação foi o instrumento de mobilização que, junto ao poder público municipal e demais órgãos públicos, trabalhou a implementação de uma UC, que, por sua vez, seria a Reserva Ecológica de Macaé de Cima (REMC), cujo desdobramento criaria a Área de Proteção Ambiental Municipal do Rio Bonito (APARB), dentre outras, como a APAMC.

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2.3 MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

Segundo Antiqueira et al. (2021), uma mobilização é resultado da organização social de um determinado grupo, que possui objetivos definidos e bem delineados em comum, de maneira que todos se apresentam para a mobilização de modo espontâneo, sabedores de sua função, sem interesses de ordem pessoal. São necessários três condicionantes para uma efetiva mobilização: (i) a presença de um objetivo comum aos participantes, atendendo às suas demandas e suas respectivas compreensões; (ii) participantes multiplicadores qualificados; e (iii) ações coletivas.

Nunca se pode subestimar o impacto de uma mobilização popular, principalmente quando ela, através de seus agentes, conseguir atingir vários setores da sociedade civil com sua mensagem reivindicadora, convencendo a opinião pública de que os atos administrativos devem atender aos anseios da coletividade, e não de setores específicos, como os de ordem econômica. As casas legislativas no Brasil, em todos os níveis – federal, estadual e municipal –, devem ser arenas de grande debate sobre os temas de interesse das populações, dentre eles as questões ambientais (MOCHIUTTI; GUIMARÃES, 2018).

É importante salientar que os movimentos sociais são ecléticos e inspiram outras áreas do saber científico, sendo geradores de inovação, com penetração nas demandas da sociedade, estando conectados em rede e cotidianamente questionando os rumos da vida pública. Todas as vezes em que há uma ação social, consequentemente há um novo aprendizado, de modo que movimentos sociais e educação caminham juntos, produzindo valores culturais na sociedade na qual estão inseridos. Só existem transformações sociais profundas na sociedade pelo fato de os movimentos sociais serem uma espécie de “locomotiva”, cuja caldeira é alimentada com o combustível da mobilização e da pressão que conduz os vagões desta sociedade civil (GOHN, 2011).

Dentro da dimensão das mobilizações encontraremos o ativismo como um dos braços dos movimentos sociais. Em meados dos anos 90, um importante grupo de pesquisadores das ações coletivas e dos movimentos sociais nos Estados Unidos, liderado por Charlie Tilly, na companhia de Sidney Tarrow e Doug McAdam, buscava organizar uma agenda de estudos sobre as ações coletivas. Começava, naquele momento, a mudar o modelo de abordagem sobre o assunto, surgindo uma discussão mais aprofundada, que observava as relações interpessoais no processo. Tilly foi um grande teorista que dissertou sobre o modus operandi dos movimentos sociais, com

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sua abrangência e desdobramentos, não em seu tempo, porém no decorrer do desenvolvimento das sociedades, por etapas através de períodos históricos determinados, permitindo uma análise mais aprofundada pelas ciências sociais (BRINGEL, 2012).

Para Bringel (2012), o resultado das mobilizações sociais serve como parâmetro no processo social, na medida em que serve como referencial teórico, levando em consideração o momento histórico dos fatos e sua influência na vida política de suas respectivas épocas. Entretanto, houve uma certa debilidade causada justamente pelo longo espaço temporal ao fazer a leitura das ações coletivas, de maneira a tentar levar em consideração a realidade geográfica de cada local da ação mobilizada, independentemente da abertura política.

O modelo a ser seguido começou a ruir a partir dos anos 2000. O que antes era certeza ou ponto pacífico entre os teóricos desde a década de 60, passou a ser confrontado e gradativamente substituído por uma maior aproximação teórica com os movimentos sociais em seus debates mais abrangentes, em comparação à ação coletiva. O questionamento sobre a relação dos movimentos sociais com a ação coletiva, no decorrer dos últimos trinta anos, está relacionado justamente com as definições ou conceitos que os pesquisadores produziram no decorrer desse período de modo cronológico. Dependendo do evento temporal, será produzida uma teoria especifica sobre cada um deles (ABERS; BÜLOW, 2011).

Segundo Abers e Bülow (2011), a teoria de McAdam consiste em afirmar que a política, como mecanismo de representação social, não pode ser interpretada à margem dos interesses sociais. Afinal, devido à estrutura da sociedade ser constituída por classes, estas, quando se virem no direito de reivindicar qualquer pauta, irão se utilizar dos movimentos sociais para protestar. Portanto, toda aproximação dos grupos sociais com o poder público terá como finalidade dirimir alguma demanda social. No Brasil, anteriormente a outros movimentos sociais, essa relação conflituosa entre Estado e mobilização social ocorre no meio ambientalista. Porém, com o engajamento de militantes favoráveis ao meio ambiente, surgem os órgãos de vertente ambiental dentro dos setores públicos. Como caso emblemático, é possível citar, no ano de 1973, a posse de Paulo Nogueira Neto, o primeiro secretário nacional do meio ambiente.

Para os autores Souza e Rodrigues (2004, p. 82-83), a sociedade civil é dinâmica e contém “mundos” diferentes dentro de sua estrutura. Esses mundos

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paralelos estão também conectados através de laços culturais e políticos, permitindo que as pessoas fiquem em evidência na sociedade quando trabalham ativamente através dos movimentos sociais. Com essas ações, esses sujeitos tentam se tornar mais do que meros agentes passivos no processo social, afirmando-se em alguma condição, na qualidade de protagonistas de seus destinos – por mais singela que possa ser essa ação na prática. Dessa maneira, os autores sintetizam o que propuseram em trabalhos anteriores, afirmando que todo movimento constitui um ativismo social; contudo, a recíproca não é verdadeira: nem todo ativismo se configura como um movimento.

O ativismo está classificado em uma categoria consequentemente mais abrangente, envolvendo diversas maneiras de organização, mobilização e atuação dos moradores das cidades (não necessariamente apenas os pobres). O ativismo social atinge um espectro extremamente diversificado de ações: desde aspirações reivindicatórias, consideradas “paroquiais”, pois não aprofundam as indagações e a análise sobre a sociedade vigente, que somente exemplificam uma reação perante a ausência de um determinado problema, até embates muito ambiciosos e complexos, que terminam questionando a maior parte das fundações da sociedade, destacando seus aspectos econômicos, políticos e culturais. Os ativismos e movimentos podem ser, além disso, de diversos tipos, dependendo de sua temática específica: urbanos e rurais (SOUZA; RODRIGUES, 2004, p. 83).

Os ativismos simplesmente reivindicatórios são aqueles que atendem por objetivos específicos, como obter melhorias na escala local, como em uma rua, uma praça ou em um bairro, muitas vezes desconsiderando toda a complexidade da cidade. Essas ações tem como finalidade apenas atender a uma necessidade pontual de um determinado grupo, o qual geralmente se desmobiliza quando sua reivindicação é atendida. Os movimentos sociais são semelhantes a uma categoria especial de ativismo. Surgindo da evolução de um ativismo mais modesto e reivindicatório ou não, a constatação é que eles representam um grau razoavelmente elevado de organização e de contestação da ordem social vigente (SOUZA; RODRIGUES, 2004, p. 83).

Os movimentos sociais, no decorrer das décadas, têm demonstrado uma grande capacidade de autorreformulação, principalmente com a influência da globalização e da democratização da informação, mediante as mídias sociais e a internet. Isso tornou os movimentos sociais capazes de uma abrangência de nível

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global, devido à sua natureza organizacional na atualidade estar fundada nas plataformas digitais. Por sua vez, o ativismo coletivo ganhou dinamismo, proliferando- se em diversas frentes no Brasil. Diferentemente de coletivos preocupados com espaços territoriais de grande extensão, como ocorre na maioria das UCs, o foco foi o oposto: agora a evidência era o coletivo urbano. As atenções estavam voltadas para pequenas áreas territoriais. Temos como exemplo na cidade de São Paulo o Parque Augusta, a Chácara do Jóquei, dentre outros espaços (GOHN, 2022, p. 198).

Ainda para Gohn (2022, p. 190), para o êxito de qualquer mobilização social, é imprescindível que seus atores dimensionem a geografia sociopolítica do local onde ocorrerão as manifestações. Dentro das várias maneiras que as pessoas encontram para realizar uma ação em um determinado território, primeiro este deve ser bem compreendido. Caso seja urbano, requer uma atenção maior no sentido da forma de atuação, quando se está falando sobre ativismo urbano. Os membros do movimento precisam realizar uma escolha, no intuito de indicarem qual modelo associativo será utilizado para a execução das ações. Em regiões situadas nas extremidades, isto é, na periferia das cidades, deve-se efetuar um tipo de associação. Caso o foco da ação seja em bairros considerados mais desenvolvidos ou com maior poder econômico, deve-se utilizar um outro tipo de associativismo, como ONGs, sociedades de amigos do bairro, dentre outros.

Um dos maiores problemas que os movimentos sociais têm é a dificuldade de conseguir uma agenda política que atenda os interesses ambientais. Uma das razões provavelmente seja pelo lobby político, ou pela ocupação do poder público por setores de interesses econômicos contrários à preservação, favoráveis à exploração dos recursos naturais. Uma turba, isto é, uma multidão de pessoas em movimento, sem uma ordem, não é uma ação coletiva; deve-se estabelecer estratégias, objetivos claros e bem definidos após a deliberação dos participantes (LOSEKANN, 2013).

Para Tarrow (2019), os movimentos sociais, enquanto fenômeno oriundo da sociedade civil, são objeto de estudo das ciências sociais. Entretanto, percebe-se uma hipossuficiência teórica nos últimos 50 anos, pela ausência de mecanismos científicos que viabilizassem pesquisas com repertório mais abundante. As pesquisas eram realizadas através de monografias de um determinado país, e aquelas que alegavam ser comparativas eram, mais frequentemente, comparações globais abrangentes – como os movimentos sociais.

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Estudiosos de movimentos sociais interessados em processos de enquadramento começam a tomar como problemática a literatura de um período compreendido nos anos 80, a qual em grande parte ignorava o trabalho de sentido – a luta pela produção de ideias e significados mobilizadores e contramobilizadores. A partir desta análise científica, fica evidenciado que os movimentos sociais apresentam características que não estão restritas apenas à mensagem transmitida à sociedade por suas ações e sua habilidade de articulação entre os vários setores sociais, ultrapassando, inclusive, os próprios valores dos movimentos sociais (BENFORD;

SNOW, 2000).

Os movimentos sociais atuam nas camadas da sociedade. Parte-se, então, de uma noção genérica e contemporânea de sociedade civil, advindo de um conceito clássico da sociologia política. O pleno exercício da cidadania é a busca constante por cidadãos que compõem diversos setores sociais, os quais, em última análise, são muito diferentes entre si. Contudo, essa pluralidade social é a estrutura na qual a sociedade civil é constituída (SCHERER-WARREN, 2006).

Os teóricos que discorreram sobre a temática dos movimentos sociais elaboraram um “quadro” geral no qual podemos ter uma melhor compreensão e identificá-los. Eles são identificados quando pleiteiam um objetivo comum, o que confere a eles uma unidade que facilita sua compreensão. Consequentemente, há um agente antagonista com o qual entrarão, a princípio, em litígio. Os membros dos movimentos fazem uma leitura das relações sociais que os rodeiam e projetam um ideal social como modelo para a sociedade. De acordo com seus valores ideológicos, atuam ou reagem fundamentados no princípio da liberdade democrática (GOHN, 2011).

Os movimentos sociais também operam através das associações. Estas, por sua vez, constituem instrumentos que também servem para denunciar as demandas sociais, dentre as quais há algumas fundamentais para estimular a prática do exercício político nos vários segmentos sociais, relacionando-se ao trabalho de acolhimento dos socialmente excluídos, procurando patronizar uma sociedade diferente e desigual. O conceito de ecologia democrática das associações está baseado nas diversas frentes de trabalho que podem ser levadas a efeito nas associações, fazendo um recorte da realidade social vigente e, consequentemente, propiciando um enriquecimento mediante a análise de suas ações, conforme evidenciado pelos seus resultados. A promoção da ecologia associativa recebeu um maior dimensionamento, agregando

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valores democráticos devido ao empenho de suas associações (LÜCHMANN;

SCHAEFER; NICOLETTI, 2017).

Os movimentos sociais e as associações têm a capacidade de agir em várias frentes de trabalho com uma múltipla gama de pautas reivindicatórias de ordem acadêmica, assistencial, ambiental, dentre outras, sempre buscando satisfazer os anseios de seus associados. Pode-se considerar um fenômeno social que abrange desde a proteção individual de excluídos até interesses de categorias de classes, como os sindicatos, inovando sempre quando surgem novos temas a serem defendidos. A inclusão social é fundamental para o desenvolvimento saudável de qualquer sociedade, devendo ser uma pauta política permanente na agenda pública de qualquer gestão. Todavia, quando a pauta inclusiva não é atendida de maneira satisfatória, os movimentos associativos funcionam como observadores, atuando em múltiplos territórios a favor dessa mesma inclusão (LÜCHMANN; SCHAEFER;

NICOLETTI, 2017).

Nos últimos quarenta anos, os movimentos associativos aumentaram seus respectivos repertórios de atuação, tornando-se bastante ecléticos, trabalhando arduamente dentro dos órgãos públicos, especialmente no Judiciário, defendendo causas de inclusão social garantidas constitucionalmente e, por vezes, não atendidas pelas administrações públicas em seus diversos níveis de poder. Essas mobilizações associativas conseguem captar a atenção da sociedade, principalmente pelo fato de defenderem constantemente a igualdade de gêneros, direito à moradia, dentre outros assuntos, os quais são tema de muitas reportagens da mídia em geral (LÜCHMANN;

SCHAEFER; NICOLETTI, 2017).

Alguns autores afirmam que um dos possíveis desdobramentos da mobilização social teria como resultado uma efetiva participação popular em uma determinada ação reivindicatória junto à gestão pública. Todas as atenções das ciências humanas, como sociologia, metodologia, filosofia, ética, gestão etc., estão voltadas para aquele que é o protagonista das ações e decisões sociopolíticas que afetam a vida de toda uma coletividade, isto é, o(a) cidadão(ã). Os seres humanos são agentes políticos por natureza e precisam agir de modo colaborativo e retributivo, buscando, na medida do possível, a igualdade para poderem coexistir socialmente. Em virtude de sua habilidade de negociação, os cidadãos participam das demandas sociais em todas as esferas da sociedade, desde uma agremiação estudantil escolar até os órgãos públicos diretivos de um país (CALANDINO; SCÁRDUA; KOBLITZ, 2018).

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Para Brandão (2011), o território é marcado pelo impacto da atuação dos membros que pertencem a um determinado grupo social. Esse engajamento, individualmente, é uma das formas de exercício da cidadania. Os valores percebidos pelo grupo, mediante sua leitura da realidade social, potencializarão seu empenho na ação e, consequentemente, nos resultados dela. Devido à dinâmica das relações comerciais oriundas do capital financeiro, advinda dos processos de crescimento dos centros urbanos e expansão de seu parque industrial, que influenciam de maneira drástica como as pessoas percebem a ideia de Estado, do fim do século passado até a atualidade vários eventos afetaram e moldaram as manifestações coletivas.

Ainda a respeito da influência do poder do capital no processo de industrialização e, consequentemente, transformação urbana das cidades, há pesquisas que abordaram, desde 1840, os efeitos dos movimentos em uma abordagem sociológica sobre as articulações dos trabalhadores do setor industrial, queixando-se da ausência de direitos diante da pressão do capital financeiro da indústria. Diversas mudanças significativas ocorreram, trazendo uma melhor condição de trabalho para os operários. Com um alto nível de sociabilização, as interações entre patrão e empregados evoluíram harmonicamente com o surgimento de uma dimensão social satisfatória, graças às mobilizações sociais de base, iniciadas pelos trabalhadores insatisfeitos, que tiveram a capacidade de organização e articulação para efetuar reivindicações, mediante diálogo com os detentores do capital. Os resultados alcançados são percebidos nos dias atuais. Os pesquisadores que atuaram na linha da Escola de Chicago, na segunda década do século passado, debruçaram- se na avaliação da forma de agir dos grupos sociais enquanto coletivos (SOUZA;

PEREIRA, 2022, p. 11).

Um dos conceitos sobre os movimentos sociais está baseado no fato de serem mecanismos destinados à obtenção de grandes resultados sociais, isto é, são constituídos por grupos que trabalham a ação sempre coletiva de seus membros, com a finalidade de transformar, mudar ou adquirir da sociedade respostas para suas demandas, o que produz mudanças significativas nesta mesma sociedade. Os movimentos podem agir de várias maneiras, como reivindicações de rua, participação em congressos e fóruns, na internet, dentre outras, gerando grande impacto de atuação coletiva, com ganhos significativos. No período da modernidade, os movimentos sociais ficaram em evidência devido ao seu engajamento na regulação dos efeitos das proposituras da administração pública na sociedade. Todos os

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movimentos que foram relevantes nessa atuação objetivaram encaminhar suas queixas ao Estado. Dependendo de sua capacidade de capitalizar material humano e recursos, percebe-se que as ações sociais vivem ciclos distintos, pois necessitam estar sempre ativas, ora mais, ora menos intensamente coletivas (SOUZA; PEREIRA, 2022, p. 12).

O resultado do trabalho dos movimentos sociais ultrapassa a representação política, pois sua influência pode alterar o modo de vida das sociedades. Na atualidade, os movimentos sociais surgem como uma força canalizadora de agentes sociais que trabalham o modo como a gestão pública executa seu orçamento mediante seus interesses. Dessa maneira, os movimentos sociais também disputam seus interesses, por meio de sua visão de mundo, como participantes de uma sociedade. Em qualquer sociedade é preciso entender que sempre surgirão conflitos que resultam das disputas de interesses de determinados setores e classes sociais.

Os movimentos buscam mudanças ou alterações da ordem social, com base na propagação da igualdade social, diminuindo as diferenças entre as classes sociais, tanto na manutenção quanto na alteração da ordem social atual (SOUZA; PEREIRA, 2022, p. 12).

Teóricos que trabalharam o fenômeno dos movimentos sociais durante os anos 70 tentavam justificar a eclosão dos movimentos sociais neste período. O modelo até então aceito deu lugar às duas novas correntes: o paradigma clássico e o marxismo.

Em tese, o paradigma clássico afirmava que a motivação do indivíduo em participar de grupos sociais não tinha relação com nenhum ideal coletivo, ou anseio de mudanças na estrutura social, porém era fruto de uma insatisfação de cunho pessoal, fruto de alguma frustração subjetiva. Por sua vez, o marxismo propunha que o movimento social resultava da relação de exploração dos detentores dos meios de produção (capital) sobre a classe trabalhadora (oprimida) (SOUZA; PEREIRA, 2022, p. 16-17). Dentre as duas correntes teóricas que escreveram sobre os movimentos sociais, percebe-se que aqueles que discorreram sobre o paradigma clássico beberam da fonte do pensamento durkheimiano de anarquia social, em que os estudos sobre os movimentos sociais entendiam que os mesmos eram resultado das alterações de ordem social produzidas pelo desenvolvimento advindo da modernização. Devido aos abusos ocorridos dentro da conjuntura sociopolítica entendida pelos filósofos marxistas de sua geração, era realizada uma leitura de

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cunho reformista, revolucionário e antidemocrático sobre os movimentos sociais (BRANDÃO, 2011).

2.4 MOBILIZAÇÕES SOCIAIS

Os movimentos sociais fornecem diagnósticos em relação aos acontecimentos que estão realmente ocorrendo na sociedade, criando propostas. A atuação em rede cria ações participativas coletivas que permitem a resistência à exclusão, lutando pela inclusão social, constituindo e desenvolvendo o chamado “empowerment” de atores oriundos da sociedade civil organizada, à medida que formam agentes sociais para a referida atuação em rede. Observa-se que tanto os movimentos sociais da década de 1980 quanto os atuais constroem representações simbólicas que se afirmam por intermédio de discursos e ações, criando identidades para os grupos que outrora estavam dispersos e desorganizados. Uma consequência positiva produzida individualmente nos agentes dos grupos sociais são os laços de pertencimento e a efetiva inclusão social (GOHN, 2011).

Pelo fato de apresentarem forças sociais organizadas, agregadas não apenas como uma força-tarefa de ordem simplesmente numérica, porém como um território de ações e experimentação social, essas ações são fonte de criatividade e inovações socioculturais. A experiência alcançada não provém de forças estagnadas do passado – embora estas possuam uma importância única, ao formarem uma memória que, quando recordada, dá sentido aos embates do presente (GOHN, 2011).

Para Losekann (2013), a temática ambiental produz reflexões nas quais muitos pesquisadores se debruçam no mundo. Geralmente, as mobilizações que trabalham o meio ambiente hoje empregam suas pautas reivindicatórias além do sentido de impedir qualquer ação predatória através do consumismo dos recursos naturais de modo indiscriminado por parte das grandes indústrias. Esses movimentos só conseguem alcançar seus objetivos caso saibam se conduzir e se comportar diante dos órgãos públicos que deliberam a justiça. Para pesquisadores como Tilly, essas mobilizações precisam ter repertório para serem bem-sucedidas. Tais repertórios podem ser criativos, porém limitados, com alta capacidade de inovação devido a condicionantes vinculados ao contexto cultural e estrutural, produzindo restrições políticas dentro da atuação coletiva do grupo. Em função dessa característica visível nos repertórios, os ambientalistas utilizam modelos de interação constatados entre sujeitos em um determinado processo político (representantes políticos,

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manifestantes, membros do MP etc.), mediantes “ações coordenadas”. Esses atores, quando mobilizados, produzem processos de encaminhamento das pautas reivindicatórias ambientais às arenas do direito.

Para Bringel (2012), há duas condições que antecedem qualquer mobilização social: o interesse, que fundamenta a motivação da ação, e a oportunidade, que consiste na ocasião resultante do espaço não ocupado, que permite a mobilização.

Os pesquisadores nos Estados Unidos focaram suas análises nessas duas condicionantes depois de publicações teóricas de Tilly no ano de 1978, e esses estudos influenciariam outros acadêmicos pelo mundo. Para uma análise mais aprofundada sobre as ações coletivas é necessário entender as bases nas quais elas se sustentam, como organização, mobilização e ação coletiva efetiva, podendo as ações mudarem suas formas de atuação, dependendo de seus repertórios.

As relações sociais produzem, em muitos casos, paradigmas, que com o decorrer do tempo são questionados e confrontados por outros setores que compõem essa mesma sociedade, principalmente por aqueles que não enxergam esse modelo como um padrão a ser seguido. Nesse caso, podem ocorrer diversos tipos de ações discriminatórias, relegando-o a um segundo plano. É nesse cenário que os movimentos sociais trabalham a inclusão social, tentando corrigir distorções sociais, econômicas, culturais, dentre outras, com a habilidade de propor o tema social a ser debatido pela sociedade (GOHN, 2011).

A teoria dos movimentos sociais sugere que a existência de ativistas organizados de maneira prévia, a disponibilidade de recursos para a organização e a permanência de uma estrutura de oportunidade política ou janelas de oportunidade para as ações são elementos importantes que colaboram para a produção de insurgência. As mobilizações têm a capacidade de produzir, em um primeiro momento, o surgimento de novos participantes, na qualidade de ouvintes na luta social, gerando futuros atores engajados nas demandas sociais. Um ativista raramente narra seu engajamento por meio de categorias de nível macro, mas sim por sua experiência vivida singularmente na atuação local (LOSEKANN, 2017).

Os movimentos sociais constituem a própria expressão de energia que resiste a velhas práticas opressoras, ou são a construção de um novo modelo libertador.

Energias sociais anteriormente dispersas passam a ser canalizadas, potencializando

“fazeres propositivos” por meio de suas ações, que, na prática, estabelecem o marco temporal das mudanças sociais (GOHN, 2011).

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2.5 ATORES

Para Scherer-Warren (2006), há quem se refira equivocadamente à sociedade civil, como se a mesma fosse o que muitos teoristas chamam de “terceiro setor”. Afinal, este pertence ou está contido dentro da sociedade, que, por sua vez, possui um

“universo” que comporta outros fenômenos sociais. No entanto, justamente por ser um ambiente que comporta atores heterogêneos, sempre estará sujeita a pressões políticas, provenientes de sua própria constituição, que demonstra que não há um antídoto contra a disputa de interesses sociais. Segundo o autor, a sociedade civil se constitui pela formação das classes dentro de seus níveis, onde ocorrerá a disputa de interesses sociais, manifestando-se de diferentes maneiras.

O que atualmente é entendido como sociedade civil ganhou uma posição de destaque no que se refere às discussões em relação aos processos democráticos que ultrapassam as configurações institucionais e aparecem nas parcerias com o Estado.

Por outro lado, a sociedade civil surge como uma solução para a lacuna estatal nas versões neoliberais, mas também é solução para as versões mais à esquerda, nesse exemplo vinculada aos pensamentos de radicalização democrática, expansão da cidadania e justiça social. Para alguns autores, a formulação de novas compreensões de sociedade civil está em sua emancipação referente ao Estado e à economia, através de uma análise mais aprofundada, indo além das delimitações democráticas e do liberalismo econômico (LOSEKANN, 2014, p. 46).

Para termos uma melhor ideia da magnitude que constitui a sociedade civil, é preciso entendê-la além do mundo da vida, ou seja, a partir da tradição cultural pertencente a seus indivíduos, pelas regras gerais de convivência social que a disciplinam e, por fim, pelas características individuais e sociais de personalidade produzidas por seus membros, formando instituições que compactuam com as diferenças visíveis na materialização dos grupos sociais. Instituições são formadas pelo conjunto de pessoas que trabalham de modo colaborativo, cada uma com seus valores e interesses próprios, podendo ser legítimos ou não, dependendo da percepção do segmento social que a avalia. Porém, somente a partir dessas variáveis pode-se começar a conceituar a sociedade (LOSEKANN, 2014, p. 47).

Segundo as autoras Abers e Bülow (2011), há associações empenhadas ativamente em trabalhos que externalizam a sociedade e seu comprometimento com o respeito e a solidariedade, negando e não aceitando a pressão do poder público e do mercado financeiro, de viés habermasiano. Surge, então, uma nova ideia de que

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agora a sociedade civil é a protagonista, ao invés dos movimentos sociais, isto é, pelo fato de que os teoristas não estão debruçados em movimentos sociais específicos, a tônica da vez é a diversidade das organizações e seus atores. Dentro de uma avaliação mais ampla e aprofundada sobre os fenômenos sociais ocorre a mudança dos movimentos sociais para a sociedade civil. Para que uma sociedade civil tenha sucesso em seu ciclo social, é necessário que a mesma seja independente em relação ao Poder Público e às pressões econômicas. Esse afastamento dá origem à ideia de uma sociedade “autolimitada”.

O desdobramento das interações sociais entre os atores públicos, privados ou particulares se dá pela tensão constante e habilidade de penetração nas arenas de poder, mediante grupos representativos de setores específicos da sociedade que atuarão com estratégias ou modelos formatados de reivindicações, como negociação, cooptação e representação política partidária, resultando em uma dimensão social atual (MACIEL, 2011).

2.6 PERTENCIMENTO

Lefebvre (2001), quando chegou a uma conclusão, através de suas análises, sobre o convívio social nos centros urbanos, trazendo o morador da cidade, isto é, o cidadão como aquele que tem a competência de escolher o melhor caminho de desenvolvimento de sua cidade, ao invés do poder do capital, cunhou o jargão “direito à cidade”. O referido direito à cidade se tornaria um direito à independência da humanidade. Segundo o autor, a cidade era regrada e planejada de maneira que não se pensava no desenvolvimento social de seus moradores, necessário para que haja bem-estar. O dia a dia era organizado sem espontaneidade, elaborado com rotas controladas entre a residência e o local de trabalho. A expressão surgiu no contexto das manifestações de maio de 1968 na capital francesa, resultado do encontro entre o movimento de estudantes e as ocupações populares das fábricas. Com sua obra “O Direito à Cidade”, o autor ampliou a visão revolucionária marxista da realidade fabril para o âmbito urbano, ou seja, a partir de então, a disputa entre as classes não estava restrita somente à produção industrial, porém se desenvolvia em torno das relações sociais e das formas de vida urbana. O discurso do autor está centrado na organização do espaço em expansão territorial e nas relações sociais.

Para Harvey (2014), democratizar urbanisticamente uma cidade significa que a pluralidade social, isto é, o conjunto de toda uma sociedade que reside na cidade,

Referências

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